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Professora Dra. Érica Benassi Zanqueta MICROBIOLOGIA E IMUNOLOGIA CLÍNICA REITOR Prof. Ms. Gilmar de Oliveira DIRETOR DE ENSINO PRESENCIAL Prof. Ms. Daniel de Lima DIRETORA DE ENSINO EAD Prof. Dra. Giani Andrea Linde Colauto DIRETOR FINANCEIRO EAD Prof. Eduardo Luiz Campano Santini DIRETOR ADMINISTRATIVO Guilherme Esquivel SECRETÁRIO ACADÊMICO Tiago Pereira da Silva COORDENAÇÃO DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO Prof. Dr. Hudson Sérgio de Souza COORDENAÇÃO ADJUNTA DE ENSINO Prof. Dra. Nelma Sgarbosa Roman de Araújo COORDENAÇÃO ADJUNTA DE PESQUISA Prof. Ms. Luciana Moraes COORDENAÇÃO ADJUNTA DE EXTENSÃO Prof. Ms. Jeferson de Souza Sá COORDENAÇÃO DO NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Prof. Me. Jorge Luiz Garcia Van Dal COORDENAÇÃO DOS CURSOS - ÁREAS DE GESTÃO E CIÊNCIAS SOCIAIS Prof. Dra. Ariane Maria Machado de Oliveira COORDENAÇÃO DOS CURSOS - ÁREAS DE T.I E ENGENHARIAS Prof. Me. Arthur Rosinski do Nascimento COORDENAÇÃO DOS CURSOS - ÁREAS DE SAÚDE E LICENCIATURAS Prof. Dra. Katiúscia Kelli Montanari Coelho COORDENAÇÃO DO DEPTO. DE PRODUÇÃO DE MATERIAIS Luiz Fernando Freitas REVISÃO ORTOGRÁFICA E NORMATIVA Beatriz Longen Rohling Carolayne Beatriz da Silva Cavalcante Caroline da Silva Marques Eduardo Alves de Oliveira Jéssica Eugênio Azevedo Marcelino Fernando Rodrigues Santos PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Hugo Batalhoti Morangueira Bruna de Lima Ramos Vitor Amaral Poltronieri ESTÚDIO, PRODUÇÃO E EDIÇÃO André Oliveira Vaz DE VÍDEO Carlos Firmino de Oliveira Carlos Henrique Moraes dos Anjos Kauê Berto Pedro Vinícius de Lima Machado Thassiane da Silva Jacinto FICHA CATALOGRÁFICA Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP Z33m Zanqueta, Érica Benassi Microbiologia e imunologia clínica / Érica Benassi Zanqueta. Paranavaí: EduFatecie, 2023. 91 p.: il. Color. 1. Microbiologia. 2. Imunologia. 3. Imunologia clínica. I. Centro Universitário UniFatecie. II. Núcleo de Educação a Distância. III. Título. CDD : 23 ed.616.079 Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577 As imagens utilizadas neste material didático são oriundas dos bancos de imagens Shutterstock . 2023 by Editora Edufatecie. Copyright do Texto C 2023. Os autores. Copyright C Edição 2023 Editora Edufatecie. O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores e não representam necessariamente a posição oficial da Editora Edufatecie. Permitido o download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais. https://www.shutterstock.com/pt/ 3 AUTORA Professora Dra. Érica Benassi Zanqueta Biomédica, mestre e doutora em Ciências Farmacêuticas, atuante na docência desde 2018. Sou uma apaixonada por pesquisa, curiosidades, análises clínicas, estética e desenvolvimento de fármacos e cosméticos. Também sou especialista em educação à distância e gosto de atender aos meus alunos sempre de forma humanizada, enfatizando que essa é a base do profissional de saúde. ● Graduação: Biomedicina (UNICESUMAR - 2012); ● Mestrado: Ciências Farmacêuticas - Microbiologia de Produtos Naturais e Sintéticos (Universidade Estadual de Maringá - 2014); ● Doutorado: Ciências Farmacêuticas - Microbiologia de Produtos Naturais e Sintéticos (Universidade Estadual de Maringá - 2018); ● Atuante na docência desde 2019 na UNIFAMMA - Maringá - PR; ● Coordenadora de cursos da saúde presencial e EaD desde 2019 na UNIFAMMA - Maringá - PR; ● Experiência em informática em saúde e suporte ao cliente; ● Produtora de materiais didáticos para cursos da saúde e pós-graduação em saúde. CURRÍCULO LATTES: http://lattes.cnpq.br/1191279307741987 http://lattes.cnpq.br/1191279307741987 4 APRESENTAÇÃO DO MATERIAL Olá querido (a) aluno (a), seja bem vindo (a)! Sou a professora Érica e estarei com você durante a fascinante viagem pela microbiologia e imunologia clínica. Este mundo fantástico onde vivem microrganismos e células imunológicas e nós, laboratoristas, temos que nos adaptar e tentar viver também. Sendo assim, será necessário que vocês retomem alguns conceitos prévios sobre microbiologia e imunologia básica que, neste ponto de seu curso, já foram estudados. Na primeira unidade, vamos abordar os principais métodos de coleta de amostras clínicas, principalmente no laboratório de microbiologia. Pensem bem, uma amostra que foi coletada errada, pode ter sido contaminada com microrganismos externos e não fazer jus à doença do paciente, correto? Ou pior, a contaminação pode ocorrer durante o processo de transporte, por mau acondicionamento. Em seguida abordaremos os principais meios de cultura utilizados e os conceitos gerais de biossegurança e controle de qualidade no laboratório de microbiologia clínica, protegendo tanto o laboratorista, quanto a amostra do paciente. Na segunda e terceira unidades, vamos abordar de fato os principais métodos de coleta, cultivo e microrganismos de cada grande sistema do nosso corpo, na seguinte ordem: trato respiratório; sistema nervoso central; trato urinário; pele e infecções sistêmicas. Encerrando a microbiologia clínica, na unidade III vamos falar sobre a importância dos testes de susceptibilidade aos antimicrobianos e como é realizado o diagnóstico das infecções fúngicas. Por fim, encerramos a nossa apostila falando um pouco sobre imunologia clínica. E aqui há um mundo cheio de possibilidades para explorar, visto que o sistema imunológico é muito complexo e compreende uma vasta gama de células e partículas que podem ser exploradas do ponto de vista diagnóstico. Portanto, vamos falar dos principais testes utilizados para as doenças no geral, incluindo as doenças virais e as alergias (hipersensibilidades). Ufa! É bastante conteúdo, mas espero que vocês aproveitem. E não se esqueçam de checar os materiais complementares que disponibilizamos a todos. Um abraço e até breve! SUMÁRIO UNIDADE 1 Introdução ao Estudo Microbiológico UNIDADE 2 Exames Microbiológicos - Parte 1 UNIDADE 3 Exames Microbiológicos - Parte 2 UNIDADE 4 Imunologia Clínica 5 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Plano de Estudos ● Coleta, transporte e armazenamento de material microbiológico; ● Principais meios de cultura utilizados na microbiologia clínica; ● Biossegurança em laboratório de microbiologia; ● Controle de qualidade em microbiologia. Objetivos da Aprendizagem ● Conceituar e contextualizar os principais métodos de coleta, transporte e armazenamento de amostras microbiológicas; ● Compreender as diferenças e semelhanças dos meios de cultura utilizados para cultivo de bactérias e fungos;● Estabelecer a importância da biossegurança no laboratório de microbiologia, enfatizando a utilização de EPIs; ● Apresentar os conceitos sobre controle de qualidade em microbiologia. 1UNIDADEUNIDADE INTRODUÇÃO INTRODUÇÃO AO ESTUDO AO ESTUDO MICROBIOLÓGICOMICROBIOLÓGICO Professora Doutora Érica Benassi Zanqueta INTRODUÇÃO UNIDADE 1 INTRODUÇÃO AO ESTUDO MICROBIOLÓGICO 7 Você já parou para pensar na quantidade de laudos errados que são liberados diariamente aos pacientes? Quando esses erros acontecem no setor de microbiologia de um laboratório, pode culminar com uma infecção mal tratada ou não-tratada e morte do paciente. Ou até mesmo, tratamentos desnecessários que podem levar a falhas sistêmicas e danos irreversíveis, por erros que poderiam ter sido evitados. Quando se trabalha buscando a excelência, a equipe de saúde que participa do cuidado do paciente pode confiar no resultado entregue pelo laboratório e, portanto, tratar o paciente da maneira mais completa possível. Há algumas décadas a literatura especializada em saúde, preconiza a importância dos procedimentos pré-analíticos nos exames, incluindo a coleta e o manuseio das amostras. Mesmo que eu tenha o analista mais experiente e o equipamento mais moderno e sofisticado, se a amostra tiver sido colhida de forma indevida, o resultado estará errado. A estes erros ocorridos antes da análise, damos o nome de erros pré-analíticos, que podem ser: identificação incorreta do paciente, tubos e meios de coleta equivocados, utilização de aditivos inadequados, erros na rotulagem, tempo inadequado entre coleta e análise e erros ‘burocráticos’. Ou seja, por mais que o teste seja realizado de forma correta e com padronização, caso a fase anterior tenha ocorrido de modo equivocado, ele ficará errado. Portanto, caros alunos, o conhecimento dessas variáveis e a padronização dos procedimentos laboratoriais é essencial para a interpretação correta dos exames, bem como do aproveitamento total dos exames pela equipe de cuidado. Vamos ver, ao longo dessa unidade, quais são as principais etapas que norteiam a coleta de amostras biológicas no laboratório de microbiologia, bem como meios de cultura utilizados e boas práticas e biossegurança nos processos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . UNIDADE 1 INTRODUÇÃO AO ESTUDO MICROBIOLÓGICO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 COLETA, TRANSPORTE E ARMAZENAMENTO DE MATERIAL