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Faculdades Metropolitanas Unidas – FMU Resenha crítica da obra: “Moral e ética: Dimensões Intelectuais e Afetivas” Letícia Ferreira Carvalho – RA: 8067476 São Paulo 2020 2 SUMÁRIO 1. Introdução _________________________________________________ 3 2. Moral e ética ______________________________________________ 3 3. Saber fazer moral: dimensão intelectual _______________________ 8 4. O querer fazer moral: a dimensão afetiva_______________________ 12 5. Conclusão ________________________________________________ 15 6. Bibliografia _______________________________________________ 16 3 1. Introdução A obra “Moral e Ética: Dimensões Intelectuais e Afetivas” escrita por Yves de La Taille traz uma análise sobre o desenvolvimento psicológico e as etapas que o ser humano possui para compreender de fato o que consiste a ação moral e aplicá-la na sua rotina, abrangendo também a ética que está de uma forma interligada com a moral. Para isso, o autor apresenta duas dimensões distintas: a afetiva e a racional. A dimensão afetiva, defendida por autores como Émile Durkheim e Sigmund Freud, tem como principal foco a afetividade como geradora das condutas pautadas pela moral, deixando-se de lado a importância da razão para o “agir moral”. Essa teoria possui o fundamento baseado nas figuras dos pais que desde o início do desenvolvimento moral da criança impõem regras proibitivas que fazem referência á moral. Além disso, o medo de ser visto como alguém que não possui o sentimento sagrado também está presente porque quando o ser humano não age moralmente significa que não está agindo em prol da sociedade e, portanto, não obedece aos mandamentos impostos pela força superior que é a coletividade. Em contrapartida, a dimensão racional coloca a razão como o principal fator para a ação moral através do conhecimento que cada ser humano possui sobre si mesmo e o mundo desde o momento de seu nascimento, sendo certo que conforme se passam os anos, a sofisticação do conhecimento se aprimora e a tendência é crescer intelectualmente cada vez mais para colocar em prática a moral, ou seja, possuindo assim menos riscos de agir imoralmente. Esta teoria acredita que o processo de construção moral se dá através do meio pelo qual a pessoa está inserida, sendo a moral construída através de valores, e não apenas sentimentos afetivos passageiros. Diante dessas duas dimensões apresentadas, o autor propõe diversos questionamentos reflexivos, e através de pesquisas e outras teorias apresentadas busca a relação entre essas dimensões bem como a aplicabilidade de ambas no nosso cotidiano. 2. Moral e ética A psicologia moral consiste em ser uma ciência que estuda o comportamento 4 humano, visando o auxílio na formação do ser humano desde o momento que possui resquícios mínimos para ter consciência sobre seus atos. É enfatizada a relação entre filhos e pais, visto que a figura paterna e a figura materna são importantes para auxiliar a criança no que se refere à ação moral. Houve diversos estudos sobre o que impulsiona o “agir moral” desde o início do desenvolvimento moral, dentre os autores que refletiram acerca desse assunto, Émile Dukheim e Sigmund Freud enfatizam a dimensão afetiva como fonte dos comportamentos morais, ao contrário de Jean Piaget e Lawrence Kohlberg que priorizam a dimensão racional. Na visão de Émile Durkheim, a moral reflete um viés religioso através do sentimento de identificar-se como uma pessoa sagrada por obedecer às leis da comunidade que se insere, acreditando numa força imensamente superior decorrente do próprio coletivo. Em sua teoria, a razão não possui um papel protagonista para a construção moral de uma pessoa e, sendo assim, a inteligência só serviria para mero conhecimento e compreensão da norma moral, mas sem questioná-la porque ser moral consiste em obedecer ao que foi imposto por ser temido e desejável. Essa teoria anteriormente mencionada apesar de trazer aspectos importantes (como, por exemplo, olhar para o coletivo e não ser egoísta, ou seja, deixar de pensar só em si mesmo sem se preocupar com as consequências que podem afetar outras pessoas), não é adequada porque trata o ser humano como mero receptor de informações acerca das regras morais a serem seguidas, sendo guiadas apenas pelo medo de não ser visto como pessoa sagrada em suas relações afetivas. Sendo assim, a pessoa não prospera intelectualmente para questionar suas ações e nem refletir