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FMU - Faculdade Metropolitana Unidas Curso: Direito Turno: Noturno Câmpus: Morumbi Disciplina: Direito das Relações do Trabalho Professor: Alicio Santos Petiz Aluno: Luan Vitor Miranda da Costa RA: 2571676 ATIVIDADE PRÁTICA SUPERVISIONADA O trabalho forçado e análogo ao escravo, infelizmente, ainda é um problema que a sociedade brasileira tem que enfrentar. Mesmo com a evolução de normas, assinatura de tratados internacionais e medidas coercitivas que impedem a execução desta prática degradante e criminosa, ainda percebe-se uma insistência de criminosos ao objetificarem humanos como objetos, sem dar a eles o devido tratamento que não apenas o trabalhador, mas qualquer pessoa merece. O texto “Combate ao Trabalho Forçado: Manual Para Empregadores e Empresas” (OIT, 2011) vem com intuito de apresentar medidas que devem ser praticadas, de forma que o combate 1 ao trabalho forçado e análogo à escravidão aconteçam. Ao alertar as empresas acerca desta ilegalidade, enxerga-se o intuito não apenas coercitivo da aplicação das leis trabalhistas, mas também, um viés pedagógico ao instruir os empregadores acerca do que e do que não fazer, sob pena de cometerem crimes. Um dos pontos que devem ser discutidos sob a luz deste manual é o porquê da persistência desta prática horrenda em pleno século XXI. Ainda que a Lei Áurea date de 1888 (Brasil, 1888) e 2 com isso a escravidão no Brasil tenha sido extinto na forma da lei, esta atividade ainda é a realidade de uma camada da sociedade que sofre com os desmandos de empregadores e empresas. E o que mais impressiona, é perceber que isso não acontece apenas no campo, mas também, em grandes cidades, comprovando que a aplicação do Direito Trabalhista deve ser universalmente defendido em todo o território nacional. OIT. Combate ao Trabalho Forçado: Manual Para Empregadores e Empresas. 2011. Disponível em: < https://1 www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---americas/---ro-lima/---ilo-brasilia/documents/publication/wcms_227292.pdf >. Acesso em: 26 de abril de 2021. BRASIL. Lei Áurea. 1888. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lim/LIM3353.htm>. Acesso 2 em: 27 de abril de 2021. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lim/LIM3353.htm Antes de tudo, faz-se importante conceituar o que vem a ser de fato o trabalho forçado. A Organização Internacional do Trabalho, em sua Convenção número 29 define que trabalho forçado como "todo trabalho ou serviço exigido de uma pessoa sob a ameaça de uma sanção e para qual uma pessoa não se ofereceu espontaneamente. Sua exploração pode ser feita por autoridades do Estado, pela economia privada ou por pessoas físicas” (OIT, 1930) . Portanto, os Estados devem 3 criar legislações com o intuito de coibir esta atividade degradante. E, considerando que o Direito do Trabalho tenha uma vasta gama de leis, normas e tratados que regem a matéria, faz-se importante identificar quais são os diplomas legais que alimentam este campo. Para tanto, esta análise começará com os dispostos constitucionais, tendo em vista que é a lei maior que rege o Brasil, e posteriormente serão analisadas as normas infraconstitucionais, além de como os Tribunais pátrios aplicam esta legislação. A Constituição Federal de 1988 traz logo no artigo 1 que A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa (BRASIL, 1988). 4 O artigo 5, XIII, rege que "é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer” (IDEM) e no XLVII, c, informa que "não haverá penas de trabalhos forçados” (IDEM). Diante destes dispositivos, fica clara a proibição da prática de trabalho escravo e que não respeitem a dignidade da pessoal humana. Acrescenta-se que ainda na Carta Magna, no artigo 243, existe a previsão de expropriação de caráter sancionatória quando constatado o trabalho escravo. Segue a norma: As propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo na forma da lei serão expropriadas e destinadas à reforma agrária e a programas de habitação popular, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei, observado, no que couber, o disposto no