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EDUQUE COM CARINHO - EQUILIBRIO ENTRE AMOR E LIMITES

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Lidia Weber
Pós-Dou tora em Desenvolvimento 
Familiar pela Universidade de Brasília, 
Doutora e Mestre em Psicologia 
Experimental pela Universidade de São 
Paulo, Psicóloga (CRP 08-0774) desde 
1981 e Professora da Universidade 
Federal do Paraná, onde leciona 
atualmente no Programa de Pós- 
-graduação em Educação (Mestrado 
e Doutorado). Realiza pesquisas com 
pais, crianças e adolescentes sobre 
interações familiares e coordena 
Grupos de Capacitação para Pais por 
meio do seu Programa de Qualidade 
de Interação Familiar. Atua como 
palestrante, consultora e parecerista 
das mais importantes revistas e jornais 
do país (e algumas internacionais) 
sendo convidada para participar como 
especialista em inúmeros programas 
regionais e nacionais de rádio e televisão. 
Além de ser presença constante em 
congressos científicos nacionais, 
faz parte do Conselho Científico da 
Association Francophone de Psychologie et 
Psychopathologie de VEnfant et de VÃdolescent 
de Paris. Ministrou palestras a convite 
e recebeu prêmios de viagem para 
apresentar suas pesquisas em diferentes 
países: Alemanha, Argentina, Bélgica, 
Canadá, Espanha, Estados Unidos, 
França, Itália, Marrocos, Portugal e 
Suécia. Este livro é fruto do que há de 
mais recente em pesquisas científicas 
sobre educação de filhos.
4a Edição - 11a tiragem 
Revista e Atualizada
Copyright 2005 by Lidia Natalia Dobrianski Weber
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial de 
qualquer forma ou por qualquer meio, salvo autorização por escrito da autora.
Impresso no Brasil / Printed in Brazil 
Capa e Ilustrações: Benett 
Fotografia: Manoel Guimarães 
Revisora: Antônia Schwinden 
Diagramação: Atilio Cropolato Castanho 
1a edição: 2005
W RUfí
B r a sil- Av. M unhoz da R ocha, I43 — Juvcvc - Fone: (41) 4009-3900 
Fax: 3252-1311 - CEP: 80.030 475 - Curitiba - Paraná - Brasil
EDITORA
Europa - Escritório: Av. da República, 4 7 - 9 ° Dt°— 1050-188 - Lisboa - Portugal 
Loja: Rua General Torres, 1.220 - Lojas 15 e 16 - Centro Comercial 
D ’Ouro - 4400-096 - Vila Nova de Gaia/Porto - Portugal
Editor: José Ernani de Carvalho Pacheco
W373
Weber, Lidia.
Eduque com carinho: Lidia Weber./ 4a ed., 11a ti r./ 
Ilustrações de Benett./ Curitiba: Juruá, 2012.
160p.; 15,3 x 21 cm
1. Educação. I. Título.
ISBN: 978-85-362-3971-2
CDD 370.1 (22.ed) 
CDU 37.013
Visite nossos sites na Internet: www.jurua.com.br e www.editorialjurua.com 
e-mail: editora@jurua.com.br
http://www.jurua.com.br
http://www.editorialjurua.com
mailto:editora@jurua.com.br
Para m eu m arido M arcus e m eus filhos, 
Taliana e Erik, que m e ensinam m uito m ais 
do que sempre sonhei.
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Sumário
Parte 8 
Sobre o livro, a Psicologia e a Educação Positiva
Algumas palavras iniciais 
O que queremos para nossos filhos?
Parte II 
Doze princípios para uma educação positiva
Princípio 1 - Amor incondicional
Princípio 2 - Conhecer os princípios do comportamento
Princípio 3 - Conhecer o desenvolvimento de uma criança
Princípio 4 - Autoconhecimento
Princípio 5 - Comunicação positiva
Princípio 6 - Envolvimento
Princípio 7 - Usar consequências positivas: reforçar, elogiar, valorizar 
Princípio 8 - Apresentar regras e supervisionar o comportamento 
Princípio 9 - Ser consistente
Princípio 10 - Não usar punição corporal, mas consequências lógicas 
Princípio 11 - Ser um modelo moral 
Princípio 12 - Educar para a autonomia
Parte III 
Um pouco de poesia e humor no desenvolvimento 
dos seus filhos
PARTE I
SOBRE O LIVRO, A PSICOLOGIA 
E A EDUCACÃO POSITIVAt
Meus filhos não são melhores, 
nem piores, 
nem iguais 
aos filhos dos outros pais.
Meus filhos 
são o que todo pai 
gostaria que seus filhos 
fossem.
Meus filhos 
são o que eu 
gostaria que meus filhos 
fossem.
Meus filhos 
não são diferentes 
de outros filhos.
Eles são só, 
sei lá, 
especiais, 
únicos.
O olhar de criança
Uni dia, papai Marcus eslava 
levando a filha Taliana, que era 
pequenininha, para a escola. Ela 
lhe disse espontaneam ente que, 
para ela, a parte mais importante 
do corpo não era o “célebro” nem 
o coração, m as a mão, “porque 
é com ela que a gente toca e faz 
carinho”. Ela foi tão convincente 
que seu pai acreditou piamente no 
que ela disse.
(Marcus Vinícius Keche Weber)
A lgumas palavras iniciais
"Aquele que ousa ensinar não deve jam ais cessar de aprender 
(John Cotton Dana)
“Caminhante, são tuas passadas o caminho, e nada mais; 
caminhante, não há caminho, 
se fa z caminho ao andar 
(Antonio Machado)
\
A s vezes as pessoas perguntam se o fato de eu ser psicóloga e de estudar o com portam ento entre pais e filhos traz benefícios pessoais à m inha interação com meus filhos. O que posso dizer? 
Não resta a m enor dúvida que sim! O fato de estudar há tantos anos este 
tema traz ótimas contribuições para mim, para meu marido e para nossos 
filhos. Torna as coisas mais fáceis. Além do mais, eu tam bém tive a sorte 
de pertencer a um a família incrivelmente envolvida na vida e na arte de 
educar os filhos. Por uma série de contingências especiais eu tive dois pais 
c duas mães, os quatro m uito presentes. O m eu avô por parte de pai era 
padre (a m inha religião é ucraniana ortodoxa e os padres podem casar) e, 
há longínquos 40 anos, cie já afirmava, com convicção, que não se devia 
bater nos filhos, mas educá-los com carinho. Eu nunca recebi nenhum 
tipo de punição corporal e, consequentem ente, m eus filhos tam bém 
não. Mas não é somente a ausência dc punições físicas que faz com que 
a educação de um filho seja exemplar. É m uito mais do que isso, o que 
tam bém sempre tive na m inha vida pessoal. Quando lembro da m inha 
infância ou quando ainda hoje convcrso com meus pais sobre o tema (que 
é frequente), sempre vêm à tona histórias em que há valorização, orgulho 
dos filhos, elogios, apoio incondicional, amor. Em m inha memória, isso 
sempre se sobressai às dificuldades ou brigas ou aos limites que nenhum a 
criança gosta m uito de receber, pelo m enos no m om ento em que recebe. 
Nós rimos muitos em nossos encontros.
E ste liv ro p re te n d e fa la r b a s ic a m e n te de p r in c íp io s do 
com portam ento, em especial do com portam ento de pais e de filhos.
Ed u q u e c o m c a r in h o
Gostaria de deixar claro que o que eu vou tentar m ostrar a você não c 
uma questão de opinião pessoal. Sou psicóloga e pesquisadora há 24 anos 
e estou estudando e conduzindo pesquisas específicas sobre as interações 
entre pais e filhos há mais de dez anos. Sempre trabalhei com a linha da 
Psicologia que é cham ada de Análise do Comportamento, que procura 
desvendar, por meio de pesquisas, como as pessoas se comportam e como 
aprendem certos comportamentos. Assim, as orientações mostradas neste 
livro vão além de m eras opiniões m inhas e da minha vida pessoal; elas 
eslão em basadas na ciência psicológica.
Geralmente, quando este inesgotável tema, a interação pais c filhos, 
entra na conversa, sempre há alguém que diz, “é pena, mas não existe um 
m anual para criar filhos perfeitos”. De falo, não existe m anual para criar 
filhos c nem pais perfeitos, pois este estado é impossível para a condição 
hum ana, mas estudiosos do m undo todo pesquisam com profundidade 
este tema há mais de 50 anos! Portanto, não há um m anual de perfeição, 
mas atualm ente existem respostas claras e precisas sobre como a criança 
aprende a se comportar e o que é im portante para o desenvolvimento 
Infantil nas interações entre filhos e pais. E claro que não é como ensinar 
uma receita de bolo, e sabemos que, mesmo seguindo exatamente a m esma 
receita, o bolo pode ficar muito diferente entre diversas pessoas.
Princípios de com portam ento não querem dizer rigidez, inflexi­
bilidade ou destino! O que importa é justamente a interação entre as pessoas. 
No entanto, gostaria de deixar claro que existem ordem e regularidade no 
comportamento; a vida não éfeita de ações ao acaso, dc sorte ou de azar, 
senão nem existiria uma ciência chamada Psicologia. É isso que vou tentar 
mostrar a você: alguns princípios básicos que modelam o comportamento 
das pessoas, cm especial dc crianças pequenas (sim, até mais ou menos 
de/ anos é m uito mais fácil ensinar uma criança...).
Neste contexto de princípios, é preciso dizer que eles servem para 
todas as idades, mas é claro que lidar com adolescentes requer algumas 
atitudes especiais que abordarei cm um futuro livro. Também é preciso 
enfatizar que existem valores diferentes para cada grupo dc pessoas, 
paia cada cultura ou para cada família. Não é possível falar de todos os 
valores, todas as diferenças, então vou falar somente sobre os princípios 
dii comportam ento, sobre como ocorrc a aprendizagem dc uma criança, 
»hic* o melhor modo de agir para ensinar e educar uma criança dentro
d.ts valores que você deseja que seu filho tenha.