se aquelas regras morais impostas são realmente morais, e se torna uma relação em que o indivíduo não tem autonomia. Complementando a teoria sobre a dimensão afetiva, Sigmund Freud visualiza um conflito entre o indivíduo e a moral, tendo em vista que pelo indivíduo não possuir autonomia, já que está submetido apenas a seguir regras, acaba não possuindo liberdade, ou seja, renuncia seus desejos em prol da convivência em sociedade. A concepção desse autor é uma verdade presente na sociedade até os dias atuais, pois é certo que se faz necessário essa restrição da liberdade para a civilização ser melhor. Até porque mesmo as pessoas tendo sua liberdade restringida (se fizer alguma ação considerada ilícita e tipificada na legislação 5 brasileira sofrerá sanções), ainda assim acontecem inúmeros crimes (inclusive bastante cruéis e desumanos), se não tivesse essas regras de condutas positivadas sobre a ação humana seria muito pior, visto que muitas pessoas só as seguem por medo das sanções provenientes pelo descumprimento. Diferentemente das teorias apresentadas anteriormente, Jean Piaget acreditava na dimensão racional para a determinação da ação moral, ou seja, a moral se desenvolve a partir do momento em que o sujeito interage com o meio para conhecer a si próprio e também aprender sobre o mundo ao seu redor. Sendo assim, quanto mais se vive, melhor o nível de sofisticação do conhecimento que se terá por meio das experiências de vida e ensinamento formais. Há duas fases famosas em sua teoria: a heteronomia moral e a autonomia moral. A heteronomia moral é a fase inicial considerada como a moral da obediência, cuja única ação moral do indivíduo consiste em seguir regras estabelecidas pela autoridade (pai e mãe, por exemplo), pelo grupo inserido ou pela própria sociedade. Já a autonomia moral é a superação dessa essência á obediência. Aqui se faz necessária à reciprocidade nas relações, e a razão é essencial para o desenvolvimento moral do indivíduo que começa a se tornar autônomo. Se considerarmos o mundo em que hoje vivemos, notamos que a autonomia moral está prejudicada de certa forma, pois não há relações simétricas entre as pessoas, visto que infelizmente apesar da democracia ser um regime político integrado em vários países, muitas vezes nos deparamos com decisões e ações arbitrárias que ignoram todo o interesse da coletividade, visando apenas privilegiar aqueles que já possuem privilégios, ou seja, prejudicando os mais vulneráveis. Diante dessas teorias apresentadas, todas têm em comum as definições de moralidade que consiste num conjunto de deveres implícitos ás regras e princípios que devem ser fielmente cumpridos como uma obrigação. Há uma diversidade de culturas e valores por todo o mundo, sendo assim, nem tudo que não é bem visto moralmente numa sociedade será também aplicado para a outra sociedade, até porque é normal haver diferenças para determinadas condutas morais conforme os costumes e princípios de cada grupo. Um exemplo clássico é a legalização da maconha, enquanto em países como o Brasil é proibido o uso pessoal dessa droga, em outros países essa conduta é legalizada 6 e não fere a moralidade do coletivo. O relativismo antropológico traz um importante ensinamento que deve ser aplicado por todos, poistrata da diversidade encontrada nos sistemas de valores morais, que não implicam a aceitação e considerar certo toda conduta diferente da nossa, mas devemos ter a consciência que a diversidade moral existe e nenhuma prevalece, sendo assim, todas estão no mesmo nível. Muito se questiona sobre a diferença entre moral e ética. Enquanto a moral é um fenômeno social que possui um conjunto de regras de conduta estabelecidas nas relações privadas, a ética é toda reflexão filosófica ou científica sobre a conduta moral regendo o espaço público. O plano moral traz consigo principalmente o plano de obrigatoriedade como elemento comum em todas as morais, em que o individuo tem que seguir respeitando as leis á ele impostas para não ser punido. Todavia isto não significa que quem experimente desse sentimento sabe agir e tem a opinião sobre o que é considerado moral em qualquer situação. O suicídio, por exemplo, é um dilema já que alguns consideram esse ato imoral por violar o direito á vida que é um valor absoluto, já outros não enxerga essa ação imoral em razão do princípio da liberdade em que todos possuem sobre sua própria vida. Alguns deveres morais encontram-se positivados nas legislações, como