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AULA 6 DIREITO CONSTITUCIONAL DO TRABALHO Profª Sonia de Oliveira 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula, os temas estudados estão relacionados ao Direito Coletivo do Trabalho. A matéria será analisada de acordo com as disposições da Constituição de 1988 e também da CLT, em alguns aspectos particulares. Serão os temas abordados nesta aula: • Direito de associação e o direito coletivo do trabalho; • Liberdade e unicidade sindical; • Direito de greve; • Negociações coletivas – convenções e acordos coletivos de trabalho; • Contribuição sindical e reforma trabalhista promovida pela Lei n. 13.467/2017. Leia o material, assista aos vídeos e tenha bons estudos. CONTEXTUALIZANDO Descontente com a atuação do seu sindicato profissional, para o qual já deixou de contribuir em virtude da inércia na defesa dos interesses dos empregados da categoria profissional, João da Silva conversa com seus colegas de trabalho da mesma empresa e de outras empresas do mesmo segmento, no intuito de buscar a criação de um novo sindicato da mesma categoria. Então, para saber se é juridicamente possível, João o procura em seu escritório, explica a situação e pergunta: seria possível criar um novo sindicato, mais representativo, na mesma base territorial daquele para o qual deixaram de contribuir? O que você diz ao João? TEMA 1 – DIREITO DE ASSOCIAÇÃO E O DIREITO COLETIVO DO TRABALHO A Constituição de 1988 prevê como direito fundamental dos cidadãos o direito de associação, ao prever no art. 5.º, que: XVII – é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar; XVIII – a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento; XIX – as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em julgado; 3 XX – ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer associado; XXI – as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente (Brasil, 1988) Esse direito de associação previsto no art. 5.º da Constituição é direito geral de associação, não se aplicando especificamente às associações de trabalhadores, ou seja, trata-se da liberdade de associação, que é diferente da liberdade sindical, a qual será estudada a seguir. As associações são entidades desvinculadas do Estado, não podendo este intervir na criação e no funcionamento daquele. Essa previsão expressa da Constituição se deve ao fato de que, por décadas, o poder estatal interviu nas associações de pessoas, fiscalizando todos os seus atos desde a sua criação. Inclusive, poderia determinar a sua extinção de ofício, caso os interesses da associação conflitassem de alguma forma com os do Estado. Foi uma realidade alterada pela a Constituição de 1988. Hoje, de acordo com o disposto no inciso XIX, somente poderão ser dissolvidas as associações, de forma compulsória, se houver decisão judicial com trânsito em julgado. Isso nos remete à ideia de que deve haver uma provocação judicial com pedido específico para dissolução da associação, a qual será analisada pelo poder judiciário, no intuito de conferir legalidade ao procedimento. Quanto à liberdade associativa, assim como a sindical, pode ser positiva ou negativa, já que o inciso XX, antes transcrito, afirma que ninguém será obrigado a se associar ou a permanecer associado. A liberdade positiva é o exercício do direito de associar-se, enquanto a liberdade negativa se trata do direito de o cidadão não permanecer associado. O inciso XXI, por sua vez, afirma que a associação somente poderá representar judicial ou administrativamente o associado que lhe conferir poderes específicos para tanto. É o exemplo de associações de defesa do consumidor, que somente estarão legitimadas para representar o consumidor de forma individual se tiverem procuração outorgada por este. O direito de associação, previsto no art. 5.º da Constituição, é gênero do qual se pode considerar como espécie a liberdade sindical, ou seja, a liberdade de associar-se ou não a um sindicato. A liberdade sindical será analisada mais adiante. Por agora, passamos a estudar o direito coletivo do trabalho, que trata dessa relação de associação entre sindicatos, trabalhadores e empresas. 