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Constitucional RESUMÃO COMPLETO CONCURSO

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Livro Eletrônico 
 
CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO 
Objeto de estudo do Direito Constitucional, a Constituição é a lei fundamental e suprema de um Estado, criada pela vontade soberana do povo, ela que determina a organização político-jurídica do Estado, dispondo sobre a sua forma, os órgãos que o integram e as competências destes e, finalmente, a aquisição e o exercÌcio do poder. Cabe também a ela estabelecer as limitações ao poder do Estado e enumerar os direitos e garantias fundamentais.
A concepção de constituição ideal foi preconizada por J. J. Canotilho. Trata se de constituição de caráter liberal, que apresenta os seguintes elementos: 
a) Deve ser escrita; 
b) Deve conter um sistema de direitos fundamentais individuais (liberdades negativas); 
c) Deve conter a definição e o reconhecimento do princÌpio da separação dos poderes; 
d) Deve adotar um sistema democrático formal. 
Note que todos esses elementos estão intrinsecamente relacionados a limitação do poder coercitivo do Estado. Cabe destacar, por estar relacionado ao conceito de constituição o ideal, o que dispıe o art. 16, da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789): “Toda sociedade na qual não está assegurada a garantia dos direitos nem determinada a separação de poderes, não tem constituição 
É importante ressaltar que a doutrina não é pacífica quanto definirção do conceito de constituição, podendo este ser analisado a partir de diversas concepções. Isso porque o Direito não pode ser estudado isoladamente de outras ciências sociais, como Sociologia e PolÌtica, por exemplo. 
1) Sentido sociológico: 
Iniciaremos o estudo dessas concepÁıes de Constituição apresentando seu sentido sociolÛgico, que surgiu no sÈculo XIX, definido por Ferdinand Lassalle. 
 
1 MORAES, Alexandre de. ConstituiÁ„o do Brasil Interpretada e LegislaÁ„o Constitucional, 9™ ediÁ„o. S„o Paulo Editora Atlas: 2010, pp. 17. 
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DIREITO CONSTITUCIONAL む DIREITO CONSTITUCIONAL P/ INICIANTES Teoria e Questıes 
 
Profa N·dia / Prof. Ricardo Vale 
Na concepÁ„o sociolÛgica, a ConstituiÁ„o È um fato social, e n„o uma norma jurÌdica. A ConstituiÁ„o real e efetiva de um Estado consiste na soma dos fatores reais de poder que vigoram na sociedade; ela È, assim, um reflexo das relaÁıes de poder que existem no ‚mbito do Estado. Com efeito, È o embate das forÁas econÙmicas, sociais, polÌticas e religiosas que forma a ConstituiÁ„o real (efetiva) do Estado. 
Na Pr˙ssia do tempo de Lassalle, os fatores reais de poder (forÁas econÙmicas, polÌticas e sociais) eram determinados pelo choque de interesses dos diversos atores do processo polÌtico: a monarquia, o ExÈrcito, a aristocracia, os grandes industriais, os banqueiros e tambÈm a pequena burguesia e a classe oper·ria, ou seja, o povo. O equilÌbrio inst·vel entre esses interesses tinha como resultado a ConstituiÁ„o real. 
Por outro lado, existe tambÈm a ConstituiÁ„o escrita (jurÌdica), cuja tarefa È reunir em um texto formal, de maneira sistematizada, os fatores reais de poder que vigoram na sociedade. Nessa perspectiva, a ConstituiÁ„o escrita È mera “folha de papel”, e somente ser· eficaz e duradoura caso reflita os fatores reais de poder da sociedade. … em raz„o disso que se houver um conflito entre a ConstituiÁ„o real (efetiva) e a ConstituiÁ„o escrita (jurÌdica), prevalecer· a primeira. Se, ao contr·rio, houver plena correspondÍncia 
entre a ConstituiÁ„o escrita e os fatores reais de poder, estaremos diante de uma situaÁ„o ideal. 
Em resumo, para Lassale, coexistem em um Estado duas ConstituiÁıes: uma real, efetiva, correspondente ‡ soma dos fatores reais de poder que regem este paÌs; e outra, escrita, que consistiria apenas numa “folha de papel”. Como È possÌvel perceber, a concepÁ„o sociolÛgica busca definir o que a ConstituiÁ„o “realmente é”, ou seja, È material (leva em conta a matÈria) e n„o formal (n„o leva em conta a forma pela qual ela foi criada). 
Foi a partir dessa lÛgica que Lassale entendeu que todo e qualquer Estado sempre teve e sempre ter· uma ConstituiÁ„o real e efetiva, independentemente da existÍncia de um texto escrito. A existÍncia das Constituições não é algo dos “tempos modernos”; o que o evoluir do constitucionalismo fez foi criar Constituições escritas, verdadeiras “folhas de papel”. 
2) Sentido polÌtico: 
Outra concepÁ„o de ConstituiÁ„o que devemos conhecer È a preconizada por Carl Schmitt, a partir de sua obra “A Teoria da Constituição”, de 1920. Na sua vis„o, a ConstituiÁ„o seria fruto da vontade do povo, titular do poder constituinte; por isso mesmo È que essa teoria È considerada decisionista ou voluntarista. 
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Profa N·dia / Prof. Ricardo Vale 
Para Schmitt, a ConstituiÁ„o È uma decis„o polÌtica fundamental que visa estruturar e organizar os elementos essenciais do Estado. A validade da ConstituiÁ„o, segundo ele, se baseia na decis„o polÌtica que lhe d· existÍncia, e n„o na justiÁa de suas normas. Pouco importa, ainda, se a ConstituiÁ„o corresponde ou n„o aos fatores reais de poder que imperam na sociedade; o que interessa t„o-somente È que a ConstituiÁ„o È um produto da vontade do titular do Poder Constituinte. DaÌ a teoria de Schmitt ser chamada de voluntarista ou decisionista. 
Schmitt distingue ConstituiÁ„o de leis constitucionais. A primeira, segundo ele, dispıe apenas sobre matÈrias de grande relev‚ncia jurÌdica (decisıes polÌticas fundamentais), como È o caso da organizaÁ„o do Estado, por exemplo. As segundas, por sua vez, seriam normas que fazem parte formalmente do texto constitucional, mas que tratam de assuntos de menor import‚ncia. 
A concepÁ„o polÌtica de ConstituiÁ„o guarda notÛria correlaÁ„o com a classificaÁ„o das normas em materialmente constitucionais e formalmente constitucionais. As normas materialmente constitucionais correspondem àquilo que Carl Schmitt denominou “Constituição”; por sua vez, normas formalmente constitucionais são o que o autor chamou de “leis constitucionais”. 
3) Sentido jurÌdico: 
Outra importante concepÁ„o de ConstituiÁ„o foi a preconizada por Hans Kelsen, criador da Teoria Pura do Direito. 
Nessa concepÁ„o, a ConstituiÁ„o È entendida como norma jurÌdica pura, sem qualquer consideraÁ„o de cunho sociolÛgico, polÌtico ou filosÛfico. Ela È a norma superior e fundamental do Estado, que organiza e estrutura o poder polÌtico, limita a atuaÁ„o estatal e estabelece direitos e garantias individuais. 
Para Kelsen, a ConstituiÁ„o n„o retira o seu fundamento de validade dos fatores reais de poder, È dizer, sua validade n„o se apoia na realidade social do Estado. Essa era, afinal, a posiÁ„o defendida por Lassale, em sua concepÁ„o sociolÛgica de ConstituiÁ„o que, como È possÌvel perceber, se opunha fortemente ‡ concepÁ„o kelseniana. 
Com o objetivo de explicar o fundamento de validade das normas, Kelsen concebeu o ordenamento jurÌdico como um sistema em que h· um escalonamento hier·rquico das normas. Sob essa Ûtica, as normas jurÌdicas inferiores (normas fundadas) sempre retiram seu fundamento de validade das normas jurÌdicas superiores (normas fundantes). Assim, um decreto retira seu fundamento de validade das leis ordin·rias; por sua vez, a validade das leis ordin·rias se apoia na ConstituiÁ„o. 
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Chega-se, ent„o, a uma pergunta decisiva para que se possa completar a lÛgica do sistema: de qual norma a ConstituiÁ„o, enquanto Lei suprema do Estado, retira seu fundamento de validade? 
A resposta a essa pergunta, elaborada por Hans Kelsen, depende da compreens„o da ConstituiÁ„o a partir de dois sentidos: o lÛgico-jurÌdico e o jurÌdico-positivo. 
No sentido lÛgico-jurÌdico, a ConstituiÁ„o È a norma hipotÈtica fundamental (n„o real,mas sim imaginada, pressuposta) que serve como fundamento lÛgico transcendental da validade da ConstituiÁ„o em sentido jurÌdico-positivo. Esta norma n„o possui um enunciado explÌcito, consistindo apenas numa ordem, dirigida a todos, de obediÍncia ‡ ConstituiÁ„o positiva. … como se a norma fundamental hipotética dissesse o seguinte: “Obedeça-se a constituição positiva!”. 
J· no sentido jurÌdico-positivo, a ConstituiÁ„o È a norma positiva suprema, que serve para regular a criaÁ„o de todas as outras. … documento solene, cujo texto sÛ pode ser alterado mediante procedimento especial. No Brasil, esta ConstituiÁ„o È, atualmente, a de 1988 (CF/88). 
No sistema proposto por Kelsen, o fundamento de validade das normas est· na hierarquia entre elas. Toda norma apoia sua validade na norma imediatamente superior; com a ConstituiÁ„o positiva (escrita) n„o È diferente: seu fundamento de validade est· na norma hipotÈtica fundamental, que È norma pressuposta, imaginada. 
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SOCIOL”GICO (LASSALLE): SOMA DOS 
FATORES REAIS DE PODER 
SENTIDOS DA 
CONSTITUI«O 
JURÕDICO (KELSEN): 
- L”GICO JURÕDICO: NORMA HIPOT…TICA FUNDAMENTAL 
- JURÕDICO-POSITIVO: NORMA POSITIVA SUPREMA
4) Sentido cultural: 
POLÕTICO (SCHMITT): DECISO POLÕTICA FUNDAMENTAL 
Apesar de pouco cobrado em prova, È importante que saibamos o que significa a ConstituiÁ„o no sentido cultural, preconizado por Meirelles Teixeira. Para esse sentido, o Direito sÛ pode ser entendido como objeto cultural, ou seja, uma parte da cultura. Isso porque o Direito n„o È: 
a) Real: uma vez que os seres reais pertencem ‡ natureza, como uma pedra ou um rio, por exemplo; 
b) Ideal: uma vez que n„o se trata de uma relaÁ„o (igualdade, diferenÁa, metade, etc.), nem de uma quantidade ou figura matem·tica (n˙meros, formas geomÈtricas, etc.) ou de uma essÍncia, pois os seres ideais s„o imut·veis e existem fora do tempo e do espaÁo, enquanto o conte˙do das normas jurÌdicas varia atravÈs dos tempos, dos lugares, dos povos e da histÛria; 
c) Puro valor: uma vez que, por meio de suas normas, apenas tenta concretizar ou realizar um valor, n„o se confundindo com ele. 
Por isso, considerando que os seres s„o classificados em quatro categorias – reais, ideais, valores e objetos culturais – o Direito pertence a esta ˙ltima. Isso porque, assim como a cultura, o Direito È produto da atividade humana. 
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A partir dessa an·lise, chega-se ao conceito de constituiÁ„o total, que È condicionada pela cultura do povo e tambÈm atua como condicionante dessa mesma cultura. Essa constituiÁ„o abrange todos os aspectos da vida da sociedade e do Estado, sendo uma combinaÁ„o de todas as concepÁıes anteriores – sociolÛgica, polÌtica e jurÌdica. 
(TJ-PR – 2017) Em sentido sociolÛgico, a ConstituiÁ„o deve ser entendida como a norma que se refere ‡ decis„o polÌtica estruturante da organizaÁ„o do Estado. 
Coment·rios: 
A ConstituiÁ„o em sentido sociolÛgico È a soma dos fatores reais de poder que vigoram na sociedade. ==0==
Quest„o errada. 
(PC/DF – 2015) Hans Kelsen concebe dois planos distintos do direito: o jurÌdico-positivo, que s„o as normas positivadas; e o lÛgico-jurÌdico, situado no plano lÛgico, como norma fundamental hipotÈtica pressuposta, criando 
se uma verticalidade hier·rquica de normas. 
Coment·rios: 
No sentido lÛgico-jurÌdico, a ConstituiÁ„o È a norma hipotÈtica fundamental. J· no sentido jurÌdico-positivo, a ConstituiÁ„o È a norma positiva suprema. Quest„o correta. 
(PC/DF – 2015) De acordo com o sentido polÌtico de Carl Schmitt, a constituiÁ„o È o somatÛrio dos fatores reais do poder dentro de uma sociedade. Isso significa que a constituiÁ„o somente se legitima quando representa o efetivo poder social. 
Coment·rios: 
No sentido sociolÛgico, preconizado por Ferdinand Lassale, a ConstituiÁ„o È a soma dos fatores reais de poder. Quest„o errada. 
(PC / DF – 2015) De acordo com o sentido sociolÛgico de Ferdinand Lassale, a constituiÁ„o n„o se confunde com as leis constitucionais. A constituiÁ„o, como decis„o polÌtica fundamental, ir· cuidar apenas de determinadas matÈrias estruturantes do Estado, como Ûrg„os do Estado, e dos 
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direitos e das garantias fundamentais, entre outros. 
Coment·rios: 
Carl Schmitt È quem fez a distinÁ„o entre ConstituiÁ„o e “leis constitucionais”. Questão errada. 
Estrutura das ConstituiÁıes 
As ConstituiÁıes, de forma geral, dividem-se em trÍs partes: pre‚mbulo, parte dogm·tica e disposiÁıes transitÛrias. 
O pre‚mbulo È a parte que antecede o texto constitucional propriamente dito. O pre‚mbulo serve para definir as intenÁıes do legislador constituinte, proclamando os princÌpios da nova constituiÁ„o e rompendo com a ordem jurÌdica anterior. Sua funÁ„o È servir de elemento de integraÁ„o dos artigos que lhe seguem, bem como orientar a sua interpretaÁ„o. Serve para sintetizar a ideologia do poder constituinte origin·rio, expondo os valores por ele adotados e os objetivos por ele perseguidos. 
Segundo o Supremo Tribunal Federal, ele n„o È norma constitucional. Portanto, n„o serve de par‚metro para a declaraÁ„o de inconstitucionalidade e n„o estabelece limites para o Poder Constituinte Derivado, seja ele Reformador ou Decorrente. Por isso, o STF entende que suas disposiÁıes n„o s„o de reproduÁ„o obrigatÛria pelas ConstituiÁıes Estaduais. Segundo o STF, o Pre‚mbulo n„o dispıe de forÁa normativa, n„o tendo car·ter vinculante2. Apesar disso, a doutrina n„o o considera juridicamente irrelevante, uma vez que deve ser uma das linhas mestras interpretativas do texto constitucional. 3 
A parte dogm·tica da ConstituiÁ„o È o texto constitucional propriamente dito, que prevÍ os direitos e deveres criados pelo poder constituinte. Trata-se do corpo permanente da Carta Magna, que, na CF/88, vai do art. 1 ao 250. Destaca-se que falamos em “corpo permanente” porque, a princÌpio, essas normas n„o tÍm car·ter transitÛrio, embora possam ser modificadas pelo poder constituinte derivado, mediante emenda constitucional. 
Por fim, a parte transitÛria da ConstituiÁ„o visa integrar a ordem jurÌdica antiga ‡ nova, quando do advento de uma nova ConstituiÁ„o, garantindo a 
 
