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ADMINISTRAÇÃO RURAL Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS Autoria: Rafael Pazeto Alvarenga Jeniffer de Nadae CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Ivan Tesck Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Prof.ª Bárbara Pricila Franz Prof.ª Tathyane Lucas Simão Prof. Ivan Tesck Revisão de Conteúdo: Omar Inácio Benedetti Santos Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Revisão Pedagógica: Bárbara Pricila Franz Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2017 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 630.681 A473a Alvarenga, Rafael Pazeto Administração rural / Rafael Pazeto Alvarenga; Jeniffer de Nadae . Indaial : UNIASSELVI, 2017. 157 p. : il. ISBN 978-85-69910-61-9 1. Administração Rural – Agropecuária – Custos. I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. Rafael Pazeto Alvarenga Jeniffer de Nadae Doutor em Engenharia Agrícola pela Universidade Estadual de Campinas. Mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, campus de Bauru e graduação em Administração de Empresas e Agronegócios pela mesma instituição, campus de Tupã. É professor universitário em disciplinas com foco em gestão da produção e pesquisador na área de agronegócios. Professora Adjunta da Universidade Federal do Cariri. Dou- tora em Engenharia de Produção pela Escola Politécnica da USP, linha de pesquisa Qualidade e Engenharia do Produ- to (QEP) – 2016, doutorado Sanduíche Université du Québec à Trois-Rivières. Mestre em Engenharia de Produção pela Facul- dade de Engenharia de Bauru da Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho (UNESP/Bauru) no ano de 2010. Possui graduação em Administração de Empresas e Agronegócios (2008) pela Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho (UNE- SP/UD – Tupã/SP). Pertence ao grupo de pesquisa do CNPQ pela universidade. Tem experiência na área de Administração, Gestão da Produção, Certificações integradas (ISO 9001, ISO 14001, OHSAS 18001, ISO 16001), Supply Chain Management e Sustentabilidade com os temas: gestão do conhecimento, comportamento do con- sumidor, análise mercadológica de feiras livres, estudo dos siste- mas de gestão de empresas pertencentes a clusters, implantação integrada de sistemas de gestão (ISO 9001, ISO 14001, OHSAS 18001 e ISO 16001) e sustentabilidade baseada no conceito do triple bottom line. Principais publicações dos autores: ALVARENGA, R. P.; ARRAES, N. A. M. Certificação fairtrade na ca- feicultura brasileira: análises e perspectivas. Coffee Science, v. 12, n. 1, p. 124–147, 2017a. ______. Perfil de avaliações de impacto da certificação fairtrade na cafeicultura. Espacios, v. 38, n. 32, 2017b. ALVARENGA, R. P.; QUEIRÓZ, T. R.; NADAE, J. Cleaner produc- tion and environmental aspects of the sugarcane-alcohol segment : brazilian issues. Espacios, v. 38, n. 1, p. 11, 2017. ______. Risco tóxico e potencial perigo ambiental no ciclo de vida da produção de milho. Espacios, v. 38, n. 1, p. 12, 2017. MAIA, M.; VALE, J. W. S. P.; NADAE, J.; CARVALHO, M. M.; MO- RAES, R. O. Gerentes de projetos em novos negócios: estudo de múltiplos casos de microcervejarias. RBGP. Revista Brasileira de Gerenciamento de Projetos, v. 1, p. 2, 2016. NADAE, J.; CARVALHO, M. M.; VIEIRA, D. R. Analysing the Stag- es of Knowledge Management in a Brazilian Project Management Office. The Journal of Modern Project Management, v. 3, p. 70- 79-79, 2015. NADAE, J.; OLIVEIRA, J. A.; OLIVEIRA, O. J. Um estudo de caso sobre a adoção dos programas e ferramentas da qualidade em uma empresa do setor gráfico com certificação ISO 9001. Revis- ta Eletrônica de Administração (Garça. On-line), v. 9, p. 15-33, 2009. NADAE, J.; GALDAMEZ, E. V. C.; CARPINETTI, L. C.; SOUZA, F. B.; OLIVEIRA, O. J. Método para desenvolvimento de práticas de gestão integrada em clusters industriais. Produção (São Paulo. Impresso), v. 24, p. 776-786, 2014. OLIVEIRA, J. A.; NADAE, J.; ALVARENGA, R. P.; OLIVEIRA, O. J. Responsabilidade Socioambiental em instituições financeiras: di- ficuldades e perspectivas. Revista Eletrônica de Administração (Garça. On-line), v. 9, p. 10-19, 2009. OLIVEIRA, J. A.; NADAE, J.; OLIVEIRA, O. J.; SALGADO, M. H. Um estudo sobre a utilização de sistemas, programas e ferramentas da qualidade em empresas do interior de São Paulo. Produção (São Paulo. Impresso), v. 21, p. 708-723, 2011. Sumário APRESENTAÇÃO ......................................................................7 CAPÍTULO 1 Introdução à Problemática Estudada .................................9 CAPÍTULO 2 Administração no Contexto do Agronegócio .................27 CAPÍTULO 3 Consideração de Impactos Ambientais no Gerenciamento do Agronegócio .........................................67 CAPÍTULO 4 Agronegócio na Prática .......................................................83 APRESENTAÇÃO O agronegócio brasileiro é responsável pela geração de divisas ao país e fonte de renda para agropecuaristas e trabalhadores rurais. Em um contexto geral, os agentes que atuam nos campos agropecuários do Brasil são detentores de um conhecimento técnico forte que ajuda muito nas altas taxas de produção do agronegócio do país. Falta, muitas vezes, conhecimento gerencial capaz de contribuir para uma atuação mais eficiente nos mercados que atuam. Para contribuir neste sentido, este livro aborda sobre gerenciamento rural. O livro é composto de quatro capítulos. No primeiro capítulo contextualizamos o amplo cenário que se relaciona ao tema do nosso livro, como por exemplo, definição de agronegócio e segmentos da produção agropecuária; e sistemas, cadeias e complexos agroindustriais. No segundo capítulo abordamos alguns importantes fatores vinculados ao universo da administração, que nos permitem compreender e aplicar especificamente na administração rural. No terceiro capítulo destacamos alguns importantes aspectos associados ao campo da gestão ambiental no cenário agropecuário e também oferecemos os exemplos da Avaliação do Ciclo de Vida e da Produção mais Limpa como instrumentos possíveis de aplicação na gestão ambiental de sistemas agroindustriais. Já no quarto capítulo, oferecemos exemplos de fatores que devem ser considerados na gestão de propriedades criadoras de bovinos e produtoras de grãos, cana-de-açúcar e café. Neste último capítulo daremos um foco especial ao fator da sustentabilidade socioambiental nos sistemas de produção vinculados a tais propriedades. Uma vez que existe uma alta demanda pela adequação socioambiental no setor agropecuário, conhecer suas implicações nestes sistemas de produção contribui com o aumento de chances de retornos dos negócios gerenciados. Os autores. CAPÍTULO 1 Introdução à problemática estudada A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo, você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: � Conhecer a definição de agronegócio. � Explicar quais são os principais fatores associados ao contexto do agronegócio. � Apontar as diferenças entre sistema agroindustrial, cadeia agroindustrial e complexo agroindustrial. � Diferenciar importantes fatores associados ao contexto do agronegócio. 10 Administração Rural 11 Introdução à Problemática Estudada Capítulo 1 Contextualização Neste capítulo pretendemos introduzir quais são os principais fatores que possuem relação com a principal temática do nosso livro. Assim, ao final deste capítulo, você será capaz de identificar e compreendersobre definição de agronegócio; sistemas agroindustriais; cadeias agroindustriais; complexos agroindustriais; principais agentes envolvidos no campo dos negócios que são desenvolvidos em torno do setor agropecuário, assim como relevantes características envolvidas no setor agropecuário. Principais Características Ligadas ao Campo da Gestão Rural Para compreender a problemática envolvida no contexto do agronegócio, é preciso saber que o setor agropecuário (neste livro é usado o termo “agropecuário” para designar os setores inerentes à agricultura, pecuária, pesca e afins) não deve ser analisado como estando independente dos demais setores produtivos (ARAÚJO, 2007; BATALHA, 2014; ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000). A própria definição do termo “agronegócio” carrega o carácter de dependência entre o setor agropecuário, tal como destacam dois autores vinculados a esta temática no Brasil: Agronegócio é o conjunto de todas as operações e transações envolvidas desde a fabricação dos insumos agropecuários, das operações de produção nas unidades agropecuárias, até o processamento e distribuição e consumo dos produtos agropecuários “in natura” ou industrializados (ARAÚJO, 2007, p. 16). Agronegócio é a soma de todas as operações de produção e distribuição de suprimentos agrícolas, as operações de produção nas unidades agrícolas, do armazenamento e distribuição dos produtos agrícolas e itens produzidos a partir deles (BATALHA, 2014, p. 5). Portanto, está implícito nestas definições o fato das análises a respeito do setor agropecuário serem feitas mediante junção de outros setores. O setor agropecu- ário não deve ser analisado como es- tando independente dos demais setores produtivos. 12 Administração Rural Os Segmentos da Produção Agropecuária A noção de conjunto implícita às operações agropecuárias fica melhor compreendida a partir de uma visão sistêmica sobre as três dimensões associadas ao agronegócio, que são: a) Segmento antes da porteira ou a montante da produção agropecuária. b) Segmento dentro da porteira ou produção agropecuária propriamente dita. c) Segmento fora da porteira ou a jusante da produção agropecuária. Vamos conhecer melhor cada uma dessas dimensões? Então, vamos lá! a) Segmento antes da porteira No segmento antes da porteira são realizadas as operações vinculadas à produção dos insumos que são necessários à produção agropecuária em geral, como por exemplo, fertilizantes, defensivos agrícolas, ração e material genético, medicamento veterinário, sementes, implementos e máquinas agrícolas. Este segmento pode ser dividido em dois subsetores diferentes. Um deles se refere à disponibilização e produção de insumos para o agronegócio. Já o outro diz respeito à prestação de serviços direcionados para o agronegócio (CALLADO, 2015). No Brasil, importantes instituições têm se destacado por apoiar o setor agropecuário do país a se desenvolver, bem como também o agronegócio como um todo, tais quais são alguns exemplos: universidades com faculdades com foco em Ciências Humanas, Exatas e Ciências Agrárias; grupos de pesquisa (PENSA, GEPAI); institutos de pesquisa (IAC, Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural e as diversas ramificações da EMBRAPA com especialidades específicas, como por exemplo, milho e sorgo, café, meio ambiente, entre outros). Afora estes, outras instituições também contribuem apoiando o desenvolvimento da agropecuária do Brasil, como por exemplo, de acordo com Callado (2015): a) Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. b) Secretarias estaduais de agricultura / produção rural. c) Ministério de Ciência e Tecnologia. No segmento antes da porteira são realizadas as operações vinculadas à produção dos insumos que são necessários à produção agropecuária em geral, como por exemplo, fertilizantes, defensivos agrícolas, ração e material genético, medicamento veterinário, sementes, implementos e máquinas agrícolas. 13 Introdução à Problemática Estudada Capítulo 1 b) Segmento dentro da porteira No segmento dentro da porteira são efetuadas as operações de produção agropecuária propriamente dita (CALLADO, 2015), por exemplo, de acordo com este autor: • Atividades pecuárias, como bovinocultura, avicultura, bubalinocultura, ovinocultura, suinocultura. • Atividades agrícolas, tais quais as tarefas envolvidas desde o plantio até a colheita de milho, soja e sorgo. • Serviços, como turismo rural, suporte técnico / laboratorial, consultoria / assessoria. c) Segmento depois da porteira Já no segmento depois da porteira são realizadas as operações de armazenamento, beneficiamento, industrialização e embalagem, por exemplo (ARAÚJO, 2005). Tal como aponta Callado (2015), este segmento se vincula a todas atividades que estão associadas à comercialização e distribuição dos produtos agroindustriais até que cheguem aos consumidores finais. De acordo com este autor, o segmento depois da porteira é subdividido em dois subsetores, que são logística e canais de comercialização. Tal como salientam os autores (ARAÚJO, 2005; CALLADO, 2015), o processo de comercialização dos produtos associados ao agronegócio pode ser composto por oito níveis mais frequentes, tais como mencionados a seguir e tal como descrito abaixo, na Figura 1. Nível 1: produtores rurais. Nível 2: intermediários (primários, secundários, terciários etc.). Nível 3: agroindústrias, concentradores e mercados dos produtores. Nível 4: representantes, distribuidores e vendedores. Nível 5: atacadistas, bolsas de mercadorias, governos, centrais de abastecimento etc. Nível 6: feiras livres, pontos de venda, supermercados e exportação. Nível 7: consumidores. Nível 8: importação. No segmento dentro da porteira são efetuadas as operações de pro- dução agropecuária propriamente dita. Já no segmento depois da porteira são realizadas as operações de armazenamento, beneficiamento, industrialização e embalagem, por exemplo. 14 Administração Rural Figura 1 - Fluxo dos produtos através dos diversos níveis de comercialização Fonte: Adaptado de Araújo (2005 apud CALLADO, 2015). Visão Sistêmica do Agronegócio Segundo os autores (ARAÚJO, 2007; BATALHA, 2014; CALLADO, 2015), compreender os mecanismos de interação destes segmentos através de uma visão sistêmica do agronegócio permite: a) Compreensão do funcionamento da atividade agropecuária. b) Formulação de estratégias corporativas. c) Melhor precisão para antecipar tendências. Para compreender de forma ampla todo o contexto vinculado à problemática aqui estudada, faz-se necessário entender o que são cadeias, complexos e sistemas agroindustriais. Segundo (BATALHA, 2009; 2014), é muito frequente se confundir quanto às definições das expressões sistema agroindustrial, complexo agroindustrial e cadeia agroindustrial. 15 Introdução à Problemática Estudada Capítulo 1 Sistema, Cadeia e Complexo Agroindustrial De acordo com Batalha (2014), Sistema Agroindustrial é a soma de atividades que competem para a produção de produtos agroindustriais. Isso desde a produção dos insumos (sementes, máquinas agrícolas, adubos) até a chegada do produto final (massas, queijo, biscoito) ao consumidor. Sistemas Agroindustriais não estão vinculados, especificamente, a nenhum produto final ou matéria-prima. Para Farina (1999), Sistemas Agroindustriais são definidos como agrupamentos de contratos que possibilitam a viabilidade das estratégias de negócio entre os vários agentes que atuam no agronegócio. Complexos Agroindustriais, por sua vez, partem de uma matéria-prima como base, a exemplo: complexo leite, cana, soja. A arquitetura do complexo agroindustrial é regida pela “explosão” da matéria-prima principal que a originou, de acordo com os distintos processos comerciais e industriais que ela pode passar até se transformar nos distintos produtos finais (BATALHA, 2014). SegundoZylbersztajn e Neves (2000, p. 9), cadeia de produção pode ser entendida como: [...] uma sequência de operações que conduzem à produção de bens. Sua articulação é amplamente influenciada pela fronteira de possibilidades ditadas pela tecnologia e é definida pelas estratégias dos agentes que buscam a maximização dos seus lucros. As relações entre os agentes são de interdependência ou complementariedade e são determinadas por forças hierárquicas. Em diferentes níveis de análise a cadeia é um sistema, mais ou menos capaz de assegurar sua própria transformação. Portanto, Cadeia de Produção Agroindustrial está vinculada a um produto principal final, sendo a cadeia uma parte segmentada do próprio Sistema Agroindustrial. Em Cadeias Agroindustriais existe uma ênfase das relações estabelecidas entre indústria de transformação, agropecuária e distribuição circunscritas ao produto principal da cadeia (FARINA, ZYLBERSTAJN, 1992). a) Principais características associadas às cadeias agroindustriais Para Morvan (1988 apud BATALHA, 2014), existem três fatores que estão vinculados à caracterização de uma cadeia de produção. Para o autor, uma cadeia de produção pode ser caracterizada como: 16 Administração Rural • Um prosseguimento de operações de transformação que são dissociáveis. Tais operações podem ser ligadas e separadas entre elas mesmas através de um encadeamento técnico. • Um agrupamento de relações financeiras e comerciais. Estas ditam, no conjunto dos diferentes estados de transformação, fluxos de trocas, que ocorrem de montante a jusante, entre clientes e fornecedores. • Um somatório de ações econômicas que asseguram o desenvolvimento das operações e ditam a valoração dos meios de produção. A exemplo, Batalha (2014) cita as cadeias de produção da margarina e do requeijão. Apesar de partir de um mesmo produto (o leite), cada uma possui operações comerciais, técnicas e logísticas que são distintas e necessárias para a produção de cada um dos produtos. Portanto, sistema agroindustrial pode ser visto como formado por complexos agroindustriais. Complexos agroindustriais, por sua vez, são formados por cadeias de produção Agroindustriais (BATALHA, 2014). O conhecimento dos principais elementos constituintes das Cadeias Agroindustriais pode contribuir para o melhor entendimento de seu funcionamento. Entre tais elementos, citam-se seus principais macrossegmentos, seus principais elos e seus principais mercados. De acordo com Batalha (2014), uma cadeia de produção agroindustrial pode ser segmentada, de jusante a montante, em três macrossegmentos, que são: • Produção de matéria-prima: agrega às empresas que oferecem matérias- primas iniciais para outras empresas darem continuidade ao processo de produção do produto final (agricultura, pesca, pecuária, piscicultura etc.) • Industrialização: diz respeito às empresas que transformam matérias-primas em produtos finais, que possuem como destino o mercado consumidor. Por consumidor entende-se tanto unidades familiares como também uma agroindústria, por exemplo. • Comercialização: está relacionada às empresas que mantêm contato com o cliente estabelecido no elo final da cadeia de produção. Estão a cargo somente da logística de distribuição, tornando possíveis o comércio dos produtos finais e também o consumo. Como exemplo, citam-se restaurantes, supermercados e padarias. Geralmente, cadeias de produção agroindustriais possuem sete principais elos, que são, de acordo com Batalha (2014), produtores, processadores, atacadistas, distribuidores, prestadores de serviço, varejistas e consumidores. 17 Introdução à Problemática Estudada Capítulo 1 Para o autor, envolvidos nestes elos existem quatro tipos de mercados muito distintos, que são os mercados mantidos entre produtores e indústrias de insumos; produtores e agroindústria; agroindústria e distribuidores; distribuidores e consumidores. Para exemplificar, apresentamos a Figura 2, que representa um modelo de duas cadeias industriais envolvidas no processo de produção de três produtos, tal como mencionada por Batalha (1995; 2014). Figura 2 – Exemplo de duas cadeias de produção agroindustriais quaisquer envolvidas na produção de três produtos quaisquer Fonte: Adaptado de Batalha (1995; 2014). Por este exemplo, em que as operações explanadas na figura podem ser, do ponto de vista conceitual, de origens técnica, comercial ou logística, outros fatores ficam claros no que diz respeito às Cadeias de Produção. Um ponto é que o mesmo produto pode estar vinculado a mais de uma cadeia. Outro fato é que nem sempre há linearidade nas cadeias agroindustriais. No exemplo, a operação sete pode ser seguida das operações nove e doze ou da operação dez, que originam, respectivamente, os produtos um e dois. Outro ponto é que a lógica de encadeamento das Cadeias Agroindustriais, tal como afirmado, sempre ocorre de jusante a montante (BATALHA, 2014). 18 Administração Rural Neste contexto, de acordo com Batalha (2014), a articulação entre os agentes da cadeia ocorre basicamente por duas vias, independentemente do grau de competitividade entre os agentes. Uma delas é via articulação horizontal, que busca identificar as organizações de representação dos agentes que podem cumprir um papel fundamental no estabelecimento de ações articuladas de interesse comum. A outra é via articulação vertical, onde empresas processadoras podem individualmente coordenar estruturas de governança. • Estrutura de governança nas cadeias agroindustriais De acordo com vários autores especialistas nesta temática (ARAÚJO, 2007; BATALHA, 1995; 2014; SILVA, 1995; CALLADO, 2015; FARINA, 1999; SYLBERSZTAJN; FARINA, 2001; ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000), um dos principais desafios envolvidos no campo das cadeias agroindustriais reside justamente no âmbito do gerenciamento das estruturas de governança de cadeias agroindustriais. De acordo com Araújo (2007), a coordenação de uma cadeia produtiva, também denominada “estrutura de governança”, diz respeito à estrutura dominante na cadeia. Tal estrutura é dominante porque é ela que orienta e interfere em todo o processo produtivo e comercial. Tal dominação pode ocorrer de maneira frágil ou intensa, podendo determinar desde o modo de produção até o de comercialização dos produtos. De acordo com os autores (ARAÚJO, 2007; ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000), existem dez principais estruturas de coordenação em uma cadeia de produção agroindustrial, que são: – Mercados. – Agências de estatística. – Mercados futuros. – Agências e programas governamentais. – Firmas individuais. – Tradings. – Cooperativas. – Integrações. – Joint ventures. – Tecnologia. Dada a existência de uma imensidade de fluxos de produtos e de informações no decorrer das cadeias agroindustriais, recomenda-se analisá-las com base em um foco sistêmico baseado na noção de Commodity System Approach. A abordagem sistêmica reconhece e enfatiza a interdependência dos componentes do sistema (BATALHA, 2009; 2014). Existem cinco aspectos muito associados à aplicação da abordagem sistêmica no estudo das cadeias agroindustriais que devem ser levados em consideração, que são, tal como os autores Batalha (2014) e Souza-Filho (2009) enfatizam: Um dos principais desafios envolvidos no campo das cadeias agroindustriais reside justamente no âmbito do gerenciamento das estruturas de governança de cadeias agroindustriais. 19 Introdução à Problemática Estudada Capítulo 1 – Coordenação dentro da cadeia, inerente à própria definição de uma estrutura de coordenação/governança adequada. – Orientação pela demanda, já que as condições de demanda (quantidade, qualidade, preço etc.) em um macrossegmento da cadeia agroindustrial geram informações e condicionantes que determinam as características dos fluxos de produtos e serviços no macrossegmento a montante deste primeiro. – Verticalidade, jáque a dinâmica de funcionamento de um macrossegmento da cadeia agroindustrial, nos seus aspectos tecnológicos, comerciais, sociais, logísticos etc., é frequentemente influenciada pelas condições estabelecidas em outro macrossegmento, em que são encontrados a montante ou a jusante deste primeiro. – Alavancagem, já que a análise sistêmica busca identificar pontos-chave na sequência produção-distribuição-consumo onde ações podem ajudar a melhorar a eficiência de um grande número de participantes da cadeia de uma só vez. – Competitividade entre os canais, já que um sistema pode envolver mais que um canal de suprimento ou distribuição (por exemplo, exportação e mercado doméstico), restando à análise sistêmica buscar entender os mecanismos de competição entre os canais e examinar como alguns canais podem ser criados para melhorar o desempenho econômico do sistema estudado. Nesse contexto, o enfoque sistêmico em cadeias agroindustriais ajuda na compreensão dos fatores associados aos Sistemas Agroindustriais, como por exemplo, oferecimento de arcabouço teórico para compreensão da forma como os sistemas agroindustriais funcionam e sugestão das variáveis que afetam o desempenho dos Sistemas Agroindustriais (BATALHA, 2009; 2014). b) Principais elementos associados aos sistemas agroindustriais A compreensão da abrangência dos Sistemas Agroindustriais passa, necessariamente, pelo conhecimento dos principais elementos que os constituem, como por exemplo, atores envolvidos e a interferência dos ambientes institucional e organizacional (ZYLBERSZTAJN, 2005). Para isso, a Figura 3 apresenta um modelo de Sistema Agroindustrial. O enfoque sistêmico em cadeias agroin- dustriais ajuda na compreensão dos fa- tores associados aos Sistemas Agroindus- triais, como por exem- plo, oferecimento de arcabouço teórico para compreensão da forma como os siste- mas agroindustriais funcionam e sugestão das variáveis que afetam o desempe- nho dos Sistemas Agroindustriais. 20 Administração Rural Figura 3 - Modelo de Sistema Agroindustrial Fonte: Adaptado de Zylbersztajn (2005). Para os autores Zylbersztajn (2005) e Zylbersztajn e Neves (2000), o Sistema Agroindustrial é composto por seis atores, que são: • Produção agropecuária. • Atacado. • Varejo. • Indústria de insumos. • Consumidores. • Indústria distribuidora. Estes atores agem influenciados por dois ambientes distintos: institucional e organizacional. Tais ambientes não são neutros nos Sistemas Agroindustriais. O ambiente institucional é o que “detém as regras do jogo”. É no ambiente institucional que se formam a integração social e econômica envolvidas no Sistema Agroindustrial. São pertinentes a este ambiente os sistemas legais, as tradições e os costumes, as políticas públicas, monetárias, fiscais, tributárias, comerciais, por exemplo. Já o ambiente organizacional oferece suporte ao Sistema Agroindustrial. Contribui para que o mesmo funcione pela provisão de bens e serviços. Fazem parte deste ambiente: empresas, universidades, cooperativas e associações de produtores, por exemplo (FARINA, 1999; ZYLBERSZTAJN, 2005; ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000). Envolvidos nestes dois ambientes, os atores do Sistema Agroindustrial mantêm relações internas de cooperação e conflito. Tais relações ocorrem por meio de transações diversas, por exemplo, via mercado spot, via contratos e O Sistema Agroindustrial é composto por seis atores. 21 Introdução à Problemática Estudada Capítulo 1 via integração. Nos Sistemas Agroindustriais, os tipos de relacionamentos, bem como os tipos das transações, estão muito relacionados ao comportamento dos seus agentes e também aos atributos das transações (ZYLBERSZTAJN, 2005; ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000). No Sistema Agroindustrial, dois aspectos devem ser levados em consideração para se analisar o comportamento dos seus agentes. Um deles é a questão da racionalidade limitada dos agentes que estão inseridos no Sistema Agroindustrial. Isso porque estão envolvidos em um ambiente complexo e não possuem poder de acesso a todas as informações necessárias para decisões mais eficientes. O outro está vinculado ao oportunismo dos agentes frente a possíveis oportunidades de negócio confrontadas com os acordos previamente firmados. Entre as principais razões apontadas para que não haja quebra de contratos, por exemplo, estão a garantia legal, manutenção da reputação e permanência de atitudes baseadas em princípios éticos (ZYLBERSZTAJN, 2005; ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000). • Transações nos sistemas agroindustriais As transações no Sistema Agroindustrial estão vinculadas a três principais tipos de atributos: incertezas, frequências (número de vezes que os agentes realizam transações), especificidade dos ativos. Basicamente, os ativos podem ser específicos de seis formas diferentes, tendo, assim, os seguintes tipos de especificidades: marca, humana, física, dedicada, geográfica e temporal (FARINA, 1999; ZYLBERSZTAJN, 2005; ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000). No contexto dos Sistemas Agroindustriais, geralmente as especificidades temporal e geográfica são as principais. Comumente, quando há baixa especificidade dos ativos, as transações ocorrem via mercado spot e quanto há alta especificidade as transações ocorrem via contratos, híbrida ou hierárquica, por exemplo (ZYLBERSZTAJN, 2005; ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000). Nas transações efetuadas nos Sistemas Agroindustriais podem ocorrer diferentes custos de transações. Tais custos possuem relação direta com o tipo de relacionamento que é estabelecido entre os agentes e também com os atributos das transações. Isso implica a necessidade de sistemas eficientes de governanças e comercialização nos Sistemas Agroindustriais (ZYLBERSZTAJN, 2005; ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000). A forma de governança eficiente advém do conjunto entre as características das transações e os pressupostos comportamentais dos agentes. Na medida em que se aumenta a especificidade dos ativos, o mercado convencional acaba não sendo mais As transações no Sistema Agroindus- trial estão vinculadas a três principais tipos de atributos. No contexto dos Sistemas Agroindus- triais, geralmente as especificidades temporal e geográfica são as principais. 22 Administração Rural a melhor opção. Assim, é necessário um controle maior. Para isso, frequentemente as alternativas residem na opção pela integração vertical e também pela estruturação de contratos que asseguram pontos mais específicos estabelecidos entre os agentes envolvidos. Neste cenário, é necessário se conhecer, em detalhes, as características das transações e organizá-las para se obter economia nos custos de transação. Para se elaborar contratos eficientes, é essencial que se conheça a natureza das transações (ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000). Para aprofundamento nos estudos sobre Sistemas Agroindustriais, sugerimos a leitura dos seguintes artigos: FARINA, E. M. M. Q. Competitividade e coordenação de sistemas agroindustriais: um ensaio conceitual. Gestão e Produção, v. 6, n. 3, p. 147–161, 1999. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ gp/v6n3/a02v6n3.pdf>. Acesso em: 3 jun. 2017. ZYLBERSZTAJN, D. Papel dos contratos na coordenação agroindustrial: um olhar além dos mercados. Revista de Economia e Sociologia Rural, v. 43, n. 3, p. 385-420, 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/resr/v43n3/27739.pdf>. Acesso em: 3 jun. 2017. • Categorias de sistemas agroindustriais Diante deste contexto, dada a vastidão de abrangência do setor agropecuário, os principais autores do Brasil (ARAÚJO, 2007; BATALHA, 2014; CALLADO, 2015; FARINA, 1999; QUEIROZ; ZUIN, 2006; ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000), que atuam com agronegócio, afirmam que os SAG (Sistemas Agroindustriais) são divididos em duas distintas categorias. Uma delas é denominada de Sistema Agroindustrial Alimentar, que está vinculada às operações e aos processos associados à produção alimentar.A outra categoria é denominada Sistema Agroindustrial não Alimentar, que está associada às operações e processos ligados à produção de bens derivados da produção agropecuária, mas que não se destinam à alimentação, como por exemplo, têxtil, papel e celulose, couros, fumos, madeiramento para construção civil, entre outros. Tanto um tipo quanto outro de Sistemas Agroindustriais são amparados pelas chamadas “Indústrias de Apoio”, tal como exemplos salientados por Batalha (2014): transporte, combustível e mecânica. Diante deste contexto, dada a vastidão de abrangência do setor agropecuário, os principais autores do Brasil, que atuam com agronegócio, afirmam que os SAG (Sistemas Agroindustriais) são divididos em duas distintas categorias. 23 Introdução à Problemática Estudada Capítulo 1 Tal como este capítulo deixa claro, o setor agropecuário não pode ser analisado de modo independente. Existem fluxos de produtos, serviços, operações e informações no decorrer das cadeias e sistemas agroindustriais que devem ser conhecidos e gerenciados para que haja maior eficiência nas transações efetuadas entre os agentes que os compõem. Portanto, é o trabalho em sinergia entre os agentes envolvidos no decorrer das cadeias e dos sistemas agroindustriais que pode contribuir de maneira decisiva para a alavancagem do setor agropecuário, e também dos outros setores que estão vinculados a este setor. Para aprofundar os estudos sobre os tópicos discutidos neste capítulo, sugerimos a leitura dos seguintes livros: BATALHA, M. O. Gestão agroindustrial 1. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2014. ZYLBERSZTAJN, D.; NEVES, M. F. Economia e gestão dos negócios agroalimentares. São Paulo: Pioneira, 2000. ARAÚJO, M. J. Fundamentos de agronegócios. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2007. CALLADO, A. A. C. Agronegócio. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2015. Atividades de Estudos: 1) O que é agronegócio? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2) O que é uma cadeia de produção? ____________________________________________________ ____________________________________________________ O setor agropecu- ário não pode ser analisado de modo independente. 