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Conteúdo Digital - Tema 03 - História da Filosofia Moderna

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DESCRIÇÃO
O desenvolvimento dos principais conceitos elaborados ao longo da Filosofia moderna com
ênfase em questões políticas.
PROPÓSITO
Compreender as transformações da Filosofia moderna em correspondência com as mudanças
seculares do período, bem como, em razão da influência do discurso filosófico em inúmeros
campos de saber, entender conceitos que fundamentam as mais diversas disciplinas, no campo
das Ciências Humanas e das Ciências Naturais.
PREPARAÇÃO
Antes de iniciar o estudo deste tema, é importante ter à mão um bom dicionário de Teoria Política
ou mesmo de Filosofia. Sugerimos o Dicionário de Filosofia, de Abbagnano, e o Dicionário de
Política, de Bobbio, Matteucci e Pasquino, ambos disponíveis virtualmente.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Identificar a relação entre o contexto histórico do Renascimento e as reflexões políticas dos
filósofos humanistas
MÓDULO 2
Distinguir as concepções do contrato social na Filosofia política moderna
MÓDULO 3
Reconhecer os principais conceitos do pensamento iluminista
INTRODUÇÃO
Você está prestes a penetrar nos caminhos da modernidade, pelo campo da Filosofia, com ênfase
na Filosofia política. Para percorrer os eventos associados à modernidade, focaremos três
momentos centrais do período.
O primeiro deles é o Renascimento e a Filosofia humanista que foi construída nesse contexto. Em
seguida, analisaremos a noção de contrato social como modo de reestruturar o mundo social e
político de acordo com os modelos fornecidos pela razão. Por fim, discutiremos sobre as questões
novas trazidas para a Filosofia política a partir do Iluminismo, da Revolução Francesa e de suas
consequências.
Com essas análises, poderemos ter uma visão da pluralidade de questões e ideias que circularam
ao longo desse período.
MÓDULO 1
 Identificar a relação entre o contexto histórico do Renascimento e as reflexões políticas
dos filósofos humanistas
CONTEXTO HISTÓRICO
O período histórico que costumamos chamar de Renascimento é geralmente concebido como
uma fase de transição entre dois momentos considerados mais importantes. Antes do
Renascimento, encontramos a Era Medieval: um momento em que houve o predomínio de valores
e de uma visão de mundo articulada a partir da centralidade do Deus cristão que influenciava boa
parte da Europa Ocidental.
Após o Renascimento, deparamo-nos com o início da modernidade: um período que costumamos
associar ao desenvolvimento de uma cultura articulada a partir da razão, da ciência e da
centralidade do humano. Ainda assim, quando prestamos atenção nessa “fase de transição”,
vemos que ela é mais do que um simples entreposto. Trata-se de um período que se estende
mais ou menos da metade do século XIV até o início do século XVII e que concentrou boa parte
de suas atividades na Europa Mediterrânea, ainda que não tenha se restringido a esse espaço.
Imagem: Lviatour/Wikimedia commons/Domínio Público
 Homem Vitruviano , Leonardo da Vinci, 1492.
No que diz respeito à Filosofia, suas principais contribuições para a tradição foram as reflexões
sobre as noções de indivíduo e de governo a partir de certa ideia de humanismo herdada da
Antiguidade Clássica. Essa herança permitia pensar as questões de maneira cada vez mais
descolada dos valores e das visões de um mundo teocêntrico, sem que isso implicasse as
especificidades da era moderna, sobre a qual discutiremos mais adiante.
Antes de comentar alguns dos momentos-chave desse período, cabe explicar três elementos que
ajudam a entender o contexto em que o Humanismo do Renascimento foi elaborado. São eles:
Imagem: Sailko/Wikimedia commons/Domínio Público
O DECLÍNIO DO FEUDALISMO E O
FORTALECIMENTO DAS CIDADES-ESTADOS
Obra de arte: Portal de São Frediano em Florença , Filippino Lippi, século XV.
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Imagem: RickMorais/Wikimedia commons/Domínio Público
AS TROCAS CULTURAIS ESTIMULADAS PELAS
TROCAS COMERCIAIS NA REGIÃO
MEDITERRÂNEA.
Obra de arte: A Fonte do Rei , autoria desconhecida, século XVI.
Imagem: Jörg Bittner Unna/Wikimedia commons/CC BY-SA 3.0
O NOVO OLHAR SOBRE A ANTIGUIDADE GRECO-
ROMANA.
Obra de arte: David , Michelangelo, século XVI.
CIDADES-ESTADOS
No período do Renascimento, ainda não havia o “país” Itália – pois a unificação italiana
aconteceu apenas em meados do século XIX –, mas sim cidades-Estados, com autonomia,
administração e até idiomas independentes.
O primeiro elemento que devemos mencionar é a situação política da região que identificamos
atualmente como a Itália – espaço que teve papel central no desenvolvimento do Renascimento.
Nesse contexto, os centros urbanos voltados para trocas comerciais se fortaleciam aos poucos até
conseguirem se tornar potências políticas por causa de suas riquezas advindas do comércio.
Entre as cidades que cresceram nesse momento, podemos destacar duas que foram grandes
centros culturais ao longo do Renascimento: a cidade-Estado de Florença e a de Veneza. A
vantagem que os centros urbanos italianos possuíam e que permitiu que se tornassem potências
era sua posição no norte do Mediterrâneo, que transformou essa região em um ponto central nas
rotas de trocas comerciais que atravessavam a Europa.
O segundo elemento que devemos mencionar – uma consequência da natureza própria das
cidades comerciais – é que elas tendiam a ser um espaço de ampla circulação não apenas de
bens, mas de pessoas e ideias. No caso específico das cidades-Estados italianas, tratava-se de
um espaço que recebia influxos de todos os cantos do mar Mediterrâneo. Assim, havia nesse
mesmo espaço a circulação da cultura católica europeia, mas também da cultura árabe e do que
tinha sobrado da cultura bizantina – portanto, remanescente da cultura greco-romana. Isso foi
responsável por tornar a região um espaço multicultural que acabava diminuindo a força do
pensamento medieval católico pelo contato com outras ideias.
Imagem: Tetraktys/Wikimedia commons/Domínio Público
 A Escola de Atenas , Rafael Sanzio (Afresco do Palácio Apostólico, no Vaticano, do início do
século XVI)
É esse efeito, por fim, que nos permite compreender o terceiro elemento do contexto do
Renascimento: o fato de que é um período de redescoberta da Antiguidade Clássica. É preciso
esclarecer, antes, que isso não significa que os autores clássicos estavam esquecidos ou que
tinham sido ignorados de alguma maneira ao longo da Era Medieval. Há cerca de mil anos de
distância entre o fim da Era Clássica e o início do que chamamos de Renascimento.