MICROBIOLÓGICO TÓPICO 8 Os processos de coleta e transporte de amostras clínicas são fundamentais no processo de diagnóstico. A preservação das características dos microrganismos pode ser seriamente comprometida quando as condições de coleta e transporte estão fora do preconizado. O transporte destas amostras deve ser feito em condições rigorosas e com equipamento de amostragem adequado. Os profissionais de coleta devem ser capazes de coletar amostras e entregá-las ao laboratório, mantendo a viabilidade dos microrganismos na amostra. No laboratório, os técnicos devem ser capazes de retirar amostras dos sistemas de transporte com a garantia de que a amostra e seus componentes foram conservados. De modo geral, os sistemas de transporte devem preservar a amostra biológica, se o analista utilizar as recomendações do fabricante e o prazo de validade respeitado. Alguns sistemas de transporte contêm diferentes meios de cultura e/ou substâncias estabilizadoras para preservar a viabilidade dos microrganismos mais sensíveis. Qualquer incompatibilidade entre o meio de transporte e a realização dos testes deve ser especificada na embalagem do produto (ANVISA, 2015; FLEURY, 2019). O material coletado deve ser representativo do processo infeccioso em estudo, devendo-se selecionar o melhor local da lesão para o procedimento. A coleta e o transporte inadequados podem resultar em falha no isolamento de patógenos e estimular o desenvolvimento de microbiota contaminante. Portanto, deve haver padronização do processo de coleta das amostras microbiológicas, para a correta identificação patogênica e conduta clínica adequada (ANVISA, 2015; FLEURY, 2019). Recomenda-se que a coleta seja realizada antes da antibioticoterapia, evitando resultados falso-negativos. Além disso, no momento da coleta, o paciente deve ser informado sobre a importância do procedimento, bem como o mesmo será realizado. Além disso, como já falamos anteriormente, é importante saber qual a melhor região da lesão ou do tecido que deve ser utilizada, a fim de garantir a correta identificação do patógeno. Por fim, duas das características mais importantes são: deve-se coletar amostra 9UNIDADE 1 INTRODUÇÃO AO ESTUDO MICROBIOLÓGICO suficiente para realização de todos os testes solicitados na ficha do paciente; a identificação do paciente deve estar correta e deve ser conferida pelo coletor e pelo próprio paciente (ANVISA, 2015; FLEURY, 2019). A figura 1 traz o tempo crítico entre a coleta e a entrega do material coletado, para uma correta análise. FIGURA 1 - TEMPO IDEAL QUE DEVE TRANSCORRER ENTRE A COLETA DA AMOSTRA E SUA ENTREGA NO LABORATÓRIO, ENFATIZANDO O MEIO DE TRANSPORTE ADEQUADO Fonte: Fleury (2019). Sendo assim, caso a amostra não esteja dentro dos padrões preconizados, o laboratório pode rejeitá-la e não realizar os testes. Sendo assim, os principais critérios para rejeição de amostra são: ● Discrepâncias entre a identificação da amostra e a solicitação médica; ● Amostra sem identificação ou identificação rasurada; ● Fonte ou tipo de amostra desconhecido; ● Armazenamento inadequado; ● Frascos contaminados, com quebraduras, sem lacre, vazando; 10UNIDADE 1 INTRODUÇÃO AO ESTUDO MICROBIOLÓGICO ● Amostras múltiplas colhidas da mesma região em um único período; ● Solicitação de múltiplos testes num único swab; ● Swab acondicionado em frasco seco. O transporte de amostras biológicas deve seguir as recomendações contidas na Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 20/2014 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Esta normativa regulamenta a atividade de transporte de espécimes clínicos entre um remetente e outro serviço médico utilizando estrutura de transporte própria ou contratada. Sendo assim, é importante compreender que as amostras clínicas devem ser transportadas de modo adequado de acordo com a avaliação de risco biológico que oferecem. Para fins de transporte, o material biológico é definido como infeccioso, pois pode conter patógenos capazes de causar doenças em animais e humanos. O risco biológico deve ser avaliado pela etiologia do microrganismo, reversibilidade da doença de acordo com a disponibilidade de tratamento e cuidados durante as atividades de transporte como embalagem, compartimento do veículo e treinamento da equipe (ANVISA, 2015; FLEURY, 2019). A OMS classifica os materiais biológicos de acordo com duas categorias, A e B, assim designadas conforme o risco de causarem doenças. A amostra biológica classificada na categoria A é aquela que apresenta risco de infecção durante o transporte a humanos ou animais que causam distúrbios com risco de vida. Já as amostras englobadas na categoria B são amostras de diagnóstico clínico conhecidas ou suspeitas de conterem agentes infecciosos, tais como amostras de pacientes com suspeita de infecção ou conhecidos como positivos/reativos (ANVISA, 2015; FLEURY, 2019). Sendo assim, prezado aluno, é possívelperceber que todas as etapas envolvidas no diagnóstico clínico devem ser consideradas. Uma coleta, transporte ou armazenamento inadequados podem invalidar o diagnóstico laboratorial e, como consequência, interferir na conduta clínica do paciente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . UNIDADE 1 INTRODUÇÃO AO ESTUDO MICROBIOLÓGICO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 PRINCIPAIS MEIOS DE CULTURA UTILIZADOS NA MICROBIOLOGIA CLÍNICA TÓPICO 11 Os meios de cultura são preparações que fornecem aos microrganismos nutrientes essenciais para seu crescimento e desenvolvimento, no ambiente laboratorial. Ou seja, os meios de cultura simulam o ambiente encontrado nos diversos tecidos que os microrganismos infectam, possibilitando que no ambiente in vitro, o laboratorista consiga identificá-lo. Se pensarmos nos microrganismos como indivíduos isolados, é fácil compreender que cada espécie tem suas necessidades particulares, bem como as espécies que infectam um mesmo tecido tem necessidades semelhantes. Além disso, quando uma cultura de microrganismos é realizada deve-se levar em consideração também o pH do meio e a temperatura de cultivo (ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK e BURTON, 2012; ANVISA, 2004). Podemos classificar os meios de cultura de acordo com sua composição química ou característica física principal (ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK e BURTON, 2012; ANVI- SA, 2004): ● Químicamente definido: são aqueles meios de cultura cuja composição está 100% definida e descrita na embalagem. Ou seja, se o meio de cultura for preparado de acordo com o fabricante, a quantidade de todos os nutrientes e demais compostos estará estabelecida; ● Complexo: é aquele meio que contém adição de extratos, em geral de tecido ani- mal, sendo que nem todas as partes são conhecidas e com quantidades determina- das. Essa adição é benéfica, pois, ela em geral traz complemento de nutrientes ao organismo que está sendo estudado; ● Sólido: são meios de cultura gelatinosos, devido a adição de Ágar, um polissacarí- deo que permite a solidificação dos meios de temperatura a 37 ºC. Aqui as bactérias serão semeadas após a solidificação do ágar, tanto em placas de petri (Figura 2) quanto em tubos, a depender do método de semeadura que será aplicado. 12UNIDADE 1 INTRODUÇÃO AO ESTUDO MICROBIOLÓGICO FIGURA 2 - ÁGAR EM DIFERENTES DISPOSIÇÕES ● Líquido: os meios de cultura líquidos não apresentam adição de ágar ou outro agente gelificante, portanto, os microrganismos crescem em suspensão. São muito utilizados para ativação de microrganismos em dormência, além do diagnóstico propriamente dito, bem como para repiques e realização de provas bioquímicas de identificação. Quando isolamos microrganismos de uma amostra clínica, o ideal é que cresça apenas um tipo de microrganismos, caracterizando uma cultura pura. Contudo, é comum que 2 ou mais microrganismos façam parte de determinada amostra/tecido, caracterizando uma cultura mista. Porém, mesmo em culturas mistas, muitas vezes, deseja-se identificar apenas um dos microrganismos, sendo necessário escolher bem o meio de cultura a ser utilizado (ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK e BURTON, 2012; ANVISA, 2004). Desta forma, podemos pensar em utilizar alguns meios que permitem a identificação de grupos específicos de microrganismos baseado em sua composição. Sendo assim, temos ainda mais 3 tipos de meios de cultura: enriquecido, seletivo e diferencial (ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK e BURTON, 2012; ANVISA, 2004): ● Enriquecido: é aquele meio de cultura que contém uma grande quantidade de nutrientes, seja ele sólido ou líquido, mas que promove o crescimento de microrganismos que chamamos de fastidiosos. Um exemplo muito aplicado no diagnóstico clínico é o ágar-sangue, que é enriquecido com sangue liofilizado, em geral, de carneiro. Outro exemplo bastante comum é o meio Thayer-Martin, que auxilia no crescimento de Neisseria gonorrhoeae. ● Seletivo: o meio seletivo tem sua composição planejada para o crescimento de de- terminados microrganismos, como inhibidores, que podem ser antibióticos. 