Q uanto mais novo for o seu filho, m elhor para você. Você, por 
certo, já ouviu inúm eras vezes que “é m elhor ensinar uma criança do 
que consertar um adulto”, ou “é m elhor prevenir do que remediar...”. É 
preciso começar cedo, pois a criança começa a aprender como funciona 
o m undo exatam ente no m om ento cm que nasce! Assim, depois de 
trabalhar intensivam ente com pais e ouvir milhares de crianças em nossas 
pesquisas sobre estilos e práticas parentais, decidi que um livro para 
crianças deveria acom panhar o livro dos pais. Foi um gesto ousado escrever 
também um livro para o seu filho pequeno. As pesquisas m ostram que os 
comportamentos se repetem dc geração a geração e que há conceitos tão 
arraigados que as pessoas agem em função deles sem ao menos questioná-
-los verdade iram en te . A m inha ideia 
de prevenção foi tão longe que resolvi 
investir tam bém na criança que, muito 
provavelmente, será pai ou mãe no fu­
turo. O livro E duque com Carinho para 
filhos é para crianças desde a mais tenra 
idade: você pode ler para o seu filho, ler 
com o seu filho, pedir para ele ler para 
você, deixá-lo ler sozinho, enfim . Você 
poderá surpreender-se com sua filha ao 
vê-la fazendo com suas bonecas as ações 
corretas que estou tentando ensinar para 
você.
__________________________ A ideia do livro para os filhos é
uma inovação cujo objetivo é colocar a 
família como um time e, principalmente, 
fazer a criança entender que ela tam bém é protagonista da sua história. 
Ao com preender os princípios do com portam ento, a criança passa a 
entender que é responsável pelo seu com portam ento c, portanto, das 
consequências que quer da vida. Será dona do seu destino, sempre com 
seus pais ajudando-a, guiando-a e m ostrando o caminho. A ideia é plantar 
firm em ente a semente da Educação Positiva, com carinho e com firmeza.
Eu sei que ler um livro nem sempre é suficiente para modificar o 
com portam ento, mas pode ser um bom começo, especialmente se você 
parar para refletir cada capítulo, treinar e fizer os exercícios que indico
L íd ia W eb i.r
Ed u q u e c o m c a r in h o
(para o seu filho tam bém há treinam ento e exercícios). Mais ou menos 
no final dc 2002, depois de realizar dezenas de pesquisas sobre o tema 
pais e filhos, eu e duas alunas dc graduação, muito especiais, Ana Paula 
Viezzer Salvador e Olívia Ju stcn Brandenburg, resolvemos socializar 
o conhecimento das pesquisas internacionais e dos estudos realizados 
no Núcleo de Análise do Com portamento da Universidade Federal do 
Paraná. Decidimos m ontar um curso para pais! Brincando, as pessoas 
sempre dizem que há cursos para aprender isso e aquilo, mas não há 
curso para ser pai e ser mãe! O que eu mostro neste livro está embasado 
no curso que m ontam os (que tem apostila e tarefas para casa) e que 
aplicamos em dezenas de pais cm diferentes grupos, em um projeto de 
extensão de nossa universidade. Durante muito tempo ficamos pensando 
nos princípios que seriam gerais, nas atividades vivenciais que faríamos 
com os pais, nos vídeos que selecionamos para m ostrar modelos e nos 
vídeos didáticos que estam os produzindo atualm ente para facilitar a 
aprendizagem dos pais. Embora o trabalho nunca chegue ao fim, pois 
perfeição não existe, achamos que chegamos a um consenso no que se 
refere aos princípios do com portam ento para se ensinar a pais. O que eu 
gostaria é que você pudesse participar dc nosso curso vivencial, chamado 
Programa de Qualidade na Interação Familiar, mas é impossível atingir um 
núm ero tão grande de pessoas, e, atualm ente, estamos trabalhando com 
a ideia de formação de multiplicadores deste nosso método. Eu tenho que 
dizer que aprendemos muito com os pais dos Grupos. Há aqueles que são 
naturalm ente competentes e seguem os princípios porque, em verdade, 
eles tam bém tiveram pais afetuosos, interessados, e que erraram pouco.
Assim, ao finalizar este prefácio e iniciar a proposta de passar 
o conhecim ento científico sobre criação dc filhos e desenvolvim ento 
infantil para você, gostaria dc agradecer, em primeiro lugar, a quem me 
deu origem e a quem me fez conhecer c entender o mundo, meus pais. 
Agradecer ao meu marido, companheiro inseparável, pai fabuloso (que 
me ensinou muitos princípios e valores), e aos meus filhos, absolutamente 
fantásticos, que continuam a me ensinar diariam ente e mostrar que a 
vida vale a pena.
“A infância revela o H om em , assim como a m anhã revela o dia 
(John M ilton)
“Autoconfiança é como um a lanterna. Por mais escuro que esteja, ela o 
ajudará a achar o caminho 
(Mark Twain)
É preciso tempo e investimento para educar
Os diferentes pais parecem não diferir muito cm relação ao que 
querem dos seus filhos: desejam que os filhos sejam responsáveis, tenham 
autoestima elevada, assertividade, autocontrole, autonomia, boas habilidades 
sociais, que sejam amados pelos outros, confiantes, empáticos, felizes etc. 
Então não c tão simples assim, certo?
A maioria das pessoas, inclusive mães, está ocupada, trabalhando, e 
parece não ter tempo para nada. Mas, quero mostrar para você que a tarefa 
dc ser pai e mãe requer tempo. Não adianta você pensar que comprou um 
m anual para não precisar “perder muito tem po” com a educação dos seus 
filhos. Isso não existe. Em verdade, se você não tem tempo e quer realmente 
educar os seus filhos, terá que reorganizar suas prioridades. A infância passa 
muito rapidamente. Em um dia você está trocando fraldas, no outro dia o 
seu filho está indo para a escola, mais algum tempo c ele estará dormindo 
na casa dos amiguinhos e, quando menos você espera, ele está trazendo 
a nam orada para você conhecer. E aí você ficará pensando que deveria ter 
contado mais histórias na hora de dormir, ter ido mais a parques com ele c 
construído mais barracas dc cobertores na sala de jantar. Agora esse tempo 
já passou, e o que eles aprenderam com você levarão ate o fim da vida. É 
preciso estar presente e participar se você quiser realmente educá-lo. Esse 
comportamento dos pais chama-se investimento parental. É ter tempo c 
disposição para ser pai e ser mãe. É claro que você pode, e deve, ter vida
E d u q u e c o m c a r in h o
própria, ter seus interesses e um tempo somente para você. Mas o que não 
é possível é ser pai ou mãe somente uma hora por dia. É preciso tempo 
integral. Aliás, ser pai c mãe tam bém não acaba... Embora a infância seja 
curta, logo começa a adolescência, que tam bém precisa de m onitoria e 
cuidados, em seguida o adolescente vira adulto e precisará do seu apoio, 
c por aí vai. Parentalidade é para sempre. Educar bem significa preparar o 
seu filho para a vida, para ser autônom o e viver confiante.
L id ia W ebfr
Educar um filho dá trabalho. Não é tão simples quanto se imagina. 
Existem pegadinhas e surpresas. Só amor não basta, mas sem amor não 
funciona. Não podemos deixar nossos filhos eternamente felizes, mas se não 
forem felizes, não serve. Crianças gostam de fazer bagunça, mas precisam 
se sentir seguras e confiantes, e isso ocorre a partir das regrasdos adultos. 
A boa-nova é que os princípios apresentados neste livro funcionam para 
sempre! Seja paciente. “Nada pode ser feito a não ser pouco a pouco”, disse o 
poeta francês Charles Baudelaire.
A maioria dos pais deseja mesmo um filho perfeito, que tenha sucesso 
na escola, nos esportes, que ganhe medalhas nas competições e tire somente 
notas exemplares. Querem m ostrar o filho para os outros, sentir orgulho
e até mesmo esperam que os filhos realizem 
coisas que não conseguiram realizar. Nós 
também queremos que eles nos obedeçam in­
condicionalmente. Será que isso é bom? Um 
filho que, no futuro, não consiga distinguir 
entre um bom e um mau comando e obedeça 
sempre, não importa o que aconteça? É claro 
que não, não é? Às vezes os pais repetem sem 
pensar “que sorte que seu filho é assim, tão 
estudioso ou obediente”. Veja bem, ter um 
filho feliz, bem educado é fruto de estratégias 
educativas e não de um golpe de sorte!
Mas os pais reclam am que precisam ficar repetindo tudo qu inhen­
tas vezes, criticam demais, dizem que os filhos não obedecem, que os 
filhos enrolam , m anipulam , os filhos sabem mais táticas para irritar os 
pais do que eles sabem de estratégias para ensinar o com portam ento 
adequado. Os pais sentem culpa porque trabalham demais e não têm 
tem po para os filhos (têm de ter mesmo!), dão muito mais coisas do que o 
necessário para seus filhos, mesmo assim eles fazem birra c desobedecem; 
então os pais não aguentam c cedem ao comportamento do filho para ter 
um pouco de paz ou subornam, “fique quieto agora na casa do meu am i­
go e eu t.e dou um chocolate na saída”. Sentem raiva c frustração depois. 
UFA! Que encrenca, não? Não é preciso chegar a tanto, mas que há m uitas 
famílias enroladas nessas armadilhas, isso há...
É preciso estar presente e 
participar se você quiser 
educar seu filho. Esse 
comportamento dos pais 
chama-se investimento 
parental.
Ed u q u e c o m c a r in h o
A disciplina deve ser positiva
Este livro tem o objetivo de ensinar estratégias deprevcnção. O que 
vou ensinar funciona muito melhor se você começar bem cedo, com filhos 
pequenos, mas também é possível aprender a m udar algumas atitudes 
suas e, por consequência, ensinar seus filhos. Todo m undo erra e já errou, 
mas os poetas sabem dizer as coisas e Galeano assinalou que “Somos o que 
fazemos, mas somos, principalmente, o que fazemos para m udar o que somos”. 
Não é um livro que vai mostrar técnicas de punição, pois disciplinar não é 
sinônimo de punir, mas sim de instruir, ensinar. Pode até acontecer algum 
nível dc consequências negativas, mas este não é o foco. O foco é o que se 
chama de Disciplina Positiva. Disciplinar é ensinar autocontrole para os 
filhos poderem se virar quando chegar a adolescência e, mais tarde, na vida 
adulta. Disciplinar é ensinar como estar no mundo, disciplinar é educar. 
Dizem que a teoria é mais fácil do que a prática. Claro que é. Para os pais. 
No entanto, para os cientistas chegarem a 
essa “teoria”, foram necessárias (c ainda
~ v w j i - Não é um livro que vaisao) décadas de pesquisas c compreensão
do comportam ento hum ano. São regras ou mostrar técnicas de
princípios do com portam ento estudados punição, pois disciplinar 
há mais de 50 anos, por pesquisadores do não é sinônimo de punir, 
inundo todo. Não são conselhos aleatórios mas Sjm de instruir,
nem baseados em valores morais ou pessoais. ensinar
Esses valores, cada fam ília tem os seus.
Também não é um livro dc receitas que vão
funcionar não importa com quem, nem dc fórmulas m atemáticas precisas 
e exatas que funcionarão não importa com qual criança e com qual família. 