FIM DA ERA CLÁSSICA
Período que pode ser datado a partir da divisão do Império Romano em: Império Romano do
Ocidente e Império Bizantino.
Para que qualquer vestígio da cultura da Antiguidade chegasse a esse momento, era necessário
que os textos e as ideias fossem preservados e transmitidos ao longo desse tempo. Isso
aconteceu por meio das inúmeras escolas filosóficas no Império Bizantino, nos impérios islâmicos
e nas universidades medievais da Igreja Católica. Esses espaços de aprendizagem não apenas
mantiveram tais pensamentos vivos, como deram sequência a essas tradições, ainda que
subordinando a tradição clássica a questões trazidas pelo catolicismo e islamismo.
Ainda que certos textos tenham sido de fato descobertos no contexto do Renascimento – como
alguns discursos do filósofo Cícero (106 a.C.-43 a.C.) e o poema filosófico epicurista de Lucrécio
(94 a.C.-50 a.C.), intitulado Sobre a natureza das coisas –, a novidade desse período tem mais
relação com recuperar os textos da Antiguidade sob outro olhar . O que vemos, portanto, é um
retorno a esses textos sem que estejam subordinados aos valores e à visão de mundo católica –
algo que foi possível por conta do espaço multicultural que eram as cidades-Estados italianas.
A consequência disso foi o desenvolvimento do Humanismo, que, com auxílio dos textos
clássicos, buscou colocar o ser humano na centralidade da reflexão histórica. E é justamente
nesse ponto que reside asingularidade do pensamento do Renascimento: não se trata de um
mero retorno às fontes clássicas, mas de retornar aos clássicos como uma estratégia para se
afastar de uma tradição medieval que se mostrava insuficiente.
Mas o inverso também poderia ser relevante nesse momento, isto é, a tradição medieval, de
influência predominantemente cristã, poderia estar atrapalhando o desenvolvimento comercial e,
por isso, deveria ser substituída. Em outras palavras:
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O USURÁRIO, IGUALMENTE CORTEJADO E
TEMIDO POR SEU DINHEIRO, É DESPREZADO E
TEMIDO POR CAUSA DELE, NUMA SOCIEDADE EM
QUE O CULTO A DEUS EXCLUI O CULTO PÚBLICO
A MAMMON (DEUS-RIQUEZA).
(LE GOFF, 2004)
AGORA, VAMOS APROFUNDAR COMO O PERÍODO
DO RENASCIMENTO REPRESENTA A TRANSIÇÃO
DA IDADE MÉDIA PARA MODERNIDADE,
DESTACANDO PRINCIPAIS EQUÍVOCOS ACERCA
DESSES PERÍODOS.
Com esse contexto estudado até aqui, podemos dimensionar o pensamento que se elaborou
nesse período e entender suas principais figuras. Trata-se de um período muito rico, mas que
pode ser introduzido a partir de três problemas filosóficos que povoaram inúmeros dos
pensadores renascentistas:
A imagem renovada dos indivíduos descolada da tradição católica.
As questões de participação política que surgiram em um contexto de valorização dos
indivíduos.
As reflexões sobre a forma de ação política dessas novas figuras políticas que foram as
cidades-Estados e que prefiguraram os Estados Modernos em alguns sentidos.
No caso, analisaremos a novidade desse período a partir dos conceitos de três autores: Michel de
Montaigne (1533-1592), Étienne de La Boétie (1530-1563) e Nicolau Maquiavel (1469-1527).
Discutiremos sobre a nova noção de indivíduo a partir da obra de Montaigne, falaremos sobre o
problema da servidão voluntária a partir de Étienne de La Boétie e terminaremos com as reflexões
de Maquiavel sobre Estado.
MICHEL DE MONTAIGNE
Um dos principais filósofos do Renascimento, tanto pelas ideias que elaborou em suas obras
quanto pelas inovações literárias. Costuma-se creditar a Montaigne a criação do gênero literário
do ensaio por conta do tipo de escrita peculiar que realizou em sua única obra publicada,
intitulada Os ensaios . Se Montaigne pode ser considerado um pensador marcante nesses dois
campos é porque seu estilo de escrita encena o tipo de Filosofia que ele acabou elaborando.
Seus ensaios costumam ser textos que misturam anedotas autobiográficas, citações de autores
da Antiguidade Clássica e reflexões aguçadas sobre os mais variados temas, dos mais clássicos
(como ensaios sobre a natureza do conhecimento ou sobre a amizade) aos mais mundanos
(sobre o sono ou sobre estar bêbado). Apesar dessa variedade – ou justamente por ela –, a
Filosofia elaborada por Montaigne acabou atravessando toda a sua obra. Ela pode ser resumida,
nas palavras do próprio autor:
Imagem: Ww2censor/Wikimedia commons/Domínio Público
 Retrato de Michel de Montaigne, artista desconhecido, século XVI.
NÃO BUSCO APREENDER O SER, MAS SIM SUA
PASSAGEM
(MONTAIGNE, 2010)
Imagem: Dornicke/Wikimedia commons/Domínio Público
 Canibais , Theodore de Bry, século XVI.
Seu pensamento era, portanto, uma tentativa de analisar a experiência sem se ater a qualquer
ideia ou doutrina prévia, de modo que é possível tomar Montaigne como um herdeiro do ceticismo
da Antiguidade Grega. É essa sensibilidade com as transformações do indivíduo, mas que não
deixa de olhar atentamente para o mundo ao redor (como em seus comentários sobre um contato
com indígenas no ensaio Os canibais ), que nos permite situar Montaigne como um dos
pensadores mais fundamentais desse momento. Seu pensamento pode ser compreendido,
portanto, a partir de dois pontos centrais: seu ceticismo e seu ensaísmo literário.
O ceticismo é uma das tradições mais antigas da Filosofia e tem como princípio certa
desconfiança sobre nossa experiência da realidade, o que forçaria o filósofo a suspender o que
pensa sobre suas experiências. A radicalidade dessa posição pode ser vista em um de seus pais
fundadores: Pirro de Élis (360 a.C.- 270 a.C.).
Montaigne herdou de Pirro e dos céticos a desconfiança do que sentimos. O que Montaigne fez
com essa suspensão foi tomar o mundo como espaço de constante reavaliação, uma vez que,
diante da impossibilidade de ter certeza sobre o que vemos e o que experimentamos, restaria à
Filosofia tomar como compromisso não se prender a nenhuma posição e sempre estar aberta às
transformações, em nós e no mundo, que demandam mudar de posição.
