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A Autoestima Do Seu Filho (2002, BRIGGS, Dorothy Corkille)

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Prévia do material em texto

A AUTO-ESTIMA DO SEU FILHO 
Dorothy Corkille Briggs 
 
Material destinado às pessoas com deficiência visual, não podendo ser utilizado com fins 
comerciais. 
 
Tradução 
Waltensir Dutra 
Revisão da tradução 
Silvia Giurlani 
 
Martins Fontes 
São Paulo 2002 
 
CONTRACAPA “Uma semana depois de minha esposa e eu decidirmos começar uma 
família, entramos numa livraria e compramos dois livros sobre como educar filhos. Por 
uma série de razões os dois filhos só nasceram seis anos depois e acabamos lendo não dois, 
mas 36 livros. Se dependesse de teoria, estávamos preparados. Hoje eles estão crescidos e 
um amigo me perguntou que livros nós havíamos utilizado mais. Foi uma boa pergunta a 
que demorei a responder. Usamos um livro só, um que educava mais os pais do que os 
filhos. Intitula-se A Auto-estima do seu Filho, de Dorothy Briggs, e o título já diz tudo.” 
Stephen Kanitz (Veja, 24.04.2000) 
 
A tradução desta obra for publicado originalmente em português com o título “Criança - O 
desenvolvimento da auto-confiança” 
Título do original: YOUR CHILD SELF-ESTEEM. 
Publicado por Doubleday & Company, Inc., Nova York. 
Copyright © Dorothy Corkille Briggs, 1970 
 
Copyright © 1986, Livraria Martins Fontes Editora Ltda., 
São Paulo, para a presente edição. 
 
1ª edição abril de 1986 
 
publicada com o título "Criança feliz - O desenvolvimento da auto-confiança" 
 
3ª edição agosto de 2002 
 
Tradução 
WALTENSIR DUTRA 
Revisão da tradução 
Silvia Giurlani 
Revisão gráfica 
Renato da Rocha Carlos 
Rita de Cassia Sorrocha Pereira 
Produção gráfica 
Geraldo Alves 
Paginação/Fotolitos 
Studio 3 Desenvolvimento Editorial 
 
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) 
Briggs, Dorothy Corkille 
A auto-estima do seu filho / Dorothy Corkille Briggs : tradução Waltensir Dutra ; revisão 
da tradução Silvia Giurlani. -3ª ed. - São Paulo Martins Fontes. 2002. 
Título original: Your child self-esteem. 
Bibliografia. 
ISBN 85-336-1608-2 
 
1. Auto-estima em crianças 2. Crianças - Criação 3. Crianças - Desenvolvimento - 
Psicologia infantil 4. Psicologia infantil. I. Título. 
02-3955 CDD- 155.4 
 
Índices para catálogo sistemático: 
 
1. Auto-estima em crianças ; Psicologia infantil 155.4 
 
Todos os direitos desta edição para a língua portuguesa reservados à 
Livraria Martins Fontes Editora Ltda. 
Rua Conselheiro Ramalho, 330/340 01325-000 São Paulo SP Brasil 
Tel. (11)3241.3677 Fax (11) 3105.6867 
 
e-mail: info@martimfontes.com.br http://www.martinsfontes.com.br 
 
ÍNDICE 
 
Meus agradecimentos XI 
A omissão de nossa cultura XIII 
 
1. A base da saúde emocional 3 
 
Primeira parte | O FENÔMENO DOS ESPELHOS 
 
2. Os espelhos criam auto-imagens 11 
 
3. A influência dos espelhos no comportamento 25 
 
4. O preço dos espelhos deformados 31 
 
5. A armadilha dos reflexos negativos 43 
 
6. Polimento dos espelhos dos pais 51 
 
Segunda parte | O CLIMA DO AMOR 
mailto:info@martimfontes.com.br
 
7. O encontro autêntico 69 
 
8. A segurança da confiança 83 
 
9. A segurança do não-julgamento 95 
 
10. A segurança de ser amado 103 
 
11. A segurança de possuir sentimentos 111 
 
12. A segurança da empatia 119 
 
13. A segurança do crescimento individual 129 
 
Terceira parte | SENTIMENTOS NEGATIVOS E AUTO-ESTIMA 
 
14. Como tratar os sentimentos da criança 137 
 
15. Como decifrar o código da raiva 161 
 
16. Como desmascarar o ciúme 173 
 
Quarta parte | CRESCIMENTO MENTAL. E AUTO-ESTIMA17. Motivação, inteligência 
e criatividade 189 
 
Quinta parte | SEXO E AUTO-ESTIMA 
 
18. O casamento do sexo com o amor 213 
 
19. Conclusão 237 
 
Relação das idéias básicas 241 
 
* 
Dedicado à memória de meu pai, Coronel John D. Corkille, e minha mãe, Helen Young 
Corkille, pelo muito que contribuíram para a minha pessoa. 
 
* 
O homem deseja ser confirmado em seu ser pelo homem, e anseia por ter uma presença no 
ser do outro... - secreta e timidamente, ele espera por um Sim que lhe permita ser, e que só 
pode vir de uma pessoa humana a outra. 
Martin Buber 
 
MEUS AGRADECIMENTOS 
Se a leitura deste livro lhe for de alguma utilidade, isso não se deve apenas a mim, mas à 
interação com todas as pessoas e experiências que marcaram a minha vida. 
Sou particularmente grata a: 
* Edward Bordin, Duane Bowen, Max Levin e Lois Southard, pelo ensinamento que me 
serviu de inspiração; 
* Thomas Gordon, cujas importantes lições esclareceram minhas opiniões referentes a que 
a raiva era secundária, à distinção vital entre as mensagens do "Eu" e de "Você", à 
manipulação do poder e à mecânica da democracia doméstica; 
* Frank Baron, S. I. Hayakawa, Abraham Maslow e Carl Rogers, por seminários e 
conceitos que me intrigaram; 
* Tom Johnston e Sam Warren, por uma década de apoio enquanto eu trabalhava com 
grupos de pais; 
* numerosas crianças e adultos, por me terem permitido compartilhar seus mundos 
particulares, o que contribuiu para melhorar o enfoque dos conceitos examinados neste 
livro. Esta participação permitiu-me escrever a partir de uma experiência pessoal profunda, 
e não apenas da teoria; 
* Myrtle Spencer, pela segurança e inspiração, e por ter agido como "mãe" quando este 
livro estava ainda nas suas fases embrionárias; 
* Charles Himber, pelo apoio muito especial num momento crucial deste projeto; 
 
XII * Tom Larson, Mary e Norman Lewis, Nancy Lichina, Judy Miller, Betty Riley, Sylvia 
W. Rosen, Jean Schrimmer, Barbara Spaulding e Elsa van Vergen, da Doubleday, pelas 
suas reações pessoais, assistência editorial e apoio moral a este projeto; 
* Mary Baker, Karen Brown, Dorothy McAuliffe e Mary Starley, pela sua habilidade na 
datilografia; 
* Laurie e Kerrie Sue, por me ensinarem tanto sobre a natureza humana e por terem, em 
numerosas ocasiões, assumido certos encargos liberando-me para escrever. 
A todos, os meus sinceros agradecimentos. 
DOROTHY CORKILLE BRIGGS 
Palos Verdes Península 
Califórnia. 
 
A OMISSÃO DA NOSSA CULTURA 
Durante décadas os psicólogos voltaram sua atenção para a doença mental e seu tratamento. 
Mas desordens psicológicas estão de tal modo difundidas, que simplesmente não há 
profissionais em número suficiente para tratar os doentes. Um estudo sobre 175.000 
pessoas na cidade de Nova York mostrou que apenas 18,5% não tinham os sintomas de 
enfermidade mental. O número de pessoas que se sentem interiormente confusas e cujo 
potencial se atola em defesas doentias atinge proporções epidêmicas. Os problemas 
neuróticos tornaram-se um modo de vida. 
Isto constitui uma denúncia desconcertante de uma lamentável omissão de nossa cultura: 
nós, pais, não somos preparados para a nossa tarefa. Quantias enormes são gastas no ensino 
acadêmico e profissional, mas a arte de se tornar um pai atuante é deixada ao acaso e a 
algumas aulas dispersas. E ainda assim, paradoxalmente, consideramos as crianças como o 
nosso recurso nacional mais importante! 
Recorremos à vontade a médicos e educadores para controlar o progresso físico e 
intelectual de nossos filhos. Mas, para orientar sua saúde emocional, quase só podemos 
recorrer a nós mesmos. Mesmo quando surgem sintomas, muitos pais consideram a 
consulta a um psicólogo como uma admissão de derrota. É o último recurso de que lançarão 
mão. 
A discrepância entre o valor que atribuímos às crianças, de um lado, e nossa incapacidade 
de proporcionar aos pais um treinamento 
 
específico para a sua tarefa, de outro, parece basear-se na suposição de que um ser humano 
deve saber criar outro ser humano. Mas o fato de alguém tornar-se pai ou mãe não lhe 
confere automaticamente o conhecimento e a capacidade de criar filhos confiantes, seguros 
e capazes de viver como pessoas em perfeito funcionamento, e que possam ter uma vida 
significativa. Em suma, não foi dada a devida ênfase à prevenção da doença mental. Não 
obstante, essaprevenção continua sendo a nossa melhor esperança de conseguir reduzir a 
alta incidência de desordens emocionais. 
A maioria das pessoas faz o melhor possível, mas muitas vezes fica desorientada. E a 
realidade continua sendo que, tal como nossos filhos, temos que viver com os resultados de 
nossos erros involuntários. E esses erros são geralmente transmitidos às gerações futuras. O 
impacto da omissão de nossa cultura recai, até certo ponto, sobre todos nós. 
Nessa busca de orientação, nós, os pais, voltamo-nos para os inúmeros livros existentes 
sobre a educação de filhos. Mas neles encontramos as questões importantes que temos de 
enfrentar tratadas em geral, como tópicos isolados, à parte. Não encontramos um quadro de 
referência básico, coerente – a auto-estima da criança –, dentro do qual possamos situar 
cada aspecto importante da nossa convivência com os filhos. 
Este livro pretende dar exatamente esse quadro de referência. Apresentamos uma nova 
maneira de ver o desenvolvimento da criança: considerar todo o crescimento e 
comportamento em função da busca, pela própria criança, da identidade e do auto-respeito. 
Passo a passo, mostraremos especificamente como criar um sólido senso do próprio valor 
na criança. Com isso ela estará preparada para a felicidade pessoal em todas as áreas de sua 
vida. Se não compreendermos perfeitamente a natureza da personalidade humana, e não 
trabalharmos com ela, andaremos às cegas e teremos, talvez, que pagar o preço dessa falha. 
Este livro foi escrito devido à minha firme convicção, resultado de vinte e cinco anos de 
trabalho em psicologia e educação, bem 
 
XV como da minha experiência de mãe, de que a parentalidade é importante demais para 
ser abordada à base do acaso e da intuição. O conhecimento dos fatos pode ajudar-nos a 
desempenhar nossas responsabilidades para com os que estão sob os nossos cuidados, 
dando-nos segurança como pais, e mostrando-nos o caminho para o nosso desenvolvimento 
pessoal. 
Durante anos, os pais que freqüentaram minhas aulas apresentaram mudanças comoventes, 
em si mesmos e em seus filhos, quando começaram a aplicar algumas idéias deste livro. 
Sobre as suas experiências, fizeram afirmações como as seguintes: 
 
Essa maneira de ver o crescimento das crianças proporcionou-me uma nova confiança. 
Acho que sou uma pessoa mais livre, sem temer a responsabilidade de ser pai. 
 