24 Administração Rural ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 3) O que são Sistemas Agroindustriais? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 4) O que são Complexos Agroindustriais? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 5) Quais são os ambientes envolvidos nos Sistemas Agroindustriais e como são compostos? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Algumas Considerações Neste momento de encerramento do nosso primeiro capítulo, esperamos que você tenha compreendido os seguintes aspectos vinculados ao agronegócio para conseguirmos dar prosseguimento aos nossos estudos: As decisões tomadas no decorrer dos sistemas de produção agropecuário devem levar em consideração que este setor não está isolado dos demais setores produtivos. 25 Introdução à Problemática Estudada Capítulo 1 Existe diferença entre Sistema Agroindustrial, Cadeia Agroindustrial e Complexo Agroindustrial: Sistema agroindustrial pode ser visto como formado por complexos agroindustriais. Complexos agroindustriais, por sua vez, são formados por cadeias de produção agroindustriais. A sinergia entre os agentes das cadeias agroindustriais pode contribuir para a melhoria das eficiências específicas. Referências ARAÚJO, M. J. Fundamentos do gronegócio. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2005. ______. Fundamentos de gronegócios. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2007. BATALHA, M. O. As cadeias de produção agroindustriais: uma perspectiva para o estudo das inovações tecnológicas. Revista de Administração, v. 30, n. 4, p. 43–50, 1995. ______. Gestão agroindustrial. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2009. ______. Gestão agroindustrial 1. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2014. BATALHA, M. O.; SILVA, A. L. da. Marketing & agribusiness: um enfoque estratégico. Revista de Administração de Empresas, v. 35, n. 5, p. 30–39, 1995. BATALHA, M. O.; SOUZA-FILHO, H. M. Agronegócio no Mercosul: uma agenda para desenvolvimento. São Paulo: Atlas, 2009. CALLADO, A. A. C. Agronegócio. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2015. FARINA, E. M. M. Q. Competitividade e coordenação de sistemas agroindustriais: um ensaio conceitual. Gestão e Produção, v. 6, n. 3, p. 147–161, 1999. FARINA, E. M. M. Q.; ZYLBERSTAJN, D. Organização das cadeias agroindustriais de alimentos. In: ENCONTRO NACIONAL DE ECONOMIA, 20, 1992, Campos de Jordão. Anais... São Paulo: 1992. p. 189-207. QUEIROZ, T. R.; ZUIN, L. F. S. Agronegócios – gestão e inovação. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. 26 Administração Rural SYLBERSZTAJN, D.; FARINA, E. M. M. Q. Projeto: diagnóstico sobre o sistema agroindustrial de cafés especiais e qualidade superior do estado de Minas Gerais. São Paulo: Universidade de São Paulo (PENSA) / SEBRAE, 2001. ZYLBERSZTAJN, D. Papel dos contratos na coordenação agroindustrial: um olhar além dos mercados. Revista de Economia e Sociologia Rural, v. 43, n. 3, p. 385-420, 2005. ZYLBERSZTAJN, D.; NEVES, M. F. Economia e gestão dos negócios agroalimentares. São Paulo: Pioneira, 2000. CAPÍTULO 2 Administração no Contexto do Agronegócio A parti da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: � Descrever quais são os principais fatores associados ao campo da administração, bem como suas principais teorias e evolução no decorrer do tempo. � Explicar como o planejamento estratégico pode contribuir para o sucesso das organizações gerenciadas. � Conhecer quais são as características que devem ser levadas em consideração ao se efetuar o gerenciamento e planejamento de propriedades rurais. � Elaborar um planejamento estratégico no contexto do segmento agropecuário. � Propor alternativas para gerenciamento de propriedades rurais considerando as principais especificidades presentes no semento agropecuário. 28 Administração Rural 29 Administração no Contexto do Agronegócio Capítulo 2 Contextualização Neste capítulo daremos destaque para dois pontos essenciais no universo da Administração. O primeiro diz respeito às principais teorias e enfoques da administração e que acabam por oferecer subsídios na gestão rural, tais quais: Escola Clássica, Enfoque Comportamental, Enfoque Sistêmico, Enfoque da Qualidade e Modelo Japonês de Administração. Já o segundo ponto é vinculado ao primeiro, uma vez que abordamos sobre planejamento e empreendedorismo, dando destaque para: processo de planejamento estratégico e principais fatores a serem considerados no planejamento de propriedades rurais. Entendendoo Ambiente da Gestão O conceito de administração é muito similar entre diversos autores da área. As proximidades das definições ocorrem da seguinte forma, tal como o levantamento feito por Chiavenato (2011, p. 4): O processo de alcançar objetivos pelo trabalho com e por intermédio de pessoas e outros recursos organizacionais (Definição de Samuel C. Certo); O ato de trabalhar com e por intermédio de outras pessoas para realizar os objetivos da organização, bem como de seus membros (Definição de Patrick J. Montana e Bruce H. Charnov); O processo de planejar, organizar, liderar e controlar o trabalho dos membros da organização e utilizar todos os recursos organizacionais disponíveis para alcançar objetivos organizacionais definidos (Definição de James A. F. Stoner, R. Edward Freeman e Daniel A. Gilbert); O alcance de objetivos organizacionais de maneira eficaz e eficiente graças ao planejamento, à organização, à liderança e ao controle dos recursos organizacionais (Definição de Richard L. Daft); O processo de planejar, organizar, liderar e controlar o uso de recursos para alcançar objetivos de desempenho (Definição de John R. Schermerhorn). Portanto, tal como enfatizado pelas definições apresentadas, as principais similaridades envolvendo o conceito de administração envolvem pessoas trabalhando e sendo guiadas pelo alcance de objetivos predefinidos, de modo organizado e planejado. O conceito de administração é muito similar entre diversos autores da área. 30 Administração Rural a) Teorias administrativas Desde o início dos estudos associados a esta temática, diversas teorias contribuíram para o avanço da administração. A Escola Clássica da Administração é a grande propulsora dos estudos no campo da administração. Tal como ilustrado pela figura a seguir, e de acordo com Maximiano (2000), esta escola tem como base quatro principais profissionais: Frederick Taylor, Henry Ford, Henri Fayol e Max Weber, cada um deles com suas ênfases específicas. A Escola Clássica da Administração é a grande propulsora dos estudos no campo da administração. Existem muitas teorias envolvendo os estudos em Administração, tal como demonstrado pelo quadro a seguir. Figura 4 - Principais formadores da Escola Clássica da Administração Fonte: Adaptado de Maximiano (2000). Existem muitas teorias envolvendo os estudos em Administração, tal como demonstrado pelo quadro a seguir: 31 Administração no Contexto do Agronegócio Capítulo 2 Quadro 1 - Principais Teorias Administrativas: Principais Ênfases e Enfoques Fonte: Adaptado de Chiavenato (2011). Teorias administrativas Principal ênfase Principais enfoques Administração Científica Nas tarefas Racionalização do trabalho no nível operacional. Teoria Clássica Na estrutura Organização formal. Teoria Neoclássica Princípios gerais da administração, funções do administrador. Teoria da Burocracia Organização formal burocrática, racionalidade organizacional. Teoria Estruturalista Múltipla abordagem em: organização formal e informal; análise intraorganizacional e interorga- nizacional. Teoria das Relações Humanas Nas pessoas Organização formal. Motivação, liderança, comu- nicações e dinâmica de grupo. Teoria do Comportamento Organizacional Estilos de Administração. Teoria das decisões, integração dos objetivos organizacionais e individuais. Teoria do Desenvolvimento Organizacional Mudança organizacional planejada, abordagem de sistema aberto. Teoria Estruturalista No ambiente Análise intraorganizacional e análise ambiental. Abordagem de sistema aberto. Teoria da Contingência Análise ambiental (imperativo ambiental). Abor- dagem de sistema aberto. Teoria da Contingência Na tecnologia Administração da tecnologia (imperativo tecno- lógico). Novas abordagens na Administração Na competitivi- dade Caos e complexidade. Aprendizagem organiza- cional. Capital intelectual. Tal como afirma Maximiano (2000), existem muitos pensamentos básicos envolvendo as diferentes vertentes estudadas em Administração. Muitos possuem relação entre si, sendo que alguns contribuíram para o surgimento de fortes correntes administrativas, tal como mostra a figura a seguir. 32 Administração Rural Figura 5 – Principais ideias envolvendo o campo dos estudos em Administração: evolução e interligação Fonte: Adaptado de Maximiano (2000). Assim, diante desta figura, afirma-se que as principais características dos principais enfoques mencionados são, tal como mencionado pelo autor: • Enfoque comportamental: tem como principais áreas de interesse os seguintes aspectos associados ao comportamento e às diferenças individuais: percepção, personalidade, competências (conhecimentos; aptidões e habilidades; atitudes, interesses e valores), estilos em relação à liderança e à motivação. No que diz respeito ao comportamento coletivo e aos processos interpessoais, foca principalmente nos seguintes aspectos: cultura organizacional, clima organizacional, grupos informais, processo de comunicação, de liderança e de motivação (MAXIMIANO, 2000). • Enfoque sistêmico: suas principais bases consideram que a organização é um sistema composto por partes técnicas e sociais; sistemas influenciam-se de forma mútua; existe um ambiente que cerca a organização; o papel da administração é zelar pelo desempenho global do sistema (MAXIMIANO, 2000). • Enfoque da qualidade: o enfoque da qualidade possui três principais eras com características muito peculiares. A primeira é a era da inspeção, em que produtos são 33 Administração no Contexto do Agronegócio Capítulo 2 verificados um a um; cliente participa da inspeção; inspeção encontra defeitos, mas não produz qualidade. A segunda é a era do controle estatístico, em que produtos são verificados por amostragem; departamento especializado faz controle da qualidade; ênfase na localização de defeitos. Já a terceira é a era da qualidade total, tendo como foco o processo produtivo controlado; toda a empresa é responsável pela qualidade; ênfase na prevenção de defeitos; qualidade assegurada com base em sistema de administração da qualidade (MAXIMIANO, 2000). • Modelo japonês de administração: de forma geral, pode se afirmar que as bases do modelo japonês de administração derivam do próprio Sistema Toyota de produção. Este, por sua vez, sofre forte influência do Sistema Ford de produção, da Administração Científica, do modelo de Qualidade Total e das próprias bases culturais do Japão (MAXIMIANO, 2000). Para aprofundamento nos estudos sobre teorias e enfoques da administração, sugerimos a leitura dos seguintes livros: CHIAVENATO, I. Administração: teoria, processo e prática. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. MAXIMIANO, A. C. A. Introdução à administração. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2000. b) Funções básicas da administração De forma geral, a maioria das correntes esbarram em quatro funções básicas para as ações que envolvem o gerenciamento. Estas funções são: • Planejamento, que está associado ao próprio planejamento das ações necessárias para se atingir os objetivos que são alvo de serem realizados. • Organização, que está vinculada à estruturação de todos os recursos (recursos humanos, equipamentos, capital etc.), que serão demandados para concretizar as ações envolvidas no planejamento. • Direção, que diz respeito ao processo de gerenciamento de todos os processos e etapas planejadas. De forma geral, a maioria das correntes esbarram em quatro funções básicas para as ações que envolvem o gerenciamento. 34 Administração Rural • Controle, que é relacionado ao acompanhamento do andamento do planejamento, identificando procedimentos errôneos para evitar repetições. Ao controle compete prever acontecimentos não desejados, tal como salientado por Ribeiro (2006). Neste sentido, uma vez que todas as etapas passam, necessariamente, pelo próprio planejamento,daremos ênfase agora a um dos mais importantes componentes do campo da Administração: o processo de planejamento estratégico. A partir da menção dos principais aspectos envolvendo o planejamento estratégico, oferecemos uma contextualização mais aproximada ao caso do planejamento no ambiente do agronegócio. Processo de Planejamento Estratégico O planejamento estratégico é uma das principais necessidades ligadas ao campo da gestão de qualquer empreendimento. Falhas ligadas ao planejamento estratégico são apontadas por especialistas (BATALHA, 2014; CHIAVENATO, 2006, 2011; DORNELAS, 2008; ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000) como sendo as principais causas de sérios problemas nas organizações. O planejamento estratégico possui muitos aspectos que são essenciais, dentre os quais se destacam (CHIAVENATO, 2011): a) É projetado no longo prazo. b) Envolve a empresa como um todo. c) Está voltado para as relações entre a empresa e seu ambiente de tarefa. No Brasil, mais de 50% das falências são ocasionadas por problemas como falta de planejamento estratégico ou erros em sua elaboração, implantação ou gestão. O planejamento estratégico possui vários elementos e características. Os principais estão vinculados ao próprio processo de planejamento estratégico. Para exemplificar a relação entre os seus elementos, as figuras a seguir apresentam exemplificações que se complementam, com base nos autores Chiavenato (2011) e Dornelas (2008): Falhas ligadas ao planejamento estratégico são apontadas por especialistas como sendo as principais causas de sérios problemas nas organizações. No Brasil, mais de 50% das falências são ocasionadas por problemas como falta de planejamento estratégico ou erros em sua elaboração, implantação ou gestão. 35 Administração no Contexto do Agronegócio Capítulo 2 Figura 6 – Etapas do Planejamento Estratégico Figura 7 – Processo de Planejamento Estratégico Fonte: Adaptado de Chiavenato (2011). Fonte: Adaptado de Dornelas (2008). Portanto, tal como salientado pelas duas últimas figuras, o processo de planejamento estratégico passa, necessariamente, pela definição de objetivos e pelas análises dos ambientes externo e interno, que são essenciais no processo de planejamento estratégico. Todo o trabalho desempenhado nesta tarefa não deve ser visto como estático, já que frequentemente são necessárias as revisões sobre decisões previamente tomadas. A seguir, tendo como base a Figura 7, abordaremos em detalhes cada uma das etapas do processo de planejamento estratégico. 36 Administração Rural a) Missão, visão e valores organizacionais A primeira etapa condizente ao planejamento estratégico é a definição da missão, da visão e dos valores e princípios do negócio. Tais definições são fundamentais para qualquer organização, pois servem como referência sobre o sentido da organização, como aspirações futuras e métodos de trabalho, por exemplo. A missão da organização deve expressar o seu “sentido de ser”, o “porquê” da sua existência, o que a empresa faz (DORNELAS, 2008). Para exemplificar, oferecemos declarações de missão das seguintes instituições: Disney, Banco do Brasil e Ford. • Disney: “alegrar as pessoas”. • Banco do Brasil: “a missão do Banco do Brasil é ser um banco rentável e competitivo, atuando com espírito público em cada uma de suas ações, junto a clientes, acionistas e toda sociedade”. • Ford: “somos uma família global e diversificada, com um legado histórico do qual nos orgulhamos e estamos verdadeiramente comprometidos em oferecer produtos e serviços excepcionais, que melhorem a vida das pessoas”. Já a visão expressa às aspirações futuras, o lugar em que a organização deseja chegar, a direção que a empresa pretende seguir (DORNELAS, 2008). No mesmo sentido, são oferecidos exemplos das mesmas instituições. • Disney: “criar um mundo onde todos possam se sentir crianças”. • Banco do Brasil: “nossa visão é a de ser o banco mais confiável e relevante para a vida dos clientes, funcionários e para o desenvolvimento do Brasil”. • Ford: “ser a empresa líder mundial na avaliação do consumidor em produtos e serviços automotivos”. Dadas as possíveis dúvidas existentes entre missão e visão organizacional, apresenta-se a Figura 8 para elucidação. A missão da organização deve expressar o seu “sentido de ser”, o “porquê” da sua existência, o que a empresa faz. Já a visão expressa às aspirações futuras, o lugar em que a organização deseja chegar, a direção que a empresa pretende seguir 37 Administração no Contexto do Agronegócio Capítulo 2 Figura 8 – Diferenças entre Missão e Visão Fonte: Adaptado de Chiavenato (2006). Já os princípios e valores afirmam sobre sua base de crença. Geralmente, a declaração de princípios e valores deixa claro sobre quais condições e termos a empresa atua, tal como exemplos das declarações da Disney e do Banco do Brasil. • Disney: “não ao ceticismo; criatividade, sonhos e imaginação; atenção fanática aos detalhes; preservação e controle da magia Disney”. • Banco do Brasil: “espírito público: consideramos simultaneamente o todo e a parte em cada uma de nossas ações para dimensionar riscos, gerar resultados e criar valor; Ética: é inspiração e condição de nosso comportamento pessoal e institucional; Potencial humano: acreditamos no potencial de todas as pessoas e na capacidade de um se realizar e contribuir para a evolução da sociedade; Eficiência: otimizamos permanentemente os recursos disponíveis para a criação de valor para todos os públicos de relacionamento; Inovação: cultivamos uma cultura de inovação como garantia de nossa perenidade; Visão do cliente: conhecemos os nossos clientes, as suas necessidades e expectativas e proporcionamos experiências legítimas que promovem relações de longo prazo e que reforçam a confiança na nossa marca”. Algumas empresas, em vez de declararem publicamente seus valores e princípios, optam por uma declaração da sua política de qualidade, visando atingir diretamente os interesses dos seus consumidores. Tal é o caso, por exemplo, da Ford, como exemplificado a seguir: Já os princípios e valores afirmam sobre sua base de crença Algumas empresas, em vez de declara- rem publicamente seus valores e princípios, optam por uma declaração da sua política de qualidade, visando atingir diretamente os interesses dos seus consumidores. 38 Administração Rural • Ford: “atingir continuamente resultados consistentemente melhores em termos de satisfação do consumidor com nossos produtos e serviços. Processos e pessoas têm sido e sempre serão a chave para conseguirmos estes resultados”. b) Análise dos ambientes interno e externo Definidas as declarações de missão, visão e valores, uma tarefa posterior fundamental no processo de planejamento estratégico é a análise dos ambientes interno e externo da organização, também conhecida como análise de SWOT. Na análise interna são feitas as ponderações sobre os pontos fortes e os pontos fracos circunscritos ao universo do controle da própria empresa. Para exemplificar uma forma básica de análise dos pontos fortes e fracos, o quadro a seguir monstra um checklist que pode ser útil neste tipo de análise. De acordo com o quadro, a análise do ambiente interno é feita com base em fatores que estão completamente ao controle da organização, em áreas diversas, tais como produção, marketing, finanças e produção, por exemplo. Para cada uma destas, são elencados elementos cujas interferências podem impactar positiva ou negativamente o desempenho do negócio. Definidas as declarações de missão, visão e valores, uma tarefa posterior fundamental no processo de planejamento estratégico é a análise dos ambientes interno e externo da organização, também conhecida como análise de SWOT. A análise do ambiente interno é feita com base em fatores que estão completamente ao controleda organização, em áreas diversas, tais como produção, marketing, finanças e produção, por exemplo. Quadro 2 – Checklist de pontos fortes e fracos 39 Administração no Contexto do Agronegócio Capítulo 2 Quadro 3 – Bases para análises do ambiente externo Fonte: Adaptado de Kotler (1998 apud DORNELAS, 2008). Já a análise externa é feita tendo como base critérios que não são controláveis pela organização. Entre alguns exemplos, estão acontecimentos nos contextos social, político e macroeconômico, que podem afetar de alguma forma o desempenho da empresa, mas que não tem poder de diminuir ou aumentar seus efeitos sobre o andamento dos seus negócios. Para exemplificar, o quadro a seguir mostra alguns casos de fatores associados à análise do ambiente externo. Já a análise externa é feita tendo como base critérios que não são controláveis pela organização. Cenário Oportunidades Ameaças Político legal 1- 1- 2- 2- Tecnológico 1- 1- 2- 2- Sociocultural 1- 1- 2- 2- 40 Administração Rural Econômico 1- 1- 2- 2- Demográfico 1- 1- 2- 2- Empresarial 1- 1- 2- 2- Ambiental 1- 1- 2- 2- Outros 1- 1- 2- 2- Fonte: Adaptado de Dornelas (2008). Tão importante quanto fazer esta análise interna e externa, é desenvolver uma análise criteriosa sobre os principais competidores do negócio, a fim de melhorar a sua performance no mercado. Para isso, a quadro a seguir oferece uma base de apoio. Quadro 4 – Base para análise dos principais concorrentes do negócio Atributos Seus diferenciais Diferenciais do competidos A Diferenciais do competidos B Diferenciais do competidos C Produtos / serviço Participação de mercado em vendas Canais de venda utilizados Qualidade Preço Localização Publicidade Performance Tempo de entrega Métodos de distribuição Garantias Capacidade de produção e atendimento da demanda Funcionários Métodos gerenciais Métodos de produção 41 Administração no Contexto do Agronegócio Capítulo 2 Fonte: Adaptado de Dornelas (2008). Saúde financeira Posicionamento estratégico Flexibilidade Tecnologia Pesquisa e desenvolvimento Vantagens competitivas Pontos fortes Pontos fracos c) Definição de objetivos e metas Derivadas das análises feitas nos ambientes interno e externo, estão as definições dos objetivos, das metas e das estratégias da organização. De acordo com Dornelas (2008), os objetivos e metas: • São o referencial do planejamento estratégico. • Ajudam a indicar o que a empresa busca atingir. • Devem ser mencionados de maneira transparente para que permita comparações, medições e avaliações. Os objetivos indicam os desejos organizacionais em nível macro, as intenções gerais da organização, bem como o caminho pelo qual a organização deve percorrer para conquistar o que procura. Os objetivos são estabelecidos com frases e palavras, bem como devem explanar resultados amplos que definam o compromisso da empresa em atingi-los. Além disso, os objetivos devem ser ambiciosos e expressando necessidades de esforços que superem a normalidade e sirvam para que a empresa os tenha como ponto de superação. Se assim não for, os objetivos não contribuirão para motivar os colaboradores da organização. As metas, por sua vez, são as ações específicas, medíveis, atingíveis, relevantes e temporais que devem ser tomadas para que se atinjam os objetivos estabelecidos. Dessa forma, um único objetivo pode ter mais de uma meta específica (DORNELAS, 2008). Com base neste autor, exemplos de objetivos são: • Conseguir a liderança de mercado. • Ser a empresa que oferece os menores preços. • Conquistar o retorno sobre o investimento em 30 meses. • Conquistar o ponto de equilíbrio em julho de 2018. Um único objetivo pode ter mais de uma meta específica. 42 Administração Rural d) Definição das estratégias No que diz respeito ao delineamento das estratégias, geralmente as mesmas estão vinculadas diretamente ao mercado em que a empresa atua. Existem diversos exemplos de estratégias. As mais comuns, tal como salienta Dornelas (2008), são direcionadas para penetração de mercado; manutenção de mercado; expansão de mercado; diversificação. e) Planos de ações e feedback Vale ressaltar que uma das etapas essenciais do processo de planejamento estratégico é a própria implantação dos planos de ações desenvolvidos. Em todo o processo deve-se dar atenção especial para as pessoas que estão envolvidas nas tarefas associadas, desde a elaboração até a implantação de cada ação. As pessoas envolvidas devem estar cientes sobre as implicações de suas funções. Para isso é necessário que haja sintonia e sinergia entre os profissionais das mais diversas áreas da empresa. É preciso deixar claro que cada ação tem como objetivo impactar positivamente o desempenho geral da organização, e não somente de um departamento funcional em específico. Diante disso, é de suma importância que todo o processo de planejamento estratégico seja organizado e gerenciado. Sobre todas as etapas são necessários acompanhamentos e monitoramentos constantes. Uma das formas mais eficientes para isso é o estabelecimento de rotineiros feedbacks entre todos os envolvidos nas implantações das diretrizes e ações. Feedbacks entre líderes e liderados contribuem para a diminuição das chances de repetição de possíveis insucessos e também otimizam as possibilidades de acertos mais precisos. Em algumas ocasiões, decisões sobre o planejamento estratégico podem incidir sobre alterações significativas em planos anteriormente formatados. Por este motivo, os feedbacks entre as partes envolvidas são tão importantes. Assim como demais peculiaridades inerentes às organizações, o planejamento estratégico deve ser algo “vivo” nas organizações, ou seja, uma vez feito, o mesmo deve ser sempre alimentado com base nas informações coletadas dos membros envolvidos e também em possíveis alterações estruturais nas organizações, bem como mudanças no ambiente externo que podem afetar de modo positivo ou negativo o desempenho das empresas. Caso seja bem desenvolvido, implantado, monitorado e gerenciado, o planejamento estratégico pode ajudar significativamente para o sucesso das organizações. Consequentemente, o planejamento estratégico também contribui para que haja menos chances de insucesso de organizações, sobretudo as que estão iniciando suas atividades. Existem diversos exemplos de estratégias. Os feedbacks entre as partes envolvidas são tão importantes. 43 Administração no Contexto do Agronegócio Capítulo 2 Planejamento no Contexto da Gestão Rural Dada a importância do planejamento na gestão das propriedades rurais, abordamos aqui alguns pontos que consideramos como de suma importância para elaboração do planejamento de propriedades rurais. Para isso, neste tópico, daremos destaque para fatores que impactam o gerenciamento tanto de grandes quanto de pequenas propriedades. No Brasil, a maioria dos estabelecimentos agropecuários são pertencentes a pequenos proprietários cujos perfis se enquadram no grupo dos agricultores familiares. De acordo com Lei nº 11.326, de 24 de julho de 2006 (BRASIL, 2006), que define agricultura familiar, é considerado como agricultor familiar no Brasil o produtor que: i) não possui área maior que quatro módulos fiscais; ii) emprega de forma predominante trabalho próprio ou familiar em sua propriedade, bem como renda predominante oriunda das atividades desenvolvidas na propriedade; iii) dirige sua propriedade (ALVARENGA; ARRAES, 2017). Com base em dados do Censo Agropecuário feito em 1996, Nantes e Scarpelli (2014) mencionam que aproximadamente 65% dos agropecuaristas do Brasil eram proprietários de estabelecimentos com até 20 hectares, tal como ilustra a figura a seguir. O perfil da extrema maioria destes proprietários está relacionadoà baixa adesão de tecnologia no campo, bem como à mão de obra e a renda é predominantemente familiar e provinda da atividade no campo. Neste tipo de propriedade, o proprietário gere atividades estabelecidas desde a produção até a comercialização dos produtos agropecuários (NANTES; SCARPELLI, 2014). A maioria dos estabelecimentos agropecuários são pertencentes a pequenos proprietá- rios cujos perfis se enquadram no grupo dos agricultores familiares. Figura 9 – Quantidade de estabelecimentos rurais no Brasil em 1996 Fonte: Adaptado de Nantes e Scarpelli (2014). 44 Administração Rural Para nos aprofundarmos neste universo, abordaremos agora importantes fatores que devem ser levados em consideração no planejamento das mais comuns propriedades rurais do Brasil. Para tanto, abordamos fatores mais associados às pequenas e às grandes propriedades, bem como elementos que devem ser considerados no planejamento de ambos os tipos. a) Consideração de fatores no contexto geral do planejamento rural Por mais que haja diferenças entre os portes das propriedades rurais, existem alguns fatores que são comuns na consideração do desenvolvimento de seus planejamentos. Tais fatores estão vinculados à/ao: especificidades da produção agropecuária, capacitação técnica e gerencial, possibilidade de agregação de valor aos produtos, informação constante, mitigação dos impactos ambientais. • Especificidades da produção agropecuária Tal como afirma Araújo (2007), existem três principais especificidades associadas à produção agropecuária, que são: sazonalidade da produção, influência de fatores biológicos e perecibilidade rápida dos produtos agropecuários. A produção agropecuária é completamente dependente das condições climáticas, que não são idênticas em todas as regiões produtoras. As condições climáticas implicam diretamente sobre o que se pode produzir e sobre a quantidade do que será produzido. As condições climáticas afetam também a comercialização dos produtos agropecuários, uma vez que não existe muita variação no decorrer do ano sobre as quantidades demandadas, que são relativamente constantes. Dessa forma, em função da sazonalidade da produção, frequentemente ocorrem algumas situações especificamente vinculadas aos mercados agrícolas, que são, por exemplo, variação de preço (épocas de safras com preços mais baixos e preços mais altos em situação inversa), necessidade de infraestrutura para estoque e conservação dos produtos agropecuários, épocas que se utilizam mais os insumos de produção e fatores de produção (mão de obra, equipamentos, agroquímicos, por exemplo), características específicas de transformação e processamento de matéria-prima (ARAÚJO, 2007). No que diz respeito à influência de fatores biológicos, estes também podem causar implicações em todos os ciclos envolvendo a produção agropecuária. Isso porque os produtos agropecuários são propícios para o ataque de pragas e doenças que causam diminuição nas quantidades produzidas e também na qualidade dos produtos ofertados. Frequentemente, em lavouras tradicionais não orgânicas, o combate às pragas e às doenças é feito com base na aplicação Por mais que haja diferenças entre os portes das propriedades rurais, existem alguns fatores que são comuns na consideração do desenvolvimento de seus planejamentos. Existem três principais especificidades associadas à produção agropecuária, que são: sazonalidade da produção, influência de fatores biológicos e perecibilidade rápida dos produtos agropecuários. 45 Administração no Contexto do Agronegócio Capítulo 2 do uso de agrotóxicos. A administração destes produtos implica diretamente os seguintes fatores: aumento dos custos de produção, aumento dos riscos para o meio ambiente e para a saúde dos trabalhadores, possibilidade de ocorrência de resíduos tóxicos nos produtos que são consumidos à mesa pelo consumidor (ARAÚJO, 2007). O terceiro fator, que se vincula à perecibilidade rápida dos produtos, causa implicações tanto no planejamento da quantidade a ser produzida quanto na quantidade que poderá ser comercializada. A vida útil dos produtos agropecuários é rápida. Em função disso, necessitam ser consumidos ou processados em um tempo muito curto para que consigam manter suas características. Neste aspecto, tão importante quanto produzir em quantidades satisfatórias é ter canais de comercialização já definidos capazes de absorver a produção sem que haja perda dos produtos por causa de excesso de tempo em estoque ou também desvantagem na negociação associada a alta oferta (ARAÚJO, 2007). • Capacitação técnica e gerencial O segmento agropecuário dentro da porteira passou por transformações no decorrer dos anos que deixaram sua operacionalização e gerenciamento tão exigente quanto organizações formais. A adoção de novas tecnologias nos campos contribuiu para que o Brasil atingisse patamares de excelência no cenário de produção agropecuária mundial. Os avanços ocorreram em etapas que estão circunscritas desde a produção até a comercialização. Neste contexto, é importante que os agentes envolvidos no gerenciamento rural estejam a par das tecnologias e inovações tecnológicas que estão associadas aos seus negócios. Quase sempre as adoções de novas tecnologias nos campos brasileiros acarretam redução nos custos de produção e também maior retorno financeiro, tão importante quanto é a capacitação gerencial, e não apenas técnica, dos envolvidos na administração rural. No Brasil, proprietários rurais, muitas vezes, dominam as técnicas que vão desde o plantio/cria até a colheita da matéria-prima produzida. Muitos agropecuaristas, contudo, não gerenciam suas propriedades tal como um negócio. Portanto, a capacitação gerencial de muitos agropecuaristas é ainda um gargalo para o agronegócio nacional. • Informação constante O principal fator implicante aqui é o uso da informação para tomada de decisões, sejam elas associadas desde a produção até a venda dos produtos. No Brasil, importantes meios podem ser considerados como importantes fontes de informação para o segmento agropecuário, sendo algumas principais: O segmento agro- pecuário dentro da porteira passou por transformações no decorrer dos anos que deixaram sua operacionalização e gerenciamento tão exigente quanto or- ganizações formais. 