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ROTINAS MICROBIOLÓGICAS EM ITUs 1)Introdução -Infecções do trato urinário são definidas pela presença de agente infeccioso na urina, em quantidades superiores a 100.000 unidades formadoras de colônias bacterianas por mililitro de urina (UFC/mL). Mais comum em crianças, adultos jovens e mulheres sexualmente ativas, são divididas em: • Altas: que envolvem o parênquima renal (pielonefrite) ou ureteres (ureterites); • Baixas: que envolvem a bexiga (cistite) a uretra (uretrite), e nos homens, a próstata (prostatite) e o epidídimo (epididimite). -Aqueles sintomáticos são considerados, portanto, com infecção urinária. Já os assintomáticos, são definidos como portadores de bacteriúria assintomática (subdivididos em candidatos à antibióticos – gestantes – ou não). 2)Evolução das ITUs 1. Episódio único ou isolado -Ocorre uma única vez e resolve habitualmente pelo uso de antibioticoterapia. Um segundo episódio isolado, pode ocorrer sem relação temporal com o anterior; -Entre 10 a 20% das mulheres irão apresentar no decorrer da vida pelo menos um episódio de infecção urinária (principalmente c/ vida sexual ativas). 2. Recidiva ou recaída de ITU -Em consequência a falha no tratamento com antibióticos, o mesmo micro-organismo isolado previamente persiste no trato urinário, causando infecção ou bacteriúria assintomática. -A persistência do mesmo micro-organismo por meses ou anos, leva a infecção urinária crônica. 3. Reinfecção -É a ocorrência de um novo episódio de ITU, sem relação com o evento anterior, causado por outro micro-organismo. -Episódios repetidos de reinfecção não devem ser confundidos com infecção urinária crônica. 4. ITU crônica -Representa a persistência do mesmo micro- organismo por meses ou anos com recidivas após tratamento; *Caso de pielonefrite crônica – há associação com comprometimento da pelve e parênquima renal. 5. ITU recorrente -Ocasionalmente a recorrência é pela persistência do mesmo agente (recidiva), cerca de 90% dos episódios ocorre por reinfecção, com meses de intervalo entre eles. -Dois ou mais episódios no período de 6 meses ou três ou mais no período de um ano definem as infecções recorrentes na mulher; -Nos homens, a ITU recorrente é definida quando ocorrem dois ou mais episódios de ITU em um período de até 3 anos; *Quanto à presença de fatores predisponentes ou agravantes as ITUs são classificadas em dois grupos: • ITU não complicada: ocorre primariamente em mulheres jovens sexualmente ativas sem anormalidade anatômica ou funcional do aparelho geniturinário. • ITU complicada: ocorre em indivíduos que já possuem alguma anormalidade estrutural ou funcional do processo de diurese. Exemplos: o Presença de cálculos renais ou prostáticos; o Doenças subjacentes em que haja predisposição a infecção renal (diabetes melitos, anemia falciforme, doença policística renal, transplante renal); Obs.: as ITUs em crianças, gestantes, homens e infecções do trato urinário alto (pielonefrite) são consideradas infecções complicadas. -As ITU são comumente causadas por bacilos G- (BGN) com prevalência acima de 80%, destacando-se como principal representante: Escherichia coli, seguida por Klebsiella spp., Proteus spp., Enterobacter spp. e Citrobacter spp. • Proteus mirabilis está frequentemente associado a cálculos urinários, provavelmente porque este micro-organismo produz uma potente urease que degrada a ureia com produção de amônia, tornando a urina alcalina. • Klebsiella, Enterobacter, e Pseudomonas aeruginosa são micro-organismos mais frequentemente encontrados em infecções adquiridas em hospitais (a resistência destes organismos aos antibióticos favorece a infecção em pacientes hospitalizados). -Já em relação aos cocos G+ (CGP), é observada uma menor frequência, em torno de 10% a 20%, sendo que, destes, os agentes mais prevalentes são: Staphylococcus saprophyticus, seguido por Enterococcus faecalis, S. aureus. 