é o caso do tipo penal que fala sobre “não matar”. Essas normas, caso sejam violadas, acarretará em sanções penais devido à transgressão do indivíduo. Entretanto, há deveres morais que não estão em nenhuma lei, mas são exigidos socialmente perante a sociedade e, caso haja o descumprimento, haverá medidas de controle social privado. É difícil qualificar alguém como moral, porque as pessoas que realizaram transgressões em certas condutas no percurso da vida pode ter agido moralmente em outras ações e, por isso, o aconselhável é não dividir os seres humanos em morais e não morais. O plano ético relaciona-se a vida boa para alcançar e consequentemente gozar da felicidade. Esse sentimento de felicidade é muito subjetivo porque uma pessoa pode ter objetivamente condições favoráveis em uma área da vida, porém se sentir-se vazia em outra, como é o caso de vários artistas renomados e ricos, mas que tiraram a própria vida por estarem em depressão, ou seja, a área profissional estava em alta, mas isso não acompanhava o estado de sua saúde 7 mental que estava comprometida. Inclusive, Émile Durkheim em suas pesquisas constatou que grande parte dos casos de suicídio ocorre mais porque a sociedade não compreende e ajuda a pessoa que está com pensamentos negativos sobre a vida, do que pela falta de recursos materiais essenciais á sobrevivência. Diante de toda subjetividade que há sobre viver uma vida boa, é correto afirmar que quem possui mais liberdade para decidir o que quer fazer em sua vida, tem mais chance de ser feliz do que quem é coagido a viver de um modo que não quer por pura obrigação. Para viver uma vida boa é essencial que tenhamos encontrado um sentido na vida, por isso, quem sente um vazio existencial acaba encontrando o suicídio como forma de se livrar desse vazio. O sentido da vida corresponde todas as avaliações subjetivas inerentes e individuais de cada ser humano e que o acompanha por toda a vida. O ideal moderno é cada pessoa encontrar sua própria personalidade através de sua identidade que é única. Eventualmente quem não a encontra, acaba não sabendo como viver, pois é necessário ter consciência sobre quem você é para consequentemente refletir em todas suas ações. Pesquisas realizadas revelaram que o suicídio muitas vezes decorre de um sentimento de vergonha por aquele que está buscando conhecer a si próprio e acaba decepcionando-se por fazer uma auto avaliação negativa repleta de inferioridade. No geral, podemos afirmar que os seres humanos não são felizes, tanto é que hoje em dia é visto com bastante frequência as pessoas terem ajudas psicológicas e utilizarem de medicamentos antidepressivos para conseguirem viver. Com relação ao plano moral e o plano ético, é notório que ambos possuem elementos em comum, até porque o indivíduo só se sente obrigado a seguir determinados deveres a partir do momento que realiza a expansão de si mesmo através da autoafirmação. Além disso, o plano ético traz motivações que explicam as ações realizadas no plano moral. O sentimento de obrigatoriedade tem que ser pautado por um querer consciente e livre, diferentemente da fase de heteronomia moral. A força energética que desencadeia a ação humana se dá através da busca de representações de si mesmo com valores positivos, sendo 8 assim, o plano ético auxilia para realizar este objetivo, visando o autorrespeito que consiste na valorização de si próprio incidindo sobre os valores morais. O autorrespeito é um dos fatores responsáveis por unir o plano ético com o plano moral, porque objetiva ao mesmo tempo a expansão de si próprio e também motiva a obrigatoriedade da ação moral. Sendo certo que não é possível alguém respeitar o coletivo caso não respeite nem a si mesmo, e por isso, a sensação de dignidade tem que ser experimentada perante a própria pessoa para refletir nos demais. Caso uma pessoa acabe agindo de forma que ofenda a moral, significa que o autorrespeito não foi hierarquizado diante da autoestima, ou seja, os valores egoístas sobre si mesmo acabaram sendo mais valorizados do que aqueles valores em prol de toda a coletividade. Enquanto o sujeito moralmente heterônomo é apenas o próprio reflexo do entorno social que presencia, o sujeito moralmente autônomo se destaca por eleger a equidade e a reciprocidade como norteadores de suas ações morais, e por isso, vai além das fronteiras comunitárias. O autônomo possui o conhecimento que a moral tem que estar presente em todas as relações humanas, e não apenas com determinada sociedade que integra. Para isso, é importante a descentração afetiva, objetivando a expansão de si próprio através do conhecimento e compreensão das diversas culturas existentes no mundo. As três virtudes morais escolhidas pelo autor da obra e, consequentemente, vistas como fundamentais são: a justiça, a generosidade, e a honra. 