art. 5o. (Redação dada pela Emenda Constitucional no 81, de 2014) Parágrafo único. Todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e da exploração de trabalho escravo será confiscado e reverterá a fundo especial com destinação específica, na forma da lei. (Redação dada pela Emenda Constitucional no 81, de 2014). (IDEM). Tendo em vista o exposto acima, percebe-se a vontade do legislador constituinte de trazer no corpo da Lei Régia nacional a ojeriza que a sociedade deve ter com a prática do trabalho escravo e o abuso por parte dos empregadores para com o trabalhador. O passado escravagista brasileiro ainda OIT. Convenção sobre trabalho forçado ou compulsório. 1930. Disponível em: <https://www.ilo.org/brasilia/temas/3 trabalho-escravo/WCMS_393058/lang--pt/index.htm>. Acesso em: 27 de abril de 2021. BRASIL. Constituição Federal de 1988. 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/4 constituicao.htm>. Acesso em: 27 de abril de 2021. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm se faz presente, e por conta disso, faz-se necessária a punição destas atividades, como consta no Direito Penal brasileiro, autuando na forma da lei estes abusadores. Existem três artigos no Código Penal que punem especificamente aqueles que fazem uso de trabalho escravo. O primeiro deles é trata especificamente acerca da redução a condição análoga ao escravo: Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto: (Redação dada pela Lei no 10.803, de 11.12.2003) Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente à violência. (Redação dada pela Lei no 10.803, de 11.12.2003) § 1o Nas mesmas penas incorre quem: (Incluído pela Lei no 10.803, de 11.12.2003) I – cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho; (Incluído pela Lei no 10.803, de 11.12.2003) II – mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apodera de documentos ou objetos pessoais do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho. (Incluído pela Lei no 10.803, de 11.12.2003) § 2o A pena é aumentada de metade, se o crime é cometido: (Incluído pela Lei no 10.803, de 11.12.2003) I – contra criança ou adolescente; (Incluído pela Lei no 10.803, de 11.12.2003) II – por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem. (Incluído pela Lei no 10.803, de 11.12.2003) (BRASIL, 1940) . 5 O próximo artigo trata acerca da frustração de direito assegurado por lei trabalhista: Art. 203 - Frustrar, mediante fraude ou violência, direito assegurado pela legislação do trabalho: Pena - detenção de um ano a dois anos, e multa, além da pena correspondente à violência. (Redação dada pela Lei no 9.777, de 29.12.1998) § 1o Na mesma pena incorre quem: (Incluído pela Lei no 9.777, de 1998) I - obriga ou coage alguém a usar mercadorias de determinado estabelecimento, para impossibilitar o desligamento do serviço em virtude de dívida; (Incluído pela Lei no 9.777, de 1998) II - impede alguém dese desligar de serviços de qualquer natureza, mediante coação ou por meio da retenção de seus documentos pessoais ou contratuais. (Incluído pela Lei no 9.777, de 1998) § 2o A pena é aumentada de um sexto a um terço se a vítima é menor de dezoito anos, idosa, gestante, indígena ou portadora de deficiência física ou mental. (Incluído pela Lei no 9.777, de 1998) (IDEM). Por fim, no artigo 207, existe a previsão de punição aliciamento de trabalhadores de um local para outro do território nacional Art. 207 - Aliciar trabalhadores, com o fim de levá-los de uma para outra localidade do território nacional: Pena - detenção de um a três anos, e multa. (Redação dada pela Lei no 9.777, de 29.12.1998) § 1o Incorre na mesma pena quem recrutar trabalhadores fora da localidade de execução do trabalho, dentro do território nacional, mediante fraude ou cobrança de qualquer quantia do trabalhador, ou, ainda, não assegurar condições do seu retorno ao local de origem. (Incluído pela Lei no 9.777, de 1998) BRASIL. Código Penal. 1940. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/5 del2848compilado.htm>. Acesso em: 27 de abril de 2021. § 2o A pena é aumentada de um sexto a um terço se a vítima é menor de dezoito anos, idosa, gestante, indígena ou portadora de deficiência física ou mental. (Incluído pela Lei no 9.777, de 1998) (IDEM). No âmbito específico do Direito do Trabalho, a Consolidação das Leis Trabalhistas traz princípios caros à este ramo do direito e que são aplicados na temática discutida neste texto. O primeiro é referente ao Princípio Protetor, que “está vinculado à ideia de se atribuir interpretação mais favorável ao trabalhador na aplicação da norma jurídica” (NAHAS, 2020) . Tal principio 6 encontra lastro, sobretudo na concepção que direitos sociais são fundamentais e devem ser protegidos sob o manto de cláusulas pétreas (Idem). O segundo princípio a ser discutido é o Princípio da Condição Mais Benéfica. De acordo com o Tribunal Superior do Trabalho (2019), tal princípio "consiste na garantia, ao longo prazo de todo o contrato de trabalho, da preservação de cláusulas contratuais mais vantajosas ao empregado para evitar que ele sofra prejuízos" . 7 No âmbito da CLT não se encontram dispositivos que tratam especificamente acerca do trabalho forçado. Este compilado de normas se debruça acerca dos direitos trabalhistas, tais como Carteira de Trabalho e Previdência Social, 13o salário, férias remuneradas, licenças, descansos, Fundo de Garantia por Tempo de Serviço. Além disso, trata acerca dos mais diversos procedimentos acerca da temática da busca pelos direitos negados pelo empregador. Como informa Luma Cavaleiro de Macêdo Scaff (2012), na esfera do direito do trabalho, esta infração é identificada pela reunião do “não- obedecer” a diversas normas. Trata-se de uma conceituação por negativa; ao “não proceder” de acordo com as normas obreiras, o empregador estará adotando um comportamento “não-decente”, logo, por estar à margem da(s) lei(s), o trabalho será identificado como “forçado” ou “análogo à escravo”. Não há, contudo, uma tipificação trabalhista para este tipo de trabalho, exceto pela negativa . 8 No que diz respeito à tratados internacionais incorporados ao direito brasileiro, destacam-se a ja mencionada Convenção sobre trabalho forçado ou compulsório de 1930, que em seu artigo 10 dispõe que “o trabalho forçado ou obrigatório exigido a título de imposto e o trabalho forçado ou obrigatório exigido, para os trabalhos de interesse público, por chefes que exerçam funções administrativas, deverão ser progressivamente abolidos”(OIT, 1930). NAHAS, Thereza Christina. Princípio protetor no Direito do Trabalho. Enciclopédia Jurídica da PUCSP. Tomo 6 Direito do Trabalho e Processo do Trabalho. 1 ed, Agosto de 2020. Disponível em: <https:// enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/373/edicao-1/principio-protetor-no-direito-do-trabalho>. Acesso em: 27 de abril de 2021. TST. Direito Garantido: princípio da condição mais benéfica. 2019. Disponível em: <https://www.tst.jus.br/noticia-7 destaque-visualizacao/-/asset_publisher/89Dk/content/direito-garantido-principio-da-condicao-mais-benefica/pop_up>. Acesso em: 27 de abril de 2021. SCAFF, Luma Cavaleiro de Macêdo. Trabalho forçado é lícito trabalhista ou penal?. Consultor Jurídico. 2012. 8 Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2012-out-21/luma-scaff-trabalho-forcado-ilicito-trabalhista-ou-penal>. Acesso em: 26 de abril de 2021. https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/373/edicao-1/principio-protetor-no-direito-do-trabalho https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/373/edicao-1/principio-protetor-no-direito-do-trabalho Já a Convenção 105 da OIT do ano de 1957, disciplina em seu art. 1º a abolição do trabalho forçado, como se vê a seguir: Art. 1 — Qualquer Membro da Organização Internacional do Trabalho que ratifique a presente convenção se compromete a suprimir o trabalho forçado ou obrigatório, e a não recorrer ao mesmo sob forma alguma: a) como medida de coerção, ou de educação política ou como sanção dirigida a pessoas que tenham ou exprimam certas opiniões políticas, ou manifestem sua oposição ideológica à ordem política, social ou econômica estabelecida; b) como método de mobilização e de utilização da mão-de-obra para fins de desenvolvimento econômico; c) como medida de disciplina de trabalho; d) como punição por participação em greves; e) como medida de discriminação racial, social, nacional ou religiosa. (OIT, 1957) . 