2 ADI 2.076-AC, Rel. Min. Carlos Velloso, DJU de 23.08.2002. 
3 MORAES, Alexandre de. ConstituiÁ„o do Brasil Interpretada e LegislaÁ„o Constitucional, 9™ ediÁ„o. S„o Paulo Editora Atlas: 2010, pp. 53-55
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seguranÁa jurÌdica e evitando o colapso entre um ordenamento jurÌdico e outro. Suas normas s„o formalmente constitucionais, embora, no texto da CF/88, apresente numeraÁ„o prÛpria (vejam ADCT – Ato das DisposiÁıes Constitucionais TransitÛrias). Assim como a parte dogm·tica, a parte transitÛria pode ser modificada por reforma constitucional. AlÈm disso, tambÈm pode servir como paradigma para o controle de constitucionalidade das leis. 
(DPE-MS – 2014) O pre‚mbulo da ConstituiÁ„o n„o constitui norma central, n„o tendo forÁa normativa e, consequentemente, n„o servindo como paradigma para a declaraÁ„o de inconstitucionalidade. 
Coment·rios: 
O pre‚mbulo n„o tem forÁa normativa e, em raz„o disso, n„o serve de paradigma para o controle de constitucionalidade. Quest„o correta. 
Elementos das ConstituiÁıes 
Embora as ConstituiÁıes formem um todo sistematizado, suas normas est„o agrupadas em tÌtulos, capÌtulos e seÁıes, com conte˙do, origem e finalidade diferentes. Diz-se, por isso, que aConstituiÁ„o tem car·ter polifacÈtico, ou seja, que possui “muitas faces”. 
A fim de melhor compreender cada uma dessas faces, a doutrina agrupa as normas constitucionais conforme suas finalidades, no que se denominam elementos da constituiÁ„o. Segundo JosÈ Afonso da Silva, esses elementos formam cinco categorias: 
a) Elementos org‚nicos: compreendem as normas que regulam a estrutura do Estado e do Poder. Exemplos: TÌtulo III (Da OrganizaÁ„o do Estado) e IV (Da OrganizaÁ„o dos Poderes e do Sistema de Governo). 
b) Elementos limitativos: compreendem as normas que compıem os direitos e garantias fundamentais, limitando a atuaÁ„o do poder estatal. Os direitos sociais, que s„o aqueles que exigem prestaÁıes positivas do Estado em favor dos indivÌduos, n„o se enquadram como elementos limitativos. Exemplo: TÌtulo II (Dos Direitos e Garantias Fundamentais), exceto CapÌtulo II (Dos Direitos Sociais). 
c) Elementos socioideolÛgicos: s„o as normas que traduzem o compromisso das ConstituiÁıes modernas com o bem estar social. Tais 
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normas refletem a existÍncia do Estado social, intervencionista, prestacionista. Exemplos: CapÌtulo II do TÌtulo II (Dos Direitos Sociais), TÌtulos VII (Da Ordem EconÙmica e Financeira) e VIII (Da Ordem Social). 
d) Elementos de estabilizaÁ„o constitucional: compreendem as normas destinadas a prover soluÁ„o de conflitos constitucionais, bem como a defesa da ConstituiÁ„o, do Estado e das instituiÁıes democr·ticas. S„o instrumentos de defesa do Estado, com vistas a promover a paz social. Exemplos: art. 102, I, “a” (ação de inconstitucionalidade) e arts. 34 a 36 (intervenÁ„o). 
e) Elementos formais de aplicabilidade: compreendem as normas que estabelecem regras de aplicaÁ„o da constituiÁ„o. Exemplos: pre‚mbulo, disposiÁıes constitucionais transitÛrias e art. 5, ß 1, que estabelece que as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais tÍm aplicaÁ„o imediata. 
A Pir‚mide de Kelsen – Hierarquia das Normas 
Para compreender bem o Direito Constitucional, È fundamental que estudemos a hierarquia das normas, atravÈs do que a doutrina denomina “pirâmide de Kelsen”. Essa pir‚mide foi concebida pelo jurista austrÌaco para fundamentar a sua teoria, baseada na ideia de que as normas jurÌdicas inferiores (normas fundadas) retiram seu fundamento de validade das normas jurÌdicas superiores (normas fundantes). 
Iremos, a seguir, nos utilizar da “pirâmide de Kelsen” para explicar o escalonamento normativo no ordenamento jurÌdico brasileiro. 
A pir‚mide de Kelsen tem a ConstituiÁ„o como seu vÈrtice (topo), por ser esta fundamento de validade de todas as demais normas do sistema. Assim, nenhuma norma do ordenamento jurÌdico pode se opor ‡ ConstituiÁ„o: ela È superior a todas as demais normas jurÌdicas, as quais s„o, por isso mesmo, denominadas infraconstitucionais. 
Na ConstituiÁ„o, h· normas constitucionais origin·rias e normas constitucionais derivadas. As normas constitucionais origin·rias s„o produto do Poder Constituinte Origin·rio (o poder que elabora uma nova ConstituiÁ„o); elas integram o texto constitucional desde que ele foi promulgado, em 1988. J· as normas constitucionais derivadas s„o aquelas que resultam da manifestaÁ„o do Poder Constituinte Derivado (o poder que altera a ConstituiÁ„o); s„o as chamadas emendas constitucionais, que tambÈm se situam no topo da pir‚mide de Kelsen. 
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… relevante destacar, nesse ponto, alguns entendimentos doutrin·rios e jurisprudenciais bastante cobrados em prova acerca da hierarquia das normas constitucionais (origin·rias e derivadas): 
a) N„o existe hierarquia entre normas constitucionais origin·rias. Assim, n„o importa qual È o conte˙do da norma. Todas as normas constitucionais origin·rias tÍm o mesmo status hier·rquico. Nessa Ûtica, as normas definidoras de direitos e garantias fundamentais tÍm a mesma hierarquia do ADCT (Atos das DisposiÁıes Constitucionais TransitÛrias) ou mesmo do art. 242, ß 2, que dispıe que o ColÈgio Pedro II, localizado na cidade do Rio de Janeiro, ser· mantido na Ûrbita federal. 
b) N„o existe hierarquia entre normas constitucionais origin·rias e normas constitucionais derivadas. Todas elas se situam no mesmo patamar. 
c) Embora n„o exista hierarquia entre normas constitucionais origin·rias e derivadas, h· uma importante diferenÁa entre elas: as normas constitucionais origin·rias n„o podem ser declaradas inconstitucionais. Em outras palavras, as normas constitucionais origin·rias n„o podem ser objeto de controle de constitucionalidade. J· as emendas constitucionais (normas constitucionais derivadas) poder„o, sim, ser objeto de controle de constitucionalidade. 
d) O alem„o Otto Bachof desenvolveu relevante obra doutrin·ria denominada “Normas constitucionais inconstitucionais”, na qual defende a possibilidade de que existam normas constitucionais origin·rias eivadas de inconstitucionalidade. Para o jurista, o texto constitucional possui dois tipos de normas: as cl·usulas pÈtreas (normas cujo conte˙do n„o pode ser abolido pelo Poder Constituinte Derivado) e as normas constitucionais origin·rias. As cl·usulas pÈtreas, na vis„o de Bachof, seriam superiores ‡s demais normas constitucionais origin·rias e, portanto, serviriam de par‚metro para o controle de constitucionalidade destas. Assim, o jurista alem„o considerava legÌtimo o controle de constitucionalidade de normas constitucionais origin·rias. No entanto, bastante cuidado: no Brasil, a tese de Bachof n„o È admitida. As cl·usulas pÈtreas se encontram no mesmo patamar hier·rquico das demais normas constitucionais origin·rias. 
Com a promulgaÁ„o da Emenda Constitucional n 45/2004, abriu-se uma nova e importante possibilidade no ordenamento jurÌdico brasileiro. Os tratados e convenÁıes internacionais de direitos humanos aprovados em cada Casa do Congresso Nacional (C‚mara dos Deputados e Senado Federal), em dois 
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turnos, por trÍs quintos dos votos dos respectivos membros, passaram a ser equivalentes ‡s emendas constitucionais. Situam-se, portanto, no topo da pirâmide de Kelsen, tendo “status” de emenda constitucional. 
Diz-se que os tratados de direitos humanos, ao serem aprovados por esse rito especial, ingressam no chamado “bloco de constitucionalidade”. Em virtude da matÈria de que tratam (direitos humanos), esses tratados est„o gravados por cl·usula pÈtrea4 e, portanto, imunes ‡ den˙ncia5 pelo Estado brasileiro. O primeiro tratado de direitos humanos a receber o status de emenda constitucional foi a “ConvenÁ„o Internacional sobre os Direitos das Pessoas com DeficiÍncia e seu Protocolo Facultativo”. 
Os demais tratados internacionais sobre direitos humanos, aprovados pelo rito ordin·rio, tÍm, segundo o STF, “status” supralegal. Isso significa que se situam logo abaixo da ConstituiÁ„o e acima das demais normas do ordenamento jurÌdico. 
A EC n 45/2004 trouxe ao Brasil, portanto, segundo o Prof. ValÈrio Mazzuoli, um novo tipo de controle da produÁ„o normativa domÈstica: o controle de convencionalidade das leis. Assim, as leis internas estariam sujeitas a um duplo processo de compatibilizaÁ„o vertical, devendo obedecer aos comandos previstos na Carta Constitucional e, ainda, aos previstos em tratados internacionais de direitos humanos regularmente incorporados ao ordenamento jurÌdico brasileiro.6 
As normas imediatamente abaixo da ConstituiÁ„o (infraconstitucionais) e dos tratados internacionais sobre direitos humanos s„o as leis (complementares, ordin·rias e delegadas), as medidasprovisÛrias, os decretos legislativos, as resoluÁıes legislativas, os tratados internacionais em geral incorporados ao ordenamento jurÌdico e os decretos autÙnomos. Todas essas normas ser„o estudadas em detalhes em aula futura, n„o se preocupe! Neste momento, quero apenas que vocÍ guarde quais s„o as normas infraconstitucionais e que elas n„o possuem hierarquia entre si, segundo doutrina majorit·ria. Essas normas s„o prim·rias, sendo capazes de gerar direitos e criar obrigaÁıes, desde que n„o contrariem a ConstituiÁ„o. 
 