Foi a partir desse compromisso filosófico que seu estilo se tornou uma questão. Diante da
impossibilidade de determinar absolutamente suas reflexões, ao autor só restaria ensaiar
posições , sem se preocupar se essa posição seria superada ou não.
Diante das questões postas por seu ceticismo, Montaigne tornou tudo no mundo objeto de
avaliação e reflexão, permitindo que comentasse seu cálculo renal e a história romana sem que
um tópico fosse de antemão superior ao outro. Em Montaigne, vemos, portanto, uma ideia de
humano que acaba concentrando boa parte do que foi pensado no contexto renascentista.
ÉTIENNE DE LA BOÉTIE
Se na obra de Montaigne encontramos certa imagem de indivíduo que carregamos até os dias
atuais, em Étienne de La Boétie, seu amigo, vemos a formulação de um dos maiores enigmas da
vida política: o problema da servidão voluntária. Esse problema é tratado na obra Discurso sobre
a servidão voluntária .
Apesar de um tratamento curto, o problema apresentado não deixa de ser um dos mais
relevantes não apenas no contexto político do Renascimento, em que disputas políticas se
acirravam no contexto de crise cada vez maior do feudalismo, mas também diante do novo
individualismo que surgia nas Filosofias humanistas do Renascimento, como nas de Montaigne.
Foto: Tommy-Boy/Wikimedia commons/CC BY-SA 4.0
 Monumento a Étienne de La Boétie, na cidade de Dordogne, na França, 1892.
O problema da política aparece a partir de uma questão que é até bem simples de formular: La
Boétie (2020) tenta entender a relação de subordinação entre um soberano e seus súditos em um
contexto de ditadura, sobretudo quando se considera que o ditador é apenas um, e o povo é
numericamente superior. O que se esperaria, ao menos em termos lógicos, é que, se um ditador
está no poder e age para prejudicar o povo, esse povo se apoiaria em sua superioridade numérica
para retirá-lo do poder. Mas isso não parece ser o caso!
O que parece acontecer – e é esta a questão que La Boétie põe – é que o ditador só pode se
manter no poder, nessas condições, caso o próprio povo abdique de seu poder e de sua
liberdade.
MAS POR QUE O POVO ABDICARIA DE SUA
LIBERDADE?
Para o filósofo, o poder que possibilita a ditadura estaria na maneira como o ditador maneja sua
imagem, iludindo seus súditos sobre o que está em jogo, sobre seus interesses, e tentando,
também, afetar seus súditos de modo afetivo. Não se trataria, porém, de um poder real, visto que
ele funcionaria apenas enquanto a ilusão se mantivesse. E porque esse poder é fundado
ilusoriamente seria possível enxergar uma saída: bastaria deixar de servi-lo, tomando consciência
da situação. Mas, claro, sabemos que isso não é fácil, que esse é justamente o problema, e que é
difícil tomar consciência de algo quando se está imerso em uma ilusão.
Ainda assim, mesmo que não concordemos com a solução proposta por La Boétie (ou que até
concordemos, mas a achemos vaga demais), é interessante notar que, apesar de não ficar
explicitado, toda a análise do filósofo é construída a partir da imagem de um indivíduo que pode
desejar sua liberdade. Vemos aqui que a subordinação é um problema na medida em que fere o
indivíduo em sua singularidade.
É com isso em mente que podemos enxergar que a formulação do problema da servidão
voluntária só faz sentido a partir de um contexto do Humanismo renascentista. Afinal, se o que se
está tentando defenderé a liberdade inata ao indivíduo singular, então esse valor só pode ser
preservado se estamos inseridos em uma cultura que celebra a dignidade da vida humana. Esse
é um dos pilares do pensamento elaborado no Renascimento.
NICOLAU MAQUIAVEL
A principal característica das reflexões de Nicolau Maquiavel sobre o exercício do poder é a
ruptura com a visão dos autores da Idade Média e do Renascimento de que haveria uma relação
direta entre a bondade do governante e a legitimidade de seu poder.
Imagem: Thomas Gun/Wikimedia commons/Domínio Público
 Retrato de Nicolau Maquiavel, Santi di Tito, século XVI.
À recomendação de que os governantes deveriam se comportar conforme um padrão de bondade
e de ética para manter um reinado longo e pacífico, Maquiavel responde que a bondade não
assegura o poder ou a capacidade de ser obedecido. A única preocupação do governante é, nas
palavras de Maquiavel, a manutenção do Estado. Há uma ambiguidade intencional nessa
formulação, pois o objetivo de alguém que governa é manter o território político sob seu domínio e
manter sua própria situação de governante.
O que a experiência havia ensinado a Maquiavel é que bondade e retidão não são suficientes
para manter o poder político. Pelo contrário, é o uso adequado do poder que fará com que os
indivíduos obedeçam e com que o governante mantenha seu Estado.
Explicaremos adiante o sentido do uso adequado do poder para Maquiavel. Mas, antes, vamos
nos ocupar, por um instante, com a experiência do pensador na vida pública, que, como veremos,
serviu de fundamento para suas análises.
Nascido em Florença, na Itália, Maquiavel assumiu, em 1498, o cargo de segundo chanceler da
República. Por quatorze anos, esteve engajado nas atividades diplomáticas em nome da
República italiana. O regime republicano vigorava em Florença desde 1494, quando a família
Medici foi sacada do poder.
Em 1512, no entanto, os Medici derrotaram as forças armadas republicanas com a ajuda das
tropas papais e dissolveram o governo. Maquiavel perdeu o emprego com a mudança de regime:
foi exilado, torturado e, finalmente, aposentado.
Em 1513, escreveu O príncipe , que foi publicado apenas postumamente, em 1532. A escrita
dessa obra foi um esforço de Maquiavel para retornar à política florentina, uma vez que muitos de
seus colegas do período republicano conseguiram restabelecer seus postos no regime dos
Medici.
Somente em 1520, no entanto, Maquiavel conseguiu recuperar algum vínculo com o poder por
meio do pedido do cardeal Giulio Medici de que escrevesse uma história de Florença. Antes que
pudesse alcançar uma reabilitação plena no novo regime de governo, Maquiavel morreu, em
1527.
Imagem: Blight55/Wikimedia commons/Domínio Público
 Os membros da família Médici colocados alegoricamente na comitiva de um rei dos Três Reis
Magos na zona rural da Toscana, em um afresco de Benozzo Gozzoli (Século XV).
Maquiavel defendia que o fundamento da autoridade de um governante é a própria posse do
poder, isto é, a autoridade de um governante não está separada do poder de impor essa
autoridade.
Em um sistema político bem ordenado, o poder se impõe por meio da legislação e do exército,
mas Maquiavel identificava uma prioridade do segundo sobre o primeiro. Em suas palavras, não
podia haver boas leis sem bons exércitos.