46 Administração Rural i) Feiras e exposições agropecuárias. ii) Revistas especializadas no setor. iii) Instituições de pesquisa (Embrapa, Emater, IAC etc.). iv) Associações de produtores. v) Universidades com faculdades de Ciências Agrárias e Ciências Sociais Aplicadas com foco em estudo do agronegócio. vi) Secretarias de Agricultura. • Mitigação dos impactos ambientais Talvez aqui esteja um dos principais pontos a ser considerado no gerenciamento que envolve o contexto agropecuário. Isso porque existe uma forte demanda mundial pela redução de impactos ambientais no decorrer dos sistemas produtivos, sendo o setor agropecuário um dos que mais contribui para tal. Neste setor são gerados impactos sobre recursos naturais, tais como água e solo, por exemplo. Além disso, uma vez que este setor atua, necessariamente, com a produção alimentar, a segurança alimentar também possui relações diretas com a necessidade de redução de impactos ambientais ocasionados pelos processos agrícolas. Neste aspecto em específico, resíduos de agrotóxicos nos alimentos estão entre as maiores preocupações de grupos de consumidores e entidades públicas e privadas. Para oferecer melhor entendimento acerca desta problemática, apresentaremos mais adiante em nosso livro o caso do uso de agrotóxicos no Brasil e também um exemplo de um estudo nosso que quantificou o consumo de agrotóxicos no decorrer do ciclo de vida da produção de milho. b) Consideração de fatores no planejamento de grandes propriedades Para grandes propriedades, aspectos muito comuns que devem estarpresentes no seu planejamento dizem respeito à/ao: • Contratação de mão de obra Sobre este quesito, dois fatores se correlacionam de forma muito importante. Um está relacionado ao ciclo da produção agropecuária e o outro à carência de mão de obra capacitada para operar equipamentos agropecuários que possuem tecnologias de última geração. Existem culturas que possuem grandes diferenças na quantidade de mão de obra empregada nos seus distintos ciclos. São os casos específicos de culturas que necessitam empregar grande quantidade de trabalhadores braçais em épocas de plantio e colheita, principalmente. Entre alguns casos podem ser citados, por exemplo, colheita de café e cana-de-açúcar em áreas que não suportam a operacionalização de colheitadeiras mecanizadas, Existe uma forte demanda mundial pela redução de impactos ambientais no decorrer dos sistemas produtivos, sendo o setor agropecuário um dos que mais contribui para tal. 47 Administração no Contexto do Agronegócio Capítulo 2 plantio de cana-de-açúcar, colheita de feijão e frutas diversas. Neste quesito há dois pontos fundamentais. O primeiro é estar amparado por contratações legais, adequadas às leis trabalhistas. O segundo é efetuar um planejamento adequado sobre a quantidade correta de mão de obra a ser empregada, de modo que não haja nem desperdício de dinheiro com contratações desnecessárias nem perdas (colheitas não feitas, mudas não plantadas em épocas corretas) e sobrecarga de trabalho aos colaboradores empregados. • Tecnologia No que diz respeito ao emprego de tecnologia no campo, muitas regiões do Brasil estão enfrentando dificuldades para encontrar mão de obra qualificada para operar equipamentos no campo. São os casos, por exemplo, das grandes propriedades produtoras de grãos e também das usinas de açúcar e álcool. Muitas vezes, o problema está além da falta de cursos de capacitação com focos específicos para os operadores. Isso porque a falta de educação formal de muitos trabalhadores rurais os impossibilitam de compreender pontos fundamentais para tal capacitação, tal como é o caso, por exemplo, da própria leitura dos manuais dos equipamentos. A adoção de tecnologia nos campos do Brasil tem contribuído muito para a alavancagem do agronegócio nacional. Tanto os equipamentos e implementos que propiciam o desenvolvimento do plantio direto nos campos do Brasil, quanto a tecnologia envolvida na agricultura de precisão, são fatores que se destacam positivamente. Da mesma forma, destaca-se também o uso de pivôs de irrigação, tal como monstra a figura a seguir, como exemplos que podem ser mencionados como importantes para o aumento da produtividade agropecuária no Brasil, sobretudo no que diz respeito ao aumento da produção de grãos. A adoção de tecno- logia nos campos do Brasil tem contribuído muito para a alavancagem do agronegócio nacional. Figura 10 – Irrigação com pivô central e área plantada com pivô central Fonte: Os autores. 48 Administração Rural Além dos pivôs de irrigação, outra tecnologia que tem contribuído muito para o avanço do agronegócio do país é o acondicionamento de grãos em silos de armazenagem diretamente nas próprias fazendas, tal como ilustra a figura a seguir: Figura 11 – Silo de armazenagem de grãos Fonte: Os autores. As principais vantagens destes equipamentos têm sido nas seguintes direções: I) Possibilidade de vender a produção em períodos de preços melhores, uma vez que o produtor não precisa, necessariamente, vender a produção no pico da colheita, quando preços podem não ser tão atrativos, já que existe excesso de produto no mercado. II) Possibilidade de estocar a produção em condições adequadas na própria propriedade, diminuindo também as chances de a mercadoria obter umidade, que implica diminuição do valor pago pelo grão. III) Possibilidade de saber, ainda na propriedade, a quantidade produzida, já que a maioria das propriedades que possuem silos instalados trabalham também com balanças acopladas. Isso permite tanto um maior controle aos proprietários sobre suas produções como também diminuem as chances de distorções caso a mercadoria seja quantificada em balanças que estão em outras localidades, tal como é o caso de balanças dos próprios compradores, de cooperativas ou de galpões terceirizados de armazenagem, por exemplo. • Conhecimento da operacionalização das diferentes formas de comercialização Tão importante quanto produzir com eficiência, é comercializar utilizando as possibilidades associadas aos mercados de produtos agrícolas. Dentre as 49 Administração no Contexto do Agronegócio Capítulo 2 principais alternativas de comercialização de produtos agroindustriais, podem ser citados os seguintes tipos: mercado spot, mercado a termo, mercado de futuros e contratos de longo prazo. I) Mercado spot: neste mercado, as transações comerciais ocorrem em um único momento e as relações e processos de comércio são esporádicas, tais como aquelas que ocorrem em supermercados, por exemplo. Nestas relações de mercado, é fácil identificar que não existe obrigação de uma relação de comércio futura de nenhuma das partes envolvidas na operação. No mercado spot de produtos agroindustriais não existe certeza sobre os preços praticados, já que os preços oscilam com frequência (AZEVEDO, 2014). II) Mercado a termo: neste mercado, os agentes envolvidos nas transações estabelecem contratos onde há acordos sobre certos fatores futuros envolvidos nas transações. Assim, os vendedores e compradores podem estabelecer os seguintes exemplos de acordos preestabelecidos, como por exemplo: meio de transporte (caminhão, trem, navio, por exemplo) a ser utilizado para escoar a mercadoria, forma de pagamento, localidade e data da entrega da mercadoria (AZEVEDO, 2014). III) Mercado de futuros: aqui os contratos especificam apenas fatores vinculados ao prazo e local de entrega da mercadoria; produto comercializado (soja, milho, por exemplo). O mercado de futuros é um tipo de mercado que possui custos que são relativamente baixos por causa da padronização envolvida nas transações (AZEVEDO, 2014). IV) Contratos de longo prazo: são contratos que objetivam garantir maior estabilidade nas transações através de garantias preestabelecidas que são condizentes tanto ao tempo como à forma de demanda do produto. No caso dos produtos agroindustriais, tanto contratos de franquias, integrações verticais e joint ventures podem ser citados como exemplos de contratos de longo prazo (AZEVEDO, 2014). Para aprofundamentos nestes tipos de comercialização, ler artigo: AZEVEDO, P. F. de. Comercialização de produtos agroindustriais. In: BATALHA, M. O. (Ed.). Gestão Agroindustrial 1. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 63-112. Dentre as principais alternativas de comercialização de produtos agroindus- triais, podem ser citados os seguintes tipos: mercado spot, mercado a termo, mercado de futuros e contratos de longo prazo. 50 Administração Rural c) Consideração de fatores no planejamento de pequenas propriedades No que diz respeito às pequenas propriedades, os seguintes fatores são mais comuns na consideração da elaboração do planejamento: • Tecnologia e produção apropriada Para pequenas propriedades, este é um importante aspecto a ser levado em consideração. Isso porque muitos pequenos agricultores brasileiros gerenciam e operam suas propriedades usando equipamentos e implementos que são mais condizentes para grandes propriedades. Neste mesmo sentido, tão importante quanto utilizar equipamentos e implementos condizentes com as condições da propriedade, é não depender de apenas um tipo de cultura para gerar receitas para as propriedades. É muito comum encontrar no Brasil pequenos agropecuaristas produzindo suas culturas nos moldes de grandes produtores, que ganham por escala de produção. Para pequenas propriedades, é importanteque haja diversificação da produção, bem como também maior proximidade com mercados consumidores e diversificação da produção. O concílio de diversas culturas e criações tem sido uma das principais alternativas que acarretam em rendas superiores para pequenos agropecuaristas. • Atenção quanto às opções de crédito disponíveis No Brasil, uma das principais instituições financeiras que oferecem crédito para agropecuária é o Banco do Brasil. Existem linhas específicas para pequenos produtores nas seguintes linhas de financiamento: custeio, investimento, comercialização e capital de giro. • Vínculo a cooperativas e associações Uma das estratégias que pode ser utilizada por pequenos produtores é o seu vínculo a associações ou cooperativas de produtores. As principais vantagens deste tipo de vínculo ocorrem em duas importantes direções. A primeira está associada à aquisição de insumos necessários para produção dos produtos agropecuários. Estando vinculados a cooperativas e associações, abrem-se para possibilidades de comprar insumos em maiores quantidades por preços menores do que se fossem comprados individualmente. Já a outra principal vantagem está atrelada à comercialização. Em conjunto, os pequenos produtores conseguem atingir mercados que não conseguiriam se estivessem atuando sozinhos, justamente pelo fato de venderem em maiores quantidades. Isso porque muitos pequenos agricultores brasileiros gerenciam e operam suas propriedades usando equipamentos e implementos que são mais condizentes para grandes propriedades. Uma das estratégias que pode ser utilizada por pequenos produtores é o seu vínculo a associações ou cooperativas de produtores. 51 Administração no Contexto do Agronegócio Capítulo 2 • Aproximação dos mercados consumidores: selos de certificação Outra estratégia diz respeito à adequação das produções aos variados tipos de certificação existentes. Há uma demanda muito forte por produção sustentável e existe uma quantidade significativa de certificações que atuam nestes mercados. Para aprofundar nesta temática, ofereceremos como exemplificação, no Capítulo 4 do nosso livro, o caso das certificações socioambientais no setor cafeeiro. • Sucessão familiar A sucessão familiar da propriedade rural deve ser um fator presente no processo de planejamento estratégico. Isso porque um dos pontos centrais envolvidos no processo de planejamento estratégico está envolvido com o horizonte temporal e muitas propriedades rurais familiares do Brasil não estão tendo com quem deixar a continuidade da produção agropecuária familiar. Nestas propriedades, atuar no campo para os filhos dos proprietários não é uma opção frente outras formas de vida longe da produção agropecuária. A principal alternativa para atrair a retenção dos filhos dos proprietários agropecuários na continuidade do negócio familiar é oferecer opções de vida no campo que tenham as comodidades básicas encontradas nos centros urbanos (tais como residências confortáveis com instalações elétricas, internet, energia elétrica, estradas conservadas) e, sobretudo, que os retornos econômicos obtidos das atividades do campo sejam tão vantajosos quanto outras opções fora dele. Para tanto, um caminho seguro é adotar atitude empreendedora e gerir a propriedade rural tal como uma organização convencional. Para continuar oferecendo subsídios neste sentido, abordamos agora sobre um ponto fundamental no gerenciamento de qualquer negócio: empreendedorismo. Empreendedorismo No Contexto Da Gestão Rural Desenvolver o empreendedorismo entre os agricultores brasileiros está entre algumas das principais necessidades do país. Pensar e gerir a propriedade tal como um negócio é a forma mais indicada para o sucesso das propriedades rurais brasileiras. Tal como afirma Dornelas (2008), empreendedores de sucesso possuem algumas características em comum, sendo as principais: Um dos pontos cen- trais envolvidos no processo de plane- jamento estratégico está envolvido com o horizonte temporal e muitas propriedades rurais familiares do Brasil não estão ten- do com quem deixar a continuidade da produção agropecu- ária familiar. Pensar e gerir a propriedade tal como um negócio é a forma mais indicada para o sucesso das propriedades rurais brasileiras. 52 Administração Rural a) São visionários. b) Sabem tomar decisões. c) Sabem explorar ao máximo as oportunidades. d) São determinados e dinâmicos. e) São dedicados. f) São otimistas. g) São apaixonados pelo que fazem. h) São independentes e motivados por construir o próprio destino. i) São líderes e formadores de equipes. j) Possuem um bom networking. k) São ótimos planejadores. l) Possuem conhecimento sobre o negócio. m) Assumem riscos calculados. n) Criam valor para a sociedade. À frente de um negócio, é importante que se busque reunir o máximo das características mencionadas para evitar o fracasso no negócio em andamento ou ainda em planejamento. No Brasil, grande quantidade de empresas não consegue dar continuidade aos seus negócios. Baseado em pesquisa do SEBRAE, em dados das empresas que foram abertas nos cinco anos compreendidos entre 1997 e 2001, Dornelas (2008) afirma, tal como ilustrado pela Figura 12, que no quinto ano aproximadamente o dobro de pequenas empresas são encerradas quando comparado com o primeiro ano de vida. Tal como afirma o autor, esta é a taxa de empresas que permanecem em atividade entre o primeiro e quinto ano, respectivamente: 69%, 63%, 51%, 47%, 40%. Figura 12 – Percentual de pequenas empresas encerradas e em atividade no Brasil nos primeiros cinco anos: base entre 1997 a 2001 Fonte: Adaptado de Dornelas (2008). 53 Administração no Contexto do Agronegócio Capítulo 2 As causas de insucesso são inúmeras e similares entre as diversas localidades. Tal como ilustra a Figura 13, baseada em pesquisa feita nos Estados Unidos, Dornelas (2008) afirma que a extrema maioria das causas primárias do fracasso de start-ups daquele país tem motivo em fatores associados a deficiências no gerenciamento. A Figura 13 mostra os seguintes percentuais que foram apontados como causas de fracasso das empresas citadas: incompetência gerencial (45%), inexperiência no ramo (9%), inexperiência em gerenciar (18%) e expertise desbalanceada (20%). A extrema maioria das causas primárias do fracasso de start-ups daquele país tem motivo em fatores associados a deficiências no gerenciamento. Figura 13 – causas de fracasso de start-ups americanas Fonte: Adaptado de Dornelas (2008). Geralmente existem algumas etapas básicas implícitas desde os primeiros levantamentos sobre o negócio. Segundo Dornelas (2008), são quatro as etapas muito bem identificadas, implícitas no processo empreendedor: a) Identificar e avaliar a oportunidade. b) Desenvolver o plano de negócios. c) Determinar e captar os recursos necessários. d) Gerenciar a empresa criada. Entre estas quatro etapas do processo empreendedor, o Plano de Negócios é apontado por especialistas (CHIAVENATO, 2006; DORNELAS, 2008) como a etapa capaz de deixar estruturado de forma clara e sucinta todo o planejamento da empresa a ser criada e também de empresas já em andamento. Dada sua importância, daremos destaque as suas principais características. 54 Administração Rural a) Plano de negócios O desenvolvimento do Plano de Negócios deve reunir as principais informações sobre a empresa. De forma sucinta, sua elaboração passa, necessariamente, pela resposta a questões que estão vinculadas a nove pontos principais. Segundo Chiavenato (2006), estas são: 1- Ramo de atividade: Por que escolheu o negócio? 2- Mercado consumidor: Quem são os clientes? O que tem valor para os clientes? 3- Mercado fornecedor: Quem são os fornecedores de insumos e serviços? 4- Mercado concorrente: Quem são os seus concorrentes? 5- Produtos/serviços a serem ofertados: Quais são ascaracterísticas dos produtos/serviços? Quais são os seus usos menos evidentes? Quais são as suas vantagens e desvantagens diante dos concorrentes? Como vai criar valor para o cliente por meio dos produtos/serviços? 6- Localização: Quais são os critérios para a avaliação do local ou do “ponto” do seu negócio? Qual é a importância da localização para o seu negócio? 7- Processo operacional: Como sua empresa vai operar etapa por etapa? Como será fabricado e vendido? Qual trabalho será feito? Quem fará o trabalho? Qual material e equipamento será utilizado? Quem tem conhecimento e experiência no setor? Como fazem os concorrentes? 8- Previsão de produção, de vendas ou de serviços: Qual é a necessidade e a procura do mercado? Qual é a sua provável capacidade de produção? Qual é a disponibilidade de matérias-primas e de insumos básicos? Qual é o volume de produção/vendas/serviços que você planeja para o seu negócio? 9- Análise financeira: Qual é a estimativa da receita da empresa? Qual é o capital inicial necessário? Quais são os gastos com materiais? Quais são os gastos com pessoal de produção? Quais são os gastos gerais de produção? Quais são as despesas administrativas? Quais são as despesas de vendas? Qual é a margem de lucro desejada? O oferecimento de respostas a estas indagações pode ter como auxílio um processo básico para a própria elaboração do Plano de Negócios, tal como ilustrado pela figura a seguir. O desenvolvimento do Plano de Negócios deve reunir as principais informações sobre a empresa. 55 Administração no Contexto do Agronegócio Capítulo 2 Figura 14 – Processos para elaboração de um plano de negócios Fonte: Adaptado de Chiavenato (2006). Neste contexto, uma vez que, tanto o desenvolvimento de um negócio associado ao mercado agropecuário, como o próprio desenvolvimento de um Plano de Negócios, passa pela necessidade de se conhecer as características básicas dos mercados existentes no contexto estudado, daremos ênfase agora à caracterização básica dos mercados agropecuários. No Brasil, autores (AZEVEDO, 2014; NEVES, 2000; SILVA; BATALHA, 2014) têm focado esforços em compreender os mercados envolvidos nos Sistemas Agroindustriais. Para aprofundamento nos estudos sobre empreendedorismo, sugerimos a leitura dos seguintes livros: CHIAVENATO, I. Empreendedorismo: dando asas ao espírito empreendedor. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. DORNELAS, J. C. Empreendedorismo: transformando ideias em negócios. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. 56 Administração Rural Principais Estratégias e Mercados no Contexto do Agronegócio Entre as etapas mais importantes envolvidas no processo de planejamento estratégico é a própria formulação da estratégica mais adequada. De acordo com Silva e Batalha (2014), existem algumas opções estratégicas para firmas agroindustriais que se destacam, que são: a) Especialização. b) Integração vertical. c) Diversificação. d) Inovação. e) Fusões e aquisições. A consideração destas formas de estratégias passa também pela própria consideração dos distintos mercados existentes no decorrer dos sistemas agroindustriais e pelos dois tipos de compras (individuais e industriais) existentes ao longo do mesmo. Nos sistemas agroindustriais, a maioria das transações envolvidas ocorrem entre empresas. Uma das estratégias mais utilizadas para conhecer quais empresas são mais adequadas para se manter relações de negócio é a segmentação de mercado (NEVES, 2000). Para um processo de segmentação eficaz, os segmentos devem ser passíveis de mensuração, ter tamanhos suficientes para que compensem a execução de uma ação mais focada da empresa, se comportar efetivamente de maneira semelhante e ser possível de ser atingido pela empresa. Neste contexto, no Sistema Agroindustrial, o processo de segmentação de mercado passa, necessariamente, pelo agrupamento de indivíduos e também empresas (NEVES, 2000). Conforme afirma Neves (2000), o agrupamento ocorre através das bases para segmentação de mercado, que são baseadas nas seguintes quatro características, quando o foco é o indivíduo: a) Geográficas (região, tamanho do município, concentração da população). b) Demográficas (idade, sexo, crescimento populacional, religião). c) Psicográficas (classe social, estilo de vida e personalidade). d) Comportamentais (que estão baseadas em seu conhecimento e atitude em relação ao produto – condição do usuário – já usou, se não conhece – taxa de uso, grau de lealdade). Nos sistemas agroindustriais, a maioria das transações envolvidas ocorrem entre empresas. No Sistema Agroindustrial, o processo de segmentação de mercado passa, necessariamente, pelo agrupamento de indivíduos e também empresas 57 Administração no Contexto do Agronegócio Capítulo 2 De acordo com Neves (2000), basicamente, a sequência envolvida entre identificar as variáveis e posicionar o produto no mercado é composta por seis etapas, inseridas em três fases, tal como mostra a figura a seguir. Figura 15 – Sequência para caracterização dos grupos a serem segmentados Fonte: Adaptado de Neves (2000). No caso dos mercados industriais, o processo envolvido é idêntico, mas as variáveis são ligeiramente distintas. Em vez de se basear em quatro variáveis, tal como é o caso dos mercados individuais, as variáveis envolvidas na segmentação dos mercados industriais são cinco, a saber, de acordo com Neves (2000): 1- Demográficas: tipo de indústria (conjunto de organizações que atua em determinado mercado), localização geográfica e tamanho das empresas dentro das indústrias. 2- Operacionais: capacidade financeira do comprador; grau de uso da tecnologia que é utilizada, avaliando se é usuário ou não. 3- Abordagens de compra: quais são os critérios, as políticas, as quantidades, como são os relacionamentos entre os agentes. 4- Fatores situacionais: pedidos para tamanhos e utilidades específicas; pedidos de urgência. 5- Características pessoais: proximidade entre vendedor e comprador, risco e lealdade envolvido. 58 Administração Rural Neste contexto, dentre as etapas mais importantes para se conseguir/manter em um determinado mercado agroindustrial diz respeito à diferenciação de produtos e serviços. A diferenciação é uma estratégia mercadológica que pode ser atingida de quatro formas distintas, tal como afirma Neves (2000): 1- Diferenciação do produto, como aparência visual, origem, sanidade, qualidade, sabor, teor de ingredientes, desempenho, durabilidade, estilo. 2- Serviços oferecidos, como por exemplo, por meio de regularidade de entrega, qualidade da equipe técnica, serviços de manutenção. 3- Atendimento, como por exemplo, em uma relação mais próxima com o cliente industrial; reputação da empresa. 4- Marca, que representa a imagem da organização no mercado que atua. Outro ponto importantíssimo para o entendimento a ser levado em consideração no gerenciamento de marketing dos sistemas agroindustriais é entender os diferentes tipos de mercados existentes no decorrer das cadeias agroindustriais. De acordo com autores (SILVA; BATALHA, 2014), existem quatro enfoques de mercado presentes em uma cadeia agroindustrial, que são: marketing alimentar, marketing agroindustrial, marketing agrícola e marketing rural, tais quais estão ilustrados na figura que segue. Dentre as etapas mais importantes para se conseguir/manter em um determinado mercado agroindustrial diz respeito à diferenciação de produtos e serviços. Existem quatro enfoques de mercado presentes em uma cadeia agroindustrial, que são: marketing alimentar, marketing agroindustrial, marketing agrícola e marketing rural. Figura 16 – Distintos enfoques de marketing no contexto do agronegócio Fonte: Adaptado de Silva e Batalha (2014). 59 Administração no Contexto do Agronegócio Capítulo 2 Para elucidar as diferenças de cada um destes enfoques,destacamos as características de cada um deles. a) Marketing alimentar O marketing alimentar fica localizado no nível do consumidor final. É representado, principalmente, pela venda do comércio varejista ao consumidor final. Tem como característica um grande número de consumidores e um número restrito de distribuidores. O estudo do marketing alimentar não se diferencia muito do marketing que é operacionalizado em outros produtos de consumo de massa que são comercializados pela grande distribuição. Em nível do marketing alimentar existem quatro estratégias que mais são praticadas pelas empresas agroindustriais: diferenciação; diversificação; proliferação de marcas e pseudodiferenciação (BATALHA; SILVA, 1995; SILVA; BATALHA, 2014). Basicamente, o marketing alimentar é dividido entre marketing da distribuição e marketing do produto. O marketing da distribuição diz respeito à posição do próprio estabelecimento e vendas perante as necessidades do consumidor, já que o consumidor pode optar pela escolha de determinado estabelecimento de vendas, ou também outro tipo de distribuição, por meio da avaliação da imagem que os pontos de venda possuem, mediante o conjunto de critérios que são condicionantes para sua escolha (BATALHA; SILVA, 1995). Já o marketing do produto tem como objetivo destacar o produto para o consumidor propriamente dito. Assim, suas bases de diferenciação frequentemente estão presas ao destaque dos diferenciais tecnológicos, em qualidade percebida pelo consumidor ou em investimento no desenvolvimento da própria marca, por exemplo (BATALHA; SILVA, 1995; SILVA; BATALHA, 2014). É óbvio que as possibilidades de diferenciação do produto são diretamente proporcionais aos seus próprios atributos. Assim, as chances de diferenciação são tão grandes quanto forem as próprias características que diferenciam o produto. Para produtos alimentares (que não são fáceis de serem diferenciados em relação aos seus aspectos técnicos – carnes e frutas, por exemplo), é comum que a diferenciação seja através de “pseudodiferenciação”. Neste caso, a diferenciação ocorre através do próprio desenvolvimento da marca do produto, dando-se destaque para atributos que chamem a atenção para a qualidade implícita no produto (BATALHA; SILVA, 1995). Consumidores podem perceber a qualidade implícita no produto alimentar mediante os seguintes critérios, que podem ser tanto subjetivas ou objetivas (BATALHA, 1995): O marketing alimen- tar fica localizado no nível do consumidor final. 60 Administração Rural 1- Facilidade de acesso. 2- Características nutritivas. 3- Características organolépticas (textura, sabor, odor, cor). 4- Características socioeconômicas (localidade onde o alimento é consumido e posição social do alimento). 5- Características de utilização (facilidade de manipulação). b) Marketing agroindustrial Quanto ao marketing agroindustrial, situa-se entre os macrossegmentos “industrialização” e “distribuição” e também entre os diversos segmentos de produção. De forma geral, o marketing agroindustrial apresenta as seguintes características: possui número restrito de vendedores e/ou compradores; existe a possibilidade de formação de parcerias entre compradores e vendedores, sendo a demanda derivada e os mercados heterogêneos (SILVA; BATALHA, 2014). c) Marketing agrícola O marketing agrícola se localiza entre a agroindústria e a agricultura. Entre suas principais características, destacam-se: grande quantidade de produtores (que são os vendedores) e pouca quantidade de compradores; é o mercado que mais tem similaridade com uma situação de concorrência pura e perfeita. Em decorrência, seus principais problemas são resultados das próprias forças oligopsônicas (poucos compradores perante muitos vendedores), que agem neste mercado (BATALHA; SILVA, 1995). Em contrapartida, a organização dos produtores em cooperativas acaba sendo uma alternativa. Uma comprando e vendendo por meio de cooperativas, os produtores frequentemente conseguem aumentar as chances de agregar valor ao produto e também aumentar seu poder de barganha perante os poucos compradores que existem no seu mercado. Em determinados casos, há possibilidade de se atingir tanto o setor de distribuição quanto os consumidores de forma direta (SILVA; BATALHA, 2014). d) Marketing rural Diferentemente do marketing agrícola, o marketing rural é aquele situado entre os produtores rurais e os produtores de insumos. Trata- se de um mercado que é heterogêneo, onde operam produtores familiares, patronais e cooperativas (BATALHA; SILVA, 1995; SILVA; BATALHA, 2014). Neste mercado, as estratégias podem ser muito variadas nos seguintes sentidos: porte da empresa fornecedora, Marketing agroindustrial, situa-se entre os macrossegmentos “industrialização” e “distribuição” e também entre os diversos segmentos de produção. Diferentemente do marketing agrícola, o marketing rural é aquele situado entre os produtores rurais e os produtores de insumos. O marketing agrícola se localiza entre a agroindústria e a agricultura. 61 Administração no Contexto do Agronegócio Capítulo 2 periodicidade e valor das compras, porte do comprador. Em um contexto amplo, o mercado de insumos agropecuários tem forte dominância de empresas multinacionais, que geralmente são muito bem organizadas em forma de lobby, contribuindo para que seu poder seja aumentado tanto perante os produtores rurais como também perante instituições governamentais (BATALHA; SILVA, 1995). Portanto, apesar da existência de diferentes vertentes associadas ao campo do gerenciamento, notamos aqui que o processo de planejamento estratégico é um ponto em comum que pode definir o sucesso de qualquer empreendimento, sobretudo aqueles vinculados a algum elo de alguma cadeia de produção. No que tange à atuação dos agentes envolvidos nas cadeias agropecuárias, é importante que se levem em consideração os fatores que aqui elencamos como forma de se evitar problemas associados ao andamento do negócio, bem como também otimizar as chances de sucesso do mesmo. Para aprofundar conhecimentos sobre marketing agrícola, agroindustrial, rural e alimentar, sugerimos a leitura dos seguintes materiais: BATALHA, M. O.; SILVA, A. L. Marketing & agribusiness : um enfoque estratégico. Revista de Administração de Empresas, v. 35, n. 5, p. 30–39, 1995. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ rae/v35n5/a05v35n5.pdf>. SILVA, A. L.; BATALHA, M. O. Marketing estratégico aplicado ao agronegócio. In: BATALHA, M. O. (Ed.). Gestão Agroindustrial 1. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 113–183. Atividades de Estudos: 1) Qual é a importância do planejamento estratégico para as organizações? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Apesar da existên- cia de diferentes vertentes associadas ao campo do geren- ciamento, notamos aqui que o processo de planejamento es- tratégico é um ponto em comum que pode definir o sucesso de qualquer empreen- dimento, sobretudo aqueles vinculados a algum elo de alguma cadeia de produção. 62 Administração Rural ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2) Quais são as principais informações que devem ser inseridas em um Plano de Negócios? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 3) De que forma o uso de tecnologia e produção apropriada deve afetar o planejamento de um empreendimento rural? ________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 4) Descreva quais são as principais características do: a) Marketing rural: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ b) Marketing agrícola: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ c) Marketing agroindustrial: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 63 Administração no Contexto do Agronegócio Capítulo 2 ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ d) Marketing alimentar: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 5) Tendo como base os quadros 2, 3 e 4 do presente livro, descreva quais são os seguintes possíveis aspectos associados a um negócio a ser implantado por você, cujo mercado principal seja voltado para algum dos enfoques apresentados pela Figura 16: a) Checklist de pontos fortes e fracos: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ b) Análise da concorrência: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ c) Análise do ambiente externo. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 64 Administração Rural Algumas Considerações Neste momento, esperamos que os seguintes fatores tenham ficado muito bem esclarecidos para você, leitor: • Que existem diversas abordagens no campo da administração. • Que a causa de insucesso de muitas organizações são as deficiências no gerenciamento e falta de planejamento. • Que o os empreendedores devem possuir um conjunto de características para aumentar suas chances de êxito. • Que o Planejamento Estratégico é uma das alternativas mais indicadas para se definir a estruturação de um negócio. • Que o Plano de Negócios é um dos principais guias para se documentar o negócio a ser implantado. • Que o planejamento no contexto do segmento agropecuário deve considerar, necessariamente, suas especificidades, tais como aquelas associadas às condições climáticas, porte da propriedade e sazonalidade da produção, por exemplo. • Que o Plano de Negócios é um dos principais guias para se documentar o negócio a ser implantado. • Que existem diferentes tipos de mercados no contexto dos sistemas agroindustriais, tendo cada um suas características próprias, que devem ser levadas em consideração tanto no gerenciamento quanto no planejamento dos elos das cadeias agroindustriais. Referências ALVARENGA, R. P.; ARRAES, N. A. M. Certificação fairtrade na cafeicultura brasileira: análises e perspectivas. Coffee Science, v. 12, n. 1, p. 124–147, 2017. ARAÚJO, M. J. Fundamentos de agronegócios. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2007. AZEVEDO, P. F. Comercialização de produtos agroindustriais. In: BATALHA, M. O. (Ed.). Gestão Agroindustrial 1. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 63-112. BATALHA, M. O. Gestão Agroindustrial 1. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2014. BATALHA, M. O.; SILVA, A. L. Marketing & agribusiness: um enfoque estratégico. Revista de Administração de Empresas, v. 35, n. 5, p. 30-39, 1995. 65 Administração no Contexto do Agronegócio Capítulo 2 BRASIL. Lei nº 11326, de 24 de julho de 2006. Estabelece as diretrizes para a formulação da Política Nacional da Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004- 2006/2006/lei/l11326.htm>. Acesso em: 15 jan. 2016. CHIAVENATO, I. Empreendedorismo: dando asas ao espírito empreendedor. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. ______. Administração: teoria, processo e prática. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. DORNELAS, J. C. Empreendedorismo: transformando ideias em negócios. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. MAXIMIANO, A. C. A. Introdução à administração. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2000. NANTES, J. F. D.; SCARPELLI, M. Elementos de gestão na produção rural. In: BATALHA, M. O. (Ed.). Gestão Agroindustrial 1. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 629-664. NEVES, M. F. Marketing no agribusiness. In: ZYLBERSZTAJN, D.; NEVES, M. F. (Eds.). Economia e gestão dos negócios agroalimentares. São Paulo: Pioneira, 2000. p. 109-136. RIBEIRO, A. D. L. Teorias da administração. São Paulo: Saraiva, 2006. SILVA, A. L. da; BATALHA, M. O. Marketing estratégico aplicado ao agronegócio. In: BATALHA, M. O. (Ed.). Gestão agroindustrial 1. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 113-183. ZYLBERSZTAJN, D.; NEVES, M. F. Economia e gestão dos negócios agroalimentares. São Paulo: Pioneira, 2000. 66 Administração Rural CAPÍTULO 3 Consideração de Impactos Ambientais no Gerenciamento do Agronegócio A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: � Conhecer a “Avaliação do Ciclo de Vida” e a “Produção mais Limpa” como estratégias para mitigação de impactos ambientais nos sistemas de produção. � Explicar como os sistemas agropecuários podem impactar negativamente os campos dos pilares da sustentabilidade. � Apontar quais são importantes fatores socioambientais que estão associados aos sistemas de produção agrícola. � Escolher as alternativas que visem à mitigação de impactos vinculados aos sistemas de produção agropecuário. � Demonstrar como técnicas de gestão ambiental podem ajudar no gerenciamento das cadeias agroindustriais. 68 Administração Rural 69 Consideração de Impactos Ambientais no Gerenciamento do Agronegócio Capítulo 3 Contextualização Neste capítulo, daremos destaque para as principais implicações que estão vinculadas ao campo da sustentabilidade na temática do agronegócio. Além de oferecermos exemplos de alguns dos principais impactos ocasionados pelos sistemas de produção agropecuários, também apresentaremos duas importantes técnicas de gestão ambiental que frequentemente têm sido utilizadas para gerir a mitigação de impactos. Problemática Ambiental No Segmento Agropecuário Os impasses ambientais da agropecuária podem contribuir para a baixa da sustentabilidade do setor agrícola, tanto em escalaregional, quanto em escala global. Alterações nos recursos de água e solo, por exemplo, associam-se frequentemente aos impactos regionais. No que tange aos exemplos de como o setor agropecuário pode ocasionar impactos para escala global, cita-se sua participação para a geração dos gases causadores do efeito estufa, como exemplo citamos o metano eliminado pela fermentação entérica do gado. Para o entendimento da problemática ambiental, e até da socioeconomia relacionada à agropecuária, toma-se como exemplo uma possível elevação da demanda por carnes em um contexto amplo e duradouro, baseado em Knudsen et al. (2006). Em resposta a esta demanda, surge a necessidade de se elevar a criação de gado, que traz como consequência da necessidade de se aumentar a disponibilidade de terras destinadas às pastagens. Tanto uma maior quantidade de pastagens e de animais pastando nestas terras, como também o comércio de alimentos (que fica mais acirrado), remetem a impactos ambientais e socioeconômicos do sistema de produção alimentar. Exemplos destes impactos são melhores exemplificados pela Figura 17. Os impasses ambientais da agropecuária podem contribuir para a baixa da sustentabili- dade do setor agríco- la, tanto em escala regional, quanto em escala global. 70 Administração Rural Figura 17 – Ilustração da problemática ambiental relacionada ao setor agrícola Fonte: Adaptado de Knudsen et al. (2006). Pela análise da Figura 17, nota-se que o desmatamento do terreno para ser utilizado como pastagem pode, por exemplo, acarretar em aquecimento global, redução da biodiversidade, erosão e perda dos recursos de produção do solo. Ao se analisar o caso do avanço da pecuária no Brasil, por exemplo, é possível 71 Consideração de Impactos Ambientais no Gerenciamento do Agronegócio Capítulo 3 perceber que o desmatamento para formação de novas áreas de pastagens é uma das maiores fontes emissoras de gases do efeito estufa, sobretudo os ocorridos na região Amazônica, cuja expansão da pecuária entre os anos de 2003 e 2008 foi responsável por 75% do desflorestamento do bioma desta região. Neste sentido, pela exposição da Figura 17, fica evidente que além do surgimento dos impactos ambientais, emergem também aspectos positivos e negativos do ponto de vista socioeconômico. Uma vez que o aumento da produção gera mais oferta de alimentos no mercado com preços mais satisfatórios, pode haver também a marginalização dos pequenos pecuaristas devido à atuação dos grandes produtores que conseguem ofertar um produto com preço menor por causa de sua produção em escala lhe proporcionar menores custos unitários de produção. Portanto, de acordo com Knudsen et al. (2006), a resposta para a pergunta que fica em aberto na Figura 17 é que pode existir equidade entre os aspectos apresentados, desde que sejam revistos os meios de se produzir. Neste contexto, pode-se afirmar que a agricultura está diante de um desafio. Estimativas indicam que o planeta poderá contar com nove bilhões de habitantes até metade deste século, sendo necessário aproximadamente o dobro da produção de alimentos de hoje para suprir esta futura demanda. O desafio, então, é o contínuo aumento da produção amparada pela manutenção e melhoria da qualidade da água, do solo e da conservação da biodiversidade. Portanto, o caminho para a agricultura está na sintonia da produtividade com a sustentabilidade (GAZONNI, 2011). Para que tal sintonia seja eficiente, um dos mecanismos viáveis, é a utilização de indicadores de desempenho voltados à agricultura. De acordo com o autor, um comitê governamental australiano identificou fatores-chave que podem ser considerados como indicadores para uma agricultura sustentável, sendo: viabilidade das propriedades agrícolas manterem balanço financeiro positivo a longo prazo, competência gerencial, qualidade da água e do solo e também a consideração de aspectos ambientais como base para aperfeiçoar uma decisão relacionada ao campo nacional e ao campo regional. Dessa forma, a relevância destes indicadores e a necessidade da sustentabilidade do agronegócio reflete no comércio internacional de produtos agrícolas, fazendo com que a adoção de barreiras comerciais estabelecidas com base em exigências agroquímicas e fitossanitárias corrobore para isso. Cita-se, como exemplo destas barreiras, a proibição do comércio de produtos agrícolas que tenham sido produzidos com algum agrotóxico composto por qualquer tipo O desmatamento do terreno para ser utilizado como pastagem pode, por exemplo, acarretar em aquecimento global, redução da biodiversidade, erosão e perda dos recursos de produ- ção do solo. Fatores-chave que podem ser considerados como indicadores para uma agricultura sustentável. 72 Administração Rural de ingrediente ativo considerado como propício a causar risco severo à saúde humana ou ao meio ambiente. Técnicas de Gestão Ambiental A literatura apresenta algumas ferramentas e técnicas que podem contribuir para a melhoria da gestão da sustentabilidade agrícola. No intuito de contribuir neste sentido, oferecemos dois dos principais exemplos que auxiliam na gestão sustentável agrícola, tais quais: Avaliação do ciclo de vida e Produção mais limpa. a) Avaliação do ciclo de vida O conceito de Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) surgiu no início dos anos 1960 associado às preocupações a respeito das limitações das matérias-primas e dos recursos energéticos no cenário mundial. Neste período, ainda não havia uma estruturação completa sobre como se desenvolver uma ACV. O interesse neste tipo de estudo foi ganhando mais força por volta de 1975 até início dos anos 1980, no decorrer da crise do petróleo e no constante aumento do interesse sobre os impactos ao meio ambiente por parte dos setores públicos e privados, contribuindo para a ACV emergir como uma técnica de gestão ambiental propícia para analisar problemas ambientais (ALVARENGA, 2012). Em sua forma completa, a ACV é uma técnica de Gestão Ambiental que avalia o produto ou processo ao longo de seu ciclo de vida, parcial ou total. Ela considera os impactos gerados desde o início do processo produtivo até sua disposição final, tanto que também é conhecida como uma técnica propícia a avaliar a geração de impactos ambientais do “berço ao túmulo”, sendo o berço uma alusão ao local de origem dos insumos primários mediante a extração dos recursos naturais e o túmulo uma representação da disposição final dos resíduos que não são reciclados (ALVARENGA; RENOFIO; ARAÚJO, 2013). Um estudo de ACV é dividido em quatro fases que são completamente relacionadas e dependentes umas das outras, sendo estas: Definição do Objetivo e Escopo; Análise de Inventário; Avaliação de Impactos; e Interpretação do Ciclo de Vida. Logo, estão inseridos nestas fases todos os processos relacionados desde a elaboração do objetivo que se pretende dar à referida ACV até a interpretação sobre como os potenciais impactos ambientais resultantes do ciclo de vida do produto analisado acarretam em prejuízos ao meio ambiente, possibilitando, assim, o surgimento de estratégias mitigadoras destes. Dois dos principais exemplos que auxiliam na gestão sustentável agrícola, tais quais: Avaliação do ciclo de vida e Produção mais limpa. ACV é uma técnica de Gestão Ambiental que avalia o produto ou processo ao longo de seu ciclo de vida, parcial ou total. 73 Consideração de Impactos Ambientais no Gerenciamento do Agronegócio Capítulo 3 Neste sentido, uma ACV pode abranger vários segmentos produtivos, bem como atender aos diversos objetivos. As aplicações de uma ACV podem ser subdivididas em duas principais vertentes, a saber: comparação do desempenho ambiental de produtos que ocupem uma mesma função e identificação de oportunidades de melhoria de desempenho ambiental. Neste contexto, Curran (2008) associa a possibilidadede uma ACV contribuir para os seguintes objetivos (ALVARENGA et al., 2012), entre outros: • Desenvolver uma avaliação sistemática das consequências ambientais associadas a um determinado produto. • Analisar os trade-offs associados a um ou mais produtos e processos específicos. • Quantificar lançamentos no ar, água e solo para cada estágio do ciclo de vida ou processo. • Avaliar os efeitos humanos e ecológicos do consumo de material e os lançamentos ambientais para a comunidade local, região ou mundo. • Ajudar e identificar mudanças significativas nos impactos ambientais entre os estágios do ciclo de vida e o meio ambiente. • Compilar um inventário de energia, entrada de materiais e liberações ambientais. Diante destas possibilidades e do fato que uma ACV pode ser direcionada a diferentes segmentos produtivos, tal como para as atividades agrícolas e agropecuárias, foco deste livro. De acordo com Horne e Grant (2009), em decorrência da atividade agrícola, existem diversos impactos associados ao uso da terra, às emissões de gases poluentes e ao uso da água que podem ser avaliados por meio de uma ACV, fazendo desta uma técnica relevante para ser aplicada na agricultura, porém a adoção da ACV no setor agrícola pode ser mais complexa do que aquelas realizadas no campo industrial. A agricultura não consome insumos em um sentido linear, tal como ocorre em vários processos industriais. Devido a isso, muitos dos seus recursos centrais são derivados de outros sistemas agrícolas, como é o caso das sementes, de alguns fertilizantes e do solo, por exemplo. Nem todas as categorias de impactos possuem uma total cobertura em ACVs agrícolas, como é o caso dos incidentes sobre o uso da terra, que possuem uma cobertura parcial. Sistemas agrícolas são relativamente abertos e envolvem recursos como terra, biodiversidade, e uma gama de inter-relações químicas e biológicas, sendo constante a existência de diferentes modos de produção para um mesmo produto agrícola. É necessário ser desenvolvida uma metodologia mais específica para a área, que pode ser alcançada através da interação com demais áreas afins envolvidas de alguma forma com a atividade (ALVARENGA et al., 2012). Em decorrência da atividade agrícola, existem diversos impactos associados ao uso da terra, às emissões de gases poluentes e ao uso da água que podem ser avaliados por meio de uma ACV 74 Administração Rural Deste modo, a consideração de aspectos relacionados à perda da biodiversidade em atividades agrícolas é uma das formas de se complementar as lacunas existentes na metodologia. Assim, uma das maneiras viáveis de ser fazer isso é o modelamento de um sistema que considere os impactos que podem incidir sobre as mais importantes espécies envolvidas com a prática agrícola (ALVARENGA et al., 2012). Neste sentido, envolver os amplos aspectos que dizem respeito à biodiversidade pode ser considerado como um dos principais desafios condizentes com a execução de ACVs de produtos agrícolas, pois diferentes tipos de lavouras podem acarretar em distintos tipos e graus de impactos ambientais (ALVARENGA et al., 2012). Toma-se como exemplo a relação existente entre a biodiversidade e qualidade do ecossistema com as perdas ocasionadas para o solo em decorrência do uso deste por plantações de trigo, café convencional, café orgânico, agroflorestas, pastagens de pradaria e floresta tropical, expostos pela Figura 18. Envolver os amplos aspectos que dizem respeito à biodiversidade pode ser considerado como um dos principais desafios condizentes com a execução de ACVs de produtos agrícolas Portanto, quanto mais extensiva a utilização do solo, maiores são as perdas e vice- versa. Figura 18 – Relações entre uso da terra por massa e biodiversidade Fonte: Adaptado de Knudsen e Haldberg (2007). Numa relação simples, nota-se que quanto maior a qualidade do ecossistema requerido, maiores são as perdas do solo por kg de produto demandado, sendo esta relação completamente associada ao grau de intensidade e extensidade da cultura plantada. Portanto, quanto mais extensiva a utilização do solo, maiores são as perdas e vice-versa (ALVARENGA et al., 2012). 75 Consideração de Impactos Ambientais no Gerenciamento do Agronegócio Capítulo 3 A ACV tem contribuído para gerar resultados satisfatórios no campo da agricultura, tal como é o caso dos trabalhos que envolvem comparações entre diferentes processos e insumos agrícolas (ALVARENGA et al., 2012), mas dependendo da abrangência do estudo, a coleta de dados pode ser problemática e a disponibilidade dos dados pode ter grande impacto na precisão dos resultados finais. Neste sentido, os seguintes fatores podem limitar a consecução de uma ACV: elevado consumo de recursos humanos, elevado consumo de tempo, falta de disponibilidade de alguns dados que podem afetar o resultado final, entre outros (ALVARENGA; QUEIROZ; NADAE, 2017a). • Avaliação do ciclo de vida simplificada No entanto, a depender de algumas variáveis implícitas no objeto de estudo, tais como objetivo pretendido e recursos disponíveis, algumas destas limitações podem ser transpostas pela adoção de estudos simplificados de ACVs. Uma ACV simplificada é como uma variedade menos complexa de uma ACV detalhada, conduzida de acordo com guias de execução, mas não em total consonância com os padrões das normas da série ISO relacionadas ao estudo de uma ACV. Ao se aprofundar nos estudos desta metodologia, constata- se que há possibilidade de se trabalhar com três diferentes tipos de ACVs simplificadas, sendo estas: qualitativas, quantitativas e também semiquantitativas (ALVARENGA; QUEIROZ; RENOFIO, 2012). A maioria das ACVs simplificadas são concebidas pelo desenvolvimento de matrizes, onde os principais recursos utilizados no sistema estudado são analisados sobre diversos aspectos relacionados ao campo ambiental. Pelo processo de tais matrizes, derivaram-se diversos métodos de condução de ACVs simplificadas, sendo muitas vezes estes específicos para determinados segmentos produtivos para certos tipos de materiais consumidos ao longo do ciclo de vida do produto, bem como para finalidade da avaliação ambiental (ALVARENGA; QUEIROZ; RENOFIO, 2012). Geralmente, os principais fatores favoráveis ao desenvolvimento de ACVs simplificadas são custo e tempo, pois ACVs completas demoram mais para serem concluídas e também são mais caras. Estes dois principais aspectos são proporcionais uns aos outros, já que os custos totais de um projeto que envolve uma ACV diminuem a partir do momento em que há redução do tempo na fase de coleta de dados. O principal motivo que justifica isso é que a maior parte dos recursos financeiros requeridos em projetos de ACV são destinados a cobrir gastos relacionados à fase de coleta de dados, processos geralmente muito demorados. No entanto, estes não são os únicos pontos favoráveis de uma ACV simplificada. Em determinados casos, trabalhos guiados por métodos simplificados podem servir como apoio na condução Uma ACV simplifi- cada é como uma variedade menos complexa de uma ACV detalhada, conduzida de acordo com guias de execução, mas não em total consonância com os padrões das normas da série ISO relacionadas ao estudo de uma ACV. 76 Administração Rural de ACVs completas, pois dados qualitativos e semiquantitativos podem servir como complemento para a realização de ACVs mais amplas e resultar em um estudo mais abrangente (ALVARENGA; QUEIROZ; RENOFIO, 2012). Tais fatos contribuem para que ACVs simplificadas possam oferecer respostas mais rápidas e diretas sobre quais são os insumos envolvidos em determinados ciclos produtivos que mais causam potenciais impactos ambientais (ALVARENGA; QUEIROZ; RENOFIO, 2012). Matrizes utilizadas para avaliações qualitativas e semiquantitativas são menos complexas do que as ACVs tradicionais, facilitando a comunicação dos resultados,bem como o entendimento das análises por indivíduos que estejam envolvidos com o sistema, mas que não possuem conhecimentos consistentes sobre ferramentas de avaliação de impactos ambientais (ALVARENGA; QUEIROZ; RENOFIO, 2012; JACOVELLI; FIGUEIREDO, 2003). Neste contexto, para exemplificar com mais clareza, no Capítulo 4 ofereceremos um exemplo prático de adequação de uma ACV simplificada aplicada no contexto agrícola do Brasil. Para aprofundar conhecimentos sobre o desenvolvimento de ACVs no segmento agrícola, sugerimos a leitura dos seguintes materiais: OMETTO, A. R. Avaliação do ciclo de vida do álcool etílico hidratado combustível pelos métodos EDIP, Exergia e Emergia. 2005. 200 f. Tese (Doutorado em Engenharia Hidráulica e Saneamento), Universidade de São Paulo, 2005. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/18/18138/tde-10072008- 151015/pt-br.php>. Acesso em: 10 jun. 2017. CLAUDINO, E. S.; TALAMINI, E. Análise do ciclo de vida (ACV) aplicada ao agronegócio – uma revisão de literatura. Revista de Engenharia Agrícola e Ambiental, v. 17, n. 1, p. 77-85, 2013. Disponível em: <http://www.agriambi.com.br/revista/v17n01/ v17n01a11.pdf>. Acesso em: 10 jun. 2017. RUVIARO, C. F. et al. Life cycle assessment in Brazilian agriculture facing worldwide trends. Journal of Cleaner Production, v. 28, p. 9-24, 2012. 77 Consideração de Impactos Ambientais no Gerenciamento do Agronegócio Capítulo 3 b) Produção Mais Limpa Produção Mais Limpa é uma estratégia ambiental preventiva aplicada a processos, produtos e serviços para minimizar os impactos sobre o meio ambiente. É uma abordagem de proteção ambiental ampla que considera todas as fases do processo de manufatura ou ciclo de vida do produto, com o objetivo de prevenir e minimizar os riscos para os seres humanos e o ambiente, em curto e longo prazo. É uma abordagem que requer ações para conservar energia e matéria-prima, eliminar sustâncias tóxicas e reduzir os desperdícios e a poluição resultantes dos produtos e dos processos produtivos (ALVARENGA; QUEIROZ, 2009; ALVARENGA; QUEIROZ; NADAE, 2017b). A Produção Mais Limpa estabelece uma hierarquia de prioridades de acordo com a seguinte sequência: prevenção, redução, reuso e reciclagem, tratamento com recuperação de materiais e energia, tratamento e disposição final. É uma abordagem que requer ações para conservar energia e matéria-prima, eliminar sustâncias tóxicas e reduzir os desperdícios e a poluição resultantes dos produtos e dos processos produtivos. A indústria sucroalcooleira, tanto no setor agrícola quanto no setor industrial, pode reduzir seus problemas ambientais mediante Produção Mais Limpa (ALVARENGA; QUEIROZ, 2009; ALVARENGA; QUEIROZ; NADAE, 2017b). A Produção Mais Limpa pode ser aplicada a produtos, processos e serviços. O modelo de gestão ambiental Produção Mais Limpa aumenta a eficiência ambiental e reduz os riscos ao homem e ao meio ambiente. Dessa forma, a Produção Mais Limpa é aplicada em processos produtivos na conservação de matérias-primas, água e energia, na eliminação de toxidade de matérias-primas e resíduos (ALVARENGA; QUEIROZ, 2009). Em produtos, sua aplicação possui o intuito de reduzir os impactos negativos dos produtos ao longo do seu ciclo de vida, desde a extração de matérias-primas até sua disposição final (ALVARENGA; QUEIROZ, 2009). Em serviços sua implantação é na forma de incorporar questões ambientais no planejamento e execução dos serviços. De acordo com Barbieri (2011), a Produção Mais Limpa estabelece uma hierarquia de prioridades de acordo com a seguinte sequência: prevenção, redução, reuso e reciclagem, tratamento com recuperação de materiais e energia, tratamento e disposição final. Essa hierarquia apontada por Barbieri (2011) pode ser simplificada de acordo com a Figura 19. O modelo de gestão ambiental Produção Mais Limpa aumenta a eficiência ambien- tal e reduz os riscos ao homem e ao meio ambiente. 78 Administração Rural Figura 19 – Níveis de intervenção da Produção Mais Limpa Fonte: Adaptado de Barbieri (2011). Tal figura apresenta três níveis de Produção Mais Limpa. As de nível 1 são caracterizadas como de prioridade máxima, possuem o objetivo de reduzir emissões e resíduos na fonte e envolvem modificações em produtos e processos. No nível 2 estão as emissões e os resíduos que continuam sendo gerados. Já o nível 3 ocorre quando a emissão ou o resíduo não tem como ser aproveitado pela unidade produtiva que o gerou, sendo nesse caso a reciclagem externa a alternativa, vendendo ou doando os resíduos para quem possa utilizá-los (ALVARENGA; QUEIROZ, 2009). Neste sentido e com o objetivo de oferecermos um cunho prático de aplicabilidade desta técnica no contexto agrícola, apresentaremos na segunda parte do livro, no Capítulo 4, exemplos de como a Produção Mais Limpa pode ser trabalhada em uma importante cadeia de produção agrícola do Brasil: cana-de- açúcar. Para aprofundamento no assunto abordado neste capítulo, sugerimos a leitura do seguinte livro: BARBIERI, J. C. Gestão ambiental empresarial: conceitos, modelos instrumentos. 3. ed. São Paulo: Savaiva, 2011. 79 Consideração de Impactos Ambientais no Gerenciamento do Agronegócio Capítulo 3 Atividades de Estudos: 1) Mencione três impactos ambientais ocasionados por sistemas agrícolas. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ___________________________________________________ 2) O que é e para que serve a Avaliação do Ciclo de Vida (ACV)? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ___________________________________________________ 3) O que é e para que serve a Produção Mais Limpa? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ___________________________________________________ Algumas Considerações Ao terminarmos este capítulo, esperamos que você tenha entendido os relevantes fatores aqui discutidos, por exemplo: • Que a agropecuária é responsável pela geração de impactos ambientais que devem ser reduzidos visando à melhoria das condições de vida e produção. • Que a técnica Avaliação do Ciclo de Vida pode oferecer resultados que podem contribuir para o gerenciamento da sustentabilidade nos sistemas de produção agroindustrial. 80 Administração Rural • Que a adoção da Produção Mais Limpa pode ser uma opção para mitigação de impactos ambientais vinculados aos sistemas agroindustriais. Referências ALVARENGA, R. P. et al. Avaliação do ciclo de vida na agricultura: um levantamento bibliográfico envolvendo publicações nacionais e internacionais. XIX Simpósio de Engenharia de Produção. Anais...Bauru: SIMPEP, 2012. ALVARENGA, R. P. Subsídios para avaliação do ciclo de vida de modo simplificada da produção agrícola de milho, por meio de um estudo de caso. 2012. 162 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção), Universidade Estadual Paulista, 2012. ALVARENGA, R. P.; QUEIROZ, T. R. Produção Mais Limpa e aspectos ambientais na indústria sucroalcooleira. 2 International Workshop Advances in cleaner production. Anais... São Paulo, 2009. ALVARENGA, R. P.; QUEIROZ, T. R.; NADAE, J. de. Risco tóxico e potencial perigo ambiental no ciclo de vida da produção de milho. Espacios, v. 38, n. 1, p. 12, 2017a. ALVARENGA, R. P.; QUEIRÓZ, T. R.; NADAE, J. de.Cleaner production and environmental aspects of the sugarcane-alcohol segment : brazilian issues. Espacios, v. 38, n. 1, p. 11, 2017b. ALVARENGA, R. P.; QUEIROZ, T. R.; RENOFIO, A. Avaliação do ciclo de vida simplificada: um levantamento bibliográfico sobre as mais recentes publicações nacionais e internacionais. XXXII Encontro Nacional de Engenharia de Produção. Anais... Bento Gonçalves: ENEGEP, 2012. ALVARENGA, R. P.; RENOFIO, A.; ARAÚJO, A. T. de. Avaliação da periculosidade ambiental da produção de milho por meio de um estudo qualitativo de Avaliação do Ciclo de Vida (ACV): um estudo de caso. XXXIII Encontro Nacional de Engenharia de Produção. Anais... Salvador: 2013. BARBIERI, J. C. Gestão ambiental empresarial: conceitos, modelos instrumentos. 3. ed. São Paulo: Savaiva, 2011. CURRAN, M. A. Life Cycle Assessment. In: JORGENSEN, S. E.; FATH, B.D. Human Ecology. v. 3, p. 2168-2174, 2008. 81 Consideração de Impactos Ambientais no Gerenciamento do Agronegócio Capítulo 3 GAZONNI, D. L. Os desafios dos cientistas agrícolas. Revista Agroanalysis. 2011. Disponível em: <http://agroanalysis.com.br/index.php/3/2011/conteudo- especial/caderno-de-ciencias-agrarias-especial-ciencias-agrarias>. Acesso em: 5 jun. 2017. HORNE, R.; GRANT, T. Life Cycle Assessment and agriculture: challenges and prospects. In: HORNE, R.; GRANT, T, VERGHESE, K. (Ed.). Life Cycle Assessment: principles, practice and prospects. Melbourne: CSIRO, 2009. pp. 107-124. IPAM – Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia. 2009. Disponível em: <http://www.inpe.br/noticias/arquivos/pdf/Resumo_Principais_Conclusoes_ emissoes_da_pecuaria_vfinalJean.pdf>. Acesso em: 5 jun. 2017. JACOVELLI, S. J.; FIGUEIREDO, P. J. M. Avaliação de ciclo de vida simplificada aplicada a evolução de tornos. XXIII Encontro Nacional de Engenharia de Produção. Anais... Ouro Preto: ENEGEP, 2003. KNUDSEN, M. T. et al. Global trends in agriculture and food systems. In: HALDBERG, N.; ALROE, H. F; KNUDSEN, M. T; KRISTENSEN, E. S. (Ed.). Global Development of Organic Agriculture: Challenges and Prospects. 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Acesso em: 5 jun. 2017. 82 Administração Rural CAPÍTULO 4 Agronegócio na Prática A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: � Identificar gargalos no gerenciamento de sistemas de produção agropecuário. � Conhecer o cenário de uso de terras no Brasil, conhecer o panorama de produção de importantes culturas do Brasil. � Explicar como estratégias de Responsabilidade Social Corporativa têm sido utilizadas por agentes das cadeias agroindustrial. � Definir opções para mitigação de impactos sociais e ambientais associados às cadeias de produção agroindustrial estudadas. � Analisar e diagnosticar importantes fatores críticos para o sucesso do gerenciamento no contexto do agronegócio. 