Educar uma criança tem seus princípios em descobertas da ciência, mas 
tam bém é um a arte. Aliás, um a das coisas que devemos aprender e 
ensinar, é justam ente a flexibilidade, o jogo de cintura. Mas os princípios 
independem de valores, da idade, do gênero da criança e da composição 
familiar. Eles foram pesquisados c testados em milhares de estudos c nos 
fornecem um ótimo guia, que aos poucos você pode adaptar a seus próprios 
valores e características.
Afinal, nós também queremos filhos com boa autoestima (palavra- 
-chave na vida de todo inundo) que tenham autocontrole, filhos que sejam
L id ia W lber
alegres, tenham amor pela vida, sejam felizes, afinal de contas. Nós não 
queremos que nossos filhos sejam apenas obedientes e digam sim sem 
refletir. Nós queremos filhos que saibam pensar, que sejam independentes. 
Você já pensou nisso? Qual é o seu objetivo como pai? Nós queremos 
também ter uma boa relação com nossos filhos (sim, se você comprou ou 
se está lendo este livro, este é um dos seus objetivos!). Em resumo, nós 
queremos sim que eles tenham limites c obedeçam, mas que sejam críticos 
e autônomos; que nossa relação seja boa, com muito afeto e até diversão 
e que, por fim, eles sejam felizes, no ideal do que possa ser felicidade para 
eles, c não necessariamente para nós.
Os tempos mudam
Podemos ser pais dc primeira ou segunda viagem, mas em primeiro 
lugar todos nós já fomos filhos. E esse é o primeiro modelo que temos, ou 
seja, nós aprendemos com os nossos pais. Às vezes nem temos consciência 
do que de fato aprendemos. Repetimos frases feitas que um dia juramos 
nunca repetir, assim como “engula esse choro m enino”, “limpe o prato até 
ele ficar brilhando”, “você quer o tênis que seu amigo tem, mas se ele se 
jogar de um prédio, você tam bém vai atrás?”.
Será que a educação m udou ou não? Sim, com certeza. Há algumas 
décadas nós tínham os um ideal patriarcal e hierárquico nas famílias. 
Atualm ente não existe nem mais “cabeça do casal” dc acordo com o novo 
Código Civil! Hoje a família tem um ideal igualitário, ou seja, todos os 
membros têm a mesma importância e podem tomar decisões. Isso não 
quer dizer que tudo o que seu filho quiser, ele deva ter. Significa que 
nenhum membro é mais im portante do que outro. Isso faz diferença. 
Hoje em dia, realm ente o m undo está mais confuso, para quem mora 
em cidades grandes, está mais perigoso e mesmo em cidadcs menores 
não é mais possível brincar no meio da rua ou ir até o campo subir cm 
árvores. Há m uito mais estimulação do que nos “nossos tem pos”, escolas 
mais em polgantes, televisão, jogos eletrônicos, internet. Antigam ente 
as coisas eram mais lentas, as m udanças ocorriam com mais vagar. Os 
relacionamentos também mudaram; há distanciamento da família extensa, 
avós e tios não ficam mais tão próximos para nos ajudar, há muito mais 
divórcios e famílias recompostas, e há diferentes modelos de famílias.
Ed u q u e c o m c a r in h o
Ou seja, hoje existem tantos livros para pais, porque de fato os pais estão 
precisando de dicas, de um outro modelo que não aquele autoritário que 
aprenderam cm seu passado. Mas as dicas devem e?tar baseadas em 
estudos, na pesquisa científica e não em achismos ou opiniões pessoais. E 
devem ser claras e simples. É o que vamos tentar fazer neste livro.
M uitos pais são bons. G eralm ente tiveram a sorte de ter pais 
intuitivos e sensíveis ou, ainda, se não os tiveram, conseguiram refletir 
e alterar a sua história. Outros pais têm histórias difíceis e, às vezes, 
sem ter realm ente consciência de sua história, acabam por repetir o 
comportamento inadequado dos seus pais com os seus filhos. Por isso, 
para educar um a criança, prim eiram ente 
precisamos relembrar como fomos criados c 
como isso repercutiu em nossas vidas. Este 
livro pode servir para todos os pais, seja para 
aperfeiçoar o que já fazem de bom, seja para 
mudar ou para refletir sobre o seu próprio 
estilo de educar um a criança. Gostaria que, 
com este livro, você iniciasse uma reflexão 
junto com sua família (independente do tipo 
de família que você tem, ou seja, não importa se você é casado, solteiro, 
separado, recasado etc.), sugiro, porém, que você faça isso com os seus 
filhos.
Os princípios de um a educação positiva, coletados em décadas 
de pesquisas, vão ajudá-lo, as dicasvão fazer com que você relembre 
rapidamente os belos e engraçados desenhos e textos mais poéticos poderão 
fazê-lo sorrir e, assim, repensar algumas importantes questões.
O livro não tem receitas instantâneas, mas pode servir de guia. 
Muitas pessoas dizem que não é preciso m anual para criar filhos. Acham 
que é natural. Natural é um a palavra enganosa. As pessoas pensam 
que sabem tudo sobre como criar filhos porque já foram filhos um dia. 
Compram m anuais para quase tudo, m enos para m elhorar sua vida 
familiar. As coisas mudam, como disse Chico Buarque, “o tempo passou na 
janela e só Carolina não viu”. São outros tempos. Nos últimos 40 anos m uitas 
(Lis verdades que sabíamos sobre bebês e crianças m udaram radicalmente. 
Você sc lem bra de quando nossos avós e pediatras da época falavam 
que um recém-nascido poderia ser deixado enroladinho em um quarto
Para educar uma criança, 
precisamos relembrar 
como fomos criados e 
como isso repercutiu em 
nossas vidas.
L id ia W eber
escuro por cerca de três meses? Hoje se sabe que o bebê é um ser ativo e 
com petente desde o nascim ento. Mesmo atualm ente, do ponto de vista do 
desenvolvimento físico, ainda existem m uitas contradições sobre crianças, 
mas do ponto de vista comportamental e dc práticas parentais, as pesquisas 
m ostram consistência cm seus achados. Por exemplo, não há pesquisa que 
mostre que m udar a disciplina a cada dia é m elhor para a criança. Ou que 
diga que usar palmadas c críticas é um bom método para educar, ou que 
nunca elogiar é interessante para fortalecer o caráter da criança. O que as 
pesquisas m ostram com elareza são exatam ente os princípios que estou 
apresentando neste livro.
Gostaria que você entendesse o que é disciplina. Disciplinar não 
é sinônim o de punir, como mostra o senso comum; “este m enino está 
precisando de d iscip lina”, falam alguns adu ltos balançando a mão 
no famoso significado dc palm adas. Disciplinar, do original cm latim,
Disciplina não é achar que a criança é má e que nos provoca o tempo todo, 
e que essa maldade precisa scr retirada dela. N enhum a criança nasce má, 
mas tam bém não nasce sabendo como se comportar. Aprender leva tempo.
Fique sabendo que não é simples e nem fácil educar uma criança. 
É preciso um grande investim ento de tem po, energia, autocontrole, 
paciência, habilidades parentais... Mas é um a tarefa absolu tam ente 
fantástica. Às vezes, os pais falam em esculpir uma criança do jeito que 
eles querem, mas não é esse o ponto que quero enfatizar. Os pais e os filhos 
devem construir um a relação juntos. Você tem um relatório urgente para 
entregar, precisa colocar a roupa na secadora, ver se tem comida para o 
almoço, verificar se há comida para o peixinho dourado e ainda ensinar 
tudo sobre o mundo! Não é preciso ser superpai e supermãe. Ninguém é. 
Mas precisa ser bom para fazer a diferença. Ninguém é perfeito e, por mais 
que prosas c poesias digam que as mães o são, nem mesmo as mães são
O que é disciplina?
Disciplinar significa 
“ ensinar, formar” .
sign ifica “e n s in a r , fo rm a r” . Q uerem os 
filhos discip linados para que possam se 
virar sozinhos no futuro. Queremos filhos 
autônomos. Queremos filhos com autoestima 
elevada, que tam bém saibam cooperar, que 
sejam solidários, éticos, justos, honestos etc.
Ed u q u e c o m c a r in h o
perfeitas. E não precisam ser. Mas é preciso reservar tempo para ser pai 
c mãe sim, senão não fará diferença na vida do seu filho. Isso me lembra 
uma história interessante. Uma professora pediu para conversar com o pai 
de uma m enina de nove anos. Geralmente era a mãe quem participava das 
reuniões necessárias, mas a professora insistiu para que o pai comparecesse 
para uma conversa. Ao chegar lá, a professora lhe disse: “Eu gostaria de 
lhe m ostrar o desenho da família que sua filha fez”. O pai olhou o desenho 
e perguntou: “Onde eu estou no desenho?”. Então, a professora lhe disse 
<|iie ele fora chamado exatam ente por isso. Ela havia feito à m enina a 
mesma pergunta c ela respondeu: “Ele nunca está em casa, nunca brinca 
comigo, então eu o deixei fora do desenho”. É m uito frequente ouvir as 
pessoas falando “eu deveria passar mais tempo com meus filhos”, mas 
você nunca ouviu ninguém falando “eu deveria passar mais tempo no 
meu escritório”, não é mesmo? Pense nisso, somos nós que escolhemos 
as prioridades de nossa vida.
As mudanças acontecem aos poucos
Este livro não vai fazer acontecer nenhum passe dc mágica. Nem 
você e nem o seu filho vão m udar de um a hora para outra. Embora os pais 
de nossos grupos tenham relatado a 
eficácia quase que m om entânea dc 
alguns princípios comportamentais, 
geralm ente leva um tempo, tan to 
para você se adaptar com eles quanto 
para o seu filho. E lem bre-se, se 
o seu filho tem pouca idade, será 
mais fácil, não tenha dúvida. Outro 
alerta im portante é que, quando você 
começa a m udar o seu modo de agir e estabelecer regras, o comportamento 
do seu filho, não acostumado com isso, pode até piorar no início. Isto é claro: 
se ele está acostumado a receber atenção de um jeito errado e você m udar 
o esquema, ele vai reagir, e vai reagir do jeito que aprendeu durante tanto 
tempo. Por isso, uma das ideias foi fazer o livro para o seu filho. Ele também 
deve ser o protagonista da sua história. Então, sabendo disso, m antenha-se 
firme em sua sábia decisão de melhorar a forma como educar os seus filhos.
Família deve ter o sentido de ser 
um porto seguro. Aqueles que 
mais se envolvem com a família 
também se divertem mais.
Lembrc-se que, se a sua filha tem atualm ente oito anos, ela teve lodo este 
tempo de treinam ento do modo “menos correto”... então, fique frio. Diz o 
provérbio: unão importa o quão longe você lenha ido a um caminho errado, volte”.