13UNIDADE 1 INTRODUÇÃO AO ESTUDO MICROBIOLÓGICO ● Esses inibidores impedem o crescimento de certos microrganismos, sem impedir o microrganismo alvo. Um exemplo bastante comum é o Ágar MacConkey (Figura 03), que inibe o crescimento de bactérias gram-positivas, selecionando as gram-negati- vas. Este meio, em especial, é utilizado para semeadura de amostras de urina. FIGURA 3 - RESULTADO DA SEMEADURA DE BACTÉRIAS DIFERENTES EM ÁGAR MACCONKEY Fonte: PT-STATIC. Disponível em: https://pt-static.z-dn.net/files/d69/60b6ef9ac6e0698b9130522b8b985220. png. Acesso em: 29 jul. 2022. ● Diferencial: é o meio de cultura utilizado com o objetivo de produzir caracteres específicos quando determinados microrganismos crescem. Para tal, são adicionados corantes ou indicadores que trarão diferenças no meio de cultura adjacente após o crescimento da bactéria. Na figura 03, é possível perceber que o Ágar MacConkey, manteve-se rosado quando uma bactéria lactose positiva cresceu, enquanto sua coloração foi modificada para amarelo quando uma lactose negativa foi inoculada. ● Meios cromogênicos: este tipo de meio de cultura utiliza substratos cromogênicos que permitem que cada grupo de microrganismo cresça e suas culturas apresentem cores específicas ou alterações específicas de cor no próprio ágar. Ainda são pouco utilizados na prática clínica devido ao seu alto custo, contudo, eles auxiliam na eco- nomia de etapas para a identificação de determinados microrganismos. ○ Agar Cromogênico Urocultura: Meio não seletivo e diferencial, destinado ao plantio primário, com possibilidade de identificação e quantificação de micror- ganismos. É possível realizar a identificação dos microrganismos como: Es- cherichia coli; grupo KES (Klebsiella, Enterobacter e Serratia); Grupo PPM (Proteus, Providencia e Morganella), Pseudomonas aeruginosa e isolamento de outros Bacilos Gram Negativos, além de Cocos Gram Positivo (Staphylo- coccus, Streptococcus etc.) e leveduras. ○ Agar Cromogênico VRE: Meio seletivo e diferencial para isolamento de Ente- rococcus spp. Resistente à Vancomicina; ○ Agar Cromogênico MRSA: Meio seletivo e diferencial para isolamento de Sta- 14UNIDADE 1 INTRODUÇÃO AO ESTUDO MICROBIOLÓGICO phylococcus aureus resistentes a Meticilina/Oxacilina; ○ Agar Cromogênico KPC: Meio seletivo para isolamento de Enterobactérias resistentes aos Carbapenens; ○ Agar Cromogênico ESBL: Meio seletivo para isolamento de bactérias produ- toras de ß-Lactamases de espectro ampliado (ESBL). ○ Agar Cromogênico Candida: Meio seletivo e diferencial para isolamento e di- ferenciação de Candida ssp.. ○ Agar Cromogênico Strepto B: Meio diferencial para isolamento e diferencia- ção de Streptococcus Grupo B (Streptococcus agalactiae). Sendo assim, caro aluno, você deve ter notado que existem muitos tipos de meio de cultura, com características específicas para cada microrganismo ou amostra clínica. Talvez, agora, você esteja pensando: como eu, laboratorista iniciante, saberei qual meio de cultura é utilizado em cada situação? Para isso, já existem padronizações na literatura sobre qual meio de cultura empregar em cada situação e recomendações do ministério da saúde (Figura 04) para que todos os laboratórios de análises clínicas possam trabalhar da mesma forma e ter resultados reprodutíveis.FIGURA 4 - MEIOS DE CULTURA INDICADOS PARA SEMEADURA DE CADA AMOSTRA CLÍNICA, BEM COMO A NECESSIDADE DE COLETA DE AMOSTRAS EM LÂMINA PARA ANÁLISE AO MICROSCÓPIO Fonte: ANVISA (2017). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . UNIDADE 1 INTRODUÇÃO AO ESTUDO MICROBIOLÓGICO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 BIOSSEGURANÇA EM LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA TÓPICO 15 Entende-se por biossegurança, o conjunto de medidas que devem ser seguidas para prevenir acidentes em laboratórios de assistência, ensino, pesquisa e desenvolvimento. Esses acidentes podem comprometer tanto a integridade dos seres humanos, quanto dos demais animais e meio ambiente. Ou seja, é um modelo de conduta e técnicas adequadas que devemos adotar ao adentrar num laboratório. Devemos lembrar que os laboratórios, quaisquer que sejam, são locais que prestam serviços especializados à população e potencialmente expõe seus trabalhadores a riscos biológicos, químicos e físicos. Sendo assim, há diversas regras e normativas disponibilizadas pelo Ministério da Saúde e Ministério do Trabalho que padronizam tais atividades. Nos laboratórios de microbiologia, que são o foco da nossa disciplina, os funcionários devem seguir o preconizado pelas NR-32, do Ministério do Trabalho. Essa Norma Regulamentadora estabelece as diretrizes básicas para a implementação de medidas de proteção à segurança e à saúde dos trabalhadores em serviços de saúde (ANVISA, 2013). Sendo assim, todo laboratório de microbiologia, que é nosso foco, deve ter uma comissão de biossegurança, que irá: estabelecer as normas de biossegurança do local; padronizar e normatizar os procedimentos executados no local; identificar e classificar as áreas de risco do laboratório; estabelecer programas de treinamento para prevenção de acidentes de trabalhos e monitorá-los (ANVISA, 2013). Partindo do ponto de que todo laboratório oferece riscos, os laboratórios de microbiologia devem estar preparados para manusear microrganismos potencialmente infectantes. Contudo, nem todos os microrganismos apresentam o mesmo potencial de risco, sendo assim, os em função do tipo de microrganismo e técnicas realizadas em cada laboratório, temos a classificação do Nível de Biossegurança (NB), conforme ilustrado pela Figura 05 (ANVISA, 2013). 16UNIDADE 1 INTRODUÇÃO AO ESTUDO MICROBIOLÓGICO FIGURA 5 - NÍVEIS DE BIOSSEGURANÇA, NÍVEIS DE RISCO E TIPO DE LABORATÓRIO Fonte: Correia e Leal (2016). Como acabamos de discutir, os laboratórios de microbiologia são divididos em níveis de biossegurança, mas, outro ponto que deve ser levado em consideração é que os microrganismos também podem ser classificados em grupos de risco, subdivididos de 1 a 5. Alguns critérios levados em consideração para tal classificação são: presença de alteração genética ou recombinação gênica; estabilidade; virulência; modo de transmissão; endemicidade; consequências epidemiológicas; disponibilidade de medidas profiláticas; tratamento eficaz (ANVISA, 2013). Sendo assim, é possível associar as normas de biossegurança a cada tipo de agente existente (Figura 06). 17UNIDADE 1 INTRODUÇÃO AO ESTUDO MICROBIOLÓGICO FIGURA 6 - CLASSIFICAÇÃO DE RISCO DE MICRORGANISMOS Fonte: ANVISA (2013). Por fim, dentro do tópico de Biossegurança, o último tema que iremos discutir são os equipamentos de proteção individual (EPIs) e coletiva (EPCs). Os EPIs são dispositivos de uso individual, ou seja, cada trabalhador deve portar o seu próprio EPI e é proibido seu compartilhamento com os demais colegas. Ele é destinado à proteção do trabalhador dire- tamente e é regulamentado pela Portaria 485, de 11 de novembro de 2005, que aprova a NR 32 (Segurança e Saúde no Trabalho em Estabelecimentos de Saúde) do Ministério do Trabalho (ANVISA, 2013). Os principais EPIs utilizados em laboratórios de microbiologia são (ANVISA, 2013): ● Avental (jaleco); ● Luvas; ● Kevlar; ● Máscaras e Respiradores; ● Óculos de Proteção; ● Protetor Facial; ● Calçado fechado. Por fim, temos os EPCs que tem por objetivo proteger os trabalhadores dos riscos fornecidos pelo ambiente de trabalho, de maneira coletiva. Os principais, no laboratório de microbiologia, são: 18UNIDADE 1 INTRODUÇÃO AO ESTUDO MICROBIOLÓGICO ● Cabine de segurança biológica; ● Lava-olhos; ● Chuveiro de segurança; ● Proteção de linha de vácuo; ● Autoclave; ● Garrafas com tampa de rosca; ● Microincineradores de alça. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . UNIDADE 1 INTRODUÇÃO AO ESTUDO MICROBIOLÓGICO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 CONTROLE DE QUALIDADE EM MICROBIOLOGIA TÓPICO 19 No primeiro capítulo desta unidade, passei a vocês que muitos erros podem acon- tecer durante a execução de um exame laboratorial e no setor de microbiologia não seria diferente. Sendo assim, não é só na coleta, transporte e armazenamento das amostras que deve-se realizar um controle dos procedimentos executados, mas sim, em toda a rotina laboratorial. Sendo assim, a precisão dos resultados depende de um rigoroso programa de controle de qualidade laboratorial, que irá avaliar a qualidade dos equipamentos e insumos, a documentação das técnicas utilizadas, a padronização dos procedimentos, reagentes, instalações e pessoal que realizam todas as análises. ● PROCEDIMENTO OPERACIONAL PADRÃO (POP) Um dos pontos chaves de um bom controle de qualidade é a documentação de todos os procedimentos realizados no laboratório. Desta forma, todos os procedimentos executados devem estar descritos em manuais, muito detalhados. Os POPs (Procedimentos Opera- cionais Padrão) são materiais em que todos os procedimentos do estabelecimento devem estar detalhados, desde o procedimento da coleta, transporte de amostras, critérios de re- jeição, semeadura, manuseio de kits comerciais, preparo de meio de cultura, temperatura de incubação de cada grupo de microrganismo, e assim por diante. Os POPs devem ser revisados a cada 2 anos e todos os funcionários devem ter conhecimento de seu conteúdo e saber onde fica guardado, caso precisem consultá-lo (SBPC/ML, 2015). ● INSUMOS Todos os insumos utilizados no laboratório de microbiologia devem ser testados ao serem recebidos e antes de sua utilização, diariamente. A cada novo lote entregue no laboratório, os testes devem ser repetidos, assim como, quando forem registrados erros cuja origem sejam os insumos (SBPC/ML, 2015). 