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As práticas corporais e sua influência para o desenvolvimento de uma criança com Transtorno do Espectro Autista

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1 
 
 
 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE 
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA 
 
 
 
 
 
 
Ana Rita Teixeira Fernandes 
 
 
 
 
 
As práticas corporais e sua influência para o desenvolvimento de uma criança com 
Transtorno do Espectro Autista 
 
 
 
 
 
Natal-RN 
2016 
 
2 
 
 
 
Ana Rita Teixeira Fernandes 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
As práticas corporais e sua influência para o desenvolvimento de uma criança com 
Transtorno do Espectro Autista 
 
 
 
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao 
curso de Educação Física, Departamento de 
Educação Física (DEF) da Universidade Federal Do 
Rio Grande Do Norte como requisito parcial para 
obtenção do titulo de licenciada em Educação 
Física. 
 Orientadora: Prof. Dra. Maria Aparecida Dias 
 
 
 Natal-RN 
2016 
3 
 
 
 
Ana Rita Teixeira Fernandes 
 
As práticas corporais e sua influência para o desenvolvimento de uma criança com 
Transtorno do Espectro Autista 
 
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao 
curso de Educação Física, Departamento de 
Educação Física (DEF) da Universidade Federal Do 
Rio Grande Do Norte como requisito parcial para 
obtenção do titulo de licenciada em Educação 
Física. 
 Orientadora: Prof. Dra. Maria Aparecida Dias 
 
 
 
 
 MEMBROS DA BANCA EXAMINADORA: 
 
__________________________________________ 
Profª Drª Maria Aparecida Dias 
_________________________________________ 
Prof. Ms. João Batista Amorim 
___________________________________________ 
Profa. Marília Rodrigues 
 
 
4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN 
Sistema de Bibliotecas - SISBI 
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências da Saúde - CCS 
 
 Fernandes, Ana Rita Teixeira. 
 As práticas corporais e sua influência para o desenvolvimento 
de uma criança com transtorno do espectro autista / Ana Rita 
Teixeira Fernandes. - Natal, 2016. 
 37f.: il. 
 
 Orientadora: Maria Aparecida Dias. 
 Trabalho de Conclusão de Curso - TCC (Graduação) - 
Departamento de Educação Física. Centro de Ciências da Saúde. 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 
 
 
 1. Transtorno do espectro autista - TCC. 2. Práticas 
corporais - TCC. 3. Transtorno de modulação sensorial - TCC. I. 
Dias, Maria Aparecida. II. Título. 
 
RN/UF/BS-CCS CDU 616.896 
 
 
 
 
 
5 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
A DEUS E NOSSA SENHORA, força maior que ilumina e guia meu caminho durante 
toda a vida. Aos meus pais Maria Abgail Teixeira Fernandes e Antônio Gentil 
Fernandes Júnior, que são minha essência, e sempre mostraram que a educação é 
o melhor caminho a ser seguido. A minha Irmã, amiga companheira de todas as 
horas, sempre me apoiando e me incentivando para que tudo desse certo. Ao meu 
MOZI, Simplício Marcolino de O. Silva, que mergulhou comigo no sonho de ser 
professora de Educação Física. Obrigada pela paciência, amor e compreensão. Aos 
Mestres, Professores do Curso de Educação Física da UFRN, que me ensinaram 
durante estes últimos quatro anos o verdadeiro significado do que é “ser professor”. 
A professora Orientadora Maria Aparecida Dias (Cida), sensível, crítica e 
competente, contribuindo com seus conhecimentos. Admiro seu trabalho e me 
espelho nela como profissional. Aos amigos do curso, Tilara Thaynara, Natalia, 
Mateus, Gabriel e Milena por estarem sempre comigo ao longo desses quatro anos, 
me ajudando e suportando sempre. A minha amiga e companheira de trabalho, 
Rachel. Ao meu amado HOMEM- ARANHA, o protagonista desta experiência 
maravilhosa sem ele nada teria se concretizado. Aos pais do “HOMEM- ARANHA” 
que colaboraram com esse estudo. 
 
MUITO OBRIGADA! 
 
 
6 
 
 
RESUMO 
Hoje em dia 70 milhões de pessoas no mundo estão dentro do transtorno do espectro 
autista (TEA). O autismo esta enquadrado nos transtornos globais do desenvolvimento 
(TGD), apresenta como principal característica o comprometimento de três importantes 
áreas, sendo: social, linguagem e um padrão de interesses restritos e estereotipados. O 
presente trabalho teve como objetivo geral analisar a influência das práticas corporais 
sistematizadas para o desenvolvimento global de uma criança com TEA em espaço não 
escolarizado. Apoiamos-nos também, na estruturação de uma proposta de práticas 
corporais para uma criança de cinco anos dentro do Espectro do autismo, e como essa 
prática corporal pode ajudar a criança com os distúrbios comuns do Transtorno (sensoriais 
sono e as estereotipias). O método utilizado para esse trabalho foi o estudo de caso. Muitos 
desses comportamentos podem estar relacionados a casos de desordens sensoriais, 
dificuldades para prestar atenção e/ou mantê-la, e deficiência na coordenação motora. A 
intervenção foi feita em quatro dias com duração de 60 minutos. Por fim, de acordo com a 
discussão das atividades realizadas podemos afirmar o papel positivo da educação física no 
que diz respeito as prática corporal como opção mais lúdica de tratamento, mostrando que é 
possível essa interação entre as áreas do conhecimento e mostrando que estamos no 
caminho certo. 
 
 
PALAVRAS- CHAVE: TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA, PRÁTICAS CORPORAIS, 
TRANSTORNO DE MODULAÇÃO SENSORIAL. 
 
 
7 
 
 
ABSTRACT 
 
Today, 70 million people worldwide are in the autism spectrum disorder (ASD). Autism is 
framed in the global developmental disorders (TGD), presents as main characteristic the 
commitment of three important areas, being: social, language and a pattern of restricted and 
stereotyped interests. The present work had as general objective to analyze the influence of 
systematized corporal practices for the global development of a child with ASD in non - 
school space. We also support, in structuring a proposal for bodily practices for a five-year-
old within the spectrum of autism, and how this body practice can help the child with the 
common disorders of the disorder (sensory, sleep and stereotypies). The method used for 
this work was the case study. Many of these behaviors may be related to cases of sensory 
disorders, difficulties in paying attention and / or maintaining it, and deficiency in motor 
coordination. The intervention was done in four days with duration of 60 minutes. Finally, 
according to the discussion of the activities carried out, we can affirm the positive role of 
physical education in regard to corporal practice as a more playful option of treatment, 
showing that it is possible for this interaction between the areas of knowledge and showing 
that we are on the way right. 
 
 
KEYWORDS: AUTISTIC SPECTRUM DISORDERS, CORPORATE PRACTICES, 
SENSORY MODULATION DISORDER. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
 
SUMÁRIO 
1. Introdução........................................................................................................... 8 
 
2. CAPÍTULO 1- Autismo e sua história................................................................. 12 
 
3. CAPÍTULO 2 - A criança autista e suas características..................................... 17 
 
4. CAPÍTULO 3 - Autismo, Transtorno de Modulação Sensorial e as práticas 
corporais............................................................................................................. 
23 
 
5. Intervenções e Discussões................................................................................ 25 
 
 5.1- Quem é o Homem- Aranha......................................................................... 
 5.2- Locais da Intervenção................................................................................. 
 5.3- Intervenção.................................................................................................. 
 
