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Livro Eletrônico Aula 01 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) Felipo Livio Lemos Luz Prof. Felipo Luz www.estrategiaconcursos.com.br 1 de 217 DIREITO CONSTITUCIONAL Teoria e Questões Prof. Felipo Luz DIREITO CONSTITUCIONAL Sumário Sumário .................................................................................................. 1 1 – Teoria dos direitos fundamentais ........................................................... 4 2 – Classificação dos direitos fundamentais .................................................. 6 2.1 – Gerações ou dimensões dos direitos fundamentais ............................. 6 2.2 – Características dos direitos fundamentais ......................................... 9 2.3 – Diferença entre direitos e garantias fundamentais ............................ 12 2.4. – Dupla fundamentalidade dos direitos fundamentais ......................... 13 2.4.1 – Dimensões objetiva e subjetiva dos direitos fundamentais ............. 16 2.5 – Titularidade dos direitos fundamentais ........................................... 18 2.6 – A teoria dos Status de Jellinek ....................................................... 21 2.7 – Limites aos direitos fundamentais e a tese dos limites dos limites ...... 24 2.8 – Eficácia dos direitos fundamentais nas relações privadas (Eficácia horizontal) .......................................................................................... 26 3 - Direitos Fundamentais em espécie ....................................................... 32 3.1 - Direito à vida ............................................................................... 32 3.2 - Direito à igualdade ....................................................................... 38 3.3 - Direito à liberdade ........................................................................ 48 3.4 – Liberdade de ação........................................................................ 49 3.5 – Liberdade de manifestação do pensamento e expressão (intelectual, artística, científica e de comunicação) ..................................................... 49 3.6 – Liberdade de consciência e liberdade religiosa ................................ 54 3.7 - Direito à intimidade e vida privada, honra e imagem ........................ 57 3.8 Inviolabilidade de domiciliar ............................................................. 64 3.9 – Inviolabilidade do sigilo da correspondência, das comunicações de dados telegráficas e telefônicas ....................................................................... 68 Felipo Livio Lemos Luz Aula 01 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Felipo Luz www.estrategiaconcursos.com.br 2 de 217 DIREITO CONSTITUCIONAL Teoria e Questões Prof. Felipo Luz 3.10 – Liberdade de profissão ................................................................ 82 3.11 – Liberdade de informação ............................................................. 85 3.12 – Liberdade de locomoção ............................................................. 88 3.13 - Direito de Reunião ...................................................................... 94 3.14 - Liberdade de Associação .............................................................. 95 3.15 - Direito de propriedade ................................................................ 98 3.16 - Propriedade intelectual .............................................................. 103 5.17 - Direito de herança .................................................................... 104 3.18 - Direito do consumidor ............................................................... 105 3.19 - Direito de petição ..................................................................... 108 3.20 - Direito de obtenção de certidões do poder público ........................ 112 3.21 - Direito de acesso à Justiça ......................................................... 113 3.22 - Direito à segurança jurídica ....................................................... 118 3.23 - Direito ao juiz natural, tribunal do júri e proibição dos tribunais de exceção ............................................................................................ 125 3.24 - Princípio da legalidade e irretroatividade da lei penal gravosa ........ 129 3.25 - Tratamento Constitucional das penas .......................................... 132 3.26 – Extradição ............................................................................... 136 3.27 - Devido processo legal, contraditório e ampla defesa ..................... 139 3.28 - Vedação às provas ilícitas .......................................................... 144 3.29 - Presunção de Inocência ............................................................. 149 3.30 - Identificação Civil ..................................................................... 153 3.31 - Ação Penal Privada Subsidiária da Pública .................................... 154 3.32 - Publicidade dos atos processuais ................................................ 155 3.33 - Prisão Civil .............................................................................. 156 3.33 – Assistência jurídica integral e gratuita ........................................ 157 3.34 – Erro judiciário .......................................................................... 158 3.35 – Gratuidade das certidões de nascimento e de óbito ...................... 158 3.36 – Gratuidade das certidões de habeas corpus e habeas data ............ 159 3.37 – Celeridade processual ............................................................... 159 4 – Questões ........................................................................................ 165 4.1 – Questões cobradas recentemente (2017)Erro! Indicador não definido. 4.2 – Questões de anos anteriores ................ Erro! Indicador não definido. Felipo Livio Lemos Luz Aula 01 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Felipo Luz www.estrategiaconcursos.com.br 3 de 217 DIREITO CONSTITUCIONAL Teoria e Questões Prof. Felipo Luz 4.3 – Questões cobradas recentemente (2017)Erro! Indicador não definido. 4.4 – Questões de anos anteriores ....................................................... 208 5 – Antecipando a discursiva .................................................................. 215 Felipo Livio Lemos Luz Aula 01 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Felipo Luz www.estrategiaconcursos.com.br 4 de 217 DIREITO CONSTITUCIONAL Teoria e Questões Prof. Felipo Luz AULA 01 – DIREITOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS 1 – Teoria dos direitos fundamentais Ao tentarmos definir o significado do termo “direitos fundamentais”, parece intuitivo delimitar aquele núcleo mínimo “indevassável”, cuja proteção em face da interferência estatal permitiria uma maior amplitude de ação por parte do indivíduo. Autores como Hugo Grócio e Samuel Puffendorf tentaram, sob inspiração do direito natural, buscar de maneira objetiva um padrão mínimo, à luz da razão humana, que pudesse ser suficiente para definir o conteúdo elementar dos direitos de um indivíduo. Não é preciso ressaltar a difícil tarefa que é atingir um grau de consenso quando lidamos com objetivismos em situações que tratam de valores. O tempo acaba modificando algumas de nossas premissas e valores estabelecidos no passado, sendo bastante improvável alcançarmos sucesso na busca por um critério absoluto e atemporal no campo axiológico (valorativo). Com efeito, na lição de Norberto Bobbio, “da finalidade visada pela busca de fundamento, nasce a ilusão do fundamento absoluto, ou seja, a ilusão de que – de tanto acumular e elaborar razões e argumentos – terminaremos por encontrar a razão e o argumento irresistível, ao qualninguém poderá recusar a própria adesão”. (A era dos direitos, Editora Campus, São Paulo, 13 tiragem p. 16). Nesse contexto, cabe perquirir sobre uma possível diferença de nomenclatura: A expressão “direitos fundamentais” teria o mesmo significado do termo “direitos humanos” ou seria razoável apontarmos uma diferença? Parte da doutrina não atribui significativa diferença entre as expressões, embora outra parcela postule que os direitos fundamentais dizem respeito à uma ordem jurídica específica concretizadora das prerrogativas que poderiam ser invocadas pelos indivíduos em sua relação com o Estado (dimensão vertical) ou até mesmo em situações de conflito com os demais indivíduos (dimensão horizontal), assunto eu trataremos mais adiante. Em suma, quando a constituição de um Estado define a parcela dos direitos que pertencem aos que se encontram sob seu domínio, dizemos que tais prerrogativas possuem o nome de direitos fundamentais. Por outro lado, a definição dos direitos humanos possui um profundo cunho universal de inspiração jusnaturalista, sendo tratado pela doutrina como aqueles pertencentes aos indivíduos em geral, independentemente de limites geográficos, sendo estabelecidos globalmente pela simples fato de partilharmos Felipo Livio Lemos Luz Aula 01 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Felipo Luz www.estrategiaconcursos.com.br 5 de 217 DIREITO CONSTITUCIONAL Teoria e Questões Prof. Felipo Luz os valores de uma comunidade humana. Como exposto anteriormente, caracterizar direitos de maneira objetiva e universal é questão tormentosa, que encontra profunda resistência na heterogeneidade cultural e no diferente grau de desenvolvimento socioeconômico característicos de uma sociedade humana com acentuado pluralismo. Bernardo Gonçalves ao discorrer sobre o tema acentua que a