84 Administração Rural 85 Agronegócio na Prática Capítulo 4 Contextualização De agora em diante, apresentamos a você, pós-graduando, exemplos de aplicabilidade de gerenciamento no contexto rural. Muitos dos exemplos que destacamos são frutos de nossas pesquisas já publicadas em revistas científicas e também de nossos projetos de mestrado e doutorado. Neste contexto, os casos de aplicação de gestão aqui apresentados passam por quatro das mais importantes cadeias de produção do agronegócio do Brasil: milho, cana-de-açúcar, bovinos e café. Para cada uma destas cadeias, oferecemos: a) posicionamento de produção no Brasil, regiões e estados; b) apontamentos sobre quais são os principais fatores críticos para o sucesso da gestão em cada cadeia em específico. Além disso, destacamos em cada uma destas cadeias, exemplos de gargalos nos campos ambiental e social que podem impactar seus respectivos desempenhos e continuidade dos negócios atrelados a elas. Entendemos que é de suma importância fazer o entrelaçamento com estes aspectos da sustentabilidade, sobretudo porque os cenários dos distintos mercados demandam pela mitigação dos impactos negativos ambientais, econômicos e sociais vinculados às cadeias de produção. Uma vez que estas demandas podem alterar os padrões dos mecanismos de mercado, os gestores associados ao agronegócio devem guiar suas ações para o rumo das exigências estabelecidas. A você, pós-graduando, desejamos uma boa apreciação desta segunda etapa do nosso trabalho. Uso de Terras no Brasil e Sustentabilidade A tecnologia e a forma de se cultivar em escala mudaram o perfil agrícola mundial, fazendo com que o uso da terra pela agricultura fosse ampliado. O aumento de hectares plantados nos últimos anos está associado ao crescimento da demanda por produtos agrícolas. Este, por sua vez, é propulsionado por elevação do número de habitantes no planeta, aumento do poder de compra de muitas economias asiáticas e maior interesse por lavouras destinadas para fins não alimentares, tal como é o caso dos biocombustíveis (ALVARENGA, 2012). Knudsen et al. (2006), após pesquisarem em banco de dados da Food and Agriculture Organization (FAO), relacionam o avanço da produção agrícola à expansão de 170 milhões de hectares, entre terras aráveis e terras cobertas com A tecnologia e a forma de se cultivar em escala mudaram o perfil agrícola mundial, 86 Administração Rural culturas permanentes, bem como a adição de 190 milhões de hectares irrigados entre os anos de 1950 e 2000. Ainda, enfatizam a contribuição da incorporação de sistemas agrícolas mistos, tal como é o caso da combinação de lavouras com pastagens. No Brasil, vegetação florestal e pastagens são os tipos predominantes de cobertura e uso da terra no país. Até 2014 (IBGE, 2016), por exemplo, o Brasil possuía 3.175.597 km2 de suas terras cobertas com vegetação florestal, 1.600.238 km2 com pastagem natural e 998.944 km2 com pastagem com manejo. Até aquele ano, tal como enfatizado pela Tabela 1, o país tinha 558.549 km2 de suas terras especificamente sendo utilizadas para fins agrícolas. No Brasil, vegetação florestal e pastagens são os tipos predominantes de cobertura e uso da terra no país. A terra no Brasil não é usada pela pecuária de forma otimizada. Tabela 1 – Forma de cobertura e uso da terra no Brasil em 2014 Fonte: Adaptado de IBGE (2016). Forma de cobertura / uso de terra no país Área (km 2) % Vegetação florestal 3.175.597 38,53% Pastagem natural 1.600.238 19,42% Pastagem com manejo 998.944 12,12% Mosaico de área agrícola com remanescentes florestais 792.933 9,62% Área agrícola 558.549 6,78% Mosaico de vegetação florestal com atividade agrícola 453.560 5,50% Mosaico de área agrícola com remanescentes campestres 396.863 4,82% Vegetação campestre 88.320 1,07% Silvicultura 85.972 1,04% Área úmida 42.440 0,51% Área artificial 42.437 0,51% Áreas descobertas 5.844 0,07% Total 8.241.697 100,00% Portanto, em um contexto mais específico, pode-se afirmar, tal como ilustra a figura a seguir, que cerca de 70% da área do país é ocupada por vegetação florestal (quase 40%), pastagem natural (quase 20%) e pastagem com manejo (quase 12%). Assim como mostrado na Tabela 1, o Brasil possui aproximadamente 7% de suas terras sendo utilizadas especificamente para agricultura. Neste contexto, diante de uma realidade em que cerca de 32% das terras brasileiras são ocupadas por pastagens, a terra no Brasil não é usada pela pecuária de forma otimizada. 87 Agronegócio na Prática Capítulo 4 Fonte: Adaptado de IBGE (2016). Para conhecimento mais aprofundado sobre uso de terras no Brasil, leia o seguinte material: IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Mudanças nacobertura e uso da terra no Brasil: 2000 – 2010 – 2012 – 2014. 2016. Disponível em: <ftp://geoftp.ibge.gov.br/informacoes_ ambientais/cobertura_e_uso_da_terra/mudancas/documentos/ mudancas_de_cobertura_e_uso_da_terra_2000_2010_2012_2014. pdf>. Acesso em: 7 jun. 2017. No Brasil predomina a criação bovina extensiva, sendo esta a razão do setor, não só demandar imensas áreas como também utilizar de pastagens naturais, condições estas que contribuem para a má distribuição de terra no país (ALVARENGA; RENOFIO; QUEIROZ, 2010). Bovinos Neste tópico daremos destaque a aspectos importantes vinculados à cadeia produtiva bovina no Brasil, tais quais: eficiência produtiva, cenário da criação de gado no Brasil, gargalos ambientais no setor de couro e fatores críticos para o gerenciamento de propriedades criadoras de bovinos do país. 88 Administração Rural a) Necessidade de melhorar eficiência na criação de bovinos no Brasil A sustentabilidade no setor agropecuário passa, necessariamente, pela adoção de medidas que visem tanto otimizar a área utilizada por pastagens como também reduzir alguns dos impactos negativos ambientais ocasionados por este setor (ALVARENGA; RENOFIO; QUEIROZ, 2010; RENOFIO et al., 2011). No que diz respeito à otimização das pastagens, é preciso que seja revertido o quadro de aproveitamento do uso da terra para pastagens no país. Uma das formas de otimização é a própria alternância da utilização das pastagens naturais por áreas de pasto trabalhadas sobre constantes técnicas de manejo, tal como o piqueteamento de pastagens, por exemplo. No Brasil, a média de aproveitamento da agropecuária é de aproximadamente uma cabeça por hectare. Caso o Brasil atinja a produtividade média do estado de São Paulo, por exemplo, o país poderia ter disponível cerca de 50 a 70 milhões de hectares (JANK, 2007), que poderiam ser utilizados para outros fins, como agricultura, por exemplo. Neste estado, conforme salienta Jank (2007), a média de aproveitamento das pastagens é de 1,4 cabeças por hectare. Neste contexto, é necessário o manejo visando à otimização do setor em todas as localidades produtoras do Brasil. A exemplo, um bom guia para tal melhoramento é explorar o caso da agropecuária paulista, cuja média de produtividade chega a ser 71% melhor que a nacional (ALVARENGA; RENOFIO; QUEIROZ, 2010; JANK, 2007; RENOFIO et al., 2011). Tal como mostrado na figura a seguir, no decorrer dos anos, a otimização da área de pastagens no estado de São Paulo vem sendo gradualmente positiva. Neste estado, a otimização das áreas de pastagens possibilitou o uso da terra para outras culturas, como a cana-de-açúcar (ALVARENGA; QUEIROZ, 2008), que constantemente avança pelo território paulista em função de atrativos como terra propícia para cultura, bem como indústrias de base próximas às usinas de açúcar e álcool, que acabam contribuindo para a redução dos custos de produção. No que diz respeito à otimização das pastagens, é preciso que seja revertido o quadro de aproveitamento do uso da terra para pastagens no país. 89 Agronegócio na Prática Capítulo 4 Figura 20 – Total de bovinos e pastagens no estado de São Paulo entre 2001 e 2006 Fonte: Adaptado de Jank (2007). Para conhecimento mais aprofundado sobre otimização do uso de terras no Brasil e uso de terra pela agricultura e pecuária, leia o seguinte material: JANK, M. S. A velha cana-de-açúcar. Revista Opiniões, v. 3, n. 4, p. 12-13, 2007. Disponível em: <http://sucroenergetico. revistaopinioes.com.br/revista/detalhes/3-velha-cana-de-acucar/>. Acesso em: 7 jun. 2017. Para melhorar a eficácia e produtividade do setor, o manejo de pastagens naturais, que ocupa cerca de 20% da terra do país (Tabela 1), necessita de alguns cuidados especiais. Estes são exemplos de atenções requeridas: • Equilibrar a quantidade de gado bovino com a forrageira disponível na pastagem. • Compor a pastagem com animais cujas espécies sejam adequadas ao solo e clima local. • Realizar sistema de rotação dos animais no pasto com o intuito de tornar o manejo eficaz e assim primar pela manutenção da pastagem natural. • Disponibilizar os animais no pasto de acordo com a capacidade deste. 90 Administração Rural A otimização das áreas de pastagens, bem como o manejo adequado do rebanho pode contribuir para a redução de diversos impactos ambientais e sociais vinculados ao setor. Manter atenção sobre os problemas ambientais e sociais vinculados à agropecuária do Brasil é de suma importância. A formação de pastagens destinada à criação de gado deve ser tão importante quanto o tratamento que é feito no solo para a ocupação das lavouras agrícolas. A criação de gado brasileiro tem ocupado grandes porções de matas nativas, como cerrados e floresta amazônica, nas regiões Centro-Oeste e Norte do país. Dispensar atenção para a eficiência da agropecuária nestas regiões é de suma importância para o desenvolvimento do país (ALVARENGA; RENOFIO; QUEIROZ, 2010; RENOFIO et al., 2011). Para conhecimento mais aprofundado sobre impactos ocasionados pela criação de gado no Brasil, leia o seguinte material: CAMPOS, A.; BARROS, C. J.; SAKAMOTO, L.; VIGNES, S. Conexões Sustentáveis São Paulo – Amazônia: quem se beneficia com a destruição da Amazônia. ONG Repórter Brasil e Papel Social Comunicação. 2008. Disponível em: <http://reporterbrasil.org.br/ documentos/conexoes_sustentaveis.pdf>. Acesso em: 7 jun. 2017. b) Cenário da criação de bovinos no Brasil Nas regiões Norte e Centro-Oeste concentram-se a maioria do rebanho bovino do Brasil. No ano de 2015, por exemplo, tal como apresentado na Tabela 2, o Brasil tinha 215.199.488 cabeças de bovinos espalhadas em todos os estados do país e no Distrito Federal (IBGE, 2017). Naquela ocasião, concentravam-se nas regiões Norte e Centro- Oeste aproximadamente 35% (aproximadamente 76 milhões de cabeças) do rebanho bovino do Brasil, tal como monstra a Figura 22. A formação de pastagens destinada à criação de gado deve ser tão importante quanto o tratamento que é feito no solo para a ocupação das lavouras agrícolas. Nas regiões Norte e Centro-Oeste concentram-se a maioria do rebanho bovino do Brasil. Tabela 2 – Cabeças de bovinos no Distrito Federal e nos estados do Brasil em 2015 Localidade Cabeças de bovinos % Mato Grosso 29.364.042 13,65% Minas Gerais 23.768.959 11,05% Goiás 21.887.720 10,17% Mato Grosso do Sul 21.357.398 9,92% 91 Agronegócio na Prática Capítulo 4 Fonte: Adaptado de IBGE (2017). Figura 21 – Milhões de cabeças de bovinos nas regiões do Brasil em 2015 Pará 20.271.618 9,42% Rio Grande do Sul 13.737.316 6,38% Rondônia 13.397.970 6,23% Bahia 10.758.372 5,00% São Paulo 10.468.135 4,86% Paraná 9.314.908 4,33% Tocantins 8.401.580 3,90% Maranhão 7.643.128 3,55% Santa Catarina 4.382.299 2,04% Acre 2.916.207 1,36% Ceará 2.516.197 1,17% Rio de Janeiro 2.351.451 1,09% Espírito Santo 2.223.531 1,03% Pernambuco 1.948.357 0,91% Piauí 1.649.549 0,77% Amazonas 1.293.325 0,60% Alagoas 1.255.696 0,58% Sergipe 1.231.130 0,57% Paraíba 1.170.803 0,54% Rio Grande do Norte 918.952 0,43% Roraima 794.783 0,37% Distrito Federal 96.576 0,04% Amapá 79.486 0,04% Brasil 215.199.488 100,00% Fonte: Adaptado de IBGE (2017). 92 Administração Rural Neste contexto, e condizente com os dados da Tabela 2, os estados que são os maiores criadores de gado bovino do Brasil estão expostos na Figura 23. Conforme indicado nesta figura, os estados de Mato Grosso, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul e Pará respondem por quase 55% de todo efetivo bovino brasileiro. Figura 22 – Cabeças de bovinos nos principais estados do Brasil em 2015 Fonte: Adaptado de IBGE (2017). Os estados do Pará, Roraima, Rondônia, Amapá e Mato Grosso integram o território denominado de Amazônia Legal, assim como as áreas dos estados de Tocantins e Goiás ao norte do paralelo 13º S, bem como a parcelado estado do Maranhão localizada a oeste do meridiano 44º W. Nesses locais existe grande concentração do rebanho bovino brasileiro, sendo que sua ocupação se dá em áreas de pastagens naturais e também de áreas em que houve desmatamentos com cabo de aço ou correntes arrastados por pares de máquinas de esteira e posterior queima não controlada (ALVARENGA; RENOFIO; QUEIROZ, 2010; RENOFIO et al., 2011). A lucratividade do pecuarista nessa região frequentemente é obtida devido ao baixo preço pago na aquisição das terras, mão de obra e também pelo fato de já usarem pastagens já formadas. A relação do número de cabeças de gado por habitante, na região da Amazônia Legal, é de 3,3 (uma relação três vezes maior do que a média do país). O número de abates na região e de reses nela criada representa 41% do total de carne nacional e um terço da carne in natura exportada pelo Brasil, no ano de 2007 (CAMPOS et al. 2008; ALVARENGA; RENOFIO; QUEIROZ, 2010). A lucratividade do pecuarista nessa região frequentemente é obtida devido ao baixo preço pago na aquisição das terras, mão de obra e também pelo fato de já usarem pastagens já formadas. 93 Agronegócio na Prática Capítulo 4 De acordo com Bustamante et al. (2009), a maior fonte de geração de gases do enfeito estufa da pecuária bovina advém do desmatamento para formação de áreas novas de pastagem, particularmente ocorridos na região Amazônica. No período de 2003 e 2008, Bustamente et al. (2009) constataram que: • No bioma amazônico, 75% do desmatamento ocorrido foi devido à expansão da pecuária. • No cerrado, a pecuária foi responsável, no período, por 56% do desmatamento. • Além do desmatamento, a fermentação entérica do gado e o manejo através da queima de antigas pastagens e da própria madeira advinda do desmatamento, constituem as principais fontes de emissão de gases poluentes. • Por ser responsável por aproximadamente 50% dos gases causadores do efeito estufa, o setor da pecuária tem responsabilidade de contribuir, e muito, para mitigação do efeito estufa. De acordo com Bustamante et al. (2009), é possível que haja mitigação de tais impactos negativos. Para isso, é necessária sinergia entre os setores públicos e privados para que ocorra essa redução. Para os autores, as seguintes medidas devem ser tomadas: • Redução do desmatamento. • Eliminação do fogo no manejo das pastagens. • Recuperação de pastagens e solos degradados. • Regeneração de floresta secundária. • Redução da fermentação entérica por meio da melhoria da dieta dos animais. • Integração da lavoura com a pecuária de corte. • Investimento em tecnologia e qualidade na formação e manejo de pastagens. • Redução da expectativa de impunidade nas práticas de ocupação de terras públicas e nos crimes e nas infrações ambientais. • Zoneamento com base em parâmetros territoriais e biofísicos para a implantação de frigoríficos. • Acompanhamento por meio do sensoriamento das pastagens com o intuito de avaliar a ocupação das terras com pastagem, a produtividade e a ocupação do gado. Neste contexto, tão importante quanto conhecer o cenário e os impactos associados ao contexto macro da produção de gado no Brasil, faz-se necessário também ter conhecimento sobre os impactos gerados por uma relevante cadeia de produção adjacente à produção agropecuária do Brasil: a cadeia de produção de couro do Brasil. É possível que haja mitigação de tais impactos negativos. 94 Administração Rural c) Gargalos ambientais do setor de couro Um dos principais entraves na cadeia de produção de couro do Brasil é a geração de resíduos. Nos processos necessários para se produzir o couro bovino são utilizadas inúmeras substâncias químicas que resultam em resíduos nocivos ao meio ambiente, tal como é o caso, por exemplo, da disposição de metais pesados ao solo e ao lençol freático. São raras as curtidoras que possuem políticas eficientes de gestão de resíduos, sendo os mesmos lançados in natura ao meio ambiente, degradando os recursos naturais. Nas maiores empresas do setor, os processos de curtimento são verdadeiras “caixas pretas”, não se fornecendo nem quais produtos nem respectivas quantidades empregadas, sob a alegação de “segredo industrial” (ALVARENGA; RENOFIO; QUEIROZ, 2010; RENOFIO et al., 2011). Os resíduos gerados nos curtumes podem ser classificados em três tipos, a saber: os curtidos, os não curtidos e outros resíduos. Aparas caleadas e não caleadas e carcaças são exemplos de resíduos não curtidos. Serragem cromada, aparas curtidas, pó da lixadeira e aparas de couro semiacabado e acabado, constituem exemplos dos resíduos já curtidos. O cromo e os resíduos da pintura são enquadrados como pertencentes à categoria outros resíduos. Caso não haja o destino e o tratamento correto, todos os três causam prejuízos ambientais, sendo o cromo o mais nocivo (ALVARENGA; RENOFIO; QUEIROZ, 2010; RENOFIO et al., 2011). Concentrações elevadas de cromo no lençol freático e no solo oferecem grande risco à saúde, ao equilíbrio ambiental e é de difícil tratamento e/ou remediação (ALVARENGA; RENOFIO; QUEIROZ, 2010). Entretanto, não se devem sobrestar as ações requeridas nas etapas da primeira fase da cadeia, uma vez que a constante expansão da pecuária na Amazônica Legal é responsável por uma série de problemas, tanto ambientais quanto sociais. Além do desmatamento, existe também o problema da exploração da mão de obra local. Outras vezes, expulsa desses territórios populações tradicionais e escraviza trabalhadores em atividades como desmatamento para formação de pastagem, não oferecem equipamento de proteção individual (EPI) para os trabalhadores e pastoreio do gado. Em seis fazendas autuadas por trabalho escravo, localizadas no município São Felix do Xingu, cinco tem como atividade direta a pecuária extensiva de corte (CAMPOS et al. 2008; ALVARENGA; RENOFIO; QUEIROZ, 2010). São raras as curtidoras que possuem políticas eficientes de gestão de resíduos, sendo os mesmos lançados in natura ao meio ambiente, degradando os recursos naturais. Nas maiores empresas do setor, os processos de curtimento são verdadeiras “caixas pretas”, não se fornecendo nem quais produtos nem respectivas quantidades empregadas, sob a alegação de “segredo industrial 95 Agronegócio na Prática Capítulo 4 É possível mitigar os danos ambientais provocados pela pecuária bovina. Para tanto, é necessário reduzir a fermentação entérica do gado, o desmatamento de áreas protegidas ou não para formação de novas pastagens, os resíduos de frigoríficos e curtumes. Essas medidas aliadas a um eficiente sistema de fiscalização e de gestão podem contribuir para a sustentabilidade da cadeia, condição requerida por parcela do mercado internacional atenta às condições brasileira de produção (ALVARENGA; RENOFIO; QUEIROZ, 2010; RENOFIO et al., 2011). d) Fatores críticos no gerenciamento de propriedades rurais produtoras de bovinos Na abordagem deste tópico, convidamos Jonathas Alfredo Zakir Pereira para nos oferecer seu posicionamento sobre os fatores críticos que estão vinculados ao gerenciamento de propriedades rurais que criam bovinos. Jonathas é, além de pecuarista, também administrador e especialista em agronegócios. É possível mitigar os danos ambien- tais provocados pela pecuária bovina. Para tanto, é necessário reduzir a fermentação entérica do gado, o desmatamento de áreas protegidas ou não para formação de novas pastagens, os resíduos de frigo- ríficos e curtumes. FATORES CRÍTICOS NO GERENCIAMENTO DE PROPRIEDADES RURAIS CRIADORAS DE BOVINOS: A POSIÇAO DE UM PRODUTOR Por Jonathas A. Zakir Pereira Por fatores críticos associados ao gerenciamento da bovinocultura pode-se entender aqueles sinais que acarretam atrasos no crescimento da empresa rural, seja ela familiar ou corporativista. Como em toda atividade econômica, na bovinocultura existemdiversos entraves que se apresentam como âncoras em seus processos, sejam eles no processo produtivo principal do empreendimento ou nas atividades ligadas à gestão de todo o sistema. Neste ambiente é importante diferenciar a bovinocultura de corte e de leite, e passar brevemente pelas diversas realidades, divididas pelo tamanho da propriedade, pequeno, médio e grande, ou pela forma como o processo produtivo é gerenciado. No gerenciamento de propriedades produtoras de bovinos, quase sempre, os seguintes fatores devem ser levados em consideração ao se traçar planos de gerenciamento: a) Variedades de clima e relevo. b) Acontecimentos na geopolítica que podem impactar o mercado. 96 Administração Rural c) Aptidão do gestor/proprietário para a atividade. d) Conhecimentos do gestor/proprietário sobre as distintas características encontradas nos variados tipos de empreendimentos rurais, como por exemplo: pequenos sítios que a família reside, grande fazenda recebida como herança sem pessoas residindo no local, média propriedade gerenciada pela família, propriedades que a bovinocultura é responsável por diferentes proporções na renda familiar, grandes empresas agropecuárias automatizadas e profissionalizadas (existem pequenas propriedades que intensificam de tal forma seu modo de produzir que requerem gerenciamento profissional, outras grandes propriedades que sequer apresentam o mínimo de gestão empresarial). O fato é que cada uma tem suas dificuldades. De um modo geral, o produtor rural é tomador de preço, sempre. Não pode exigir o preço que lhe convém ou que lhe dará o maior lucro, mesmo se o mercado não estiver correspondendo com a realidade dentro da porteira. Então, um primeiro fator crítico é a vulnerabilidade dos preços. Isso porque o gestor acaba sendo obrigado a vender seu produto final pelo preço que lhe oferecem, respeitando os preços oferecidos pelo mercado. Isso dificulta outros pontos, como o investimento a médio e longo prazo na propriedade, o custeio de acordo com a realidade produtiva, planejamento da área financeira, entre outros. Se ao produtor rural fosse permitido fazer a precificação do seu produto final, seja leite, carne ou animais de reposição, seria mais fácil e acessível pensar nos fatores citados acima. O planejamento das suas ações de investimento em estrutura, genética, recursos humanos, nutrição animal e sanidade do rebanho poderiam tomar uma forma mais consistente. Em propriedades de médio porte, por exemplo, o produtor vê-se obrigado a limitar seus gastos de acordo com a proporção da renda bruta. Outro fator crítico diz respeito à instabilidade dos preços dos variados insumos. De maneira genérica, os principais insumos para bovinocultura, tanto extensiva quanto intensiva, são: a) Suplementos alimentares (ração, sal mineral, suplementos ricos em proteína). b) Mão de obra. c) Fertilizantes. d) Medicamentos. e) Defensivos agrícolas. f) Combustível. g) Material para construção e manutenção em geral de cercas e currais, por exemplo. 97 Agronegócio na Prática Capítulo 4 h) Insumos para equipamentos e peças de reposição. A maioria dos preços desses produtos sofre influência de diversos fatores, que não apenas localizados à realidade do país produtor, como por exemplo: o preço do petróleo, a cotação do dólar, as taxas de juros, as recentes crises econômicas em diferentes países do mundo. Neste ambiente, o produtor é praticamente obrigado a pagar o que lhe é imputado. Exceto em raríssimas situações, o produtor consegue pagar valor mais condizente. Uma estratégia para isso são as compras antecipadas em caso de produtos sazonais ou coletivas, em caso de cooperativas ou associações. Mas estas não são constantes nem comuns entre a maioria dos produtores do país. Outro fator crítico diz respeito ao acesso às linhas de crédito, que são demasiadamente difíceis de se conseguir. Embora existam linhas de financiamento da produção para diversas realidades (tal como para produtores familiares, médios produtores ou grandes corporações), o acesso a esse dinheiro é oneroso do ponto de vista administrativo. A burocracia dificultosa e lenta no Brasil, os processos inadequados e a grande quantidade de projetos a serem analisados tornam quase impossível de se obter algum tipo de apoio financeiro. Diferentemente do que ocorre na produção agrícola, a produção bovina não possui um período de safra bem definido. Sobretudo no que diz respeito às práticas dos confinamentos e o desenvolvimento tecnológico aplicado no campo, que acabam interferindo no prazo para pagamento do empréstimo, que pode ser elástico. Em todo sistema de produção, um fator determinante é a aplicação de tecnologia de ponta. Para a bovinocultura não podia ser diferente. Embora estejam mais difundidas atualmente, essas ferramentas não chegaram à maioria das propriedades, como são os exemplos: inseminação artificial, controle biológico de pragas, misturadores de ração hiperprecisos, maquinário de agricultura de precisão, softwares de gestão. As ferramentas mais desenvolvidas tecnologicamente esbarram em problemas básicos. Tal é o caso, por exemplo, da tentativa que houve de se implementar os softwares para a gestão do rebanho. O sinal de internet fraco ou oneroso nas propriedades rurais implicava no insucesso. Além do mais, muitos produtores analisam investimentos similares como algo supérfluo, sem muita importância para sua produção. Em relação às demais tecnologias, o custo de uso do capital nelas empatado inviabiliza sua utilização, quando se leva em consideração fatores como: o prazo do retorno do investimento, que costuma ser de médio e longo prazo; os custos envolvidos na implementação no empreendimento, como treinamento de pessoal, readequação das pastagens e estruturas físicas, por exemplo. 98 Administração Rural Qualificação de mão de obra em todos os setores da economia é determinante para o sucesso do empreendimento. Não seria diferente para a produção rural, que é repleta de pessoas de bom coração, mas que aprenderam o que sabem na prática, no dia a dia do trabalho no campo, geralmente com seus pais e avós. Não se deve desmerecer, de forma alguma, esse tipo de conhecimento. Aliás, é o conhecimento destes profissionais que mantém a maioria das propriedades rurais em atividade. No entanto, de forma geral, muitos produtores não buscam conhecimentos que os possibilitem melhorar a gestão e produção do seu negócio. Isso contribui para a dificuldade apontada no quesito anterior que tratou da aplicação da tecnologia de ponta. Motivar os trabalhadores rurais a permanecer no campo e a terem qualidade de vida e de trabalho para si e suas famílias é um desafio enfrentado desde os primórdios do período de êxodo rural e parece que não será dirimido tão cedo. Aptidão para o trabalho no campo, levando em consideração a história, costumes, gostos e virtudes, é algo a se considerar no que tange à gestão da bovinocultura. Muitos empreendedores de sucesso demoraram muitos e longos anos para produzir rebanhos, sobretudo no campo da genética leiteira ou de corte, debaixo de situações drásticas e condições adversas. As gerações mais novas talvez não tenham similaridades neste sentido por causa de diferenças encontradas entre suas gerações antecedentes. Entre os exemplos, podem ser citadas as diferenças nos próprios valores a que se dão atenção e que impactam diretamente no modo com que foi desenvolvida a pecuária no Brasil. Uma vez que as gerações mais novas de pecuaristas não possuem capacidade de resiliência ou persistência nas atividades, acabam não conseguindo permanecer na bovinocultura por muito tempo. Muitos herdeiros, ao se depararem com planilhas negativas e condições difíceis, migram a atividade produtiva do gado para outro produto. Outra alternativa tem sido o arrendamento ou venda das terras para usinas de cana-de-açúcar ou para outros produtoresrurais. Esse fator modifica o espaço rural e as relações de trabalho. Modifica também o meio ambiente, que cada dia mais sofre com o chamado fenômeno do “deserto verde”, acarretado pela monocultura e práticas agrícolas defasadas e prejudiciais. Não se pode deixar de lado a questão insegurança, seja ela física, financeira ou de propriedade. Muitos produtores rurais se deparam perante ameaças pelos constantes assaltos e roubos que acontecem de forma mais frequentes nas propriedades rurais. Nos campos do Brasil, tem sido muito comum encontrar casos de assaltos e roubos aos bens das casas rurais, bem como também de assaltos e roubos de implementos agrícolas, 99 Agronegócio na Prática Capítulo 4 produção agrícola e animais. A descapitalização também é motivo de insegurança para a maioria dos produtores. Quando precisam realizar um aporte maior de capital no empreendimento ou usá-lo para gastos pessoais, precisam vender animais, seja a circunstância encontrada no mercado propícia ou não. Invasões em propriedades por parte de movimentos sociais que não levam em consideração, muitas vezes, a situação de produtividade da empresa rural ou da legalidade da propriedade das terras em que se encontram, também é fonte de incerteza sobre o futuro. O mercado que engloba a bovinocultura, por vezes, pode ser muito especulativo. Com compradores de animais ou de seus produtos muito afinados entre si, gerando incertezas quanto à capacidade de garantias, quanto à venda ou de confiança entre os agentes da mesma cadeia produtiva. Há em alguns casos um verdadeiro lobby de compradores que desejam usufruir desses relacionamentos e que prejudicam as transações, tornando um mercado que poderia ser competitivo em uma engrenagem que gira com bastante dificuldade. Fonte: PEREIRA, J. A. Z. P. Fatores críticos no gerenciamento de propriedades rurais produtoras de bovinos: a posição de um produtor. Texto concedido para composição de capítulo. Junho de 2017. Pelos apontamentos destacados por Jonathas, fica claro que diversos aspectos podem afetar o gerenciamento em propriedades rurais criadoras de bovinos, sendo os mais comuns: aspectos de ordem técnica (como uso de tecnologia), financeira (custos dos insumos que não acompanham o preço de venda), humana (falta de mão de obra qualificada e desinteresse/despreparo das gerações futuras para assumirem as propriedades dos seus pais) e político- econômica (flutuações de câmbio e crises diversas). Milho Aqui, abordamos a produção de milho no Brasil, destacando os seguintes pontos: cenário da produção de milho no Brasil, apontamentos sobre milho transgênico no Brasil e também um panorama sobre o risco tóxico e perigo ambiental presente no ciclo de vida da produção de milho. A cultura do milho possui muitas similaridades de processos com outras importantes culturas que abastecem o mercado de grãos do Brasil e do mundo, tais como soja, sorgo e trigo, por exemplo. Assim, o conhecimento sobre alguns dos principais tópicos 100 Administração Rural que abordamos aqui também pode oferecer subsídios para se compreender o funcionamento destas culturas que possuem similaridades de processos. Dentre estes, existem os próprios fatores críticos que estão vinculados ao gerenciamento de propriedades produtoras de grãos e o caso do consumo de agrotóxico. a) Cenário do milho no Brasil A cultura do milho é uma das que mais ocupam as terras agrícolas do Brasil e é uma das principais fontes de renda para pequenos, médios e grandes agricultores brasileiros. Em seu sistema de cultivo, há basicamente dois métodos de trabalho utilizados no Brasil, que são: plantio direto e plantio convencional. Enquanto o plantio direto é mais presente nas grandes propriedades agrícolas, o método do plantio convencional é mais restrito aos pequenos agricultores (ALVARENGA, 2012). No Brasil, cerca de 80% do milho produzido no país possui como destino o mercado de ração animal. Quanto ao consumo humano, o milho é transformado em diversos produtos, como por exemplo: farinha, amido, xarope de glicose, flocos para cereais matinais, óleo, margarina, entre outros produtos (ALVARENGA, 2012). O Brasil é o terceiro maior produtor de milho do mundo. Estados Unidos e China ocupam o primeiro e segundo lugar, respectivamente (USDA, 2016). Alguns dos principais fatores contribuem para os Estados Unidos ocuparem a primeira posição, entre eles: i) o alto uso de tecnologia; ii) a constante demanda por etanol produzido de milho naquele país; iii) sua alta produtividade por hectare. Ao se comparar, por exemplo, na Tabela 3, os dados de safras dos dois principais países produtores de milho da América Latina e os dados dos Estados Unidos no que tange à área plantada, produção e produtividade por hectare, confirma-se que o país tem uma eficiência de produção muito aquém dos dois países comparados (ALVARENGA, 2012). A cultura do milho é uma das que mais ocupam as terras agrícolas do Brasil e é uma das principais fontes de renda para pequenos, médios e grandes agricultores brasileiros. Tabela 3 – Comparativo de produção de milho entre Estados Unidos, Argentina e Brasil Fonte: Adaptado de Alvarenga (2012), mediante dados de Agrianual 2010 (2010). Países produtores Estados Unidos Brasil Argentina Safra Área (mil ha) Produção (mil ton.) Produt. (kg/ha) Área Produção (mil ton.) Produt. (kg/ha) Área Produção (mil ton.) Produt. (kg/ha) 2004/05 29.798 299.914 10.065 12.208 35.007 2.867 3.400 20.500 6.029 2006/07 28.586 267.503 9.358 14.000 51.078 3.648 3.580 21.800 6.089 2008/09 31.825 307.386 9.659 14.143 50.971 3.604 3.500 19.000 5.429 101 Agronegócio na Prática Capítulo 4 Um dos principais fatores que justificam a alta produtividade de milho do Brasil é a ampla disponibilidade de terras destinada à cultura do milho. Grande parte da produção do milho brasileiro provém de produtores que ainda operam suas propriedades mediante processos semelhantes aos de subsistência. Nestes sistemas produtivos, a baixa produtividade por hectare ocorre em circunstância da falta de conhecimento e de adoção de novas tecnologias, principalmente por pequenos e médios agricultores. Assim, o desenvolvimento destes agricultores pode alavancar as chances de a cadeia produtiva do milho ser mais eficiente mediante uma atenção voltada ao conhecimento sobre os seguintes aspectos: manuseio de máquinas e implementos agrícolas, práticas culturais, gestão ambiental e funcionamento do mercado em que atuam). Outros fatores que podem ser listados, de acordo com Companhia Nacional de Abastecimento estão associados ao incremento de tecnologia no campo, tais como: utilização de sementes de qualidade, acompanhamento da cultura por profissional qualificado (ALVARENGA, 2012). Apesar de tais necessidades, o mercado de grãos brasileiro apresenta um forte potencial. Cerca de 80% da produção de grãos brasileiros é representado pelas colheitas da soja e do milho. Contudo, a maior parte do milho produzido no Brasil é consumido internamente e o volume de milho exportado é baixo, quando comparado à quantidade produzida. Devido a isso, o volume importado também é baixo. Apesar de uma relativa baixa eficiência produtiva comparada com os Estados Unidos e Argentina, o cenário para o Brasil é promissor no que diz respeito à melhoria da sua eficiência de produção. Tal como confirmado pela figura a seguir, tem ocorrido no Brasil no decorrer dos últimos anos não apenas um aumento da área plantada, mas também da produtividade média por hectare. Cerca de 80% da produção de grãos brasileiros é representado pelas colheitas da soja e do milho. O cenário para o Brasil é promissor no que diz respei- to à melhoria da sua eficiência de produção. Figura 23 – Área plantada e produtividade média de milho no Brasil entre 2003 e 2015 Fonte: Adaptado de IBGE (2017). 