20UNIDADE 1 INTRODUÇÃO AO ESTUDO MICROBIOLÓGICO ● MEIOS DE CULTURA Os meios de cultura são insumos e devem ser testados conforme descrito na se- ção anterior. Contudo, como eles são de extrema importância para o crescimento dos mi- crorganismos, deve-se estar atento à esterilidade, pH e performance de crescimento de cada novo lote de meio produzido ou adquirido. Todos os meios devem estar devidamente identificadose na sua identificação deve constar o nome do meio, lote, data de fabricação e validade. Além disso, sempre que o laboratorista for utilizar o meio de cultura, suas ca- racterísticas macroscópicas devem ser observadas e quaisquer alterações comunicadas imediatamente ao setor pertinente (SBPC/ML, 2015). ● CEPAS PADRÃO As cepas padrão são alíquotas de microrganismos determinados geneticamente e de origem conhecida, geralmente comprados de bancos de células, além de serem rastreáveis. Tais microrganismos são importantes em todo o processo de controle de qualidade, pois, como são geneticamente conhecidas e rastreáveis, sabe-se exatamente como aquela estirpe irá se comportar nas condições do teste. Na maioria das vezes, essas cepas são chamadas de ATCC, ou seja, elas são provenientes do American Type Culture Collection. As principais cepas padrão utilizadas em laboratórios de microbiologia são: Escherichia coli ATCC 25922; Staphylococcus aureus ATCC 25923; Staphylococcus epidermidis ATCC 12228; 133 Streptococcus pyogenes ATCC 19315; Klebsiella pneumoniae ATCC 13883; Enterococcus faecalis ATCC 29212 e Pseudomonas aeruginosa ATCC 27853. Além das cepas ATCC, os laboratórios podem também ter estoques de variáveis isoladas ali mesmo, desde que bioquímica e geneticamente caracterizadas (SBPC/ML, 2015). ● BACTERIOSCOPIA Os corantes empregados na rotina de bacterioscopia devem ser avaliados, no mínimo, semanalmente. Isso é necessário, pois muitas análises baseiam-se na observação micros- cópica dos microrganismos. Sendo assim, um corante que não está funcionando correta- mente ou uma técnica mal executada levam ao diagnóstico equivocado (SBPC/ML, 2015). ● EQUIPAMENTOS Um laboratório de microbiologia possui muitos equipamentos diferentes e todos eles devem ser avaliados com certa constância. Os refrigeradores, freezers, estufas e banhos-marias devem ter seu controle de temperatura realizado diariamente, em planilhas visíveis a todos os colaboradores. Qualquer alteração de temperatura fora do esperado deve ser comuni- cada ao supervisor. As autoclaves devem ter sua eficiência testada semanalmente com cepas de Geobacillus stearothermophilus e cultivo em caldo à temperatura de 55 a 60°C. 21UNIDADE 1 INTRODUÇÃO AO ESTUDO MICROBIOLÓGICO A ausência de crescimento indica uma autoclavação eficiente. Medidores de pH devem ser calibrados com solução padrão a cada uso. As jarras de anaerobiose também devem ser testadas a cada uso. Já as centrífugas devem ser controladas mensalmente e as cabines de segurança (Figura 07) devem ser inspecionadas e controladas pelo fabricante, semes- tral ou trimestralmente. Ou seja, cada equipamento tem a sua particularidade e a avaliação de seu funcionamento deve ser rigorosa (SBPC/ML, 2015). FIGURA 7 - CABINE DE SEGURANÇA UTILIZADA EM LABORATÓRIOS DE MICROBIOLOGIA Fonte: WIKIMEDIA COMMONS. Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/8/8d/Biocontainment_laminar_flow_hood.jpg/640px- -Biocontainment_laminar_flow_hood.jpg. Acesso em: 30 jul. 2022. ● DISCOS DE ANTIBIÓTICOS Os discos de antibióticos devem ser estocados em freezer e somente a quantidade que será utilizada na semana deve ser colocada na geladeira. Sua eficiência deve ser testa- da e os resultados comparados com as tabelas do CLSI (Clinical & Laboratory Standards Institute). A cada troca de lote, os testes de performance devem ser realizados, visto que, o antibiograma (teste que utiliza tais insumos - Figura 08) tem um peso muito grande na avaliação clínica e prognóstico de um paciente (SBPC/ML, 2015). 22UNIDADE 1 INTRODUÇÃO AO ESTUDO MICROBIOLÓGICO FIGURA 8 - EXEMPLO DE TESTE DE ANTIBIOGRAMA UTILIZANDO 9 DISCOS DE ANTIBIÓTICOS Fonte: WIKIMEDIA COMMONS. Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/d/ d3/D-Zone_Test_Positive_Staphylococcus_aureus.jpg/640px-D-Zone_Test_Positive_Staphylococcus_au- reus.jpg. Acesso em: 30 jul. 2022. ● PESSOAS Por fim, o tópico mais importante do controle de qualidade é o treinamento dos laboratoristas. Isso é importante, pois todos os funcionários devem ter pleno conhecimento de todos os procedimentos e realizá-los de acordo com os POPs. Vale salientar que o treinamento deve ser realizado quando o funcionário é admitido no setor e sempre que o gestor julgar necessário. Além disso, é obrigação da empresa fornecer todo o treinamento da equipe sempre que necessário (SBPC/ML, 2015). Desta forma, quando todos os principais itens do controle de qualidade são contemplados, o laboratório consegue rodar sem maiores problemas. É claro que existem muito mais detalhes além dos que apresentei aqui para vocês, mas, estes tópicos são o mínimo do que deve ser feito para garantir que não haverão erros pré-analíticos, analíticos e pós-analíticos. https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/d/d3/D-Zone_Test_Positive_Staphylococcus_aureus.jpg/640px-D-Zone_Test_Positive_Staphylococcus_aureus.jpg https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/d/d3/D-Zone_Test_Positive_Staphylococcus_aureus.jpg/640px-D-Zone_Test_Positive_Staphylococcus_aureus.jpg https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/d/d3/D-Zone_Test_Positive_Staphylococcus_aureus.jpg/640px-D-Zone_Test_Positive_Staphylococcus_aureus.jpg 23UNIDADE 1 INTRODUÇÃO AO ESTUDO MICROBIOLÓGICO Como não sabemos a procedência das amostras biológicas, é de extrema importância que toda amostra que chega ao laboratório seja considerada infectante. Portanto, o manuseio das amostras sempre deve ser feito utilizando-se EPIs, que protejam o analista de qualquer tipo de contaminação. Fonte: FLEURY, M. K. Manual de coleta em laboratório clínico. 3 ed. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Análises Clínicas, 2019. Disponível em https://pncq.org.br/wp-content/uploads/2020/05/PNCQ-Manual_ de_Coleta_2019-Web-24_04_19.pdf. Acesso em: 27 jul. 2022. Sabia que o laboratório pode rejeitar uma amostra, sem nem mesmo a ter analisado? Pois bem, caso a amostra seja recebida em recipientes inadequados, mal identificada ou não identificada, com volume inadequado ou mostrando que foi transportada de forma errada, o laboratório pode recusar e solicitar uma recoleta. Isso ocorre para evitar que a ‘culpa’ do erro recaia sobre o responsável técnico do estabelecimento, visto que, após laudado o exame é de responsabilidade de quem emitiu o laudo. Fonte: FLEURY, M. K. Manual de coleta em laboratório clínico. 3 ed. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Análises Clínicas, 2019. Disponível em: https://pncq.org.br/wp-content/uploads/2020/05/PNCQ-Ma- nual_de_Coleta_2019-Web-24_04_19.pdf. Acesso em: 27 jul. 2022. https://pncq.org.br/wp-content/uploads/2020/05/PNCQ-Manual_de_Coleta_2019-Web-24_04_19.pdf https://pncq.org.br/wp-content/uploads/2020/05/PNCQ-Manual_de_Coleta_2019-Web-24_04_19.pdf https://pncq.org.br/wp-content/uploads/2020/05/PNCQ-Manual_de_Coleta_2019-Web-24_04_19.pdf https://pncq.org.br/wp-content/uploads/2020/05/PNCQ-Manual_de_Coleta_2019-Web-24_04_19.pdf CONSIDERAÇÕES FINAIS UNIDADE 1 INTRODUÇÃO AO ESTUDO MICROBIOLÓGICO 24 Chegamos ao fim da primeira unidade da nossa disciplina. Vocês devem ter percebido que foi um conteúdo muito técnico e alguns podem ter achado até um pouco massante. Não vou negar, quando pensamos em análises clínicas, tem muita técnica envolvida e essa técnica é imprescindível para que os resultados estejam corretos e que as análises sejam bem feitas. Vocês puderam perceber a importância de uma coleta de exame bem feita, antes mesmo de aprender a realizá-la, por exemplo. Essa compreensão do processo de forma geral é o que permitirá que vocês transformem-se em laboratoristas de excelência, pois, para que eu consiga contribuir com o diagnóstico do paciente e a tomada de decisões, primeiro devo entender o processo. Quando tiverem a oportunidade de estar num laboratório ou qualquer outro