Considerando que a legitimidade das leis deriva da força coercitiva, a conclusão é que o afeto que
um governante deve preferencialmente estimular em seus súditos é o medo, não o amor. Se um
súdito acredita que não deveria obedecer a uma lei específica, aquilo que o forçaria a se
submeter a essa lei seria o medo do poder do Estado ou o exercício efetivo desse poder. O súdito
só se veria em condições de não obedecer em duas situações: se tivesse o poder de resistir ao
Estado ou se estivesse disposto a aceitar as consequências da força coercitiva do Estado.
Vemos que o poder político não está separado do exercício efetivo desse poder. Maquiavel
chamou de virtù as qualidades que um governante deve possuir para manter seu Estado. Não é
muito adequado traduzir o termo italiano virtù por virtude, pois não são a bondade e a ética que
garantem seu poder. Um governante dotado de virtù é, para Maquiavel, alguém que se
caracteriza por uma “disposição flexível”, isto é, alguém que é capaz de modificar sua conduta do
bem para o mal e novamente para o bem, conforme as circunstâncias exigirem.
Imagem: Sr.Nostálgico/Wikimedia commons/Domínio Público
 Fortuna distribui suas dádivas , Simon Floquet, 1645.
Maquiavel também utiliza o termo virtù para descrever, em seu livro A arte da guerra , as
estratégias de um general que se adapta às diferentes condições do campo de batalha. É como
se a política fosse um campo de batalhas em outra escala. Assim como o general, o governante
deve se valer de técnicas e estratégias adequadas para cada circunstância. Um governante
dotado de virtù saberá exercer adequadamente o poder, ou seja, saberá subjugar a fortuna.
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FORTUNA
Termo que designa, na obra O príncipe , os eventos que podem ameaçar a segurança do
Estado.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. O PERÍODO DO RENASCIMENTO POSSUI ESSE NOME PORQUE É
GERALMENTE CONSIDERADO UM MOMENTO EM QUE AS FONTES DA
TRADIÇÃO CLÁSSICA GRECO-ROMANA FORAM RETOMADAS COM NOVO
VIGOR. QUAL É O ELEMENTO CONTEXTUAL QUE PERMITE ENTENDER A
RENOVAÇÃO DE OLHAR SOBRE ESSA TRADIÇÃO?
A) A descoberta de novos textos, que mudaram completamente o olhar sobre a Antiguidade.
B) O surgimento de grupos pagãos que procuravam restabelecer laços com o politeísmo da
Antiguidade Greco-romana.
C) O incentivo da Igreja Católica na tradução de textos de Filosofia clássica para expandir seu
horizonte de influência.
D) A tentativa de valorizar e construir um sentido de cultura europeia que apresentasse a
continuidade dos tempos da Antiguidade Greco-romana, passando pela Era Medieval até o
Renascimento.
E) O contato com textos clássicos em um ambiente multicultural propiciado pelas cidades-
Estados da região da Itália.
2. É POSSÍVEL IDENTIFICAR A INOVAÇÃO DO PENSAMENTO DE NICOLAU
MAQUIAVEL A RESPEITO DO EXERCÍCIO DO PODER A PARTIR DO
CONCEITO DE VIRTÙ . DE ACORDO COM MAQUIAVEL, UM GOVERNANTE
DOTADO DE VIRTÙ É AQUELE QUE:
A) É sempre capaz de agir segundo a bondade e a ética para manter seu poder político.
B) Quer ser amado pelos súditos em vez de temido.
C) Foi conduzido ao poder por meio de um arranjo suprapartidário que buscava pôr fim às
guerras religiosas.
D) É dotado de uma disposição flexível para manter seu poder político.
E) É cético em relação à nossa experiência da realidade.
GABARITO
1. O período do Renascimento possui esse nome porque é geralmente considerado um
momento em que as fontes da tradição clássica greco-romana foram retomadas com novo
vigor. Qual é o elemento contextual que permite entender a renovação de olhar sobre essa
tradição?
A alternativa "E " está correta.
Trata-se do contato com os textos clássicos mediado por um ambiente multicultural que acabava
por diminuir a influência da cultura católica na recepção dos textos da Antiguidade e que permitia
que um novo olhar fosse construído com vistas a novos problemas.
2. É possível identificar a inovação do pensamento de Nicolau Maquiavel a respeito do
exercício do poder a partir do conceito de virtù . De acordo com Maquiavel, um governante
dotado de virtù é aquele que:
A alternativa "D " está correta.
Para Maquiavel, um governante dotado de virtù é alguém que se caracteriza por uma
“disposição flexível”, alguém capaz de modificar sua conduta para manter seu Estado.
MÓDULO 2
 Distinguir as concepções do contrato social na Filosofia política moderna
CONTEXTO HISTÓRICO
A Era Moderna é geralmente caracterizada pela primazia da razão e pelo desenvolvimento das
Ciências Naturais. Seu início remonta à elaboração da Filosofia de René Descartes (1596-1650)
no início do século XVII– momento em que a razão humana se consolidou como principal
ferramenta para compreender o mundo: não foram os valores e as ideias dos cristãos que
articularam as filosofias que predominaram nesse momento.
Trata-se de um período que se caracterizou por confirmar o movimento de descolamento da
cultura católica que havia se iniciado no Renascimento. Não significa, porém, que o catolicismo e
a cultura cristã em geral deixaram de ter um papel importante. Também não significa que os
autores dessa época eram ateus ou não acreditavam em Deus. Pelo contrário: a maior parte era
católica ou protestante!
Imagem: Dedden/Wikimedia commons/Domínio Público
 Retrato de René Descartes, Frans Hals, século XVII.
Ao longo do Renascimento, era a cultura da Antiguidade Clássica que permitia deslocar a
centralidade para o indivíduo. Na Era Moderna, por sua vez, foi a Revolução Científica, a partir de
meados do século XVI, que teve o papel de auxiliar nesse deslocamento.
MAS COMO OCORREU ESSE DESENVOLVIMENTO?
Imagem: Garrondo/Wikimedia commons/Domínio Público
 Gravura de Nicolau Copérnico.
Aconteceu, sobretudo, a partir das revoluções no campo da Astronomia, tendo como um de seus
momentos fundantes a descoberta feita por Copérnico, na metade do século XVI, de que não
são o Sol e os astros que giram em torno da Terra, mas sim a Terra e os demais planetas que
giram em torno do Sol. A descoberta de Copérnico foi revolucionária, porque se opunha ao
sistema geocêntrico formulado por Claudio Ptolomeu no século II – um sistema que já durava
quase 1.500 anos.