Toda a nossa família tornou-se mais unida, e os conflitos diminuíram muito. Com a 
mudança de minhas atitudes, muita coisa tornou-se mais fácil em nossa casa. 
 
Estou mais relaxada e paciente – até meu marido notou isso. 
 
Aprendi a me ver, e a ver meus filhos, sob uma nova luz; sinto-me muito mais 
compreensiva. E, indiretamente, isso me aproximou mais de meu marido. 
 
Aprendi a viver com os meus filhos, e não mais apesar deles. 
 
Como pai, parecia-me absurdo ter aulas sobre a maneira de educar filhos. Não havia 
percebido como estava sendo cego. Abriu-se para mim um mundo totalmente novo. Quisera 
apenas ter sabido disso antes de ter filhos. 
 
É muito evidente. Sabendo o que estamos fazendo e tendo como guia um quadro de 
referência básico, podemos viver com nossos 
 
XVI filhos de maneira que os tornemos emocionalmente sadios. Assim, não precisamos nos 
preocupar: eles terão os pés em terra firme. 
O fato de você estar lendo este livro indica que você se preocupa com seus filhos e com o 
seu relacionamento com eles. Isso mostra o seu desejo de que eles sejam pessoas que 
funcionem perfeitamente. Tal preocupação, associada ao interesse por idéias novas, leva 
tanto você como os seus filhos na direção do crescimento positivo. 
 
A AUTO-ESTIMA DO SEU FILHO 
 
1 A BASE DA SAÚDE EMOCIONAL 
 
Sonhos e realidades 
Você tinha, sem dúvida, muitas idéias sobre como iria tratar seus filhos, muito antes de tê-
los. E por trás dessas idéias estava a dedicação: você estava disposto a realizar um bom 
trabalho. A maioria de nós, os pais, leva a parentalidade a sério; num sentido muito real, 
empenhamo-nos totalmente. Mas a realidade interfere em nossos planos. O que nos parecia 
tão simples torna-se muito mais complexo. 
Ainda que nos venham como um pequeno fardo, as crianças nos despertam grandes 
emoções. Alegria, certeza e prazer misturam-se com preocupação, culpa e dúvida. Advém 
uma boa dose de cansaço e frustração. Temos que agüentar preguiça, desordem e torrentes 
de "nãos", e no dia seguinte tagarelice, beliscões e brigas para atender o telefone. 
Problemas diferentes – eles mudam, mas não acabam nunca. Não há como voltar atrás. 
Apesar de tudo, lutamos para fazer as coisas da melhor maneira possível. Investimos sem 
cessar, e muito, em cuidado, tempo, energia, dinheiro. Não poupamos esforços – 
alimentação e vestuário adequados, brinquedos atraentes, assistência médica necessária, 
movimentação constante para proporcionar todas as vantagens. Talvez até economizemos 
para a universidade e um seguro extra. 
Mas, apesar de nossas boas intenções e de nossos esforços sinceros, nosso filho pode não 
corresponder exatamente aos resultados 
 
4 
 
esperados. Suas notas não são boas, ele é emocionalmente imaturo, rebelde ou 
excessivamente fechado. Talvez tenha como companheiros jovens não muito 
recomendáveis. "Como pode o meu filho ter problemas, quando fiz tanto e me esforcei 
tanto?" é uma pergunta que persegue muitos pais bem-intencionados. 
Mesmo que nossos filhos não tenham problemas, o fato de ouvirmos falar do aumento dos 
índices de delinqüência juvenil, uso de drogas, abandono da escola, doenças venéreas e 
filhos ilegítimos aumenta nossas preocupações. Às vezes uma preocupação insistente surge 
em nossas consciências para nos fazer pensar num modo de manter nossos filhos afastados 
desses caminhos tortuosos. Em certos momentos a incerteza se faz sentir: "Estarei agindo 
da maneira certa?" "Devo bater, discutir ou ignorar?" "O que devo fazer agora?" As 
grandes idéias que tínhamos – aquelas convicções firmes – tornam-se imprecisas e 
desaparecem. 
A realidade pode levar-nos a perder a confiança em nós mesmos como pais. Mas mesmo 
assim continuamos a sonhar com o que nosso filho pode se tornar. Como transformar esse 
sonho em realidade? 
 
O ingrediente crucial 
Se você for como a maioria dos pais, suas esperanças baseiam-se em algo mais do que 
evitar os colapsos nervosos, o alcoolismo e a delinqüência. Queremos coisas positivas para 
nossos filhos: confiança interior, um objetivo e senso de participação, relações 
significativas e construtivas com os outros, êxito na escola e no trabalho. E, acima de tudo, 
felicidade. O que desejamos é claro. Nossas inseguranças recaem em como ajudar nossos 
filhos a alcançar tais objetivos. Nós, os pais, estamos ansiosos por uma regra básica, 
prática, que nos guie – particularmente nos momentos de tensão e confusão. 
 
5 
 
Dispomos, hoje, de indicações suficientes para formular exatamente essa regra: se a criança 
tiver uma auto-estima elevada, ela terá sucesso. A pesquisa tem mostrado, de maneira cada 
vez mais evidente, que a criança (ou adulto) que reage bem é diferente das pessoas que 
fracassam na vida. 
 
A diferença está nas suas atitudes para consigo mesma, seu grau de auto-estima. 
 
O que é a auto-estima? É a maneira pela qual uma pessoa se sente em relação a si mesma. É 
o juízo geral que faz de si mesma – quanto gosta de sua própria pessoa. 
A auto-estima não é uma pretensão ostensiva. É um sentimento calmo de auto-respeito, um 
sentimento do próprio valor. Quando a sentimos interiormente ficamos satisfeitos em 
sermos nós mesmos. A pretensão é apenas uma manifestação falsa para encobrir uma auto-
estima precária. Quando se tem uma boa auto-estima, não se perde tempo e energia 
procurando impressionar os outros; já se conhece o próprio valor. 
A idéia que seu filho faz de si mesmo influencia a escolha dos amigos, a maneira pela qual 
se entende com os outros, o tipo depessoa com quem se casa e a produtividade que terá. 
Afeta a sua criatividade, integridade, estabilidade e até mesmo a possibilidade de ser um 
líder, ou um seguidor. Seus sentimentos do seu próprio valor formam a essência de sua 
personalidade e determinam o uso que fará de suas aptidões e habilidades. Sua atitude para 
consigo mesmo tem influência direta sobre a maneira pela qual vive todos os aspectos de 
sua vida. Na verdade, a auto-estima é a mola que impulsiona a criança para o êxito ou 
fracasso como ser humano. 
A importância da auto-estima na vida de nossos filhos dificilmente poderá ser exagerada. 
Todo o pai que se preocupa deve ajudar seu filho a criar uma fé firme e sincera em si 
mesmo. 
 
6 
 
Duas necessidades básicas 
O auto-respeito sólido baseia-se em duas convicções principais: 
 
"Eu posso ser amado” 
("Eu sou importante e tenho valor porque existo.") 
e "Eu tenho valor” 
("Posso dirigir a mim mesmo, e a meu ambiente, com competência. Sei que tenho alguma 
coisa a oferecer aos outros.") 
 
Toda criança, embora completamente diferente das demais, tem as mesmas necessidades 
psicológicas de se sentir amada e digna. Tais necessidades não desaparecem com a 
infância. Todos nós as temos, e elas nos acompanham até a nossa morte. A satisfação 
dessas necessidades é tão importante para o nosso bem-estar emocional quanto o oxigênio o 
é para a nossa sobrevivência física. Afinal de contas, temos que conviver conosco durante 
toda a nossa vida. A única pessoa que não podemos evitar, por mais que nos esforcemos, 
somos nós mesmos. O mesmo acontece com os nossos filhos. Eles convivem consigo 
mesmos da maneira mais íntima, e o auto-respeito é da maior importância para o seu 
crescimento, bem como para uma vida significativa e compensadora. 
A esta altura você poderá dizer: "Mas isso não me diz respeito, porque amo meu filho e 
acho que ele tem valor." Um momento, porém. Veja que a receita não diz: "Se você ama 
seu filho." Diz: "Se a criança se sente amada." E há uma grande diferença entre ser amada e 
sentir-se amada. 
Por estranho que pareça, muitos pais têm certeza de que amam os filhos, mas, de algum 
modo, as crianças não percebem tal afeição. Esses pais não foram capazes de comunicar o 
seu amor. Os sete ingredientes básicos que permitem à criança sentir-se amada serão 
examinados detalhadamente na Segunda Parte. A esta altura, o mais importante é 
compreender que: 
 
7 
 
É o sentimento da criança sobre ser ou não ser amada que afeta a maneira pela qual ela irá 
se desenvolver. 
 