3)Patogênese • Via ascendente -As bactérias estabelecem a infecção subindo a partir da uretra para a bexiga, podem vir da flora fecal que colonizam a área periuretral posteriormente entram na bexiga por meio da uretra. -É a mais frequente, principalmente em mulheres (pela menor extensão da uretra) e em pacientes submetidos à instrumentação do trato urinário. -A ascensão continuada pelo ureter até o rim é o trajeto para a maioria das infecções do parênquima renal, causando a pielonefrite. • Via hematogênica -Ocorre quando as bactérias na circulação sistêmica, devido intensa vascularização do rim, atingem-no, podendo o mesmo ser comprometido em qualquer infecção sistêmica. É a via mais relacionada com alguns micro-organismos, como: Staphylococcus aureus, Mycobacterium tuberculosis e Histoplasma spp (fundo filamentoso). -Principal via das ITU(s) em neonatos, considerada complicada. • Via linfática -É rara, micro-organismos alcançarem o rim pelas conexões linfáticas entre o intestino e o rim e/ou entre o trato urinário inferior e superior. -Virulência do microrganismo Aderência às células uroepiteliais e vaginais (Adesinas, fímbrias) para não ser eliminada pelo jato urinário; resistência à atividade bactericida do soro; polissacarídeos capsulares, sideróforos (sequestradores de ferro) e citotoxinas. -E. coli uropatogênica (UPEC) Fímbria P: é o principal determinante de colonização e invasão da bexiga e do trato urinário superior. É epidemiologicamente associado a pielonefrite. Fímbria FocA: aumenta a adesão bacteriana a células da bexiga e células tubulares renais. Hemolisina: capaz de lisar eritrócitos através da formação de poros na membrana, promovendo, assim, o extravasamento do conteúdo citoplasmático da célula, podendo levar à morte celular. -Adequação dos mecanismos de defesa do hospedeiro propriedades antibacterianas da urina (elevada osmolalidade e baixo pH) e da mucosa do trato urinário (citocinas, mecanismos antiaderência); efeito mecânico da micção; resposta imune e inflamatória; integridade anatômica e funcional das vias urinárias; tamanho do inóculo/suspensão bacteriana (quanto maior o inóculo que alcança o rim, maior a chance de infecção). 4)Sinais e Sintomas • Bacteriúria assintomática -Mulheres: É utilizado o critério do crescimento ≥ 105 UFC/mL em 2 amostras de urina colhidas com isolamento do mesmo organismo, sem sinais e sintomas de ITU. Homens: o crescimento ≥ 105 UFC/mL em 1 única amostra com isolamento do mesmo organismo, sem sinais e sintomas de ITU. -Nesses casos, a recomendação para antibioticoterapia é apenas em GRÁVIDAS, uma vez que possuem um risco de 20-30x maior de desenvolver pielonefrite, c/ probabilidade maior de parto prematuro e recém-nascidos de baixo peso. • Neonatos e crianças até 2 anos: -Geralmente assintomáticas, mas quando possui sintomas, são inespecíficos: irritabilidade, diminuição da amamentação, menor desenvolvimento pondero- estatural, diarreia e vômitos, febre e apatia. -Cerca de 7% dos casos podem estar acompanhados de icterícia e de hepatoesplenomegalia. • Crianças maiores: disúria, frequência e dor abdominal. • Adultos: ITU baixas: limitada a uretra e bexiga, apresentam disúria frequente, urgência miccional. Podem queixar- se também de urina turva ou com odor fétido. Para dar o diagnóstico de cistite, recomenda-se que considere sintomas + crescimento de 103 colônias/ml. ITUs altas: pielonefrite é acompanhadas pelos mesmos sintomas das infecções baixas, além de dor nos flancos, febre e crescimento de 104 colônias/ml. -Hematúria macroscópica está presente em 10 a 15% desses pacientes. Bacteremia quando presente poderá confirmar um diagnóstico de pielonefrite ou prostatite. Obs.: flora normal – de acordo com a faixa etária e condições do paciente, raramente causam ITUs, apresentando em geral contagem de colônias menor que 1000 UFC/ml. Principais representantes: o Streptococcusviridans; o Staphylococcus spp. (exceto Staphylococcus aureus e S. saprophyticus); o Lactobacillus spp. 5)Diagnóstico O diagnóstico é clínico-laboratorial: -Anamnese: padrão miccional, hábito intestinal, características do jato urinário, sintomas associados (febre, vômitos, diarreia), atividade sexual e gravidez. -Laboratoriais: piúria (leucócitos na urina) e/ou bacteriúria e também pela urocultura com contagem de colônias (se houver alteração no sedimento urinário), associados ao antibiograma • Pesquisa da Piúria -Reflete a possibilidade de resposta inflamatória do trato urinário, através da pesquisa de esterase leucocitária e pelo exame de sedimento urinário. -A causa mais comum é a infecção bacteriana, confirmada