6. Considerações Finais.........................................................................................31 
 
7. Referências......................................................................................................... 
 
8. Anexo................................................................................................................. 36 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
Atualmente, a palavra inclusão vem ganhando mais visibilidade e abrindo 
novas possibilidades. Afinal, de acordo com o Censo 2010, mais de 45 milhões de 
brasileiros possuem pelo menos um tipo de deficiência, representando quase um 
quarto da população. (BRASIL, 2010) 
Nas escolas, segundo dados do Ministério da Educação (MEC), em 2015, o 
acesso de pessoas com deficiência aumentou 381% entre 2003 e 2014. O autismo 
hoje é considerado como uma deficiência, mas nem sempre foi assim. Só a partir do 
ano de 2011, depois do projeto de lei 168/11 sancionado foi quando eles puderam 
de fato lutar pelos seus direitos diante da justiça Brasileira. 
 No ano de 2015, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou dados 
que diziam que mais 70 milhões de pessoas no mundo estão dentro do Transtorno 
do Espectro Autista (TEA), ou seja, Cerca de 1% da população mundial – ou um em 
cada 68 crianças – apresenta algum transtorno do espectro do autismo, e a 
ocorrência da condição neurológica vem aumentando significamente. No Brasil, 
apesar de não haver estatística a respeito do transtorno a estimativa é de alcançar 
dois milhões de pessoas nos próximos anos. 
 Em sua etiologia a palavra “autismo” advém do grego autos, ou seja, que 
significa próprio,reportando-se a alguém voltado para si mesmo, sem muito contato 
com o exterior. Ele se torna mais aparente nas fases iniciais no desenvolvimento do 
infante, geralmente nos três primeiros anos de vida. O autismo não é uma doença, e 
sim um distúrbio podendo comprometer relações interpessoais, linguagem, 
comportamento, jogos e comunicação, com diversas etiologias e graus de 
severidade (Rutter, Schopler 1992 apud Gadia, 2004). 
 O autismo é um distúrbio do desenvolvimento humano. Apesar do tempo 
que vem sendo estudado, em torno de 60 anos, apresenta ainda muitos 
questionamentos que ainda hoje não obtiveram respostas. 
No que concerne a sua historia, o autismo começou a ser descrito por kanner 
1943, no qual foi agrupado um conjunto de comportamentos aparentemente 
característicos em que onze crianças que ele acompanhava (PEREIRA, 1999), ou 
seja, enumerou um conjunto de características que teoricamente podiam identificar 
as crianças com este tipo de distúrbio (Aarons & Gittens, 1992). 
10 
 
 
 
No mais, podemos pensar também na sua etiologia, onde muitos estudos 
citam fatores como sendo a possíveis causas: a idade parental avançada, baixo 
peso ao nascer ou exposição fetal a ácido valproico, ou seja, fatores genéticos e/ou 
fisiológicos que podem ser risco de desenvolvimento do transtorno do espectro 
autista. 
 A criança na idade dos cinco anos, para Wallon (1981), ele esta no 
estado personalismo, onde a criança avança no Eu- psíquico, ou seja, intensificar o 
exercício de diferenciação do Eu- outro. No que se refere à motricidade na fase pré- 
escolar. 
Concernente a isso, Le Bouch (1987) diz que a prioridade é a atividade 
motora global, concentrando-se na necessidade fundamental de movimento, de 
investigação e de expressão. Como sabemos a maioria das crianças que estão no 
Transtorno do Espectro Autista não apresentam o desenvolvimento de uma criança 
típica1. 
A respeito das práticas corporais, entendo como uma manifestação da cultura 
corporal, podendo trabalhar o lúdico, jogos, esporte e ginástica, ou seja, movimento. 
Segundo Pellegrini et al (2003. p. 120), “o movimento exerce uma função essencial 
no processo de desenvolvimento”. Sendo o corpo em movimento como uma 
importante ferramenta de aprendizagem. 
Para mais, possibilitando ao individuo potencializar alguns valores sociais 
como: respeito mútuo, confiança e muitos outros, assim como, a percepção corporal, 
percepção espacial, lateralidade, equilíbrio trabalhados na educação física. 
 No que se refere à percepção é definido como a capacidade de organizar 
e incorporar novos estímulos às informações já armazenadas, levando a uma 
alteração do padrão de comportamento. No aspecto motor estão associados à 
capacidade de integração sensorial2, interpretação, ativação e reinformação da 
ação. (BERTOLDI ET AL,2007). 
 
 
1 Caracterizado pela criança apresentar um desenvolvimento biológico intacto concomitante a um 
ambiente que facilita o desenvolvimento padrão. 
 
2
 É a capacidade que o cérebro tem de organizar as sensações do próprio corpo e do ambiente, 
permitindo a organização do comportamento e uso eficiente do corpo nas atividades que realizamos 
no cotidiano (AYRES, 1972) 
11 
 
 
Assim, como futura profissional de educação física e visando o 
desenvolvimento, autonomia e inclusão dessa criança, pode-se dizer que a 
aprendizagem pelo corpo seria uma forma alternativa, já que muitas crianças com 
TEA tem uma aprendizagem divergente do habitual. 
 Nesse sentido a educação física estabelece uma construção como agente de 
inclusão de forma integradora, aquela educação física libertadora, aumentando as 
possibilidades de se conduzir um indivíduo mais autônomo, independente e 
autoconfiante de suas ações. (COPETTI J R. 2012). 
 O presente estudo teve como fonte de motivação a experiência da 
acadêmica com crianças autistas no começo do curso de educação física, há quatro 
anos. A proposta em estruturar algumas práticas corporais visando a integração 
sensorial ale da motricidade dessa criança, a autonomia, inclusão advém das 
circunstâncias, ou seja, o atraso no desenvolvimento corporal nas crianças o 
diagnosticadas no Transtorno do Espectro Autista (TEA). 
 Deste modo, justifica-se a importância do presente estudo, por acreditar 
que as sistematizações das práticas corporais globais possam contribuir para uma 
autorregulação sensorial, consequentemente diminuição das estereotipias3, e uma 
ampliação do repertório motor, que auxiliará no avanço nas atividades de vida diária 
(avd’s), dando a essa criança mais autonomia. Tanto em espaço escolar como no 
não escolar. 
 No tocante, talvez uma das grandes motivações que existe na vida é o 
dialogo com o diferente. É o desafio constante do entender o outro e assim 
resignificar nossos valores, nossas crenças, nosso conhecimento. E o 
desenvolvimento da criança com Transtorno do Espectro Autista é um grande 
desafio a ser vencido. 
Esse estudo nos impõe um desafio a ser cumprido. No qual, tem como 
objetivo geral analisar a influência das práticas corporais sistematizadas para o 
desenvolvimento global de uma criança com TEA em espaço não escolarizado. Para 
auferir, nos apoiamos também, na estruturação de uma proposta de práticas 
corporais para uma criança de cinco anos dentro do Espectro do autismo, e como 
 