102 Administração Rural No Brasil,a região Centro-Oeste é a maior produtora de milho do país, tal como enfatizado pela figura a seguir. Na safra de 2015, por exemplo, foram produzidas no país aproximadamente 85 milhões de toneladas de milho. Destas, 48% foram produzidas na região Centro-oeste, 29% na região Sul, 14% na região Sudeste, 7% na região Nordeste e 3% na região Norte. Figura 24 – Produção de milho nas regiões do Brasil em 2015: milhões de toneladas Fonte: Adaptado de IBGE (2017). Assim como ocorrem diferenças entre a eficiência produtiva entre o Brasil e outros importantes países produtores, também se presenciam diferenças significativas neste quesito entre as regiões brasileiras, bem como também entre o Distrito Federal e os estados do Brasil. A Tabela 4 e a Figura 25 mostram estas discrepâncias. Tabela 4 – Área plantada, produção e produtividade por hectare de milho nas regiões do Brasil na safra de 2015 Localidade Hectares plantados Toneladas produzidas Toneladas por hectare Norte 622.359 2.314.968 3,72 Nordeste 2.687.968 5.865.820 2,18 Sudeste 2.110.908 11.564.629 5,48 Sul 3.698.680 24.417.444 6,60 Centro-Oeste 6.726.602 41.121.795 6,11 Brasil 15.846.517 85.284.656 5,38 Fonte: Adaptado de IBGE (2017). 103 Agronegócio na Prática Capítulo 4 Figura 25 – Toneladas de milho por hectare no Distrito Federal e todos os estados do Brasil em 2015 Fonte: Adaptado de IBGE (2017). Um dos principais motivos que justificam estas disparidades está vinculado aos seguintes aspectos, presentes em muitas propriedades localizadas nas principais regiões produtoras de milho do Brasil: • Alta adoção de tecnologia no campo (pivôs de irrigação, máquinas agrícolas modernas, gerenciamento profissional das propriedades agrícolas, adoção do plantio direto). • Grandes áreas plantadas. • Duas colheitas anuais, com poucas diferenças de produtividade entre uma e outra. • Lavouras sendo acompanhadas constantemente por agrônomos e técnicos agrícolas. • Forte presença de importantes institutos de pesquisa desenvolvendo tecnologias específicas para a cultura, tal como é o caso, por exemplo, da Embrapa Milho e Sorgo e também das diversas universidades do Brasil com foco em Ciências Agrárias, Sociais e Exatas. No que tange às participações estaduais na produção de milho no Brasil, Mato Grosso, Paraná e Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais são, respectivamente, os cinco maiores produtores de milho do Brasil, tal como confirmado pela Tabela 5. Duas colheitas anuais, com poucas diferenças de produ- tividade entre uma e outra. 104 Administração Rural Tabela 5 – Panorama da produção de milho no Distrito Federal e nos estados brasileiros na safra de 2015 Fonte: Adaptado de IBGE (2017). Localidade Hectares plantados Toneladas produzidas % da produ- ção do país Toneladas por hectare Mato Grosso 3.570.606 21.353.295 25,04% 5,98 Paraná 2.439.400 15.777.409 18,50% 6,47 Mato Grosso do Sul 1.681.672 9.727.809 11,41% 5,78 Goiás 1.409.102 9.512.503 11,15% 6,75 Minas Gerais 1.281.452 6.839.297 8,02% 5,34 Rio Grande do Sul 854.793 5.563.555 6,52% 6,51 São Paulo 808.374 4.688.951 5,50% 5,8 Santa Catarina 404.487 3.076.480 3,61% 7,61 Bahia 814.311 2.683.111 3,15% 3,29 Maranhão 456.746 1.397.831 1,64% 3,06 Piauí 409.277 1.101.439 1,29% 2,69 Rondônia 175.952 787.093 0,92% 4,47 Pará 228.871 759.662 0,89% 3,32 Tocantins 162.078 639.736 0,75% 3,95 Distrito Federal 65.222 528.188 0,62% 8,1 Sergipe 175.135 495.729 0,58% 2,83 Ceará 495.927 130.887 0,15% 0,26 Acre 41.876 94.483 0,11% 2,26 Espírito Santo 18.642 30.147 0,04% 1,62 Pernambuco 194.147 25.867 0,03% 0,13 Amazonas 6.604 16.816 0,02% 2,55 Alagoas 34.224 15.800 0,02% 0,46 Roraima 5.221 15.528 0,02% 2,97 Paraíba 65.286 10.934 0,01% 0,17 Rio de Janeiro 2.440 6.234 0,01% 2,55 Rio Grande do Norte 42.915 4.222 0,01% 0,1 Amapá 1.757 1.650 0,00% 0,94 Brasil 15.846.517 85.284.656 100,00% 5,38 105 Agronegócio na Prática Capítulo 4 Assim como enfatizado na Tabela 5 e na Figura 26, apenas o estado do Mato Grosso produz aproximadamente 25% do milho do Brasil. Em um sentido mais agregado, apenas cinco estados brasileiros produzem cerca de 75% do milho do país, tal como demonstra a figura a seguir. Apenas cinco estados brasileiros produzem cerca de 75% do milho do país. O fator mais impor- tante que motiva a troca da semente convencional pela transgênica é o econômico. Figura 26 – Produção de milho nos principais estados do Brasil em 2015: milhões de toneladas Fonte: Adaptado de IBGE (2017). No Brasil, um fator que também tem contribuído para o aumento da produção e eficiência produtiva é a adoção de sementes transgênicas no campo. b) Milho transgênico no Brasil A questão da liberação do cultivo da semente de milho transgênica no Brasil foi discutida por entidades competentes por mais de dez anos, tendo sido aprovado no ano de 2008. No entanto, apesar do relativo recente aval para comercialização da semente transgênica, nota-se uma tendência para a permanência do plantio com este tipo de semente nos campos brasileiros (ALVARENGA, 2012). O fator mais importante que motiva a troca da semente convencional pela transgênica é o econômico. As perdas de produtividade da cultura do milho em decorrência de insetos tidos como pragas para a cultura do milho são de quase 20%, fazendo com que o agronegócio do milho deixe de ganhar aproximadamente dois bilhões de reais anualmente (WAQUIL; VILLELA, 2004). De acordo com Embrapa (2008), gasta-se em torno de 23 milhões de dólares anualmente nas aplicações de inseticidas e no tratamento de sementes para se conter as principais pragas da cultura do milho, fazendo das 106 Administração Rural variedades de sementes de milho transgênico tolerantes a insetos e herbicidas uma forma viável de se conter estes prejuízos econômicos. Algumas consequências são possíveis de acontecer devido ao uso de sementes de milho transgênicas. Uma destas é o fluxo de genes dos organismos modificados para as variedades locais não modificadas (PIÑEYRO-NELSON et al., 2009). Outra é o risco à segurança alimentar, pois pode ser que surjam efeitos colaterais naqueles indivíduos que consumirem alimentos constituídos de compostos transgênicos. Além destes, há possibilidade de ocorrer resistência das plantas daninhas aos herbicidas e também resistência dos insetos aos inseticidas, criando um círculo vicioso de necessidade de agrotóxicos cada vez mais fortes (EMBRAPA, 2008). Neste sentido, as pesquisas envolvendo sementes de milho transgênicas apontam para caminhos diversos. Embrapa (2008) afirma que no decorrer de dezesseis anos do comércio agrícola de produtos transgênicos não foram observadas consequências relevantes para a saúde humana nem para o meio ambiente. No caso da adoção da semente de milho transgênica nos campos do Brasil, as chances de ocorrer efeitos ambientais por fluxo gênico são raras, pois não existem no país plantas nativas passíveis de serem cruzadas com as variedades de milho. No entanto, ao se observar o panorama da plantação de sementes transgênicas de milho em outros países, as pesquisas direcionam a necessidade de mais estudos sobre as consequências que este tipo de cultura pode causar. Segundo Binemelis (2008), a lavoura de milho transgênico em uma região da Espanha contribuiu para a queda da produção de milho orgânico, o que indica a inviabilidade de coexistir estas duas distintas lavouras. No México, em lavoura experimental destinada à pesquisa, Piñeyro-Nelson et al. (2009) descobriram contaminação de uma variedade de milho comum da região pelos transgênicos. Neste país, apesar da produção comercial do milho transgênico ainda não ter sido liberada, as pesquisas na área se tornam relevantes, pois existem muitas variedades de milho que, se contaminadas, podem comprometer a diversidade genética dos milhos existentes (ACEVEDO et al., 2011), já que não existem formas de se parar ofluxo de genes para as plantas nativas da região (DALTON, 2009). No caso brasileiro, apesar das considerações de Embrapa (2008) sobre a situação dos fluxos gênicos, o trabalho de Ferment et al. (2009) indica relevantes considerações sobre a cultura de milho transgênico nos campos nacionais, sendo as principais: 107 Agronegócio na Prática Capítulo 4 • O milho transgênico pode comprometer outras variedades, pois barreiras destinadas a conter movimento de sementes ou polinização não são efetivas completamente. • Falta ainda estabelecer regras legais para responsabilização e compensação de eventuais danos causados por lavouras de milho transgênicos em outras variedades. • A norma divulgada pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) sobre a situação do milho transgênico não é completa e não garante a possibilidade de coexistência de variedades de milho transgênicos e convencionais. Contudo, mesmo diante destas questões ainda em aberto, verifica-se que o plantio de milho transgênico no Brasil já é realizado em suas principais regiões produtoras em proporções consideráveis. Na safra 2009/10, por exemplo, 25% do milho do Brasil foi plantado com semente transgênica. Naquela safra, as seguintes proporções foram plantadas com sementes transgênicas nas regiões do Brasil: Centro-oeste, 50%; Sul, 37%; Sudeste, 31%; Nordeste, 5%; Norte, 1% (AGRIANUAL, 2010). c) Agrotóxicos na agricultura do Brasil Assim como o caso da ampliação do uso da terra pela agricultura e agropecuária, os insumos químicos também contribuíram para o aumento da produção. Tal como afirma Borges Filho (2004), a intensificação do uso de agrotóxicos contribuiu para a maior produtividade, tal como é o caso das monoculturas dos trópicos, por exemplo. Contudo, o mau uso de agrotóxicos acarretou problemas ambientais decorrentes da atividade agrícola. Além das contaminações da água, do solo e dos alimentos que o uso indiscriminado de agrotóxicos pode causar, há ainda a possibilidade das pragas agrícolas combatidas se tornarem resistentes aos produtos, fazendo com que haja desequilíbrio da cadeia de predadores e presas, pois os agrotóxicos são mais nocivos aos inimigos naturais das pragas que se pretendem eliminar do que aos próprios insetos, fungos e ervas daninhas presentes nas lavouras. • Problemas tóxicos e ambientais associados ao uso de agrotóxicos no Brasil No Brasil, os problemas ambientais e tóxicos associados aos agrotóxicos requerem especial atenção. O país é o maior consumidor destes insumos no planeta (ABRASCO, 2012; COSTA; NOMURA, 2016) e também o país que mais utiliza agrotóxicos proibidos em outros países (ABRASCO, 2012). A maior parte dos agrotóxicos utilizados na agricultura brasileira são consumidos nas culturas de soja (32,6%), milho (12%), citros (10%), cana (7,6%) e café (7%), respectivamente (SPADOTTO et al., 2004). Falta ainda estabe- lecer regras legais para responsabili- zação e compen- sação de eventuais danos causados por lavouras de milho transgênicos em outras variedades. Contudo, o mau uso de agrotóxicos acarretou problemas ambientais decor- rentes da atividade agrícola. O país é o maior consumidor destes insumos no planeta e também o país que mais utiliza agrotóxicos proibidos em outros países. 108 Administração Rural Agrotóxicos causam sérios problemas ambientais na agricultura (TILMAN et al., 2002). Entre os mais comuns estão: degradação da matéria orgânica e eutrofização de solos (MORENO-MATEOS et al., 2015), de águas superficiais e de águas subterrâneas, bem como redução da biodiversidade e da qualidade do solo (TILMAN et al., 2002) e dá água (PIMENTEL et al., 2004; TILMAN et al., 2002; WATTS et al., 2015). No Brasil, pesquisas já comprovaram danos ambientais que foram causados por agrotóxicos, tais quais: contaminação de solo e água em área agrícola do cerrado do país (SOARES; PORTO, 2007); contaminação de água subterrânea e superficial propícia para consumo humano (VEIGA et al., 2006); morte de plantas urbanas devido à pulverização agrícola (PIGNATI; MACHADO; CABRAL, 2007); redução de polinização por abelhas (PACÍFICO-DA-SILVA; MELO; SOTO-BLANCO, 2016), bem como também envenenamento (ROSSI et al., 2013) e morte de abelhas (LIMA; ROCHA, 2012). Os agrotóxicos de uso agrícola também estão entre os insumos que mais causam intoxicação humana no Brasil (BOCHNER, 2007). Pesquisas que foram desenvolvidas com trabalhadores rurais mencionam os seguintes casos de malefícios causados à saúde por agrotóxicos: doenças crônicas, problemas auditivos e na qualidade de, problemas reprodutivos, ardência nos olhos, tonturas, cefaleia e náuseas e morte. Entre os trabalhadores rurais existe uma série de motivos que contribuem para suas intoxicações, como por exemplo: não utilização de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), manuseio prolongado do agrotóxico e falta de informação sobre a maneira correta de aplicar e manusear o insumo tóxico (FARIA; FASSA; FACCHIN, 2007). Para maiores esclarecimentos neste sentido, a Tabela 6 mostra exemplos de casos de intoxicação por agrotóxicos no Brasil que ocorreram no ano de 2007. Os agrotóxicos de uso agrícola também estão entre os insumos que mais causam intoxicação humana no Brasil. Tabela 6 – Quantidade de casos de intoxicação por agrotóxicos registrados no Brasil no ano de 2007 Causa da intoxicação Agrotóxico uso agrícola Uso doméstico Produto veterinário Raticidas Acidente individual 1271 2205 618 1528 Acidente coletivo 85 66 20 43 Acidente ambiental 16 8 4 3 Ocupacional 1557 120 69 12 Ingestão de alimentos 9 1 2 0 Tentativa de suicídio 2443 754 392 2560 Tentativa de aborto 9 4 1 14 Violência / homicídio 36 7 1 35 Uso indevido 30 95 49 7 Outra 96 113 38 29 109 Agronegócio na Prática Capítulo 4 Fonte: Adaptado de Ministério da Saúde (2009). Ignorada 138 60 24 140 Total 5690 3433 1218 4371 Ao se analisar a situação geral dos casos de intoxicação por agrotóxicos, averígua-se que quase quinze mil casos de intoxicação por agrotóxicos foram registrados no Brasil no ano de 2007. Afora os casos de tentativa de suicídio, constatam-se as maiores ocorrências de intoxicação por acidentes individuais em todas as categorias, além de uma maior ocorrência de acidentes de trabalho na categoria dos agrotóxicos de uso agrícola. • Cenário das vendas de agrotóxicos no Brasil Tendo-se como base dados de vendas de um importante instituto ambiental brasileiro, (IBAMA, 2017), pode-se ter um posicionamento sobre o próprio aumento do consumo destes produtos no país ao longo dos anos, como também sobre quais são as regiões e os estados brasileiros que mais utilizam agrotóxicos. Tal como enfatizado na Figura 27, que mostra a quantidade de agrotóxico vendida no Brasil entre 2000 e 2017 (milhares de toneladas de ingrediente ativo), elevou-se em mais de três vezes o consumo de agrotóxico no Brasil entre o período destacado. Dos dados explanados nesta figura, faz-se exceção para os dados das vendas dos anos de 2007 e 2008. De acordo com o IBAMA (2017), os dados destes dois anos não foram sistematizados pelo instituto. Tal como enfatizado na Figura 27, que mostra a quantida- de de agrotóxico vendida no Brasil entre 2000 e 2017 (milhares de tonela- das de ingrediente ativo), elevou-se em mais de três vezes o consumo de agrotóxico no Brasil entre o período destacado. Figura 27 – Venda de agrotóxico no Brasil entre 2000 e 2014: milhares de toneladas de ingrediente ativo Fonte: Adaptado de IBAMA (2017). 110 Administração Rural No Brasil, a região que mais faz uso de agrotóxico é a Centro-oeste, seguida pelas regiões Sul, Sudeste, Nordeste e Norte, respectivamente. Com base em dados de 2014, a Figura 28 mostra a quantidade de agrotóxico vendida no Brasil nas cinco regiões brasileiras. De acordo com tal figura, foram vendidos naquele ano as seguintes quantidades (milharesde toneladas de ingrediente ativo) de agrotóxico nas regiões brasileiras: Norte, 17,44 (3% do Brasil); Centro-oeste, 166,18 (33% do Brasil); Nordeste, 50,20 (10% do Brasil); Sudeste, 110,82 (22% do Brasil); Sul, 127 (25% do Brasil). De acordo com IBAMA (2017), das vendas realizadas em 2014, quase 37 mil toneladas (7%) não foram possíveis de se determinar a localidade vendida porque as empresas detentoras dos registros, responsáveis por repassar os dados para o Instituto, não conheciam com exatidão a distribuição no território das vendas, por ser uma tarefa executada por terceiros. Figura 28 – Agrotóxicos vendidos nas regiões brasileiras em 2014: milhares de toneladas de ingrediente ativo *Quantidade comercializada sem certeza da localidade que foi vendida. Fonte: Adaptado de IBAMA (2017). No Brasil, um estado do Centro-oeste e três estados do eixo sudeste-sul são os líderes em uso de agrotóxico no país. Em 2014, por exemplo, foram vendidos em Mato Grosso 91.290,46 toneladas (ingredientes ativos) de agrotóxicos. Naquele ano, foram vendidos quase 20% do agrotóxico do país somente para este estado. Já São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná são os estados que ocupam o segundo, terceiro e quarto lugar, respectivamente, no ranking das vendas de agrotóxicos no país. Tal como enfatizado pela Figura 29, somente para estes quatro estados, Mato Grosso, São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná, foram vendidos cerca de 55% de todo agrotóxico do país em 2014. Em um contexto mais amplo, estes quatro estados, mais os estados de Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso Em um contexto mais amplo, estes quatro estados, mais os estados de Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Bahia consumiram, em 2014, cerca de 82% (416.525,30 toneladas de ingrediente ativo) do agrotóxico vendido no Brasil. 111 Agronegócio na Prática Capítulo 4 *Quantidade comercializada sem certeza da localidade que foi vendida Fonte: Adaptado de IBAMA (2017). do Sul e Bahia consumiram, em 2014, cerca de 82% (416.525,30 toneladas de ingrediente ativo) do agrotóxico vendido no Brasil. Figura 29 – Agrotóxicos vendidos nos principais estados do Brasil em 2014: milhares de toneladas de ingrediente ativo • Classificação dos agrotóxicos no Brasil No Brasil, os agrotóxicos são classificados em quatro categorias que os relacionam aos seus potenciais de causarem perigos ambientais e riscos de toxicidade. Os Potenciais de Periculosidade Ambiental (PPP) dos agrotóxicos são avaliados e classificados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (IBAMA) nas seguintes classes: I - produto altamente perigoso; II - produto muito perigoso; III - produto perigoso; IV - produto pouco perigoso (IBAMA, 1996). A classificação do PPP ocorre por meio dos seguintes parâmetros: toxicidade a organismos não alvos do insumo (organismos do solo, organismos aquáticos, aves, abelhas, mamíferos); transporte (solubilidade, mobilidade e absorção); persistência (hidrólise, fotólise e biodegradabilidade); bioacumulação; potencial teratogênico, mutagênico e carcinogênico (IBAMA, 1996; ZERBETTO, 2009). Já potenciais dos agrotóxicos para causar riscos de toxicidade são avaliados e classificados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) nas seguintes classes: I - produto extremamente tóxico; II - produto altamente tóxico; III - produto moderadamente tóxico; IV - produto pouco tóxico. Os parâmetros para classificação da toxicidade dos agrotóxicos estão associados às concentrações No Brasil, os agrotó- xicos são classifi- cados em quatro categorias que os relacionam aos seus potenciais de causarem perigos ambientais e riscos de toxicidade. 112 Administração Rural (quilograma ou litro) dos agrotóxicos capazes de provocar corrosão, ulceração e opacidade na córnea. A forma de aplicação dos agrotóxicos também é levada em consideração como parâmetro para classificação. É considerado como mais propenso a causar problemas devido à toxicidade os produtos aplicados da seguinte forma, respectivamente: i) fumigação de ambientes fechados para tratamento de grãos; ii) pulverização de partes aéreas de culturas altas por via terrestre; iii) pulverização de partes de culturas altas por avião; iv) pulverização de culturas baixas; v) tratamento de solo (SECRETARIA DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA, 1992). Segundo Londres (2011), a toxidade dos agrotóxicos é determinada por meio de estudos laboratoriais com exposição inalatória, oral e dérmica para identificar a Concentração Letal (CL) e Dose Letal (DL) capaz de matar 50% dos animais utilizados nos testes laboratoriais. Dessa forma, a toxidade é indicada em termos do valor da Dose Letal 50% (DL50), representada por miligramas do produto, testado por peso vivo do animal, preciso para matar a metade dos animais utilizados nos testes (CORDEIRO, 2003). Para as análises indicativas por via oral, por exemplo, produtos sólidos são classificados na Classe I quando a DL50 é ≤ 0,005 grama/kg de peso do animal. Na Classe II, quando DL50 é > 0,005 até 0,05 grama/kg. Na Classe III, DL50 > 0,05 a 0,5 gramas/kg. Já na Classe IV, DL50 > 0,5 gramas/kg. Portanto, após feitos os testes, a classe toxicológica do produto será determinada pela mais tóxica que surgir em um dos estudos agudos (LONDRES, 2011). No intuito de simplificar a compreensão das classificações de periculosidade ambiental e de risco tóxico, a quadro a seguir enfatiza em detalhes as respectivas classificações. Quadro 5 – Classificação toxicológica e de periculosidade ambiental Fonte: 1IBAMA (1996) e 2secretaria de Vigilância Sanitária (1992). Classes Classificação de periculosidade ambiental1 Classificação toxicológica2 Classe I Produto altamente perigoso Extremamente tóxico Classe II Produto muito perigoso Muito tóxico Classe III Produto medianamente perigoso Moderadamente tóxico Classe IV Produto pouco perigoso Pouco tóxico 113 Agronegócio na Prática Capítulo 4 No Brasil, todos os agrotóxicos comercializados apresentam em suas bulas e em seus rótulos, além da concentração do ingrediente ativo do agrotóxico, os graus de periculosidade ambiental e toxicológica do agrotóxico. Assim, como forma de exemplificar a associação de cada ingrediente ativo ao seu respectivo grau de periculosidade ambiental e toxicológica, bem como a concentração de cada um no volume total do agrotóxico comercializado, o Quadro 6 (ANDREI, 2013; MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, 2015) enfatiza a relação de alguns agrotóxicos pelos seus elementos ativos (e não pelo nome comercial), função, classe de risco de toxicidade, classe de periculosidade ambiental e concentração em gramas por litro. No Brasil, todos os agrotóxicos comercializados apresentam em suas bulas e em seus rótulos, além da concentração do ingrediente ativo do agrotóxico, os graus de periculosidade ambiental e toxicológica do agrotóxico. Quadro 6 – Características dos ingredientes ativos de agrotóxicos Ingrediente Ativo Função do insumo Classe de toxicidade Classe de periculosi- dade Ambiental Concentração (g/l) Atrazina Herbicida III III 500 Atrazina + S-Meto- lacloro Herbicida II II 370 + 290 Azoxistrobina + Ciproconazol Fungicida III II 200 + 80 Carfentrazona-etílica Herbicida II II 400 Chlorantraniciprole Inseticida III II 200 Clorpirifós Inseticida I I 480 Espinosade Inseticida III III 480 Éster metílico de óleo de soja Adjuvante IV IV 720 Fenpropatrina Inseticida I II 300 Glifosato Inseticida III II 480 Imidacloprido + Tiodicarbe Inseticida II II 150+450 Lufenurom Inseticida IV II 50 Metomil Inseticida I III 215 Óleo mineral Inseticida / acarici- da / adjuvante IV III 760 Óleo mineral Adjuvante IV III 428 Óxido de fembuta- tina Acaricida I II 500 Permetrina Inseticida II I 384 Tebuconazol Fungicida III II 200 114 Administração Rural Tembotriona Herbicida III III 420 Tiametoxam+Lamb- da Cialotrina Inseticida III 141+106 Tiodicarbe Inseticida II III 800 g / kg Fonte: Adaptado de Sistema de Agrotóxicos Fitossanitários – AGROFIT (2011) e Ministério da Agricultura (2015). A partir da tabela acima, o produtor envolvido com o consumo de agrotóxicos pode utilizar de tais dados para decisões envolvendo os riscos de periculosidade ambiental e riscos de toxicidade nos sistemas que estão associados aos sistemas de produção agrícola. Assim, no intuito de exemplificar como isso pode ocorrer, apresenta-se a seguir o caso de uma avaliação do ciclo de vida simplificada que foi desenvolvida levando-se em consideração a produção da semente e a produção do grão de milho. Para conhecimento mais aprofundado sobre agrotóxicos no Brasil, acesse os seguintes materiais: 1 - ALVARENGA, R. P.; QUEIROZ, R. T.; NADAE, J. Risco tóxico e potencial perigo ambiental no ciclo de vida da produção de milho. Espacios, v. 38, n. 1, p. 12,2017. Disponível em: <https://www. researchgate.net/publication/312503117_Risco_toxico_e_potencial_ perigo_ambiental_no_ciclo_de_vida_da_producao_de_milho>. Acesso em: 7 jun. 2017. 2 – ABRASCO – ASSOCIÇÃO BRASILEIRA DE SAÚDE COLETIVA (2012). Dossiê ABRASCO – um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde. Parte 1 - agrotóxicos, segurança alimentar e nutricional e saúde. Rio de Janeiro: ABRASCO. Disponível em: <http://www.abrasco.org.br/dossieagrotoxicos/wp-content/ uploads/2013/10/DossieAbrasco_2015_web.pdf>. Acesso em: 7 jun. 2017. 3 - BOCHNER, R. (2007). Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas SINITOX e as intoxicações humanas por agrotóxicos no Brasil. Ciência e Saúde Coletiva, v. 12, n. 1, p. 73- 89, 2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/csc/v12n1/08. pdf>. Acesso em: 7 jun. 2017. 115 Agronegócio na Prática Capítulo 4 4 - LIMA, M. C. DE; ROCHA, S. A. (2012). Efeitos dos agrotóxicos sobre as abelhas silvestres no Brasil: proposta metodológica de acompanhamento. Brasília: IBAMA. Disponível em: <http://www.semabelhasemalimento.com.br/wp-content/ uploads/2015/02/efeitos_agrotoxicos_abelhas_silvestres_brasil.pdf>. Acesso em: 7 jun. 2017. 5 - MARTINS, M. K. S.; CERQUEIRA, G. S.; SAMPAIO, A. M. A.; LOPES, A. A.; FREITAS, R. M. (2012). Exposição ocupacional aos agrotóxicos: um estudo transversal. Revinter Revista de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 6–27. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/csc/v12n1/11.pdf>. Acesso em: 7 jun. 2017. 6 - NEVES, P. D. M.; BELLINI, M. (2013). Intoxicações por agrotóxicos na mesorregião norte central paranaense, Brasil – 2002 a 2011. Ciência e Saúde Coletiva, v. 18, n. 11, p. 3147–3156. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/csc/v18n11/05.pdf>. Acesso em: 7 jun. 2017. 7 - PIGNATI, W. A.; MACHADO, J. M. H.; CABRAL, J. F. (2007). Acidente rural ampliado: o caso das “chuvas” de agrotóxicos sobre a cidade de Lucas do Rio Verde - MT Major rural accident. Ciência e Saúde Coletiva, v. 12, n. 1, p. 105-114. Disponível em: <http://www. scielo.br/pdf/csc/v12n1/10.pdf>. Acesso em: 7 jun. 2017. 8 - SPADOTTO, C. A.; GOMES, M. A. F.; LUCHINI, L. C.; ANDRÉA, M. M. (2004). Monitoramento do risco ambiental de agrotóxicos: princípios e recomendações. Documentos - Embrapa Meio Ambiente, v. 42, n. Dezembro, p. 1-29. Disponível em: <http:// www.cnpma.embrapa.br/download/documentos_42.pdf>. Acesso em: 7 jun. 2017. d) Risco tóxico e perigo ambiental associado ao ciclo de vida da produção de milho Esta seção descreve resumidamente o principal escopo e os principais resultados de uma pesquisa (ALVARENGA; QUEIROZ; NADAE, 2017a) que desenvolvemos a respeito do consumo de agrotóxicos na cultura do milho. 116 Administração Rural Para acessar a pesquisa completa, veja o artigo: ALVARENGA, R.P.; QUEIROZ, R.T.; NADAE, J. Risco tóxico e potencial perigo ambiental no ciclo de vida da produção de milho. Espacios, v. 38, n. 1, p. 12, 2017. Disponível em: <https://www. researchgate.net/publication/312503117_Risco_toxico_e_potencial_ perigo_ambiental_no_ciclo_de_vida_da_producao_de_milho>. Acesso em: 7 jun. 2017. Nesta pesquisa, utilizamos como técnica uma Avaliação do Ciclo de Vida, estudada na primeira parte deste livro. No desenvolvimento da referida pesquisa, tivemos como guia de execução e motivação para o trabalho, responder a algumas perguntas, entre as quais destacamos duas aqui: • Quais são os tipos de agrotóxicos consumidos no ciclo de vida da produção de milho que mais possuem chances de causarem problemas por toxicidade e perigo ambiental? • Quais são as etapas do ciclo de vida que mais possuem potencialidade para causar perigo ambiental e riscos de intoxicação? Na pesquisa, levamos em consideração tanto os estágios da produção da semente do milho quanto os estágios da produção do grão do milho, tal como enfatizado pela figura que segue. Figura 30 – Estágios do ciclo de vida do milho grão (simplificado) Fonte: Adaptado de Alvarenga, Queiroz e Nadae (2017a). Dos dois estágios destacados, foram avaliadas nove etapas pertinentes aos dois sistemas de produção, tal como enfatizado pela figura a seguir. 117 Agronegócio na Prática Capítulo 4 Figura 31 – Etapas avaliadas no ciclo de vida Figura 32 – Quantidade de cada tipo de agrotóxico consumido no ciclo de vida da produção de vida avaliada Fonte: Adaptado de Alvarenga, Queiroz e Nadae (2017a). Fonte: Adaptado de Alvarenga, Queiroz e Nadae (2017a). Ao se considerar o ciclo avaliado, foram usados seis tipos de agrotóxicos, tal como enfatizado pela Figura 32, as seguintes quantidades de cada tipo de agrotóxico: dois tipos de adjuvante, um tipo de acaricida, quatro tipos de fungicida, sete tipos de herbicida, treze tipos de inseticida e um produto com tripla função (inseticida, acaricida e adjuvante). Ao se considerar o ciclo avaliado, foram usados seis tipos de agrotóxicos. Foram os herbicidas os mais usados. No ciclo de vida, apesar de herbicidas e inseticidas terem sido os agrotóxicos mais nocivos em ambos os casos, foram os herbicidas os mais usados. Tal como mostra a Figura 33, as concentrações por unidade funcional de cada tipo de agrotóxico utilizado no ciclo de vida avaliado foram: tripla função, 69,39; acaricida, 42,77; adjuvante, 164,73; fungicida, 15,51; herbicida, 403,06; inseticida, 42,85. 118 Administração Rural Figura 33 – Concentração (gramas por unidade funcional) de cada tipo de agrotóxico consumido no ciclo de vida da produção de milho avaliado Fonte: Adaptado de Alvarenga, Queiroz e Nadae (2017a). Deste estudo, os principais resultados e conclusões são, tal como enfatizado pelos autores (ALVARENGA; QUEIROZ; NADAE, 2017a): • A extrema maioria dos agrotóxicos (99,5%) que foram consumidos no ciclo de vida avaliado possuem potencial para causar muito e moderado perigo ambiental. • No que diz respeito ao risco de toxicidade, apenas 30% dos agrotóxicos que foram consumidos representam baixo risco (classe) de toxicidade. • Tal como destacado na pesquisa, inseticidas e herbicidas são os agrotóxicos que oferecem mais risco de intoxicação e perigo ambiental. Logo, estes insumos devem ser manuseados com maior cuidado. e) Fatores críticos no gerenciamento de propriedades rurais produtoras de grãos O Brasil, como um dos principais produtores de grãos (como soja, milho e trigo, por exemplo) do mundo, enfrenta algumas dificuldades que implicam o gerenciamento de suas propriedades rurais em sentidos diversos, sendo os principais relacionados à/ao: mão de obra, mercado e produção. Para propriedades produtoras de grãos, o fator mão de obra pode ser considerado crítico no gerenciamento de suas atividades. Sobretudo para grandes áreas, localizadas em regiões como Centro-oeste, Norte e Nordeste. Tal comentamos na primeira etapa do nosso livro, o baixo nível de escolaridade de trabalhadores contratados para trabalhar A extrema maioria dos agrotóxicos (99,5%) que foram consumidos no ciclode vida avaliado possuem potencial para causar muito e moderado perigo ambiental. Apenas 30% dos agrotóxicos que foram consumidos representam baixo risco (classe) de toxicidade. O Brasil, como um dos principais produtores de grãos (como soja, milho e trigo, por exemplo) do mundo, enfrenta algumas dificuldades que implicam o gerenciamento de suas propriedades rurais em sentidos diversos, sendo os principais relacionados à/ ao: mão de obra, mercado e produção. 