4 Estudaremos mais ‡ frente sobre as cl·usulas pÈtreas, que s„o normas que n„o podem ser objeto de emenda constitucional tendente a aboli-las. As cl·usulas pÈtreas est„o previstas no art. 60, ß 4, da CF/88. Os direitos e garantias individuais s„o cl·usulas pÈtreas (art. 60, ß 4, inciso IV). 
5 Den˙ncia È o ato unilateral por meio do qual um Estado se desvincula de um tratado internacional. 
6 MAZZUOLI, ValÈrio de Oliveira. Teoria Geral do Controle de Convencionalidade no Direito Brasileiro. In: Controle de Convencionalidade: um panorama latino-americano. Gazeta JurÌdica. BrasÌlia: 2013. 
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Novamente, gostarÌamos de trazer ‡ baila alguns entendimentos doutrin·rios e jurisprudenciais muito cobrados em prova: 
a) Ao contr·rio do que muitos podem ser levados a acreditar, as leis federais, estaduais, distritais e municipais possuem o mesmo grau hier·rquico. Assim, um eventual conflito entre leis federais e estaduais ou entre leis estaduais e municipais n„o ser· resolvido por um critÈrio hier·rquico; a soluÁ„o depender· da repartiÁ„o constitucional de competÍncias. Deve-se perguntar o seguinte: de qual ente federativo (Uni„o, Estados ou MunicÌpios) È a competÍncia para tratar do tema objeto da lei? Nessa Ûtica, È plenamente possÌvel que, num caso concreto, uma lei municipal prevaleÁa diante de uma lei federal. 
b) Existe hierarquia entre a ConstituiÁ„o Federal, as ConstituiÁıes Estaduais e as Leis Org‚nicas dos MunicÌpios? Sim, a ConstituiÁ„o Federal est· num patamar superior ao das ConstituiÁıes Estaduais que, por sua vez, s„o hierarquicamente superiores ‡s Leis Org‚nicas. 
b) As leis complementares, apesar de serem aprovadas por um procedimento mais dificultoso, tÍm o mesmo nÌvel hier·rquico das leis ordin·rias. O que as diferencia È o conte˙do: ambas tÍm campos de atuaÁ„o diversos, ou seja, a matÈria (conte˙do) È diferente. Como exemplo, citamos o fato de que a CF/88 exige que normas gerais sobre direito tribut·rio sejam estabelecidas por lei complementar. 
c) As leis complementares podem tratar de tema reservado ‡s leis ordin·rias. Esse entendimento deriva da ótica do “quem pode mais, pode menos”. Ora, se a CF/88 exige lei ordinária (cuja aprovaÁ„o È mais simples!) para tratar de determinado assunto, n„o h· Ûbice a que uma lei complementar regule o tema. No entanto, caso isso ocorra, a lei complementar ser· considerada materialmente ordin·ria; essa lei complementar poder·, ent„o, ser revogada ou modificada por simples lei ordin·ria. Diz-se que, nesse caso, a lei complementar ir· subsumir-se ao regime constitucional da lei ordin·ria. 7 
d) As leis ordin·rias n„o podem tratar de tema reservado ‡s leis complementares. Caso isso ocorra, estaremos diante de um caso de inconstitucionalidade formal (nomodin‚mica). 
e) Os regimentos dos tribunais do Poder Judici·rio s„o considerados normas prim·rias, equiparados hierarquicamente ‡s leis ordin·rias. 
 