leitura mais recorrente e atual sobre o tema, é aquela que afirma que “os direitos fundamentais” e os “direitos humanos” se separariam apenas pelo plano de sua positivação, sendo, portanto, normas jurídicas exigíveis, os primeiros no plano interno do Estado, e os segundos no plano do Direito Internacional, e, por isso, positivados nos instrumentos de normatividade internacional (como os Tratados e Convenções Internacionais, por exemplo). Sob a perspectiva didática, o mesmo autor estabelece a diferença entre os termos “direitos do homem” (no sentido de direitos naturais, não positivados ou ainda não positivados), “direitos humanos” (reconhecidos e positivados na esfera do direito internacional) e “direitos fundamentais” (direitos positivados e protegidos pelo direito constitucional interno de cada Estado). Nomenclatura bastante utilizada pelos autores franceses em substituição ao termo “direito fundamental” é “liberdade pública”. A doutrina, no entanto, se apercebe de uma dificuldade nesse conceito, porquanto não seria suficiente para abarcar os novos direitos econômicos e sociais que acompanharam a evolução do papel do Estado, sendo, característicos, de um Estado eminentemente liberal (Estado-Gendarme). Por fim, importa assinalarmos a profunda comunicação entre direitos humanos e direitos fundamentais apesar da conceituação diversa estabelecida. Com efeito, na lição de Gilmar Mendes: “essa distinção conceitual não significa que os direitos humanos e os direitos fundamentais estejam em esferas estanques, incomunicáveis entre si. Há uma interação recíproca entre eles. Os direitos humanos internacionais encontram, muitas vezes, matriz nos direitos fundamentais consagrados pelos Estados e estes, de seu turno, não raro acolhem no seu catálogo de direitos fundamentais os direitos humanos proclamados em diplomas e declarações internacionais. É de ressaltar a importância da Declaração Universal de 1948 na inspiração de tantas constituições do Pós-Guerra”. Felipo Livio Lemos Luz Aula 01 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Felipo Luz www.estrategiaconcursos.com.br 6 de 217 DIREITO CONSTITUCIONAL Teoria e Questões Prof. Felipo Luz 2 – Classificação dos direitos fundamentais 2.1 – Gerações ou dimensões dos direitos fundamentais A Doutrina aponta como marco da teoria geracional uma palestra proferida por Karel Vasak em conferência de 1979, evento em que o celebrado autor subdividiu e classificou os direitos humanos em três gerações com características específicas, sendo cada qual associada ao lema da Revolução Francesa: A 1ª geração abarca os direitos relacionados às prestações negativas do Estado, representados pela ausência de ingerência estatal no campo das liberdades clássicas (direitos civis e políticos). Representam, nesse aspecto, um autêntico “direito de defesa” do indivíduo contra as interferências ilegítimas do Estado em sua autonomia privada. Como cediço, são os direitos característicos do Estado Gendarme, polícia ou guarda noturno, próprio dos movimentos liberais das revoluções Americana e Francesa do século XVIII. Estão nessa geração, por exemplo, o direito à liberdade, propriedade, intimidade e segurança, característicos de uma atuação essencialmente reguladora do Estado, consoante explanado. 2ª geração "igualdade" Felipo Livio Lemos Luz Aula 01 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Felipo Luz www.estrategiaconcursos.com.br 7 de 217 DIREITO CONSTITUCIONAL Teoria e Questões Prof. Felipo Luz Dissentindo um pouco dessa visão e aprofundando o tema, André de Carvalho Ramos percebe uma característica não apenas passiva do Estado no campo das liberdades, pois estas, na sua visão, demandariam tanto um papel passivo quanto uma atuação positiva (ativa) na busca de efetiva concretização. O autor afirma, nessa linha, que o papel do Estado na defesa dos direitos de primeira geração é tanto o tradicional papel passivo (abstenção em violar os direitos humanos, ou seja, prestações negativas) quanto ativo, pois há de se exigir ações do Estado para garantia da segurança pública, administração da justiça, entre outras. A 2ª geração de direitos (igualdade) denota o aspecto evolutivo do Estado, contemplando uma característica mais participativa (ativa) desse ente na busca pela efetiva materialização dos direitos sociais e econômicos e estabelecidos nas constituições surgidas a partir do século XX. São marcos dessa perspectiva, a Constituição Mexicana de 1917 (estabelecendo normas de direito do trabalho e previdenciário) e a Constituição alemã de Weimar de 1919 (regulando os deveres do Estado no campo social). É importante ressaltar que os direitos de segunda geração encontram certa resistência no campo de seu reconhecimento por impactarem de maneira evidente o caráter econômico-orçamentário da atividade estatal, sendo muitas vezes levantado na defesa do erário o princípio da reserva do possível, oriundo da doutrina alemã. Como afirma Marcelo Novelino, a implementação das prestações materiais e jurídicas exigíveis para a redução das desigualdades no plano fático, por dependerem, em certa medida, da disponibilidade orçamentária do Estado (“reserva do possível”), faz com que estes direitos tenham uma efetividade menor que os direitos de defesa. A defesa de uma maior concretização dos direitos de segunda geração (princípio da igualdade) faz com que Paulo Bonavides afirme a necessidade do surgimento de “garantias institucionais” que objetivem servir de proteção contra o esvaziamento das normas de caráter social, definindo, de seu turno, um novo conteúdo aos direitos fundamentais. Para Novelino, no entanto, as garantias institucionais, embora consagradas nas Constituições, não se configuram como direitos subjetivos atribuídos diretamente ao indivíduo, mas como normas protetivas de instituições enquanto realidades sociais objetivas, tais como a família, a imprensa livre e o funcionalismopúblico. Por não garantirem Felipo Livio Lemos Luz Aula 01 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Felipo Luz www.estrategiaconcursos.com.br 8 de 217 DIREITO CONSTITUCIONAL Teoria e Questões Prof. Felipo Luz aos particulares posições subjetivas autônomas, não lhes é aplicado o regime de direitos fundamentais [grifo nosso]. No campo do princípio da fraternidade ou solidariedade (direitos de terceira geração) temos as prerrogativas inerentes à comunidade política, de titularidade coletiva (transindividual) e consubstanciados nos valores inerentes à sobrevivência do homem enquanto espécie inserida numa sociedade organizada. Podemos citar como direitos dessa geração, o direito ao desenvolvimento, direito à autodeterminação dos povos, direito à paz, ao meio ambiente equilibrado e o direito à comunicação. Para André de Carvalho Ramos, os direitos de terceira geração são oriundos da constatação da vinculação do homem ao planeta Terra, com recursos finitos, divisão absolutamente desigual de riquezas em verdadeiros círculos viciosos de miséria e ameaças cada vez mais concretas à sobrevivência da espécie humana [grifo nosso]. No contexto de sociedades complexas e globalizadas, alguns autores postulam novas gerações no campo dos direitos fundamentais. Para Bonavides, o direito à democracia, o direito à informação e ao pluralismo formariam uma quarta geração de direitos, diferindo da limitação anteriormente estabelecida pela doutrina tradicional. Autores como Norberto Bobbio colocam nessa geração os direitos relacionados ao desenvolvimento biotecnológico da humanidade, como o direito contra manipulações genéticas. Paulo Bonavides incorpora ainda uma quinta geração, visualizando o direito à paz como ente autônomo em relação aos demais, discordando, em essência, da classificação desse direito como pertencente à terceira geração, conforme exposto anteriormente. Algumas críticas são tecidas à subdivisão dos direitos fundamentais/humanos em gerações, adotando alguns autores o conceito de dimensões de direitos (e.g., Bonavides), porquanto a ideia de gerações pode, erroneamente, caracterizar a substituição de um grupo de direitos por outros ao longo do tempo. Ademais, como aponta André de Carvalho Ramos, o termo é bastante criticável em face das novas interpretações sobre o conteúdo dos direitos. O autor promove a seguinte indagação: Como classificar o direito à vida? Em tese, seria um direito tradicionalmente inserido na primeira geração de Vasak, mas hoje há vários precedentes internacionais e nacionais que exigem que o Estado realize diversas prestações positivas para assegurar uma vida digna (e.g.,fornecimento de saúde, moradia, educação, etc.), o que colocaria o Felipo Livio Lemos Luz Aula 01 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Felipo Luz www.estrategiaconcursos.com.br 9 de 217 DIREITO CONSTITUCIONAL Teoria e Questões Prof. Felipo Luz direito à vida, de certo modo, na segunda geração de direitos. É o que a doutrina denomina de dupla acepção do direito à vida, porquanto não só uma existência biológica tem que ser assegurada pelo Estado, devendo a atividade governamental contemplar a possibilidade de desenvolvimento completo do indivíduo, característica alcançada apenas com a realização de seus múltiplos projetos de vida. Na prova do MPE-PR (Promotor de Justiça) foi perguntado na prova discursiva: Qual a dupla acepção do direito à vida? Na prova da DPU desse ano o examinador perguntou: (CESPE / DPU – 2016) O direito fundamental à vida também se manifesta por meio da garantia de condições para uma existência digna. Item correto. A ideia de fragmentariedade também é muito presente na classificação dos direitos em gerações, violando o aspecto de indivisibilidade, característica que veremos a seguir. Por fim, para criticar mesmo a subdivisão em dimensões de direitos fundamentais, afirma o autor que “apesar da mudança de terminologia, restaria a crítica da ofensa à indivisibilidade dos direitos humanos e aos novos conteúdos dos direitos protegidos (...)”