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COPÉRNICO
Nicolau Copérnico (1473-1543)
Astrônomo polonês que formulou a teoria heliocêntrica, cujo princípio afirmava que a Terra
orbitava ao redor do Sol. Ele iniciou a Revolução Científica que acompanhou o
Renascimento europeu junto à sistematização da Física e a uma profunda mudança nas
convicções filosóficas e religiosas. Essa ruptura foi chamada de Revolução Copernicana, de
tão longo alcance que ultrapassou o reino da Astronomia e da Ciência para marcar a história
das ideias e da cultura.
Fonte: Biografías y Vidas. Tradução nossa.
Com as descobertas de Copérnico – e as elaborações da Astronomia e das outras Ciências
Naturais –, a Terra não pôde mais ser compreendida como centro de nada, forçando, também,
que houvesse uma reavaliação sobre a própria posição do homem. Os efeitos desse
deslocamento foram fundamentais para a valorização do indivíduo, pois permitiram separar a
finalidade do humano das finalidades pensadas a partir de um contexto católico.
Imagem: Kawaart/Wikimedia commons/Domínio Público
 Astrônomo Copérnico, ou Conversa com Deus , Jan Matejko, século XIX.
Ainda que nessa nova visão do universo o homem não estivesse no centro de nada, parecia que
estava cada vez menos subordinado a algo fora dele. Os efeitos desses deslocamentos se fazem
sentir ainda no presente, sobretudo quando nos damos conta de que as ciências e a razão são
elementos centrais de nossa vida.
Isso poderia nos fazer acreditar que ainda vivemos na Era Moderna (e, em certo sentido,
vivemos), mas o que nos impede de afirmar isso completamente é que a situação política já não é
a mesma daquele momento. O que vimos entre o início do século XVI e o final do século XVII foi
um período em que ainda estavam se formando os Estados Nacionais Modernos, tal como os
conhecemos nos dias atuais.
Com o enfraquecimento dos nobres aristocratas, que eram detentores dos feudos, vimos uma
centralização do poder nas mãos de figuras monárquicas (que estavam enfraquecidas ao longo
da era feudal) por meio da criação de exércitos e da realização de inúmeras guerras para unificar
e delimitar as fronteiras de seus Estados, que, agora, eram pensados, também, como nações.
Imagem: Krscal/Wikimedia commons/Domínio Público
 Os Burgueses de Calais , Benjamin West, 1789.
Além disso, vimos, a partir dessas unificações, o desenvolvimento de economias nacionais, que
passaram a tornar a economia um campo cada vez mais central para a política. É a partir dessa
chave que podemos entender como na Europa havia o patrocínio e o incentivo de Estados fortes
a políticas de colonização ao redor do globo.
A isso tudo se somava o surgimento de uma nova classe social que também almejava maior
participação política: a burguesia. Tratava-se de uma parcela da população envolvida no comércio
e na produção de mercadorias. A nova classe social tinha recursos econômicos que cada vez
mais se traduziam em força política, mas, diferentemente das classes nobres, não possuía
legitimidade para participar da política.
VAMOS COMPREENDER O IMPACTO CAUSADO
PELA CHAMADA REVOLUÇÃO CIENTÍFICA, A
PARTIR DO SÉC. XVII NA SOCIEDADE EUROPEIA,
E ESPECIALMENTE SEU IMPACTO NA VISÃO DE
MUNDO E ORGANIZAÇÃO POLÍTICA DAQUELA
SOCIEDADE.
É nesse contexto que uma série de questões de ordem política surge, exigindo que se pense
tanto na natureza dessa nova figura do campo político – os Estados-nações modernos – quanto
na origem de sua legitimação como instância de ação política. Esse aspecto, que geralmente é
designado como a questão do contrato social, será o fio central deste módulo. Investigaremos,
aqui, três pensadores-chave desse momento que tocam nesses problemas: Thomas Hobbes
(1588-1679), John Locke (1632-1704) e Baruch de Espinosa (1632-1677).
THOMAS HOBBES
A Filosofia política de Thomas Hobbes foi marcada por um esforço de elaboração de uma
estrutura estatal capaz de pôr fim às guerras religiosas que se estenderam durante o século XVI e
a primeira metade do século XVII no continente europeu.
O historiador alemão Koselleck (1999) afirma que todos os teólogos, filósofos da moral e juristas
que antecederam Hobbes falharam nas soluções que propunham para o impasse que a Europa
vivia, porque suas doutrinas apoiavam os direitos de determinada parte e, assim, incitavam ainda
mais a guerra civil em vez de elaborar um ordenamento que estivesse acima das partes.
Imagem: Dcoetzee/Wikimedia commons/Domínio Público
 Thomas Hobbes , John Michael Wright, 1670.
Imagem: RTG/Wikimedia commons/Domínio Público
 Capa da obra Leviatã , de Thomas Hobbes. Gravura de Abraham Bosse.
A teoria do contrato social é um método de análise do arranjo político que ocorre por meio do
acordo entre partes racionais, livres e iguais entre si. Não é irrelevante que Hobbes (2015)
suponha a igualdade entre as partes em meados do século XVII. Mas a astúcia de seu sistema
suprarreligioso e suprapartidário, apresentado no livro Leviatã (1651), é que seu resultado – o
Estado – está contido nas premissas da guerra civil. O motivo da guerra era, para Hobbes, o
desejo incessante pelo poder, ao qual só a morte põe fim. A causa da guerra civil era a invocação
das consciências sem um amparo externo, era a inexistência de um ordenamento que pudesse
tomar os partidos como elementos de uma unidade.
Para Hobbes, a paz só seria assegurada se, na formação do Estado, essa moral se convertesse
em dever de obediência. Note que o problema hobbesiano envolve a passagem do âmbito da
convicção, a que Hobbes havia reduzido todos os conteúdos religiosos, para o âmbito do Estado,
em que as convicções privadas são destituídas de sua repercussão política. O próprio estado de
natureza, que é o reino da convicção, é definido pela ausência do Estado. À medida que os
indivíduos transferem sua agência política ao soberano, a consciência individual se transforma em
moral privada.
No arranjo hobbesiano, a racionalidade está associada à obediência das leis, independentemente
de seu conteúdo. Em outros termos, o arranjo racional, que seria capaz de pôr fim às guerras
religiosas, exigia a submissão total ao monarca. A obediência às leis soberanas só era possível se
o súdito fosse capaz de separar convicção e ação, moral e política.
Koselleck (1999) afirma que Hobbes divide o homem em duas partes: uma privada e outra
pública. Os atos são submetidosà lei do Estado, mas a convicção é livre. E é justamente à
ampliação desse foro interior da convicção que, como veremos, está associado o Iluminismo.