7AI 467822 RS, p. 04-10-2011.
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Na mesma situaÁ„o, encontram-se as resoluÁıes do CNMP (Conselho Nacional do MinistÈrio p˙blico) e do CNJ (Conselho Nacional de JustiÁa). 
f) Os regimentos das Casas Legislativas (Senado e C‚mara dos Deputados), por constituÌrem resoluÁıes legislativas, tambÈm s„o considerados normas prim·rias, equiparados hierarquicamente ‡s leis ordin·rias. 
Finalmente, abaixo das leis encontram-se as normas infralegais. Elas s„o normas secund·rias, n„o tendo poder de gerar direitos, nem, tampouco, de impor obrigaÁıes. N„o podem contrariar as normas prim·rias, sob pena de invalidade. … o caso dos decretos regulamentares, portarias, das instruÁıes normativas, dentre outras. Tenham bastante cuidado para n„o confundir os decretos autÙnomos (normas prim·rias, equiparadas ‡s leis) com os decretos regulamentares (normas secund·rias, infralegais). 
CONSTITUI«O, EMENDAS CONSTITUCIONAIS E TRATADOS INTERNACIONAIS SOBRE DIREITOS HUMANOS APROVADOS COMO EMENDAS CONSTITUCIONAIS 
OUTROS TRATADOS INTERNACIONAIS SOBRE DIREITOS HUMANOS 
LEIS COMPLEMENTARES, ORDIN£RIAS E DELEGADAS, MEDIDAS PROVIS”RIAS, DECRETOS LEGISLATIVOS, RESOLU«’ES LEGISLATIVAS, TRATADOS INTERNACIONAIS EM GERAL E DECRETOS AUT‘NOMOS 
NORMAS INFRALEGAIS
(MPE-BA – 2015) Existe hierarquia entre lei complementar e lei ordin·ria, bem como entre lei federal e estadual. 
Coment·rios: 
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N„o h· hierarquia entre lei ordin·ria e lei complementar. Elas tÍm o mesmo nÌvel hier·rquico. TambÈm n„o h· hierarquia entre lei federal e lei estadual. Quest„o errada. 
ClassificaÁ„o das ConstituiÁıes 
Ao estudar as diversas ConstituiÁıes, a doutrina propıe diversos critÈrios para classific·-las. … justamente isso o que estudaremos a partir de agora: a classificaÁ„o das ConstituiÁıes, levando em consideraÁ„o variados critÈrios. 
1) ClassificaÁ„o quanto ‡ origem: 
As ConstituiÁıes se classificam quanto ‡ origem em: 
a) Outorgadas (impostas, ditatoriais, autocr·ticas): s„o aquelas impostas, que surgem sem participaÁ„o popular. Resultam de ato unilateral de vontade da classe ou pessoa dominante no sentido de limitar seu prÛprio poder, por meio da outorga de um texto constitucional. Exemplos: ConstituiÁıes brasileiras de 1824, 1937 e 1967 e a EC n 01/1969. 
b) Democr·ticas (populares, promulgadas ou votadas): nascem com participaÁ„o popular, por processo democr·tico. Normalmente, s„o fruto do trabalho de uma Assembleia Nacional Constituinte, convocada especialmente para sua elaboraÁ„o. Exemplos: ConstituiÁıes brasileiras de 1891, 1934, 1946 e 1988. 
c) Cesaristas (bonapartistas): s„o outorgadas, mas necessitam de referendo popular. O texto È produzido sem qualquer participaÁ„o popular, cabendo ao povo apenas a sua ratificaÁ„o. 
d) Dualistas (pactuadas): s„o resultado do compromisso inst·vel entre duas forÁas antagÙnicas: de um lado, a monarquia enfraquecida; do outro, a burguesia em ascens„o. Essas constituiÁıes estabelecem uma limitaÁ„o ao poder mon·rquico, formando as chamadas monarquias constitucionais. 
(DPE-PR – 2017) As constituiÁıes cesaristas, normalmente autorit·rias, partem de teorias preconcebidas, de planos e sistemas prÈvios e de ideologias bem declaradas. 
Coment·rios: 
As ConstituiÁıes cesaristas s„o aquelas que, apÛs serem 
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impostas (outorgadas), precisam ser aprovadas em um referendo popular. N„o h· relaÁ„o entre “Constituições cesaristas” e a existência de uma ideologia bem declarada. Quest„o errada. 
(PC / DF – 2015) As constituiÁıes outorgadas s„o aquelas que, embora confeccionadas sem a participaÁ„o popular, para entrarem em vigor, s„o submetidas ‡ ratificaÁ„o posterior do povo por meio de referendo. 
Coment·rios: 
As constituiÁıes cesaristas È que s„o submetidas ‡ ratificaÁ„o por meio de referendo popular. Quest„o errada. 
2) ClassificaÁ„o quanto ‡ forma: 
No que concerne ‡ forma, as ConstituiÁıes podem ser: 
a) Escritas(instrumentais): s„o constituiÁıes elaboradas por um Ûrg„o constituinte especialmente encarregado dessa tarefa e que as sistematiza em documentos solenes, com o propÛsito de fixar a organizaÁ„o fundamental do Estado. Subdividem-se em: 
- codificadas (unit·rias): quando suas normas se encontram em um ˙nico texto. Nesse caso, o Ûrg„o constituinte optou por inserir todas as normas constitucionais em um ˙nico documento, escrito. A ConstituiÁ„o de 1988 È escrita, do tipo codificada. 
- legais (variadas, pluritextuais ou inorg‚nicas): quando suas normas se encontram em diversos documentos solenes. Aqui, o Ûrg„o constituinte optou por n„o inserir todas as normas constitucionais num mesmo documento. 
b) N„o escritas (costumeiras ou consuetudin·rias): s„o constituiÁıes cujas normas est„o em variadas fontes normativas, como as leis, costumes, jurisprudÍncia, acordos e convenÁıes. Nesse tipo de constituiÁ„o, n„o h· um Ûrg„o especialmente encarregado de elaborar a constituiÁ„o; s„o v·rios os centros de produÁ„o de normas. Um exemplo de constituiÁ„o n„o-escrita È a ConstituiÁ„o inglesa. 
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Muito cuidado com um detalhe, pessoal! 
As constituiÁıes n„o-escritas, ao contr·rio do 
que muitos podem ser levados a pensar, 
possuem tambÈm normas escritas. Elas n„o 
s„o formadas apenas por costumes. As leis e 
convenÁıes (normas escritas) tambÈm fazem 
parte dessas constituiÁıes. 
(TCE – PI – 2014) As denominadas ConstituiÁıes legais ou inorg‚nicas caracterizam-se por contemplar expressivo conjunto de normas apenas formalmente constitucionais. 
Coment·rios: 
A caracterÌstica central das ConstituiÁıes legais È que seu conte˙do est· disperso em diversos documentos solenes. Quest„o errada. 
3) ClassificaÁ„o quanto ao modo de elaboraÁ„o: 
No que se refere ao modo de elaboraÁ„o, as ConstituiÁıes podem ser: 
a) Dogm·ticas (sistem·ticas): s„o escritas, tendo sido elaboradas por um Ûrg„o constituÌdo para esta finalidade em um determinado momento, segundo os dogmas e valores ent„o em voga. Subdividem-se em: 
- ortodoxas: quando refletem uma sÛ ideologia. 
- heterodoxas (eclÈticas): quando suas normas se originam de ideologias distintas. A ConstituiÁ„o de 1988 È dogm·tica eclÈtica, uma vez que adotou, como fundamento do Estado, o pluralismo polÌtico (art. 1, CF). 
b) HistÛricas: tambÈm chamadas costumeiras, s„o do tipo n„o escritas. S„o criadas lentamente com as tradiÁıes, sendo uma sÌntese dos valores histÛricos consolidados pela sociedade. S„o, por isso, mais est·veis que as dogm·ticas. … o caso da ConstituiÁ„o inglesa.
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JosÈ Afonso da Silva destaca que n„o se deve confundir o conceito de constituiÁ„o histÛrica com o de constituiÁ„o flexÌvel. As constituiÁıes histÛricas s„o, de fato, juridicamente flexÌveis (sofrem modificaÁ„o por processo n„o dificultoso, podendo ser modificadas pelo legislador ordin·rio), mas normalmente s„o polÌtica e socialmente rÌgidas, uma vez que, por serem produto do lento evoluir dos valores da sociedade, raramente s„o modificadas. 
(PC / DF – 2015) As constituiÁıes podem ser ortodoxas, quando reunirem uma sÛ ideologia, como a ConstituiÁ„o SoviÈtica de 1977, ou eclÈticas, quando conciliarem v·rias ideologias em seu texto, como a ConstituiÁ„o Brasileira de 1988. 
Coment·rios: 
A CF/88 È eclÈtica, pois suas normas se originam de ideologias distintas. Por outro lado, a ConstituiÁ„o SoviÈtica de 1977 pode ser apontada como ConstituiÁ„o ortodoxa, pois È baseada apenas em uma ideologia: a ideologia comunista. Quest„o correta. 
4) ClassificaÁ„o quanto ‡ estabilidade: 
Na classificaÁ„o das constituiÁıes quanto ‡ estabilidade, leva-se em conta o grau de dificuldade para a modificaÁ„o do texto constitucional. As ConstituiÁıes s„o, segundo este critÈrio, divididas em: 
a) Imut·vel (granÌtica, intoc·vel ou permanente): È aquela ConstituiÁ„o cujo texto n„o pode ser modificado jamais. Tem a pretens„o de ser eterna. Alguns autores n„o admitem sua existÍncia. 
b) Super-rÌgida: È a ConstituiÁ„o em que h· um n˙cleo intangÌvel (cl·usulas pÈtreas), sendo as demais normas alter·veis por processo legislativo diferenciado, mais dificultoso que o ordin·rio. Trata-se de uma classificaÁ„o adotada apenas por Alexandre de Moraes, para quem a CF/88 È do tipo super-rÌgida. SÛ para recordar: as cl·usulas pÈtreas s„o dispositivos que n„o podem sofrer emendas (alteraÁıes) tendentes a aboli-las. Est„o arroladas no ß 4 do art. 60 da ConstituiÁ„o. Na maior parte das questıes, essa classificaÁ„o n„o È cobrada. 
c) RÌgida: È aquela modificada por procedimento mais dificultoso do que aqueles pelos quais se modificam as demais leis. … sempre escrita, mas vale lembrar que a recÌproca n„o È verdadeira: nem toda 
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ConstituiÁ„o escrita È rÌgida. A CF/88 È rÌgida, pois exige procedimento especial para sua modificaÁ„o por meio de emendas constitucionais: votaÁ„o em dois turnos, nas duas Casas do Congresso Nacional e aprovaÁ„o de pelo menos trÍs quintos dos integrantes das Casas Legislativas (art. 60, ß2, CF/88). Exemplos: ConstituiÁıes de 1891, 1934, 1937, 1946, 1967 e 1988. 
d) SemirrÌgida ou semiflexÌvel: para algumas normas, o processo legislativo de alteraÁ„o È mais dificultoso que o ordin·rio; para outras n„o. Um exemplo È a Carta Imperial do Brasil (1824), que exigia procedimento especial para modificaÁ„o de artigos que tratassem de direitos polÌticos e individuais, bem como dos limites e atribuiÁıes respectivas dos Poderes. As normas referentes a todas as demais matÈrias poderiam ser alteradas por procedimento usado para modificar as leis ordin·rias. 
e) FlexÌvel: pode ser modificada pelo procedimento legislativo ordin·rio, ou seja, pelo mesmo processo legislativo usado para modificar as leis comuns. 
… importante salientar que a maior ou menor rigidez da ConstituiÁ„o n„o lhe assegura estabilidade. Sabe-se hoje que esta se relaciona mais com o amadurecimento da sociedade e das instituiÁıes estatais do que com o processo legislativo de modificaÁ„o do texto constitucional. N„o seria correta, portanto, uma quest„o que afirmasse que uma ConstituiÁ„o rÌgida È mais est·vel. Veja o caso da CF/88, que j· sofreu dezenas de emendas. 
Da rigidez constitucional decorre o princÌpio da 
supremacia da ConstituiÁ„o. … que, em virtude da 
necessidade de processo legislativo especial para que 
uma norma seja inserida no texto constitucional, fica 
claro, por consequÍncia lÛgica, que as normas 
constitucionais est„o em patamar hier·rquico 
superior ao das demais normas do ordenamento 
jurÌdico. 
Assim, as normas que forem incompatÌveis com a 
ConstituiÁ„o ser„o consideradas inconstitucionais. Tal 
fiscalizaÁ„o de validade das leis È realizada por meio 
do denominado “controle de constitucionalidade”, que 
tem como pressuposto a rigidez constitucional. 
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(UEG – 2015) A CF/88 pode ser definida como semirrÌgida, pois apresenta dispositivos que podem ser emendados por meio de lei (normas apenas formalmente constitucionais), ao passo que as normas materialmente constitucionais sÛ podem ser alteradas por meio de emendas ‡ constituiÁ„o. 
Coment·rios: 
A CF/88 È classificada como rÌgida, pois somente pode ser modificada por um procedimento mais dificultoso do que o das leis ordin·rias. Na histÛria brasileira, a ConstituiÁ„o de 1824 era semirrÌgida. Quest„o errada. 
5) ClassificaÁ„o quanto ao conte˙do:Para entender a classificaÁ„o das constituiÁıes quanto ao conte˙do, È fundamental deixarmos bem claro, primeiro, o que s„o normas materialmente constitucionais e o que s„o normas formalmente constitucionais. 
Normas materialmente constitucionais s„o aquelas cujo conte˙do È tipicamente constitucional, È dizer, s„o normas que regulam os aspectos fundamentais da vida do Estado (forma de Estado, forma de governo, estrutura do Estado, organizaÁ„o do Poder e os direitos fundamentais). Essas normas, estejam inseridas ou n„o no texto escrito da ConstituiÁ„o, formam a chamada “Constituição material” do Estado. 
… relevante destacar que n„o h· consenso doutrin·rio sobre quais s„o as normas materialmente constitucionais. … ineg·vel, contudo, que h· certos assuntos, como os direitos fundamentais e a organizaÁ„o do Estado, que s„o considerados pelos principais constitucionalistas como sendo normas materialmente constitucionais. 
Por outro lado, normas formalmente constitucionais s„o todas aquelas que, independentemente do conte˙do, est„o contidas em documento escrito elaborado solenemente pelo Ûrg„o constituinte. Avalia-se apenas o processo de elaboraÁ„o da norma: o conte˙do n„o importa. Se a norma faz parte de um texto constitucional escrito e rÌgido, ela ser· formalmente constitucional. 
Cabe, aqui, fazer uma importante observaÁ„o. Um pressuposto para que uma norma seja considerada formalmente constitucional È a existÍncia de uma 
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ConstituiÁ„o rÌgida (alter·vel por procedimento mais difÌcil do que o das leis). Ora, em um Estado que adota constituiÁ„o flexÌvel, n„o cabe falar-se em normas formalmente constitucionais; n„o h·, afinal, nesse tipo de Estado, distinÁ„o entre o processo legislativo de elaboraÁ„o das leis e o das normas que alteram a ConstituiÁ„o. 
Em uma ConstituiÁ„o escrita e rÌgida, h· normas que s„o apenas formalmente constitucionais e outras, que s„o, ao mesmo tempo, material e formalmente constitucionais. Um exemplo cl·ssico È o art. 242, ß 2, da CF/88, que dispıe que o ColÈgio Pedro II, localizado na cidade do Rio de Janeiro, ser· mantido na Ûrbita federal. Por estar no texto da ConstituiÁ„o, esse dispositivo È, inegavelmente, uma norma formalmente constitucional. No entanto, o seu conte˙do n„o È essencial ‡ organizaÁ„o do Estado, motivo pelo qual È possÌvel afirmar que trata-se de uma norma apenas formalmente constitucional. Por outro lado, o art.5, inciso III, da CF/88 (“ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante”) é norma material e formalmente constitucional. 
As normas formalmente constitucionais podem, portanto, ser materialmente constitucionais, ou n„o. No ˙ltimo caso, sua inserÁ„o no texto constitucional visa sublinhar sua import‚ncia, dando-lhes a estabilidade que a ConstituiÁ„o rÌgida confere a todas as suas normas8. 
Feitas essas consideraÁıes, voltemos ‡ classificaÁ„o das constituiÁıes que, quanto ao conte˙do, podem ser: 
a) ConstituiÁ„o material: … o conjunto de normas, escritas ou n„o, que regulam os aspectos essenciais da vida estatal. Sob essa Ûtica, todo e qualquer Estado È dotado de uma ConstituiÁ„o, afinal, todos os Estados tÍm normas de organizaÁ„o e funcionamento, ainda que n„o estejam consubstanciadas em um texto escrito. 
AlÈm disso, È plenamente possÌvel que existam normas fora do texto constitucional escrito, mas que, por se referirem a aspectos essenciais da vida estatal, s„o consideradas como fazendo parte da ConstituiÁ„o material do Estado. Ressalte-se, mais vez, que analisar se uma norma È ou n„o materialmente constitucional depende apenas da consideraÁ„o do seu conte˙do. 
Um exemplo de ConstituiÁ„o material È a Carta do ImpÈrio de 1824, que considerava constitucionais apenas matÈrias referentes aos limites 
 