Ultimas palavras antes dos princípios. A infância é m uito curta. 
Ela deve ser aproveitada tam bém em sua magia de castelos no ar, dc 
não ter contas para pagar, de tomar sorvete ao sol e lam buzar a mão, de 
acreditar em coisas impossíveis, dc pular na cama, tom ar banho de chuva 
e gargalhar até a m andíbula doer. Crianças são seres fantásticos. Família 
é sensacional. Família que acolhe, que tem o sentido de ser um porto 
seguro, é algo maravilhoso. Aqueles que mais se envolvem com a família 
tam bém se divertem mais. Essa é uma regra. Quero que você aprenda a 
curtir cada fase, cada idade, c não pense a tarefa de educar como um fardo. 
Não é somente um trabalho. Tem dc ter amor incondicional. Seu filho tem 
orelhas de abano? Tirou nota 3,0 em m atemática? É baixinho demais? Ou 
m uito alto? Corre feito uma lesma no futebol? Não faz mal, em algumas 
coisas você pode ajudá-lo, cm outras, você pode amá-lo! Ter filhos e educá- 
-los é um a missão, não é simples, mas a caminhada é repleta de amor, de 
alegrias, de risadas edificantes, de m om entos inesquecíveis, dc abraços 
apertados e corações em sintonia. Isso não é possível colocar em um livro, 
só no coração de cada um dc nós.
L íd ia W eber
PARTE II
DOZE PRINCÍPIOS PARA UMA 
EDUCACÃO POSITIVA/
Pr ncípio 1 Amor incondicional
Pr ncípio 2 Conhecer os princípios do com portam ento
Pr ncípio 3 Conhecer o desenvolvimento de uma criança
Pr ncípio 4 Autoconhecim ento
Pr ncípio 5 Comunicação positiva
Pr ncípio 6 Envolvimento
Pr ncípio 7 Usar consequências positivas: reforçar, elogiar, valorizar
Pr ncípio 8 Apresentar regras
Pr ncípio 9 Ser consistente
Pr ncípio 10 Não usar punição corporal, mas consequências lógicas
Pr ncípio 11 Ser um m odelo moral
Pr ncípio 12 Educar para a autonom ia
Abraçando a sua mãe, a criança diz:
"Mãe, eu amo muito você”.
A mãe pergunta: “Quanto você me ama querido?"
"Um tantão assim ”, diz a criança e estica os seus braços completamente. 
"Mas o quanto você me ama, mamãe?”
A mãe responde: "Eu não sei como medir, querido.
Eu amo você tanto quanto cabe no meu coração... Eu não posso amar 
você mais do que isso
"Eu posso”, afirma a criança orgulhosamente.
(Kamini Roy)“Eu te amo exatamente do jeito que você é 
(Billy Joel)
Ame o seu fiího e não o seu comportamento
O que é am ar incondicionalm ente? Aceitar todos os erros? Não 
percebcr os defeitos? Não ter crítica? Não. 0 amor incondicional, esse amor 
dos pais, é o amor que se sente simplesmente porque a outra pessoa é seu 
filho, porque veio de dentro de você ou veio pela adoção, porque você tem 
a responsabilidade e a tarefa de educá-la, de zelar por ela e de ensinar-lhe 
sobre o mundo. O amor incondicional não depende do que o seu filho faz 
de bom ou de ruim. Você o ama porque ele é o seu filho, c isso tem de ficar 
claro para ele.
A gente consegue am ar incondicionalmente quando separa a pessoa 
do comportamento. Nesse sentido não é interessante comparar um a criança 
com a outra. Cada criança e cada filho são únicos. Não podemos confundir
a criança com o que ela faz. Você pode não 
gostar de como seu filho se com portou, 
mas não deve deixar de amá-lo por causa 
disso. Com isso a criança, em qualquer 
circunstância, poderá contar com seus pais.
Eu enfatizo sobrem aneira o afeto e 
o carinho, mas não concordo com a ideia 
romântica e ingênua de que “o amor resolve 
tudo”. Amar incondicionalm ente vai além dc demonstrações de afeto 
e carinho. É um a habilidade dos pais dc m ostrar ao seu filho que seus 
pensam entos c sentim entos podem ser expressos livremente e sem risco 
para o relacionamento. Amar incondicionalmente não é só elogiar, dizer 
coisas boas, presentear, mas é accitar o seu filho, é valorizar as atividades 
e as escolhas que seu filho está fazendo. Parece simples, m as não é.
A gente consegue amar 
incondicionalmente 
quando separa a pessoa 
do comportamento.
Ed u q u e c o m c a r in h o
Geralmente os pais acham que sempre devem interferir nas brincadeiras, 
liderar, mostrar o que acham certo, mesmo nas brincadeiras. Se seus filhos 
chamarem você para uma brincadeira, tente esta posição que chamamos dc 
aceitação: espere que ele comece a brincadeira, deixe-se guiar por ele, use 
expressões verbais e não verbais para mostrar que você está interagindo, 
deixe-o liderar a brincadeira; você até poder dizer: “ O que eu devo fazer 
agora?” Tente não fazer um monte dc perguntas, nem mudar o jeito que 
seu filho está brincando, resolver problemas que ele mesmo pode resolver
L íd ia VV i hi r
ou corrigir o que ele está fazendo. Se você fizer isso, você estará sendo 
intrusivo e não em um a posição dc aceitação. Aceitação c enfatizar para 
o seu filho “eu gostei do jeito que você fez isso” ou saber suas ideias e 
opiniões, “o que você pensa dessa história?”.
Os pais podem achar que am ar demais leva um a criança a ser 
m im ada. Amar demais não existe. Existe superproteger, ser permissivo ou 
ser intrusivo (sufocar), mas isso não é am ar demais. Amor incondicional
é am ar porque a criança é sua filha, sem 
outras contingências, como ser obediente 
ou ser boazinha. Estabelecer regras, limites 
e consequências são outras questões de que 
falarem os a seguir, nos outros princípios 
apresentados. O que se sabe é que quanto 
mais amada um a criança se sente, melhor 
ela aceita as regras c desenvolve am or c 
compaixão pelos outros. Crianças precisam 
saber que são im portantes, que são am adas, que têm valor. É esse o 
conceito do que cham am os am or incondicional. O grande pensador 
William James escreveu, no século 19: “o mais profundo princípio na natureza 
hum ana é o anseio de ser apreciado”. Os pais podem perguntar, “mas, então, 
devo concordar com tudo o que os meus filhos fazem, mesmo quando se 
com portam mal?”. Não é isso. Amor incondicional e aceitação da criança 
não significam ausência dc crítica do comportamento. A tarefa dos pais é 
clarificar expectativas, m ostrar o certo e o errado e ser um espelho moral. 
Mas você deve amar seu filho como ele é e corrigir o seu comportamento. 
Em vez de dizer “você é m uito egoísta”, depois que ele comeu todos os 
biscoitos sem deixar nenhum para seu irmão, você deve dizer “eu não 
gostei que você comeu todos os biscoitos; da próxima vez deve dividir com 
o seu irmão, certo?”. Amar e aceitar o seu filho, ter tempo c investir em 
sua educação, são presentes que você lhe dá a cada dia.
Fortaleça a autoestima do seu filho
Um dos fatores mais im portantes na vida de todas as pessoas é o 
que chamamos de autoestima. O quanto a pessoa sabe valorizar os seus 
atributos, as suas qualidades. A autoestim a é o juízo que cada pessoa tem
Quanto mais amada uma 
criança se sente, melhor 
ela aceita as regras 
e desenvolve amor e 
compaixão pelos outros.
Ed u q u e c o m c a r in h o
cio seu próprio valor, e é absolutam ente fundam ental para o resto de nossa 
existência; se eu reconheço o m eu valor eu posso ir adiante, enfrentar 
frustrações e desafios da vida, não esmorecer diante de dificuldades. 
Desenvolver a boa autoestima da criança é um a das molas mestras das 
atitudes parentais e da escola da atualidade. Mas é um desenvolvimento 
com crítica, ou seja, de nada adianta falar para a criança que ela toca 
piano m aravilhosam ente se ela mal consegue tocar três notas juntas. Os 
pais exercem papel essencial, e essa construção começa na tenra infância.
A autoestim a elevada vem do fato de sermos e nos sentirm os 
amados, especialmente por aqueles que amamos e que cuidam de nós. 
Vem do que chamamos de amor incondicional. Em poucas palavras, o 
seu filho precisa saber que você o ama não importa que erro ele tenha 
cometido ou o quanto você esteja zangado com ele. Isso não é difícil. E 
preciso perceber que, ao contrário do que muitas pessoas m al-hum oradas 
falam, “crianças são más por natureza”, “crianças só dão trabalho”, “você 
deve aproveitar a vida antes de ter filhos”, “crianças provocam os adultos
o tempo todo”, crianças são seres incríveis, c filhos são melhores ainda. 
Você não ama o seu filho porque ele se comporta bem. Você o ama porque 
ele é o seu filho e é único. É claro que apenas isso não basta, por isso o 
livro tem doze princípios. Há outros fatores que favorecem a autoestima, 
como as regras consistentes.
Ter um a au toestim a elevada é saber que você tem um lugar 
único no mundo. O quanto o modo que a pessoa explica o m undo (cm 
psicologia se cham a estilo de atribuição)
está voltado para o seu comportam ento, o i er uma boa autoestima 
seu esforço em fazer as coisas acontecerem. ^ saber que você tem
Por exemplo, um a criança que diz “eu tirei
, um lugar umeo no
nota boa na prova porque eu estudei mostra
um estilo explicativo positivo c otimista e mundo.
boa autoestim a, ou seja, ela entende que
pode conseguir as coisas na vida, se fizer
um esforço. Outra criança pode dizer, “eu estudei, mas tirei nota boa 
na prova porque tive sorte”, ou “porque a professora foi boazinha”. Veja 
que ela não acredita em seu esforço. Cada um de nós precisa ter orgulho 
de si próprio, deve acreditar em si. Deve ser capaz de acreditar que pode 
fazer acontecer. Essa característica é adquirida na infância. Em primeiro
L id ia W eber
lugar são os pais que valorizam o filho, m ostram que ele é importante, 
apresentam consequências boas após seus comportamentos, lhe ensinam 
autocontrole ctc. Esse com portam ento dos pais cria autorregras para a 
criança, que passa a entender o m undo de forma mais fácil, afinal é muito 
melhor ter uma regra que indica que ao estudar ela vai tirar notas boas, em 
vez de ter uma regra de que a sua nota depende da sorte, não c? Pessoas 
com boa autoestim a controlam o seu comportamento, esperam sucesso,
têm tolerância a críticas, têm tolerância às 
frustrações, reconhecem seus pontos fortes e 
fracos, adoram aprender coisas novas e têm 
prazer em viver.