3
 Movimentos repetitivos e aparentemente sem funcionalidade (PHEIFFER et al., 2011). 
 
12 
 
 
essa prática corporal pode influenciar a criança com os distúrbios comuns do 
Transtorno (sensoriais, sono e as estereotipias) e entendendo em que momento de 
seu desenvolvimento a criança se encontra. 
 Nosso estudo é de caráter qualitativo, apoiando-se no estudo de caso como 
procedimento metodológico. Para Yin apud Roesch (1999, p. 155): “no que se refere 
ao conceito de estudo de caso: é uma estratégia de pesquisa que busca examinar 
um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto”. Corroborando ainda com que 
foi dito Yin (2005) vem dizer que se trata de uma forma de se fazer pesquisa 
investigativa de fenômenos atuais dentro de seu contexto real, em situações em que 
as fronteiras entre o fenômeno e o contexto não estão claramente estabelecidos. 
 Paraesse estudo, tivemos uma criança na faixa etária de 5 (anos), do sexo 
masculino, diagnosticado com TEA há 2 (anos). Ele é atendido por uma equipe 
multidisciplinar (psicólogo, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, psiquiatra e 
professor de educação física). Ela terá seu nome preservado, e por gostar bastante 
do personagem do Homem Aranha, decidimos referencia-lo dessa forma no nosso 
trabalho. 
 Inicialmente, o procedimento foi de observação da criança para poder 
pontuar algumas carências em suas habilidades motoras. Em seguida o 
planejamento e execução com as práticas corporais. Por fim, uma segunda 
observação para analisar se houve interferência das praticas corporais realizadas. 
 A presente pesquisa foi organizada em três capítulos de igual importância 
para seu o desenvolvimento. No primeiro capítulo, Autismo e sua historia, tratamos 
do autismo a partir do seu primeiro relato ate os dias de hoje. No segundo capítulo, 
situamos o leitor sobre a criança com autismo, destacamos algumas características 
associadas ao TEA. Por fim, no terceiro e último capítulo falamos sobre as práticas 
corporais baseada no transtorno de modulação sensorial no aluno com TEA. Por fim, 
procuramos apontar nas considerações finais, propostas de desdobramentos da 
nossa pesquisa e também se os objetivos propostos foram alcançados. 
 
 
 
 
 
13 
 
 
 
CAPITULO 1- AUTISMO E SUA HISTÓRIA 
 
O autismo é um desenvolvimento incomum, no qual, se manifesta na primeira 
infância e continua por toda vida. De acordo com a Organização Mundial da Saúde 
(OMS) esse número chega a quase 70 milhões de pessoas no mundo dentro do 
espectro autista. 
No Brasil, em 2007, na época com 190 milhões de habitantes, havia cerca de 
1 milhão de pessoas com diagnostico. Atualmente estima-se 2 milhões de pessoas, 
numero esse que não se pode confirmar, pois conforme Teixeira e Cols (2010) no 
Brasil dados epidemiológicos sobre o autismo, ainda são escassos. 
 A palavra Autismo tem origem do grego “autos”, ou seja, “próprio”, “ de si 
mesmo”. Ele acomete geralmente, mais meninos que meninas, sendo 1(uma) 
menina para cada 4 (quatro) meninos diagnosticados com autismo. Apesar de 
terem aparecidos mais casos diagnosticados nos últimos tempo, o autismo foi 
identificado e descrito em 1943 por Leo Kanner ( 1894-1981), médico psiquiatra da 
época. 
No ano de 1943, kanner relatou a historia de onze crianças, entre elas 
Donald. Ele apresentava características peculiares, pois com apenas dois anos e 
meio sabia todos os nomes presidentes e vice-presidente dos Estados Unidos tal 
como o alfabeto completo, tanto de trás para frente quanto de frente para trás. Mas 
ao mesmo tempo a criança não conseguia manter uma conversa e nem conseguia 
fazer o mínimo de contato com as pessoas. O médico ainda descreveu 
características, como: tendência a isolamento, na comunicação, problemas no 
comportamento e as atitudes inconsistentes que constituem a marca registrada do 
autismo. (SCHWARTZMAN, 2003, p. 6). 
No mesmo tempo em que Kanner descrevia esses novos caso para a 
sociedade medica dos Estados unidos havia outro médico, nesse caso pediatra, o 
Austríaco Hans Asperger( 1906- 1980), apresentou sua tese de doutorado em 1943, 
intitulada “Psicopatia Autística”, no qual , era um estudo sobre crianças que 
apresentavam característica semelhante as de Kanner. 
Em meio à segunda guerra mundial (1939-1945), não havia comunicação 
entre a Europa e os Estados Unidos, ou seja, os dois médicos estavam relatando 
14 
 
 
infantes com as mesmas características que acabaram sendo descritas por ambos 
como autista, termo esse utilizado para adultos com esquizofrenia. Apesar de não 
haver nenhuma semelhança entre o Autismo e esquizofrenia, segundo Schwartzman 
(2003, p. 8). 
Naquela época, Kanner já discutia sobre as possíveis causas do autismo, 
onde acreditou por muito tempo que os problemas comportamentais eram em 
decorrência de problemas ambientais, ou seja, a conhecida mãe geladeira, rótulo 
esse atribuído às mães de crianças autistas, quando se acreditava que elas 
poderiam ser a causa do autismo de seus filhos, por serem afetivamente frias. 
Contudo, com o progresso nas pesquisas sobre o autismo, Kuperstein e Missalglia 
(2005) concluíram que o autismo não é um distúrbio de contacto afetivo, mas sim um 
distúrbio do desenvolvimento. 
 Apesar da opnião de Kanner ser bem aceita na sociedade médica, 
outros estudiosos do autismo acreditava na causa biológica do autismo infantil. Por 
vários anos seu conceito também ficou muito confuso, pois cada um que tirasse 
suas conclusões sem seguir padrões de diagnósticos pré-estabelecido. 
 Então, no ano de 1953 foi publicada o primeiro o Manual de Diagnóstico e 
Estatístico (DSM) da Associação Americana de Psiquiatria (APA). E para 
Schwartzman (2003, p. 9), esse panorama começou a mudar a partir do surgimento 
desses critérios e diagnósticos descritivos, no qual, vem evoluindo com o passar dos 
anos. Sua atualização mais recente aconteceu no ano de 2013, passando a ser o 
quinto manual desde quando foi lançado, DSM- V. 
 Essa nova atualização apresentou mudanças significativas tanto na 
classificação como na nomenclatura, pois segundo Schwartzman (2003) a maioria 
das patologias humanas, também nesta condição há uma enorme variabilidade no 
quadro clínico. E para evitar confusão no diagnostico, a ultima atualização do DSM 
agrupou os transtornos globais do desenvolvimento a um único diagnostico, 
Transtorno do Espectro Autista- TEA. Assim, 
[...] Os Transtornos Globais do Desenvolvimento, que incluíam o 
Autismo, Transtorno Desintegrativo da Infância e as Síndromes de 
Asperger e Rett foram absorvidos por um único diagnóstico, 
Transtornos do Espectro Autista. A mudança refletiu a visão científica 
de que aqueles transtornos são na verdade uma mesma condição 
com gradações em dois grupos de sintomas: Déficit na comunicação 
e interação social; Padrão de comportamentos, interesses e 
atividades restritos e repetitivos. Apesar da crítica de alguns clínicos 
que argumentam que existem diferenças significativas entre os 
15 
 
 
transtornos, a APA entendeu que não há vantagens diagnósticas ou 
terapêuticas na divisão e observa que a dificuldade em subclassificar 
o transtorno poderia confundir o clínico dificultando um diagnóstico 
apropriado. (ARAÚJO; LOTUFO NETO, 2014, p.70 e 71). 
 