8 Manoel GonÁalves Ferreira Filho, Curso de Direito Constitucional, 27™ ediÁ„o, p. 12, Ed. Saraiva. 
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e atribuiÁıes dos poderes e direitos polÌticos, inclusive os individuais dos cidad„os. 
b) ConstituiÁ„o formal (procedimental): … o conjunto de normas que est„o inseridas no texto de uma ConstituiÁ„o rÌgida, independentemente de seu conte˙do. 
A ConstituiÁ„o de 1988, considerada em sua totalidade, È do tipo formal, pois foi solenemente elaborada por uma Assembleia Constituinte. 
Todas as normas previstas no texto da ConstituiÁ„o Federal de 1988 s„o formalmente constitucionais. Entretanto, algumas normas da Carta Magna s„o apenas formalmente constitucionais (e n„o materialmente), j· que n„o tratam de temas de grande relev‚ncia jurÌdica, enquanto outras s„o formal e materialmente constitucionais (como as que tratam de direitos fundamentais, por exemplo). 
H· tambÈm, no ordenamento jurÌdico brasileiro, normas materialmente constitucionais fora do texto constitucional. … o caso dos tratados sobre direitos humanos introduzidos no ordenamento jurÌdico pelo rito prÛprio de emendas constitucionais, conforme o ß 3 
do art. 5 da ConstituiÁ„o9. 
Segundo o Prof. Michel Temer, a distinÁ„o entre 
normas formalmente constitucionais (todas as 
normas da CF/88) e normas materialmente 
constitucionais (aquelas que regulam a estrutura 
do Estado, a organizaÁ„o do Poder e os direitos 
fundamentais) È juridicamente irrelevante, ‡ luz 
da ConstituiÁ„o atual 10. 
Isso se deve ao fato de que a CF/88 È formal e, por 
isso, todas as normas que a integram s„o normas 
constitucionais, modific·veis apenas por 
procedimento legislativo especial. Destaque-se, 
tambÈm, que a distinÁ„o entre normas materialmente 
constitucionais e normas formalmente constitucionais 
n„o tem qualquer efeito sobre a aplicabilidade dessas 
normas. 
 