4 1.1 Direito coletivo do trabalho O direito coletivo do trabalho é a disciplina responsável por regular as relações privadas considerando a coletividade de trabalhadores e a coletividade de empregadores, ou entre os sindicatos obreiros diretamente com as empresas empregadoras, “a par das demais relações surgidas na dinâmica da representação e atuação coletiva dos trabalhadores”. (Delgado, 2011, p. 1.303). O conteúdo do direito coletivo do trabalho tem origem nos “princípios, regras e institutos que regem a existência de desenvolvimento das entidades coletivas trabalhista, inclusive suas inter-relações, além das regras jurídicas trabalhistas criadas em decorrência de tais vínculos” (Delgado, 2011, p. 1.309). As funções do direito coletivo do trabalho podem ser gerais e específicas. Serão gerais por buscar os fins do próprio Direito do Trabalho, a melhoria das condições de trabalho do cidadão. E específicas, quais sejam: produção de normas jurídicas, pacificação de conflitos de natureza sociocoletiva, função social e política e importante papel econômico (Delgado, 2011, p. 1.314-1.315). Quanto aos sindicatos, Maurício Godinho Delgado os define como “entidades associativas permanentes, que representam trabalhadores vinculados por laços profissionais e laborativos comuns, visando tratar de problemas coletivos das respectivas bases representadas” (Delgado, 2011, p. 1.345). A lei não poderá exigir autorização do Estado para fundação de sindicato, mas somente o registro deste em órgão competente (MTE), sendo totalmente vedada a interferência do poder público nas entidades sindicais, nos termos do art. 8.º, inciso I, da Constituição. Passamos agora a estudar os princípios do direito coletivo do trabalho de acordo com a doutrina de Maurício Godinho Delgado. TEMA 2 – LIBERDADE E UNICIDADE SINDICAL De acordo com o texto constitucional, ninguém poderá ser obrigado a se manter filiado ao sindicato e qualquer cláusula da convenção coletiva de trabalho que obrigue a associação deve ser considerada nula, pois é o disposto no art. 8.º, inciso V, da Constituição: “ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado a sindicato”. Isso não significa que o trabalhador daquela categoria profissional esteja descoberto de proteção, pois ainda que ele não seja filiado ao Sindicato, todas as 5 convenções e os acordos coletivos de trabalho, além de outras ações promovidas pelo Sindicato para proteger os trabalhadores, a ele se aplicam igualmente. A Convenção 98 da CLT prevê a proteção do trabalhador em detrimento da violação da sua liberdade sindical, de tanta importância que se confere ao tema mesmo internacionalmente. A empresa que violar a liberdade sindical do trabalhador estará sujeita às penalidades legais, desde que haja denúncia nesse sentido aos órgãos competentes. A Constituição de 1988, no art. 8.º, inciso VII, também prevê a possibilidade de o trabalhador aposentado ser membro integrante do sindicato da sua categoria profissional. Este, inclusive, poderá concorrer a cargos, votar e ser votado, portanto. E ainda, não pode o trabalhador escolher em qual sindicato tem interesse em se filiar, sendo esta compulsória àquele ligado à atividade econômica desenvolvida pela empresa empregadora (a qual determinada a categoria profissional do trabalhador). O empregado que desejaser dirigente sindical tem estabilidade no emprego desde a candidatura até um ano após o término do mandato sindical. Essa estabilidade sindical também é garantida ao membro eleito como suplemente. Essa estabilidade no trabalho é prevista no art. 8.º, inciso VIII, da Constituição e tem o objetivo de impedir que o trabalhador sofra represálias ou punições no trabalho em virtude de seu trabalho na defesa da categoria profissional. Contudo, essa estabilidade sindical não impede que o empregado eleito seja dispensado por justa causa. Nesse caso, deverá ser interposto inquérito de apuração de falta grave na justiça do trabalho, cabendo ao Juiz do Trabalho declarar a falta grave e, consequentemente, a possibilidade de dispensa por justa causa do empregado. E ainda, é vedada a transferência do empregado sindicalizado para filial do empregador que seja localizada em outra base territorial do sindicato no qual atua, pois interferiria diretamente na possibilidade de atuação em favor dos empregados que o elegeram. Quanto à unicidade sindical, esta está prevista no art. 8.