9 A OIT tem ainda outros instrumentos que se destacam por tratar desta matéria, tais como o Protocolo à Convenção sobre o Tratado Forçado, de 2014 e as Recomendações sobre Trabalho Forçado, do mesmo ano. Tais diplomas não serão esmiuçados ao longo deste texto, porém, é um guia importante no que tange ao combate ao trabalho escravo. Decidindo acerca desta matéria, o Ministério Público do Trabalho editou a Portaria 1.129 de 13 de outubro de 2017, que trouxe a definição de trabalho com jornada exaustiva, trabalho forçado, condições degradante e condição análoga à de escravo: Art. 1º, I - trabalho forçado: aquele exercido sem o consentimento por parte do trabalhador e que lhe retire a possibilidade de expressar sua vontade; II - jornada exaustiva: a submissão do trabalhador, contra a sua vontade e com privação do direito de ir e vir, a trabalho fora dos ditames legais aplicáveis a sua categoria; III - condição degradante: caracterizada por atos comissivos de violação dos direitos fundamentais da pessoa do trabalhador, consubstanciados no cerceamento da liberdade de ir e vir, seja por meios morais ou físicos, e que impliquem na privação da sua dignidade; IV - condição análoga à de escravo: a) a submissão do trabalhador a trabalho exigido sob ameaça de punição, com uso de coação, realizado de maneira involuntária; b) o cerceamento do uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto, caracterizando isolamento geográfico; c) a manutenção de segurança armada com o fim de reter o trabalhador no local de trabalho em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto; d) a retenção de documentação pessoal do trabalhador, com o fim de reter o trabalhador no local de trabalho (MPT, 2017) . 10 Por fim, é importante trazer à discussão como este tema é tratado nos tribunais superiores, sobretudo no Tribunal Superior do Trabalho e no Supremo Tribunal Federal. No que diz respeito ao TST, é importante destacar a seguinte decisão proferida A G R AV O D E I N S T R U M E N T O I N T E R P O S T O P E L O S R É U S . INTEMPESTIVIDADE. Interposto agravo de instrumento fora do prazo legal, deve ser considerado intempestivo. Agravo de instrumento não conhecido. RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO PELO AUTOR. MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO. TRABALHO EM CONDIÇÕES ANÁLOGAS À DE ESCRAVO.OIT. Convenção nº 105 da OIT. 1957. Disponível em: <https://www.ilo.org/brasilia/convencoes/WCMS_235195/9 lang--pt/index.htm>. acesso em: 26 de abril de 2021. MPT. Portaria 1.129/2017. 2017. Disponível em: <https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=351466>. Acesso 10 em: 26 de abril de 2021. https://www.ilo.org/brasilia/convencoes/WCMS_235195/lang--pt/index.htm https://www.ilo.org/brasilia/convencoes/WCMS_235195/lang--pt/index.htm https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=351466 CONFIGURAÇÃO. No caso em análise, o eg. Tribunal Regional considerou que "embora reconhecida a realização de trabalho em condições degradantes, não restou demonstrado nos autos a redução dos representados à condição análoga à de escravo", concluindo que "em nenhum momento, houve alusão a qualquer impedimento à ampla liberdade de locomoção dos trabalhadores" e que "a liberdade de ir e vir é incompatível com a condição de trabalhador escravo". Com a redação alterada do art. 149 do Código Penal pela Lei nº 10.803/2003, o tipo penal passou a trazer explicitamente o conceito do que vem a ser o crime de redução a condição análoga à de escravo, trazendo as hipóteses configuradoras, dentre as quais "sujeitar a condições degradantes de trabalho", exatamente a situação descrita pelo eg. Tribunal Regional. Sob esse enfoque, a caracterização do trabalho escravo não mais está atrelada condicionalmente à restrição da liberdade de locomoção do empregado - conceito revisto em face da chamada "escravidão moderna". É preciso aperfeiçoar a interpretação do fato concreto, de modo