Nessa sequência, o TEA é considerado um transtorno heterogêneo, que 
envolve a interação de múltiplos genes que levam à manifestação do quadro de 
forma completa (BETANCUR, 2011). Por conseguinte, têm-se a classificação 
“espectral” do autismo, que reflete a presença de características distintas em graus 
diversos. 
Assim, como o DSM existe também o Código Internacional de Doenças (CID) 
que hoje já esta na sua décima versão. Proposta pela a Organização Mundial da 
Saúde ( OMS,1993) o CID-10 utilizado como referencia para diagnostico do autismo 
também passou recentemente por uma reformulação. As características elencadas 
foram as anormalidades qualitativas na interação social recíproca e padrões de 
comunicação, por repertório de interesses e atividades restritas, repetitivas e 
estereotipada (ORRÚ, 2012). Podemos observar uma correlação de acordo com o 
Quadro 1 
Quadro 1 - Correlação entre o DSM-IV e CID-10 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Goergen (2013, p. 30) 
 
Atualmente, umas das questões mais abordadas sobre o Transtorno do 
Espectro Autista (TEA) são as suas possíveis causas ou fatores de risco. Na 
literatura presente elas são bem variadas, como: idade parental, ligação genética, 
DSM-IV CID-10 
Transtorno Autista Autismo infantil 
TGD-SOE Autismo atípico 
Transtorno Desintegrativo da Infância Transtorno Desintegrativo da Infância 
Transtorno de Rett Síndrome de Rett 
Transtorno de Asperger Síndrome de Asperger 
16 
 
 
exposição fetal, etc. em outras palavras, a causa doautismo de um provavelmente 
não será a mesma causa do outro. Mas, de acordo com Schwartzman (2003, p. 29) 
em boa parte dos casos dos autistas existem anormalidades neurobiológicas. Deste 
modo, 
[...] uma gama de fatores de risco inespecíficos, como idade parental 
avançada, baixo peso ao nascer ou exposição fetal a ácido valproico, 
pode contribuir para o risco de transtorno do espectro autista. 
Genéticos e fisiológicos. Estimativas de herdabilidade para o 
transtorno do espectro autista variam de 37% até mais de 90%, com 
base em taxas de concordância entre gêmeos. Atualmente, até 15% 
dos casos de transtorno do espectro autista parecem estar 
associados a uma mutação genética conhecida, com diferentes 
variações no número de cópias de novo ou mutações de novo em 
genes específicos associados ao transtorno em diferentes famílias. 
No entanto, mesmo quando um transtorno do espectro autista está 
associado a uma mutação genética conhecida, não parece haver 
penetrância completa. O risco para o restante dos casos parece ser 
poligênico, possivelmente com centenas de loci genéticos fazendo 
contribuições relativamente pequenas. (MANUAL DE DIAGNÓSTICO 
E ESTATISTICO DE TRANSTORNOS MENTAIS- 5ED, 2013, p.96). 
 
O transtorno do espectro autista apresenta basicamente três áreas que 
podem apresentar- se deficiente ou inexistente, comumente denominada de “tríade” 
(Wing,1981a; Wing e Gould, 1979), sendo elas: social; problemas no 
desenvolvimento social que são peculiares e se manifestam de inúmeras formas e 
não condizem com o nível de desenvolvimento intelectual da criança, comunicação; 
atraso e padrão alterado no desenvolvimento de linguagem com características 
peculiares que não condizem com o nível de desenvolvimento intelectual da criança 
e comportamental, ) repertório restrito e repetitivo de comportamentos e interesses, 
o que inclui alterações nos padrões dos movimentos. (RUTTER, 1978). 
Portanto, desde que foi descrito pela primeira vez ate os dias atuais, o 
transtorno do espectro autista nos mostra o quanto é difícil se chegar a uma causa, 
a único conceito, tratamento. O fato é que pessoas com TEA, por suas 
características peculiares, necessitam de atenção multidisciplinar para sua 
identificação, correta avaliação e propostas terapêuticas adequadas, o que envolve 
17 
 
 
médicos de várias especialidades clínicas, geneticistas, psicólogos, fonoaudiólogos, 
terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, profissionais de educação física, e vários 
outros. Proporcionando ao autista um desenvolvimento integral, pesando pela sua 
autonomia, sempre dentro das possibilidades. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
18 
 
 
 
 
CAPITULO 2 – A CRIANÇA AUTISTA E SUAS CARACTERÍSTICAS 
 Nós, seres humanos estamos sempre inventando mil e uma maneiras de nos 
relacionar, seja com um único ser ou ate mesmo com o mundo. Em toda nossa 
historia sendo ela individual ou coletiva, o desenvolvimento do homem, esta ligado 
diretamente as suas interações sociais. 
Alguns autores defendem que essa interação acontece a partir da vida 
intrauterina, ou seja, relação mãe-bebê. Klauss & Klauss (1989 apud CORREIA, 
2005 p.21) analisaram experiências com fetos e averiguaram que ainda no útero, 
eles já começam a desenvolver seus sentidos (visão, audição, paladar e toque) 
interagindo com as substâncias vindas do corpo de sua mãe e até mesmo com 
estímulos vindos do meio exterior. Entretanto, no meio do caminho pode haver 
alterações no percurso natural do desenvolvimento, sendo esse um dos fatores para 
um possível diagnóstico do TEA. 
Um estudo realizado por Gauderer apud Silva (2003) com crianças autistas, 
observou traços comuns no desenvolvimento delas, ou seja, podem apresentar 
comprometimentos significativos, principalmente, em três áreas, sendo elas: social, 
linguagem e um padrão de interesses restritos e estereotipados. 
A criança com o transtorno do espectro autista desenvolve um 
comportamento peculiar em relação às crianças com o desenvolvimento típico. É 
importante ressaltar que a intenção não é de tachar os comportamentos dessas 
crianças. Muitos desses comportamentos podem estar relacionados a outras 
características, como: desordens sensoriais (KLIN, 2006 apud SCHLIEMANN, 2013, 
p.11), dificuldades para prestar atenção e/ou mantê-la (SILVA, 2009 apud 
SCHLIEMANN, 2013, p.11) e deficiências na coordenação motora (GROFT & 
BLOCK, 2003 apud SCHLIEMANN, 2013, p.11). Essas condições podem variar de 
criança para criança devido o grau de funcionamento que pode variar de leve a alto, 
de grave a baixo. 
Klin, (2006 apud Schliemann, 2013, p.16) traz que o perfil típico nos testes 
psicológicos é caracterizado por prejuízos significativos no raciocínio abstrato, na 
formação de conceitos verbais e habilidades de integração e nas tarefas que 
requerem certo grau de raciocínio verbal e compreensão social. Apresentam, 
19 
 