Acontece com o sentimento de ser digno o mesmo que com o amor. Devemos saber como é 
recebida, pela criança, a mensagem de que ela é competente e tem alguma coisa a oferecer. 
Assim, também esse sentimento poderá se tornar parte integral da sua auto-imagem. 
Se o ingrediente mais importante da saúde mental é uma auto-estima elevada, de onde ela 
vem? Um estudo de Stanley Coopersmith (1), entre outros, demonstrou que essa 
característica não tem relação com a riqueza da família, a educação, o lugar onde a criança 
mora, a classe social, a ocupação do pai, ou com o fato de a mãe estar sempre em casa. Ela 
vem da qualidade das relações entre a criança e os que desempenham papel significativo 
em sua vida. 
(1) Stanley Coppersmith, The Antecedents of Self-Esteem. San Francisco, W. H. Freeman 
& Co., 1967. 
Toda criança normal nasce com o potencial de saúde psicológica. O desenvolvimento desse 
potencial irá depender do clima psicológico em que ela vive. Para saber se o clima 
psicológico que cerca nosso filho é estimulante ou sufocante, devemos compreender: 
 
1. como é desenvolvida a auto-estima; 
 
2. como a visão que a criança tem de si mesma afeta o seu comportamento; 
 
3. o preço pago pela criança quando a sua auto-estima é baixa, e 
 
4. o que é possível fazer para estimular a auto-estima. 
Essas questões constituem a base da Primeira Parte – O Fenômeno dos Espelhos. 
Uma vez compreendido o processo pelo qual a auto-estima surge, precisamos conhecer os 
ingredientes específicos que 
 
8 
 
permitem à criança concluir: "Eu posso ser amada." Esse material será estudado na 
Segunda Parte – O Clima do Amor. 
Em seguida, para compreender como a criança desenvolve um senso de domínio e 
competência – os sentimentos que alimentam a convicção de que ela tem valor – 
precisamos familiarizar-nos com as tarefas da individualidade, essas etapas intermediárias 
específicas do crescimento que afetam a auto-estima. Quando trabalhamos com uma 
criança, em sua escolha psicológica, contribuímos para que ela sinta o seu valor. 
Nas seções restantes, examinaremos: 
 
1. a influência que os sentimentos têm sobre a auto-estima e as maneiras positivas de tratá-
los; 
 
2. a influência das diferentes abordagens da disciplina sobre a auto-estima, bem como os 
métodos construtivos de disciplina; 
 
3. o impacto da auto-estima sobre a inteligência e a criatividade, juntamente com as 
maneiras de estimular o desenvolvimento mental e, finalmente, 
 
4. a influência da educação sexual na auto-estima. 
A compreensão das coisas que atingem nosso filho nos proporciona um instrumento para 
verificar o clima que lhe oferecemos. Isso pode detectar áreas que precisam ser mudadas e, 
o que é mais importante, contribui muito para nos poupar, e aos nossos filhos, dos 
resultados de uma atitude paterna baseada na tentativa e erro, na experimentação. 
A maioria das pesquisas recentes mostra que as nossas boas intenções como pais terão 
maiores possibilidades de se concretizarem se a convivência com nossos filhos lhes 
proporcionar satisfação por serem quem são. Não podemos desconhecer, ou ignorar, a 
característica mais importante da criança – seu grau de auto-respeito. 
 
Ajudar as crianças a desenvolver sua auto-estima é a chave de uma parentalidade bem-
sucedida. 
 
Primeira parte 
O FENÔMENO DOS ESPELHOS 
 
2 OS ESPELHOS CRIAM AUTO-IMAGENS 
 
Conclusões dos espelhos 
Você já pensou em si mesmo como um espelho? Você é um espelho – um espelho 
psicológico que seu filho usa pra construir sua própria identidade. E toda a vida dele é 
afetada pelas conclusões a que chega. 
Toda criança nasce sem um senso do eu. Todas elas têm de aprender a ser humanas, no 
sentido em que nós usamos esta palavra. Encontrou-se, ocasionalmente, uma criança que 
conseguiu sobreviver em total isolamento de outras pessoas. Sem linguagem, sem 
consciência, sem necessidade dos outros, sem senso de identidade, a "criança-lobo" só é 
humana na aparência. Tais casos nos mostram que o senso da individualidade, ou 
personalidade, não é instintivo. É uma realização social, aprendida na convivência com os 
outros. 
 
Autodescoberta 
Tomemos um bebê típico e vejamos como ele constrói a imagem de si mesmo. 
Todo vermelho e enrugado, nasce o pequeno Pedro. Seus pais, orgulhosos, expedem 
comunicados proclamando a chegada de um novo indivíduo, de um ser à parte – seu filho. 
Ninguém diz a Pedro que ele chegou. E a essa altura ele não entenderia a mensagem. 
 
12 
 
Tendo sido uno com a mãe e com o seu ambiente durante nove meses, ele não sabe onde 
acaba e onde começa o resto do mundo. Não sabe que é uma pessoa. 
Inúmeras sensações novas – tato, ser tocado, fome, dores, sons, objetos imprecisos – 
despertam a sua curiosidade. Por mais primitivo que seja seu equipamento, ele começa a 
explorar, tateando, o seu estranho mundo novo. Quando ele toca o pé, sente alguma coisa 
ali e em seus dedos. Quando toca seu ursinho, a sensação está apenas nos dedos. Com o 
passar dos dias, compreende que o pé é parte dele mesmo e que o ursinho não o é. 
Ao mesmo tempo, verifica que as pessoas são diferentes das coisas. Elas se movimentam, 
fazem barulhos e o ajudam a sentir-se mais confortável. Um certo dia ele observa a 
diferença entre colocar um biscoito na boca de sua mãe e colocá-lo na sua própria boca. 
Começa a perceber que ele e a mãe são diferentes,mas, nessa fase, ainda se considera uma 
extensão dela, talvez um pouco como a cauda de um cão. 
Pedro aprende a falar à medida que seu cérebro amadurece. A linguagem é o instrumento 
que lhe permite sentir-se plenamente separado, o que é essencial para sua autoconsciência. 
Vamos ver como isso acontece. 
Pedro descobre, através da imitação, que certos sons representam determinados objetos. E 
verifica logo que os objetos podem ser rotulados qualitativamente. Aprende: "Fogo 
quente", "Neném dodói" ou "Papá bom". 
Finalmente ele aprende o seu próprio nome. Agora ele tem um símbolo que lhe permite 
pensar em si mesmo, separado dos demais. Isso representa um enorme passo à frente. 
Permite-lhe atribuir qualidades a si próprio, tal como havia feito anteriormente com coisas. 
Pode dizer "Pedro quente", "Pedro dodói" ou "Pedro bom". Agora, pode falar sobre ele 
mesmo, descrever-se e julgar-se. Pode pensar em si em comparação com os outros: "Eu 
maior que Bobby", e em termos de tempo: "Pedro já vai embora.” 
 
13 
 
Entre os quinze e os dezoito meses, Pedro tem uma idéia da separação, mas é imprecisa. A 
consciência plena só ocorrerá aos dois anos ou aos dois anos e meio. Antes disso, porém, 
seu nome lhe dá um ponto de referência com o qual relaciona vários rótulos descritivos. 
Primeiro pelos seus sentidos e, em seguida, pela linguagem, toda criança constrói uma 
imagem de si mesma. 
 
Mensagens sem palavras 
Muito antes de compreender as palavras, Pedro registra impressões generalizadas sobre si 
mesmo (e o mundo) com base na maneira como é tratado. Ele sente se é posto no colo com 
carinho, ou sacudido como um saco de batatas; ele sabe se os braços que o envolvem são 
aconchegantes, ou se apenas são um apoio vago e desinteressado. Sabe quando sua fome é 
respeitada e quando é ignorada. O toque, os movimentos corporais, as tensões musculares, 
o tônus e a expressão facial dos que o cercam transmitem a Pedro um fluxo constante de 
mensagens. E seu radar é espantosamente preciso. (Todos os bebês são sensíveis, mas em 
diferentes graus; alguns são mais sensíveis do que outros.) 
As crianças pequenas são particularmente sensíveis aos estados emocionais da mãe. 
Quando a mãe de Pedro está apressada ou tensa, ele é exigente e pouco cooperador na hora 
de mudar a fralda ou de comer. Quando ela está tranqüila e tem tempo de aturar seus 
caprichos, ele é quieto e pacífico como um cordeiro. Uma conspiração? Não, ele está 
reagindo à linguagem corporal, que lhe informa se o clima psicológico é bom ou sujeito a 
chuvas. 
Vamos dar a Pedro duas mães diferentes e ver como as primeiras impressões de si próprio 
dependem da qualidade das mensagens corporais delas. 
A mãe A centraliza sua atenção em Pedro, e não na tarefa que está executando. Por 
exemplo, quando lhe dá banho, os músculos dela estão relaxados e sua atitude é 
brincalhona e suave; há uma 
 
14 
 
luz doce em seus olhos. Ela examina os pés gordinhos e enrugados, delicia-se com as suas 
reações ao pingar água sobre sua barriga. Quando Pedro balbucia, ela responde. Se ele 
espalha água com a mão, vê a mãe reagir com uma risada e participar da sua brincadeira. 
Não há palavras, mas os dois estão se comunicando. Pedro sente e vê a receptividade dela. 
Não sabe que ele é um ser à parte, mas tem as suas primeiras noções de que é valorizado. 
A mãe B aproveita sempre a hora da amamentação para ler. Seus braços o sustentam frouxa 
e indiferentemente. A atenção não se volta para o menino, mas para o livro. Se Pedro 
balbucia, ela não toma conhecimento. Quando ele se movimenta, os braços da mãe não 
colaboram. Se agarra a blusa dela, a mãe o faz soltar sem sequer olhar para ele. Pedro e a 
mãe não estão partilhando uma experiência. Na verdade, não há um encontro terno, 
humano, direto de pessoa para pessoa. A mãe é todo o mundo de Pedro naquele momento, e 
suas primeiras experiências ensinam-lhe que não merece atenção. Para ele, o mundo é um 
lugar muito frio no qual tem pouca importância. Podemos ver que Pedro teria uma série de 
impressões muito diferentes a respeito de si próprio, com a mãe B e com a mãe A. 
Algumas experiências com bebês demonstram que o grau de receptividade carinhosa que 
proporcionamos cria as bases de uma futura visão positiva do eu. Essa receptividade é 
construída pelo tipo de atenção, sorrisos, carinhos, canções e conversas que damos aos 
bebês (ver Capítulo 7). Os pais que fazem brincadeiras com seus filhos pequenos – "montar 
no cavalinho", "o gato comeu", e outras – podem fazê-lo de maneira que elas reflitam um 
respeito carinhoso e um prazer. Esses reflexos colocam a criança no caminho da auto-
estima elevada. Os pais que nunca brincam com os filhos, ou que os tratam com uma 
eficiência fria e impessoal, não lhes transmitem as primeiras impressões de sua 
importância. Não há muita alegria, para um ser humano, em ser recebido com indiferença 
ou rejeição. 
Antes de se preocupar com as ocasiões em que ficou irritado, distante ou tenso com seu 
filho, você deve lembrar-se de que 
 
15 
 
mensagens isoladas, ou pouco freqüentes, não causam danos permanentes. O importante é o 
número total de mensagens de amor ou de desinteresse, juntamente com a sua intensidade. 
Se os momentos de prazer forem mais freqüentes, a criança receberá a mensagem. 
Antes de aprender o significado das palavras, portanto, cada criança recolhe milhares e 
milhares de impressões sobre si mesma que lhes são transmitidas pela linguagem corporal 
dos outros. Essas impressões só se transformam em juízos claros a seu próprio respeito 
algum tempo depois, mas são importantes porque as mensagens posteriores dependem 
delas; afinal, as primeiras impressões deixam marcas profundas. 
 