Como já mostramos antes, uma ação 
interessante é ensinar a criança a valorizar
o seu próprio esforço. E ntão diga “você 
tirou n o ta boa em m ate m á tic a porque 
prestou atenção à aula” e não “vocc tirou 
nota boa em matemática porque c bom em 
m atem ática”. O contrário tam bém é verdadeiro, não é bom pensar “eunão sou bom nisso ou naquilo”, é preciso trabalhar e se esforçar para ser 
bom cm alguma coisa. Mesmo ter um talento genético para algo, como o 
ouvido absoluto para a música, por exemplo, só servirá de alguma coisa 
se a criança entrar em contato com a música. Sempre é preciso valorizar o 
processo e o resultado. A famosa frase do pai cujo filho lhe disse que tirou 
9,5, “Mas por que não tirou 10,0?”, é um comentário destrutivo que pode 
deixar a m ensagem de que a criança só tem valor integral se for perfeita, 
se for o máximo, seu resultado é que vale e não o desempenho e o esforço. 
Nunca é demais lem brar que filhos não vêm com certificado dc garantia.
Fortaleça a capacidade 
de resiliência do seu filho
Resiliência tem sido outra palavra-chave da atualidade: é um 
conceito que indica que um a pessoa é capaz de enfrentar e superar a 
adversidade. Resiliência pode ser vista como uma série de habilidades que 
podem ser aprendidas e aplicadas no decorrer da vida. Uma criança que
Todo relacionamento 
é um organismo com 
vida, portanto, é preciso 
alimentá-lo, acalentá-lo, 
fornecer energia, 
todos os dias.
E d u q u i com c a r in h o
possui resiliência c aquela que consegue lidar mais efetivamente com o 
estresse, com os desafios de cada dia, recuperar-se das frustrações, resolver 
problemas e ter expectativas realistas. Pesquisadores têm niostrado que essa 
c apacidade de ser resiliente tem as suas raízes mais profundas na interação 
com os pais que incorporam no seu manejo doses dc empatia, otimismo, 
am or incondicional, capacidade de com unicação ativa e paciência. 
Crianças adquirem resiliência tam bém quando têm os pais enorm emente 
compromissados com ela e podem dizer “eu sou am ada pelos meus pais 
exatamente como eu sou”. Enfim, bons pais significam filhos resilientes.
Crianças resilientes tam bém têm autoestima elevada, autoconfiança 
c’ sabem do seu valor; são socialmente com petentes c têm alto senso 
de autonom ia. Uma criança resiliente - e uma pessoa - possui senso 
de controle sobre a sua própria vida e assume para si mesma o crédito 
pelas coisas boas que conseguiu na vida. São esses fatores associados 
que os psicólogos chamam de “fatores dc proteção”, ou seja, fatores que 
permitem à criança desenvolver a resiliência 
e enfrentar a vida com mais eficácia. Entre 
outros aspectos, não é possível proteger seu
l i lho de tudo e dc todos, o tempo todo. Uma 
criança tam bém deve estar preparada para 
,is coisas que podem não dar certo. Amor 
Incondicional e elogios específicos são como 
injeções de autoestima, mas também deve
1 i.iver a crítica construtiva. A criança deverá 
ler doses de frustração e de modelos dos 
p.iis de como enfrentar o estresse c as coisas difíceis. Não é você quem vai 
protegê-la a vida toda, mas é a criança que deve desenvolver esta capacidade. 
Você pode ajudar seu filho a refletir sobre seu com portam ento e seus 
sentimentos, “você pegou o carrinho do seu irmão c acabou quebrando-o, o 
que vocc acha disso?”. Ao ajudar um a criança a se preocupar com a própria 
•uilorrcflexão, você estará contribuindo para a construção de uma eficácia 
pessoal emocional. Ou seja, em vez de se preocupar excessivamente com a 
opinião dos outros, passará a refletir e avaliar seu próprio comportamento 
c ter uma visão crítica sobre si mesmo.
Uma criança que possui 
resiliência é aquela que 
consegue lidar mais 
efetivamente com o 
estresse, com os 
desafios de cada dia.
L id ia W eber
❖ Todo filho é único e especial e não deve ser comparado com outros.
❖ Você ama o seu filho pelo que ele é; assim, a demonstração de amor 
deve ser independente do comportamento da criança. Portanto, não 
é necessário esperar que ela se comporte bem para demonstrar 
o seu amor.
❖ Procure demonstrar o seu amor com gestos de afeto, com 
expressões faciais positivas, com contato físico, palavras 
significativas, qualidade de tempo, presentinhos especiais como 
cartões carinhosos, montagem de fotos, livro de memórias, gestos 
surpreendentes: construa uma cabana com cobertores, deixe-os 
brincar na chuva, escreva bilhetes e coloque na sua lancheira, 
coloque seus desenhos em lugar de destaque da casa, tire muitas 
fotos, tenha momentos exclusivos de vocês.
❖ Participe sempre de ocasiões especiais, como festas na escola, 
apresentações.
❖ Cada filho é um presente, celebre a vida do seu filho. Aniversários 
não precisam ser festas esplêndidas, mas devem ser muito 
comemorados e ter o significado de mostrar como a família está 
feliz pelo nascimento daquela criança.
❖ Não rotule a criança, “você é tão desastrado” , “você é muito 
egoísta” , mas fale do comportamento dela.
❖ Ensine responsabilidade e compaixão aos seus filhos com 
oportunidades em que podem ajudar os outros.
❖ Ame seu filho pelo que ele é e não pelo que ele faz. Não se deve 
falar - nunca mesmo! - “eu gosto de você quando você tiras notas 
altas” (ou qualquer outro bom comportamento), mas sim “eu gosto 
quando você tira notas altas” .
❖ Faça um mural de fotos da sua família; perceba as diferenças em 
cada idade, cada fase da vida; escreva uma frase sua em cada retrato; 
recorte as fotos e faça uma montagem pessoal de sua família; 
observe cada detalhe de cada pessoa. Divirta-se. Ame simplesmente.
❖ Faça uma lista de coisas positivas de cada membro da sua família, 
incluindo você mesmo.
❖ Descreva situações em que você conseguiu expressar o seu amor 
por seus filhos e que eles se sentiram verdadeiramente amados.
❖ Da mesma forma, não é possível dizer, nunca, “você se comportou 
mal e eu não gosto mais de você” . Você deve dizer “eu não gostei do 
que você fez” . Lembre-se que a criança tem os pais como expressão 
máxima de afeto e o que eles dizem pode ser realmente muito 
marcante para ela.
Ed u q u e c o m c a r in h o
‘‘Nós não herdamos a sabedoria; é preciso descobri-la por nós mesmos por 
meio de um Irajeto que ninguém pode fazer por nós ”.
(Mareei Proust)
“Crianças tendem a viver de acordo com o que você acredita delas 
( Lady Bird Johnson)
Temperamento, aprendizagem e sociedade influ­
em em nosso comportamento
A ntes dc tudo é p reciso con h ecer os p rinc íp io s básicos do 
com portam ento , da aprendizagem e do tem peram ento e en tender o 
papel dos pais na educação dc uma criança. A Psicologia nos m ostra que 
existem três grandes fatores que influenciam o nosso comportamento: 
a herança genética e todos os com portam entos que temos como um a 
cspécie; a aprendizagem que vivência mos a partir do m omento em que 
nascemos (nossa história dc vida) e as influências culturais presentes em 
cada sociedade cm que se vive. As pessoas gostam de invocar os genes 
grande parte das vezes quando não conseguem explicar m uito bem o 
com portam ento de um a criança. Herança genética é im portante e traz 
informações sobre algumas probabilidades, tendências e sobre aspecto 
físico. É preciso saber que nem tudo o que está presente ao nascimento 
é genético, ou seja, podem existir alterações que ocorreram na vida 
intrauterina.
Saber o que de fato é genético c o que é aprendido ainda gera muita 
polêmica, mas atualmente parecc ser um a pergunta sem resposta completa. 
O mais im portante é saber o “quanto” de cada comportamento tem de 
genético e quanto vem da aprendizagem. E essa também é um a resposta 
que, embora difícil, tem-se tentado buscar. Talvez o mais im portante seja 
saber que, obviamente, sempre existirá uma interação entre hereditariedade
c ambiente, mas neste livro apresentaremos os princípios da aprendizagem. 
O que a história c a hereditariedade mostram é que a infância tem uma 
lunção muito importante e não devemos ser muito apressados com os 
nossos filhos. O desenvolvimento cerebral ocorre até perto dos 30 anos de 
vida c a espécie humana tem justamente a infância mais longa entre todas 
«is espécies porque somos seres sociais. Precisamos dc adultos que guiem 
nossos passos por um bom tempo. Assim, a eficácia dos pais, nas práticas 
educativas utilizadas,e a interação entre pais e filhos são dc extrema 
importância.
Há pesquisas que mostram a influência dos genes sobre alguns 
aspectos do comportamento. Por exemplo, a introversão parccc estar 
associada à herança genética, pois algumas pesquisas apontam que pode 
ser identificada com poucos meses de vida. No entanto, lembre-se - e as 
mesmas pesquisas indicam - biologia não é destino! Um bebê pode ter
Ed u q u e c o m c a r in h o
L id ia W eber
tendência à timidez, mas se tiver um ambiente favorável, um a família que 
o incentive, modelos adequados de habilidades sociais, não será tímido, ou 
essa tendência genética não será tão im portante para o seu desempenho 
social. E o contrário tam bém é verdadeiro. O mesmo pode acontecer com a 
depressão. Atualmente sabe-se que ela tem um a parcela devida à herança 
genética. Mas há pessoas que têm essa herança e não ficarão deprimidas 
e há pessoas que não têm essa herança e terão depressão. Um bebê tem 
competências inatas que serão moldadas na interação com os adultos. 
M esmo um traço objetivo como o “ouvido absoluto” para a m úsica, 
uma capacidade de identificar tons sem qualquer referência, tem de ser 
acompanhado de muito treinam ento. Há pessoas que nascem com este 
traço, mas crianças que iniciam o treinam ento musical antes dos quatro 
anos podem desenvolver este talento.