3. Saber fazer moral: dimensão intelectual Em toda atividade que o ser humano realiza é de extrema importância que utilize a razão na ação, porque é necessário “pensar bem” para agir corretamente. Sob o aspecto moral, há três elementos presentes no ponto de vista da dimensão intelectual: o conhecimento, o equacionamento, e a sensibilidade. É considerada “pessoa moral” quem se responsabiliza por suas ações, tendo em visa que teve liberdade de escolha para realizar determinado ato através do uso da inteligência ao fazer o exercício de pensar. Sendo assim, não podemos considerar moralmente responsável por suas ações quem de alguma forma tenha falha ou imaturidade intelectual por qual outra pessoa fica responsável pela escolha de suas ações, já que não possui condições de agir por conta própria. 9 O primeiro contato com a moral que as crianças possuem é por meio das regras (principalmente aquelas impostas pelos pais), sendo esta uma dimensão normativa. Entretanto, há algumas pessoas que quando se tornam adultas, ainda continuam nessa fase porque não usam a inteligência para se perguntarem de onde essas normas derivam, e só estão preocupadas em obedecê-las, sem compreender a motivação subjetiva delas. Importante salientar que a dimensão intelectual pressupõe os conhecimentos culturais, psicológicos e científicos. E, por isso, quem se limita a se aprofundar no conhecimento, muitas vezes não sabe como agir diante de uma situação concreta envolvendo a moral. É por isso que a dimensão intelectual não implica em apenas conhecer as regras e princípios vigentes, e sim se faz necessário compreender quais são os nossos valores, o que move nosso projeto de felicidade, e que rumos tomar para expandir a si mesmo. Há uma grande diferença entre possuir determinadosconhecimentos e saber aplica-los na nossa rotina, até porque não adianta saber na teoria e deixar a desejar na prática. A aplicação pode se dar através de duas formas: o equacionamento moral e a sensibilidade moral. Há um dilema entre as morais quando nos referimos ao equacionamento moral, por qual há dois caminhos morais em que o ser humano pode escolher, sendo que ao optar por um deles acaba priorizando um valor moral por considerá-lo mais importante que o outro. É o caso, por exemplo, de mãe que furta alimento no supermercado para poder alimentar seu filho que está com fome e não tem condições para comprar algo para saciar a fome deste, sendo assim, verificamos dois dilemas que envolvem a moral: o furto e a vida. Diante disso, é valido que, apesar do ilícito cometido, o valor á vida seja priorizado. Muitos casos como esse acontecem e são consideramos como furto famélico, tendo em vista que apenas ocorreu para suprimir uma necessidade urgente, já que sem o ato praticado poderia levar alguém a morte. O equacionamento moral trata justamente de ponderar os elementos morais e hierarquiza-los para a devida verificação de qual é mais relevante através de nós nos colocando no lugar do outro com o ato de pensar. Esse equacionamento não pressupõe que todas as pessoas cheguem à mesma conclusão, até porque cada um tem sua própria identidade que os diferencia das demais, então é normal haver diferentes pensamentos a respeito de qual valor envolvendo a moral deve 10 ser priorizado. A sensibilidade moral trata-se de uma capacidade moral como forma de avaliação da dimensão moral, em que o sujeito deve buscar compreender a situação alheia através da sensibilidade, percebendo o motivo que levou determinada pessoa á agir daquela forma e se há um sofrimento por trás disso, já que o sofrimento tem sua importância em todos os sistemas morais. Há situações em que o sofrimento alheio não é perceptível aos nossos olhos, e somente a sensibilidade moral é capaz de fazer notarmos quais efeitos negativos que determinadas ações podem causar e, assim, cabe a nós evitá-las. É certo que existem pessoas cultas, mas que não aplicam tamanho conhecimento para zelar pelo bem alheio e acabam sendo insensíveis. E, por isso, se faz importante esclarecer que a sensibilidade moral é uma sabedoria acima de tudo, e esta sabedoria