. Em suma, vimos que o critério de dimensões/gerações de direito são passíveis de controvérsias, embora as diferentes classificações sejam um importante instrumento para a compreensão dos direitos fundamentais. É importante que o candidato conheça não somente a classificação geracional/dimensional do direito, mas, também, as críticas dirigidas a esta subdivisão. Tomando como exemplo, essa análise crítica foi cobrada pelo examinador de Constitucional na última prova oral do TRF1. 2.2 – Características dos direitos fundamentais De acordo com a doutrina majoritária, podemos enumerar as características dos direitos fundamentais, enquanto critério autônomo na relação com os demais direitos do ordenamento constitucional: a) Universalidade, pois qualquer indivíduo se encontra sob a égide dos direitos fundamentais, mormente quando observado o princípio da dignidade da pessoa humana, cujos contornos são dotados de aplicabilidade universal; b) Imprescritibilidade, pois os direitos fundamentais não são afetados pelo decurso do tempo pelo fato de não serem invocados pelo seu titular. Felipo Livio Lemos Luz Aula 01 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Felipo Luz www.estrategiaconcursos.com.br 10 de 217 DIREITO CONSTITUCIONAL Teoria e Questões Prof. Felipo Luz c) Relatividade, posto que não gozam de um valor absoluto, sendo possível uma ponderação e limitação de direitos quando cotejados com outros direitos também fundamentais; d) Irrenunciabilidade, em regra, pois os direitos não podem ser objeto de renúncia pelo titular. È importante considerar, entretanto, que a irrenunciabilidade não inviabiliza a autolimitação voluntária de direitos em uma situação concreta específica. Caso emblemático seria a limitação de direitos relacionados à intimidade em programas de “reality show”. e) Historicidade, já que os direitos humanos são fruto de um lento e gradual processo histórico. Importante salientar a posição de Bernardo Gonçalves ao afirmar que “a conclusão é que os direitos fundamentais historicamente vão não só se agregando (acréscimo de novos direitos) devido a novas querelas sociais, mas também pela mutabiidade se reinterpretando (redefinição dos direitos já existentes) a novos contextos (paradigmas) ou novas realidades sociais”. f) Inalienabilidade, de maneira que constata-se a impossibilidade de transferência de um direito fundamental para novos titulares, característica inerente ao princípio da dignidade da pessoa humana. g) Inviolabilidade, posto que seus preceitos não podem ser infirmados por atos do poder público, sob pena de nulificação. h) Complementaridade, demandando, por isso, uma exegese sistemática dessas prerrogativas, a fim de que não ocorra uma interpretação isolada e sem sentido das normas do ordenamento. i) Efetividade, porquanto, a atuação do poder público deve ser pautada na garantia e cumprimento dos direitos fundamentais. j) Aplicabilidade imediata, nos termos do Art. 5º, §1º do texto constitucional. Cabe apontar, no entanto, a controvérsia desse dispositivo, asseverando alguns autores que os direitos fundamentais só possuem aplicação imediata se as normas que os definem estiverem completas na hipótese e no dispositivo. k) Enumeração aberta, uma vez que, nas palavras de Leonardo Vizeu Figueiredo, “os direitos fundamentais constituem categoria jurídica aberta e mutável, sujeita à influência de necessidade e valores políticos, sociais e históricos (art. 5º, §2º, da CRFB)”. l) Indivisibilidade, segundo André Carvalho Ramos, consiste no reconhecimento de que todos os direitos humanos possuem a mesma proteção jurídica, uma vez que são essenciais para uma vida digna. Felipo Livio Lemos Luz Aula 01 Direito Constitucionalp/ PC-PR (Delegado) www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Felipo Luz www.estrategiaconcursos.com.br 11 de 217 DIREITO CONSTITUCIONAL Teoria e Questões Prof. Felipo Luz Assim, qualquer geração de direitos merece idêntica proteção por parte do Estado, não devendo haver ordem de preferência ou preterição no combate às suas violações. Na prova da defensoria pública de Goiás de 2014 (banca UFG) foi cobrada a classificação acima: C A R A C TE R ÍS TI C A S D O S D IR EI TO S FU N D A M EN TA IS Universalidade Imprescritibilidade Relatividade Irrenunciabilidade Historicidade Inalienabilidade Inviolabilidade Complementaridade Efetividade Aplicabilidade imediata Enumeração aberta Indivisibilidade Felipo Livio Lemos Luz Aula 01 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Felipo Luz www.estrategiaconcursos.com.br 12 de 217 DIREITO CONSTITUCIONAL Teoria e Questões Prof. Felipo Luz Questão 11. A Constituição Federal de 1988 é conhecida como a “Constituição Cidadã” em função de seu vasto rol de direitos e garantias fundamentais. Nesse sentido, a característica principal dos direitos fundamentais é a indivisibilidade, o que significa reconhecer que os direitos fundamentais não comportam divisão no tempo, sendo, portanto, imprescritíveis. Comentário: Como vimos, a indivisibilidade obriga um dever de proteção estatal a todos os direitos e não o reconhecimento de que os direitos são imprescritíveis, tendo essa característica fundamento próprio. 2.3 – Diferença entre direitos e garantias fundamentais A doutrina estabelece a distinção entre direitos e garantias fundamentais. Como definição genérica, podemos dizer que as garantias servem como instrumentos de consecução dos direitos fundamentais, ou seja, permite que os mesmos sejam efetivamente assegurados. Ao esmiuçar o tema, Guilherme Peña de Moraes estabelece cinco diferenças principais: “Em primeiro lugar, quanto à natureza da regra de positivação, as regras de direitos fundamentais são qualificadas como dispositivos declaratórios, dado que reconhecem direitos e a eles concedem existência normativa, ao passo que as regras de garantias constitucionais são reputadas como disposições assecuratórias, eis que estabelecem limitações ao poder em defesa de direitos. Em segundo lugar, quanto à limitação espacial, os direitos fundamentais, mormente os direitos de fraternidade, não são providos de limitação espacial, enquanto as garantias constitucionais somente existem dentro do Estado. Em terceiro lugar, quanto à atribuição de prerrogativas, as normas de direitos fundamentais atribuem, a seus destinatários, uma faculdade de agir ou de exigir em proveito próprio ou do grupo social a que pertencem, ao passo que as normas de garantias constitucionais não atribuem nenhuma faculdade jurídica, limitando-se a um sentido organizatório objetivo. Em quarto lugar, quanto à função, os direitos fundamentais desempenham uma função principal, porquanto constituem um fim em si mesmo, enquanto as garantias constitucionais desenvolvem uma função instrumental, conquanto sejam instrumentos para o asseguramento daqueles. Por fim, quanto ao conteúdo, as regras de direitos fundamentais Felipo Livio Lemos Luz Aula 01 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Felipo Luz www.estrategiaconcursos.com.br 13 de 217 DIREITO CONSTITUCIONAL Teoria e Questões Prof. Felipo Luz podem ter conteúdo positivo ou negativo, posto que concernentes a um facere ou non facere, ao passo que as regras de garantias constitucionais têm sempre conteúdo positivo, visto que determinam a atuação do Estado ou dos próprios indivíduos”. Na prova objetiva de Defensor Público do Estado de Goiás (2014) foi cobrada a distinção entre direitos e garantias fundamentais: Os direitos fundamentais diferenciam-se das garantias fundamentais na medida em que os direitos se declaram, enquanto as garantias têm um conteúdo assecuratório daqueles. (gabarito correto) Comentário: Exatamente o que foi enunciado no item acima, tendo os direitos natureza declaratória e as garantias assecuratória. Na prova discursiva do TJRS (2012) para o cargo de Juiz de Direito, o examinador perquiriu aos candidatos sobre a mesma diferença: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes do país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (Constituição Federal, art. 5º, caput)”. Estabeleça a distinção entre direitos e garantias individuais segundo a doutrina. 