9 Dirley da Cunha Junior. Curso de Direito Constitucional, 6™ ediÁ„o, p. 149, Ed. JusPodivm. 10 Michel Temer, Elementos de Direito Constitucional. 
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6) ClassificaÁ„o quanto ‡ extens„o: 
Quanto ‡ extens„o, as ConstituiÁıes podem ser analÌticas ou sintÈticas. 
a) AnalÌticas (prolixas, extensas ou longas): tÍm conte˙do extenso, tratando de matÈrias que n„o apenas a organizaÁ„o b·sica do Estado. ContÍm normas apenas formalmente constitucionais. A CF/88 È analÌtica, pois trata minuciosamente de certos assuntos, n„o materialmente constitucionais. Esta espÈcie de ConstituiÁ„o È uma tendÍncia do constitucionalismo contempor‚neo, que busca dotar certos institutos e normas de uma proteÁ„o mais eficaz contra investidas do legislador ordin·rio. Ora, devido ‡ supremacia formal da ConstituiÁ„o, as normas inseridas em seu texto somente poder„o ser modificadas mediante processo legislativo especial. 
b) SintÈticas (concisas, sum·rias ou curtas): restringem-se aos elementos substancialmente constitucionais. … o caso da ConstituiÁ„o norte-americana, que possui apenas sete artigos. O detalhamento dos direitos e deveres È deixado a cargo das leis infraconstitucionais. Destaque-se que os textos constitucionais sintÈticos s„o qualificados como constituiÁıes negativas, uma vez que constroem a chamada liberdade-impedimento, que serve para delimitar o arbÌtrio do Estado sobre os indivÌduos. 
(Instituto Rio Branco – 2017) A ConstituiÁ„o Federal de 1988 È classificada, quanto ‡ extens„o, como sintÈtica, pois suas matÈrias foram dispostas em um instrumento ˙nico e exaustivo de seu conte˙do. 
Coment·rios: 
A ConstituiÁ„o Federal de 1988 pode ser classificada, quanto ‡ extens„o, como analÌtica, por tratar de matÈrias que n„o s„o materialmente constitucionais. Quest„o errada. 
7) ClassificaÁ„o quanto ‡ correspondÍncia com a realidade: 
Quanto ‡ correspondÍnciacom a realidade polÌtica e social (classificaÁ„o ontolÛgica), as constituiÁıes se dividem em: 
a) Normativas: regulam efetivamente o processo polÌtico do Estado, por corresponderem ‡ realidade polÌtica e social, ou seja, limitam, de 
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fato, o poder. Em suma: tÍm valor jurÌdico. Exemplos: ConstituiÁıes brasileiras de 1891, 1934 e 1946. 
b) Nominativas: buscam regular o processo polÌtico do Estado, mas n„o conseguem realizar este objetivo, por n„o atenderem ‡ realidade social. S„o constituiÁıes prospectivas, que visam, um dia, a sua concretizaÁ„o, mas que n„o possuem aplicabilidade. Isso se deve, segundo Loewenstein, provavelmente ao fato de que a decis„o que levou ‡ sua promulgaÁ„o foi prematura, persistindo, contudo, a esperanÁa de que, um dia, a vida polÌtica corresponda ao modelo nelas fixado. N„o possuem valor jurídico: são Constituições “de fachada”. 
c) Sem‚nticas: n„o tÍm por objetivo regular a polÌtica estatal. Visam apenas formalizar a situaÁ„o existente do poder polÌtico, em benefÌcio dos seus detentores. Exemplos: ConstituiÁıes de 1937, 1967 e 1969. 
Destaca-se que essa classificaÁ„o foi criada por Karl Loewenstein. Embora existam controvÈrsias na doutrina, podemos classificar a CF/88 como normativa. 
(SEAP/DF – 2015) Sem‚ntica, de acordo com a concepÁ„o ontolÛgica de Karl Loewenstein, È a constituiÁ„o que n„o tem o objetivo de regular a vida polÌtica do Estado, mas, sim, de formalizar e manter a conformaÁ„o polÌtica atual, o status quo vigente. Deixa-se, portanto, de limitar o poder real para apenas formalizar e manter o poder existente. 
Coment·rios: 
… isso mesmo! A ConstituiÁ„o sem‚ntica visa apenas manter o status quo vigente, sem a pretens„o de regular a vida polÌtica do Estado. Quest„o correta. 
8) ClassificaÁ„o quanto ‡ funÁ„o desempenhada: 
No que se refere ‡ funÁ„o por ela desempenhada, as ConstituiÁıes se classificam em: 
a) ConstituiÁ„o-lei: È aquela em que a ConstituiÁ„o tem “status” de lei ordin·ria, sendo, portanto, invi·vel em documentos rÌgidos. Seu papel È de diretriz, n„o vinculando o legislador. 
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b) ConstituiÁ„o-fundamento: a ConstituiÁ„o n„o sÛ È fundamento de todas as atividades do Estado, mas tambÈm da vida social. A liberdade do legislador È de apenas dar efetividade ‡s normas constitucionais. 
c) ConstituiÁ„o-quadro ou ConstituiÁ„o-moldura: trata-se de uma ConstituiÁ„o em que o legislador sÛ pode atuar dentro de determinado espaÁo estabelecido pelo constituinte, ou seja, dentro de um limite. Cabe ‡ jurisdiÁ„o constitucional verificar se esses limites foram obedecidos. 
9) ClassificaÁ„o quanto ‡ finalidade: 
As ConstituiÁıes podem ser classificadas, quanto ‡ finalidade, em garantia, dirigente ou balanÁo. 
a) ConstituiÁ„o-garantia: seu principal objetivo È proteger as liberdades p˙blicas contra a arbitrariedade do Estado. Corresponde ao primeiro perÌodo de surgimento dos direitos humanos (direitos de primeira geraÁ„o, ou seja, direitos civis e polÌticos), a partir do final do sÈculo XVIII. As ConstituiÁıes-garantia s„o tambÈm chamadas de negativas, uma vez que buscam limitar a aÁ„o estatal; elas impıem a omiss„o ou negativa de atuaÁ„o do Estado, protegendo os indivÌduos contra a ingerÍncia abusiva dos Poderes P˙blicos. 
b) ConstituiÁ„o-dirigente: È aquela que traÁa diretrizes que devem nortear a aÁ„o estatal, prevendo, para isso, as chamadas normas program·ticas. Segundo Canotilho, as ConstituiÁıes dirigentes voltam-se ‡ garantia do existente, aliada ‡ instituiÁ„o de um programa ou linha de direÁ„o para o futuro, sendo estas as suas duas principais finalidades. Assim, as ConstituiÁıes-dirigentes, alÈm de assegurarem 
as liberdades negativas (j· alcanÁadas), passam a exigir uma atuaÁ„o positiva do Estado em favor dos indivÌduos. A ConstituiÁ„o Federal de 1988 È classificada como uma ConstituiÁ„o-dirigente. 
Essas constituiÁıes surgem mais recentemente no constitucionalismo (inÌcio do sÈculo XX), juntamente com os direitos fundamentais de segunda geraÁ„o (direitos econÙmicos, sociais e culturais). Os direitos de segunda geraÁ„o, em regra, exigem do Estado prestaÁıes sociais, como sa˙de, educaÁ„o, trabalho, previdÍncia social, entre outras. 
c) ConstituiÁ„o-balanÁo: È aquela que visa reger o ordenamento jurÌdico do Estado durante um certo tempo, nela estabelecido. Transcorrido esse prazo, È elaborada uma nova ConstituiÁ„o ou seu texto È adaptado. … uma constituiÁ„o tÌpica de regimes socialistas, podendo ser exemplificada pelas ConstituiÁıes de 1924, 1936 e 1977, 
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da Uni„o SoviÈtica. TambÈm chamadas de ConstituiÁıes-registro, essas constituiÁıes descrevem e registram o est·gio da sociedade em um dado momento. 
 As ConstituiÁıes-garantia, por se limitarem a 
estabelecer direitos de primeira geraÁ„o, 
relacionados ‡ proteÁ„o do indivÌduo contra o 
arbÌtrio estatal, s„o sempre sintÈticas. J· as 
ConstituiÁıes-dirigentes s„o sempre analÌticas, 
devido ‡ marcante presenÁa de normas 
program·ticas em seu texto11. 
(ISS – SP – 2014) No que diz respeito ao seu modo de elaboraÁ„o, a CF/88 È definida como constituiÁ„o-dirigente, pois examina e regulamenta todos os assuntos que entenda ser relevantes ‡ destinaÁ„o e ao funcionamento do Estado. 
Coment·rios: 
Quanto ao modo de elaboraÁ„o, as ConstituiÁıes podem ser classificadas como dogm·ticas ou histÛricas. A CF/88 È classificada como dogm·tica. Quest„o errada. 
(PGE-PR – 2015) A noÁ„o de ConstituiÁ„o dirigente determina que, alÈm de organizar e limitar o poder, a ConstituiÁ„o tambÈm preordena a atuaÁ„o governamental por meio de planos e programas constitucionais vinculantes. 
Coment·rios: 
AlÈm de assegurarem as liberdades negativas (limitando o poder estatal), as ConstituiÁıes dirigentes traÁam diretrizes que devem nortear a aÁ„o estatal. Ela define planos e programas vinculantes para os poderes p˙blicos. Quest„o correta. 
 
11 JosÈ Afonso da Silva conceitua as normas program·ticas como aquelas "atravÈs das quais o constituinte, em vez de regular, direta e imediatamente, determinados interesses, limitou-se a traÁar-lhes os princÌpios para serem cumpridos pelos Ûrg„os (legislativos, executivos, jurisdicionais e administrativos), como programas das respectivas atividades, visando ‡ realizaÁ„o dos fins sociais do Estado”.
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10) ClassificaÁ„o quanto ao conte˙do ideolÛgico: 
Essa classificaÁ„o, proposta por AndrÈ Ramos Tavares, busca identificar qual È o conte˙do ideolÛgico que inspirou a elaboraÁ„o do texto constitucional. 
a) Liberais: s„o constituiÁıes que buscam limitar a atuaÁ„o do poder estatal, assegurando as liberdades negativas aos indivÌduos. Podem ser identificadas com as ConstituiÁıes-garantia, sobre as quais j· estudamos. 
b) Sociais: s„o constituiÁıes que atribuem ao Estado a tarefa de ofertar prestaÁıes positivas aos indivÌduos, buscando a realizaÁ„o da igualdade material e a efetivaÁ„o dos direitos sociais. Cabe destacar que a CF/88 pode ser classificada como social. 
11) ClassificaÁ„o quanto ao local da decretaÁ„o: 
Quanto ao local da decretaÁ„o, as constituiÁıes podem ser classificadas em: 
a) HeteroconstituiÁıes: s„o constituiÁıes elaboradas fora do Estado no qual elas produzir„o seus efeitos. 
b) AutoconstituiÁıes: s„o constituiÁıes elaboradas no interior do prÛprio Estado que por elas ser· regido. A ConstituiÁ„o Federal de 1988 È uma autoconstituiÁ„o. 
12)ClassificaÁ„o quanto ao sistema: 
Quanto ao sistema, as ConstituiÁıes podem ser classificadas em principiolÛgicas e preceituais. 
a) ConstituiÁ„o principiolÛgica ou aberta: È aquela em que h· predomin‚ncia dos princÌpios, normas caracterizadas por elevado grau de abstraÁ„o, que demandam regulamentaÁ„o pela legislaÁ„o para adquirirem concretude. … o caso da CF/88. 
b) ConstituiÁ„o preceitual: È aquela em que prevalecem as regras, que se caracterizam por baixo grau de abstraÁ„o, sendo concretizadoras de princÌpios. 
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13) Outras ClassificaÁıes: 
A doutrina constitucionalista, ao estudar as ConstituiÁıes, identifica ainda outras classificaÁıes possÌveis para estas: 
a) Pl·stica: n„o h· consenso doutrin·rio sobre quais s„o as caracterÌsticas de uma constituiÁ„o pl·stica. O Prof. Pinto Ferreira considera como sendo pl·sticas as constituiÁıes flexÌveis (alter·veis por processo legislativo prÛprio das leis comuns); por outro lado, Raul Machado Horta denomina de pl·sticas as constituiÁıes cujo conte˙do È de tal sorte male·vel que est„o aptas a captar as mudanÁas da realidade social sem necessidade de emenda constitucional. Nessa perspectiva, “a ConstituiÁ„o pl·stica estar· em condiÁıes de acompanhar, atravÈs do legislador ordin·rio, as oscilaÁıes da opini„o p˙blica e do corpo eleitoral”. 12 
b) Expansiva: na evoluÁ„o constitucional de um Estado, È comum que uma nova ConstituiÁ„o, ao ser promulgada, traga novos temas e amplie o tratamento de outros, que j· estavam no texto constitucional anterior. Essas constituiÁıes s„o consideradas expansivas, como È o caso da ConstituiÁ„o Federal de 1988 que, alÈm de trazer ‡ luz v·rios novos temas, ampliou substancialmente o tratamento dos direitos fundamentais. 
Quanta informaÁ„o, n„o È mesmo? Vamos revisar? A Tabela a seguir sintetiza as principais classificaÁıes das ConstituiÁıes que vimos nesta aula: 
CLASSIFICA«O DAS CONSTITUI«’ES 
QUANTO ¿ ORIGEM 
Impostas, surgem sem participaÁ„o popular. Resultam 
OUTORGADAS 
de ato unilateral de vontade da classe ou pessoa dominante no sentido de limitar seu prÛprio poder. 
DEMOCR£TICAS Nascem com participaÁ„o popular, por processo democr·tico. 
CESARISTAS Outorgadas, mas necessitam de referendo popular. Resultam de um compromisso entre a monarquia e a 
DUALISTAS 
burguesia, dando origem ‡s monarquias constitucionais. 
QUANTO ¿ FORMA 
ESCRITAS Sistematizadas em documentos solenes. NO-ESCRITAS Normas em leis esparsas, jurisprudÍncia, costumes e 
 