 
contudo, pontos fortes no aprendizado mecânico, nas habilidades de memória e na 
solução de problemas visuo-espaciais, particularmente se a tarefa puder ser 
completada “passo a passo”. 
Problemas de comportamento são comuns e muitas vezes severos que 
incluem hiperatividade, dificuldade de prestar e/ou manter atenção, atenção 
hiperseletiva – que se manifesta na tendência de prestar mais atenção nas partes 
que no todo – impulsividade e agressividade (SILVA, 2009). 
 Deficiências na coordenação motora fina e na global, assim como 
padrões de movimento considerados “desajeitados” são recorrentes nos indivíduos 
com TEA podendo ser observados no lançamento e captura de bolas, ao dar laços 
nos cordões de tênis e calçados, ao segurar garfos e colheres, em atividades de 
equilíbrio, saltos e ao acompanhar as instruções para realizar um determinado 
movimento físico (GROFT & BLOCK, 2003). 
 As Alterações sensoriais são típicas em crianças autistas apresentando 
uma hiper ou hiposensibilidade a estímulos sonoros (hiperacusia), visuais, táteis 
(podendo ocorrer uma extrema sensibilidade ao toque, incluindo reações fortes a 
tecidos específicos ou ao toque social), olfativos e degustativos. Também é 
frequentemente observado nas crianças autistas um prazer na estimulação do 
sistema vestibular através de saltos, giros e rodopios sem, aparentemente, ficarem 
tontas. Muitas crianças apresentam um alto limiar para a dor física e podem não 
chorar após um ferimento grave. (KLIN, 2006; SILVA, 2009). 
As alterações no processamento sensorial podem desencadear uma série de 
dificuldades que abrangem aspectos relacionados à motricidade, adaptação à vida 
cotidiana, aprendizagem e comportamento psicossocial. (FONSECA, 2008). A 
maioria dos autistas tem a motricidade perturbada pela manifestação intermitente ou 
continuas de movimentos repetidos e complexos (estereotipias4), que podem 
envolver varias partes do corpo. (LEBOYER, 1987 apud CORREIA 2006) 
Nessa situação, a motricidade na esfera da educação física, resalta as 
práticas corporais não com efeito de estabelecer práticas padronizadas ou 
convencionais, mas sim favorecendo experiências corporais mais amplas ao invés 
 
4 Movimentos repetitivos e aparentemente sem funcionalidade (PHEIFFER et al., 2011). 
 
20 
 
 
da visão reducionista das atividades físicas. Reid e collier (2002) uma pratica 
corporal planejada pode aumentar a sensibilidade dos autistas aos medicamentos, 
diminuir as estereotipias e se, a atividade física for vigorosa pode apresentar um 
papel relaxante e calmante. 
A contribuição da educação física é clara e objetiva, deve ser aquela atuante 
em seu papel e muitos defendem o fundamental aspecto da educação física na vida 
de uma criança autista, assim das muitas formas de abordagens de conteúdos as 
atividades devem ser selecionadas conforme a idade cronológica, atividades de 
interesse,atividades com começo, meio e fim, tais como circuito com obstáculos, 
transposição de objetos, mudanças de direção, equilíbrio dinâmico e estático, saltos, 
lançamentos e jogos em geral onde todas essas atividades auxiliam na aquisição de 
habilidades motoras, não esquecendo o lado afetivo, pois dependendo do emocional 
que a criança esteja poderá apresentar resultados menores ou maiores durante as 
atividades. (LABANCA, 2000 apud TOMÉ, 2007). 
Para mais, o espaço escolhido para a prática corporal pode sim fazer toda 
diferença. Principalmente quando falamos de espaço não escolarizado. A prática ao 
ar livre leva o aluno a lidar com situações que ultrapassam a prática corporal por ela 
mesmo, como: a percepção do ambiente, atenção compartilhada, os sons presentes 
no ambiente, à quebra do isolamento. De acordo com Horn (2004, p. 28): 
É no espaço físico que a criança consegue estabelecer relações 
entre o mundo e as pessoas, transformando-o em um pano de fundo 
no qual se inserem emoções [...] nessa dimensão o espaço é 
entendido como algo conjugado ao ambiente e vice-versa. Todavia é 
importante esclarecer que essa relação não se constitui de forma 
linear. Assim sendo, em um mesmo espaço podemos ter ambientes 
diferentes, pois a semelhança entre eles não significa que sejam 
iguais. Eles se definem com a relação que as pessoas constroem 
entre elas e o espaço organizado. 
 
 Isso pode possibilitar a essa criança um processo de autoconhecimento, 
autonomia, tomada de decisões que possam se relacionar nas esferas coletivas de 
modo reflexivo e ativo, principalmente quando pensamos na escola. 
 Ao se falar na escola lembramos logo de uma palavra que vem sendo pauta 
nos últimos anos: inclusão. Estar incluído é “fazer parte de”. Mas, “fazer parte de” de 
que forma? Incluir porque é “obrigação” ou incluir para fazer a diferença na vida da 
criança? 
21 
 
 
 Podemos observar com Senna (2003) que o homem moderno passou a 
necessitar da educação formal para aprender os padrões de comportamento 
acadêmicos e científicos que passam a ser vistos como sociais. A escola surgiu para 
desempenhar esse papel de padronizar o comportamento “perfeito” para uma 
sociedade. Então, podemos pensar na escola de hoje em dia: Será que ela está 
preparada para receber essa criança que não se encaixa no padrão pré-
estabelecido? 
Considerada um marco na busca da educação inclusiva, a declaração de 
Salamanca, em 1994 na Espanha, instituiu que todos os alunos devem ter a 
possibilidade de integrar-se ao ensino regular, mesmo aqueles com deficiências 
sensoriais, mentais, cognitivas ou que apresentem transtornos severos de 
comportamento, preferencialmente sem defasagem idade-série. A escola, segundo 
essa proposta, deverá adaptar-se para atender às necessidades destes alunos 
inseridos em classes regulares. Logo, a educação inclusiva deverá ser posta em 
prática com ações que favoreçam a integração e a preferência por práticas que 
favoreçam a diversidade. 
Por esse motivo, a inclusão dos educandos com Transtorno do Espectro 
Autista (TEA) nos sistemas educacionais regulares impõem desafios aos processos 
inclusivos, e as necessidades educacionais desse grupo vão muito além dos 
pacotes educacionais que as escolas têm a oferecer (SERRA, 2008; GOMES; 
MENDES, 2010). Por isso, estar na escola não é sinônimo de inclusão. O preparo 
não só físico, mas principalmente pedagógico da instituição escolhida para receber 
essas crianças tem que ser levado em conta. Estratégias pedagógicas específicas 
necessitam serem bem estudadas e reformadas caso contrario não causará o efeito 
esperado. 
Assim, constatamos ao longo desse capitulo a necessidade de melhor 
compreender essa criança com TEA. Visto que é para elas que estudamos as 
melhores estratégias pedagógicas, com intuito de potencializar seu desenvolvimento 
e que com o passar do tempo posam constituir-se em cidadãos críticos, 
participativos e com responsabilidades sociais, alem de uma vida independente, 
dentro de seus limites. 
 
 
22 
 
 
 
Capitulo 3. AUTISMO, TRANSTORNO DE MODULAÇÃO SENSORIAL E AS 
PRÁTICAS CORPORAIS. 
 