a adequá-lo ao conceito contemporâneo de trabalho escravo contemporâneo. Nesse sentido têm caminhado a jurisprudência e a doutrina. Uma vez configuradas as condições degradantes a que eram submetidos os empregados, evidenciado o trabalho em condição análoga à de escravo, o que se declara, nos exatos termos do art. 149 do Código Penal. Recurso de revista conhecido e provido. VALOR DA INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS COLETIVOS. Não se conhece do recurso de revista quando a parte recorrente deixa de rebater todos os fundamentos postos na decisão recorrida, pois não atende o disposto no art. 896, § 1º-A, III, da CLT, segundo o qual deve a parte cotejar analiticamente os dispositivos que indica terem sido violados e a tese posta no v. acórdão regional. Recurso de revista não conhecido. (TST; ARR-53100-49.2011.5.16.0021, 6a Turma, Relator Ministro Aloysio Correa da Veiga, DELT12/05/2017). (TST, 2017) . 11 Já no âmbito do STF, destaca-se a decisão que versa sobre portaria ministerial e restrição das condutas do crime de redução a condição análoga à de escravo: I- Trata-se de pedido de medida liminar em Arguição de Descumprimento de Preceito Funda- mental em que se argumenta que a Portaria do Ministério do Trabalho 1.129/2017 inviabilizaria o com- bate ao trabalho escravo no Brasil, violando vários preceitos constitucionais (artigos 1o, III; 3o, I, III e IV; 5o, caput, III e XXXIII; 6o; 37, caput). A portaria impugnada trouxe nova definição dos conceitos de trabalho forçado, jornada exaustiva e condições análogas à de escravo, para fins de concessão do seguro-desemprego, fiscalização pelo Ministério do Trabalho e inclusão no Cadastro de Empregadores. II. A Ministra Relatora deferiu a medida cautelar, para suspender a norma impugnada, considerando que “o art. 1o da Portaria do Ministério do Trabalho no 1.129/2017, ao restringir indevidamente o conceito de ‘redução à condição análoga a escravo’, vulnera princípios basilares da Constituição, so- nega proteção adequada e suficiente a direitos fundamentais nela assegurados e promove desalinho em relação a compromissos internacionais de caráter supralegal assumidos pelo Brasil e que moldaram o conteúdo desses direitos.” Esclareceu, nesse sentido, que, de acordo com a evolução do direito inter- nacional, há escravidão quando o cerceamento da liberdade não decorre apenas de constrangimentos físicos, mas também daqueles econômicos. Ademais, a reificação do indivíduo, por meio da privação de sua liberdade e dignidade, é repudiada pela ordem constitucional e pode ocorrer inclusive nas situ- ações em que lhe é limitado o direito ao trabalho digno. [ADPF 489 MC, rel. min. Rosa Weber, decisão monocrática, j. 23-10-2017, DJE de 26-10-2017] (STF. 2017, p. 5 ). 12 Merece destaque, também, decisões ja proferidas que caracterizam o crime da redução a condição análoga à de escravo. A Suprema Corte decidiu que não há necessidade de violência física, de coação direta a liberdade de ir e vir ou de servidão por dívida para caracterizar o crime de redução a condição análoga à de escravo, como se verá a seguir: TST. ARR-53100-49.2011.5.16.0021. 2017. Disponível em: <https://tst.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/457793487/11 arr-531004920115160021/inteiro-teor-457793507>. Acesso em: 26 de abril de 2021. STF. Boletim de Jurisprudência Internacional - Trabalho Escravo. 2017. Disponível em: <>. Acesso em: 26 de 12 abril de 2021. https://tst.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/457793487/arr-531004920115160021/inteiro-teor-457793507 https://tst.