12 HORTA, Raul Machado. Direito Constitucional, 5™ ediÁ„o. Ed. Del Rey, 2010. 
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convenÁıes. 
QUANTO AO MODO DE ELABORA«O 
DOGM£TICAS Elaboradas em um determinado momento, segundo os dogmas em voga. 
HIST”RICAS Surgem lentamente, a partir das tradiÁıes. Resultam dos valores histÛricos consolidados pela sociedade. 
QUANTO ¿ ESTABILIDADE 
IMUT£VEIS N„o podem ser modificadas. RÕGIDAS Modificadas por procedimento mais dificultoso que aquele de alteraÁ„o das leis. Sempre escritas. 
SEMIRRÕGIDAS Processo legislativo de alteraÁ„o mais dificultoso que o ordin·rio para algumas de suas normas. 
QUANTO AO CONTE⁄DO 
Conjunto de normas que regulam os aspectos essenciais 
MATERIAIS FORMAIS 
da vida estatal, ainda que fora do texto constitucional escrito. 
Conjunto de normas que est„o inseridas no texto de uma ConstituiÁ„o rÌgida, independentemente de seu conte˙do. 
QUANTO ¿ EXTENSO 
ANALÕTICAS Conte˙do extenso. ContÍm normas apenas formalmente constitucionais. 
SINT…TICAS Restringem-se aos elementos materialmente constitucionais. 
QUANTO ¿ CORRESPOND NCIA COM A REALIDADE 
NORMATIVAS Limitam, de fato, o poder, por corresponderem ‡ realidade 
N„o conseguem regular o processo polÌtico, embora 
NOMINATIVAS 
esse seja seu objetivo, por n„o corresponderem ‡ realidade social. 
SEM¬NTICAS N„o tÍm por objeto regular a polÌtica estatal, mas apenas formalizar a situaÁ„o da Època. 
QUANTO ¿ FINALIDADE 
CONSTITUI«’ES GARANTIA 
CONSTITUI«’ES DIRIGENTES CONSTITUI«’ES BALAN«O 
Objetivam proteger as liberdades p˙blicas contra a arbitrariedade do Estado. 
TraÁam diretrizes para a aÁ„o estatal, prevendo normas program·ticas. 
Descrevem e registram o est·gio da sociedade em um dado momento. 
QUANTO AO CONTE⁄DO IDEOL”GICO 
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LIBERAIS Buscam limitar o poder estatal. SOCIAIS TÍm como objetivo realizar a igualdade material e a efetivaÁ„o dos direitos sociais. 
QUANTO AO LOCAL DA DECRETA«O 
HETEROCONSTITUI«’ES Elaboradas fora do Estado em que produzem seus efeitos. 
AUTOCONSTITUI«’ES Elaboradas dentro do Estado que regem. QUANTO AO SISTEMA 
PRINCIPIOL”GICAS Nelas, predominam os princÌpios. PRECEITUAIS Nelas, prevalecem as regras. 
Aplicabilidade das normas constitucionais 
O estudo da aplicabilidade das normas constitucionais È essencial ‡ correta interpretaÁ„o da ConstituiÁ„o Federal. … a compreens„o da aplicabilidade das normas constitucionais que nos permitir· entender exatamente o alcance e a realizabilidade dos diversos dispositivos da ConstituiÁ„o. 
Todas as normas constitucionais apresentam juridicidade. Todas elas s„o imperativas e cogentes ou, em outras palavras, todas as normas constitucionais surtem efeitos jurÌdicos: o que varia entre elas È o grau de efic·cia. 
A doutrina americana (cl·ssica) distingue duas espÈcies de normas constitucionais quanto à aplicabilidade: as normas autoexecutáveis (“self executing”) e as normas não-autoexecut·veis. 
As normas autoexecut·veis s„o normas que podem ser aplicadas sem a necessidade de qualquer complementaÁ„o. S„o normas completas, bastantes em si mesmas. J· as normas n„o-autoexecut·veis dependem de complementaÁ„o legislativa antes de serem aplicadas: s„o as normas incompletas, as normas program·ticas (que definem diretrizes para as polÌticas p˙blicas) e as normas de estruturaÁ„o (instituem Ûrg„os, mas deixam para a lei a tarefa de organizar o seu funcionamento). 13 
Embora a doutrina americana seja bastante did·tica, a classificaÁ„o das normas quanto ‡ sua aplicabilidade mais aceita no Brasil foi a proposta pelo Prof. JosÈ Afonso da Silva. 
 
13 FERREIRA FILHO, Manoel GonÁalves. Curso de Direito Constitucional, 38™ ediÁ„o. Editora Saraiva, S„o Paulo: 2012, pp. 417-418. 
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A partir da aplicabilidade das normas constitucionais, JosÈ Afonso da Silva classifica as normas constitucionais em trÍs grupos: i) normas de efic·cia plena; ii) normas de efic·cia contida e; iii) normas de efic·cia limitada. 
1) Normas de efic·cia plena: 
S„o aquelas que, desde a entrada em vigor da ConstituiÁ„o, produzem, ou tÍm possibilidade de produzir, todos os efeitos que o legislador constituinte quis regular. … o caso do art. 2º da CF/88, que diz: “s„o Poderes da Uni„o, independentes e harmÙnicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judici·rio”. 
As normas de efic·cia plena possuem as seguintes caracterÌsticas: 
a) s„o autoaplic·veis, È dizer, elas independem de lei posterior regulamentadora que lhes complete o alcance e o sentido. Isso n„o quer dizer que n„o possa haver lei regulamentadora versando sobre uma norma de efic·cia plena; a lei regulamentadora atÈ pode existir, mas a norma de efic·cia plena j· produz todos os seus efeitos de imediato, independentemente de qualquer tipo de regulamentaÁ„o. 
b) s„o n„o-restringÌveis, ou seja, caso exista uma lei tratando de uma norma de efic·cia plena, esta n„o poder· limitarsua aplicaÁ„o. 
c) possuem aplicabilidade direta (n„o dependem de norma regulamentadora para produzir seus efeitos), imediata (est„o aptas a produzir todos os seus efeitos desde o momento em que È promulgada a ConstituiÁ„o) e integral (n„o podem sofrer limitaÁıes ou restriÁıes em sua aplicaÁ„o). 
2) Normas constitucionais de efic·cia contida ou prospectiva: 
S„o normas que est„o aptas a produzir todos os seus efeitos desde o momento da promulgaÁ„o da ConstituiÁ„o, mas que podem ser restringidas por parte do Poder P˙blico. Cabe destacar que a atuaÁ„o do legislador, no caso das normas de efic·cia contida, È discricion·ria: ele n„o precisa editar a lei, mas poder· fazÍ-lo. 
Um exemplo cl·ssico de norma de efic·cia contida È o art.5, inciso XIII, da CF/88, segundo o qual “È livre o exercÌcio de qualquer trabalho, ofÌcio ou profiss„o, atendidas as qualificaÁıes profissionais que a lei estabelecer”. Em raz„o desse dispositivo, È assegurada a liberdade profissional: desde a promulgaÁ„o da ConstituiÁ„o, todos j· podem exercer qualquer trabalho, ofÌcio ou profiss„o. No entanto, a lei poder· estabelecer restriÁıes ao exercÌcio de algumas profissıes. Citamos, por exemplo, a exigÍncia de aprovaÁ„o no exame da OAB como prÈ-requisito para o exercÌcio da advocacia. 
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As normas de efic·cia contida possuem as seguintes caracterÌsticas: 
a) s„o autoaplic·veis, ou seja, est„o aptas a produzir todos os seus efeitos, independentemente de lei regulamentadora. Em outras palavras, n„o precisam de lei regulamentadora que lhes complete o alcance ou sentido. Vale destacar que, antes da lei regulamentadora ser publicada, o direito previsto em uma norma de efic·cia contida pode ser exercitado de maneira ampla (plena); sÛ depois da regulamentaÁ„o È que haver· restriÁıes ao exercÌcio do direito. 
b) s„o restringÌveis, isto È, est„o sujeitas a limitaÁıes ou restriÁıes, que podem ser impostas por: 
- uma lei: o direito de greve, na iniciativa privada, È norma de efic·cia contida prevista no art. 9, da CF/88. Desde a promulgaÁ„o da CF/88, o direito de greve j· pode ser exercido pelos trabalhadores do regime celetista; no entanto, a lei poder· restringi-lo, definindo os “serviÁos ou atividades essenciais” e dispondo sobre “o atendimento das necessidades inadi·veis da comunidade”. 
Art. 9 … assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercÍ-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender. 
ß 1 - A lei definir· os serviÁos ou atividades essenciais e dispor· sobre o atendimento das necessidades inadi·veis da comunidade. 
- outra norma constitucional: o art. 139, da CF/88 prevÍ a possibilidade de que sejam impostas restriÁıes a certos direitos e garantias fundamentais durante o estado de sÌtio. 
- conceitos Ètico-jurÌdicos indeterminados: o art. 5, inciso XXV, da CF/88 estabelece que, no caso de “iminente perigo p˙blico”, o Estado poder· requisitar propriedade particular. Esse È um conceito Ètico-jurÌdico que poder·, ent„o, limitar o direito de propriedade. 
c) possuem aplicabilidade direta (n„o dependem de norma regulamentadora para produzir seus efeitos), imediata (est„o aptas a produzir todos os seus efeitos desde o momento em que È promulgada a ConstituiÁ„o) e possivelmente n„o-integral (est„o sujeitas a limitaÁıes ou restriÁıes). 
(Advogado FUNASG – 2015) As normas de efic·cia contida tÍm efic·cia plena atÈ que seja materializado o fator de restriÁ„o imposto pela lei infraconstitucional. 
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Coment·rios: 
As normas de efic·cia contida s„o restringÌveis por lei infraconstitucional. AtÈ que essa lei seja publicada, a norma de efic·cia contida ter· aplicaÁ„o integral. Quest„o correta 
3) Normas constitucionais de efic·cia limitada: 
S„o aquelas que dependem de regulamentaÁ„o futura para produzirem todos os seus efeitos. Um exemplo de norma de efic·cia limitada È o art. 37, inciso VII, da CF/88, que trata do direito de greve dos servidores p˙blicos (“o direito de greve ser· exercido nos termos e nos limites definidos em lei especÌfica”). 
Ao ler o dispositivo supracitado, È possÌvel perceber que a ConstituiÁ„o Federal de 1988 outorga aos servidores p˙blicos o direito de greve; no entanto, para que este possa ser exercido, faz-se necess·ria a ediÁ„o de lei ordin·ria que o regulamente. Assim, enquanto n„o editada essa norma, o direito n„o pode ser usufruÌdo. 
As normas constitucionais de efic·cia limitada possuem as seguintes caracterÌsticas: 
a) s„o n„o-autoaplic·veis, ou seja, dependem de complementaÁ„o legislativa para que possam produzir os seus efeitos. 
b) possuem aplicabilidade indireta (dependem de norma regulamentadora para produzir seus efeitos), mediata (a promulgaÁ„o do texto constitucional n„o È suficiente para que possam produzir todos os seus efeitos) e reduzida (possuem um grau de efic·cia restrito quando da promulgaÁ„o da ConstituiÁ„o). 
Muito cuidado para n„o confundir! 
As normas de efic·cia contida est„o aptas a 
produzir todos os seus efeitos desde o 
momento em que a ConstituiÁ„o È promulgada. A 
lei posterior, caso editada, ir· restringir a sua 
aplicaÁ„o. 
As normas de efic·cia limitada n„o est„o 
aptas a produzirem todos os seus efeitos com 
a promulgaÁ„o da ConstituiÁ„o; elas dependem, 
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para isso, de uma lei posterior, que ir· ampliar o 
seu alcance. 
JosÈ Afonso da Silva subdivide as normas de efic·cia limitada em dois grupos: 
a) normas declaratÛrias de princÌpios institutivos ou organizativos: s„o aquelas que dependem de lei para estruturar e organizar as atribuiÁıes de instituiÁıes, pessoas e Ûrg„os previstos na ConstituiÁ„o. … o caso, por exemplo, do art. 88, da CF/88, segundo o qual “a lei dispor· sobre a criaÁ„o e extinÁ„o de MinistÈrios e Ûrg„os da administraÁ„o p˙blica.” 
As normas definidoras de princÌpios institutivos ou organizativos podem ser impositivas (quando impıem ao legislador uma obrigaÁ„o de elaborar a lei regulamentadora) ou facultativas (quando estabelecem mera faculdade ao legislador). O art. 88, da CF/88, È exemplo de norma impositiva; como exemplo de norma facultativa citamos o art. 125, ß 3, CF/88, que dispıe que a “lei estadual poderá criar, mediante proposta do Tribunal de Justiça, a Justiça Militar estadual”. 
b) normas declaratÛrias de princÌpios program·ticos: s„o aquelas que estabelecem programas a serem desenvolvidos pelo legislador infraconstitucional. Um exemplo é o art. 196 da Carta Magna (“a sa˙de È direito de todos e dever do Estado, garantido mediante polÌticas sociais e econÙmicas que visem ‡ reduÁ„o do risco de doenÁa e de outros agravos e ao acesso universal e igualit·rio ‡s aÁıes e serviÁos para sua promoÁ„o, proteÁ„o e recuperaÁ„o”). Cabe destacar que a presenÁa de normas program·ticas na ConstituiÁ„o Federal È que nos permite classific·-la como uma ConstituiÁ„o-dirigente. 
… importante destacar que as normas de efic·cia limitada, embora tenham aplicabilidade reduzida e n„o produzam todos os seus efeitos desde a promulgaÁ„o da ConstituiÁ„o, possuem efic·cia jurÌdica. Guarde bem isso: a efic·cia dessas normas È limitada, porÈm existente! Diz-se que as normas de efic·cia limitada possuem efic·cia mÌnima. 
Diante dessa afirmaÁ„o, cabe-nos fazer a seguinte pergunta: quais s„o os efeitos jurÌdicos produzidos pelas normas de efic·cia limitada? 
As normas de efic·cia limitada produzem imediatamente, desde a promulgaÁ„o da ConstituiÁ„o, dois tipos de efeitos: i) efeito negativo; e ii) efeito vinculativo. 
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O efeito negativo consiste na revogaÁ„o de disposiÁıes anteriores em sentido contr·rio e na proibiÁ„o de leis posteriores que se oponham a seus comandos. Sobre esse ˙ltimo ponto, vale destacar que as normas de efic·cia limitada servem de par‚metro para o controle de constitucionalidade das leis. 
O efeito vinculativo, por sua vez, se manifesta na obrigaÁ„o de que o legislador ordin·rio edite leis regulamentadoras, sob pena de haver omiss„o inconstitucional, que pode ser combatida por meio de mandado de injunÁ„o ou AÁ„o Direta de Inconstitucionalidade por Omiss„o. Ressalte-se que o efeito vinculativo tambÈm se manifesta na obrigaÁ„o de que o Poder P˙blico concretize as normas program·ticas previstas no texto constitucional. A ConstituiÁ„o n„o pode ser uma mera “folha de papel”; as normas constitucionais devem refletir a realidade polÌtico-social do Estado e as polÌticas p˙blicas devem seguir as diretrizes traÁadas pelo Poder Constituinte Origin·rio. 
 