 “Meu corpo não é apenas um conjunto de órgãos, nem dócil executor 
das decisões da minha vontade. Ele é o lugar onde vivo, sinto, onde 
existo. Lugar de desejo, prazer e sofrimento, domicílio da minha 
identidade, do meu ser”. 
 André Lapierre 
 
O corpo é condição vital para nossa existência como seres humanos. Ele é o 
nosso primeiro mediador com o mundo exterior, e através dele interagimos com o 
mundo social, natural e cultural no qual estamos inseridos. De acordo com Ferreira 
(2000) a criança desenvolve-se e matura-se no contato com o mundo vivenciando e 
experimentando as relações, isso, a princípio, via corpo, que é no início o seu único 
meio de comunicação. 
De acordo com Ayres (1972), o referido processo é natural e envolve a 
filtragem, organização e integração das informações sensoriais interoceptivas 
(corpo) e exteroceptivas (ambiente). Para esse mesmo autor essa relação, dar-se o 
nome de integração sensorial que nada mais é que essa capacidade que o cérebro 
tem de organizar as sensações do próprio corpo e do ambiente, permitindo a 
organização do comportamento e uso eficiente do corpo nas atividades que 
realizamos no cotidiano. 
 O corpo em movimento é uma atividade cotidiana, e referida como uma 
linguagem que permite à criança investigar, conhecer, explorar e expressar o 
ambiente em que está inserido, bem como ter consciência de si e das suas relações 
com o mundo. No tocante, para as crianças com TEA, Ferreira e Thompson (2002) 
nos mostra que elas apresentam dificuldade de compreender seu corpo em sua 
globalidade, em segmentos, assim como seu corpo em movimento. Quando partes 
do corpo não são percebidas e as funções de cada uma são ignoradas, podem-se 
observar movimentos, ações e gestos pouco adaptados. O distúrbio na estruturação 
do esquema corporal prejudica também o desenvolvimento do equilíbrio estático, da 
lateralidade, da noção de reversibilidade; funções de base necessárias à aquisição 
da autonomia e aprendizagens cognitivas. 
23 
 
 
 
Essa falta de “compreensão corporal” estar relacionada, segundo Tomchek e 
Dunn (2007) com o fato de 95% das crianças com autismo apresentarem um 
transtorno de modulação sensorial (TMS) que nada mais é que a dificuldade do 
Sistema Nervoso Central (SNC) para regular, de maneira gradual e adaptada ao 
ambiente; a intensidade, duração e frequência da resposta aos estímulos sensoriais. 
Compreende-se por resposta uma ação motora; uma reação emocional, tais como 
demonstração de afeto e comportamentos que sinalizam o controle de ansiedade; 
um processo cognitivo, como a atenção e planejamento de ações; uma relação 
interpessoal, que envolve a troca recíproca entre duas ou mais pessoas, com o uso 
de comportamentos adequados; e comunicação. Basicamente, observam-se três 
subtipos de TMS: a hiperresposta, hiporesposta e procura sensorial. (MILLER, 2006 
apud MAGALHÃES, 2008; MOMO; SILVESTRE, 2011). 
Assim, o progresso da criança com autismo pode ser afetado pela limitada 
capacidade de autorregulação das respostas emocionais e comportamentais, em 
decorrência do Transtorno do Processamento Sensorial (TPS)5 (EAVES; HO, 1997 
apud ASHBURNER et al., 2008). No entanto, as sistematizações das práticas 
corporais vêm para contribuir com essa criança a ponto de entender seu corpo 
nessa autorregulação, visando seus limites e possibilidades. Consoante com SMITH 
et al., 2005; WATLING; DIETZ, 2007 apud PHEIFFER et al., 2011, a prática dessas 
atividades pode interferir na aquisição de habilidades e na participação da rotina 
diária, representando uma melhoria na qualidade de vida para crianças e para todos 
que com elas convivem, tornando-a progressivamente mais independentes.Para a escolha das práticas corporais que foram trabalhadas, procuramos 
enfatizar sempre o fator regulação. Para isso foi preciso compreender melhor sobre 
os sistemas responsáveis pelo processamento das informações apresentados. 
Sendo eles: tátil, vestibular e proprioceptivo. Esses sistemas juntamente com distais- 
visão, audição, olfação e gustação que processam as informações do ambiente e 
são importantes para a segurança, a sobrevivência e o bem-estar do indivíduo. 
Segue a ilustração abaixo: 
 
 
 
5
 O termo integração sensorial foi substituído por Transtornos do Processamento Sensorial 
( MILLER, 2006) 
24 
 
 
 
 
 
Ilustração 1- Processo de desenvolvimento da Integração Sensorial 
 
 
Fonte: AYRES (1979) apud SOUZA (2014) 
Esse processo sensorial demonstrado na figura acima é o alicerce de todo um 
longo caminho do desenvolvimento. Pensando em uma figura piramidal, na qual tem 
uma base larga, se caso ela não estiver bem feita toda sua formação ficará 
comprometida, fazendo uma analogia ao processamento sensorial se sua “base” 
não tiver sido boa, provavelmente alguns problemas sensoriais aparecerão. 
Deste modo, as respostas emitidas geram novos estímulos que se integram 
aos anteriormente processados, contribuindo para o desenvolvimento de 
comportamentos mais complexos e organizados, como a concentração; 
organização; autoconfiança; autocontrole; aprendizagem acadêmica; abstração e 
raciocínio. Assim, entende-se que a aprendizagem é promovida pela resposta 
25 
 
 
adaptativa que propicia mudanças estruturais neuronais por meio de novos 
feedbacks que emergem da interação do indivíduo com o meio (FONSECA, 2008). 
No que concerne ao transtorno de modulação sensorial do Homem Aranha, 
ele foi diagnosticado pela sua terapeuta ocupacional, como hiporesponsivo 
(ESQUEMA 1) com ênfase nos sistemas proprioceptivo e vestibular. A principal 
característica de comportamento desse grupo é busca de sensações. E os sistemas 
comumente envolvidos nesse perfil são o proprioceptivo, vestibular e tátil. 
ESQUEMA 1: Características gerais da hiporesponsividade. 
 
 Comportamento social: 
 Passividade 
 Cansa com 
facilidade 
 Dificuldades em 
interagir 
socialmente 
 Distração 
 Agitação motora 
 
Fonte: Magalhães (2008) 
 
Baseada em compreender melhor a influência das práticas corporais nos 
transtornos de modulação sensorial em criança com TEA em espaço não 
terapêutico, foram sistematizados cinco encontros seguidos com tempo médio de 60 
minutos cada. Nesse sentido os objetivos e metas traçados foram construídos a 
partir de observações e relatórios da terapeuta ocupacional (responsável pelo 
diagnóstico do paciente). 
Logo adiante, descreveremos como foi à intervenção, seguindo das 
considerações finais do nosso trabalho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tende a: 
 Não chora quando se machuca 
 Não responder/olhar quando 
chamado 
 Não perceber quando é tocado 
 Preferir atividades sedentárias 
 Procurar atividades que 
oportunizem sensações 
 