Mensagens com palavras 
Quando a criança passa a compreender as palavras, abre-se, para ela, um novo caminho 
para se descobrir como pessoa. 
Assim que aprende a andar, Pedro arranca o brinquedo do amigo, deliciado com o belo 
prêmio que conquistou. Nessa idade, a preocupação com as necessidades dos outros é nula, 
e o choro do amiguinho o deixa totalmente indiferente. A mãe repreende: "Pedro! Não faça 
isso! Menino feio!" 
Para a criança pequena, os outros – especialmente os pais – são espelhos infalíveis. Quando 
a mãe o chama de feio, Pedro conclui que essa deve ser uma de suas qualidades e adota 
esse rótulo para si naquele momento específico. As palavras (e atitudes) da mãe encerram 
um peso enorme (ver Capítulo 9 – A segurança do não-julgamento). 
Imaginemos agora que a mãe de Pedro é, para ele, um espelho que devolve os reflexos 
negativos de si próprio. Durante anos, ele ouve: "Não posso com esse menino. Ele é 
impossível!", “O que você quer?" (num tom impaciente, de "Meu Deus, outra vez!"); "Por 
que você não consegue notas melhores, como 
 
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a sua irmã?"; "Pedro foi convidado a passar o fim de semana fora" (num tom de grande 
alívio); "Mal posso esperar que as férias acabem e que Pedro volte logo à escola". Quando 
ele foi para o primeiro ano, as palavras que a mãe dirigiu à professora foram: "Tenho pena 
de você, por ter que agüentá-lo a maior parte do dia!". Pela maneira como Pedro foi tratado, 
podemos ver por que ele teria, necessariamente, de formar um juízo negativo a seu próprio 
respeito. Não é de surpreender que ele se considere um problema. 
Não há dúvidas de que as palavras têm poder. Elas podem destruir ou fortalecer o auto-
respeito. Mas as palavras devem corresponder a sentimentos autênticos. A auto-estima não 
vem do fato de se enganar a criança; na verdade, nada poderia ser pior. A menos que as 
palavras e as atitudes se harmonizem, as crianças percebem a discrepância. Aprendem, 
então, a não confiar no que lhes dizemos. (O Capítulo 8 examina melhor a importância da 
coerência entre as mensagens.) 
Como ocorre com as mensagens não-verbais, as explosões negativas ocasionais não causam 
danos permanentes. Toda mãe perde a calma de vez em quando.(Mesmo assim, os 
sentimentos negativos podem ser transmitidos de maneira não-destrutiva; ver Capítulo 9.) 
Mas a criança que está mergulhada nas acusações de caráter verbal conclui: "Acho que sou 
uma pessoa muito má. Se meus próprios pais não gostam de mim, quem vai gostar?” 
 
Tratamento da auto-imagem 
A auto-estima elevada, portanto, resulta dos reflexos positivos que cercam a criança. Você 
poderá dizer: "Bobagem, conheço muita gente que, quando criança, teve a pior relação 
possível com os pais e com a vida em geral. Apesar disso, tiveram sucesso e hoje parecem 
muito seguras de si e realizam coisas notáveis.” 
 
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Realmente há muitas pessoas assim. Mas os elementos exteriores do "sucesso" não 
asseguram a paz interior. Muitas vezes pessoas que exteriormente parecem bem-sucedidas 
pagam, no íntimo, o preço: vivem atrás de uma máscara de falsa confiança, na alienação, 
com defesas neuróticas e insatisfeitas. Solitários, que não gostam de si mesmos, podem 
usar constantemente o trabalho como uma fuga. Mesmo assim, sentem a sua inadequação, 
por maior que seja o "sucesso" exterior que conseguem demonstrar. 
A verdadeira auto-estima, que nos interessa aqui, é a maneira pela qual nos sentimos 
intimamente, e não a aparência de felicidade ou a acumulação de riquezas e posições. 
Para se considerar uma pessoa realmente adequada e sentir-se bem interiormente, a criança 
precisa de experiências de vida que lhe provem que tem valor e que é digna de ser amada. 
Não basta dizer à criança que ela é especial. A experiência é que importa. Ela fala mais alto 
do que as palavras. 
 
As crianças valorizam a si mesmas na medida em que foram valorizadas. 
 
Vários fatores combinados fazem da mãe ou do pai um espelho extremamente importante 
na vida de seu filho: a prolongada dependência dos pais para a sua satisfação física e 
emocional, o permanente contato com eles, e o fato de que os reflexos de si mesmo, vistos 
através dos pais, constituem as suas primeiras experiências. Para a criança pequena, os pais 
são tão grandes quanto Deus. 
Um menino de quatro anos expressou a visão típica que as crianças têm dos poderes 
paternos, quando ele e seu pai passaram de carro perto de algumas casas, certa noite. 
Apontando para uma delas, que estava com as luzes acesas e as persianas fechadas, ele 
perguntou: "O que as pessoas estão fazendo dentro daquela casa, papai?". 
"Não sei, meu filho.” 
"Ora, e por que você não sabe?", perguntou ele. 
 
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Para as crianças pequenas o pai e a mãe são todo-poderosos e oniscientes: são, literalmente, 
uma linha de comunicação vital. É perfeitamente lógico que aos três ou quatro anos se 
acredite que os pais podem ver através de persianas fechadas. 
Portanto, as razões da criança pequena são: "Esses deuses todo-poderosos me tratam como 
mereço ser tratada. O que eles dizem a meu respeito é o que sou." Usando suas palavras e 
linguagem corporal para construir essa auto-imagem, ela luta para se enquadrar na visão 
que tem de si mesma. É uma imagem à qual corresponderá, como iremos ver no capítulo 
seguinte. 
Como pais, devemos ter sempre em mente que nossos reflexos têm um efeito poderoso 
sobre o avanço do senso de individualidade da criança. 
 
As outras pessoas são espelhos 
Não somos, é evidente, os únicos espelhos na vida de nossos filhos. Qualquer pessoa que 
passe longos períodos com eles afeta a sua auto-imagem. Pouco importa se essa pessoa é 
parente, vizinho, babá ou empregada. Os professores contribuem muito para a imagem que 
a criança faz de si mesma, já que há um contato constante e também por exercerem 
acentuado poder sobre ela. Irmãos e irmãs são outros espelhos. Embora a criança não 
dependa deles para as suas necessidades físicas e emocionais, eles oferecem estímulo 
social, competição e são parte íntima da sua vida cotidiana. Reagem continuamente a ela 
enquanto pessoa. 
Mais ou menos aos seis anos, a criança se liberta da dependência total da família. A 
maneira pela qual outras crianças, que não as de sua casa, reagem a ela torna-se cada vez 
mais importante. Ela verifica logo que os outros valorizam certas qualidades. E o fato de ter 
ou não essa qualidade afeta a idéia que faz de si mesma. Os meninos tendem a valorizar a 
capacidade atlética, a força física e a coragem. As meninas, em geral, notam mais os 
 
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atrativos físicos, a boa aparência, a sociabilidade e a cordialidade. Dão à ternura e às 
virtudes morais maior prioridade do que os meninos. 
As crianças que têm suas características valorizadas pelas outras da mesma idade sentem-se 
mais adequadas do que ao que não dispõem desses atributos, porque recebem repetidos 
reflexos positivos do grupo. 
As crianças cujos interesses e valores discordam visivelmente dos das outras de sua idade 
provavelmente se sentirão isoladas – e verão a si mesmas como pessoas de menor valor. A 
partir dos seis anos, e com maior intensidade à medida que se aproxima da adolescência, 
toda criança necessita do apoio social das demais cujos valores correspondem aos seus. 
 
Domínio e realização 
Quando a criança que está aprendendo a andar compreende que é um ser à parte, tenta 
superar a sua impotência dominando a si mesma e ao seu ambiente. Seus êxitos e fracassos 
refletem-se na sua atitude para consigo mesma. Vejamos como isso funciona. 
Toda criança recebe mensagens do próprio corpo.Ted, por exemplo, herdou pernas 
compridas e músculos fortes e bem coordenados. Qualquer que seja a atividade que ele 
praticar, terá bons resultados. Outras crianças querem tê-lo em seus times esportivos; os 
professores e os pais o aprovam calorosamente. Sua habilidade lhe permite perceber que há 
uma diferença entre ele e seu amigo Clarence, cujo corpo, pequeno e malcoordenado, o 
convence de que não possui muitas das coisas valorizadas pelo grupo. 
O índice de crescimento, o nível de energia, a capacidade física, a aparência, a força, a 
inteligência, a cordialidade, a habilidade e as deficiências de uma criança provocam reações 
nos outros. A criança chega a conclusões sobre quem é, em parte, baseada nas suas próprias 
observações de si mesma, em comparação com os outros, e, em parte, na reação desses 
outros para com ela. E cada reação aumenta ou diminui os seus sentimentos de valor 
próprio. 
 
20 
 
As atitudes dos outros em relação à capacidade da criança são mais importantes do que a 
posse de determinadas características. A existência de uma deficiência na criança não é tão 
importante quanto as reações que ela provoca nas pessoas que a cercam. Atitudes de pena e 
desprezo fazem com que o menino ou menina se sinta infeliz. Em conseqüência, a imagem 
que tem de si mesmo(a), naquela área, torna-se defeituosa. 
A escola apresenta, na sala de aula, no recreio, uma série de obstáculos que devem ser 
superados para que a criança se veja como uma pessoa capaz. Ali está Jill, que amadureceu 
depressa, tanto física como mentalmente. Ela está preparada para enfrentar as tarefas 
escolares, sobretudo a leitura, antes de muitas de suas colegas. Aprende a ver-se diferente 
de Joel, cujo amadurecimento foi mais lento. Ela desenvolve um respeito pelas suas 
capacidades mentais. Tem evidências concretas de que é mais do que simplesmente 
adequada na escola. 
Uma menina do segundo ano, cujas notas escolares eram altas, escreveu: "Gosto de mim 
mesma porque faço bem os meus deveres." A consciência de sua competência aumentou-
lhe o prazer de ser ela mesma. 
Ao examinarmos a importância do domínio sobre a auto-estima, não devemos esquecer que 
o êxito tem mais peso se ocorrer em áreas importantes para a criança. Harlan, aos doze 
anos, destacava-se como aluno de piano, mas era um fracasso nos esportes. Seu talento 
musical pouco significava para ele, pois não era valorizado pelos amigos. 
Toda atividade da qual a criança participa lhe transmite informações sobre ela mesma. Em 
clubes, esportes, igreja e grupos sociais,na escola e no trabalho, ela obtém, constantemente, 
reflexos que acrescenta à sua crescente coleção de autopercepções. 
 