estabelecimento de saúde, prestem atenção aos pequenos detalhes: desde os avisos e planilhas afixadas nasgeladeiras, até a vestimenta e conduta dos funcionários do local. Verão que, caso seja um local que preza pela qualidade, haverá padronização dos processos. Nas próximas 2 unidades, iremos tratar especificamente das doenças dos diversos sistemas do nosso organismo. Mas, quero deixar aqui, implantado o olhar crítico do controle de qualidade, para que, a partir de agora, vocês apliquem os conceitos apresentados aqui, em todas as rotinas de estudo e trabalho. Fiquem bem e até breve. LEITURA COMPLEMENTAR UNIDADE 1 INTRODUÇÃO AO ESTUDO MICROBIOLÓGICO 25 CSV BACTERIOLOGIA. Manual de microbiologia. Disponível em http://www.csvlab.com. br/download/Manual-de-Microbiologia.pdf. Acesso em 29 jul. 2022. MELO, M. R.; MARTINS, A. R. BARBORA, I. V.; ROMANO, P. SCHCOLNIK, W. Coleta, transporte e armazenamento de amostras para diagnóstico molecular. Jornal Brasilei- ro de Patologia e Medicina Laboratorial, v. 46, n. 5, 2010. Disponível em https://www.scielo. br/j/jbpml/a/jcZKxy9N3JtDz6vj9XtWYCL/?lang=pt. Acesso em 29 jul. 2022. AIRES, C. A. M.; ARAÚJO, C. F. M.; NOBRE, M. L.; RUSAK, L. A.; ASSIS, U. G.; LOPÉZ, D. C. M.; FRANCO, V. C.; HERINGER, M.; SILVA, A. P.; PORTILHO, M. M.; PEREIRA, M. E. C.; SOEIRO, M. N. C. Biossegurança em transporte de material biológico no âmbito nacional: um guia breve. Revista Pan-Amazônica de Saúde, v. 6, n. 2, 2015. Disponível em http://scielo.iec.gov.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2176-62232015000200010. Acesso em 29 jul. 2022. http://www.csvlab.com.br/download/Manual-de-Microbiologia.pdf http://www.csvlab.com.br/download/Manual-de-Microbiologia.pdf https://www.scielo.br/j/jbpml/a/jcZKxy9N3JtDz6vj9XtWYCL/?lang=pt https://www.scielo.br/j/jbpml/a/jcZKxy9N3JtDz6vj9XtWYCL/?lang=pt http://scielo.iec.gov.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2176-62232015000200010 MATERIAL COMPLEMENTAR UNIDADE 1 INTRODUÇÃO AO ESTUDO MICROBIOLÓGICO 26 LIVRO Título: Procedimentos básicos em microbiologia clínica. Autor: Carmen Paz Oplistil; Cássia Maria Zoccoli; Nina Reiko Tobouti; Mara Cristina Scheffer. Editora: Sarvier. Sinopse: Esta 4ª edição vem atualizada e com novas informa- ções para agregar ainda mais valor no dia a dia das pessoas que como nós, autoras, amamos a Microbiologia. Esse amor iniciou em 2000 com a ideia de fornecer aos microbiologistas um livro que pudesse ajudar na rotina do dia a dia e que fosse em português. Os participantes da 1ª edição continuaram até a 3ª edição e foram a base para transformar esta obra no que é hoje. Agradecemos imensamente a todos que, durante estes anos, têm utilizado nosso livro em sua rotina. Agradecemos aos nossos mestres, professores e amigos que nos brindaram com o conhecimento para fazer a 4ª edição.Agradecemos em especial a colaboração de Maria Goreth Matos de Andrade Barberino pela elaboração do capítulo 29 - Pesquisa e Cultura de Fungos. FILME/VÍDEO Título: Perigo por encomenda Ano: 2012 Sinopse: Wilee adora pedalar e ganha a vida como entregador pelas ruas de Nova York. Acostumado ao estresse e aos perigos da profissão, ele só não imaginava que uma nova encomenda, daquelas com prazo curto para ser entregue, seria alvo da cobi- ça de um policial corrupto. Agora, cumprir a missão tornou-se mais do que uma questão de tempo, virou um caso de vida ou morte. WEB Orientação sobre coleta, armazenamento e transporte de amostras biológicas. http://www.hu.ufsc.br/setores/laborato- rio/2018/07/03/orientacao-de-coleta-e-solicitacao-de-exames- -microbiologicos/ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Plano de Estudos • Exame microbiológico das infecções do trato respiratório; • Exame microbiológico das infecções do sistema nervoso central; • Exame microbiológico das infecções do trato urinário; • Exame microbiológico das infecções do trato genital. Objetivos da Aprendizagem • Conceituar e contextualizar os exames mais aplicados a cada região distinta do corpo humano; • Compreender os tipos de coleta, aplicados à cada região topográfica; • Estabelecer a importância do conhecimento do processo fisiopatológico para a coleta e realização de exames laboratoriais. 2UNIDADEUNIDADE EXAMES EXAMES MICROBIOLÓGICOS MICROBIOLÓGICOS - PARTE 1- PARTE 1 Professora Doutora Érica Benassi Zanqueta INTRODUÇÃO Olá querido (a) aluno (a), como estão? Espero encontrá-lo (a) bem e disposto (a) para encarar a nova etapa da microbiologia clínica. Nesta unidade, será abordado os principais processos patológicos de cada região topográfica, enfatizando os métodos de coleta e diagnóstico das principais doenças bacterianas. Vamos abordar agora as doenças do trato respiratório, sistema nervoso central, trato urinário e trato genital. Vocês poderão perceber, também, que utilizaremos como referência um excelente manual do ministério da saúde que aborda tanto as doenças, quanto os métodos de diagnóstico. Portanto, nossa base será o próprio ministério da saúde e a ANVISA, que determinam as normas de saúde no nosso país. Espero que gostem e aprendam muito. Deixarei vários artigos como material complementar para estudo e aprofundamento de vocês. Um abraço e até breve! UNIDADE 2 EXAMES MICROBIOLÓGICOS - PARTE 1 28 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 EXAME MICROBIOLÓGICO DAS INFECÇÕES DO TRATO RESPIRATÓRIO TÓPICO UNIDADE 2 EXAMES MICROBIOLÓGICOS - PARTE 1 Antes de começarmos a falar das doenças do sistema respiratório, vamos relembrar sua anatomia e fisiologia básica. O sistema respiratório contempla na organização de diversos tecidos que tem como função básica fornecer oxigênio ao corpo, inalando ar e exalando dióxido de carbono. Pode ser dividido em duas regiões básicas: o trato respiratório superior, abrange a cavidade nasal, seios da face, faringe e laringe; já o trato respiratório inferior abrange a traquéia, os brônquios e bronquíolos e os pulmões, com toda a microarquitetura dos órgãos (Figura 1). FIGURA 1 - ORGANIZAÇÃO ANATÔMICA DO TRATO RESPIRATÓRIO Fonte: Silverthorn (2017). 29 Antes de pensar que a presença de microrganismos sempre caracteriza doença, devemos nos lembrar que, alguns tecidos do nosso corpo apresentam um microbioma, que nada mais é, do que um conjunto de microrganismos que vivem ali de forma comensal, sem causar problemas. Sendo assim, conhecer o microbioma do trato respiratório superior e inferior é imprescindível para o diagnóstico laboratorial. A região da orofaringe possui uma microbiota mista, com bactérias aeróbicas e anaeróbicas, incluindo Streptococcus hemolíticose não hemolíticos, Neisserias não patogênicas, Haemophilus spp., difteróides, Staphylococcus spp., Micrococcus spp. Contudo, outras espécies de bactérias, tais como Streptococcus pneumoniae, Streptococcus pyogenes, Haemophilus influenzae, Neisseria meningitidis, podem compor esse microbioma em indivíduos saudáveis, sem causar doenças (ANVISA, 2004). Ou seja, a simples identificação destes microrganismos na orofaringe de um paciente não caracteriza que ele esteja com alguma doença grave. No trato respiratório superior, portanto, a doença mais comum é a faringite, contudo, muitos agentes infecciosos podem causar doença na região, conforme descrito na Figura 2. FIGURA 2 - PRINCIPAIS AGENTES CAUSADORES DE DOENÇA NO TRATO RESPIRATÓRIO SUPERIOR Fonte: ANVISA (2004). A coleta de amostras dessa região geralmente é realizada com auxílio de swab estéril e os meios de cultura mais utilizados para semeadura, são o Ágar Chocolate (com sangue de cavalo) e Ágar Sangue incubados em atmosfera de 5% de CO2, e Ágar Mac Conkey. Não é recomendado a utilização de meios seletivos e, suspeitando-se de infecções causadas por bactérias anaeróbias, deve-se utilizar condições adequadas para o cultivo dessas bactérias (ANVISA, 2004). 