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Assistência Multiprofissional a pessoa com ostomia de eliminação

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GEPNEWS, Maceió, a.4, v1, n.1, p.226-234, jan./mar. 2020 
 
 
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ASSISTÊNCIA MULTIPROFISSIONAL À PESSOA COM OSTOMIA DE ELIMINAÇÃO 
 
MULTIPROFESSIONAL ASSISTANCE TO THE PERSON WITH OSTOMY OF 
ELIMINATION 
 
(Kassia Alice Anjos de Lima, Tatiele Santos dos Reis, Larissa Oliveira Lessa, Edijane 
Alves da Silva, Teliane Lima Baptista) 
 
Resumo: Pessoa ostomizada é aquela que em decorrência de um procedimento cirúrgico 
de exteriorização do sistema (digestório, respiratório ou urinário) possui um estoma, isto 
é, uma abertura artificial entre os órgãos internos com o meio externo. É notório que tal 
procedimento impacta no estilo de vida do usuário, emergindo, então, a demanda por 
ações multiprofissionais com foco na interdisciplinaridade. Sendo assi m, o presente 
trabalho tem por objetivo expor à experiência da atuação de uma equipe multiprofissional 
de residentes de um hospital da atenção terciária, no cuidado a pessoa ostomizada no 
contexto da clínica cirúrgica. Para tal, recorremos à pesquisa bibliográfica articulada ao 
relato de experiência. Salienta-se a relevância da abordagem multiprofissional junto a este 
público, na formação de uma rede de cuidados articulada, com ênfase na integralidade, 
constituindo-se em um desafio para a equipe, em virtude das inúmeras repercussões na 
qualidade de vida do indivíduo, tornando-se uma importante frente de atuação. 
 
Palavras-Chave: Pessoa Ostomizada; Multiprofissional; Interdisciplinar; Cuidado em 
Saúde. 
 
Abstract: Ostomized person constitutes a subject that due to a surgical procedure of 
exteriorization of the system has a stoma. This procedure impacts on the user's lifestyle, 
thus emerging the demand for actions with a focus on interdisciplinarity. Thus, the present 
study aims to expose the experience of the multiprofessional team of residents of a 
university Hospital, in the care of the ostomized person. We resorted to bibliographic 
research articulated to the experience report. The relevance of the multiprofessional 
approach to this public is emphasized, forming a network of articulated care, with an 
emphasis on integrality, constituting a challenge. 
 
Keywords: Ostomized person; Multiprofessional; Interdisciplinary; Health care. 
 
INTRODUÇÃO 
 
Conforme a Portaria n° 400/2009 (BRASIL, 2009), que estabelece as 
diretrizes nacionais para a atenção à saúde das pessoas ostomizadas no âmbito do 
Sistema Único de Saúde (SUS), pessoa ostomizada é aquela que em decorrência de 
um procedimento cirúrgico de exteriorização do sistema (digestório, respiratório 
 
 
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ou urinário) possui um estoma, isto é, uma abertura artificial entre os órgãos 
internos com o meio externo. 
Para Farias, Gomes e Zappas (2004), todo estoma é resultado de uma 
cirurgia mutilante, pouco visível, porém, muito traumatizante. Portanto, o cuidado 
em saúde das pessoas ostomizadas deve partir do pressuposto de que a presença 
de um estoma impacta no estilo de vida do(a) usuário(a), de modo que, por vezes 
é necessário desenvolver novas estratégias para vida afetiva, social e profissional. 
No preparo pré-operatório, a abordagem é realizada a usuários(as) e 
familiares, com objetivo de sanar dúvidas e reforçar acerca da importância do 
procedimento cirúrgico para manutenção da qualidade de vida. No pós-operatório 
a atenção em saúde é centrada nas orientações referentes ao fomento do 
autocuidado para manutenção e uso da bolsa coletora, encaminhamento ao 
programa de ostomizados(as) da instituição, além de se trabalhar o luto pela perda 
da função do órgão. 
Emerge, então, a demanda por ações com foco na interdisciplinaridade e 
ênfase no fomento para o autocuidado, prevenção de complicações nas estomias, 
fornecimento de equipamentos coletores, além do fortalecimento de estratégias 
funcionais de enfrentamento. 
Por conseguinte, o presente trabalho propõe explanar concernentemente 
ao atendimento multiprofissional à pessoa ostomizada no âmbito da atenção 
terciária à saúde por uma equipe multiprofissional, composta por residentes de 
serviço social, nutrição, psicologia, farmácia e enfermagem, desempenhando 
atividades no cenário da clínica cirúrgica de um Hospital Universitário. 
 