21 
 
As respostas a “Quem sou eu?" 
A imagem que toda criança tem de si mesma é produto dos numerosos reflexos que fluem 
de muitas fontes: o tratamento que recebe das pessoas à sua volta, o domínio físico sobre si 
mesma e sobre o ambiente, e o grau de realização e reconhecimento em áreas que são 
importantes para ela. Esses reflexos são como instantâneos de si mesma que ela cola num 
álbum imaginário de retratos, e que formam a base de sua identidade. Tornam-se a sua 
auto-imagem ou autoconceito – suas respostas pessoais à pergunta "Quem sou eu?". 
É importante ter em mente que a imagem que a pessoa tem de si mesma pode ser, ou não, 
exata. Todo ser humano tem um eu e uma auto-imagem. Quanto mais exata a imagem que a 
criança faz de si mesma, mais realisticamente ela conduz a sua vida. 
O sr. e a sra. K. precisavam de um filho que se destacasse. Lila, absorvendo os elogios 
exagerados dos pais, vê a si própria como uma cantora de talento – ilusão alimentada pela 
sua professora de canto, ávida por dinheiro. Lila, porém, tem problemas porque o público 
não parece entusiasmar-se com o seu canto. Se ela recusar modificar a auto-imagem 
alimentada pelos pais e pela professora, poderá esgotar-se tentando se tornar alguma coisa 
para a qual não tem talento. Isso só pode levar à frustração e ao fracasso e talvez ao ridículo 
puro e simples ante os outros. Lila tem, portanto, menos razões para gostar de si mesma. Se 
alterar sua auto-imagem, ajustando-a às suas capacidades reais, não poderá manter a 
carreira de cantora como seu objetivo – que é o desejo dos seus pais. 
Naturalmente, quanto mais o autoconceito de uma pessoa corresponde às suas capacidades 
reais, à sua habilidade e ao seu potencial, mais provável é o seu sucesso. Terá, então, 
maiores oportunidades de se ver como uma pessoa adequada. 
 
22 
 
Aparecimento da auto-estima 
No momento em que a criança absorve as descrições que os outros fazem dela, assimila 
também as suas atitudes para com essas qualidades. O sr. T., por exemplo, diz 
freqüentemente a Lilly: "Meu Deus, como você é agitada!" Uma segunda mensagem – um 
julgamento de valor – está implícita nessa frase cujo tom diz: "E isso é mau!" Lilly aprende 
a ver-se como agitada e aprende a pensar nisso como um traço negativo. Ela pode, então, 
reprimir uma parte natural de si mesma para conseguir aprovação e aumentar o seu respeito 
próprio, ou, se aceitar o julgamento do pai, sentir-se um pouco menos aceitável devido a 
essa qualidade. 
 
As palavras são menos importantes do que os julgamentos que as acompanham. 
 
O sr. S. chama Sammy muitas vezes de "monstro". Mas seu tom é de amor e orgulho, como 
se dissesse: "Meu filho, você é um grande sujeito!" Sammy refere-se a si mesmo como 
monstro, mas usa essa classificação com orgulho. Lembre-se: a linguagem corporal fala 
sempre mais alto do que as palavras. 
O juízo que a criança faz de si mesma surge a partir do juízo dos outros. E, quanto mais a 
criança gosta de sua auto-imagem, maior a sua auto-estima. 
Geralmente aos cinco anos a criança já reuniu reflexos suficientes a seu respeito para poder 
formar a sua primeira estimativa do valor que tem. Pode não se sentir bem consigo mesma 
em todas as ocasiões, mas, se de modo geral se sentir basicamente amada e valorizada, se 
alegrará por ser quem é. 
Sempre que alguém diz "Não dou para isso", na realidade não está dizendo nada a seu 
respeito. Pode achar que está fazendo uma observação sobre seu valor pessoal (seu eu), 
mas, na verdade, está fazendo um comentário sobre a qualidade de suas relações com os 
outros – a partir das quais construiu a sua auto-imagem. 
 
23 
 
Pela maneira como uma pessoa vive a sua vida, pode-se afirmar: "Não é tão importante o 
que você é, mas aquilo que acha que é." 
Brett, aluno do quinto ano, focalizou esse tema quando lhe pediram que escrevesse sobre o 
que gostaria de falar no Dia de Ação de Graças: 
 
Estou contente por não ser um peru! Estou grato por eu ser eu e por você ser você. Estou 
satisfeito por me sair bem na escola. Estou contente por estar aqui, e não lá. Estou satisfeito 
por ser uma pessoa e não um cachorro ou um gato... Estou feliz por freqüentar esta escola. 
Estou contente por ter bons amigos com quem brincar. Estou agradecido por ter um irmão 
para conversar em casa. E estou agradecido apenas por eu ser eu mesmo! 
 
Um testemunho eloqüente dos espelhos positivos que cercam Brett. 
Lembre-se: nenhuma criança pode "ver-se" diretamente – ela só pode ver a si própria pelos 
reflexos que produz nos outros. Seus “espelhos" literalmente modelam a sua auto-imagem. 
A chave para a identidade que o seu filho constrói está diretamente ligada à maneira pela 
qual ele foi julgado. O que acontece entre o seu filho e as pessoas que o cercam tem, 
conseqüentemente, uma importância fundamental. 
 
Uma identidade positiva depende de experiências positivas de vida. 
 
3 A INFLUÊNCIA DOS ESPELHOS NO COMPORTAMENTO 
 
O autoconceito e o comportamento 
Lee estava muito contente, brincando com o seu "trem" de caixas, dirigindo-o por uma 
linha imaginária. Seu companheiro, Jeff, dava voltas em torno do trem com seu triciclo, 
gritando ameaças sérias. "Vou arrancar você desse trem! Tenha cuidado ou dou um soco no 
seu nariz! Meu triciclo corre mais do que o seu trem!" Lee manteve-se alegre e indiferente 
às ameaças. 
De repente, Jeff dirigiu-se à professora do jardim-de-infância, perguntando-lhe 
confidencialmente em voz baixa: "Quando você tinha quatro anos era forte como eu?" 
Tendo sido uma criança fraca, a professora respondeu enfaticamente: "Você é muito mais 
forte do que eu era quando tinha quatro anos." 
Jeff ficou sentado em silêncio por um momento, como se estivesse assimilando essa idéia. 
Depois, afastou-se lentamente, pedalando com tranqüilidade em volta do trem do amigo, 
sem fazer novas ameaças. 
O que levou Jeff a essa acentuada mudança de comportamento? 
As crianças de quatro anos recebem muitos reflexos de sua impotência, transmitidos pelo 
ambiente e pelas pessoas que as cercam. Como todos os seres humanos, as crianças, por 
menores que sejam, procuram neutralizar tais reflexos. 
 
26 
 
O comportamento inicial de Jeff visava dizer ao amigo: "Veja como sou forte. Fique com 
medo para que eu mesmo possa ver como sou poderoso." Atrás da hostilidade estava 
simplesmente o desejo de gostar de si mesmo. Quem pode dizer se, naquela mesma manhã, 
alguma experiência anterior não ressaltou a sua impotência, deixando, no seu respeito 
próprio, um buraco que precisava ser remendado? Quando a professora proporcionou esse 
remendo, ele pôde afastar-se com uma nova imagem de força, e suas energias foram 
liberadas para a brincadeira tranqüila. 
Esse breve episódio mostra que o comportamento é dirigido para a auto-estima. 
 
Toda criança busca a auto-imagem de capacidade e força. E o comportamento corresponde 
a essa auto-imagem. 
 
Pense, por um momento, em você mesmo.Você não se comporta de maneira diferente 
quando se sente seguro e quando se sente inseguro? No primeiro caso, você faz afirmações 
positivas a seu próprio respeito. É, portanto, mais cordial, mais extrovertido e mais 
interessado em se relacionar pacificamente com os outros. Quando se sente inadequado e 
inseguro você procura não chamar atenção. A própria expressão – autoconfiança – significa 
uma segurança interior. No íntimo, você confia na sua capacidade e age de acordo com essa 
confiança. O mesmo acontece com as crianças. 
Até mesmo a maneira como a criança se expressa é colorida pelo que ela sente a seu 
próprio respeito. Se pedirmos a um gago, por exemplo, que diga seu nome, onde mora ou o 
que estuda na escola, ele gaguejará de uma maneira agoniante. Se lhe pedirmos, porém, que 
assuma uma identidade diferente da sua (recitar um monólogodo Hamlet, por exemplo, ou 
fingir um sotaque estrangeiro), sua incapacidade desaparecerá. Quando fala dominado pelo 
sentimento de inadequação, ele gagueja; quando fala com um sentimento de segurança, ele 
é fluente. 
 
27 
 
Autoconfiança irregular 
Confiança numa área não significa, necessariamente, confiança em todas as áreas. Barry 
por exemplo, recebeu durante anos muitos reflexos positivos de suas proezas intelectuais. 
Na aula, nos debates estudantis, nas organizações escolares, sua convicção de que tem algo 
a dizer é sempre evidente. Socialmente, porém, Barry se sente como um "bobo". Por isso, 
nas festas é tímido, procura não chamar atenção e fica inativo. Nas situações sociais ele 
age, caminha e fala de maneira diferente do que nas situações escolares. 
Os adultos não são diferentes. Todos nós conhecemos, por exemplo, homens que são 
confiantes e participam com firmeza de grupos comerciais. Mas, em reuniões sociais, 
sentem-se como peixes fora d'água. 
Quanto mais generalizada for a auto-estima da criança, mais ela atuará com confiança em 
todas as áreas de sua vida. 
 