26 
 
 
5. INTERVENÇÕES E DISCUSÕES 
A princípio, quando trabalhamos com a estimulação de indivíduos com o 
Transtorno do Espectro Autista (TEA) pensamos o quanto é importante o 
embasamento teórico, mas necessitamos, principalmente, de um olhar diferenciado 
e sensível, alem de disponibilidade corporal. 
É importante ressaltar a nós, profissionais envolvidos nesse tipo de processo, 
que não projetemos nos alunos nossos próprios desejos e/ou insatisfações, para 
que a intervenção seja pautada única e exclusivamente nas suas necessidades. 
Além do mais, entender que o universo autístico não é pautado em respostas 
imediatas e também sempre estarmos preparados para situações imprevistas. 
É de fundamental importância compreender que cada indivíduo com TEA 
apresenta comportamentos e manifestações singulares e únicas, ainda que, em 
linhas gerais, existam comportamentos e características semelhantes. 
Nessa situação, sobressaltamos as dificuldades de analisar as resposta na 
íntegra, em muitas das situações na intervenção, visto que o individuo é a amostra, 
sendo impossível seu “isolamento”. É essencial, nesses casos, uma certa 
sensibilidade para analisar e compreender os resultados obtidos nas intervenções, 
evidenciando os aspectos positivos do aluno. 
A nossa intervenção foi dividida em quatro (4) encontros, com duração média 
de 60 minutos cada. Alguns pontos foram levados em conta para as sistematizações 
das práticas com Homem Aranha, sendo eles: quantidade de atividades/terapias do 
dia, horário para as práticas e questão saúde. 
5.1 QUEM É HOMEM ARANHA? 
O nosso super herói, tem 5 anos de idade. Ele foi diagnosticado dentro do 
espectro do autismo por volta dos seus 3 anos de idade, e desde então a rotina de 
tratamentos é fato consumado em sua vida. A sua equipe é composta por: 
psicólogos, fonoaudiólogos, terapeuta ocupacional e em 2016, professor de 
educação física. 
Mesmo com uma rotina intensa ele é uma criança feliz, amorosa e muito 
esperta. Às vezes mais preguiçoso que o aceitável, e quando se mostra disposto é 
uma maravilha. Em relação a sua alimentação ele não tem restrições, come bem e 
de tudo. 
 
27 
 
 
Quanto a características das crianças com TEA, ele apresenta algumas 
estereotipias, como: o olhar lateralizado, ele bate com o dedo em objetos com 
texturas macias, faz movimentos de “riscar” com a mão sempre que tem acesso a 
objetos de formato cilíndricos, como o lápis. Sua marcha também é bem 
características de crianças com TEA, ou seja, andando na ponta dos pés. 
 Em Fevereiro de 2016, veio o diagnóstico de apraxia de fala6 o que não 
impede nem limita sua comunicação, porque hoje em dia ele faz uso do PECS7. No 
mais, nada que uma criança no auge dos seus cinco não faça. Todos os dias o 
nosso Homem Aranha consegue despertar em todos que os cercam, sentimentos 
inexplicáveis e a vontade de dia após dia entender mais sobre o TEA. 
5.2- LOCAIS DA INTERVENÇÃO 
5.2.1- Piscina 
A piscina do nosso estudo esta localizada no apartamento no qual Artur mora. 
Ela é dividida em duas, uma infantil (pequena e rasa) e a outra de tamanho e que 
apresenta duas profundidades. 
 
5.2.2- Cidade da criança 
 
A Cidade da Criança é uma das áreas verdes mais belas de Natal, tendo 
como público principal, o infantil. O parque original foi inaugurado em 1962 onde 
equipamentos, como: zoológico com playground, pista de cooper, pedalinho, capela, 
concha acústica, escolinha de arte e biblioteca tudo é em torno de uma lagoa, 
denominada Manoel Felipe. Em abril de 2008 após fortes as chuvas e com 
comprometimento grave em toda sua extensão, ela foi fechada. Só em outubro de 
2014 o parque reabriu para seu publico. Sua nova estrutura montada para o máximo 
divertimento e segurança da criançada, é construída com madeira reflorestada e 
certificação ambiental com gangorra, balanço, escorregadores, casinhas, argolas, 
entre outros brinquedos. 
5.3 INTERVENÇÃO 
 
6
 É definida como uma desordem neurológica dos sons da fala na infância, na qual a 
precisão e consistência dos movimentos que permeiam a fala estão prejudicadas na 
ausência de déficits neuromusculares. 
7 O Picture Exchange Communication System (PECS) é um sistema de comunicação que 
ressalta a relação interpessoal, em que ocorre um ato comunicativo entre o indivíduo com 
dificuldades de fala e um adulto, por meio de trocas de figuras [...] (BONDY; FROST, 2001). 
28 
 
 
5.3.1- Primeiro dia 
 A Nossa primeira intervenção foi feita na piscina. O nosso Homem Aranha, 
como a maioria das crianças com TEA “ama” o meio líquido. Para Fernandes e Lobo 
da Costa (2006), afirmam que o meio líquido é identificado comoum mundo de 
possibilidades de ação e movimentos potencializados, abandonando-se o utilitarismo 
da modalidade natação, no que se refere ao aprender a salvar-se ou a salvar vidas 
na água, assim como a abordagem desportiva, voltada para o domínio mecânico e 
repetitivo, dos quatro estilos de nado. 
 Com o auxilio de sua rotina visual (Figura 1) informamos a ele que iríamos 
para piscina e sua reação não poderia ser diferente, um sorriso e muitos pulos de 
alegria, e quase que instantaneamente dirigiu-se a porta para irmos. Podemos dizer 
que esse comportamento foi atípico em relação ao que seria descrito por Momo; 
Silvestre (2011) em que crianças hiporesponsivas apresentam como característica, 
comportamentos apáticos, lentos, isolados, passivos, e com pouco engajamento 
para iniciar e manter as relações sociais. 
Assim, a nossa intervenção começou com um reconhecimento do espaço 
físico pelo aluno. Para essa fase utilizamos o “macarrão” (objeto flutuador). O objeto 
foi utilizado como se fosse um cavalinho balançando na água como se estivesse a 
cavalgar, sempre utilizando o lúdico com auxilio de canções e histórias. Em seguida, 
com o objeto de trabalhar o controle respiratório, disponibilizei alguns materiais de 
textura e formatos diversos, como: bexigas com água, bastões com peso (afundar), 
bolas de diferentes materiais. E que aos poucos, o interesse dos materiais veio à 
tona seguindo a ordem dos que mais interessavam a criança. 
Como consequência positiva, Artur tem a iniciativa de mergulhar para pegar 
os objetos que estavam no fundo da piscina, revelando um bom controle respiratório. 
Segundo, Campion (2000) admite que este controle é a base das habilidades 
aquáticas, sendo também de importância fundamental para a manutenção da 
segurança no meio aquático. Além do mais, um bom controle respiratório não é 
essencial somente em meio aquático, mas também é essencial à execução das mais 
variadas tarefas do cotidiano. 
 A busca intensa de sensações na tentativa constante de organizar seu 
comportamento é bem intensa fato esse que levava sempre Homem- Aranha a estar 
com a “boca cheia de água”. Em referência a Dunn (1997) que justifica esses 
29 
 