2.4. – Dupla fundamentalidade dos direitos fundamentais Entende Ingo Sarlet que “direitos fundamentais são posições jurídicas reconhecidas e protegidas na perspectiva do direito constitucional interno dos Estados”. Em continuidade, assevera o autor que a nota distintiva da fundamentalidade, ou seja, o que qualifica um direito como fundamental é a circunstância de ter uma especial proteção tanto do ponto de vista formal quanto material. Em suma, a fundamentalidade de um direito é simultaneamente formal e material. Nesse contexto, a fundamentalidade formal encontra-se ligada ao direito constitucional positivo, tanto de forma expressa ou implicitamente Felipo Livio Lemos Luz Aula 01 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Felipo Luz www.estrategiaconcursos.com.br 14 de 217 DIREITO CONSTITUCIONAL Teoria e Questões Prof. Felipo Luz considerado, denotando um regime jurídico qualificado por alguns elementos: a) Como parte integrante da constituição escrita, os direitos fundamentais situam-se no ápice de todo o ordenamento jurídico, gozando da supremacia hierárquica das normas constitucionais(lembrando que embora existam direitos fundamentais constitucionais nem todos direitos fundamentais são constitucionais); b) Na qualidade de normas constitucionais, encontram-se submetidos aos limites formais (procedimento agravado) e materiais (cláusulas pétreas) da reforma constitucional (art. 60 da CF), muito embora se possa controverter a respeito dos limites da proteção outorgada pelo constituinte; c) Além disso, as normas de direitos fundamentais são diretamente aplicáveis e vinculam de forma imediata as entidades públicas e, mediante as necessárias ressalvas e ajustes, também os atores privados (art. 5º, §1º, da CF). Por outro lado, segue Sarlet, a fundamentalidade material implica análise do conteúdo dos direitos, isto é, da circunstância de conterem, ou não, decisões fundamentais sobre a estrutura do Estado e da sociedade, de modo especial, porém, no que diz com a posição nestes ocupada pela pessoa humana. Assim, a dupla fundamentalidade dos direitos fundamentais na constituição brasileira é caracterizada pela perspectiva tanto formal quanto material dessas prerrogativas constitucionais. Tema que suscita debate também nessa seara é a possibilidade ou não de que direitos fundamentais sejam reconhecidos apenas em sua perspectiva material, ou seja, que posições jurídicas relevantes por seu conteúdo ou significado sejam também caracterizadas como fundamentais a despeito de não ter assento em uma constituição formal, principalmente pela existência de norma de extensão contida no § 2º do art. 5º da CF, ao asseverar que “os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte”. Nesse ponto, poder-se-ia argumentar a existência de uma diferenciação entre direitos fundamentais em sentido formal e material, como bem aponta Felipo Livio Lemos Luz Aula 01 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) www.estrategiaconcursos.com.brProf. Felipo Luz www.estrategiaconcursos.com.br 15 de 217 DIREITO CONSTITUCIONAL Teoria e Questões Prof. Felipo Luz Canotilho ao afirmar que “direitos fundamentais em sentido material são aqueles que, apesar de se encontrarem fora do catálogo, por seu conteúdo e por sua importância podem ser equiparados aos direitos formalmente (e materialmente) fundamentais”. Sarlet, inspirado em Jorge Miranda, argumenta que “o reconhecimento da diferença entre direitos formal e materialmente fundamentais traduz a ideia de que o direito constitucional brasileiro (assim como o lusitano) aderiu a certa ordem de valores e de princípios, que, por sua vez, não se encontra necessariamente na dependência do Constituinte, mas que também encontram respaldo na ideia dominante de Constituição e no senso jurídico coletivo”. Sistematicamente, portanto, teríamos: a) Direitos formalmente e materialmente fundamentais, mesmo que de maneira implícita; b) Direitos apenas materialmente constitucionais, no sentido de que se encontram ausentes do texto constitucional. Ressalte-se ainda importante doutrina que advoga a tese da existência de direitos apenas formalmente constitucionais, que seriam aqueles constantes no “catálogo” elencado pela Constituição, mas que não teriam relação direta com a dignidade da pessoa humana e outros bens e valores fundamentais compartilhados pela sociedade brasileira e pela comunidade internacional. Nesse diapasão, por exemplo, Ricardo Lobo Torres leciona que “os direitos sociais, notadamente os que não correspondem às exigências do mínimo existencial e na medida em que vão além de tal mínimo, embora previstos no texto constitucional não são verdadeiros direitos fundamentais”. Cabe ainda a indagação sobre a existência ou não de direitos fundamentais positivados apenas na legislação infraconstitucional. Ao aludir que Jorge Miranda admite essa possibilidade, Ingo Sarlet propõe cautela sobre o tema, porquanto “ao legislador infraconstitucional cabe, em primeira linha, o papel de concretizar e regulamentar (eventualmente restringir) os direitos fundamentais positivados na Constituição (...) também a tradição (sem qualquer exceção) do nosso direito constitucional aponta para uma exclusão da legislação infraconstitucional como fonte de direitos materialmente fundamentais, até mesmo pelo fato de nunca havido referência à lei nos dispositivos que consagraram a abertura de nosso catálogo de direitos, de tal sorte que nos posicionamos, em princípio, pela inadmissibilidade dessa espécie de direitos fundamentais em nossa ordem constitucional”. Por fim, importante o registro do mesmo autor de que muitas vezes o direito fundamental elencado na legislação infraconstitucional, nada mais é do que a Felipo Livio Lemos Luz Aula 01 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Felipo Luz www.estrategiaconcursos.com.br 16 de 217 DIREITO CONSTITUCIONAL Teoria e Questões Prof. Felipo Luz explicitação de direitos originados na própria Constituição, ainda que de maneira implícita. Pode-se tomar como exemplo o direito fundamental constitucional aos alimentos que, em última análise, poderia ser deduzido do direito à vida com dignidade. 2.4.1 – Dimensões objetiva e subjetiva dos direitos fundamentais Na doutrina alemã é possível encontrar uma dupla orientação a respeito das diferentes dimensões dos direitos fundamentais, mormente em seus aspectos objetivos e subjetivos. Na vertente subjetiva, o tratamento dos direitos fundamentais revela contornos de posição jurídica, impondo uma atuação positiva ou negativa do poder público de acordo com a situação jurídica em que se encontram os indivíduos. No paradigma objetivo, a observância da efetividade dos direitos fundamentais deve assegurar a aplicação dos valores predominantes em uma comunidade, devendo o poder público assegurar a promoção desses mesmos valores, ainda que não vislumbre uma agressão efetiva a direitos subjetivos fundamentais. É o que a doutrina nomeia de “eficácia irradiante” dos direitos fundamentais, na medida em que não apenas as situações concretas devem ser orientadas pelo respeito aos direitos fundamentais, devendo sua observância perpassar todo o ordenamento e servir de orientação, por exemplo, ao Poder Legislativo na elaboração de leis, ao Poder Executivo no trato e administração da “res publica” e, por fim, ao Poder Judiciário no processo interpretativo das leis. Nesses termos, como aponta Bernardo Gonçalves, os direitos fundamentais seriam vistos não só como direitos de defesa (garantias negativas), ligados a um dever de omissão, (um não fazer ou não interferir do estado no universo privado dos cidadãos), e direitos de prestações (garantias positivas) para o exercício de liberdades (...), mas, além disso, nos termos objetivos, eles, como base do ordenamento, seriam um “vetor” a ser seguido (pelos poderes públicos e particulares) para interpretação e aplicação de todas as normas constitucionais [grifo nosso]. Felipo Livio Lemos Luz Aula 01 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Felipo Luz www.estrategiaconcursos.com.br 17 de 217 DIREITO CONSTITUCIONAL Teoria e Questões Prof. Felipo Luz Tema que encontra alguma controvérsia em âmbito doutrinário é a caracterização dos direitos sociais como direitos fundamentais e a possibilidade de aplicação das dimensões subjetiva e objetiva a essa espécie de norma, mormente pelo fato de que sua concretude depende de uma atuação positiva do Estado que muitas vezes encontram limitações decorrentes daquilo que por convenção denomina-se de princípio da reserva do possível. Com efeito, a expressão “reserva do possível” (VorbehaltdesMöglichen) foi utilizada pela primeira vez pelo Tribunal Constitucional Federal Alemão, em julgamento proferido em 18 de julho de 1972. Trata-se de decisão que analisou a constitucionalidade, em controle concreto, de normas de direito estadual que regulamentavam a admissão aos cursos superiores de medicina nas universidades de Hamburgo e da Baviera nos anos de 1969 e 1970. Em razão do exaurimento da capacidade de ensino dos cursos de medicina, foram estabelecidas limitações absolutas de admissão. Em sentido oposto, argumentava-se estar diante de ofensa ao artigo 12, I, da Lei Fundamental alemã, que cuida da liberdade profissional e dispõe que “todos os alemães têm o direito de livremente escolher profissão, local de trabalho e de formação profissional. O exercício profissional pode ser regulamentado por lei ou com base em lei. O Tribunal, por sua vez, entendeu ser possível restringir o acesso aos cursos de medicina, porquanto os direitos sociais de participação em benefícios estatais “se encontram sob a reserva do possível, no sentido de estabelecer o que pode o indivíduo, racionalmente falando, exigir da coletividade.” Destarte, a expressão reserva do possível parece sustentar a ideia de que não é possível conceder aos indivíduos tudo o que pretendem, pois há pleitos cuja exigência não é razoável. A despeito disso, parte da doutrina parece sustentar a ideia de que o “regime geral” dos direitos fundamentais permanece aplicável mesmo diante de direitos de natureza social. Nessa perspectiva, Ingo Sarlet aduz que aos direitos sociais também se aplica (...) o disposto no art. 5º, § 1º, da CF, de tal sorte que, a exemplo das demais normas de direitos fundamentais, as normas consagradoras de direitos sociais possuem aplicabilidade direta, ainda que o alcance de sua eficácia deva ser avaliado sempre no contexto de cada direito social e em harmonia com outros direitos fundamentais (sociais ou não), princípios e mesmos interesses públicos e privados. Felipo Livio Lemos Luz Aula 01 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Felipo Luz www.estrategiaconcursos.com.br 18 de 217DIREITO CONSTITUCIONAL Teoria e Questões Prof. Felipo Luz Mais