A baixa e a alta estima 
A maioria das crianças tem sentimentos mistos a seu próprio respeito, mas, como já vimos, 
a auto-estima refere-se aos juízos gerais de si mesmas. 
Que tipo de julgamentos poderia Bobby fazer sobre si mesmo, se a sua auto-estima fosse 
baixa? Diria coisas como: "Eu não sou muito importante. As pessoas não gostariam de mim 
se me conhecessem realmente. Não posso fazer as coisas tão bem quanto os outros. Não há 
muito sentido em tentar fazer qualquer coisa, porque sei, antecipadamente, que não 
conseguirei. Não posso tomar boas decisões. Não falo em grupos porque não digo nada que 
valha a pena ser ouvido. Não gosto de ir a lugares novos. Odeio estar só; na verdade, eu 
gostaria de ser outra pessoa." 
Se a auto-estima de Bobby fosse alta, ele provavelmente diria: "Acredito ter alguma coisa a 
oferecer aos outros e posso aprender 
 
28 
 
com eles. Meus companheiros me acham digno de respeito. Posso fazer bem várias coisas, 
embora ainda tenha muito que aprender. Mas aprender é bom. Se eu não consigo fazer 
alguma coisa da primeira vez, gosto de tentar uma segunda. A longo prazo, acredito que 
poderei ter êxito. Gosto de estar sozinho ou acompanhado. Estou realmente satisfeito de ser 
como sou." A confiança de Bobby é evidentemente maior quando ele está em condições de 
fazer essa segunda série de afirmações. 
Suponhamos duas adolescentes, igualmente atraentes e inteligentes, e vejamos como sua 
auto-estima afeta o seu comportamento. 
Jean acredita em si mesma, ao passo que Mary, não. Na sala de aula vemos Jean dar 
informações, dirigir-se ativamente aos outros e participar, com ênfase, das discussões. Que 
contraste com o comportamento de Mary! Hesitante e sem jeito, ela apenas responde ao que 
lhe é perguntado. Prefere calar suas opiniões por ter medo da reação dos outros. Numa festa 
de adolescentes, Jean dirige-se aos outros com calor e participa ativamente das 
brincadeiras, ao passo que Mary se retrai. Ela espera ser convidada e, mesmo assim, só 
participa das atividades comuns com pouco interesse. 
Acreditando secretamente que nada tem a oferecer, não se pode esperar que Mary tenha 
segurança em qualquer situação. Suas reservas e suas dúvidas a impedem de ter qualquer 
participação espontânea e interessada. Esse comportamento reduz seu impacto social sobre 
os outros, alimentando-lhe a convicção de que possui pouco valor. Ao contrário de Mary, a 
confiança que Jean tem em si lhe dá liberdade para participar, sem reservas, de qualquer 
situação. A auto-imagem de cada uma delas é revelada em seus atos. 
Sempre que uma criança se considera incapaz, ela espera falhar e comporta-se de maneira 
que se torne menos provável o sucesso. Quando deixa de acreditar em si mesma, a criança 
está destinada ao fracasso. O menino que já teve êxitos no passado espera continuar 
 
29 
 
a fazer bem as coisas. Sua segurança pessoal lhe dá coragem para enfrentar obstáculos e 
energia para superá-los. 
A pequena Becky foi cercada de amor e aprovação durante toda a sua vida. As pessoas 
reagiam carinhosamente aos seus olhos grandes e inquietos, à sua alegria e ao seu senso de 
humor. "Ah, mamãe", disse ela certo dia, "eu adoro as pessoas." E por que não iria gostar 
delas? Suas experiências deram a Becky um sentimento de importância e de valor. A 
maneira pela qual ela se comportava com as pessoas parecia até a de um cachorrinho: 
literalmente ela se lançava ao encontro dos outros e esperava agradar. E sua expectativa 
influenciava o seu comportamento – confiante, sincero, extrovertido. Esses traços 
contribuíam para aumentar-lhe os sucessos. 
 
Por que as crianças se comportam mal 
Todos nós queremos evitar o mau comportamento das crianças sempre que possível. A vida 
é mais agradável, para nós e para elas, sem tal comportamento. A disciplina é um assunto 
muito importante e, se você souber que o comportamento corresponde à auto-imagem, 
poderá ver que uma das causas do mau comportamento é um autoconceito negativo. A 
criança que se considera má modela seus atos para que se enquadrem nessa concepção. Ela 
desempenha o papel que lhe é atribuído. 
Normalmente, quanto pior o comportamento da criança, mais ela é censurada, punida ou 
rejeitada. E, em conseqüência, mais profunda se torna a sua convicção íntima de que é 
"má". O mau comportamento crônico pode se basear numa visão deformada do eu, embora 
uma auto-estima precária não seja a única causa do mau comportamento. 
Muitos jovens (e adultos) cujo comportamento prejudica a eles próprios e à sociedade como 
um todo – os que abandonam a escola, os delinqüentes, os viciados em drogas – acreditam, 
no íntimo, 
 
30 
 
que são definitivamente inadequados e que não têm nenhum valor. Eles tateiam em busca 
do significado pessoal e da realização. Mas seus esforços desorientados levam a um 
comportamento autoderrotante. 
O jovem que tem uma boa auto-estima dificilmente terá sido uma criança-problema. Ele 
anda, fala, trabalha, aprende, brinca e vive de maneira diferente da pessoa que não gosta de 
si mesma. Sua segurança interior se irradia para fora, nos seus atos. Como adultos, tais 
indivíduos são mais capazes de trabalhar de maneira construtiva na solução dos problemas 
e nas desigualdades que existem em nosso mundo. Seus núcleos sólidos os liberam para 
serem inovadores e não destruidores hostis. A criança que tem respeito próprio 
provavelmente será um membro construtivo da sociedade. 
 
Felicidade e comportamento 
Numerosos pais dizem: "Quero apenas que meu filho seja feliz." Mas não sabem como 
conduzi-lo a essa felicidade. 
Um estudo que visava indicar a diferença entre as pessoas felizes e infelizes concluiu que a 
desigualdade mais importante entre os dois grupos era que as pessoas felizes relacionavam-
se bem com as outras; as infelizes, não. Uma auto-estima precária age como um obstáculo à 
felicidade pessoal, impedindo as relações pacíficas. Um dos maiores problemas enfrentados 
quase que por todas as organizações é o das pessoas que representam verdadeiros espinhos 
para as outras. O obstáculo que as relações interpessoais representam para o progresso é 
maior do que podemos imaginar. 
 
A chave da paz interior e da vida feliz é a auto-estima elevada, pois é ela que está por trás 
de todo relacionamento bem-sucedido com os outros. 
 
4 O PREÇO DOS ESPELHOS DEFORMADOS 
 
A falta de respeito próprio 
Em seus esforços para gostar de si mesma, toda criança busca a aprovação e trabalha de 
maneira incessante para adquirir as habilidades que eliminam a impotência. Se as pessoas 
que a cercam não tomam conhecimento do desenvolvimento de seus poderes, ela não hesita 
em chamar-lhes a atenção para seus feitos. 
"Papai, veja como sou forte!” 
"Sabe de uma coisa? Eu já sei dar o laço no sapato!” 
"Eu corro mais do que o Billy!" 
Exibicionismo?Não necessariamente. Essas afirmações são apenas pedidos de reflexos 
positivos – são a retroalimentação necessária à auto-estima condigna. 
Quando as crianças não têm êxito na construção do respeito próprio, seguem caminhos 
diferentes, baseados nessas possibilidades (ou combinações de possibilidades). Elas: 
criam defesas: elaboram vários disfarces para os sentimentos de inadequação; 
conformam-se: aceitam sua inadequação como um fato e levam uma existência apagada; ou 
retraem-se: refugiam-se em fantasias que compensam as rejeições de que são vítimas. 
 
32 
 
Cada uma dessas opções tem o seu preço, o que reduz a plenitude da vida. 
O caminho percorrido pela criança é influenciado pelo temperamento, modelos, 
experiências e resultados de suas tentativas e erros. A maioria das crianças experimenta 
várias defesas antes de se submeter ou de se retrair, e estas duas opções, em geral, só são 
escolhidas em última análise. As crianças não desistem facilmente. 
 
Auto-estima e defesas 
Uma defesa é apenas uma arma psicológica contra a ansiedade, o medo, a insegurança ou a 
inadequação. Seu objetivo é ajudar a criança a manter sua integridade. Todos nós usamos 
recursos defensivos em algumas ocasiões. 
A tagarelice constante de Sally é a sua maneira de se colocar em posição de superioridade 
ante os irmãos e melhorar a sua própria situação. A conversa incessante de Meg serve para 
chamar a atenção sobre si própria: tem fome de ser notada. 
Há todo um arsenal de defesas. Compensação, racionalização, sublimação, deslocamento, 
negação e projeção são comuns em todos nós. Algumas vezes esses mecanismos ajudam a 
nossa adaptação, mas em outras causam problemas, particularmente quando recorremos a 
eles freqüentemente. (Comumente, a maioria das crianças acaba aprendendo que a 
fanfarronada, a tagarelice e as manobras para chamar a atenção costumam provocar a 
rejeição mais do que a aceitação.) Nossa intenção não é tratar a variedade de defesas 
detalhadamente, já que esse aspecto é abordado por outros livros, mas sim mostrar quais os 
seus objetivos, e examinar os que são comuns. 
A maior parte das defesas tem suas raízes na convicção secreta da criança de que é má, 
indigna e não merece ser amada. Esse sentimento secreto forma o núcleo da neurose. A 
neurose é, afinal de contas, apenas o tecido cicatrizante em torno de uma ferida psicológica. 
A criança que tem um respeito próprio profundo não precisa de defesas pouco sadias. 
Lembre-se de que: 
 
As defesas são erguidas em torno da debilidade, e não da força e da adequação. 
 