DESENVOLVIMENTO 
 
Referencial Teórico 
Estoma ou estomia são designativos oriundos do grego stóma que significa 
boca ou abertura, isto é, utilizados para indicar a exteriorização de qualquer víscera 
oca através do corpo (DIONÍSIO, 2013; SANTOS, 2006). O objetivo da estomia é 
 
 
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substituir a função do órgão com problema após o procedimento cirúrgico no qual 
é produzido um acesso para contato com o meio exterior do corpo (PÉREZ et al., 
2017). 
A proposta cirúrgica para a confecção de um estoma, definitivo ou 
temporário, parte de inúmeras condições de adoecimento pelas quais é necessário 
desviar conteúdo digestório, respiratório ou urinário, sendo elas, enfermidades 
crônicas, doença de Chagas (megacolon chagásico), doença de Chron, acidentes, 
alguns tipos de neoplasias malignas, principalmente a colorretal , entre outras 
razões (BARBUTTI; SILVA; ABREU, 2008). Entretanto, neste trabalho trataremos 
apenas das ostomias de eliminação. 
Desta maneira, a depender do local ao qual é exteriorizado recebe uma 
denominação própria, assim quando o procedimento cirúrgico é realizado na 
porção do intestino grosso, denomina-se de colostomia, e a depender do local em 
que será executada a abertura, determinará a frequência e a consistência das 
evacuações. No intestino delgado (fino), denomina-se de ileostomia, neste tipo, as 
fezes são inicialmente líquidas, passando, após um período de adaptação, a ser 
semi-líquidas ou semi-pastosas. Chama-se de urostomia quando é colocado um 
estoma para saída de urina (INCA, 2018). A estomia de eliminação ou intestinal é 
o tipo de estomia predominante, ocorrendo em 70% dos casos (CAETANO et al., 
2014). 
Quando o procedimento cirúrgico é realizado na bexiga dá-se o nome de 
cistostomia, ou seja, é a derivação vesical na qual se coloca um cateter no interior 
da bexiga, através da parede abdominal (COLOGNA, 2011). Outro tipo é a 
colostomia úmida, que possui dupla-boca e constitui uma opção para pacientes 
que necessitam de derivação urinária e fecal simultâneas (COSTA, 2007). 
De acordo com a United Ostomy Association (apud BARBUTTI; SILVA; 
ABREU, 2008), a adaptação à condição de pessoa ostomizada e da dependência à 
bolsa coletora é um processo longitudinal, e está relacionado à doença de base, ao 
 
 
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grau de incapacidade, dos valores, e ao tipo de personalidade individual do 
paciente. 
Sabe-se que a maior parte das pessoas ostomizadas não gostam de 
conviver com seus estomas (FARIAS; GOMES; ZAPPAS, 2004) mesmo quando se 
trata de um procedimento provisório. Dentre as repercussões em ser uma pessoa 
ostomizada, Santana et al. (2010), destaca: Mudanças no cotidiano da vida – 
adaptação à nova situação; Transformação do corpo – influência no contexto 
biopsicossocial; Influência do tempo e o apoio da religiosidade na aceitação em ser 
um ostomizado além do papel da família e do grupo operativo como os mais 
preponderantes. 
Desta maneira, é possível verificar que as mudanças não se restringem 
apenas ao nível fisiológico, mas também psicológicos e sociais, à vista disso, o 
atendimento ao paciente ostomizado apresenta-se enquanto um desafio para a 
equipe multiprofissional que o atendem (BARBUTTI; SILVA; ABREU, 2008). 
Uma das maiores questões enfrentadas pelas pessoas ostomizadas é oda 
autoaceitação (FARIAS; GOMES; ZAPPAS, 2004). Ocasionando frequentemente em 
diminuição da adesão ao tratamento, autocuidado e seguimento 
médico/ambulatorial, constituindo-se como uma questão fundamental que não 
deve ser negligenciada pelos profissionais de saúde, exigindo manejo eficiente. 
Logo, o profissional deve atentar-se às demandas apresentadas para sua 
área de atuação, baseando seu cuidado em atividades de atendimento individual 
e em grupo, orientação à família, incentivo das atividades de inclusão da pessoa 
com estoma e família na sociedade, além de planejar a distribuição quantitativa e 
qualitativamente dos equipamentos coletores e adjuvantes, assim como orientar 
os profissionais da atenção básica para os estabelecimentos de fluxos de referência 
e contrarreferência. 
 
Metodologia 
 
 
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A atuação da equipe multiprofissional ocorreu na Clínica Cirúrgica de um 
Hospital Universitário da atenção terciária, compreendida no período de março de 
2019 a agosto de 2019. A Clínica Cirúrgica comporta duas enfermarias femininas e 
duas masculinas, ambas com seis leitos cada, além de uma quinta enfermaria 
variável de acordo com a necessidade da população, com capacidade de quatro a 
seis leitos. Destes leitos, não havia delimitação de pacientes em pré/pós-
operatório para confecção de ostomias. 
 O perfil dos(as) usuários(as) atendidos(as) no serviço é heterogêneo, 
apresentando quadros clínicos, diagnósticos de base, idade, instrução formal, sexo 
cor/raça e situação social diversas. 
A base ética do presente relato se fundamenta na Resolução nº 510/2016 
do Conselho Nacional de Saúde, em seu parágrafo único do artigo 1º que dispõe 
sobre as pesquisas que não precisam ser registradas no sistema (BRASIL, 2016). 
 