não decorre meramente do estudo. Importante salientar que princípios como o da igualdade e da equidade devem ser considerados na aplicação da sensibilidade moral. O princípio da igualdade pressupõe a ideia de não privilegiar ninguém, enquanto o princípio da equidade tem como base tornar os diferentes iguais, ou seja, considerar que existem desigualdades nas relações e auxiliar os desiguais a estarem no mesmo patamar tornando-se iguais aos outros. A principal diferença entre o equacionamento moral e a sensibilidade moral é que enquanto o equacionamento destaca todos os elementos morais de forma que coloca em ordem de hierarquia aquele que deve se elegida e aplicada no caso concreto, a sensibilidade se restringe a analisar o contexto fático, detalhes e a singularidade da situação. Em relação ao desenvolvimento do juízo moral, percebe-se que a maioria dos psicólogos atribuiu o desenvolvimento do ser humano através da dimensão racional, e não a dimensão afetiva. E, isto parece realmente o mais viável e correto, tendo em consideração que o ato de pensar, ter conhecimento das ações nos aspectos mais subjetivos é o que caminha para o agir corretamente, pois a consciência se fez altamente presente. A moral das crianças não é apenas a interiorização passiva dos valores em que as figuras de autoridade impuseram á elas, pois quando as crianças entram em contato com o meio social, isso gera um novo significado para os valores, princípios, e as regras que tinham sido anteriormente apresentadas. Sendo 11 assim, antes das crianças terem o contato com o meio social, elas estão numa primeira fase chamada anomia, só depois que elas são inseridas com o meio e outras pessoas, ou seja, a coletiva, é que passam para a outra fase (a da heteronomia moral). A moral heterônoma pressupõe duas características importantes de salientar: a compreensão das regras e o conhecimento da fonte legítima. Diante disso, a moral infantil fica bastante marcada pelo medo que a consequência de uma ação não considerada moral pode acarretar, e não a intenção daquela conduta. Além disso, a heteronomia consiste em obedecer às regras impostas por reconhecer pessoas como autoridades legítimas, como por exemplo, os pais, e por isso respeitam essas regras. Esse respeito é unilateral porque não há nenhuma recompensa por ter agido conforme o que foi imposto para as crianças. Só por volta de 8 anos que essa heteronomia vai se modificando, e a criança começa a apresentar resquícios de autonomia por estar mais inserida no meio social, ou seja, a convivência com outras pessoas (além daquelas autoridades vistas como legítimas), fazem com que se tenha outra visão sobre si e o mundo. E, sendo, assim, a criança começa a questionar aquilo que foi imposto pelos pais, libertando-se da obediência absoluta ás regras estabelecidas. O princípio da igualdade é responsável por dar outro norte á fonte de legitimação da moral, pois no momento em que o ser humano atinge a fase de autonomia, deixa de considerar os pais como legítimos pela presença das regras, e começa a crer que os princípios da igualdade e a justiça são a origem da legitimação da moral. Enquanto na moral heterônoma os deveres possuem papel mais importante do que os direitos, na moral autônoma os direitos e deveres se complementam. Existe outra teoria acerca do desenvolvimento do juízo composta por três níveis: pré-convencional, convencional, e pós-convencional. No nível pré-convencional, há um primeiro estágio por qual a criança interpreta ás regras através da valorização das consequências físicas que a desobediência pode causa, ou seja, a punição. Verificamos isso presente até nos dias de hoje, porque os pais realmente ameaçam de causar dor física na criança caso ela não aja conforme os limites impostos. Depois, há outro estágio que se refere a uma orientação instrumental, onde a criança começa a ter consciência que a ação correta além de satisfazê-lo, 12 também satisfazer as outras pessoas. O próximo nível chamado de convencional ainda mantém fortemente os laços afetivos, pois o ser humano continua se obrigando a agir conforme as expectativas da família para ser bem visto perante o olhar alheio, respeitando a autoridade dos grupos que possuem essas regras e princípios vigentes. O último nível é o pós-convencional em que é valorizada a validade e aplicação das regras e princípios, sem colocar o foco na autoridade dos grupos ou pessoas que adotam esses valores porque isso não importa neste nível. Possuindo dois estágios: um que trata sobre a orientação para o contrato social, e o outro que se refere a uma orientação para o princípio ético universal. 