Perceba que os bebês são muito parecidos uns com os outros, mas 
m esm o assim há diferenças notáveis en tre eles. Com mais idade, as
diferenças entre as crianças passam a ser
Biologia não é destino! im pressionantes, é só você olhar para os
amiguinhos dos seus filhos: magros, gordos, 
loiros, m orenos, bons em m ate m á tic a , 
bons em algum esporte, ficam em recuperação, tiram dez em tudo, são 
bem comportados, carecem de certas habilidades sociais, são instáveis 
c incoerentes, às vezes são gênios no xadrez, mas precisam de luz acesa 
para dormir. Muitos desses comportamentos são frutos de como os pais 
interagiram com essas crianças. É claro que não podemos moldar uma 
criança a nosso bel-prazer e, sem dúvida, existem fatores genéticos, e, entre 
eles, está justam ente o fato de o comportam ento ser o que os cicntistas 
cham am de “adaptativo”. Isto significa que a principal característica do 
comportam ento é a sua plasticidade, flexibilidade, a incrível capacidade 
do cérebro hum ano de adaptar-se, de mudar.
Com isso não estou dizendo que as variáveis neurobiológicas ou 
genéticas não são importantes, mas, para a nossa análise, elas não são 
necessárias para entender como o ambiente influencia o comportamento 
das pessoas. Desta forma, vou focar a análise no meio que nos cerca, no 
que aprendemos, pois a m aneira como aprendemos as coisas no dia a dia 
e como são as pessoas que nos cercam têm extrema importância, um a vez
Ed u q u e c o m c a r in h o
que agem sobre como a herança genética vai se apresentar. Se na parte do 
aspecto físico isso já é complicado de saber, com a parte comportamental é 
mais ainda. Dizer que um a criança que agride e fala palavrões para todos 
herdou o gênio do seu pai não é útil e nem explica o seu comportamento, 
além de não existirem genes para “falar palavrões”. Esta criança aprendeu a 
lazer isso. Não existe mapeamento total e nem garantias de fabricação. Um 
bebê pode ter mais sensibilidade à estimulação e ter um sono mais irregular, 
inas o modo como a família vai agir com ele (mais ou menos calmamente) 
também vai determinar como ele vai regular o seu sono. Então, em verdade, 
existe um a grande m istura dc aspectos genéticos e ambientais. E o que 
sabemos com certeza é que a família, o modo de criação dc um a criança é 
absolutam ente fundam ental para o seu desenvolvimento e para o seu jeito 
de ser. Os pais influenciam os valores, os comportamentos, as habilidades, 
os gostos etc. Nenhuma criança se cria sozinha. Somos moldados e pintados 
com as cores daqueles adultos que nos cercam.
Assim, podem existir algumas características tem peram entais que 
acabam sendo reforçadas pelo ambiente, isto é, a criança acaba procurando 
o que recompensa determinado comportamento. Pesquisas m ostram que 
os bebês são diferentes entre si. Há aqueles que dormem a maior parte co 
tempo e são calmos, outros choram e são 
facilmente irritáveis. Mas o que m ostram 
os estudos é que isso tam bém determ ina 
como as pessoas ao seu redor agem com 
eles. Então um bebê que chora muito c uma 
mãe insegura e estressada vão fazer uma 
com binação diferente de um bebê calmo 
com uma mãe que conhece o comportamento 
dos bebês c tem segurança no que faz,
11,10 é? Há pesquisas que dem onstram que 
certas características individuais da criança 
tam bém influenciam como o am biente e 
.1 s outras pessoas se comportam com essa 
t liança. Os pesquisadores atuais falam em pelo menos três tipos de 
temperamento: a criança fácil, a criança lenta ou tímida e a criança difícil. 
Mas, como você se comporta diante do seu filho? Há outros aspectos que 
influenciam o modo como os outros agem com a criança. Por exemplo, 
crianças com características mais femininas podem ser consideradas mais
A maneira como 
aprendemos as coisas no 
dia a dia e como são as 
pessoas que nos cercam 
têm extrema importância 
uma vez que agem sobre 
como a herança genética 
vai se apresentar.
L id ia W eber
fracas ou dependentes. Estudos longitudinais não têm encontrado grandes 
correlações com padrões de comportamento identificados com um mês de 
vida c cm anos posteriores. Isso significa que inicialmente a biologia é um 
fator im portante, mas depois a ação do am biente tem a maior influência, 
e nisso estão presentes o que se chama de “práticas parentais”, como você 
educa o seu filho, como age com ele, como demonstra os seus valores. É 
esse lado que vamos enfatizar neste livro.
A aprendizagem é a maneira pela qual todas as pessoas interagem com
o seu ambiente c tam bém são modificados por este ambiente. Não existe 
só a biologia ou apenas o ambiente na vida das pessoas. A aprendizagem 
está entrelaçada com a herança genética de gerações anteriores, com o 
seu desenvolvimento, e selecionando comportamentos que constituirão o 
repertório comportamental da pessoa. A genética tem importância, mas 
mesmo diferenças muito pequenas na arte de educar os filhos trazem efeitos 
impressionantes no comportam ento futuro.
Aprenda a definir e analisar comportamentos
Em prim eiro lugar, preciso que você en ten d a o que significa 
com portam ento. Com portam entos são atos, reações, falas, emoções, 
sentimentos, pensamentos, ou seja, toda ação (observável ou não) de uma 
pessoa com relação ao seu ambiente. Comportamentos não existem no vácuo, 
mas sempre em relação ao ambiente, que pode ser qualquer evento físico
ou social capaz de afetar uma pessoa. Assim, 
com portam ento não é apenas um a ação, 
mas m últiplas relações entre antecedentes 
e consequentes. É preciso então, aprender 
a definir com portam entos em relação ao 
ambiente em que eles ocorrem. Aprenda a 
definir melhor o que o seu filho faz, ou seja, 
descrcva o comportamento dele e o que ocorre 
antes e depois e não use simplesmente rótulos 
que de nada adiantam . Por exemplo, dizer 
“meu filho é nervoso”, ou “m inha filha chora m uito”, revela m uito pouco 
sobre o que eles realmente fazem. É preciso saber: o que ele faz quando você
Devemos prestar atenção 
ao que vem antes 
(antecedente) e depois 
(consequente) de um 
comportamento, pois tais 
eventos o controlam.
Ed u q u e c o m c a r in h o
acha que ele está nervoso? Em que momento ele faz isso? Que atitudes você 
toma quando ele faz isso? Em que situações clc faz mais vezes? Ele faz na 
sua presença ou na presença de qualquer pessoa? Quantas vezes ele faz 
isso por semana ou por mês? Entendeu o que c definir comportamento? É 
saber o que significa o comportamento e não um rótulo, o que vem antes e 
depois dele, e em que situações ocorre esse comportamento.
O comportamento pode ser observável c não observável.Escrever 
c um comportamento observável, todos podem ver alguém fazendo isso. 
Sentir dor ou sonhar é um comportamento não observável, ou seja, não 
pode ser visto por outra pessoa. Quero chamar a atenção para o que se 
chama de interação entre com portam ento
e ambiente. A Psicologia nos ensina que o Vl_ , , , . ,, r , Nao e possível isolar
comportamento e função do ambiente, isto
, . . r, . , , o fato de uma criancae, o com portam ento e influenciado pelo
ambiente, pelas consequências apresentadas fazer manha; os pais
pelo am b ien te . Assim, devem os p resta r também são parte deste 
atenção ao que vem antes (antecedente) e comportamento,
depois (consequente) de um comportamento, 
pois tais eventos o controlam.
Por exemplo, Sofia, de seis anos, tem estabelecido o horário de dormir 
às 21h. Ao chegar esse horário, a mãe avisa, mas Sofia diz que está sem 
sono e não quer dormir. Os pais insistem para que ela vá para a cama. Ela, 
então, começa a chorar c a dizer que quer ficar mais um pouco e que se eles 
gostarem dela vão deixar. Os pais, que estavam assistindo a um filme e não 
querem ter mais problemas, acabam dizendo, “está certo, mais meia hora”.
0 que veio antes do comportamento de chorar da criança foi o aviso da mãe 
sobre o horário, denomina-se antecedente. Chorar foi o comportamento 
da criança. Depois do comportamento, foi apresentado o consequente, a 
permissão dos pais para ela ficar mais meia hora acordada. Veja que Sofia 
iccebeu uma recompensa depois de ter chorado, logo, aprendeu que pode
1 horar e fazer m anha para conseguir o que quer. Da próxima vez, haverá 
maior probabilidade de cia chorar para conscguir algo que deseja. Os pais 
lambem ficaram aliviados porque o choro parou e puderam assistir ao 
111 me sem perturbação. É uma rede complexa de situações. Isso é analisar o 
comportamento cm relação ao seu ambiente. Veja que todos estão envolvidos; 
não é possível isolar o fato de uma criança fazer manha; os pais também são
L__________ _ □
L íd ia Wi iíi r
parte deste comportamento. Ela poderia fazer outro comportamento, mais 
sedutor, dizer "m ãezinha c paizinho, vocês são tão bonzinhos, deixem eu 
ficar mais um pouquinho, só hoje, tá?" Também não deve cair nessa, pois 
você vai recompensar um comportamento de manipulação! Nas próximas 
páginas, você verá que regras existem para serem cumpridas; se as regras 
não funcionam, pode-se mudá-las, mas não se deve burlar as regras.
Se não sabemos analisar como um a criança adquire determinado 
co m p o rtam en to , podem os d e fin ir a criança com certos traços de 
personalidade. Sofia é m anhosa, Pedro é bonzinho, Aleksander é teimoso. 
Se Sofia continuar a receber tais consequências pelo seu com portam ento 
de m anha, apresentará cada vez com maior frequência tal comportamento! 
Assim, as pessoas podem dizer que Sofia tem um a "personalidade" 
m anhosa, mas o que de fato acontece é que "personalidade" não é algo 
que alguém "tem ", apenas um a descrição resum ida de um padrão estável 
de com portam ento. Cada pessoa é o que faz, e, portanto, personalidade 
é o repertório único de com portam entos que um a pessoa adquire sob 
condições especiais do seu desenvolv im ento , que incluem fatores 
fisiológicos e ambientais.
Entenda como uma criança chega 
a se comportar de maneira errada
Pesquisadores americanos do Oregon Learning Center têm estudado 
este tema há décadas e têm muito a nos ensinar. Eles classificam cm quatro 
estágios básicos a aprendizagem do comportamento antissocial: estágio 1 
é o treinam ento básico; no estágio 2, o ambiente social reage; no estágio 
3, ocorre o agrupam ento com colegas semelhantes e o desenvolvimento 
dc habilidades antissociais e, no estágio 4, será trajetória do adulto com 
história antissocial.
Geralmente os episódios de birra têm um início muito cedo na vida 
dos pequenos e vêm de episódios dc frustração. Sc a sua linda menina 
de dois anos pegou o celular do papai e começou a apertar os lindos 
botõezinhos, o que você vai fazer? Vai tirar o celular dc suas mãozinhas 
e colocá-lo cm um lugar inacessível dizendo-lhe que “não pode mexer”. 