adiante, o mesmo autor argumenta que também deve ser aplicável aos direitos fundamentais sociais a proteção contra o poder de reforma constitucional e contra intervenções restritivas por parte dos órgãos estatais, já que na esfera dos direitos fundamentais sociais, passou a ganhar espaço a tese da proibição do retrocesso (efeito cliquet) como “garantia implícita” dessas mesmas prerrogativas, corroborando a percepção de que mesmo essa espécie de direitos fundamentas encontra guarida contra mudanças que busquem afetar seu núcleo essencial (entricheiramento ou preservação do mínimo já concretizado dos direitos fundamentais). Para o celebrado autor, os direitos de natureza social também apresentam uma dimensão subjetiva e objetiva (dupla dimensão). Como decorrência da primeira, como visto, os direitos fundamentais são posições jurídicas passíveis de exigência por parte de seus titulares, a despeito de alguma dificuldade ou objeção, como atentamos na parte em que comentamos o princípio da reserva do possível. A doutrina e jurisprudência brasileiras possuem uma forte percepção de que argumentos de natureza econômico-pragmáticas não podem afetar a esfera do mínimo existencial dessa espécie de direito, concebendo essa premissa como uma garantia das condições materiais mínimas para uma vida com dignidade, especialmente no tratamento jurisprudencial do direito à saúde e educação. Na perspectiva objetiva, ainda levando em conta a lição de Sarlet, a tutela dos direitos sociais “reflete o estreito liame desses direitos com o sistema de fins e valores constitucionais a serem respeitados e concretizados por toda a sociedade (princípio da dignidade da pessoa humana, superação das desigualdades sociais e regionais, construção de uma sociedade livre, justa e solidária). Nessa esfera (...) também as normas de direitos sociais (sendo normas de direitos fundamentais) possuem uma eficácia dirigente ou irradiante, decorrente da perspectiva objetiva, que impõe ao Estado o dever de permanente realização dos direitos sociais, além de permitir às normas de direitos sociais operarem como parâmetro, tanto para a aplicação e interpretação do direito constitucional, quanto para a criação e o desenvolvimento de instituições, organizações e procedimentos voltados à proteção e promoção dos direitos sociais”. 2.5 – Titularidade dos direitos fundamentais Enfoque recente tanto sob o viés doutrinário quanto jurisprudencial, diz respeito à faculdade de gozo de direitos e garantias fundamentais, ou seja, Felipo Livio Lemos Luz Aula 01 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Felipo Luz www.estrategiaconcursos.com.br 19 de 217 DIREITO CONSTITUCIONAL Teoria e Questões Prof. Felipo Luz perquirir sobre os indivíduos ou entidades a quem as prerrogativas inerentes à titularidade de direitos fundamentais são direcionados. Somente as pessoas físicas possuem esses atributos? Órgãos públicos poderiam ter garantias fundamentais? Pessoas jurídicas podem sofrer danos em sua personalidade? Estrangeiros poderiam gozar de algumas garantias constitucionais ao se encontrarem em território nacional? O artigo 5º, caput, da Constituição de 88 afirma que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos dos incisos posteriores. De uma leitura rápida do artigo poderíamos chegar à errônea conclusão de que as pessoas jurídicas (por exemplo, partidos políticos, poder publico, etc.), bem como os estrangeiros não-residentes, se encontrariam excluídos do âmbito de proteção dos direitos fundamentais. Nada mais equivocado! A doutrina e a jurisprudência mediante uma interpretação sistemática desse artigo vêm adotando uma interpretação extensiva dos sujeitos por ele abrangidos, de modo que os estrangeiros não residentes, apátridas e as pessoas jurídicas de direito público ou privado podem, em determinadas situações, gozar das faculdades abarcadas pelos direitos fundamentais e, também, das garantias a eles inerentes. Exemplo da interpretação ampliativa no âmbito da jurisprudência é a súmula 227 do STJ que afirma: “A pessoa jurídica pode sofrer dano moral”. No caso de pessoas jurídicas de direito público, o mesmo tribunal rechaçou a ideia de que tais entes pudessem sofrer ofensas no que tange aos direitos de personalidade (honra). Pela importância do tema, transcrevemos a decisão publicada no informativo 534 de fevereiro de 2014: A pessoa jurídica de direito público não tem direito à indenização por danos morais relacionados à violação da honra ou da imagem. A reparação integral do dano moral, a qual transitava de forma hesitante na doutrina e jurisprudência, somente foi acolhida expressamente no ordenamento jurídico brasileiro com a CF/1988, que alçou ao catálogo dos direitos fundamentais aquele relativo à indenização pelo dano moral decorrente de ofensa à honra, imagem, violação da vida privada e intimidade das pessoas (art. 5º, V e X). Por essa abordagem, no atual Felipo Livio Lemos Luz Aula 01 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Felipo Luz www.estrategiaconcursos.com.br 20 de 217 DIREITO CONSTITUCIONAL Teoria e Questões Prof. Felipo Luz cenário constitucional, a indagação sobre a aptidão de alguém de sofrer dano moral passa necessariamente pela investigação da possibilidade teórica de titularização de direitos fundamentais. Ocorre que a inspiração imediata da positivação de direitos fundamentais resulta precipuamente da necessidade de proteção da esfera individual da pessoa humana contra ataques tradicionalmente praticados pelo Estado. Em razão disso, de modo geral, a doutrina e jurisprudência nacionais só têm reconhecido às pessoas jurídicas de direito público direitos fundamentais de caráter processual ou relacionados à proteção constitucional da autonomia, prerrogativas ou competência de entidades e órgãos públicos, ou seja, direitos oponíveis ao próprio Estado, e não ao particular. Porém, em se tratando de direitos fundamentais de natureza material pretensamente oponíveis contra particulares, a jurisprudência do STF nunca referendou a tese de titularização por pessoa jurídica de direito público. Com efeito, o reconhecimento de direitos fundamentais – ou faculdades análogas a eles – a pessoas jurídicas de direito público não pode jamais conduzir à subversão da própria essência desses direitos, que é o feixe de faculdades e garantias exercitáveis principalmente contra o Estado, sob pena de confusão ou de paradoxo consistente em ter, na mesma pessoa, idêntica posição jurídica de titular ativo e passivo, de credor e, a um só tempo, devedor de direitos fundamentais. Finalmente, cumpre dizer que não socorrem os entes de direito público os próprios fundamentos utilizados pela jurisprudência do STJ e pela doutrina para sufragar o dano moral da pessoa jurídica. Nesse contexto, registre-se que a Súmula 227 do STJ (“A pessoa jurídica pode sofrer dano moral”) constitui solução pragmática à recomposição de danos de ordem material de difícil liquidação. Trata-se de resguardar a credibilidade mercadológica ou a reputação negocial da empresa, que poderiam ser paulatinamente fragmentadas por violações de sua imagem, o que, ao fim, conduziria a uma perda pecuniária na atividade empresarial. Porém, esse cenário não se verifica no caso de suposta violação da imagem ou da honra de pessoa jurídica de direito público. REsp 1.258.389-PB, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 17/12/2013. No âmbito dos tribunais superiores, as decisões gravitam no sentido de permitir às pessoas jurídicas de direito público o gozo de prerrogativas processuais, assim como garantir a defesadas instituições contra violações originadas pelo próprio poder público, ainda que o órgão público afetado não tenha personalidade jurídica constituída - a doutrina assenta a diferença entre personalidade jurídica (ordem material) e personalidade judiciária de natureza processual. Como afirma a recente súmula 525 do STJ: “A Câmara de Vereadores não possui personalidade jurídica, apenas personalidade judiciária, somente podendo demandar em juízo para defender os seus direitos institucionais”. No caso de estrangeiros não residentes, o STF já assegurou a possibilidade de ajuizamento de Habeas Corpus no caso de eventuais violações no direito Felipo Livio Lemos Luz Aula 01 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Felipo Luz www.estrategiaconcursos.com.br 21 de 217 DIREITO CONSTITUCIONAL Teoria e Questões Prof. Felipo Luz de locomoção: É inquestionável o direito de súditos estrangeiros ajuizarem, em causa própria, a ação de ‘habeas corpus’, eis que esse remédio constitucional – por qualificar-se como verdadeira ação popular – pode ser utilizado por qualquer pessoa, independentemente da condição jurídica resultante de sua origem nacional. (RTJ 164/193-194, Rel. Min. CELSO DE MELLO). A respeito da possibilidade de estrangeiros residentes usufruírem benefícios de natureza assistencial (LOAS), a matéria foi recentemente decidida pelo STF (2017), em regime de repercussão geral (tema 173): ASSISTÊNCIA SOCIAL – ESTRANGEIROS RESIDENTES NO PAÍS – ARTIGO 203, INCISO V, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL – ALCANCE. A assistência social prevista no artigo 203, inciso V, da Constituição Federal beneficia brasileiros natos, naturalizados e estrangeiros residentes no País, atendidos os requisitos constitucionais e legais. Para o relator, “a assistência social será prestada a quem dela necessitar”, sem restringir os beneficiários somente aos brasileiros natos ou naturalizados, de forma que é possível estender o benefício assistencial aos estrangeiros que preencherem os requisitos legais (idosos ou deficientes). Esse tema foi cobrado na prova de Defensor Público do Estado de Goiás (2014): Os direitos fundamentais são de titularidade exclusiva das pessoas naturais, dado que decorrentes do princípio da dignidade da pessoa humana. Comentário: Conforme explicado não apenas as pessoas naturais são titulares de direitos fundamentais, porquanto as pessoas jurídicas de direito público e privado também possuem tal prerrogativa. Assertiva incorreta. 