30UNIDADE 2 EXAMES MICROBIOLÓGICOS - PARTE 1 Dentre as infecções do trato respiratório inferior, destacam-se as pneumonias da comunidade e hospitalar. A diferença entre ambas é que a pneumonia da comunidade o indivíduo contrai a doença em ambiente fora do hospital, ou seja, realmente em sua comunidade, enquanto a pneumonia hospitalar é aquela que o paciente começa a manifestar os primeiros sintomas após 48 horas de internação hospitalar. O que é relevante ser comentado é que os microrganismos descritos nesses dois casos geralmente são diferentes. A pneumonia da comunidade apresenta variações em decorrência dos fatores epidemiológicos envolvidos, tais como: época do ano, surtos, faixa etária do paciente acometido, esquema vacinal completo ou incompleto (em especial para as crianças). E é essa análise completa, realizada na admissão do paciente, que permite associar qual o possível agente etiológico da doença, conforme indicado na Figura 3 (ANVISA, 2004). FIGURA 3 - PRINCIPAIS AGENTES ETIOLÓGICOS DA PNEUMONIA DA COMUNIDADE Fonte: ANVISA (2004). Conforme descrito anteriormente, a pneumonia hospitalar é aquela cujos sintomas aparecem, no mínimo, após 48 horas de internação do paciente e não está incubada no momento da internação. Acredita-se que acometa em torno de 10 pacientes a cada 1000 internações. Vale ressaltar que pacientes que precisaram de ventilação mecânica essa in- cidência aumenta entre 7 e 21 vezes, assim como em pacientes que ficaram em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), em que as pneumonias variam entre 10 e 65%, com 13-55% de fatalidade entre os pacientes. A seguir estão listadas as principais classes e espécies de microrganismos envolvidos na doença (ANVISA, 2004): ● Bacilos Gram negativos; ● Enterobactérias: Klebsiella spp., E. coli, Enterobacter spp.; ● Bacilos Gram negativos não fermentadores: P. aeruginosa, Acinetobacter baumanii e outras espécies, etc.; ● Cocos Gram positivos, principalmente Staphylococcus aureus.; 31UNIDADE 2 EXAMES MICROBIOLÓGICOS - PARTE 1 ● Outros agentes, tais como Legionella pneumophila e Vírus Respiratório Sincicial (VRS) aparecem em casos de surto e em pacientes imunodeprimidos, assim como Aspergillus spp. e Pneumocystis carinii. Devido à gravidade dessas infecções, deve-se prezar sempre por uma boa coleta para realização dos exames laboratoriais. A Figura 4 traz as principais amostras aceitáveis e não-aceitáveis para o exame das pneumonias. É importante frisar, caro aluno, que coletas mal elaboradas podem trazer contaminações do trato respiratório superior, invalidando o exame. FIGURA 4 - AMOSTRAS ACEITÁVEIS E NÃO ACEITÁVEIS PARA AVALIAÇÃO DE PNEUMONIA Fonte: ANVISA (2004). Para as amostras coletadas do trato respiratório inferior, recomenda-se a utilização de Ágar sangue, Ágar Mac conkey, Ágar chocolate e Ágar sangue suplementado para anaeróbios, quando há suspeita de infecção por microrganismos anaeróbios. Quando há suspeita de infecções por Legionella spp., fungos, micobactérias, Chlamydia e vírus, acrescentam-se os meios necessários a estas rotinas específicas, também podendo ser realizado diagnóstico por imunofluorescência com anticorpos monoclonais e métodos moleculares. Após a homogeneização da amostra a semeadura deve ser feita com alça calibrada de 10 µl, diretamente nas placas. As placas devem ser incubadas overnight e a interpretação segue a correlação descrita na Figura 05 (ANVISA, 2004). FIGURA 5 - CORRELAÇÃO ENTRE O NÚMERO DE COLÔNIAS EM PLACA DE PETRI, APÓS INCUBAÇÃO OVERNIGHT E NÚMERO DE BACTÉRIAS PRESENTES NA AMOSTRA Fonte: ANVISA (2004). 32UNIDADE 2 EXAMES MICROBIOLÓGICOS - PARTE 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . O Sistema Nervoso Central (SNC) consiste na porção do sistema nervoso capaz de analisar e integrar as informações internas e externas, bem como gerar e coordenar respostas para cada um desses estímulos. Do ponto de vista anatômico, ele pode ser dividido em 2 órgãos em íntima comunicação: o encéfalo e a medula espinhal. Ambos estão envolvidos pelas meninges e se abrigam no crânio e nas vértebras. O encéfalo é formado pelo cérebro, estruturas subcorticais, tronco encefálico e cerebelo. Já a medula é a continuidade do tronco encefálico, se estendendo pelo canal vertebral (Figura 6). FIGURA 6 - VISÃO GERAL DO SNC, EVIDENCIANDO A REGIÃO ENCEFÁLICA E A ORGANIZAÇÃO DAS MENINGES Fonte: Silverthorn (2017). Ao contrário do trato respiratório superior, que possui microbioma, o SNC é completamente livre de microrganismos. UNIDADE 2 EXAMES MICROBIOLÓGICOS - PARTE 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 EXAME MICROBIOLÓGICO DAS INFECÇÕES DO TRATO RESPIRATÓRIO TÓPICO 33 Sendo assim, a sua presença na região é grave e caracteriza infecções. Tais infecções podem ser causadas por vírus, bactérias, fungos e protozoários, sendo as principais vias de entrada a via hematogênica (principal); penetração após trauma e procedimentos invasivos (cirúrgicos); infecção por contiguidade (rinofaringe, mediastino posterior, espaço retroperitonial, etc.) e ascensão de vírus por nervos periféricos (ANVISA, 2004) Os principais processos infecciosos que afetam o SNC são: ● Meningite aguda e crônica; ● Encefalite, mielite e neurite; ● Abscesso cerebral; ● Empiema subdural, abscesso epidural e flebite intracraniana supurativa; ● Infecções associadas a procedimentos invasivos e implantação de dispositivos. A Figura 07 traz os principais fatores epidemiológicos associados às infecções do SNC. Entretanto, independente da forma de entrada dos microrganismos na região, há urgência no diagnóstico e manejo clínico, visto a grande importância do sistema na vida do paciente. Além disso, nunca pode ser esquecido que essa é uma área estéril, portanto, a coleta deve garantir que não haverá contaminação externa da amostra, bem como, contaminação dos tecidos. FIGURA 7 - PRINCIPAIS FATORES EPIDEMIOLÓGICOS ASSOCIADOS ÀS INFECÇÕES DO SNC Fonte: ANVISA (2004). 34UNIDADE 2 EXAMES MICROBIOLÓGICOS - PARTE 1 ● Líquido Cefalorraquidiano (LCR) Deve-se sempre coletar 2 tubos de amostras, via punção lombar, obtendo os seguintes volumes para análise:● 1-2 ml para Gram, pesquisa de antígenos e cultura. A cultura pode ser semeada em tubos de ágar chocolate, previamente aquecidos a 35 ºC. Pode-se semear também um tubo com ágar sangue (base Mueller Hinton ou Ágar brucella) e um tubo com caldo tioglicolato caso haja suspeita de anaeróbios; ● 2 ml para exame direto e cultura para fungos (quando indicado); ● 2 ml para coloração de Ziehl e cultura para micobactérias (quando indicado); ● 2-3 ml para provas virais (quando indicado). Durante 72 horas as culturas devem ser analisadas, verificando diariamente se há crescimento nas placas e tubos com ágar chocolate. Essa incubação pode ser prolongada por até 7 dias. Nos tubos com caldo, a turvação do meio deve ser observada diariamente, respeitando o prazo de 7 dias e, caso haja crescimento, deve-se preparar um esfregaço corado com Gram e semear em ágar chocolate para isolamento, identificação e execução do antibiograma. Caso haja crescimento de hemófilos e neisserias, proceder com o teste da beta-lactamase e avisar o médico imediatamente, se estes testes forem positivos. Por fim, caso haja positividade para pneumococos, testar a penicilina usando discos de oxacilina 1 micrograma (ANVISA, 2004). ● ABSCESSO CEREBRAL Um abscesso cerebral nada mais é do que um processo inflamatório e/ou infeccioso no cérebro. Inicialmente são descritos como uma inflamação localizada que, se não tratada, evolui com a formação de coleções encapsuladas contendo células da imunidade e da arquitetura cerebral mortas. O material deve ser obtido por punção aspirativa e deve ser mantido em seringa ou frascos à vácuo até a análise. O processamento das amostras deve ser realizado como descrito a seguir (ANVISA, 2004): ● Semear em placa de ágar chocolate e incubar em jarra com vela a 35 ºC; ● Semear em placa com ágar brucella, suplementado com hemina e vitamina K para cultura de anaeróbios em jarra, a 35 ºC; ● Semear em placa de ágar sangue em estufa a 35 ºC; ● Semear em tubo de caldo tioglicolato a 35 ºC; ● Proceder com esfregaço e corar com Gram. ○ Diplococos Gram negativos: sugestivo de Neisseria spp; ○ Cocos Gram positivos em cachos agrupados: Staphylococcus aureus; ○ Cocos Gram positivos em cadeias longas ou aos pares: Streptococcus (S. pneumoniae ou outros estreptococos aeróbios ou anaeróbios); ○ Bacilos Gram positivos: Listeria spp., Corynebacterium spp. (contaminante ou em derivações), esporulados (Bacillus ou Clostridium); 35UNIDADE 2 EXAMES MICROBIOLÓGICOS - PARTE 1 ○ Suspeita de bacilo da tuberculose: realizar novo esfregaço corado pela técnica de Ziehl-Neelsen ou auramina e se confirmado, semear em Lowenstein Jensen ou outro meio específico; ○ Ramificados: Actinomyces ou Nocardia (proceder novo esfregaço corado com Ziehl Neelsen); ○ Cocobacilo Gram negativo: hemófilos, Brucella, Pasteurella sp, Acinetobacter spp. ○ Bacilo Gram negativo: enterobactérias, Pseudomonas spp. 36UNIDADE 2 EXAMES MICROBIOLÓGICOS - PARTE 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . O sistema urinário é composto por dois rins, dois ureteres, uma bexiga e uma uretra e tem como função básica a formação da urina (Figura 8). O principal órgão desse sistema é o rim, cuja fisiologia garante a homeostase (equilíbrio do meio interno), através da filtração do plasma e remoção dos metabólitos e demais substâncias tóxicas presentes na corrente sanguínea. Além da formação de urina, algumas funções renais incluem: regulação do equilíbrio hidroeletrolítico; controle da osmolaridade; manutenção do equilíbrio ácido-base; gliconeogênese; secreção, metabolismo e excreção de hormônios. FIGURA 8 - ANATOMIA DO SISTEMA URINÁRIO, COM ÊNFASE NA ESTRUTURA RENAL Fonte: Silverthorn (2017). UNIDADE 2 EXAMES MICROBIOLÓGICOS - PARTE 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 EXAME MICROBIOLÓGICO DAS INFECÇÕES DO TRATO URINÁRIO TÓPICO 37 A urina é um fluido biológico tradicionalmente estéril, contudo, no momento da coleta pode haver contaminação com as bactérias que compõem a microbiota da região dos órgãos genitais. Sendo assim, a presença de bactérias na urina recebe