4. O querer fazer moral: a dimensão afetiva O sentimento de obrigatoriedade inicia-se com um querer, ou seja, antes de tudo o ser humano precisa ter a vontade de querer agir moralmente. Esse querer “fazer moral” traduz-se pelo momento em que o indivíduo entra em contato experimental com as normais morais do meio em que está inserido. Certamente as crianças que possuem cerca de 4 anos seguem as regras morais motivadas pelo medo do castigo que poderá ocorrer pela desobediência e também pelo amor que sentem pelas autoridades que impõem esses deveres a serem seguidos, sendo assim, acreditam que se não seguirem conforme o imposto, perderá o amor dos pais. Isso representa a primeira forma de respeito do ser humano perante a moral que rege a comunidade, a partir desse momento nasce um despertar do querer fazer moral, mesmo que, a princípio,seja pelas motivações erradas. Todavia, resultados de pesquisas mostraram que muitas crianças não se limitam a sentimento de amor e medo perante as autoridade, e já possuem consciência para julgar seus pais quando estes dão ordens visivelmente injustas. Por isso, o entendimento é que o universo moral infantil é muito mais complexo do que imaginamos. A criança quando está na fase de despertar do senso moral se preocupa com outros elementos além da rigorosa obediência. É notório que outros sentimentos afetivos mostram-se presentes na formação do juízo moral. Um dos sentimentos presentes na moral se dá através da confiança em que alguém possui perante toda a comunidade. E, sendo assim, se as pessoas que 13 integram determinado grupo começam a ofender as regras, princípios e valores, como consequência haverá a quebra da confiança, e o ser humano que é heterônomo não será capaz de continuar obedecendo e seguindo os deveres impostos por ter sido desmotivado com as ações alheias, e começam a legitimar suas ações imorais alegando que também pode fazer determinado ato imoral já que as outras pessoas também estão fazendo. Quem é heterônomo reflete rigorosamente a sociedade, então se a sociedade está sendo falha, automaticamente esse ser também será falho. O heterônomo tem a precisa necessidade de confiar nas qualidades morais das pessoas para também querer agir moral. Diferentemente age o autônomo, pois para este ser o que importa é o próprio respeito de si que reflete perante a sociedade, e não o oposto. Considera que é preciso primeiramente merecer a confiança das pessoas, e por isso age moralmente. A criança por ser heterônoma precisa sentir confiança perante as autoridades que são suas referências morais, caso não haja essa confiança ocorrerá grandes prejuízos na relação, pois se sentirá injustiçada e enganada, fazendo-se questionar o sentimento da obrigatoriedade. Importa salientar que a criança fica muito atenta na qualidade das figuras maternas e paternas para começar a construir as primeiras noções a respeito da moral. A compaixão, que tem como elemento ser uma forma mais específica da simpatia, consiste em ser uma capacidade de se sensibilizar pela dor alheia, e isso acaba gerando uma inspiração para a moral porque implica em outros sentimentos morais como a justiça e a generosidade. E, sendo assim, a simpatia é de extrema importância no início do desenvolvimento da moral porque é responsável por fazer a criança ampliar seus horizontes e não se limitar-se nas exigências e sanções que os pais e a sociedade impõem. Além disso, a simpatia também é capaz de ultrapassar barreiras, como a fase de heteronomia, e fazer o ser humano evoluir a próxima fase, ou seja, da autonomia. É importante também ressaltar que esse sentimento de simpatia não é até o fim da vida, e por isso, conforme se passam os anos, pode mudar porque aquilo que comove as crianças atualmente, pode não comover mais no futuro. Entre as virtudes existentes no âmbito moral, as crianças menores possuem mais admiração por quem é generoso do que justo, porque elas atribuem mais 14 sofisticação intelectual pela generosidade ao invés da justiça. Neste caso, podemos verificar que se houvesse um dilema moral na vida dessas crianças sobre essas duas virtudes, através do equacionamento moral, iriam hierarquizar o sentimento da generosidade por considerarem mais relevante que a justiça. As pesquisas apontaram que essas crianças têm mais medo das figuras