2.6 – A teoria dos Status de Jellinek Teoria que merece ser destacada por relevante cobrança em concursos é a teoria dos quatro status dos direitos fundamentais concebida por Georg Jellinek no século XIX. Para tal teoria, o indivíduo no bojo de uma relação mista de direitos e deveres frente ao Estado se encontra em quatro posições (status) Felipo Livio Lemos Luz Aula 01 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Felipo Luz www.estrategiaconcursos.com.br 22 de 217 DIREITO CONSTITUCIONAL Teoria e Questões Prof. Felipo Luz principais, quais sejam: a) status passivo ou subjectionis; b) status negativo ou libertatis; c) status positivo ou civitatis; d) status ativo ou activus. No status passivo, o indivíduo encontra-se em estado de completa subordinação ou submissão na sua relação com o Estado, possuindo apenas deveres a serem cumpridos para a consecução do bem comum. Destarte, o Estado vincula o indivíduo através de mandamentos, proibições e limitações de sua conduta com objetivos finalísticos. No status negativo é possível vislumbrar a possibilidade de resistência do indivíduo em face da conduta dos poderes públicos, uma vez que a ação do Estado encontra limites em prerrogativas reconhecidas pelo ordenamento jurídico aos indivíduos. Nesse status é direito do indivíduo exigir uma abstenção estatal no conteúdo mínimo intransponível de sua autonomia ou liberdade, obviamente, se esse limite não interferir na esfera de liberdade alheia, caso em que torna-se imperiosa a interferência do Estado. Como aponta Jorge Miranda ao citar Jellinek, o poder do Estado é exercido sobre “homens livres”. A terceira situação é chamada de status positivo, no qual o indivíduo tem o faculdade de exigir o cumprimento de prestação positivas (dever de ação) por parte do Estado, objetivando, outrossim, o atendimento de suas necessidades. Vemos aqui que a função liberal clássica de abstenção estatal (obrigação de não fazer) adquire novos contornos, de maneira que, a partir dessa nova configuração, é possível ao indivíduo interferir no comportamento dos poderes públicos em busca da satisfação de seus pleitos. No quarto status, chamado ativo, é possível ao indivíduo participar ativamente na vontade política do Estado, sendo incluída nessa abordagem, por exemplo, a possibilidade de ocupação de cargos públicos. O STF, ao citar textualmente a teoria de Jellinek no RE 598.099/MS, decidiu que a Administração pública está vinculada ao número de vagas previstas no Edital de concursos públicos. O Tribunal concluiu que o candidato aprovado dentro do número de vagas previstas possui direito subjetivo à nomeação no cargo almejado, tendo em vista que o poder público também deve obediência aos princípios da boa-fé e da confiança legítima (faceta do princípio da segurança jurídica), sendo a “acessibilidade aos cargos públicos um direito fundamental expressivo da cidadania (...) uma das faces mais importantes dos status activus dos cidadãos conforme a conhecida “teoria dos status” de Jellinek”. Felipo Livio Lemos Luz Aula 01 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Felipo Luz www.estrategiaconcursos.com.br 23 de 217 DIREITO CONSTITUCIONAL Teoria e Questões Prof. Felipo Luz Bernardo Gonçalves correlaciona a teoria dos status com a classificação em funções dos direitos fundamentais, subdividindo-os a partir desse critério em: “direitos de defesa (são, em linhas gerais, aqueles em que se caracterizam por impor ao Estado um dever de abstenção ou de não interferência no espaço de autodeterminação do indivíduo. Como exemplos: art 5º, II, III, IV e VI da CR/88), de prestação (são, em linhas gerais, aqueles que exigem uma atuação para atenuar as desigualdades. Com isso, requerem uma atuação positiva no sentido de redução das desigualdades faticossociais, justamente para que os indivíduos possam desfrutar das liberdades alcançadas pela efetivação dos clássicos direitos de defesa), e, para alguns autores, também teríamos os direitos de participação (são aqueles que visam a garantir a participação do indivíduo como um cidadão ativo na formação da vontade política do Estado e da sociedade)”. Por fim, o mesmo autor, com fundamento na doutrina de autores americanos - propriamente Cass Sustein e Stephen Holmes, afirma que a dicotomia direitos de defesa X direitos de prestação não é cerrada, defendendo mesmo a sua superação, na medida em que para a efetivação dos direitos de defesa, por exemplo, o Estado direciona recursos públicos, o que demandaria uma atuação positiva e não apenas uma abstenção estatal clássica (e.g, a defesa do direito de propriedade requer gastos em segurança pública com um efetivo policial nas ruas). Na prova discursiva do TJDFT (2007) para o cargo de Juiz de Direito o examinador exigiu o conhecimento da teoria dos status: JE LL IN E K Status passivo ou subjectionis Status negativo ou libertatis Status positivo ou civitatis Status ativo ou activus Felipo Livio Lemos Luz Aula 01 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Felipo Luz www.estrategiaconcursos.com.br 24 de 217 DIREITO CONSTITUCIONAL Teoria e Questões Prof. Felipo Luz “Dissertação. Tema: As diferentes funções dos direitos fundamentais na ordem jurídica apartir da “Teoria dos quatro status” de Jellinek”. 2.7 – Limites aos direitos fundamentais e a tese dos limites dos limites Dentro da característica de relatividade dos direitos fundamentais, cabe agora explicitar as teorias dominantes a respeito da possibilidade de restrição do seu âmbito de proteção. De fato, a própria definição do âmbito de proteção é tarefa deveras tormentosa, podendo abarcar uma interpretação sistemática de diversas disposições constitucionais conflitantes, onde é costumeira a utilização da técnica da ponderação. Por vezes, a norma constitucional confere ao legislador um amplo poder de conformação ou regulação do direito fundamental, o que, doutrinariamente, é denominado de âmbito de proteção estritamente normativo (e.g., a pequena propriedade definida por lei, direitos dos autores em relação a suas obras pelo tempo estabelecido por lei, etc.). Na importante definição de Gilmar Mendes, como essa categoria de direito fundamental confia ao legislado, primordialmente, o mister de definir, em essência, o próprio conteúdo do direito regulado, fala-se, nesses casos, de regulação ou de conformação em lugar de restrição [grifo nosso]. Em outros dispositivos, a constituição efetua uma restrição dos direitos fundamentais em seu próprio corpo (superação da inviolabilidade do domicílio em caso de desastre, socorro, flagrante delito ou determinação judicial) ou invoca o legislador infraconstitucional para que efetue essa tarefa (e.g, o sigilo das comunicações poderá ser levantado por lei, é livre o exercício de qualquer trabalho desde que atendidas as qualificações legais, etc.). Cabe afirmar que essa segunda situação (restrição a direitos) só existe para os adeptos da denominada teoria externa. Com efeito, para os defensores dessa visão, teríamos duas entidades distintas, quais sejam, o direito e suas restrições em determinadas situações. Marcelo Novelino ao tratar do tema delineia as operações necessárias para a definição do conteúdo protegido de um direito fundamental: “A determinação do conteúdo definitivamente protegido por um direito fundamental envolve duas etapas claramente distintas. A primeira consiste na identificação do conteúdo inicialmente protegido (âmbito de proteção), o qual deve ser determinado da forma mais ampla possível. A segunda, na definição dos limites Felipo Livio Lemos Luz Aula 01 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Felipo Luz www.estrategiaconcursos.com.br 25 de 217 DIREITO CONSTITUCIONAL Teoria e Questões Prof. Felipo Luz externos (restrições) decorrentes da necessidade de conciliar o direito com outros direitos e bens constitucionalmente protegidos”. Uma consequência da teoria externa e a possibilidade de restrições de direitos é a ligação muitas vezes salientada no âmbito da doutrina e jurisprudência entre direitos fundamentais e a teoria dos princípios. Nesse sentido, Novelino afirma que “a teoria externa pressupõe uma distinção entre direito prima facie e direito definitivo, como a adotada na teoria dos princípios”. Na definição de ALEXY, os princípios, enquanto mandamentos de otimização, consagram um direito prima facie que poderá ser restringido por outras normas em sentido oposto. Portanto, sob esse prisma, a determinação do direito definitivo somente será possível diante de um caso concreto, após a ponderação entre os princípios colidentes ou a aplicação de regras que integram o postulado da proporcionalidade. Uma pergunta, no entanto, deve ser respondida no contexto da teoria externa: Quais seriam os limites das restrições impostas aos direitos fundamentais? Existiria um núcleo essencial que serviria como limite instransponível às possíveis restrições decorrentes da análise do caso concreto? Como resposta a essa indagação surge a teoria dos limites dos limites (em alemão Schranken-Schranken) que serve de guia à ação do legislador quando restringe direitos fundamentais. Bernardo Gonçalves expõe os critérios a serem observados para que ocorra