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(Advogado FUNASG – 2015) As normas constitucionais de efic·cia limitada s„o aquelas que, no momento em que a ConstituiÁ„o È promulgada, n„o tÍm o cond„o de produzir todos os seus efeitos, necessitando de lei integrativa infraconstitucional. 
Coment·rios: 
… isso mesmo! As normas de efic·cia limitada n„o produzem todos os seus efeitos no momento em que a ConstituiÁ„o È promulgada. Para produzirem todos os seus efeitos, elas dependem da ediÁ„o de lei regulamentadora. Quest„o correta. 
(CNMP – 2015) As normas constitucionais de aplicabilidade diferida e mediata, que n„o s„o dotadas de efic·cia jurÌdica e n„o vinculam o legislador infraconstitucional aos seus vetores, s„o de efic·cia contida. 
Coment·rios: 
As normas de efic·cia limitada È que tÍm aplicabilidade diferida e mediata. Cabe destacar que as normas de efic·cia limitada possuem efic·cia jurÌdica e vinculam o legislador infraconstitucional. Quest„o errada. 
Outra classificaÁ„o das normas constitucionais bastante cobrada em concursos p˙blicos È aquela proposta por Maria Helena Diniz, explanada a seguir. 
 1) Normas com efic·cia absoluta: 
S„o aquelas que n„o podem ser suprimidas por meio de emenda constitucional. Na CF/88, s„o exemplos aquelas enumeradas no art. 60, §4º, que determina que “n„o ser· objeto de deliberaÁ„o a proposta de emenda tendente a abolir a forma federativa de Estado; o voto direto, secreto, universal e periÛdico; a separaÁ„o dos Poderes e, finalmente, os direitos e garantias individuais.” S„o as denominadas cl·usulas pÈtreas expressas. 
2) Normas com efic·cia plena: 
O conceito utilizado pela autora È o mesmo aplicado por JosÈ Afonso da Silva para as normas de efic·cia plena. Destaque-se que essas normas se assemelham ‡s de efic·cia absoluta por possuÌrem, como estas, aplicabilidade imediata, independendo de regulamentaÁ„o para produzirem todos os seus efeitos. A distinÁ„o entre elas se d· pelo fato 
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de as normas com efic·cia plena poderem sofrer emendas tendentes a suprimi-las. 
3) Normas com efic·cia relativa restringÌvel: 
Correspondem ‡s normas de efic·cia contida de JosÈ Afonso da Silva, referidas anteriormente. Essas normas possuem cl·usula de redutibilidade (podem ser restringidas), possibilitando que atos infraconstitucionais lhes componham o significado. AlÈm disso, sua efic·cia poder· ser restringida ou suspensa pela prÛpria ConstituiÁ„o. 
4) Normas com efic·cia relativa complement·vel ou dependentes de complementaÁ„o: 
S„o equivalentes ‡s normas de efic·cia limitada de JosÈ Afonso da Silva, ou seja, dependem de legislaÁ„o infraconstitucional para produzirem todos os seus efeitos. 
Alguns autores consideram, ainda, a existÍncia de normas constitucionais de efic·cia exaurida e aplicabilidade esgotada. S„o normas cujos efeitos cessaram, n„o mais apresentando efic·cia jurÌdica. … o caso de v·rios dispositivos do ADCT da CF/88. Por terem a efic·cia exaurida, essas normas n„o poder„o ser objeto de controle de constitucionalidade. 
Poder Constituinte 
… hora de aprendermos tudo sobre Poder Constituinte. Vamos l·? 
A teoria do poder constituinte foi originalmente concebida pelo abade francÍs Emmanuel SieyËs, no século XVIII, em sua obra “O que È o Terceiro Estado?”. Nesse trabalho, concluído às vésperas da Revolução Francesa, Sieyès trouxe tese inovadora, que rompia com a legitimaÁ„o din·stica do poder.14 Ao mesmo tempo, colocava por terra as teorias anteriores ao Iluminismo, que determinavam que a origem do poder era divina. Quanta coragem para um clÈrigo, n„o È mesmo? 
A teoria do poder constituinte, que se aplica somente aos Estados com ConstituiÁ„o escrita e rÌgida, distingue poder constituinte de poderes constituÌdos. Poder Constituinte È aquele que cria a ConstituiÁ„o, enquanto os poderes constituÌdos s„o aqueles estabelecidos por ela, ou seja, s„o aqueles que resultam de sua criaÁ„o. 
 
14 MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet, COELHO, InocÍncia M·rtires. Curso de Direito Constitucional, 5™ ediÁ„o. S„o Paulo: Saraiva, 2010. 
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Pergunta importante que se deve fazer È a seguinte: quem È o titular do Poder Constituinte? 
Para Emmanuel SieyËs, a titularidade do Poder Constituinte È da naÁ„o. Todavia, numa leitura moderna dessa teoria, h· que se concluir que a titularidade do Poder Constituinte È do povo, pois sÛ este pode determinar a criaÁ„o ou modificaÁ„o de uma ConstituiÁ„o. 
Segundo Canotilho, o wproblema do titular do poder constituinte sÛ pode ter hoje uma resposta democr·tica. SÛ o povo entendido como um sujeito constituÌdo por pessoas n mulheres e homens n pode sdecidirt ou deliberar sobre a conformaÁ„o da sua ordem polÌtico-social. Poder constituinte significa, assim, poder constituinte do povo.”15 
Embora o povo seja o titular do poder constituinte, seu exercÌcio nem sempre È democr·tico. Muitas vezes, a ConstituiÁ„o È criada por ditadores ou grupos que conquistam o poder autocraticamente. 
Assim, diz-se que a forma do exercÌcio do poder constituinte pode ser democr·tica ou por convenÁ„o (quando se d· pelo povo) ou autocr·tica ou por outorga (quando se d· pela aÁ„o de usurpadores do poder). Note que em ambas as formas a titularidade do poder constituinte È do povo. O que muda È unicamente a forma de exercÌcio deste poder. 
A forma democr·tica de exercÌcio pode se dar tanto diretamente quanto indiretamente. Na primeira, o povo participa diretamente do processo de elaboraÁ„o da ConstituiÁ„o, por meio de plebiscito, referendo ou proposta de criaÁ„o de determinados dispositivos constitucionais. Na segunda, mais frequente, a participaÁ„o popular se d· indiretamente, por meio de assembleia constituinte, composta por representantes eleitos pelo povo. 
A Assembleia Constituinte, quando tem o poder de elaborar e promulgar uma constituiÁ„o, sem consulta ou ratificaÁ„o popular, È considerada soberana. Isso se d· por ela representar a vontade do povo. Por isso mesmo, seu poder independe de consulta ou ratificaÁ„o popular. Diz-se que a Assembleia Constituinte È exclusiva quando È composta por pessoas que n„o pertenÁam a qualquer partido polÌtico. Seus representantes seriam professores, cientistas polÌticos e estudiosos do Direito, que representariam a naÁ„o. A Assembleia Constituinte de 1988 era soberana, mas n„o exclusiva. 
O poder constituinte pode ser de dois tipos: origin·rio ou derivado. 
 
15 CANOTILHO, JosÈ Joaquim Gomes. Direito

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