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/457793487/arr-531004920115160021/inteiro-teor-457793507 I. Trata-se de decisão de recebimento de denúncia, na qual os réus foram acusados pelo crime do artigo 149 do Código Penal, porque aliciavam e empregavam trabalhadores migrantes nordestinos em Minas Gerais. Os trabalhadores sofriam violações a sua dignidade, em vista das precárias condições do alojamento em que viviam, das jornadas exaustivas, do comprometimento de suas rendas com compras perante estabelecimento comercial ligado ao empregador e da impossibilidade de retornarem a suas regiões de origem, em razão do custo da viagem de regresso. A defesa alegou que os trabalhadores não eram submetidos a vigilância, tendo liberdade de ir e vir. II. A Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal decidiu, seguindo jurisprudência da Corte, que não era necessária a violência física para configurar o delito de redução à condição análoga à de escravo, bastando haver “a coisificação do trabalhador, com a reiterada ofensa a direitos fundamentais, vulnerando a sua dignidade como ser humano”. Em vista disso, recebeu a denúncia. [Inq 3564, rel. min. Ricardo Lewandowski, 2a T, j. 19-8-2014, DJE de 17-10-2014] I. Trata-se de decisão de recebimento de denúncia, na qual os réus foram acusados pelo crime do artigo 149 do Código Penal, por empregarem trabalhadores em condições irregulares. A fiscalização do Ministério do Trabalho apurou que os trabalhadores ficavam em alojamento precário, sem acesso a água potável, sem ambiente adequado para as refeições, sem banheiro; não lhes eram fornecidos equipamentos de proteção adequados; seu transporte era feito em veículos precários; a jornada de trabalho era exaustiva; não era fornecido transporte para retorno à residência, nas folgas. A defesa alegou que os fatos narrados configuravam apenas descumprimento da legislação laboral. II. O Supremo Tribunal Federal, por maioria, recebeu a denúncia. Entendeu-se que a caracterização da escravidão moderna é mais sutil do que a do séc. XIX, não sendo necessário haver a coação física da liberdade de ir e vir. Basta que a vítima seja submetida a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva ou a condições degradantes de trabalho, “condutas alternativamente previstas no tipo penal”. Haveria privação da liberdade e restrição da dignidade ao se tratar alguém como coisa, o que ocorreria nos casos de “violação intensa e persistente de seus direitos básicos, inclusive do direito ao trabalho digno”. Assinalou-se, contudo, que não é qualquer violação aos direitos trabalhistas que configura trabalho escravo, mas apenas aquela intensa, persistente e em altos níveis “e se os trabalhadores são submetidos a trabalhos forçados, jornadas exaustivas ou a condições degradantes de trabalho”. [Inq 3412, rel. min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. min. Rosa Weber, P, j. 29-3-2012, DJE 12-11-2012]I. Trata-se de recebimento de denúncia, na qual os réus foram acusados de submeter trabalha- dores rurais a jornada exaustiva, a condições degradantes e a restrição de locomoção por dívidas contraídas em armazém da fazenda. II. O Supremo Tribunal Federal, por maioria, recebeu a denúncia. Houve debate sobre a necessidade da privação da liberdade para configurar o crime, mas a maioria entendeu que a submissão à jornada exaustiva e a sujeição do empregado a condições degradantes era suficiente para permitir o prosseguimento do processo. [Inq 2131, rel. min. Ellen Gracie, red. p/ o ac. min. Luiz Fux, P, j. 23-2-2012, DJE de 7-8-2012] (Idem, p. 7-9). Como restou comprovado ao longo deste estudo, a temática não se exaure apenas com a edição de normas nem com compilados de decisões de tribunais, muito menos com a assinatura de tratados internacionais. Para se combater o trabalho escravo de forma eficaz, deve-se, acima de tudo, criar boas práticas e torná-las rotineiras no ambiente de trabalho. Para tanto, o texto "Combate ao Trabalho Forçado: Manual Para Empregadores e Empresas” que serviu de inspiração para este estudo, deve ser analisado com bastante cuidado pelas empresas e pelos contratantes. Para se fazer valer de forma correta e certeira, este manual deve ser acolhido com bastante atenção por aqueles que contratam, bem como pelos trabalhadores. O conhecimento dos deveres é obrigação de todo trabalhador, mas o conhecimento acerca de seus direitos é o que garantirá que abusos sejam evitados e que ilegalidades sejam cometidas. Como bem informado ao longo do texto, a identificação de situações de trabalho forçado é um inicio libertador para muitos trabalhadores.
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