 
comportamentos como decorrentes de um alto limiar neurológico, o que exige muitos 
inputs para gerar uma resposta. 
Ao mesmo tempo em que aconteciam as atividades, a relação entre aluno e 
professor também ia se mostrando mais estreita. Mesmo já trabalhando com ele há 
um tempo, estávamos em uma situação nova, ambiente novo com outros estímulos 
e atividade nova. Então o simples fato de chamá-lo pelo nome e obter uma resposta 
positiva, e o fato dele estar aberto para um novo aprendizado já conseguimos muito 
na primeira aula. 
5.3.2- Segundo dia 
 Para o segundo dia, o local escolhido para as práticas foi à cidade da 
criança. E por ele morar próximo começamos uma caminhada até o destino final. 
Já na caminhada procuramos trabalhar com ele questões como a percepção 
corporal diante de obstáculos naturais da rua (escadas, ladeiras, calçadas). A 
percepção é a interpretação de sensações em formas dotadas de significado que 
ocorrem no cérebro. A percepção é um processo ativo de interação entre o encéfalo 
e o ambiente. (TORELLO, 2011) 
Também com a caminhada trabalhamos a sensibilidade tátil- plantar. O 
sistema tátil influencia na percepção do corpo (partes do corpo, proporcionalidade, 
conceito de quantidade e posicionamento das partes em relação ao todo) e no 
planejamento motor (habilidade de antecipar, organizar e coordenar movimentos de 
forma harmoniosa) (MOMO; SILVESTRE; GRACIANI, 2011). 
 Sempre lembrando que o Homem- Aranha é uma criança 
predominantemente hiporresponsiva, principalmente nos sistemas proprioceptivo e 
vestibular. Utilizando-se do espaço físico da cidade da criança, trabalhamos as 
questões de oscilação, onde utilizamos os balanços e escorregos. Já visando o 
sistema vestibular utilizamos as “pontes instáveis” dos parquinhos e o andar sobre o 
meio fio para trabalhar com o equilíbrio. Os receptores do sistema vestibular, 
responsáveis pelo movimento corporal estão no labirinto, localizados no ouvido 
interno, e estimulados por movimentos da cabeça, pois informam a posição da 
cabeça em relação à gravidade e ao espaço (MOMO; SILVESTRE; GRACIANI, 
2011). Os mesmos autores dizem que subir, descer, escorregar, girar, rodar, 
balançar são movimentos que estimulam os receptores vestibulares. 
30 
 
 
À volta para casa não foi tão boa quanto a ida para a cidade da criança, ele já 
aparentava certo cansaço, mas mesmo achando ruim ele voltou andando todo o 
percurso. 
5.3.3- Terceiro dia 
Para o terceiro encontro, trabalhamos novamente em ambiente aquático. E 
mais uma vez foi divertido e estimulador. As atividades trabalhadas no primeiro dia 
na piscina foram retomadas e acrescentadas outras mais. Elas foram sendo 
realizadas seguindo a ordem de interesse do aluno. Apesar disso ainda observamos 
o pouco tempo de interesse nas atividades, pois as crianças com Transtorno de 
Processamento Sensorial geralmente são ansiosas ou parecem estar em alerta o 
tempo todo e não conseguem manter a atenção em uma única atividade. (MOMO; 
SILVESTRE; GRACIANI, 2011). 
Em seguida, começamos com a atividade dos bastões, de maior interesse. 
Mudamos nossa estratégia colocando os bastões na piscina um pouco mais funda. 
E ele me surpreendeu, pois conseguiu aumentar o tempo submerso, ou seja, seu 
controle respiratório, para tentar pegar os bastões e também a diminuição na 
quantidade de vezes que ele enchia a boca de água durante todo o período da aula. 
Com o auxilio do tapete flutuante, conseguimos trabalhar o equilíbrio e 
começamos a estimular os saltos, como estímulo específico para o sistema 
vestibular e proprioceptivo. 
A flutuação também começou a ser introduzida, visto que a posição de 
decúbito dorsal é muito incomoda para o Homem- Aranha. 
Em síntese, podemos considerar que as atividades lúdicas no meio aquático 
foram benéficas para a criança autista, tanto no sentido da ampliação de seus 
movimentos e vivências de brincar, como também em suas relações com a sua 
professora. 
 
5.3.4- Quarto dia 
No último dia de intervenção voltamos para a cidade da criança, mantivemos 
as atividades de equilíbrio e balanço, e ainda levamos o patinete que alem de ser 
um exercício aeróbico ele proporciona a criança questões relacionadas à tomada de 
iniciativa (a criança tem que querer), atenção (para com as outras pessoas e 
obstáculos), e equilíbrio. Segundo Momo; Silvestre; Graciani (2011), os receptores 
do sistema proprioceptivo estão localizados nos músculos e nas articulações e 
31 
 
 
informam o SNC sobre a posição das partes do corpo e o movimento que estão 
realizando. Ainda Momo; Silvestre; Graciani (2011), jogar bola em um alvo, bater 
palmas, bater os pés no chão, empurrar objetos são algumas atividades que 
sensibilizam os receptores proprioceptivos. 
Assim, a partir de práticas estruturadas enfatizando o equilíbrio sensorial. A 
criança aprende de forma espontânea, na medida em que planeja e executa seus 
comportamentos adaptados ao ambiente natural, em resposta aos estímulos já 
vivenciados. 
Apesar de muitos pontos positivos consideramos que a quantidade de 
intervenções foi insuficiente para uma conclusão do trabalho, pois por motivo de 
doença, o nosso homem aranha não pode finalizar as intervenções. Mas no geral 
conseguimos mostrar que o caminho a ser percorrido é esse, utilizando as práticas 
corporais como terapia lúdica e natural. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
32 
 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
O nosso trabalho teve o propósito de mostrar como a educação física através 
das práticas corporais apresenta um papel importante na vida das crianças com o 
Transtorno do Espectro Autista. Considerando sempre o seu potencial 
multidisciplinar, vistoque se integra em equipes e profissionais de áreas distintas, 
mas visando um único objetivo. 
No que tange as relações envolvendo o movimento corporal, essas 
experiência quando oferecidas e vivenciadas adequadamente contribuem 
amplamente para o aprendizado em espaço escolar, mas principalmente, no dia a 
dia dessas crianças. 
A partir desse estudo mostramos que questões relacionadas aos transtornos 
de modulação sensorial podem sim ser trabalhadas também pela educação física 
através das práticas corporais. A oportunidade de escolher trabalhar em ambientes 
não terapêuticos e não escolarizados, como os parques, as ruas, praças, e piscina 
deu a oportunidade a criança de vivenciar de forma real e natural o ambiente na sua 
essência. Tendo como objetivo principal a autoregulação, e como consequência a 
adaptação desse corpo em diferentes locais e situações no seu cotidiano, por já ter 
tido a oportunidade experiência anteriormente. 
Diante disso, acredito que os objetivos traçados nesse trabalho foram 
cumpridos. Entendo que o tempo fui insuficiente para obter respostas definitivas, 
mas, mesmo assim, conseguimos observar uma grande melhoria com essa 
intervenção. Podendo assim, ser levado a outras crianças a utilizar- se das práticas 
corporais como importante aliada nos tratamentos. 
E por se tratar de educação física que é componente curricular nas escolas, a 
inclusão de qualidade para essas crianças é uma meta a ser alcançada por todos 
que pensam na “nova educação física” como um caminho para a socialização, 
autonomia e independência, já que para uma criança no TEA a vida é diariamente 
feita de batalhas, superações e muitas conquistas dos obstáculos que a vida por si 
só impõe. 
Todos os dias surgem pesquisas sobre novos tratamentos relacionados ao 
autismo. E estudos como esse dão a esperança de um dia a educação física poder 
ser entendidos como principal aliado a um tratamento exitoso, sendo capaz de 
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dialogar com outras áreas para promover uma aprendizagem mais ampliada e 
completa. 
Pessoalmente, vejo potencial nessas crianças, pois mesmo tendo certa 
dificuldade de entender o mundo como ele é eles sempre conseguem nos mostrar 
que existem outras formas e modos de compreensão, que na maioria das vezes nos 
mostram o quanto são mais simples e mais bonitos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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ANEXO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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FIG. 1. NATAÇÂO PARA O QUADRO DE ROTINA

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