Sentimentos de inadequação e defesas doentias estão sempre juntos. 
Vamos ver como uma criança lida com a sua necessidade de respeito próprio. Suzie, uma 
menina vigorosa, positiva, sente que decepciona seus pais. Embora acreditando 
secretamente que a imagem que seus pais fazem dela é certa, o seu temperamento não lhe 
permite submeter-se passivamente. Em idade pré-escolar, ela se lança ao desafio e à 
rebelião; tenta abrir à força o caminho da aceitação através da agressão física direta. Aos 
seis anos, recorre aos disfarces (compensação) para esconder a sua inadequação. 
Interiormente ela se sente pequena e indigna, mas externamente é barulhenta, mandona e se 
impõe. Dizer a Suzie que deixe de se comportar dessa maneira é como tentar curar sarampo 
pulverizando a pele. Os sentimentos de desvalorização não são atingidos pelas repreensões; 
na verdade, são apenas intensificados. 
Aos oito anos, Suzie compreende que suas táticas apenas afastam as outras crianças. 
Incapaz de obter aprovação em casa, ela procura alguma maneira de contrabalançar isso aos 
olhos do grupo. Descobre, então, que tem habilidade para o basquete. Dedicando-se de 
corpo e alma a esse esporte, ela assiste aos jogos de sábado pela televisão, sob um olhar 
crítico. Depois da escola, usa seu tempo livre para treinar lançamentos e manobras. Aos 
dez, ela é a melhor jogadora da classe. Todos querem tê-la em seus times. Ela conseguiu, 
assim, um lugar real para si mesma na admiração da sua turma. 
Embora o basquetebol tenha sido apenas uma forma de compensar o sentimento original de 
falta de importância, essa solução 
 
34 
 
ajudou Suzie a conseguir o que ansiava ter – o respeito do grupo. Mas ela poderá enfrentar 
problemas mais tarde, quando o fato de ser boa jogadora de basquete já não for considerado 
importante pelo seu grupo. Aí então, se não desenvolver outras maneiras de conseguir 
aceitação, ela ficará desamparada. 
Outro tipo de compensação pode ser visto na criança que está sempre se esforçando para 
melhorar as suas realizações. John, por exemplo, convencido intimamente de sua falta de 
valor, "coleciona" todo o tipo de realizações para mostrar seu mérito. Mas, por mais 
espessas que sejam as suas "camadas de realizações", raramente serão suficientes para 
modificar a idéia que ele tem de si mesmo. As evidências externas não apagam a convicção 
firme que ele tem interiormente. 
A compensação é apenas um dos muitos recursos usados pelos seres humanos para 
conseguir o respeito próprio. 
 
Defesas e círculos viciosos 
Nem toda criança (ou adulto) encontra maneiras construtivas para elaborar a auto-estima. 
Muitas escolhem defesas que as lançam num círculo vicioso de autoderrota. Esses 
processos começam, geralmente, em casa. 
Suponhamos que Suzie não tivesse encontrado a solução do basquete. Suponhamos que em 
lugar disso continuasse a ser mandona, insistente, autoritária. Quanto mais se acentuam 
esses traços, mais rejeitada ela é. A inadaptação entre os colegas soma-se à rejeição pela 
família, e sua auto-estima cai ainda mais. 
No caso de Suzie, o círculo vicioso não pára. Quanto pior a sua relação com as pessoas, 
menos capaz ela é de se concentrar nos trabalhos escolares. Do seu ponto de vista – do 
ponto de vista de qualquer criança – pertencer a um grupo é mais importante do que a 
leitura ou o aprendizado das tabuadas de multiplicação. 
 
35 
 
Como ela pode se concentrar em abstrações quando interiormente está sangrando com as 
feridas da rejeição total? 
À medida que se acumulam as notas baixas, Suzie tem razões ainda maiores para se sentir 
indigna. Cada novo fracasso prepara o terreno para uma derrota futura. O fracasso como 
pessoa contribui para o fracasso escolar. Não importa, então, se o seu QI é elevado: seu 
quociente de adequação pessoal está cheio de falhas. 
Uma defesa doentia encontrada em crianças de baixa auto-estima é o apetite excessivo, e 
que dá início a um círculo vicioso difícil de ser rompido. 
Jane, de oito anos, sente-se como a ovelha-negra da família. A sensação de não ser aceita 
cria ansiedade e tensão. Uma de suas mais remotas lembranças é que o ato de comer lhe 
proporcionava uma sensação boa, relaxando as tensões internas. Como bebê, o comer 
estava ligado a ser colocada no colo e acarinhada. E, ao aprender a andar, observou a 
aprovação sorridente da mãe quando comia um bom prato. 
Agora, à base dessas lembranças e associações, ela se volta para a comida todas as vezes 
que se sente frustrada, tensa, solitária ou rejeitada. Não encontrando carinho entre as 
pessoas que a cercam, ela obtém uma satisfação momentânea com a comida. Comer tem as 
suas recompensas temporárias: a comida é gostosa. Para Jane, a comida torna-se o símbolo 
da ternura, da proximidade, da aprovação e dos sentimentos corporais agradáveis. Por isso 
ela se volta cegamente para o símbolo do antigo bem-estar e, alimentando-se, tenta 
compensar a si própria. 
Numa autotolerância solitária, ela come demais e torna-se cada vez mais gorda. Isso faz 
com que seja menos atraente e menos competente nos jogos, e em pouco tempo passa a ser 
alvo de piadas. Então ela se volta ainda mais para a comida, e o círculo vicioso se aperta. 
Quanto mais gorda fica, mais é objeto de risos. A cada nova rejeição, ela corre para a 
comida. E Jane refugia-se num ódio a si mesma e na alienação. 
 
36A fachada falsa 
Algumas crianças (e adultos), com sentimentos profundos de inadequação, recorrem à 
defesa de usar uma boa fachada. A menina-modelo é um desses casos. Os pais de Marie só 
a apreciavam quando ela estava arrumada, era cuidadosa, bondosa e ponderada. Enquanto 
ela era boazinha, tinha um lugar seguro na afeição deles. 
Ela escondia seus sentimentos normais de raiva, ciúme, frustração e ansiedade. 
Superficialmente, tudo parecia ótimo. O problema é que ela sabia que tais sentimentos 
inaceitáveis estavam escondidos lá dentro. (As desvantagens dos sentimentos negativos 
reprimidos e seu impacto sobre a auto-estima serão examinados no Capítulo 14.) Marie 
passava a maior parte do tempo edificando a sua imagem de "boa menina" para agradar aos 
outros. Tornou-se uma pessoa dependente, flexível, procurando, em todos os seus atos, 
conseguir a aprovação e esconder o seu "lado mau". Apesar de seu sucesso em disfarçar, 
não tinha confiança em si mesma. Suas energias eram dedicadas a parecer perfeita e não a 
desenvolver seu potencial. Ela tornou-se escrava do "dever" e acumulou, ainda, outras 
evidências exteriores de "sucesso". Em tais casos, "a ênfase transfere-se do ser para o 
parecer", como disse Karen Homey (1). 
(1) Karen Homey, Neurosis and Human Growth, NovaYork, W. W. Norton & Co., 1950, p. 
38. 
Todos nós conhecemos pessoas que aparentam confiança, mesmo quando não a sentem. 
Algumas vezes somos enganados, mas um nervosismo, um exagero ou uma tensão em seu 
comportamento freqüentemente denuncia a inadequação que está por trás da aparência. 
Larry é um tanto barulhento, agita demais as mãos, ri com exagero e não consegue ficar 
sentado por muito tempo. Dá a impressão de que se empenha mais em parecer, do que em 
ser confiante. Pessoas como Larry nunca chegam a se mostrar como 
 
37 
 
realmente são. E não conseguimos penetrar além da máscara para chegar à pessoa real. 
Toda pessoa que constrói um falso "eu" cai numa armadilha. As reações que obtém são 
relativas à máscara que usa, mas não ao seu verdadeiro eu. Essa pessoa sabe que sua 
fachada não é autêntica e por isso procura ostentar, na aparência, a aprovação que recebe. 
Vive com a convicção de que "As pessoas gostam do meu falso eu, mas esse não sou eu 
realmente". A aprovação, nesse caso, tem pouco significado, pois é dirigida para alguma 
coisa que não é autêntica. 
A pessoa verdadeira nunca tem a oportunidade de desenvolver-se, porque está distanciada 
da sua fonte de alimentação: a interação social com os outros. Essa pessoa teme deixar que 
alguém a veja como é, porque aprendeu na infância – em geral, dos pais – que seu 
verdadeiro eu é inaceitável. Levando tal suposição para a idade adulta, ela perde a 
oportunidade de verificar como as pessoas reagirão ao seu verdadeiro modo de ser. Embora 
a máscara possa ter sido adequada na infância, mais tarde poderá deixar de sê-lo. Ela supõe 
que a fachada a protegerá contra novas rejeições. Mas essa máscara é uma armadilha. E, 
enquanto insistir nesse jogo, suas relações com os outros continuarão falsas. 
Mildred nasceu numa família extrovertida e aprendeu, desde cedo, que para ser aceita pelos 
seus também ela teria que ser extrovertida. Armou-se da fachada necessária, mas a solidão 
de viver atrás de uma máscara começou a cansá-la. Minou-lhe as energias até que, como 
adulta, ela começou a passar muito tempo na cama, com uma série de doenças. 
Aos quarenta anos submeteu-se a um tratamento e aprendeu a aceitar a sua verdadeira 
natureza – a de uma pessoa tranqüila, quieta. Compreendendo que sua vida tinha sido um 
longo jogo de representação, ela reconheceu que para a sua saúde física e mental tinha de 
viver de acordo com a sua própria natureza, embora isso significasse não corresponder ao 
que dela se esperava. 
 
38 
 
Ficou espantada quando seus amigos mais íntimos lhe disseram preferir a Mildred 
verdadeira à falsa. Ao contrário da família, esses amigos apreciavam a pessoa tranqüila, 
gentil, ou seja, o que ela era na realidade. 
Com freqüência só o reexame dos velhos padrões absorvidos na infância pode nos fazer 
abandonar as máscaras que achamos que devemos usar. Verificamos, para nossa surpresa, 
que elas já não têm "valor de sobrevivência". Na verdade, os outros gostam muito mais de 
nós sem elas, pois a autenticidade é cativante. 
Muitas pessoas acreditam que devem "parecer boas" – aparentar força, eficiência, 
competência, perfeição – para serem aprovadas. E passam anos preparando boas fachadas, 
sem jamais compreender que elas, a longo prazo, acabam aprisionando o verdadeiro eu. 
O adolescente senhor de si, a mulher que prefere morrer a ser vista sem a sua maquilagem, 
a outra que fica muito aborrecida se a vizinha aparece no momento em que a casa está 
desarrumada, ou o homem baixinho que tem mania de brigar – todas essas pessoas 
habitualmente guardam sentimentos secretos de inadequação. Sentindo-se interiormente 
pouco adequadas, elas procuram parecer competentes. Inversamente, a pessoa que se sente 
bem adequada interiormente não tem de apresentar sempre uma imagem perfeita para os 
outros. 
 
As máscaras são usadas para ocultar o "eu indigno". 
 
Elas encobrem uma auto-estima precária. Quando a nossa convivência com os jovens os 
leva a gostar genuinamente do que são, eles não precisam de máscaras. 
 
Submissão e retraimento 
A criança que não consegue desenvolver defesas adequadas pode recorrer à submissão ou 
retraimento. Bárbara e Harold, por exemplo, optaram por elas. 
 