de autoridade, e não se preocupam com o sentimento da vítima com relação ao transgressor da moral. Ao contrário das crianças maiores, que pelo fato de já terem resquícios de autonomia e refletirem sobre os elementos subjetivos de toda ação moral, se interessam pelo sentimento alheio, ou seja, a relação entre a vítima e o agressor, mostrando mais propícias ao sentimento da compaixão. O sentimento de indignação também se faz presente na ordem moral, porque quem é vítima ou presencia um ato imoral, acaba se sentindo indignado nessa situação por essa ação ter causado uma injustiça á um direito seu ou de outrem. Quando as crianças experimentam a indignação significa que não estão sendo tão heterônomas assim, porque estão conseguindo ter a uma noção sobre injustiça, por mais que o experimento desse sentimento seja apenas sobre seus próprios interesses, e não alheios. Posteriormente, tornando-se mais velha, a criança experimenta ficar indignada pela violação de algum direito alheio. A simpatia e a indignação são dois sentimentos que se complementam na fase de despertar do senso moral, pois visam à necessidade do ser humano em se colocar no lugar do outro como se o seu próprio direito tivesse sido violado, garantindo a ausência de atitudes egoístas. A culpa é um sentimento relevante para a dimensão moral, pois se relaciona a uma transgressão de alguma regra moral. Pode decorrer pelo que já foi feito ou por aquilo que se pensou a fazer. Esse sentimento é responsável pela reparação do ato, pois o indivíduo que se sente culpado buscará de alguma forma retratar- se perante a sociedade. Na esfera criminal, o ato de sentir culpa por uma ação ilícita que fez e ter buscado em seguida a reparação da transgressão, será importante durante a o trâmite da ação penal, tendo em vista que é uma das hipóteses de atenuantes da pena, conforme o artigo 65, inciso III, alínea “b”, do Código Penal. Já, em relação á aquele ato ilícito em que sentiu a vontade de realiza-lo, mas acabou não realizando, este não é punido no âmbito criminal, já que a cogitação de algum crime não é punível no Brasil, todavia se houver atos preparatórios sem ocorrer à 15 execução, pode ser que constitua algum crime autônomo a depender do caso. Quem não experimenta o sentimento de culpa é considerada uma pessoa desprovida de “freio moral”, já que sequer tem a capacidade de se sentir culpada perante uma ação imoral e, sendo assim, é mais propícia a realizar atos imorais. Com relação ás crianças, estas são capazes de experimentarem o sentimento de culpa através de ações vistas como negativas, que decorrem da desobediência ou do prejuízo causado a outrem. A personalidade ética do ser humano por ser uma expansão de si mesmo e também traduzir-se a um sentimento de obrigatoriedade, valoriza os valores íntimos e subjetivos, como o autorrespeito. Caso o indivíduo deixa de se considerar digno do autorrespeito, automaticamente sentirá vergonha pela perda real ou virtual do valor, principalmente por não alcançar a “boa imagem” que gostaria de ter para refletir na sociedade. 5. Conclusão A moral e ética geralmente são confundidas por muitas pessoas diante de seus aspectos similares, todavia, são diferentes já que a primeira relaciona-se aos deveres e a forma correta que cada sujeito tem que agir, e a segunda tem relação com a busca de uma vida boa. Para viver bem é necessário agir moralmente, sendo assim, moral e ética se encontram. As dimensões afetivas e intelectuais foram bastante discutidas e abordadas, ambas têm seus prós e contras, mas com a reflexão detalhada acerca delas é notável que tanto os sentimentos afetivos quanto a razão são importantes para o desenvolvimento da moral. A afetividade se mostra mais presente no despertar do senso moral pelo qual o sujeito ainda não possui a autonomia plena e apega- se ás figuras de autoridade, enquanto a razão é mais valorizada conforme o ser humano vai ficando mais velho, crescendo, e se inserindo cada vez mais no meio social. Diante de tudo que foi exposto, verificamos que as dimensões intelectuais e afetivas se interligam e são necessárias para o crescimento do indíviduo, sendo que não há nenhum estado afetivo puro sem o uso da razão, da mesma forma que não encontramos nenhuma atividade intelectual sem a utilização de sentimentos decorrentes do afeto. 16 6. Bibliografia https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788536306285/first
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