Resultados e discussões 
A confecção de um estoma, indubitavelmente, promove mudanças no 
estilo de vida do usuário, não obstante é ocasionado por questões de saúde, que 
podem ou não ser solucionadas a partir da ostomia, apontando para mais este 
elemento a ser manejado no contexto do adoecimento. 
 Ao ser orientado pelo médico da necessidade da confecção de uma ostomia 
o paciente, de modo geral, demonstra dificuldade para se defrontar e superar as 
mudanças que ocorrerão nesse novo período (pré, trans e pós-operatório), 
principalmente ao lidar com as alterações em sua imagem corporal, apontando 
para um processo dificultoso de elaboração e aceitação da nova autoimagem. 
Muitos são os medos a serem enfrentados, que vão desde a rejeição de 
entes queridos, dificuldade de lidar com a ostomia, salientada pela falta de 
conhecimento, obstáculos para reintegração social e a perda de emprego, que 
ocasionam um desequilíbrio emocional, interferindo, assim, na aceitação da atual 
condição (FRANCO et al., 2011). 
 
 
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O enfrentamento de tais dificuldades depende em grande medida dos 
recursos internos pessoais, do suporte social fornecido principalmente pela família 
ou por rede social próxima, pelos profissionais e pela estrutura de atendimento 
oferecido ao sujeito. 
Por se tratar de uma condição eventualmente crônica (BELLATO et al., 
2007) o acompanhamento do usuário ostomizado exige intervenções prolongadas 
e continuadas dos diversos profissionais de saúde, no entanto, no contexto da 
Clínica Cirúrgica o período de intervenção compreende o perioperatório, incluindo 
intercorrências clínicas, não descartando a contrarreferência deste usuário para a 
rede de atenção à saúde. 
Geralmente o paciente pré-operatório apresenta muitas dúvidas relativas 
ao manejo das ostomias na execução das atividades da vida diária, na alimentação 
e principalmente na manipulação e higienização da bolsa coletora, além das 
questões da vida prática, os pacientes fantasiam e/ou imaginam a percepção de si 
após procedimento cirúrgico, apontando para algum nível de ansiedade, 
questionando se será capaz de viver com seus estomas, pelo tempo que for 
necessário. 
A elaboração de um plano assistencial não se restringe apenas a cuidados 
físicos ou instrução ao manejo de bolsas e cuidados com higienização. É 
imprescindível o planejamento da assistência a longo prazo aspirando o fomento 
ao autocuidado, englobando a demarcação de estoma, preparo físico pré-
operatório e a articulação das intervenções com a equipe do bloco cirúrgico. 
Necessita também de uma orientação envolvendo paciente/família, 
vislumbrando à reabilitação e o encaminhamento ao Programa de Ostomizados, 
que é assegurado pelo serviço público, para aquisição de dispositivos e 
continuidade ambulatorial (SONOBE; BARICHELLO; ZAGO, 2002). A própria 
instituição possui este programa e o paciente retira em prazo acordado à sua 
necessidade a bolsa coletora e adjuvantes. 
 
 
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Durante a internação o cuidado com o paciente no pós-operatório teve 
como característica, além do manejo do estoma, a continuação de processos 
assistenciais multiprofissionais articulados, visando a continuação da assistência 
na atenção básica e acompanhamento ambulatorial, buscando o sucesso nesse 
processo. 
Nesse sentido, a equipe multiprofissional, além do atendimento individual 
de cada profissão desenvolve estratégias de intervenção para cada caso, de acordo 
com as demandas apresentadas, no entanto destaca-se como geral, as orientações 
sobre uso, manuseio e cuidado com equipamentos, dispositivos e acessórios pela 
equipe de enfermagem a fim de prevenir agravos e o incentivo ao autocuidado 
realizado por todos da equipe. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Salienta-se a importância da inserção da equipe multiprofissional no 
cuidado a este público, tendo em vista que um estoma, temporário ou definitivo, 
traz impactos que ultrapassam o enfoque biológico, demandando o 
desenvolvimento de competências para o trabalho em equipe na formação de uma 
rede de cuidados articulada, com ênfase na integralidade. 
Conclui-se, então, que o acompanhamento ao(a) usuário ostomizado(a) 
constitui-se em um desafio à equipe multiprofissional, em virtude das inúmeras 
repercussões na sua qualidade de vida, tornando-se uma importante frente de 
atuação. 
 
REFERÊNCIAS 
 
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