pela urocultura. Obs.: poderá ser evidenciada nas situações clínicas apresentadas abaixo, cuja urocultura resulta negativa: • Exame de urina (EAS) -Admitem-se 5 leucócitos/campo como ponto de corte do valor de referência. O jato médio urinário constitui a amostra mais utilizada para a avaliação de leucocitúria. • Bacteriúria -Através da bacterioscopia direta da urina com coloração de Gram; -Testes bioquímicos, dependendo da bactéria isolada; -Testes químicos: fitas de nitrato redutase (presença de nitrito no sumário de urina). Só é (+) em ITU causada por enterobactérias, pois só elas apresentam esta atividade. -Cultura de urina é o padrão-ouro para o diagnóstico de ITU. *Bacteriúria: ≥ 100.000 bactérias por mL de urina. • Urocultura -Crescimento bacteriano em meios de cultura seletivos e diferenciais que propiciam o desenv. de patógenos de interesse em infecções urinárias; O objetivo é isolar e quantificar bactérias patogênicas, feito a partir de uma amostra não centrifugada. -Procedimento que avalia crescimento e contagem dos microrganismos Técnica de Semeadura Quantitativa As placas usadas com meio seletivo (MacConkey ou EMB) e outro meio não seletivo (Ágar Sangue de Carneiro a 5%). Incubar em estufa de 35 ± 2 °C por 18 a 24 horas. Levar em consideração a presença de micro- organismos ou número elevado de leucócitos. Leitura das placas: interpretar o crescimento das colônias de acordo com a quantidade de urina semeada nas placas. Para isso, algumas informações são consideradas úteis: o Se o(a) paciente apresenta sintomas de infecção urinaria ou leucocitária; o Gestante, Idade/sexo; o Tipo de coleta: jato médio, coletor, punção de sonda vesical em sistema fechado; o Uso prévio de antibióticos a coleta da amostra, etc. Meio de cultura: Ágar CLED. Resultado: Lactose positiva: cor amarela / Lactose negativa: cor azul -Outros dados laboratoriais que podem contribuir para o diagnóstico: Hematúria: quando detectada isoladamente sugere tuberculose renal, litíase renal, doença policística renal, cistite viral e trauma após cateterização; Proteinúria: resposta fisiológica à exercícios físicos prolongados ou postura ereta (proteinúria ortotástica); Teste de Sensibilidade a antimicrobianos (TSA) ou antibiograma: -É fornecer resultados precisos da ação antibacteriana de um conjunto de antibióticos disponíveis contra uma bactéria patogênica a partir de testes in vitro, de modo a determinar seu perfil de sensibilidade e prever a eficácia in vivo de determinado fármaco. -Seu princípio básico é a difusão do antimicrobiano na superfície do ágar, a partir de um disco impregnado. Após a medição dos halos, é feita sua interpretação, utilizando os critérios estabelecidos pelo CLSI específicos para a bactéria testada. Resultado: resistente (sem halo), intermediário e sensível. Hemocultura: -Sem valor em pacientes com cistite; em quadro de pielonefrite, torna-se potencialmente valioso sua positividade (25%); vê-se bacteremia (bactérias no sangue), a determinação do agente etiológico fará toda a diferença no esquema terapêutico, evolução clínica e prognóstico do paciente. -Idealmente, a coleta deve ser feita antes do início da antibioticoterapia de pacientes que configurem quadro clínico com: internação e que apresentem febre (> 38ºC) ou hipotermia (< 36ºC); leucocitose (> 10.000/mm3, especialmente com desvio à esquerda); granulocitopenia absoluta (< 1000 leucócitos/mm3). -Recomenda-se coletar no mínimo 2-4 amostras por episódio infeccioso em locais diferentes do corpo – permite o isolamento do agente bacteriano ou fúngico em mais de 95% dos eventos. -Laudo final possui: Repostar o micro-organismo isolado (gênero e espécie) e o sítio da coleta (sangue periférico, ponta de cateter, etc.); Horário da coleta e temperatura do paciente no momento da coleta; No caso de metodologias automatizadas em que foram coletadas simultaneamente amostras de sangue periférico e via cateter, recomenda-se informar o intervalo de tempo para a detecção da positividade das hemoculturas, separadamente; Bactérias isoladas no sangue periférico do tipo S. aureus, Streptococcus pneumoniae, enterobactérias, P. aeruginosa e fungos Candida albicans tem elevado valor preditivo de infecção.
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