119 Agronegócio na Prática Capítulo 4 no campo implica dificuldade para acompanhar o desenvolvimento tecnológico do setor. Muitas grandes propriedades produtoras de grãos do Brasil estão equipadas com máquinas e implementos agrícolas de última geração, tais como exemplificadas pela Figura 34. Conseguir mão de obra capaz de operar tais equipamentos é uma dificuldade que produtores estão enfrentando nos campos do Brasil. Não é raro encontrar em tais propriedades processos e equipamentos parados ou atrasados por falta de mão de obra capaz de operar os equipamentos. O baixo nível de escolaridade de trabalhadores contratados para trabalhar no campo implica dificuldade para acompanhar o desenvolvimento tecnológico do setor. No que diz respeito ao mercado, a principal dificuldade enfrentada diz respeito à incerteza do preço de comercialização no momento da colheita. Figura 34 – Máquinas, implementos e equipamentos usados na produção de grãos Fonte: Os autores. Outro fator associado à mão de obra nestas propriedades está associado à distância entre as propriedades rurais e os centros urbanos. Como muitos trabalhadores contratados vivem nas cidades, produtores rurais se deparam com duas principais situações típicas: providenciar transporte desde as áreas urbanas até o campo ou disponibilizar moradia para tais trabalhadores nas próprias propriedades rurais. Em ambos os casos, além das próprias implicações nos custos de produção que estas providências ocasionam, há muitas situações em que trabalhadores faltam ao trabalho por optarem por permanecer nas cidades. No que diz respeito ao mercado, a principal dificuldade enfrentada diz respeito à incerteza do preço de comercialização no momento da colheita, já que se trata de commodities agrícolas. Neste sentido, sobretudo para grandes produtores, a principal indicação recai sobre a necessidade do domínio das diferentes formas de comercialização, nos distintos mercados, tal como os que foram estudados na primeira etapa do nosso livro. Para pequenos produtores, o conselho vai além, 120 Administração Rural pois tanto a diversificação da produção como a tentativa de agregar valor aos produtos já dentro da porteira com uma aproximação dos consumidores finais são alternativas mais seguras sugeridas. Já em relação à produção, tanto fatores de mercado quanto as próprias características específicas necessárias para se produzir implicam maiores atenções. No Brasil é muito comum que produtores de grãos tenham como parâmetro para o plantio da safra os índices de preços da safra imediatamente anterior à safra que será plantada. Se o preço da soja, por exemplo, ofereceu bons retornos na safra 2017, é certo que muitos produtores plantarão soja na safra seguinte em detrimento de outras opções. Logo, tal como frequentemente ocorre e inserido neste exemplo, na safra 2018 os preços podem não ser tão atrativos por causa do excesso de oferta do produto no mercado. Já no que diz respeito às condições específicas, os fatores climáticos são os principais que afetam o gerenciamento da produção. Tais fatores são praticamente imprevisíveis a médio e longo prazos. Então, produtores praticamente ficam sujeitos à dependência de uma adequada incidência de chuvas para sua cultura. Da mesma forma, são também dependentes para fatores adversos que podem repercutir em perdas significativas de sua produção, como é o caso de geadas, excesso de chuvas e períodos secos prolongados, por exemplo. Nesse sentido, entre as alternativas para se evitar problemas vinculados a erros de previsão de demanda, bem como problemas climáticos que podem afetar a produção, podem ser citadas, respectivamente: acompanhamento constante das previsões de oferta e demanda por institutos especializados (Instituto de Economia Agrícola, Embrapa, Secretarias de Agricultura etc.) e a contratação de seguros agrícolas específicos. Café Neste momento, destacamos outra importante cultura do agronegócio brasileiro, o café. Esta é uma cultura que vem sofrendo profundas transformações no decorrer dos anos, sobretudo de ordem gerencial pelos cafeicultores que têm buscado cada vez mais se diferenciarem no mercado. Sobre tal cultura, oferecemos aqui: o panorama da cafeicultura no agronegócio brasileiro, o caso de como as políticas de Responsabilidade Social Corporativa têm impactado a estrutura de produção e mercado da cafeicultura, sobretudo através dos selos de certificação socioambiental. Por fim, abordamos alguns fatores que podem ser considerados como críticos no gerenciamento de propriedades rurais produtoras de café. a) Cafeicultura no Brasil A cafeicultura está presente em diversos países. Brasil e Vietnã são os maiores produtores mundiais. Juntos, estes dois países produzem metade do café consumido no mundo. Aproximadamente 36% do café ofertado no mundo Produtores praticamente ficam sujeitos à dependência de uma adequada incidência de chuvas para sua cultura. 121 Agronegócio na Prática Capítulo 4 tem origem brasileira, enquanto aproximadamente 15% tem origem vietnamita. O café é cultivado em sessenta países (CHAGAS et al., 2009). Alguns países que se destacam na produção deste produto são: Índia, Peru, Guatemala, Uganda, Burundi, Indonésia, Colômbia, Nicarágua, Etiópia, Nicarágua, Honduras e México, por exemplo (BLISKA; VEGRO, 2011). A participação do café na economia nacional sempre foi relevante e por muito tempo este produto foi o mais significativo nas exportações brasileiras. Apesar de atualmente o país possuir mais oferta de outras commodities agrícolas, o café ainda é um importante gerador de divisas econômicas e continua mantendo sua relevância sobre o ponto de vista social. No Brasil, o café se destaca tanto pelo lado da produção como também pelo lado do consumo, já que, além de ser o maior produtor mundial, o país também é o segundo consumidor global deste produto, sendo os Estados Unidos o principal consumidor mundial. No cenário da cafeicultura, a diversificação das fontes de divisas que ocorreram no Brasil e no México ajudaram a economia destes países a não dependerem exclusivamente da comercialização do café. Contudo, o inverso desta situação ocorre em países como Uganda, Etiópia, Burundi, Guatemala e Nicarágua, onde as respectivas economias nacionais são dependentes das vulnerabilidades das flutuações dos preços do café no mercado internacional (BLISKA; VEGRO, 2011). No Brasil, cerca de dois mil municípios (BLISKA et al., 2011) distribuídos entre o Distrito Federal e os estados de Rondônia, Acre, Amazonas, Pará, Ceará, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Goiás (IBGE, 2017) abrigam aproximadamente 370 mil propriedades produtoras de café (BLISKA et al., 2011). Apesar desta distribuição da cafeicultura no país, nem todas as regiões brasileiras se destacam na produção cafeeira. A região Sudeste é a maior produtora. Três dos estados desta região, Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo, são os maiores produtores do país, respectivamente. Apenas Minas Gerais é responsável por cerca de 52% do café nacional. Juntos, estes três estados mais os estados da Bahia, Paraná, Rondônia e Goiás são responsáveis por quase 99% de todo o café brasileiro, tal como pode ser observado pelo Quadro 7, que reflete dados da Pesquisa Agrícola Municipal, realizadapelo IBGE. A cafeicultura está presente em diversos países. Brasil e Vietnã são os maiores produtores mundiais. A região Sudeste é a maior produtora. Três dos estados desta região, Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo, são os maiores produtores do país, respectivamente. 122 Administração Rural Quadro 7 – Toneladas e percentual de café arábica e canephora produzidos no Brasil na safra de 2012 Fonte: Adaptado de IBGE - Produção Agrícola Municipal (2017). Tipo de café Arábica Canephora Total Arábica e Canephora Localidade Grãos produzidos Percentual Grãos produzidos Percentual produzido Grãos produzidos Percentual Percentual acumulado Minas Gerais 1.578.355 69,26 17.986 2,37 1.596.341 52,55 52,55 Espírito Santo 183.310 8,04 588.739 77,59 772.049 25,42 77,97 São Paulo 275.183 12,08 - 0 275.183 9,06 87,03 Bahia 94.449 4,14 47.453 6,25 141.902 4,67 91,7 Paraná 104.966 4,61 - 0 104.966 3,46 95,16 Rondônia - 0 85.444 11,26 85.444 2,81 97,97 Goiás 19.048 0,84 550 0,07 19.598 0,65 98,62 Rio de Janeiro 15.732 0,69 - 0 15.732 0,52 99,13 Pará - 0 10.011 1,32 10.011 0,33 99,46 Mato Grosso 150 0,01 6.430 0,85 6.580 0,22 99,68 Demais estados 7.545 0,33 2.183 0,29 9.728 0,32 100 Brasil 2.278.738 100 758.796 100 3.037.534 100 - Quase 70% de todo café arábica produzido provém de Minas Gerais, enquanto aproximadamente 77% do total de café canephora é originário do Espírito Santo. Segundo Bliska et al. (2005), apenas estas duas espécies de café possuem relevância econômica no mercado de cafés, sendo que o café canephora é o mais usado na indústria de solubilização e o café arábica mais apropriado para o uso na torra e moagem. 123 Agronegócio na Prática Capítulo 4 No âmbito do progresso do setor, a cafeicultura brasileira acompanhou o desenvolvimento tecnológico. Tanto a qualidade quanto a quantidade do produto final são afetados positivamente por fatores como, por exemplo, o uso de irrigação, colheita mecanizada em determinadas áreas, maior densidade de plantas por área (BLISKA et al., 2009, 2011). Contudo, a cafeicultura brasileira demanda forte trabalho intensivo (BLISKA et al., 2011). Apesar do avanço que ocorreu no setor, a colheita manual do café ainda é fortemente empregada, contribuindo para que aproximadamente 50% dos custos de produção do café sejam advindos desta etapa (BLISKA et al., 2011). A diversidade de fatores culturais, sociais e ambientais, como por exemplo, topografia, latitude, solo e índices pluviométricos, contribui para que o café produzido nas diferentes regiões brasileiras apresente disparidade entre os tipos de cafés produzidos e também diferenças nos sistemas de produção empregado e na própria competitividade de cada sistema de produção (BLISKA et al., 2009, 2011). No que tange ao tamanho das propriedades cafeicultoras, por exemplo, o cenário brasileiro é muito próximo ao cenário de outros países produtores. No Brasil, de acordo com o IBGE, 81% das propriedades de café são de agricultores familiares que empregam 1,8 milhões de trabalhadores. Em termos de área, 44% das terras destinadas aos cafezais são destes agricultores, que são responsáveis por 38% do café brasileiro. Devido a esta representatividade da agricultura familiar na cafeicultura, pontos específicos deste tipo de agricultura devem ser levados em consideração no momento de se tecer as estratégias com foco no desenvolvimento da cadeia produtiva do café. A produção de cafés de boa qualidade, que atendam exigências do mercado consumidor, bem como o aprimoramento técnico e administrativo das propriedades são alguns dos principais fatores a serem destacados ao se implantar estratégias visando à continuidade da cafeicultura nacional, direcionadas tanto aos agricultores familiares como também aos não familiares (BLISKA et al., 2009). Outro fator importante que vale ser destacado neste sentido é o foco no mercado de produtos diferenciados, em especial, no mercado de cafés especiais. A produção de cafés diferenciados pode aumentar a competitividade do café brasileiro neste mercado, que tem como principal vantagem ao cafeicultor um melhor preço de venda. A produção de cafés de boa qualidade, que atendam exigências do mercado consumidor, bem como o aprimoramento técnico e administrativo das propriedades são alguns dos principais fatores a serem destacados ao se implantar estratégias visando à continuidade da cafeicultura nacional, 124 Administração Rural Quais tipos de café podem ser considerados diferenciados ao ponto de serem denominados pelo mercado como “cafés especiais”? O conceito envolvendo a denominação sobre o que é um café especial não é muito preciso (CHAGAS et al., 2009; VIANA, 2013) e autores diversos apresentam definições distintas e complementares. Para os autores Sylbersztajn e Farina (2001), o conceito do que é um café especial está relacionado aos atributos sensoriais do consumidor mediante o sentimento de prazer associado ao consumo de café. Já para os autores Donnet, Weatherspoon e Hoehn (2007), cafés especiais são aqueles feitos dos grãos de qualidades superiores e que são torrados e apreciados mediante procedimentos capazes de elevar ao máximo as potencialidades do café. Estes autores também afirmam que o café especial é a revitalização da arte de cultivar, torrar, preparar e apreciar uma bebida de aroma e sabores superiores. O especialista Rhinehart (2009), membro da Specialy Coffee Association of America, menciona a definição de cafés especiais desta associação e enfatiza que cafés especiais são definidos pela qualidade implícita no produto e também pela qualidade de vida que o café pode oferecer a todos os envolvidos no seu cultivo, preparo e degustação. Para esta associação, é tido como café especial o café que contribui para a agregação de valor às vidas e meios de subsistência de todos os envolvidos. Mediante conceitos diversos, a compreensão sobre o que vem a ser um café especial pode ser obtida ao se entender quais são os principais aspectos que diferenciam os cafés convencionais dos cafés especiais. Para Chagas et al. (2009), tais aspectos estão associados às condições às quais foram produzidos os grãos e também aos fatores que condicionam a melhora da qualidade da bebida, que estão quase sempre associados aos aspectos presentes desde a etapa dos tratos culturais até a pós-colheita do grão, bem como também relacionado com a variedade e origem do café. Assim, os cafés especiais se diferenciam dos convencionais porque apresentam uma série de características, sendo as principais: qualidade superior dos grãos, emprego de técnica diferenciada de colheita, origem do café, história, e variedades raras e escassas, por exemplo. Além dessas particularidades associadas até a etapa de produção do grão, merece também destaque alterações feitas na etapa industrial, tais como a descafeinização e a adição de aromatizadores, bem como também o emprego de técnicas diferenciadas da etapa de Os cafés especiais se diferenciam dos convencionais porque apresentam uma série de características, sendo as principais: qualidade superior dos grãos, emprego de técnica diferenciada de colheita, origem do café, história, e variedades raras e escassas, por exemplo. 125 Agronegócio na Prática Capítulo 4 preparação da bebida. Outra forma de distinção é pela sustentabilidade social, ambiental e econômica implícita na fase produtiva, que visa maior equilíbrio entre os elos da cadeia produtiva (SYLBERSZTAJN; FARINA, 2001). Em certos tipos de cafés especiais, tais aspectos podem estar presentes de forma isolada ou em conjunto, conquanto que tenha o principal requisito: qualidade. No Brasil, até pouco tempo, não havia uma tradição consolidada em se produzir cafés especiais. A produção de cafés especiais não era prioritária, principalmente devido à políticade intervenção no mercado de café, que vigorou até 1989 e teve como foco o aumento do volume das sacas exportadas para que fosse elevado o valor das exportações do agronegócio nacional. Até este período, praticamente não se distinguia nas exportações um café de qualidade do café de menor qualidade, pois todo o volume era comercializado como commoditiy. Consequentemente, os cafés de qualidade superior eram misturados com os de qualidade inferior (SOUZA; SAES; OTANI, 2002). Tais fatos contribuíram para que o país se despontasse como um ícone de produtividade de café commodity e não fosse tão representativo ofertando o produto para o mercado de cafés especiais. Atualmente, a participação dos cafés especiais no mercado mundial tem um crescimento de 15% ao ano, enquanto que o crescimento do café commodity é de 2% (EMBRAPA CAFÉ, 2014). Há cerca de oito anos, essa relação era de 12% e 1,5%, respectivamente (MOREIRA; FERNANDES; VIAN, 2011). Os principais fatores que explicam esta desproporção é o crescente desejo do consumidor por produtos produzidos por meios sustentáveis, a melhor qualidade destes cafés em comparação aos convencionais, o melhor preço pago ao cafeicultor (CHAGAS et al., 2009) e também o fato de que o mercado de café convencional praticamente já se encontra estabilizado e sem espaço para alterações significativas. De acordo com a entidade Brazil Speciaty Coffee Association (2016), o preço de venda dos cafés especiais é maior do que o preço de venda dos cafés convencionais numa ordem de 30% a 40%, sendo também existentes casos em que essa diferença pode ser maior que 100%. Aproveitar esta oportunidade de mercado pode contribuir para a melhoria da competitividade da cafeicultura brasileira e para o crescimento do sistema agroindustrial do café (BLISKA et al., 2009). Neste sentido, uma das alternativas mais seguras para se conquistar solidez no mercado de cafés especiais é ofertar um café que tenha a qualidade como o principal pré-requisito de diferenciação, mas que também seja diferenciado por carregar consigo selos que ofereçam credibilidade quanto à denominação de origem do produto e também quanto às formas de produção baseadas em critérios de responsabilidade social e ambiental (BLISKA et al., 2009; SOUZA; SAES; OTANI, 2002). Dado que os mecanismos para esta diferenciação estão ligados também às ações de Responsabilidade Social Corporativa (RSC), a seção seguinte aborda sobre o contexto dos programas socioambientais presentes na cafeicultura que estão ligados à RSC. No Brasil, até pouco tempo, não havia uma tradição consolidada em se produzir cafés especiais. 126 Administração Rural b) Responsabilidade social corporativa na cafeicultura Para contextualizar RSC e os programas socioambientais presentes na cafeicultura, esta seção primeiramente apresenta quais são as principais implicações que contribuem para o entendimento da própria RSC, tais quais: definição de RSC, interesses envolvidos e seus aspectos positivos e negativos, de acordo com bibliografia consultada. Após este posicionamento, a seção é subdivida em uma subseção específica que trata sobre a RSC na cafeicultura. A definição de RSC mais difundida pela literatura é aquela que envolve seu papel no relacionamento entre os cidadãos, os governos dos países e as corporações globais. Ao se centrar nas explicações que envolvem a RSC em um ambiente mais localizado, a definição de RSC foca no relacionamento estabelecido entre a empresa e a sociedade onde a mesma está instalada ou pratica suas atividades de negócio. Outros tipos de definição de RSC se inclinam sobre o relacionamento mais direto entre a empresa e seus stakeholders (GROWTHER; ARAS, 2008). Autores como Davis e Blomstrom (1971), Gavin e Maynard (1975) e Purcell (1974) estão na linha dos que afirmam que a função da RSC possui um caráter mais altruísta. Para Gavin e Maynard (1975), RSC é a junção das práticas das empresas no combate aos problemas causados pela pobreza e pelo consumismo mundial, bem como seu engajamento em defesa da ecologia, dos direitos civis e do bem-estar físico e psicológico dos trabalhadores. Davis e Blomstrom (1971) afirmam que RSC é a forma das organizações avaliarem a repercussão de suas decisões e ações no sistema social global, frente às demandas da sociedade por posturas éticas das empresas. Já Purcell (1974) afirma que RSC é uma ação voluntária por parte dos gestores organizacionais em basearem suas decisões em causas de cunho moral e voltadas aos problemas sociais que de uma forma ou de outra estão ligados às atividades das empresas. Segundo o autor, devem ser consideradas as necessidades de todos os agentes envolvidos no campo de atuação da empresa, objetivando-se não apenas o lucro como resultado das operações das corporações, mas também o bem-estar de tais agentes quando em situações adversas às obrigações legais ou outros tipos de pressões por parte de outras entidades. A RSC pode também ser definida como as expectativas da sociedade sobre as organizações em dado período de tempo no que diz respeito ao comportamento ético, econômico, legal e filantrópico das organizações. Avesso a esta abordagem, outros autores afirmam que o papel da organização não é de ficar engajada em atitudes visando o bem- estar coletivo, sendo o lucro o principal fim da empresa. De acordo com A definição de RSC mais difundida pela literatura é aquela que envolve seu papel no relacionamento entre os cidadãos, os governos dos países e as corporações globais. Outros autores afirmam que o papel da organização não é de ficar engajada em atitudes visando o bem-estar coletivo, sendo o lucro o principal fim da empresa. 127 Agronegócio na Prática Capítulo 4 Growther e Aras (2008), o interesse de se levar em consideração o papel social das organizações em seus negócios nem sempre é aceito. Na área comercial, as empresas e seus gestores são pressionados pela opinião pública para que exerçam funções cada vez mais ativas no sentido de contribuir para o bem-estar social. Contudo, este não é o intuido da organização. Segundo estes autores, não há motivos para os acionistas se empenharem em causas sociais, porque além de ações neste sentido não lhes trazerem retornos econômicos, ainda contribuem para a redução dos dividendos da organização para o seu mau desempenho no mercado de ações e para a perda de competitividade. Existem estudos que indicam que a única responsabilidade das empresas é visar ao aumento do retorno econômico mediante o destino dos seus recursos em atividades desenvolvidas em um ambiente amparado pelas regras legais do negócio da empresa, tal qual um ambiente de concorrência livre, sem fraudes e sem enganos. Carroll e Shabana (2010), por exemplo, listam alguns apontamentos ao afirmarem que a responsabilidade de uma organização é maximizar os lucros dos seus donos ou acionistas e que os esforços feitos no sentido do campo social devem ser direcionados para a área de negócio da empresa. As organizações não têm como objetivo ações de cunho social e nem estão preparadas para agirem neste caminho. As organizações também já possuem poderes suficientes, não sendo necessárias ações voltadas à área social. Além disso, os investimentos de esforços feitos em RSC podem afetar negativamente a competitividade da organização (CARROLL; SHABANA, 2010). Apesar de alguns argumentos contrários, a adoção à RSC é crescente. As críticas favoráveis à RSC são baseadas na crença de que manter projetos de RSC nas organizações é uma estratégia de interesse da empresa porque existe demanda da sociedade para que as organizações tenham políticas de responsabilidade social e que as mesmas sejam responsáveis pelas suas atividades que podem causar impactos. O ponto de vista de que manter uma postura de proatividade é melhor para o desempenho da organização do que apenas ter um comportamento reativo diante de situaçõesadversas, também é uma justificativa para se optar pela RSC. Outra razão para se engajar à RSC está ligada à regulamentação governamental, pois estar acima das obrigatoriedades legais pode reduzir custos e transtornos de modificações legais repentinas. Os investimentos feitos em RSC são também do próprio interesse da organização, pois possibilita melhores chances futuras se a organização se resguardar mediante a implantação da RSC (CARROLL; SHABANA, 2010), caso surja algum problema que possa “manchar” a imagem da companhia. Segundo Growther e Aras (2008), programas de RSC são baseados nos princípios da responsabilidade, transparência e da sustentabilidade. Apesar de alguns argumentos contrários, a adoção à RSC é crescente. 128 Administração Rural O princípio da responsabilidade está fundamentado pela necessidade de a organização reconhecer que suas ações podem causar impactos no ambiente externo e assumir responsabilidades pelos possíveis impactos ambientais e sociais que possam ser causados. Também é necessário que a organização relate, mediante relatórios disponibilizados a todos seus stakeholders, quais foram os impactos que a organização gerou, como os agentes externos à organização foram impactados e quais foram as medidas tomadas para mitigar os impactos gerados. No princípio da responsabilidade, está implícito que a organização deve reconhecer que seus stakeholders externos também podem influenciar as decisões tomadas pela organização (GROWTHER; ARAS, 2008). De acordo com Slop (2008), transparência pode ser traduzida como a abertura e comunicação sobre os assuntos que são importantes para os que são impactados pelas organizações. No princípio da transparência está implícita a necessidade de todas as informações presentes nos relatórios serem verídicas, bem como de fácil acesso a todos os stakeholders externos da organização, de modo que a informação possa ser útil como meio para tomada de decisão (GROWTHER; ARAS, 2008). Um dos principais objetivos da transparência é melhorar a confiança e credibilidade da organização frente aos seus principais stakeholders, uma vez que a percepção destes a respeito da reputação da empresa pode afetar o desempenho da organização (JIEYI, 2009; SLOP, 2008). No princípio da sustentabilidade, as principais implicações dizem respeito à tentativa de as organizações informarem à sociedade que seus lucros são advindos de ações baseadas no respeito às causas ambientais e sociais pertinentes aos seus negócios. As pressões existentes sobre as corporações para que elas estejam alinhadas com as demandas sociais e ambientais não dizem respeito somente à fase de produção no ambiente fabril, mas a sua responsabilidade pelos impactos gerados ao longo da cadeia produtiva da qual elas fazem parte. Corporações do segmento alimentar, por exemplo, são cobradas e possuem responsabilidades pelos impactos ambientais e sociais gerados na fase agrícola em que foram produzidos os seus insumos. Condições de trabalho escravo e impactos ambientais causados na fase de produção de algodão e café, por exemplo, podem contribuir para a perda de valor de imagem de corporações dos segmentos têxteis e alimentares que adquirem insumos sobre tais circunstâncias. Para evitar prejuízo por uma repercussão negativa associada à insustentabilidade, os programas de RSC acabam tendo como destino diversos setores, como o cafeeiro, por exemplo, que possui nas normas de certificações um dos principais instrumentos para aplicabilidade da RSC. O princípio da responsabilidade está fundamentado pela necessidade de a organização reconhecer que suas ações podem causar impactos no ambiente externo e assumir responsabilidades pelos possíveis impactos ambientais e sociais que possam ser causados. 129 Agronegócio na Prática Capítulo 4 • RSC na cafeicultura: as quatro principais certificações socioambientais No segmento agrícola, a utilização de normas podem ser consideradas relevantes porque elas são tidas como mecanismos regulatórios, principalmente em países que ainda estão em processo de desenvolvimento e cujas estruturas legislativas são muitas vezes fracas (MCEWAN; BEK, 2009; VOGEL, 2010). Neste ambiente, as certificações podem ser vistas como instrumentos úteis para operacionalizar ações de RSC. Em um contexto global, onde ainda existem sistemas de produção estabelecidos em países cujas leis voltadas aos campos sociais e ambientais são fracas, não cumpridas ou até mesmo inexistentes perante a demanda social, as normas se tornaram formas reconhecidas de controlar, coordenar e guiar comportamentos voltados às adequações organizacionais para os campos sociais e ambientais (POETZ; HAAS; BALZAROVA, 2013). A inclinação das ações de RSC para o setor agrícola se deve ao fato de que a produção agrícola lida diretamente com a produção de alimentos. Alguns tópicos merecem atenção no que diz respeito à produção alimentar, tal como é o caso da segurança do alimento, por exemplo. Outros estão associados aos impactos socioambientais dos sistemas de produção e consumo, como os casos de degradação ambiental e exploração da mão de obra, bem como também os casos de problemas socioeconômicos derivados destes sistemas. Na tentativa de mitigar tais problemas, os programas de RSC atuam como mecanismos de adequação às obrigatoriedades sociais e ambientais para se produzir os alimentos e contribuem para proporcionar continuidade do negócio mediante o oferecimento de credibilidade à atividade praticada (POETZ; HAAS; BALZAROVA, 2013). De acordo com Iseal Alliance (2013), a demanda por selos de certificações socioambientais existe por parte de setores diversos, tais como: Organizações não Governamentais (ONGs), instituições financeiras, governos, empresas e consumidores. Para se aprofundar neste quesito, veja a publicação: ISEAL ALLIANCE. Para produzir e consumir com responsabilidade no Brasil: status e tendências dos sistemas de certificação de sustentabilidade. 2013. Disponível em: <https://www. isealalliance.org/sites/default/files/Para-produzir-e-consumir-com- responsabilidade-no-Brasil-Dec-13.pdf>. Acesso em: 20 jun. 2017. No segmento agrícola, a utilização de normas podem ser consideradas relevantes porque elas são tidas como mecanismos regulatórios, principalmente em países que ainda estão em processo de desenvolvimento e cujas estruturas legislativas são muitas vezes fracas. A demanda por selos de certificações socioambientais existe por parte de setores diversos, tais como: Organizações não Governamentais (ONGs), instituições financeiras, governos, empresas e consumidores. 130 Administração Rural O interesse por estas certificações está diretamente ligado às políticas de Responsabilidade Social Corporativa (RSC) nas organizações porque aspectos éticos, sociais e ambientais associados às empresas podem fazer parte dos critérios de compra dos consumidores. Uma reputação ruim neste sentido pode afetar os resultados financeiros de organizações por meio de boicotes dos consumidores, por exemplo (CASTALDO et al., 2008). Então, frente aos objetivos das políticas de RSC, os selos socioambientais podem ser úteis para as organizações porque oferecem, por exemplo, segurança na aquisição de insumos produzidos por fornecedores certificados, já que se diminui a possibilidade de a imagem organizacional estar presa a práticas negativas a montante de seu controle. Na cafeicultura, os programas de certificações socioambientais são alternativas que buscam a comprovação do vínculo com estratégias de RSC. Existem, neste setor, quatro certificações que são mais utilizadas: Rainforest Aliance, Orgânica, UTz e Fairtrade. Para conhecimento mais aprofundado destas certificações no Brasil, acesse os seguintes artigos: 1 - ALVARENGA, R. P.; ARRAES, N. A. M. Certificação fairtrade na cafeicultura brasileira: análises e perspectivas. CoffeeScience, v. 12, n. 1, p. 124-147, 2017. Disponível em: <https://www.researchgate. net/publication/315716051_Certificacao_fairtrade_na_cafeicultura_ brasileira_analises_e_perspectivas>. Acesso em: 9 jun. 2017. 2 - GOMES, F. A. et al. Características da certificação na cafeicultura brasileira. 53º Congresso da SOBER (Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural). Anais... João Pessoa: 2015. Disponível em: <http://icongresso.itarget.com.br/ tra/arquivos/ser.5/1/5670.pdf>. Acesso em: 9 jun. 2017. 3 - MELO, M. F. S. et al. Certificação sustentável para café : revisão sistemática da literatura e lacunas de pesquisa. Espacios, v. 38, n. 17, p. 31, 2017. Disponível em: <http://www.revistaespacios. com/a17v38n17/a17v38n17p31.pdf>. Acesso em: 9 jun. 2017. 4 - MOREIRA, C. F.; FERNANDES, E. A. de N.; VIAN, C. E. de F. Características da certificação na cafeicultura brasileira. Organizações Rurais & Agroindustriais, v. 13, n. 3, p. 344–351, 2011. Disponível em: <http://revista.dae.ufla.br/index.php/ora/article/ view/429/328>. Acesso em: 9 jun. 2017. Na cafeicultura, os programas de certificações socioambientais são alternativas que buscam a comprovação do vínculo com estratégias de RSC. Existem, neste setor, quatro certificações que são mais utilizadas: Rainforest Aliance, Orgânica, UTz e Fairtrade. 131 Agronegócio na Prática Capítulo 4 Estas certificações possuem em comum a bandeira da sustentabilidade presente ainda na fase agrícola. É comum na cafeicultura encontrar mais de um único selo certificando um sistema de produção, já que as especificações de cada uma destas certificações podem ser complementares em muitos aspectos. O principal fator que motiva os cafeicultores a terem mais de uma certificação é a ampliação das chances de conquista dos mercados específicos de cada um destes selos. O entendimento sobre as diferenciações entre estas principais certificações já é bastante difundido pela literatura. Autores como Elder, Zerriffi e Le Billon (2013), Kilian et al. (2004, 2006) e Moreira, Fernandes e Vian (2011) apresentam suas contribuições no sentido de entender quais são as principais peculiaridades delas. 1) Certificação orgânica Os aspectos da certificação orgânica estão diretamente vinculados aos principais objetivos da agricultura orgânica. Segundo Kilian et al. (2004), o objetivo da agricultura orgânica é conseguir melhorar a qualidade dos aspectos agrícolas e ambientais mediante o respeito à capacidade de suporte do solo, fauna e flora local. O principal fator que diferencia a agricultura orgânica da agricultura convencional é o respeito e a proteção ao meio ambiente em que a agricultura é desenvolvida. Este respeito e esta proteção são atingidos pelo não uso de agroquímicos na lavoura, mas pelo uso de técnicas de cultivo que utilizam os próprios recursos da biodiversidade para produzir e controlar as doenças que frequentemente atingem os campos agrícolas. Para que a produção do café possa ser certificada como orgânica, o solo onde o café é cultivado não pode receber os agroquímicos proibidos pela certificadora, tais como fungicidas, pesticidas, fertilizantes sintéticos e reguladores de crescimento, por um período de pelo menos três anos (KILIAN et al., 2006). No decorrer deste período, também há um acompanhamento da certificadora antes da efetiva certificação (MOREIRA; FERNANDES; VIAN, 2011). Os cafeicultores e os processadores do café também devem manter arquivada a relação de todos os produtos que foram utilizados no decorrer do ciclo de vida do produto, bem como o detalhamento dos processos que foram empregados (KILIAN et al., 2004, 2006). 