º, inciso II, da Constituição de 1988. Importante mencionar que a Constituição Federal, no art. 37, inciso VI, garantiu aos funcionários públicos (servidor público civil) o direito de 6 associação sindical, aplicando-se às mesmas regras em relação à unicidade sindical. TEMA 3 – DIREITO DE GREVE De acordo com a Lei n. 7.783/1989, a greve pode ser definida pela “suspensão coletiva, temporária e pacífica, total ou parcial, de prestação pessoal de serviços ao empregador”. A Constituição de 1988 garante ao trabalhador o exercício do direito de greve no art. 9.º, in verbis: “Art. 9.º É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender.” A greve se trata de um movimento coletivos, pacífico e de sustação das atividades laborais pelos empregados, e compete aos trabalhadores decidir sobre o exercício do direito de greve e definir os interesses que pretendem defender por meio dele. O movimento grevista é de livre exercício pelos empregados, o que independe de autorização do empregador ou de qualquer outra entidade. Aprovada a greve, esta deve ser comunicada ao empregador 48 horas antes do seu início, tratando-se de atividades normais, e 72 horas nos serviços essenciais. São características essenciais para que o movimento grevista seja considerado lícito: empregos de meios pacíficos para persuadir os trabalhadores a adotar a greve; arrecadação de fundos e a livre divulgação do movimento grevista; vedação de dispensa pelo empregador; vedação de contratação de substitutos de empregados em greve, salvos nas hipóteses de serviços essenciais da empresa e que sejam prejudicados pela greve. Dentre os objetivos da greve, tem-se o de coagir o empregador a atender a melhoras nas condições de trabalho dos empregados da empresa. Sempre tem um objetivo específico que pode ser aumento de salário, melhores condições de trabalho, duração do trabalho, dentre outras. No entanto, os grevistas também possuem deveres e, dentre eles, estão: o de assegurar a manutenção de serviços essenciais, organizar equipes para manutenção de serviços essenciais para posterior retomada ao trabalho, não fazer greve após a celebração de acordo ou convenção coletiva de trabalho, respeitar os direitos fundamentais da classe e não reproduzir atos de violência, seja depredação de bens ou violência física. 7 Entretanto, a greve por parte do empregador é permitida? Esse ato é conhecido como lock-out e é vedada pela legislação. Inclusive, o art. 722 da CLT prevê penalidades para os empregadores que suspenderem os seus trabalhos no estabelecimento sem autorização prévia do Tribunal competente. Importante mencionar que lock-out não se confunde com o fechamento da empresa em virtude de falência ou por decisão de seus sócios/administradores, já que, nesses casos, a paralisação tende a ser definitiva. TEMA 4 – NEGOCIAÇÕES COLETIVAS: CONVENÇÕES E ACORDOS COLETIVOS DE TRABALHO A Constituição de 1988, no art. 7.º, inciso XXVI, reconhece expressamente a validade das convenções e acordos coletivos de trabalho, instrumentos coletivos elaborados a partir da intervenção dos sindicatos profissionais e da categoria econômica. A CLT define as convenções coletivas de trabalho como “acordo de caráter normativo pelo qual dois ou mais sindicatos representativos de categorias econômicas e profissionais estipulam condições de trabalho aplicáveis, no âmbito das respectivas representações, às relações individuais de trabalho” (art. 611, CLT) (Brasil, 1945). Portanto, a convenção coletiva de trabalho é resultado das negociações entabuladas por entidades sindicais dos empregados e empregadores. Entretanto, o acordo coletivo de trabalho, de acordo com o art. 611, parágrafo 1, da CLT: “é facultado aos sindicatos representativos das categorias profissionais celebrar acordos coletivos com uma ou mais empresas da correspondente categoria econômica, que estipulam condições de trabalho aplicáveis, no âmbito das respectivas empresas, às relações individuais de trabalho”. Nota-se que, para formalizar o acordo coletivo de trabalho, não é necessária a participação do sindicato representativo do empregador, mas tão somente dos empregados, pois são direitos destes que estão sendo negociados juntamente com o empregador ou empregadores. As cláusulas contratuais, tanto nos acordos quanto nas convenções coletivas de trabalho, devem ser formais e solenes para poder gerar obrigações e direitos entre as partes envolvidas. 