a sobredita restrição a direitos: 1) Qualquer limitação (restrição) aos direitos fundamentais tem que respeitar o núcleo essencial destes, ou seja, o núcleo essencial que envolve diretamente os direitos fundamentais e por derivação a noção de dignidade da pessoa humana, que não pode ser abalada. O controle desses limites, então, fica a cargo do poder judiciário; 2) Pesa uma exigência de clareza e precisão (...) como forma de proteção da segurança jurídica (...); 3) As limitações, em regra, devem ser de cunho geral e abstrato (...) logo, mostra-se proibido o uso da legislação como forma de criar limitações casuísticas (...); 4) As limitações devem ser proporcionais, e, para tanto, devem obedecer ao instrumental da proporcionalidade. Com isso, as mesmas devem estar em consonância com o princípio (máxima, postulado ou mais corretamente regra) da proporcionalidade e seus subprincípios (máximas, postulados ou mais corretamente sub-regras): adequação (meio que deve ser apto ao fim visado), necessidade (não deve haver outro meio Felipo Livio Lemos Luz Aula 01 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Felipo Luz www.estrategiaconcursos.com.br 26 de 217 DIREITO CONSTITUCIONAL Teoria e Questões Prof. Felipo Luz menos gravoso para se atingir o objetivo, ou seja, a única forma de atingir o fim visado deve ser pela restrição ou limitação do DF, visto que não há outro meio menos gravoso) e proporcionalidade em sentido estrito (relação custo/benefício), ou seja, o ônus com a medida restritiva (que obviamente causa ônus) deve ser menor que o bônus. Nesse caso, a restrição (ou limitação) irá desenvolver mais do que prejudicar o direito fundamental em questão(ou os direitos fundamentais em questão)”. Como contraponto à teoria externa temos a denominada teoria interna, na qual definir o âmbito de proteção de um direito é o mesmo que delimitar seus limites. Não há, portanto, a distinção entre direitos e restrições como na teoria externa, pois o direito e seus limites (não restrições!) fazem parte de uma unidade indistinguível, cabendo ao intérprete averiguar de forma definitiva o âmbito de proteção do direito protegido em conjunto com seus limites imanentes. Daí por que, no campo da teoria interna, não há lugar para a ponderação (sopesamento) de princípios através da aplicação do postulado da proporcionalidade, eis que os direitos fundamentais são definitivos quando interpretados corretamente. 2.8 – Eficácia dos direitos fundamentais nas relações privadas (Eficácia horizontal) Anteriormente, explicamos que os direitos fundamentais comportam duas dimensões, quais sejam, subjetiva e objetiva. A constatação de uma dimensão objetiva dessas posições jurídicas de vantagem suscita, entretanto, uma nova indagação, muito bem observada por Canotilho: as normas constitucionais consagradoras de direitos, liberdades e garantias (e direitos análogos) devem ou não ser obrigatoriamente observadas e cumpridas pelas pessoas privadas (individuais ou coletivas) quando estabelecem relações jurídicas com outros sujeitos jurídicos privados? É dizer: seria possível, com fundamento na dimensão objetiva, a intervenção do Estado com o objetivo de assegurar direitos fundamentais em relações jurídicas entabuladas no campo privado? Em compasso com o constitucionalista português - que admite a possibilidade desse tipo de intervenção, podemos elencar duas teorias que, conquanto estabeleçam modos distintos de atuação, preconizam alguma interferência estatal também nesse tipo de relação: 1) Eficácia direta e imediata (direkteDrittwirkung), na qual, como o próprio nome já permite deduzir, os direitos fundamentais estabelecidos Felipo Livio Lemos Luz Aula 01 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Felipo Luz www.estrategiaconcursos.com.br27 de 217 DIREITO CONSTITUCIONAL Teoria e Questões Prof. Felipo Luz na constituição são passíveis de aplicação plena na relação entre particulares, sendo desnecessária a interposição legislativa no tocante ao direito privado, porquanto o texto constitucional possui máxima efetividade também na esfera particular. Essa é a teoria dominante no cenário nacional. 2) Eficácia indireta e mediata (indirekteDrittwirkung), na qual os direitos fundamentais atuam no domínio das relações privadas por intermédio de leis infraconstitucionais que delineiam conceitos jurídicos indeterminados ou cláusulas gerais do direito privado voltadas para regular tais relações. É a tese predominante na doutrina alemã sendo utilizada pelo respectivo Tribunal Constitucional no julgamento do emblemático caso Lüth, situação em que a corte definiu que os preceitos de direito civil aplicados nas relações privadas deveriam ser interpretados à luz do direito constitucional, exercendo este um papel de verdadeiro filtro das normas de direito privado. Em suma, de acordo com a teoria da eficácia direta, os direitos, liberdades e garantias aplicam-se de forma obrigatória e direta entre particulares ou entidades privadas, tendo, assim, eficácia absoluta e, por corolário, não necessitando de qualquer mediação concretizadora do poder público para utilizar essas prerrogativas, embora seja possível a sua atuação plena – principalmente através do Poder Judiciário - para a sua defesa. Por outro lado, a teoria indireta postula que a eficácia horizontal dos direitos fundamentais se dá através da força conformadora do Estado, vinculando, a princípio, o legislador, que seria obrigado a atuar para conformar as suscitadas relações obedecendo aos princípios previstos no ordenamento constitucional e em conformidade com os direitos fundamentais. Essa eficácia, segundo parte da doutrina, também se daria por meio da intermediação interpretativa de cláusulas gerais do direito civil nas relações entre particulares. Perceba que esse enfoque da abordagem indireta utiliza o próprio direito civil como critério hermenêutico – a partir da utilização de cláusulas gerais –, que, de forma concatenada, utiliza o filtro constitucional obrigatório que essa interpretação requer, porquanto não é mais possível, nos moldes da teoria, a atuação do direito civil em descompasso com o direito constitucional. Exemplo clássico da aplicação mediata dos direitos fundamentais em âmbito privado é, como dito, o caso Luth, julgado pelo Tribunal Constitucional alemão: Felipo Livio Lemos Luz Aula 01 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Felipo Luz www.estrategiaconcursos.com.br 28 de 217 DIREITO CONSTITUCIONAL Teoria e Questões Prof. Felipo Luz BVERFGE 7, 198 (LÜTH-URTEIL) RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL CONTRA DECISÃO JUDICIAL 15/01/1958 MATÉRIA: O cidadão alemão Erich Lüth, conclamou, no início da década de cinqüenta (à época crítico de cinema e diretor do Clube da Imprensa da Cidade Livre e Hanseática de Hamburgo), todos os distribuidores de filmes cinematográficos, bem como o público em geral, ao boicote do filme lançado à época por Veit Harlan, uma antiga celebridade do filme nazista e coresponsável pelo incitamento à violência praticada contra o povo judeu (principalmente por meio de seu filme “Jud Süß”, de 1941). Harlan e os parceiros comerciais do seu novo filme (produtora e distribuidora) ajuizaram uma ação cominatória contra Lüth, com base no § 826 BGB. O referido dispositivo da lei civil alemã obriga todo aquele que, por ação imoral, causar dano a outrem, a uma prestação negativa (deixar de fazer algo, no caso, a conclamação ao boicote), sob cominação de uma pena pecuniária. Esta ação foi julgada procedente pelo Tribunal Estadual de Hamburgo. Contra ela, ele interpôs um recurso de apelação junto ao Tribunal Superior de Hamburgo e, ao mesmo tempo, sua Reclamação Constitucional, alegando violação do seu direito fundamental à liberdade de expressão do pensamento, garantida pelo Art. 5 I 1 GG. O TCF julgou a Reclamação procedente e revogou a decisão do Tribunal Estadual. Trata-se, talvez, da decisão mais conhecida e citada da jurisprudência do TCF. Nela, foram lançadas as bases, não somente da dogmática do direito fundamental da liberdade de expressão e seus limites, como também de uma dogmática geral (Parte Geral) dos direitos fundamentais. Nela, por exemplo, os direitos fundamentais foram, pela primeira vez, claramente apresentados, ao mesmo tempo, como direitos públicos subjetivos de resistência, direcionados contra o Estado e como ordem ou ordenamento axiológico objetivo. Também foram lançadas as bases dogmáticas das figuras da Drittwirkung e Ausstrahlungswirkung (eficácia horizontal) dos direitos fundamentais, do efeito limitador dos direitos fundamentais em face de seus limites (Wechselwirkung), da exigência de ponderação no caso concreto e da questão processual do alcance da competência do TCF no julgamento de uma Reclamação Constitucional contra uma decisão judicial civil. 1. Os direitos fundamentais são, em primeira linha, direitos de resistência do cidadão contra o Estado. Não obstante, às normas de direito fundamental incorpora-se também um ordenamento axiológico objetivo, que vale para todas as áreas do direito como uma fundamental decisão constitucional. 2. No direito civil, o conteúdo jurídico dos direitos fundamentais desenvolve-se de modo mediato, por intermédio das normas de direito privado. Ele interfere, sobretudo, nas prescrições de caráter cogente e é realizável pelo juiz, sobretudo pela via das cláusulas gerais. 