Ela estava se divertindo e não vai gostar. Pode arm ar o maior berreiro,
Ed u q u e c o m c a r in h o
com lágrimas pulando dos olhinhos, ou gritar e se jogar no chão. Nesse 
momento, usar a estratégia “ignorar” é a melhor solução. Mas você deve ter 
firmeza, não ceder, não bater, não gritar e nem discutir ou argum entar com 
a criança. Saia de perto senão conseguir se controlar. Sem plateia, os atores 
não atuam. Se você não conseguir resistir c ceder, estará instalado o primeiro 
degrau do que a Psicologia chama de aprendizagem do comportamento 
coercitivo. Da próxima vez a criança apresentará o mesmo comportamento 
quando quiser alguma coisa. Veja este exemplo de diálogo entre mãe e filha 
de sete anos:
- Guarde o seu material escolar.
- Estou vendo TV agora.
- Filhinha, guarde, não seja irresponsável.
- (choram ingando) Ah, m as agora está tão legal o desenho. G uar­
de você!
- Filha, pegue e guarde, é a última vez que eu falo!
- (gritando) Eu não vou pegar, pegue você!
A mãe guarda o material e diz:
- Espere o pai chegar, você vai ver só, sua bagunceira irresponsável...
A mãe esperou que ela elevasse a voz e então cedeu ao compor­
ia mento e guardou o material. Esse é o protótipo de uma criança mimada, 
sem limites e que faz birra. Ela se tornará uma criança desagradável, de 
quem as pessoas se afastarão ou a quem deixarão que faça tudo para que 
lhes dê um pouco de sossego. Isso pode ocorrer até mesmo com os pais, 
que deixam a criança mais solta ou perm item que ela faça o que quiser 
para não ouvir os choros, gritos ou outros comportamentos como m entir 
r ameaçar. Desta forma, os pais deixam de lado a m onitoria e a criança 
pode, futuram ente, apresentar sérios problemas de comportamento. Com 
mais idade, na época escolar, as outras crianças não gostarão de brincar 
com cia e poderão rejeitá-la. Acabará por se juntar a colcguinhas que sejam 
Como ela, podendo intensificar esse comportam ento antissocial. Os pais 
leiulem a deixar essa criança mais de lado, pois tam bém não suportam 
llcai m uito tem po com ela, c o ciclo continua. Pesquisas m ostram que 
ciinnças com com portam entos agressivos, ou rejeitadas pelos colegas, 
tefldem a en tender que a agressão é um a boa m aneira para resolver
L id ia W eber
problemas e tendem mais a ver o comportamento de outros com o hostil: 
por exemplo, leva uma bolada nas costas e acha que foi de propósito. Sc 
a criança continuar com esse comportamento, ao chegar à adolescência 
poderá ter claramente comportamentos antissociais (enganar, mentir, 
roubar, destruir, agredir ctc.), pois não aprendeu autocontrole, não aprendeu 
a ter tolerância à frustração e acha que pode fazer qualquer coisa para ter 
o que deseja. Em vez de desenvolver habilidades pró-sociais para obter o 
que deseja, esta criança aprendeu a desenvolver habilidades antissociais. 
Rejeitada pelos colegas, certamente se juntará àqueles que são como ela, 
formando aquelas turmas que ninguém suporta. Por isso, resista fortemente 
aos primeiros ataques de birra e não ceda jamais.
Aprenda a entender a função 
de determinado comportamento
Depois de definir o comportamento, é preciso perceber a função de 
determinada ação do seu filho. Isso quer dizer que você sempre deve se 
perguntar “em que condições” a criança aprcscnla um comportamento e 
não “ por que” ela o faz. () seu lilho de quatro anos bate na babá quando
ela quer levá-lo a trocar de roupa. Por que ele 
faz isso? É para chamar a sua atenção? É um 
comportamento correto para lhe dar atenção, 
ou seja, c pró-social, ou não é adequado, mas 
você dá atenção do mesmo jeito? Ele faz isso 
simplesmente para explorar o ambiente? 
Faz sem querer? É para testar você? É 
curiosidade? Ele está cansado c com fome? 
Onde ele aprendeu esse com portam ento 
de bater? Veja que podem existir muitas 
causas para um mesmo comportamento c, portanto,não é possível sempre 
dar a mesma explicação, ou colocar todos em um mesmo caldeirão, pois 
até um mesmo tipo de comportamento pode ter diferentes motivações e 
consequências em diferentes momentos.
Aprenda a registrar o comportamento durante certo tempo. Isso 
significa saber o número de vezes em que a criança apresenta aquele
Um mesmo tipo de 
comportamento pode ter 
diferentes motivações 
e consequências em 
diferentes momentos.
Ed u q u e c o m c a r in h o
comportamento e em que situações. O que os outros membros da família 
fazem antes e depois que aquele comportamento é apresentado pelo seu 
filho? Você acha que o seu filho fala palavrões “o dia todo”? Registre para 
ver se isso é mesmo verdade, se aum enta em determinados horários do 
dia, ou na presença de um a determinada pessoa. Somente definindo o 
comportamento, sabendo quantas vezes ele ocorre c em que situações é 
que você pode programar uma estratégia para mudá-lo. Primeiramente, 
c preciso saber sob quais condições e não “por quê?”. Se você conhecer as 
condições, poderá inclusive prever o comportamento. Se quando o seu filho 
está cansado e você o leva ao supermercado ele inevitavelmente faz uma 
cena, então não o leve nesta situação. Saber “em que condições” ocorre 
um determ inado com portam ento faz com que não mais seja utilizada 
a “explicação circular”, que é aquele que gira em torno dela m esm a. 
Ilxemplo: o m eu filho é agressivo. Por que ele é agressivo? Ele é agressivo 
porque bate nos seus amiguinhos. Por que ele bate nos seus amiguinhos? 
Porque ele é agressivo. Nada se explica, nem em que situações ocorre esse 
comportamento, nem o que acontece antes e depois de tal comportamento, 
(Mi lão o “agressivo” virou um a explicação da “personalidade” dele. Não é, 
('le aprendeu a fazer esse comportamento, precisamos entender como e 
por que ele ainda continua a fazê-lo. A criança até poderá mudar, mas o 
rótulo que você tem dela vai confirmar tudo o que ela fizer e você poderá 
nem perceber a mudança.
♦> Genética não é destino! Seu filho pode ter os olhos da mãe, 
o queixo da avó e os cabelos do pai, mas são os pais que o 
educam e com quem ele aprenderá a ser habilidoso socialmente, 
ter comportamentos altruístas, ter autoconfiança, respeitar os 
outros etc.
❖ Características físicas e comportamentais da criança influenciam 
em como os pais agem com ela.
❖ A maneira como os pais agem com a criança desde o nascimento 
vai influenciar o seu comportamento.
Descreva o que o seu filho faz em termos de comportamentos 
(quanto, onde, como, de que maneira) e não de rótulos de 
“ personalidade” .
Verifique o que as pessoas fazem antes e depois do comportamento 
do seu filho e analise se o comportamento está sendo reforçado, 
ignorado ou punido.
Não ceda e nunca recompense um comportamento negativo como 
a birra, a manipulação, os gritos, a agressão.
Escolha algumas fotos da sua família, dos seus filhos e faça uma 
colagem divertida, assinalando quem é parecido com quem. Pegue 
fotos da sua infância. Alguns vão ser muito parecidos, outros muito 
diferentes, mas não é isso que importa, não é? Importa é o quanto 
vocês se amam.
Pegue um papel e escreva os comportamentos do seu filho que 
você acha que precisam ser modificados. Em seguida, defina o 
comportamento: o que ele realmente faz? Observe por alguns dias 
e registre todos os momentos em que ele faz este comportamento 
durante uma semana. Perceba o que você e as outras pessoas fazem 
antes e depois deste comportamento dele. Que consequências 
(positivas ou negativas) o seu filho recebe depois que fez este 
comportamento? Perceba que função pode ter este comportamento, 
isto é, uma criança faz manha porque está doente ou porque quer 
chamar a atenção do seu pai que nunca fica com ela quando está 
em casa. Faça isso com cada um dos seus filhos.
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üncípio 3 - Conhecer o desenvolvimento 
DE UMA CRIANÇA
In fância
Um goslo de amora 
comida com soi. A vida 
chamava-se “agora ”.
(Guilherme ie Almeida)
Resgate a infância
A primeira questão que devemos entender é que os papéis de mãe 
e de pai ajustam -se a cada idade da criança, assim como se ajustam à 
época. É um processo dinâmico. M antenha suas expectativas de m aneira 
realista e entenda algumas questões que fazem parte da idade do seu filho. 
Por exemplo, até os quatro anos, mais ou menos, a criança não faz m uita 
diferença entre m entir e não mentir. Ela até pode achar que os desenhos 
da TV são seus amigos ou que podem sair da tela a qualquer momento. Sc 
a parede está pintada de vermelho e ela diz “não fui eu", nem sempre é 
uma m entira no scntico que os adultos entendem. Não grite nem brigue, 
mas aponte a verdade gentilm ente: “veja,
você está com o giz de cera vermelho cm sua Um pouco de bagunça . 
mão...”. Sc o mais velho está mentindo, tente
normal na infanda.conversar com ele e entender por que isso 
ocorre. Ele tem medo das consequências? 
listá envergonhado? Certa mãe relatou que
seu filho dc seis anos trazia frequentes bilhetes do colégio, solicitando sua 
presença para conversar com a orientadora. E ela, cansada, lhe disse que 
"da próxima vez que você trouxer um bilhete, você vai ficar sem sair para 
brincar por três meses 2 eu vou te bater dc cinta”. Aí um dia ela encontrou 
um bilhete do colégio no lixinho do banheiro, nem amassado estava... Ou 
seja, ela apresentou ameaça dc tão terríveis consequências que não havia
41
I II)lA Wl III R
mesmo outro jeito a não ser dar fim no bilhete... Nós queremos educar 
ou ameaçar? A criança deve aprender o que fazer e assumir os erros ou 
ter medo?
E preciso entender que um pouco de bagunça é normal na infância. 
Crianças que aproveitam ao máximo o seu desenvolvimento têm famílias 
que lhes ensinam os princípios claros, mas também sabem que perfeição 
não existe c que crianças são crianças! Tomando consciência disso, os 
pais também podem aprender a relaxar um pouco mais, a se divertir mais 
com os filhos e não temer “ o que os vizinhos vão dizer” se houver um 
pouco de louça suja na pia. Por outro lado, se a sua casa é completamente 
desestruturada em questão de horários, limpeza, organização, então este
será o modelo para seus filhos; é preciso haver ordem e regularidade para 
educar um a criança.