o nome de bacteriúria. Contudo, considera-se 2 grupos distintos de pacientes com bacteriúria >100.000 bactérias por ml de urina: o primeiro é o grupo dos pacientes sintomáticos e, portanto, com infecção urinária; já o segundo, é o grupo dos assintomáticos e, portanto, apenas portadores de bacteriúria. Já que falamos sobre infecções do trato urinário, elas são designadas tradicionalmente pela sigla ITU e podem ser: altas, envolvendo o parênquima renal (pielonefrite) ou ureteres (ureterites); ou baixas, envolvendo a bexiga (cistite), a uretra (uretrite), e nos homens, a próstata (prostatite) e o epidídimo (epididimite). Ou seja, a anamnese correta do paciente é fundamental para saber se ele possui sintomas relacionados à infecção ou não, bem como compreender qual porção do trato urinário está afetada (ANVISA, 2004). As ITUs podem ser classificadas de acordo com a prevalência e recorrência da infecção, bem como com a gravidade da mesma (ref): ● Episódio único: acomete o paciente uma única vez e tem boa resposta aos antibióticos; ● Recidiva: ocorre como consequência da falha no tratamento de uma ITU isolada, causando bacteriúria assintomática, levando à infecção crônica ao longo dos anos; ● Reinfecção: é a ocorrência de uma nova ITU sem correlação com episódio anterior; ● ITU crônica: refere-se à persistência do microrganismo por um período longo de tem- po, com recidivas após o tratamento, estando correlacionada com comprometimento renal; ● ITU recorrente: pode ocorrer tanto por recidiva, quanto por reinfecção, com meses de intervalo entre um episódio e outro; ● ITU não complicada: ocorre em maior proporção em mulheres jovens sexualmente ativas, sem comprometimento do aparelho urinário; ● ITU complicada: ocorre em pacientes com alterações anatômicas e/ou funcionais do aparelho urinário, com presença de cálculos, doenças de base ou quando sub- metidos a cateterismo vesical, instrumentação ou procedimentos cirúrgicos do trato urinário. Como falamos anteriormente, a urina é um líquido estéril, contudo, é importante ressaltar que a microbiota da região periuretral existe e varia de acordo com a faixa etária do paciente. Estes microrganismos dificilmente causam ITUs e, quando presentes em análises laboratoriais, apresentam-se com contagens de colônias menor que 1000 UFC/ml, sendo constituída de: Streptococcus viridans, Corynebacterium spp., Staphylococcus spp. (exceto Staphylococcus aureus e S. saprophyticus), Lactobacillus spp. A Figura 09 apresenta os principais microrganismos associados com os diferentes tipos de ITUs diagnosticados (ANVISA, 2004). 38UNIDADE 2 EXAMES MICROBIOLÓGICOS - PARTE 1 FIGURA 9 - PRINCIPAIS GRUPOS DE MICRORGANISMOS ASSOCIADOS AOS DIFERENTES TIPOS DE ITUS DIAGNOSTICADOS Fonte: ANVISA (2004). Uma boa anamnese, correlacionada com exame laboratorial bem executado é fundamental para o diagnóstico das ITUs. Sendo assim, os principais parâmetros a serem analisados são a piúria, bacteriúria e urocultura. A piúria consiste na presença de 10 ou mais leucócitos por ml de urina e sua pesquisa reflete a resposta inflamatória que está ocorrendo no trato urinário. Ela tem especial valor diagnóstico, quando a urocultura resulta negativamente. A bacterioscopia de urina consiste na análise, viaesfregaço de urina, da presença ou ausência de bactérias em urina homogeneizada e não-centrifugada. Após secagem e fixação do esfregaço em chama, ele deve ser corado pela técnica de Gram e analisado em objetiva de imersão. A presença de 1 bactéria por campo é sugestiva de 105 UFC (ANVISA, 2004). Por fim, a urocultura consiste na semeadura da urina em meio de cultura, com a alça calibrada 0,01 ml (10 µL), procurando detectar-se contagem de colônias acima de 100 UFC/ ml. A alça bacteriológica é introduzida na amostra homogeneizada e então utilizada para inocular o meio de cultura, inicialmente com uma linha reta no centro da placa, completando- se com a passagem de linhas em zigue-zague em torno de toda a placa. Os meios mais utilizados para a técnica são o ágar Cled e Mac Conkey, seguidos do EMB e ágar Sangue de Carneiro 5%. A incubação inicial é realizada por 24 horas, em estufa bacteriológica a 37 ºC, podendo-se realizar a leitura após 72 horas (ANVISA, 2004). 39UNIDADE 2 EXAMES MICROBIOLÓGICOS - PARTE 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . O sistema genital masculino é composto por diversos órgãos e tecidos, cuja função principal é fornecer mecanismos para a fecundação. Tal sistema atua sob a coordenação de estímulo internos e externos que estão envolvidos desde a gametogênese, até o comportamento sexual masculino. Os órgãos sexuais internos incluem os testículos, epidídimo, ductos deferentes, glândulas seminais, ductos ejaculatórios, próstata e glândulas bulbouretrais. Já os órgãos sexuais externos, incluem o pênis, a porção distal da uretra e o escroto (Figura 10). FIGURA 10 - ORGANIZAÇÃO DO APARELHO REPRODUTOR MASCULINO Fonte: Silverthorn (2017). UNIDADE 2 EXAMES MICROBIOLÓGICOS - PARTE 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 EXAME MICROBIOLÓGICO DAS INFECÇÕES DO TRATO GENITAL TÓPICO 40 Devido a anatomia deste sistema, é fácil compreender o motivo de haverem poucas infecções bacterianas que o afetam: a uretra é longa e o pênis encontra-se afastado do ânus, compreendendo uma proteção anatômica da região. Sendo assim, devemos lembrar que os microrganismos da porção distal da uretra são poucos e normalmente são encontrados na pele, compondo a microbiota. Já o aparelho genital feminino tem uma anatomia que propicia a contaminação de suas estruturas internas e externas. Internamente ele é formado pela vagina, ovários e tubas uterinas e externamente, pelo monte púbico e vulva (pequenos lábios, grandes lábios e clitóris). Conforme ilustrado na Figura 11, é possível verificar o encurtamento da uretra, quando comparado ao trato genital masculino, bem como a proximidade ao ânus, que tem uma microbiota rica. Vale lembrar que, além da produção dos hormônios sexuais e gametas femininos, é no interior do útero que o feto se desenvolve. FIGURA 11 - ANATOMIA DO APARELHO GENITAL FEMININO Fonte: Silverthorn (2017). Como vimos, a anatomia do trato genital feminino é desfavorável do ponto de vista infeccioso. Sendo assim muitos microrganismos podem causar infecções genitais em mulheres, incluindo lactobacilos, difteróides, Gardnerella vaginalis, estafilococos coagulase negativos, Staphylococcus aureus, Streptococcus agalactiae, Enterococcus spp., estreptococos alfa e gama hemolíticos, Escherichia coli e leveduras (ANVISA, 2004). Sendo assim, chamamos as doenças infecciosas que afetam o trato genital feminino de vaginites (Figura 12). 41UNIDADE 2 EXAMES MICROBIOLÓGICOS - PARTE 1 FIGURA 12 - PRINCIPAIS SÍNDROMES DO TRATO GENITAL FEMININO Fonte: ANVISA (2004). Para facilitar a compreensão das diferentes doenças que afetam o trato genital feminino, vamos elencar as principais doenças que afetam a região. ● Candidíase vulvovaginal A candidíase vulvovaginal é uma infecção causada por fungos do gênero Candida spp., que faz parte da microbiota vaginal normal e não está relacionada a relações sexuais, pois mulheres celibatárias também podem apresentar a infecção. Fatores epidemiológicos incluem gravidez, diabetes, farmacoterapia com antimicrobianos de amplo espectro e contracepção oral. O diagnóstico laboratorial é simples e com técnicas amplamente difundidas nos laboratórios de microbiologia convencionais. A amostra utilizada é a secreção vaginal, e podem ser aplicados os seguintes métodos (ANVISA, 2004): ● Exame a fresco seguido pela coloração de Gram; ● Exame colpocitológico pelo Papanicolaou; ● Inoculação em ágar sangue e ágar Sabouraud; ● Aplicação de métodos automatizados para identificação das leveduras; ● Realização de antifungigrama, incluindo discos de miconazol, fluconazol, ketoconazol, itraconazol, clotrimazol e nistatina; ● Utilização de métodos moleculares. ● Tricomoníase A Trichomonas vaginalis é uma bactéria que afeta grande parte da população feminina sexualmente ativa ao redor do mundo, sendo também identificada nos parceiros sexuais de mulheres afetadas. As mulheres podem ser portadoras assintomáticas da doença, bem como doentes agudos. Em gestantes está associada ao rompimento de membranas e nascimento prematuro de bebês. O diagnóstico costuma ser simples, também utilizando a secreção vaginal como amostra. Os procedimentos aplicados são (ANVISA, 2004): Exame a fresco seguido pela coloração de Gram; Exame colpocitológico pelo Papanicolaou; Inoculação em ágar sangue e ágar Roiron, Kupferberg, Diamond; Utilização de métodos moleculares. 