3. O juiz de varas cíveis pode, por meio de sua decisão, violar direitos Felipo Livio Lemos Luz Aula 01 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Felipo Luz www.estrategiaconcursos.com.br 29 de 217 DIREITO CONSTITUCIONAL Teoria e Questões Prof. Felipo Luz fundamentais (§ 90 BVerfGG), quando ignorar a influência dos direitos fundamentais sobre o direito civil. O Tribunal Constitucional Federal revisa decisões cíveis somente no que tange a tais violações de direitos fundamentais, mas não no que tange a erros jurídicos em geral. 4. As normas do direito civil também podem ser “leis gerais” na acepção do Art. 5 II GG e, destarte, limitar o direito fundamental à liberdade de expressão do pensamento. 5. As “leis gerais” têm que ser interpretadas à luz do significado especial do direito fundamental à livre expressão do pensamento para o Estado livre e democrático. 6. O Direito fundamental do Art. 5 GG não protege somente a expressão de uma opinião enquanto tal, mas também o efeito intelectual a ser alcançado por sua expressão. 7. Uma expressão do pensamento que contenha uma convocação ao boicote não viola necessariamente os bons costumes na acepção do § 826 BGB; ela pode ser justificada constitucionalmente, em sede da ponderação de todos os fatores envolvidos no caso, por meio da liberdade de expressão do pensamento. Decisão (Urteil) do Primeiro Senado de 15 de janeiro de 1958. Trecho extraído do site: https://direitosfundamentais.net/2008/05/13/50-anos-do-caso-luth-o-caso- mais-importante-da-historia-do-constitucionalismo-alemao-pos-guerra/ Na jurisprudência do STF, podemos encontrar manifestações a respeito da tese da eficácia direta no campo privado, sendo exemplo os seguintes julgados: RE 201.819-RJ (informativo 405): Expulsão de associado da União Brasileira de Compositores sem a observância do devido processo legal, contraditório e ampla defesa, utilizando como paradigma o citado caso Lüth: “Um entendimento segundo o qual os direitos fundamentais atuam de forma unilateral na relação entre cidadão e o Estado acaba por legitimar a ideia de que haveria para o cidadão sempre um espaço livre de qualquer ingerência estatal. A adoção dessa orientação suscitaria problemas de difícil solução tantono plano teórico, como no plano prático. O próprio campo do Direito Civil está prenhe de conflitos de interesses com repercussão no âmbito dos direitos fundamentais. O benefício concedido a um cidadão configura, não raras vezes, a imposição de restrição de outrem (...) Em 1950, o Presidente do Clube de Imprensa de Hamburgo, Erich Lüth, defendeu um boicote contra o filme ‘Unsterbliche Geliebte’, de Veit Harlan, diretor do filme ‘Jud Süs’, produzido durante o 3º Reich. Harlan logrou decisãp do Tribunal estadual de Hamburgo no sentido de determinar que Lüth se abstivesse de conclamar o boicote Felipo Livio Lemos Luz Aula 01 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Felipo Luz www.estrategiaconcursos.com.br 30 de 217 DIREITO CONSTITUCIONAL Teoria e Questões Prof. Felipo Luz contra o referido filme com base no § 826 do Código Civil (BGB). Contra essa decisão foi interposto recurso constitucional (Verfassungbeschwerde) perante o Bundesverfassungsgericht. A Corte Constitucional deu pela procedência do recurso, enfatizando que decisões de tribunais civis, com base em leis gerais de natureza privada, podem lesar o direito de livre manifestação de opinião consagrado no art. 5, 1, da Lei Fundamental. Os tribunais ordinários estariam obrigados a levar em consideração o significado dos direitos fundamentais em face dos bens juridicamente tutelados pelas keis gerais (juízo de ponderação). Na espécie, entendeu a corte que, ao apreciar a conduta do recorrente, o Tribunal estadual teria desconsiderado (verkannt) o especial significado que se atribui ao direito de livre manifestação de opinião também nos casos em que ele confronta com interesses privados”. RE 161.243 / DF: Nesse julgado, o tribunal entendeu violado o princípio da igualdade (direito fundamental), na adoção de tratamento diferenciado entre funcionários brasileiros e estrangeiros, por parte de empresa privada: “Ao recorrente, por não ser francês, não obstante trabalhar para a empresa francesa, no Brasil, não foi aplicado o Estatuto do Pessoal da Empresa, que concede vantagens aos empregados, cuja aplicabilidade seria restrita ao empregado de nacionalidade francesa. Ofensa ao princípio da igualdade: C.F., 1967, art. 153, §1º; C.F.. 1988, art 5º, caput) “. RE 175.161 / SP: onde o Tribunal assegurou a aplicação do princípio da proporcionalidade / razoabilidade no caso de devolução nominal dos valores pagos (sem correção monetária), em razão de desistência de consorciado: “Mostra-se consentâneo com o arcabouço normativo constitucional, ante os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade, decisão no sentido de, ao término do grupo, do fechamento respectivo, o consorciado desistente substituído vir a receber as cotas satisfeitas devidamente corrigidas. Descabe evocar cláusula do contrato de adesão firmado consoante a qual a devolução far-se-á pelo valor nominal. Precedente: Verbete nº 35 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça: "Incide correção monetária sobre as prestações pagas, quando de sua restituição em virtude de retirada ou exclusão do participante de plano de consórcio". Esse tema foi cobrado recentemente em provas discursivas: (MPMG – 2017 – Promotor) Discorra sobre a eficácia horizontal dos direitos fundamentais e o seu reconhecimento (ou não) no Brasil. Responda de forma fundamentada e indique, se houver, o(s) dispositivo(s) constitucional(is) que embasa(m) a resposta. Apresente exemplos. Felipo Livio Lemos Luz Aula 01 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Felipo Luz www.estrategiaconcursos.com.br 31 de 217 DIREITO CONSTITUCIONAL Teoria e Questões Prof. Felipo Luz Caminhando para a conclusão desse tópico, resta saber se os direitos fundamentais têm eficácia nas relações jurídicas civis como direitos subjetivos privados ou como direitos subjetivos públicos. Ao analisar essa perspectiva, Canotilho aponta que, geralmente, a resposta vai ao encontro do primeiro sentido, mormente se aplicada a tese da eficácia mediata, como visto alhures. No entanto, para o autor essa ideia parte de dois pressupostos que entende questionáveis, quais sejam: 1. Os direitos subjetivos públicos só se concebem nas relações Estado – Cidadão; 2. Os direitos, liberdades e garantias, como direitos subjetivos públicos, derivam imperativamente da lei. Em resposta, o jurista português aduz que nada impede que os direitos subjetivos públicos valham na sua aplicação ao direito civil, principalmente se esta caracterização lhe trouxer uma maior dimensão prática. Dessa forma, o autor entende que é permitido, desde logo, o direito de acesso aos tribunais para as defesas dessas liberdades, bem como é possível a aplicação imediata de princípios constitucionais materiais, como o da proporcionalidade nessa esfera. Assim, a despeito da impressão inicial de que o reconhecimento da eficácia horizontal de direitos fundamentais possua um natureza privada, o melhor entendimento é que essa nova aplicação traduz a boa e velha manifestação clássica dos direitos subjetivos públicos, não devendo ser curial para essa classificação a espécie de relação subjacente observada (Estado e particular ou apenas particulares entre si). Como última consideração a respeito dos limites aos direitos fundamentais, cabe ressaltar que os conceitos anteriormente delineados dizem respeito ao “estatuto geral dos cidadãos”. No entanto, existem indivíduos que, por características peculiares, possuem regras ou deveres diferenciados no plano estatal, situação denominada pela doutrina como “relação especial de sujeição ou poder”. Como exemplo, podemos citar os funcionários públicos, militares e presos, coletividades possuidoras de restrições jurídicas disciplinadas em estatutos específicos, cujos fundamentos, expressos ou implícitos, encontram suporte nas normas de natureza constitucional. Para Canotilho, trata-se tão-somente de relações de vida disciplinadas por um estatuto específico (...) porém, não se situa fora da esfera constitucional, desde logo porque as pessoas sujeitas a estatutos especiais mantêm a titularidade de direitos (...) não é uma Felipo Livio Lemos Luz Aula 01 Direito Constitucional p/ PC-PR (Delegado) www.estrategiaconcursos.com.br Prof. Felipo Luz www.estrategiaconcursos.com.br 32 de 217 DIREITO CONSTITUCIONAL Teoria e Questões Prof. Felipo Luz ordem extraconstitucional, mas sim um estatuto heteronomamente vinculado, devendo encontrar o seu fundamento na constituição (ou estar pelo menos pressuposto) [grifo nosso]. 3 - Direitos Fundamentais em espécie 3.1 - Direito à vida Dispõe a constituição sobre a inviolabilidade do direito à vida: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...). Essa prerrogativa do indivíduo possui muitas dimensões, seja sob a perspectiva material quanto espiritual. José Afonso da Silva abarca, também, no direito à vida, os seguintes direitos: a) direito à dignidade da pessoa humana; b) direito à existência; c) direito à integridade físico-corporal e d) direito à integridade moral. André Carvalho Ramos atesta uma dimensão vertical e horizontal do direito à vida. O primeiro plano (vertical) envolve a proteção da vida nas diferentes fases do desenvolvimento humano (da fecundação à morte), sendo observado apenas a perspectiva biológica da vida. No segundo aspecto (horizontal), o mesmo autor ressalta a qualidade da vida fruída, refletindo na esfera de proteção do direito à saúde, educação, prestações de seguridade social e no direito ao meio ambiente equilibrado, assegurando ao indivíduo uma vida digna globalmente considerada. Questão relevante é definir
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