39 
 
Bárbara sentia-se pouco aceita pelos pais e, sendo passiva por natureza, fez apenas tímidas 
tentativas de conseguir aprovação. O caráter extremamente dominador do pai, e sua aversão 
pelas mulheres, predominava na casa. Durante toda a sua infância, Bárbara viu a mãe 
aceitar passivamente o papel de capacho. Tomando-a por modelo, Bárbara cresceu 
acreditando que não merecia respeito. Como a mãe, escolheu uma vida de abnegação e 
submissão. 
As primeiras experiências de Harold também o convenceram de que tinha pouco valor. 
Tentou conquistar o amor dos pais de muitas maneiras, mas nunca conseguiu. A rejeição 
deles e as violentas brigas que presenciou deixaram-no com medo das pessoas. Não tinha 
muita coragem para tentar aproximar-se dos outros, e os poucos esforços que fez nesse 
sentido falharam da mesma forma. 
Para Harold, o mundo real e as pessoas que nele vivem não lhe davam satisfação pessoal, 
nem conforto psicológico. Frustrado pela sua incapacidade de obter satisfação no mundo 
exterior, ele voltou-se para si mesmo, para o conforto solitário dos devaneios. Em sua 
imaginação, organizava o tipo de mundo e de tratamento que desejava. O recolhimento para 
a fantasia não só lhe poupava novas rejeições, como lhe dava um lugar só seu, no qual 
podia sentir-se menos ameaçado. Ele preferiu se retrair. 
Em geral, quanto pior é o comportamento da criança, maior seu desejo de aprovação. 
Quanto mais retraída ou desagradável, mais ela precisa de amor e aceitação. Quanto 
maiores as suas defesas, mais faminta e alienada está. No entanto, as próprias defesas da 
criança tornam menos provável a conquista da aceitação desejada. Assim, ela gira nesse 
círculo, tecendo a teia que acaba por transformar-se em seu cárcere pessoal. 
Nossas prisões, nossos tribunais e nossos hospitais ocupam-se, diariamente, de pessoas que 
sofreram os efeitos dos espelhos extremamente deformados, e dos reflexos negativos em 
suas vidas. Na verdade, as páginas da história estão cheias de exemplos 
 
40 
 
do impacto brutal que essas pessoas tiveram no decorrer dos acontecimentos. 
Nada disso precisa acontecer. Os círculos viciosos podem ser evitados ou rompidos, uma 
vez iniciados. (Ver capítulos de 6 a 13.) Cada pai e cada professor tem possibilidade de 
oferecer reflexos que impeçam as crianças de ter uma existência infeliz e deformada. 
Submissão, retraimento e defesas doentias são escolhasque as crianças podem evitar, se 
forem ajudadas nesse sentido. Lembre-se de que: 
Se você vive com uma criança de maneira que sufoque sua auto-estima, você impede o seu 
crescimento positivo; na verdade, você estimula o desenvolvimento deformado, defensivo. 
 
O ciclo saudável 
Quando conhecemos a importância dos reflexos positivos, podemos fazer com que a 
criança inicie um ciclo saudável e não um ciclo destrutivo. Esse ciclo funciona da mesma 
maneira, exceto pelo fato de basear-se em reflexos positivos. 
Joe, por exemplo, sentia-se profundamente amado e valorizado pela sua família. Quando 
estava com outras crianças suas brincadeiras eram pacíficas e não-defensivas. Naturalmente 
ele fazia amigos logo e os conservava. Não precisando de suas energias para a defesa, ele 
podia relaxar na escola, dedicando toda atenção aos estudos, e utilizar toda a sua 
capacidade. Os reflexos positivos do lar, dos amigos e da escola o envolveram num círculo 
saudável de aceitação e de domínio de si mesmo. O círculo crescente de reflexos positivos 
alimentou a sua convicção original de que tinha importância, e a sua felicidade confiante 
atraiu os outros. 
A maneira pela qual nós vivemos com os nossos filhos, durante os seus primeiros anos de 
vida, prepara o cenário para o círculo vicioso ou saudável. Mesmo nas melhores 
circunstâncias, porém, as experiências de vida e as pessoas fora da família podem 
proporcionar à criança reflexos negativos. Mas quanto menores forem as mensagens 
negativas que a criança receber da família melhor ela poderá resistir aos reflexos dos 
outros. 
Nós, os pais, não somos totalmente responsáveis pelo grau de auto-estima da criança, mas 
desempenhamos um papel importante na visão inicial que ela tem de si mesma, e que será 
significativa em sua vida, por muitos anos. 
 
5 A ARMADILHA DOS REFLEXOS NEGATIVOS 
 
Modificação dos autoconceitos 
A auto-estima não é de caráter definitivo, embora, uma vez formada, não seja fácil 
modificá-la. A visão que a criança tem de si mesma geralmente muda com o seu 
crescimento e com suas novas experiências. O respeito próprio de Jimmy, por exemplo, 
sobe um ponto quando o simples crescimento físico lhe permite andar de bicicleta. 
O processo de formação da auto-imagem se faz da seguinte maneira: um novo reflexo, uma 
nova experiência, ou o crescimento, leva a um novo êxito ou fracasso, que por sua vez leva 
a uma nova concepção, ou a uma concepção revista, de si mesmo. Dessa maneira, o 
autoconceito de cada pessoa evolui, em geral, durante toda e sua vida. 
 
Autoconceitos rígidos Às vezes, porém, a atitude da criança para consigo mesmo torna-se 
rígida, e isso significa problema. De que modo isso acontece? 
Como já vimos, a auto-estima surge com o sentimento, experimentado pela criança, de que 
pode ser amada e de que é digna. Desses dois sentimentos, o primeiro – acreditar na própria 
importância simplesmente porque se existe – é básico. Quando uma 
 
44 
 
criança sente que não é amada, as provas de sua competência ou valor podem ter pouco 
significado. 
A criança (ou adulto) que está firmemente convencida de que não é boa está preparada, por 
assim dizer, para só registrar os reflexos que confirmam essa imagem negativa que tem de 
si mesma. A convicção de que "não sou amada" age como um par de óculos de sol, que 
filtram mensagens contraditórias. Não gostando de si mesma, a criança desconhece, ou 
rejeita, os reflexos que contrariam essa auto-imagem. 
A razão disso é que os seres humanos devem ser coerentes consigo mesmos. 
 
Devemos sentir-nos intimamente coerentes – "feitos de uma só peça". Nenhuma pessoa 
pode acreditar que não tem importância e ao mesmo tempo acreditar que tem valor para si e 
para os outros. Os dois sentimentos são contraditórios. 
Tina, de catorze anos, por exemplo, sente que não é basicamente amada, porque registrou 
poucas vezes reflexos de seu valor como pessoa. Aprendeu a ver a sua incapacidade de ser 
amada como uma qualidade inata; como uma espécie de fato consumado. Faltam-lhe certos 
talentos que são valorizados pelo seu grupo: não sabe dançar, nem nadar. A convicção de 
que é inferior influi na compreensão das lições que recebeu de seus pais. Ela tem pouca 
confiança em sua capacidade de aprender, e, mesmo quando aprende, a imagem 
fundamental que tem de si mesma como pessoa não se modifica. Está convencida de sua 
inadequação, por mais competente que seja. Ela pensa: "Ah, claro, sei nadar, dançar, jogar 
tênis e tocar violão, mas e daí? Muita gente também sabe fazer essas coisas e até melhor. 
Minhas habilidades não significam nada!" 
Tina não pode usar os seus talentos para melhorar a sua auto-imagem. Sentindo-se 
rejeitada, ela tem de centralizar sua atenção nas debilidades e não em seus pontos fortes. As 
suas realizações tornam-se, nesse caso, vitórias sem importância. Tendo uma 
 
45 
 
auto-imagem sólida como concreto, Tina perpetua a baixa estima que tem de si mesma. 
Firme no processo de continuamente redoutrinar-se, ela se alimenta do que está errado. A 
menos que sua convicção sobre si própria se modifique, sua neurose tenderá a crescer com 
a idade. Com o passar dos anos ela aumentará sua coleção de provas contra si mesma. Mas, 
se em lugar disso Tina tivesse sentido que seus pais a aprovavam, poderia reconhecer seus 
talentos, pois seus êxitos a fariam acreditar em seu próprio valor. 
Um outro aspecto positivo do sentimento de ser amada é que a confiança em si própria 
permite à criança aceitar a ausência de certos talentos, sem colocar em perigo a auto-estima. 
Por gostar de si mesmo, Mark não acredita que deva ser perfeito. Ele não vê as suas 
deficiências como provas de inadequação pessoal, mas como áreas nas quais pode crescer. 
A baixa estima que June tem de si mesma, pelo contrário, faz com que ela utilize todas as 
suas fraquezas como uma arma contra si mesma. Ela espera a perfeição, e nada do que faz é 
suficientemente bom. 
 
A baixa auto-estima está ligada a exigências impossíveis do eu. 
 
Todos nós encontramos pessoas que parecem incapazes de superar suas inadequações. É 
surpreendente observar as manobras mentais que estas fazem para ignorar suas próprias 
habilidades. Temos, por exemplo, a jovem convencida de que é burra, embora os testes de 
inteligência mostrem o contrário. Há, também, a mulher bonita que acredita ser feia; o 
homem que vê rejeição em situações que os outros interpretam de maneira diferente, e a 
pessoa de grande competência que sempre fica aquém de seus objetivos para poder 
alimentar a idéia de inabilidade. De qualquer maneira, tais pessoas não conseguem acreditar 
que têm algo a oferecer. Por quê? A necessidade de coerência interior as leva a proteger e a 
preservar a auto-imagem formada anteriormente. 
 
46 
 
Se os que têm uma baixa auto-estima pudessem admitir os reflexos positivos, a convicção 
de que não são amados, que serve de base às suas vidas, teria de ser modificada. Isso 
significaria a reorganização de suas convicções básicas sobre si mesmos. 
Abrir mão da identidade que cultivaram durante anos, mesmo que essa auto-imagem seja 
insatisfatória, é desnorteante. Viver com o que se conhece, mesmo sendo desagradável, é 
mais seguro. A pessoa que se apega a uma identidade negativa se protege das grandes 
mudanças, já que as vê com desconfiança. A mudança implica tentar o que é novo, 
aventurar-se no desconhecido; significa abrir mão da segurança das coisas familiares. 
A pessoa que viveu com a rejeição e o fracasso tem um medo ainda maior da mudança 
porque a novidade pode trazer mais notícias ruins. E ela já teve muitas notícias más. Em 
contraste, a pessoa com experiências positivas tem uma base para acreditar que a mudança 
lhe trará coisas boas. 
Ocasionalmente, encontramos crianças (ou adultos) cujo autoconceito parece estar fixado 
numa direção positiva. Elas se comportam como se fossem uma "dádiva de Deus à 
humanidade". A imagem

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