Embora Hobbes insista que o monarca deve possuir autoridade absoluta, os súditos possuem a
liberdade de desobedecer ou resistir quando suas vidas estão em perigo. Isto é, os súditos
mantêm o direito à autodefesa diante do poder soberano. A explicação é que se o monarca falha
em prover proteção adequada a seus súditos, extingue-se, também, o dever dos indivíduos de
obedecer. Essa exceção mencionada por Hobbes mostra, por um lado, que obediência e proteção
são elementos inseparáveis na formação do Estado, e, por outro, que se os súditos mantêm a
capacidade de avaliar a adequação da proteção oferecida pelo monarca, o medo que caracteriza
o estado de natureza não é inteiramente eliminado.
JOHN LOCKE
Ao delegar sua agência política ao soberano, os súditos ficam reduzidos à instância moral
privada. Esse é o único espaço no interior do contrato social em que o Estado não legisla, em que
os indivíduos gozam de certa autonomia. Como veremos, o Iluminismo se caracteriza justamente
pela expansão desse foro interior privado (ao qual o Estado havia limitado os súditos) para um
domínio público.
John Locke fornece certa consistência a esse espaço da moral ao escrever, em seu Ensaio sobre
o entendimento humano , publicado em 1670, sobre os três tipos de leis que devem orientar a
vida dos cidadãos:
Imagem: Uau/Wikimedia commons/Domínio Público
 Retrato de John Locke, Sir Godfrey Kneller, 1697.
Imagem: Wikimedia Commons/Domínio público.
LEI DIVINA
Aquela que regulamenta o que é pecado e o que é dever, e da qual só se pode ter conhecimento
por meio da natureza ou da revelação.
Imagem: Museu Paulista da USP/Wikimedia Commons/Domínio público.
LEI CIVIL
Aquela que regula o crime e a inocência, elaborada pelo Estado para proteger o cidadão.
Imagem: Mauritshuis/Wikimedia Commons/Domínio público.
LEI MORAL
Aquela que é a medida dos vícios e das virtudes.
Note que, diferentemente de Hobbes, Locke (2012) estabelece uma separação entre a lei divina e
a lei civil. Há uma ruptura entre direito natural e direito político, que haviam sido reunidos por
Hobbes na figura do soberano. Mais do que isso, Locke cristaliza a divisão entre política e moral a
partir do estabelecimento da lei moral, ao lado da lei divina e da lei civil. Trata-se da lei dos
filósofos ou, como também a chama, da lei da opinião ou da reputação.
Locke associa a origem das leis morais ao foro interior da consciência humana, que estava
excluído do domínio do Estado. Como vimos, os súditos abdicam de sua agência política em favor
do soberano, o que significa que sua ação em relação aos demais cidadãos está limitada pelas
leis civis, mas isso não impede que mantenham a capacidade de formar uma opinião a respeito
daqueles com quem convivem.
Koselleck (1999) afirma que os indivíduos não têm poder executivo, mas conservam o poder
espiritual do juízo moral, e suas opiniões sobre os vícios e as virtudes não se restringem a
opiniões privadas. Os juízos morais têm caráter de lei.
Enquanto as leis do Estado se impõem por meio da coerção, os cidadãos só se submetem às leis
da moral civil com base em um consentimento secreto e tácito. Entretanto, com Locke, a moral
deixa de ser algo que se restringe ao foro individual. O portador da moral não é o indivíduo, mas a
sociedade. Os indivíduos formam juntos uma sociedade que desenvolve suas próprias leis morais
– leis que se situam ao lado das leis divinas e do Estado.
Diferentemente de Hobbes, portanto, a moral entra, com Locke, no espaço público, e as opiniões
privadas dos cidadãos são elevadas à condição de lei por meio do elogio e da censura. Essa é a
razão pela qual Locke também chama a lei da opinião pública de lei da censura privada.
Koselleck (1999) explica que a ideia é que o espaço público emana do privado. É na certeza que
o foro privado tem de si que está sua capacidade de se tornar público, e é somente no espaço
público que as opiniões privadas se manifestam como lei.
Para Locke (2012), a moral não é a moral hobbesiana de obediência ao soberano, mas a fonte de
uma legislação que rivaliza com as leis do Estado. Enquanto a legislação do Estado se realiza
diretamente pelo poder político, a lei moral tem ação indireta por meio da opinião pública. Embora
não detenha os meios estatais de coerção, a lei da opinião se impõe a partir do elogio e da
censura.
A eficiência da lei moral está em seu alcance: ninguém pode escapar ao juízo moral. Essa
característica faz dela um poder político que age de modo indireto, mas, quando considerada
diretamente, permanece politicamente invisível. É mero juízo.
É na possibilidade de conflito entre moral e política que se desdobra a história do pensamento
iluminista. Quando os dois âmbitos se opõem de maneira irreconciliável – como na véspera da
Revolução Francesa ou mesmo no arranjo do governo inglês, depois da Revolução Gloriosa, em
que o poder político e a moral burguesa estão oficialmente separados –, o juízo moral da
sociedade deixa as leis do Estado para trás, argumentam os iluministas. O progresso impõe-se.
REVOLUÇÃO GLORIOSA
A Revolução Gloriosa, ocorrida em fins do séc. XVII, iniciou-se por questões religiosas
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(moral católica x moral protestante), mas acabou tornando-se a precursora de um
importante documento (Bill of Rights /Declaração de Direitos, 1689), que limitou os poderes
da monarquia, fortalecendo a burguesia.
BARUCH DE ESPINOSA
Entre os principais interlocutores de Hobbes na modernidade, encontramos o filósofo holandês
Baruch de Espinosa. Herdeiro de René Descartes, sua Filosofia tem como principal motor tentar
fornecer uma ideia de vida boa que seja construída a partir de uma investigação racional do que é
o ser humano, sem qualquer apoio em valores externos, como os religiosos, por exemplo.
Em sua obra Ética , Espinosa deteve-se, sobretudo, no caráter afetivo e racional dos seres
humanos. Para ele, a vida afetiva significa que os desejos dos seres humanos são sua essência
(ESPINOSA, 2009). Isso quer dizer que a singularidade de um indivíduo qualquer está atrelada
não ao que ele quer de maneira abstrata, mas ao que ele quer na medida em que se engajar
nesse movimento. E o que os indivíduos querem, em última instância, é perseverar em seu ser
(o que Espinosa chama de conatus dos seres), independentemente do que seja esse
perseverar. Além disso, esse “perseverar” tem de lidar com objetos no mundo que dificultam ou
impedem a realização desse desejo.
Imagem: Triggerhippie4/Wikimedia commons/Domínio Público
 Retrato de Baruch Espinosa, artista desconhecido.