42UNIDADE 2 EXAMES MICROBIOLÓGICOS - PARTE 1 ● Vaginose bacteriana É a causa mais comum de infecções do trato genital feminino em mulheres sexualmente ativas. Diversos microrganismos participam da patogenia da doença, incluindo Gardnerella vaginalis, Mobilluncus spp., Bacteroides spp. e Mycoplasma hominis. Devido estar presente em mulheres sexualmente ativas e seus companheiros, a doença é considerada uma DST, contudo, não explica todos os casos, pois muitas mulheres celibatárias apresentam o trato genital colonizado por muitas das bactérias citadas anteriormente. Devido a multiplicidade de agentes causadores, o diagnóstico laboratorial compreende as seguintes etapas(ANVISA, 2004): ● Aferição do pH vaginal que encontra-se acima de 4,5; ● Aplicação de KOH 10% à secreção vaginal, resultando em odor fétido; ● Bacterioscopia pela coloração de Gram: observa-se ausência ou diminuição de leucócitos e de lactobacilo, presença de “clue-cells”, grande quantidade de bacilos Gram-variáveis; ● Semeadura em meio seletivo - ágar vaginalis; ● Métodos moleculares. ● Infecção gonocócica A gonorréia é uma doença que afeta a humanidade há centenas de anos, causada pela Neisseria gonorrhoeae. Mesmo sendo uma doença conhecida desde o final do século XIV, a doença tem difícil controle, pois está associada à atividade sexual e pelo ser humano ser seu único hospedeiro natural. Apesar de envolver apenas o trato genital, a doença traz várias complicações ao paciente, tais como endocardite, meningite, artrite e pielonefrite. Em mulheres, pode invadir as glândulas de Bartholin e de Skene, disseminando-se para os órgãos internos e superfície peritoneal, causando a Doença Inflamatória Pélvica (DIP). Mulheres contaminadas podem passar a doença ao feto durante o parto, causando a of- talmia neonatal. Nos homens apresenta-se como uretrite aguda. Os principais métodos de diagnóstico laboratorial são (ANVISA, 2004): ● Exame direto pelo método de Gram; ● Utilização de métodos enzimáticos(ELISA); ● Cultura em meios específicos, como ágar Thayer-Martin ou similar; ● Identificação das colônias através de métodos bioquímicos; ● Aplicação de técnicas moleculares; ● Pesquisa de beta-lactamase. ● Infecções por Chlamydia trachomatis. As clamídias constituem um grupo de bactérias parasitas intracelulares obrigatórias amplamente distribuídas no reino animal, contudo, apenas algumas espécies são capazes de causar doenças no ser humano. Elas podem causar doenças nos mais diversos tecidos, sendo a Chlamydia trachomatis uma das causadoras da vaginose bacteriana. 43UNIDADE 2 EXAMES MICROBIOLÓGICOS - PARTE 1 Elas coexistem com a gonorreia em mulheres e homens, sendo que no sexo masculino ela é muito mais prevalente que o gonococo. Nos homens, a complicação é a uretrite não gonocócica, enquanto nas mulheres a patologia pode ser mais grave, causando cervicite mucopurulenta, síndrome uretral, endometrite e salpingite, podendo levar, inclusive à esterilidade e predispondo a gravidez ectópica. O diagnóstico laboratorial inclui (ANVISA, 2004): ● Exame direto por imunofluorescência direta ou técnica imunoenzimática; ● Cultura de células e identificação por técnicas de fluorescência; ● Aplicação de métodos moleculares. Além de todas essas patologias descritas, outras diversas infecções podem acometer o trato genital, sendo especialmente graves para as mulheres. A figura 13 traz um apanhado geral das doenças infecciosas genitais e seus agentes causadores. FIGURA 13 - INFECÇÕES GENITAIS DIVERSAS E PATÓGENOS ASSOCIADOS Fonte: ANVISA (2004). 44UNIDADE 2 EXAMES MICROBIOLÓGICOS - PARTE 1 45UNIDADE 2 EXAMES MICROBIOLÓGICOS - PARTE 1 A rigidez nucal é o principal sintoma de meningite, a infecção e inflamação das meninges que revestem e protegem o encéfalo. A doença que pode ter etiologia viral, bacteriana ou fúngica, tem como principal microrganismo o meningococo, uma bactéria altamente contagiosa, capaz de rebaixar o paciente em poucos dias. Apesar de contagiosa e grave, quando diagnosticada ainda no início e com o tratamento correto, a doença tem cura. Além da cura, a doença tem vacina, incluída no Programa Nacional de Imunização, do SUS. Fonte: FIOCRUZ. Meningite AC: sintomas, transmissão e prevenção. Disponível em: https://www.bio.fio- cruz.br/index.php/br/meningite-a-c-sintomas-transmissao-prevencao. Acesso em: 06 ago. 2022. A peste negra (ou peste bubônica) foi uma epidemia que dizimou boa parte da população europeia no século 14. A doença, causada pela bactéria Yersinia pestis, espalhou-se com facilidade pela baixa higiene e presença de roedores e até hoje é considerada a pandemia com maior número de mortes na história da humanidade. Fonte: RIBEIRO, W. 5 principais pandemias da história. Disponível em https://ictq.com.br/farmacia- clinica/2485-5-principais-pandemias-da-historia. Acesso em: 06 ago. 2022. https://www.bio.fiocruz.br/index.php/br/meningite-a-c-sintomas-transmissao-prevencao https://www.bio.fiocruz.br/index.php/br/meningite-a-c-sintomas-transmissao-prevencao https://ictq.com.br/farmacia-clinica/2485-5-principais-pandemias-da-historia https://ictq.com.br/farmacia-clinica/2485-5-principais-pandemias-da-historia CONSIDERAÇÕES FINAIS Queridos alunos, nesta unidade pudemos relembrar a anatomia e fisiologia básica de 4 dos nossos grandes sistemas e entender quais as principais infecções associadas a eles. Contudo, além de compreender as infecções, é necessário compreender como é realizado o diagnóstico laboratorial em si. Visualizamos os principais microrganismos do trato respiratório, urinário, sistema nervoso central e trato genital. Vimos, ainda, que os microrganismos que causam infecções nessas diversas regiões são distintos, desde a forma de entrada no organismo, até a patogênese da doença que causam. Agora, como futuros analistas clínicos, vocês estão aptos a avaliar tais sistemas e identificar quais os possíveis causadores de infecções. Lembrem-se, ainda, que uma boa anamnese do paciente é fundamental para a compreensão do processo de saúde e doença. Espero que tenham gostado dessa unidade, nos encontramos em breve. Até mais. UNIDADE 2 EXAMES MICROBIOLÓGICOS - PARTE 1 46 LEITURA COMPLEMENTAR FERREIRA, J. V. Infecção hospitalar na unidade de terapia intensiva: revisão bi- bliográfica. II Congresso Brasileiro de Ciências da Saúde. Disponível em https://www. editorarealize.com.br/editora/anais/conbracis/2017/TRABALHO_EV071_MD1_SA4_ ID1591_15052017153412.pdf. Acesso em: 06 ago. 2022. FIGUEIREDO, E. G.; BALASSO, G. T.; TEIXEIRA, M. J. Infecções em pós-craniotomias: revisão literária. Arquivos Brasileiros de Neurocirurgia, v. 31, n. 4, 2012. Disponível em ht- tps://www.thieme-connect.com/products/ejournals/pdf/10.1055/s-0038-1625741.pdf. Aces- so em: 06 ago. 2022. KOCH, V. H.; ZUCCOLOTTO, S. M. C. Infecção do trato urinário: em busca das evidên- cias. Jornal de Pediatria, v. 79, sup. 1, 2003. Disponível em https://www.scielo.br/j/jped/a/ tLKdwFRczXyFRsmHJprMb8k/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 06 ago. 2022. ROCHA, R. A. S.; CENZI, C. M. Educação em saúde para prevenção das infecções respiratórias: relato de experiência. Pesquisa, Sociedade e Desenvolvimento, v.10, n.10, 2021. Disponível em https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/18593/16591. Acesso em: 06 ago. 2022. UNIDADE 2 EXAMES MICROBIOLÓGICOS - PARTE 1 47 https://www.editorarealize.com.br/editora/anais/conbracis/2017/TRABALHO_EV071_MD1_SA4_ID1591_15052017153412.pdf https://www.editorarealize.com.br/editora/anais/conbracis/2017/TRABALHO_EV071_MD1_SA4_ID1591_15052017153412.pdf https://www.editorarealize.com.br/editora/anais/conbracis/2017/TRABALHO_EV071_MD1_SA4_ID1591_15052017153412.pdf https://www.thieme-connect.com/products/ejournals/pdf/10.1055/s-0038-1625741.pdf https://www.thieme-connect.com/products/ejournals/pdf/10.1055/s-0038-1625741.pdf https://www.scielo.br/j/jped/a/tLKdwFRczXyFRsmHJprMb8k/?format=pdf&lang=pt https://www.scielo.br/j/jped/a/tLKdwFRczXyFRsmHJprMb8k/?format=pdf&lang=pt https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/18593/16591 MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Microbiologia clínica: 156 perguntas e respostas - Volume 1. Autor: Caio Márcio F. Mendes; Carmen Paz Oplustil; Cássia Maria Zoccoli, Sumiko Ikura Sinto. Editora: Sarvier. Sinopse: Trata-se de um livro de consulta diária para os profissionais interessados no tema. Baseado na sua experiência nas sessões interativas, os autores decidiram editar um livro em forma de perguntas e respostas, que abrange a maior parte das situações que podem ser observadas no trabalho diário da microbiologia clínica. FILME/VÍDEO Título: O Conde de Monte Cristo. Ano: 2002. Sinopse: Fernand Mondego não consegue mais suportar a inveja que possui de Edmond Dantes, por este possuir uma be- líssima mulher. Influente, acaba fazendo com que Dantes, um homem pobre e honesto, seja acusado de traição e assassinato, indo parar em uma prisão ilhada e isolada do mundo. Dantes, ao longo dos anos que fica preso, vai perdendo a fé em Deus, até que encontra um padre que também estava preso e tinha um plano de fuga. Ele então escapa da prisão cheio de ódio e sedento por vingança. WEB Técnicas de semeadura em meio de cultura: https://youtu.be/ qIoPo4wSnWk UNIDADE 2 EXAMES MICROBIOLÓGICOS - PARTE 1 48 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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