8 TEMA 5 – CONTRIBUIÇÃO SINDICAL E A REFORMA TRABALHISTA PROMOVIDA PELA LEI N. 13.467/2017 A Constituição de 1988 prevê, no art. 8.º, inciso IV, que “IV – a assembleia geral fixará a contribuição que, em se tratando de categoria profissional, será descontada em folha, para custeio do sistema confederativo da representação sindical respectiva, independentemente da contribuição prevista em lei”. A norma constitucional é clara em determinar que caberá aos membros de cada entidade sindical o patrocínio das atividades do sindicato representativo. No entanto, essa contribuição é obrigatória (compulsória)? Considerando o previsto no inciso constitucional antes reproduzido, com a regra geral da CLT, sempre foi pacífico o entendimento de que era obrigatório o pagamento do imposto sindical pelo empregado, o qual correspondia a um dia de salário no mês de março de cada ano. Desse modo, caberia ao empregador fazer o desconto na folha de pagamento e repassar o valor à entidade sindical representativa da classe trabalhadora. Contudo, com a reforma trabalhista promovida pela Lei n. 13.467/2017, o tema passou a ser controverso, pois houve alteração do texto da CLT nesse particular. A CLT passou a prever que somente com a autorização expressa do empregado é que o empregador poderá realizar o desconto de um dia de salário para repasse ao sindicato profissional, vejamos: Art. 578. As contribuições devidas aos sindicatos pelos participantes das categorias econômicas ou profissionais ou das profissões liberais representadas pelas referidas entidades serão, sob a denominação de contribuição sindical, pagas, recolhidas e aplicadas na forma estabelecida neste Capítulo, desde que prévia e expressamente autorizadas. Art. 579. O desconto da contribuição sindical está condicionado à autorização prévia e expressa dos que participarem de uma determinada categoria econômica ou profissional, ou de uma profissão liberal, em favor do sindicato representativo da mesma categoria ou profissão ou, inexistindo este, na conformidade do disposto no art. 591 desta Consolidação. [...] Art. 582. Os empregadores são obrigados a descontar da folha de pagamento de seus empregados relativa ao mês de marçode cada ano a contribuição sindical dos empregados que autorizaram prévia e expressamente o seu recolhimento aos respectivos sindicatos. (Brasil, 1945, grifo nosso) A alteração da redação dos artigos antes reproduzidos gerou a interposição de diversas ações judiciais para declaração de inconstitucionalidade dos textos 9 reformados, no intuito de declarar a obrigatoriedade do imposto sindical, pois entende-se que a facultatividade poderia gerar o enfraquecimento da atuação dos sindicatos. Então, foi julgada recentemente no STF a ADI n. 5.794 sobre o tema. FINALIZANDO Nesta aula, o foco esteve voltado para o direito coletivo do trabalho, tendo sido estudados os seguintes temas: • Direito de associação e o direito coletivo do trabalho; • Liberdade e unicidade sindical; • Direito de greve; • Negociações coletivas – convenções e acordos coletivos de trabalho; • Contribuição sindical e a reforma trabalhista promovida pela Lei n. 13.467/2017. O direito coletivo do trabalho, como o próprio nome já indica, olha para os trabalhadores na sua forma coletiva, buscando a defesa dos interesses de categorias de trabalhadores, promovendo seus interesses e necessidades. Espero que os materiais e as aulas tenham sido instrumentos capazes de aprimorar o conhecimento nesse campo do direito constitucional do trabalho. 10 REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição (1988). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao compilado.htm>. Acesso em: 1º ago. 2018. DELGADO, M. G. Curso de direito do trabalho. 11 ed. São Paulo: LTr, 2011. SÜSSEKIND, A. Direito constitucional do trabalho. Rio de Janeiro: Renovar, 1999.
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