É nesse ponto que Espinosa fornece sua teoria dos afetos. Para ele, os seres humanos são, ao
mesmo tempo, seres que procuram realizar seus desejos (suas finalidades), mas também são
seres inicialmente ignorantes das causas que os movem. Isso significa que os indivíduos
conseguem entender o que querem , mas não conseguem saber por que querem.
Imagem: Brandmeister/Wikimedia commons/Domínio Público
 O Barco de Dante , Eugène Delacroix, 1822.
Essa estrutura não apenas aponta uma dificuldade de se situar no mundo, mas também deixa
claro como os afetos (alegria, tristeza, esperança, medo etc.) são os modos que os homens têm
para se orientar inicialmente. Os afetos não nos ajudam a entender os objetos com que nos
deparamos no mundo, mas apenas seu efeito em nós – se contribuem com nosso desejo ou não.
Esse seria o jeito mais simples de navegação no mundo para os humanos, de acordo com o
filósofo.
Mas isso não é tudo, pois, para Espinosa, a partir de certos encontros positivos com algo que faz
bem a nós mesmos, é possível desenvolver um pensamento racional sobre as coisas, isto é,
experimentá-las para além de seus efeitos em nós. Podemos compreender as coisas a partir de
como elas combinamconosco. O pensamento racional seria, portanto, não algo que se opõe aos
afetos, mas algo que emerge e é elaborado a partir das coisas que afetam positivamente o
humano. Isso tem efeitos importantes para a Filosofia política de Espinosa e em sua visão sobre a
sociedade em geral.
Espinosa parte de pontos bem semelhantes aos de Hobbes para pensar no contrato social. Ele
também pensa que, sem qualquer intervenção externa, os seres humanos inevitavelmente entram
em disputas intermináveis, uma vez que cada um simplesmente buscaria realizar seus desejos.
Também como Hobbes, ele acredita que algum tipo de autoridade política externa é necessário
para frear certos impulsos e produzir alguma estabilidade política.
Diferentemente de Hobbes, porém, Espinosa não considera que os governos autoritários
apresentem apenas uma forma absolutista. O autoritarismo em Espinosa significa, antes, uma
estrutura que ocorre em uma escala de outra ordem que a dos humanos – uma força de outra
grandeza. Isso implica, portanto, reposicionar a maneira como se enxerga o surgimento do
Estado.
Isso é compreensível se retomamos as ideias de Espinosa sobre o humano. Como vimos, o
humano é compreendido a partir de seus afetos e de sua razão. Por um lado, ele procura realizar
seu desejo de perseverar em si mesmo. Por outro, ele se depara com coisas capazes de auxiliá-lo
ou configurar obstáculos.
É nesse ponto que vemos, respectivamente, a aproximação e o afastamento de Espinosa do
pensamento hobbesiano. Por um lado, sendo semelhantes, é inevitável que os seres humanos
acabem disputando os mesmos recursos, isto é, coisas que permitem que perseverem. Por outro
lado, como são semelhantes, certos encontros podem fazer com que percebam suas
semelhanças e comecem a trabalhar em conjunto. Esse trabalho em conjunto pode, inclusive,
implicar a criação de estruturas entre os indivíduos que transferem o poder de seus membros
para o corpo social, que é o Estado. O Estado é, portanto, um corpo composto a partir (mas não
é redutível a ) dos indivíduos que participam dele.
Isso significa que, para Espinosa, a organização de seres humanos entre si não é algo que
emerge apenas a partir de uma tentativa de afastar a disputa que há entre eles. A organização
pode surgir, também, quando se dão conta dos benefícios mútuos. Vemos, portanto, que, apesar
de Espinosa ver o Estado como um ponto importante para a estabilidade (e para dar fim a certo
caos), essa solução não é completamente pessimista.
Além disso, essa transferência de poder dos indivíduos para o Estado não é uma renúncia
absoluta. Para Espinosa, os seres individuais são essencialmente seus desejos. Isso significa,
também, que eles são o que eles podem ser. O direito natural na Filosofia política espinosana é
que um indivíduo pode fazer aquilo que ele tem capacidade de fazer. Assim, não haveria
nenhuma limitação moral inata que poderia ser descoberta e utilizada para forçar a renúncia da
capacidade dos indivíduos. Mas isso tem algumas implicações que cabe observar.
A primeira é que um indivíduo não tem como realmente renunciar a suas capacidades, pois são
suas – é justamente sua natureza. O que ele pode fazer é apenas aplicar sua força a uma série
de estruturas burocráticas que acabam constituindo o Estado – é esse o objeto de análise do
Tratado político .
Imagem: Tomisti/Wikimedia commons/Domínio Público
 Primeira edição do Tratado político-teológico , de Espinosa, 1610.
Um caso contemporâneo que pode ser lido na chave espinosana da “aplicação a uma estrutura
burocrática” é a participação política da população no processo político por meio das eleições –
como se dirigíssemos nosso desejo e nossa capacidade para esses momentos de participação
política. Contudo, como se trata apenas de um direcionamento das forças do indivíduo, ele
também pode, caso a situação necessite, caso haja algum abuso de poder, rebelar-se, deixar de
fortalecer o Estado.
Assim, a Filosofia política de Espinosa resguarda um espaço para que os indivíduos se revoltem
contra os poderes constituídos em casos de abuso de poder ou de opressão interna. Apesar
dessa possibilidade, a rebelião, porém, não é um evento normal para Espinosa. Afinal, assim
como o indivíduo limitaria sua capacidade de agir em nome de uma estabilidade comunitária, o
soberano tenderia a agir da mesma maneira, reduzindo sua dominação sobre seus súditos, a fim
de evitar revoltas – o que não significa que as renúncias sejam simétricas.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. SEGUNDO THOMAS HOBBES, O SOBERANO:
A) Legisla sobre todas as esferas da vida social, inclusive sobre a moral privada
B) Pode ser desobedecido, caso o súdito julgue que sua vida está em perigo.
C) Deve ser dotado de virtù para exercer adequadamente o poder e subjugar a fortuna.
D) Encarna a separação entre lei divina e lei civil.
E) Impõe as leis do Estado por meio da opinião pública.