2) Certificação Rainforest Alliance A Rainforest Alliance é uma certificação que tem como principal foco a conservação da vida selvagem e o bem-estar dos trabalhadores (KILIAN et al., 2004), concomitante à produção de commodities agrícolas nos países tropicais (MOREIRA; FERNANDES; VIAN, 2011). É uma certificação que tem o café como o principal produto certificado (MOREIRA; FERNANDES; VIAN, 2011). Por esta certificação é possível o uso de certos agroquímicos, desde que de maneira Estas certificações possuem em comum a bandeira da sustentabilidade presente ainda na fase agrícola. 132 Administração Rural controlada, tal como diretrizes da certificadora (KILIAN et al., 2004). As ressalvas quanto ao uso de agroquímicos estão relacionadas à proibição de produtos muito tóxicos e ao menor uso de agrotóxicos que são permitidos. Para se obter esta certificação, deve ser cumprida uma série de critérios, tais como alguns exemplos: proibição da caça de animais silvestres, proibição de que sejam descartadas águas residuais sem devido tratamento nos corpos d’agua e manutenção de um programa voltado à conservação do ecossistema (MOREIRA; FERNANDES; VIAN, 2011). No campo social, os trabalhadores de propriedades certificadas pela Rainforest Alliance possuem como principais benefícios um ambiente de trabalho mais seguro, limpo e adequado no que diz respeito às legalidades trabalhistas. Propriedades rurais de todos os tamanhos podem aderir a esta certificação, e as vantagens almejadas para os proprietários estão ligadas à melhoria da eficiência de suas propriedades por meio da redução dos custos com insumos e adoção de ações visando a melhorias dos processos gerenciais. Além disso, eles têm também contratos estáveis, opções de créditos favoráveis, publicidade, assistência técnica e mercado especial para seus produtos. 3) Certificação UTz As principais abordagens da certificação UTz recaem sobre os campos econômicos, gerenciais, ambientais e sociais. No que tange às coberturas sociais, as principais devem ser voltadas para a saúde e educação dos trabalhadores e de seus familiares, bem como garantia de que as condições de trabalho dos trabalhadores estão em sintonia com as leis nacionais (KILIAN et al., 2004). Como por exemplo, cita-se a necessidade dos trabalhadores serem cobertos por assistência médica e também que eles sempre usem equipamento de proteção individual (EPI) nas atividades que exigem maior segurança, tal como é o caso das aplicações de agroquímicos, por exemplo (MOREIRA; FERNANDES; VIAN, 2011). A certificação UTz tem o intuito de melhorar a situação econômica através da melhoria das práticas gerenciais. No campo ambiental, tem como meta a minimização da erosão, poluição do solo e uso de energia não renovável (KILIAN et al., 2004). Esta certificação permite a utilização de certos agroquímicos, sendo proibidos aqueles que não são permitidos nos Estados Unidos, Japão e países da União Europeia. A utilização de defensivos agrícolas alternativos e o manejo integrado de pragas é estimulado por esta certificação. Para manter o controle sobre os insumos utilizados, esta certificação enfatiza sobre a rastreabilidade do produto e sobre o monitoramento dos insumos empregados ao longo dos processos produtivos (MOREIRA; FERNANDES; VIAN, 2011). 133 Agronegócio na Prática Capítulo 4 4) Certificação Fairtrade Quanto à certificação Fairtrade, seu principal objetivo é contribuir para a melhoria das condições de vida de produtores marginalizados localizados em países ainda em desenvolvimento por meio do comércio dos seus produtos certificados (ELDER; ZERRIFFI; LE BILLON, 2013). As origens e princípios deste selo estão vinculados ao movimento do Comércio Justo. Tal movimento nasceu com o intuito de oferecer aos pequenos produtores maiores chances de retornos sobre os produtos por eles produzidos mediante a criação de formas de venda direta ou quase direta aos consumidores finais. A redução da quantidade de agentes atravessadores ao longo das cadeias produtivas é uma estratégia que é praticada visando ao aumento da rentabilidade dos pequenos produtores. Outra estratégia disseminada é o senso de “pagamento justo” pelo produto que é repassado ao consumidor final.Está implícito neste termo que o preço cobrado é justo ao ponto de pelo menos conseguir cobrir os custos de produção e também proporcionar meios para que o produtor tenha uma rentabilidade viável para a manutenção da sua atividade produtiva e acesso a melhorias de qualidade de vida (ALVARENGA; ARRAES, 2017a). O selo fairtrade certifica dezoito produtos, tais como frutas frescas, arroz, quinoa, chá, vinho, cacau e café, por exemplo (FAIRTRADE INTERNATIONAL, 2014). É uma certificação que é destinada a pequenos produtores organizados em cooperativas ou associações. Em alguns casos, é permitido que produtores maiores se vinculem às associações de produtores. No caso da cafeicultura, as organizações e cooperativas devem ser compostas por pelo menos 51% de pequenos produtores (ALVARENGA; ARRAES, 2017a). Para conseguir a certificação fairtrade, os produtores devem se adequar a uma série de critérios voltados aos pilares da sustentabilidade (ELDER; ZERRIFFI; LE BILLON, 2013). No caso da cafeicultura, o café certificado como fairtrade pode ser cultivado tanto pela maneira orgânica quanto convencional. No campo ambiental, existem restrições sobre o uso de certos agroquímicos nas lavouras. Existem também singelas ações direcionadas para a proteção do solo e da biodiversidade local. No campo social, tem ações em benefício da comunidade local e dos trabalhadores, bem como de empoderamento dos produtores. No entanto, um dos principais atrativos desta certificação é o pagamento de um preço mínimo ao produtor e um preço prêmio que é destinado às cooperativas. Para proporcionar um melhor entendimento sobre estas quatro certificações, o Quadro 8, que foi elaborado com base em pesquisa (GOMES et al., 2015) sobre as características das diversas certificações na cafeicultura do Brasil, apresenta uma visão geral a respeito dos principais fatores associados às certificações Rainforest Aliance, UTz, Fairtrade e Orgânica. 134 Administração Rural Quadro 8 – Comparativo entre fatores das certificações Rainforest, UTz, Fairtrade e Orgânica na cafeicultura Fatores de com- paração Certificações Rainforest UTz Fairtrade Orgânica Certificadora responsável Imaflora Imaflora FLO Cert IBD e Imaflora Enfoque da certificação Sustent. e Estrutura Social Rastreabilidade e estrutura organiz e social Estrutura Sócioec. Sustentab. e estrutura social Tipo de critérios Critérios críticos e não críticos Não descrito Pontuação Não descrito Cumprimento geral 80% dos critérios Não descrito Obrigatório 100% dos critérios Auditorias 3 auditorias míni- mas (ao ano) Obrigatório Obrigatório Obrigatório Programa de conservação, de identificação, proteção dos ecossistemas Obrigatório Não descrito Necessário Obrigatório Conservação ou recuperação dos ecossistemas 30% da área total Não descrito Necessário Obrigatório Uso restritivo e/ou exclusão de defensivos agrícolas Obrigatório Não necessário Obrigatório Obrigatório Período de implantação do plano 10 anos Não descrito Não descrito 2 anos Tratamento de água residual Obrigatório Não descrito Necessário Obrigatório Respeitar o Có- digo Trabalhista vigente Obrigatório Obrigatório Obrigatório Obrigatório Treinamento contínuo Necessário Necessário Obrigatório Não descrito 135 Agronegócio na Prática Capítulo 4 Fonte: Adaptado de Gomes et al. (2015). Possui monitora- mento da quali- dade do café Não descrito Não descrito Não descrito Não descrito Possui rastreabi- lidade do café Sim Sim Não descrito Sim Dentre estas quatro certificações, fairtrade tem atraído a demanda dos grupos de cafeicultores do Brasil. O Brasil já se destaca perante outros países produtores fairtrade. O país possui 44 organizações produtoras de frutas frescas, mel, castanha, suco e café. Até 2013, o país era o sétimo com mais organizações fairtrade no mundo. Tal como enfatizado pela Figura 35, até 2013 o Brasil ocupava, juntamente com Honduras, a sexta posição em relação aos países que mais possuíam organizações de cafeicultores fairtrade no mundo (ALVARENGA; ARRAES, 2017b). Figura 35 – Organizações de produtores de café no mundo em 2014 Fonte: Adaptado de Alvarenga e Arraes (2017b). Atualmente o Brasil possui 28 cooperativas de cafeicultores produzindo café certificado fairtrade em cinco estados do país. Destas, 28 produzem café em cinco estados: Minas Gerais (60% de todas cooperativas estão em Minas Gerais), Rondônia, Paraná, Espírito Santo e São Paulo. Tal como apresentado na Figura 36, a certificação faitrade está presente na cafeicultura do Brasil desde 1998, tendo sido a partir de 2009 que houve um crescimento mais acentuado, já que 50% das cooperativas de café do Brasil foram certificadas entre 2009 e 2015. Um dos fatores que contribuem para esta certificação Um dos fatores que contribuem para esta certificação na cafeicultura do Brasil está vinculado ao perfil agrário da cafeicultura do país. No país, cerca de 85% dos cafeicul- tores do Brasil são familiares. 136 Administração Rural na cafeicultura do Brasil está vinculado ao perfil agrário da cafeicultura do país (ALVARENGA; ARRAES, 2017a). No país, cerca de 85% dos cafeicultores do Brasil são familiares. Destes cafeicultores, 80% possuem menos de 20 hectares. Cafeicultores familiares brasileiros produzem aproximadamente 38% do café do país (BRITO, 2013). Figura 36 – Evolução da certificação fairtrade na cafeicultura do Brasil entre os anos de 2008 e 2015 Fonte: Adaptado de Alvarenga e Arraes (2017a). Para conhecimento mais aprofundado sobre a certificação fairtrade na cafeicultura do Brasil, acesse o seguinte artigo: ALVARENGA, R. P.; ARRAES, N. A. M. Certificação fairtrade na cafeicultura brasileira: análises e perspectivas. Coffee Science, v. 12, n. 1, p. 124-147, 2017. Disponível em: <https://www.researchgate. net/publication/315716051_Certificacao_fairtrade_na_cafeicultura_ brasileira_analises_e_perspectivas>. Acesso em: 9 jun. 2017. c) Fatores críticos no gerenciamento de propriedades rurais produtoras de café No Brasil, estudos de autores (BLISKA et al., 2007a, 2007b) contribuem por oferecer exemplos de alguns outros fatores críticos que podem impactar o gerenciamento de propriedades rurais produtoras de café. Entre os exemplos 137 Agronegócio na Prática Capítulo 4 explorados, daremos destaque aqui para: fatores climáticos, formas de cultivo de café, proliferação de pragas e doenças, colheita, bem como pós-colheita. No que diz respeito ao clima, os principais fatores críticos estão vinculados: a temperaturas baixas e temperaturas elevadas, que podem causar morte das flores e diminuição na qualidade e na produtividade do café; à falta de água ou distribuição não adequada de água ao longo do ciclo, que pode impactar na redução do florescimento e consequente redução da produtividade e qualidade do café; à altitude elevada, como ventos frios que são prejudiciais, podendo causar queda na produção e maior incidência de doenças; à altitude baixa, com repercussão associada devido ao calor, déficit de água e maior incidência de doenças, como o bicho mineiro, podendo implicar em queda de produção (BLISKA et al., 2007a). Entre as formas de plantio do café, duas têm se destacado com muita frequência: cultivo convencional e cultivo orgânico. No cultivo convencional pode ocorrer erosão e afogamento de muda. As principais implicações podem repercutir em: aumento dos custos de produção por causa de necessidade de replantio, assoreamento de rios, redução da capacidade de produção do solo. No cultivo orgânico, há uma menor produtividade e existe dificuldade em se controlar pragas e doenças. Neste sistema, o alto custo de produção reflete em um custo elevado do café no mercado (BLISKA et al., 2007a). Afora os fatores climáticos e as diferentes formas de cultivo, há também as implicações associadas à proliferação de pragas e doenças nos cafezais.Tal como ilustra o Quadro 9, cuidados para se evitar este tipo de problema, já que há repercussões diretamente sobre a qualidade e produtividade do café. Quadro 9 – Fatores críticos associados às doenças e pragas nos cafezais Fonte: Adaptado de Bliska et al. (2007b). Fatores críticos associados às doenças e às pragas Principais implicações Doenças Ferrugem, antracnose; phoma; mancha-aureola- da; cercóspora; coletotrichum. Baixa qualidade e produtividade. Pragas Bicho mineiro; broca do café; cochonilhas; ácaros (quando nível de ataque for alto); mosca, cochoni- lha da raiz e lagartas (quando nível de ataque for muito alto). Baixa qualidade e produtividade. Pragas Nematoides. Menor produtividade das culti- vações não enxertadas; custo extra com mudas enxertadas. 138 Administração Rural Na cafeicultura existem diferentes formas de se colher o café, sendo as principais: derriça no chão, derriça no pano, colheita a dedo e colheita mecânica. Cada uma dessas requer diferentes tipos de cuidados para se evitar, principalmente e de acordo com o Quadro 10: custos elevados e perdas de qualidade do café. Quadro 10 – Fatores críticos associados às diferentes formas de colheita: derriça no chão, no pano, a dedo e colheita mecânica Fonte: Adaptado de Bliska et al. (2007b). Fatores críticos associados aos tipos de colheita Principais implicações Derriça no chão Mistura com impurezas; frutos contaminados do chão e frutos com diferentes graus de maturação (maduros, verdes, secos e passas). Redução da qualidade. Derriça no pano Custo; mistura de frutos (verdes e passas). Redução da qualidade. Colheita a dedo Maior necessidade de mão de obra. Custo mais elevado. Colheita mecânica Preço; maior incidência de frutos verdes. Redução da qualidade; inviável para pequena propriedade. Após a colheita, os processos efetuados devem ser devidamente gerenciados para se evitar problemas na qualidade do café e contaminação dos recursos hídricos, principalmente, tal como exemplo enfatizado no Quadro 11, dos principais fatores críticos associados na etapa de pós-colheita. Após a colheita, os processos efetuados devem ser devidamente gerenciados para se evitar problemas na qualidade do café e contaminação dos recursos hídricos, principalmente Quadro 11 – Fatores críticos associados na etapa de pós-colheita Fonte: Adaptado de Bliska et al. (2007b). Fatores críticos associados ao pós-colheita Principais implicações Processamento via seca (café natural); impurezas; mistura de grãos; espessura da camada de grãos e sua movimentação. Menor qualidade. Processamento via semiúmida (café cereja des- cascado); espessura da camada de grãos e sua movimentação. Menor qualidade. Processamento via úmida (café despolpado; desmu- cilado): tempo de fermentação. Menor qualidade; contaminação de recur- sos hídricos. 139 Agronegócio na Prática Capítulo 4 Além destes fatores, há também os associados ao gerenciamento dos recursos humanos nas lavouras de café do Brasil. Tal como mencionamos, o Brasil é o principal produtor de café do mundo. Por causa da sua representatividade produtiva, muitos agentes vinculados aos diversos elos da cadeia de produção do café têm acompanhado de perto como o país vem lidando com os impactos ambientais e sociais gerados pela cafeicultura. Tanto que no ano de 2016 uma Organização não Governamental reconhecida internacionalmente lançou um relatório (DANWATCH, 2016) enfatizando a existência de problemas por uso de mão de obra infantil, trabalhadores atuando de maneira ilegal e sendo mal pagos. Problemas desta natureza devem ser evitados. Além das implicações legais aos cafeicultores que atuam com mão de obra ilegal e, sobretudo os prejuízos aos trabalhadores, a imagem do agronegócio brasileiro é afetada negativamente nos mercados que atingem. Cana-de-Açúcar A última cultura que abordaremos é a cana-de-açúcar. Uma vez que no Capítulo 3 destacamos o exemplo da Produção Mais Limpa como estratégia com foco no gerenciamento ambiental, aqui mostraremos como medidas de Produção Mais Limpa podem ser adotadas no setor sucroalcooleiro. Além disso, também apresentaremos quais são os principais fatores críticos que estão vinculados ao gerenciamento de propriedades rurais produtoras de cana. a) Exemplos de aplicabilidade da Produção Mais Limpa no setor sucroalcooleiro O Brasil é o maior produtor de cana-de-açúcar do mundo, atingindo mais de 590 milhões de toneladas de cana-de-açúcar por ano (safra 2012/2013). O país também é o primeiro produtor mundial de açúcar, responsável por 25% da produção mundial e 50% das exportações mundiais e o 2º Produtor Mundial de Etanol, sendo responsável por 20% da produção mundial e 20% das exportações mundiais (UNICA, 2013). Esse setor tem um PIB setorial de US$ 48 bilhões, com exportações no montante de US$ 15 bilhões. Além disso, destaca-se pela sua relevância como biocombustível, abastecendo uma frota de veículos que já ultrapassa 20 milhões. Apesar de tal posição, existem no setor desafios sociais e ambientais que devem ser superados no decorrer dos seus setores. O setor sucroalcooleiro envolve o setor agrícola, com aspectos ligados às atividades desenvolvidas na área em que a cultura da cana-de-açúcar O Brasil é o maior produtor de cana- -de-açúcar do mun- do, atingindo mais de 590 milhões de toneladas de cana- -de-açúcar por ano (safra 2012/2013). Existem no setor desafios sociais e ambientais que devem ser supera- dos no decorrer dos seus setores. 140 Administração Rural ocupa, e o setor industrial, com os aspectos associados à fábrica de açúcar e à destilaria de álcool (ALVARENGA; QUEIROZ; NADAE, 2017b). Alguns dos principais impactos negativos na área agrícola são: redução da biodiversidade; geração excessiva de resíduos (bagaço); contaminação das águas superficiais e do solo; compactação do solo por conta do tráfego de máquinas; assoreamento; fuligem e gases de efeito estufa (ALVARENGA; QUEIROZ; NADAE, 2017b). Um dos pontos mais críticos e discutidos a respeito dos impactos negativos da cana-de-açúcar é a queima da sua palha e as consequentes emissões de gás carbônico (CO2) emitidos na atmosfera. O gás carbônico é absorvido pela cana durante o crescimento da planta (OMETTO, 2005) e é liberado à atmosfera em poucos minutos quando a palha da cana é queimada para que posteriormente haja o corte da cana. Além do CO2, também existem impactos em decorrência do ozônio, que é um gás poluente que não se dissipa facilmente em baixa altitude e pode ser danoso em sentidos diversos, como por exemplo, ao crescimento e desenvolvimento de plantas (AZANIA; AZANIA, 2014). Como subproduto da queimada tem-se a fuligem da cana-de-açúcar, podendo provocar danos pela sujeira e doenças respiratórias. Há constatação de que existe a presença de Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (PHAs), composto cancerígeno, no sangue da maioria dos cortadores de cana-de-açúcar (LANGOWSKI, 2013) como também nas imediações de canaviais que sofreram queima de suas palhas (ARBEX et al., 2014; ASSUNÇÃO et al., 2014). Para sanar os problemas decorrentes das queimadas no Brasil, a Lei Estadual nº 11.241 proíbe, gradativamente, a queima da palha da cana. Até o ano 2021, não será permitido fazer queimada em nenhuma área que comporte o uso de colheitadeiras mecânicas. Já nas áreas com declividade superior a 12%, onde não é possível o corte mecanizado, mas somente o corte manual, as queimadas serão ilegais até o ano 2031 (ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DE SÃO PAULO, 2002). Com o fim das queimadas pode haver redução dos empregos gerados com o corte manual. É preciso considerar também os gases provenientes da utilização de combustíveis fósseis, que são oriundos da utilização de máquinas como tratores, caminhões e colheitadeiras utilizados no setor (OMETTO; ZWICKY; ROMA, 2009). Os gases mais nocivos ao meio ambiente são monóxido de carbono,dióxido de carbono, óxido de nitrogênio, dióxido de enxofre e material particulado (CARVALHO et al., 2015; MOITINHO et al., 2013). Para sanar os problemas decorrentes das queimadas no Brasil, a Lei Estadual nº 11.241 proíbe, gradativamente, a queima da palha da cana. 141 Agronegócio na Prática Capítulo 4 Em relação à produção industrial, os principais impactos ocorrem em decorrência do alto consumo de água para processamento da cana e da geração de vinhaça e torta de filtro. A vinhaça é originária em maior grau a partir da fermentação da cana no processo de fabricação do álcool e em menor como subproduto da fabricação de açúcar. Já a torta de filtro é um resíduo composto da mistura do lodo de decantação, que é originário a partir do processo de clarificação do açúcar e do bagaço moído. A vinhaça é um subproduto que pode ser usado como forma de Produção Mais Limpa pela indústria sucroalcooleira. Ela é rica em matéria orgânica como potássio, cálcio e enxofre (JENA; POGGI, 2013). Sua produção pode variar entre 10 e 15 litros para cada litro de álcool produzido. Seu destino tem como fim a fertirrigação (irrigação do solo com a vinhaça). Caso haja dosagem excessiva, este subproduto pode trazer impactos negativos ao meio ambiente, como a contaminação do solo e da manta freática (CHRISTOFOLETTI et al., 2013) em decorrência da vinhaça ser composta por amônia, ferro, magnésio, alumínio, cloreto e matéria orgânica (CHRISTOFOLETTI et al., 2013; PIACENTE, 2005; SILVA; GRIEBELER; BORGES, 2007). Em terrenos muito arenosos o solo absorve um metro de vinhaça a cada 4 dias, e em terrenos mais compactados a cada 8 dias. Isso é um risco alto, uma vez que depois de constatada a contaminação, as possibilidades de reversão são pequenas (CHRISTOFOLETTI et al., 2013; PIACENTE, 2005). O subproduto torta de filtro é um composto rico em proteína. Sua utilização ocorre tanto na irrigação do solo preparado para o plantio da cana-de-açúcar como também no lançamento direto na vala onde a muda da cana será plantada (GONZÁLEZ et al., 2014). Para cada tonelada de cana, obtém-se uma média de 35 kg deste subproduto (PIACENTE, 2005). A adoção de substitutos químicos, como a torta e a vinhaça, pode diminuir os custos em torno de US$ 60 por hectare (UDOP, 2015). No entanto, da mesma forma que a vinhaça, a torta também pode acarretar sérios danos à manta freática e ao solo, caso não administrado e armazenado corretamente. Seu depósito não pode ser diretamente ao solo, mas sim sobre alguma proteção, como lonas plásticas, por exemplo (PIACENTE, 2005). Assim, de maneira abrangente, nota-se que o setor sucroalcooleiro é muito dependente de recursos naturais, principalmente água e solo (DAVIS et al., 2013; 142 Administração Rural HISCOX et al., 2015; SILVA-OLAYA et al., 2013; SOUZA; SEABRA, 2014). A parte agrícola apresenta aspectos e características ligados diretamente ao processo de ocupação territorial e a utilização excessiva de recursos naturais como água e solo. Já a divisão industrial apresenta seus aspectos mais ligados com os processos de transformações da matéria-prima, que também são responsáveis pela geração de diversas externalidades negativas. Neste contexto, a adoção de Produção Mais Limpa neste setor pode contribuir de diversas formas, tal como mostram os Quadros 12 e 13, que tiveram como base de desenvolvimento estudos publicados a respeito do tema (ALVARENGA; QUEIROZ; NADAE, 2017b; ALVARENGA; QUEIROZ, 2009; CETESB, 2002). Quadro 12 – Exemplos de formas de adoção de Produção Mais Limpa no segmento sucroalcooleiro: água e melaço rejeitados Fonte: Adaptado de Alvarenga e Queiroz (2009); Alvarenga, Queiroz e Nadae (2017b) e CETESB (2002). Rejeito Exemplos de medidas de P + L Redução Reuso / Reciclagem Ág ua de la va ge m da ca na Eliminação das queimadas para despalha reduz a concentração de terra e pedregulhos, podendo haver dispensa da lavagem. Reciclagem no processo de embe- bição (permite recuperação de parte da sacarose diluída). Lavagem em mesas separadas onde ocorre o desfribrilamento (evita perda de bagacilho aderido). Reciclagem no processo de lava- gem (necessário tratamento para remoção de sólidos grosseiros e resíduos sedimentáveis, e eventual- mente para remoção de substâncias orgânicas solúvei Remoção a seco de parte das impureza. Ág ua do s c on de ns ad or es ba ro mé tric os e ág ua co nd en sa da no s e va po ra do re s Redução perda do xarope. Reciclagem da água no próprio pro- cesso (cuidado com teor de açúcar). Redução da velocidade do fluxo. Reciclagem no processo, mas em outra etapa, como: Redução da temperatura da água de conden- sação. Embebição da cana. Recuperação do xarope. Lavagem do mel após cristalização do açúcar. Uso de obstáculos que diminuam o arraste (separadores e recuperadores de arraste). Geração de vapor. Aumento da altura dos evaporadores. Lavagem filtros. Preparo de solução para calagem (na clarificação). Me la- ço Praticamente todo usado na produção do álcool. Produção de álcool. Fabricação de levedura 143 Agronegócio na Prática Capítulo 4 Quadro 13 – Exemplos de formas de adoção de Produção Mais Limpa no segmento sucroalcooleiro: bagaço, torta, vinhaça e água das dornas rejeitados Fonte: Adaptado de Alvarenga e Queiroz (2009); Alvarenga, Queiroz e Nadae (2017b) e CETESB (2002). Rejeito Forma de reuso / reciclagem Bagaço Cogeração energia elétrica; composto para adubação; produção de ração, aglomerados e celulose. Torta Uso como condicionador do solo, produção de ração animal. Vinhaça Uso como fertilizante. Água de lavagem das dornas Uso como fertilizante. Melaço Produção de etanol, fabricação de levedura. Ponta de cana Alimentação animal. Torta Uso como condicionador do solo, produção de ração animal. Para conhecimento mais aprofundado sobre Produção Mais Limpa no setor sucroalcooleiro e demais impactos do setor sucroalcooleiro, acesse os seguintes artigos: 1 - ALVARENGA, R. P.; QUEIROZ, T.; NADAE, J. Cleaner production and environmental aspects of the sugarcane-alcohol segment : brazilian issues. Espacios, v. 38, n. 1, p. 11, 2017. Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/312496700_Cleaner_ production_and_environmental_aspects_of_the_sugarcane-alcohol_ segment_Brazilian_issues>. Acesso em: 9 jun. 2017. 2 - FONTANETTI, C. S.; BUENO, O. C. Cana-de-açúcar e seus impactos: uma visão acadêmica. Bauru: Canal 6, 2017. Disponível em: <http://www.cdn.ueg.br/arquivos/cora_coralina/conteudoN/2582/ os_impactos_da_cana_de_acucar.pdf>. Acesso em: 9 jun. 2017. 144 Administração Rural b) Fatores críticos associados ao gerenciamento de propriedades rurais produtoras de cana No Brasil, o mais comum é todo o processo de produção e colheita ficar a cargo das próprias usinas que fabricam açúcar e/ou álcool. Uma das principais razões para isso está associada aos custos de produção, colheita e transporte da cana, principalmente. Sobretudo para pequenos e médios produtores, tais custos não propiciam retornos econômicos tão vantajosos quando comparado com outras alternativas para o uso da terra, como seguir para outras culturas ou arrendar a terra para usinas plantarem a cana. No ciclo da cana-de-açúcar, os processos de plantio e colheita são os que mais são onerosos financeiramente. Apesar de existir alternativas de mecanização para o plantio da cana-de-açúcar, a maioria dos canaviais brasileiros são plantados mediante demanda de alta quantidade de mão de obra braçal. Uma vez que o plantio é feito por mudas, a mão de obra empregada é destinada para tarefas como corte, seleção, transporte e plantio das mudas. Para usinas de açúcar e álcool os custos são diluídos como integrantes do negócio completo da empresa, diferentemente de pequenos e médios produtores. Como trabalham com grandes áreas, as usinas possuem: • Áreasplantadas especificamente para formação de mudas. • Mão de obra contratada fixa ou terceirizada, que geralmente é amparada pelo próprio corpo jurídico e de Recursos Humanos da organização. • Maquinários (tratores, caminhões, rebocadores, carretas, entre outros) próprios necessários e específicos para transporte e também plantio das mudas. • Poder para adquirir insumos (combustível, agrotóxicos, fertilizantes) a preços mais vantajosos porque compram em grandes quantidades. Outro processo oneroso está vinculado à colheita e transporte da cana até as usinas. Tal como comentamos, o corte manual para colheita está sendo substituído pelo mecanizado nos canaviais do Brasil. Esta etapa requer seus próprios equipamentos (colheitadeiras, transbordos, caminhões, carretas, tratores, guinchos, entre outros) e mão de obra especializada para operá-los. Após colhida, a cana deve ser destinada à usina para ser processada em tempo curto (menos de 48 horas) para que não perca suas propriedades. Logo, exige-se muitos recursos nos processos de colheita, carregamento e transporte até as usinas, que podem inviabilizar também o investimento na cultura por produtores rurais. Quando optam por seguir no segmento de produção, produtores geralmente possuem duas opções. Uma é ser responsável por todos os processos, sendo mais raro de se encontrar casos assim no Brasil. O caso mais comum envolve os No Brasil, o mais comum é todo o processo de produção e colheita ficar a cargo das próprias usinas que fabricam açúcar e/ou álcool. Para usinas de açúcar e álcool os custos são diluídos como integrantes do negócio completo da empresa, diferentemente de pequenos e médios produtores. 145 Agronegócio na Prática Capítulo 4 produtores plantarem a cana por conta própria e a venderem “em pé”. Neste caso, a usina fica responsável pelos processos envolvidos entre o corte e transporte até a indústria. Atividades de Estudos: 1) Quais são as similaridades entre os fatores críticos para o gerenciamento de propriedades rurais no que diz respeito especificamente à mão de obra quando comparamos os casos das propriedades produtoras de grãos e propriedades criadoras de gado bovino? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2) Como estratégias de Responsabilidade Social Corporativa podem afetar as decisões dos produtores rurais? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 3) O Brasil é um importante criador de gado bovino e também produtor de grãos. O país tem potencial para se destacar ainda mais se vencer alguns gargalos (ambientais, infraestrutura etc.) ainda presentes. Quais são os exemplos de gargalos para cada um destes dois casos? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 4) Quais têm sido as principais vantagens para os produtores de grãos quando os mesmos optam pelo investimento em silos de armazenagem? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 146 Administração Rural ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 5) Quais são os principais objetivos dos produtores rurais ao optarem por certificações socioambientais? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Algumas Considerações Ao fecharmos este capítulo, retomamos importantes assuntos que estudamos no contexto da aplicabilidade do gerenciamento rural, tendo como exemplos importantes cadeias agroindustriais e também o caso do uso de agrotóxicos e exploração de terras no Brasil. Sobre tais aspectos, é válido que os seguintes tópicos fiquem muito claros para você, pós-graduando: • Os fatores críticos de sucesso no gerenciamento de propriedades rurais quase sempre estão associados ao porte da propriedade correlacionados à aspectos como: Custo de produção. Adequação legal da mão de obra contratada. Adequação às especificidades de cada sistema de produção. Necessidades e exigências do mercado. • O Brasil é um dos mais importantes países no cenário de produção agropecuária mundial e tem capacidade para se destacar ainda mais, se: Houver otimização do uso da terra e o consequente aumento da produtividade por hectare (exemplos da pecuária bovina e do milho); Incremento de tecnologia propícia às especificidades de cada sistema de produção. • O Brasil possui gargalos no campo do segmento agropecuário que precisam ser superados, tal como é o exemplo do uso de agrotóxicos nocivos ao meio ambiente e à saúde humana nos sistemas de produção agrícola e também o exemplo da emissão de resíduos por importantes indústrias (couro, sucroalcooleira, produção agropecuária) do segmento agroindustrial do Brasil. 147 Agronegócio na Prática Capítulo 4 • Estratégias de Responsabilidade Social Corporativa adotadas por agentes das cadeias agroindustriais partem de demandas de consumidores por segurança alimentar e ausência de impactos ambientais, econômicos e sociais no decorrer dos sistemas de produção. Neste ponto, afirmamos que: O uso de ferramentas e técnicas de gestão ambiental e estudos de impacto têm sido utilizadas para se avaliar a sustentabilidade nos sistemas de produção; As certificações socioambientais podem servir como mecanismos que oferecem apoio para se atingir tais objetivos. Referências ABRASCO. Associção Brasileira De Saúde Coletiva. Dossiê ABRASCO – um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde. Parte 1 – agrotóxicos, segurança alimentar e nutricional e saúde. Rio de Janeiro: ABRASCO, 2012. ACEVEDO, F.et al. Is transgenic maize what Mexico really needs?. Nature Biotechnology. v. 29,n. 1, pp. 23-24, 2011. AGRIANUAL. Anuário da agricultura brasileira. São Paulo: FNP. p. 490- 496, 2010. ALMEIDA JÚNIOR, A. B. A. et al. Soil fertility and uptake of nutrients by sugarcane fertilized with filter cake. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v. 15, n. 10, p. 1004-1013, 2011. ALVARENGA, R. P. 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