Alguns comportam cn:os das crianças não servem para provocar 
os adultos, mas fazem parte da fase, ou da falta de habilidade motora da 
criança cm certo momento. Por exemplo, bebês cospem a comida e ainda 
riem com isso; jogam o prato no chão só para ouvir o barulho, apertam a 
pasta de dentes, gostam de jogar coisas só para vê-las cair, adoram lamber os 
dedos, derrubam suco na roupa c sujam a roupa ao brincar... Eu sempre me
Ed u q u e c o m c -x r in iio
L íd ia W ehfr
assusto quando chego de surpresa a alguma casa com crianças pequenas no 
m omento em que elas estão lá (tem de ser de surpresa, senão a casa sempre 
estará arrum ada para “visitas” ) e vejo o quarto das crianças absolutamente 
arrum ado, cada jogo cm sua caixa, cada boneca em seu lugar, o quarto 
mais parece um a loja de brinquedos e não um quarto de criança! Um 
pouco dc bagunça é normal! Gosto quando chego a uma casa c há uma 
barraca dc cobertores m ontada em plena sala de estar! Gosto ainda mais 
quando vejo m uitas fotos dos pais em situações inusitadas e participando 
junto com os filhos. É claro que esse fator é um desses “valores” que você 
deve decidir o quanto ele c im portante para você e o quanto ultrapassa 
o seu limite. Barraca na sala de vez em quando tudo bem, sempre não. 
Ou ccrta bagunça no quarto tudo bem, mas sujeira não. Lembro de
u m film e (Lances Inocen tes) sobre um 
m enino jogador de xadrez. O quarto dele era 
realm ente bagunçado! Daqueles em que não 
se podia pisar antes de dar um a boa olhada 
no chão. Depois que ele começou com aulas 
dc xadrez e ficou um pouquinho mais velho, 
houve uma mudança radical no seu conceito 
de organização. Mas, o mais interessantedo filme é o respeito com que seus pais o tratavam, nunca forçando, nem 
exigindo que fosse campeão, e foram ate contra as indicações do seu 
mestre de xadrez, que o impediu dc jogar com os jogadores da praça para 
não aprender coisas erradas, embora o menino adorasse fazer isso. A mãe 
ficou do lado do m enino, pois antes que ele fosse um campeão de xadrez, 
ela queria que ele se divertisse.
Às vezes a criança não tem intenção de se com portar mal, mas 
acontece. É como quando a criança está andando dc mãos dadas com 
a mãe pela calçada, tropeça e a mãe a puxa com força e diz “sempre 
desastrado, olhe por onde anda” . Não é horrível? Então, veja bem sc a 
criança não fez alguma coisa pela prim eira vez, c não fez sem querer, sc 
não sabia como agir. Ela não está sempre querendo provocar você. Seja 
um guia, seja o mestre, ensine e não somente julgue e condcne. Lembre - 
-sc que a ideia de “desenvolvimento” indica que ocorrem alguns picos 
em determ inadas áreas, mas isso não c tão rígido quanto sc pensava há 
alguns anos. Não é porque a criança completou sete anos que passará 
inevitavelmente a outro estágio. Depende de toda a sua história de vida.
Às vezes a criança não 
tem intenção de se 
comportar mal, 
mas acontece.
Ed u q u i c o m c a r in h o
Diversas esferas do comportamento podem estar em fases diferentes do 
»|iie se chama de “m aturidade”, isto é, o menino pode ser um campeão no 
lUlebol, mas gostar sempre cio mesmo cobertor amareio para dormir.
(lonheça os comportamentos 
(* as necessidades em diferentes idades
Bebês - precisam de segurança, confiança e amor
O bebê deseja um a coisa na vida, mais do que qualquer outra: 
ientir-se amado e seguro. Ele quer receber cuidado e proteção 24 horas 
jjor dia e quer recebê-los de seus pais ou de outro cuidador que fique com 
lie frequentemente. O bebê hum ano nasce para viver culturalmente. Isso 
significa que ele é, em essência, um ser social e, portanto, precisa estar entre 
outras pessoas que o ensinem a entender o mundo, vem ao m undo pronto 
para estabelecer um vínculo de apego com o seu cuidador. Se os pais ficam 
menos tempo com ele, ou o tempo de qualidade não é tão bom quanto o 
tln babá, ele se apegará mais à babá. Em outras palavras, o bebê já nasce 
Jirontinho para ser amado e para amar quem cuida dele.
O bebê gosta de ser levado para passear, para ver outras pessoas e 
outros estímulos e cores do mundo. Isso estimula a sua curiosidade. E gosta 
de mamar no peito. Há inúm eras pesquisas que m ostram as vantagens de 
sei amam entado, além de auxiliar na vinculação afetiva entre mãe e filho. 
No comecinho de sua vida ele dorme a maior parte do tempo, mas tem 
ílrzenas de reflexos. Bebês pequeninhos gostam de ser pegos no colo e 
vêm prontos para isso, pois até enxergam melhor a um a distância de 20cm, 
IK.itamente a distância do colo de alguém e cio seu rosto... Eles gostam de 
lOtina: é bom ter horários para dormir e para comer.
O bebê hum ano é diferente dos bebês de outras espécies; é mais lento 
Mo seu desenvolvimento, pois seu cérebro deve se preparar para atividades 
bem mais complexas, que envolvem pensamento c emoções. Há algumas 
hl relas que não adianta tentar antes, tal como tirar a fralda, é só por volta 
ilns dois anos de idade que a criança começa ter algum controle. Se você 
çnmeçar antes, vai estressar o bebê, e a si próprio, sem necessidade, e vai 
levar mais tempo para chegar ao objetivo final.
L íd ia W i ui r
O bebê vem sim com um a carga genética, mas os pais são seu 
prim eiro espelho para o m undo. Um experim ento am ericano m ostra 
essa questão claram ente. Um bebê é colocado em cima dc um grande 
tabuleiro de dam as c, na outra ponta, é colocado um brinquedo para 
atraí-lo. O bebê engatinha pelo tabuleiro até que percebe que a textura 
do solo é diferente, pois agora é um vidro transparente que m ostra o 
tabuleiro em profundidade. O bebe para, assustado, pois a sensação é dc 
estar diante de um precipício. Sua prim eira reação é virar-se para a mãe; 
se ela faz que “sim ” com a cabeça o bebê continua. Se a mãe faz “não”, o 
bebê m ostra um a facc de medo e ele vira-se c volta atrás. Sem a mãe, ele 
não saberia o que fazer.
Vai levar um longo ano para o bebê adquirir ccrtas habilidades 
m otoras essenciais. Algumas fases são o que se cham a de “vértices 
com portam entais”, como engatinhar, andar e falar, pois possibilitam 
o u tra s ta n ta s re la çõ e s com o m u n d o . G e ra lm en te m e n in a s sc 
desenvolvem um pouco m ais rap idam en te do que os m eninos, mas 
tan to m eninas quan to m eninos têm um desenvolvim ento m ais rápido
q u a n d o b rin cam com seus pais! Mas 
brincar não significa querer pular etapas 
ou fazer com que a criança ande com seis 
m eses de idade. Quando o bebe atinge 
certos estágios, quer experim entá-los o 
tempo todo: balbucia sem parar, engatinha 
para todo lado, quando fica cm pé c anda, 
levanta e cai mil vezes por dia. Logo, a casa 
deve estar protegida para cie. O bebê não 
tem como saber que a tomada é perigosa c não vale a pena arriscar sua 
integridade física e ficar estressado gritando “não” o dia todo. Assim, 
p ro te to r na tom ada. P ro tetor dc cantos de m esa. Coloque no alto 
os cristais antigos que ganhou da sua avó; portãozinho na porta da 
cozinha c nos vasos dos banheiros. Nesta fase, toda atenção é pouca!
Os bebês conseguem se com unicar m uito antes de aprenderem a 
falar. Na realidade, o seu corpo todo fala. Com cinco meses já começam 
a brincar com a própria imagem no espelho. A fala vocal começa assim 
que ele nasce. Pesquisas m ostram que bebês com poucos dias dc vida 
conseguem diferenciar os sons dc um a língua dos sons de outra c preferem
O bebê deseja uma coisa 
na vida, mais do que 
qualquer outra: sentir-se 
amado e seguro.
Ed u q u e c o m c a r in h o
,i língua que seus pais falam. Dos seis aos doze meses, começa a falação 
dos monossílabos, “pá-pá”, “nê-nê”. Bebês tam bém sorriem, choram , 
sentem emoções, enfim. O sorriso nos cativa c aproxima, mas o choro, que 
pode chegar a ter mais de 80 decibéis (uma britadeira!), também faz com 
que o adulto se aproxime c faça de tudo para parar com aquela tortura 
auditiva! O bebê adora brincar com os sons que ele mesmo produz c adora 
brincar dc “esconde-esconde”: ele tampa o rosto e acha que está escondido!
❖ Adoram pegar, lamber, chupar e morder o que podem alcançar, 
portanto, cuidado com a limpeza.
❖ Olho no olho, o bebê adora e começa a captar mensagens e 
emoções.
❖ Adoram móbiles e descobrem que podem comandar o mundo 
batendo neles com os pés e fazendo-os se movimentar.
❖ Aos quatro meses já agarram o que querem e se viram, não podem 
ser deixados sozinhos em lugares altos.
❖ Esticam os braços quando querem colo aos seis meses e enxergam 
como um adulto.
❖ Começam a balbuciar aos seis meses; fale muito com o seu bebê.
❖ Converse e toque o seu corpo, massageie, ria para ele.
❖ Adoram e precisam brincar: divirta-se com eles, farra no 
banho, canções de ninar e de brincar, converse, movimente- 
-se, "cadê? Achou!".
❖ Passeie ao ar livre e mostre tudo.
L id ia W eber
1 e 2 anos: bebês que andam e falam 
- precisam explorar o mundo
A questão mais im portante para esta criancinha c sentir que é 
competente e ter autoconfiança a partir do amor e da proteção de seus pais. 
Sempre, nesta fase, vai existir certo conflito entre a segurança que a criança 
precisa e a autonomia que ela almeja.
O bebê que começa a andar e a falar é um guerreiro tentando 
conqu istar o m undo. Essa criancinha prccisa m ostrar aos outros e 
a si própria que pode, que tem o poder, que sabe e que faz; está em 
aprendizagem ininterrupta. Sobe, alcança, pega, puxa, grita, empurra, fala 
não. Geralmente as pessoas enfatizam o negativismo, a fase “terrível”, mas 
também é um a fase maravilhosa, como qualquer outra. O seu negativismo 
pode ser considerado um grito de independência, mas os pais, como 
“governo”, devem estar sempre por perto, como

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