2. A JUSTIFICATIVA PARA A CRIAÇÃO DE UMA AUTORIDADE ESTATAL, NA
FILOSOFIA POLÍTICA DE BARUCH DE ESPINOSA, É CONSTRUÍDA A PARTIR
DA IDEIA DE QUE, EM CONDIÇÕES NATURAIS, OS HOMENS ACABAM
ENTRANDO EM CONFLITO. SABEMOS TAMBÉM QUE, PARA ESPINOSA, AS
IDEIAS SOBRE POLÍTICA ESTÃO PAUTADAS EM SUA CONCEPÇÃO DO
INDIVÍDUO HUMANO. QUAL É A CARACTERÍSTICA QUE GERA ESSA
CONDIÇÃO DE DISPUTAS ENTRE HOMENS E QUE SÓ PODE SER
SUPERADA A PARTIR DA SUBMISSÃO A UMA AUTORIDADE EXTERNA?
A) O desejo de perseverar em si mesmo (conatus ).
B) O componente racional dos humanos.
C) A incapacidade de compreender sua conjuntura política.
D) O fato de o homem ser dominado por afetos tristes.
E) O fato de o homem possuir em si uma maldade que lhe é inerente.
GABARITO
1. Segundo Thomas Hobbes, o soberano:
A alternativa "B " está correta.
Embora Hobbes insista que o monarca deve possuir autoridade absoluta, os súditos possuem a
liberdade de desobedecer ou resistir quando suas vidas estão em perigo.
2. A justificativa para a criação de uma autoridade estatal, na Filosofia política de Baruch de
Espinosa, é construída a partir da ideia de que, em condições naturais, os homens acabam
entrando em conflito. Sabemos também que, para Espinosa, as ideias sobre política estão
pautadas em sua concepção do indivíduo humano. Qual é a característica que gera essa
condição de disputas entre homens e que só pode ser superada a partir da submissão a
uma autoridade externa?
A alternativa "A " está correta.
O que faz com que surjam conflitos entre homens é o desejo de perseverar em si mesmo
(conatus ). Afinal, na medida em que se esbarram no mundo, caso não haja uma força externa
para conciliá-los, os desejos de uns podem entrar no caminho dos desejos de outros. É, portanto,
essa característica que torna a autoridade externa uma condição necessária para a convivência
pacífica.
MÓDULO 3
 Reconhecer os principais conceitos do pensamento iluminista
CONTEXTO HISTÓRICO
Imagem: Trzęsacz/Wikimedia commons/Domínio Público
 A Liberdade guiando o povo , Eugène Delacroix, 1830.
O Iluminismo está diretamente associado às transformações políticas dos séculos XVII e XVIII.
Esse período foi marcado por três grandes revoluções políticas que constituem a base das
democracias modernas: a Revolução Inglesa (1688), a Revolução Americana (1775-1783) e a
Revolução Francesa (1789-1799).
Imagem: Alonso de Mendoza/Wikimedia commons/Domínio Público
 Um experimento com um pássaro em uma bomba de ar , Joseph Wright of Derby, 1768.
Os avanços científicos do início da modernidade servem de estímulo ao projeto iluminista de
reestruturação do mundo social e político de acordo com os modelos fornecidos pela razão. Os
pensadores iluministas se relacionam com a ordem existente por meio do exame minucioso da
crítica. Além disso, a crítica é suplementada com a elaboração de teorias de modelos de
instituição.
É nesse período que se elabora, como vimos, o modelo básico de governo fundado no
consentimento do governado, bem como a articulação dos ideais políticos de liberdade e
igualdadecom a teoria de sua realização institucional. Também se consolidam nessa fase uma
lista de direitos humanos individuais básicos a serem respeitados por um sistema político legítimo,
a tolerância religiosa, os poderes políticos como um sistema de freios e contrapesos, e tantas
outras características com as quais identificamos as democracias modernas.
O grande impasse da Filosofia política iluminista é que não está claro como a razão pode
substituir o objeto de sua crítica por um novo tipo de autoridade. Jean-Jacques Rousseau
(1712-1778) é um dos pensadores que encarnam essa dificuldade.
Um dos grandes legados do período é justamente a questão sobre os limites da razão. Um
exemplo marcante é a Revolução Francesa.
Que destino assumem os ideais de igualdade, liberdade e fraternidade tão logo as velhas
instituições criticadas pelos iluministas são tomadas?
Não se trata apenas de nos lembrarmos do recurso à violência e ao terror ainda no auge da
revolução, mas da forma como o Código Civil de Napoleão, de 1804, passou a figurar para Hegel
(1770-1831), por exemplo, como o destino para o qual a história convergia.
JEAN-JACQUES ROUSSEAU
Com Rousseau, notamos que o campo da moral já havia crescido de tal modo que seria preciso
que a oposição entre moral e política fosse transferida para o próprio campo da política. Em
outras palavras, ao diagnóstico iluminista do progresso infinito parecia cada vez mais se impor
uma decisão política, considerando o crescente desacordo entre os juízos morais e a estrutura do
Estado.
O entendimento de Rousseau é que os Estados não se extinguem de forma apolítica, pela
simples crença na Filosofia da história e no poder da crítica. Outros pensadores antes de
Rousseau também profetizavam a iminência de uma revolução, mas o aspecto político da
revolução – a guerra civil – sempre ficava encoberto.
Imagem: MLWatts/Wikimedia commons/Domínio Público
 Jean-Jacques Rousseau , Maurice Quentin de La Tour, 1764.
O caráter político da revolução estava reduzido, até então, à crítica ao despotismo. Rousseau não
se unia ao coro de que a derrubada da ordem estabelecida correspondia ao simples progresso
moral. Em lugar da vitória dos interesses sociais, o que a revolução traria seria insegurança,
incerteza e crise.
MAS O QUE SIGNIFICAVA, PARA ROUSSEAU, A
CONSTITUIÇÃO DE UM ESTADO LEGÍTIMO, EM QUE A
NOVA SOCIEDADE OCUPASSE O PODER POLÍTICO SEM
PERDER SUA LIBERDADE?
Em O contrato social , publicado em 1762, ele argumenta que só pode haver uma reconciliação
entre autoridade e liberdade, com a submissão de todos a cada um e de cada um a todos. O
arranjo em que todos obedecem e são livres ao mesmo tempo é o que seria, no entendimento de
Rousseau, a unidade entre moral e política.
Para Rousseau, a sociedade possui uma vontade una e incondicional, e, mesmo que o soberano
seja destronado, a chamada vontade geral se mantém. Essa vontade não é a soma de vontades
individuais, mas a emanação de uma totalidade. O impasse a que chega Rousseau é que uma
nação tem uma vontade geral que faz dela uma nação, mas essa vontade não se realiza de
maneira direta, não há um executor.
A conclusão é que cabe justamente ao Estado criar, de modo permanente, essa identidade
complexa entre a sociedade civil e a decisão soberana. O cidadão só é livre quando participa da
vontade geral, mas, como o homem, não tem como saber quando sua vontade coincide com a
vontade geral. De fato, a vontade geral opera uma correção permanente dos indivíduos que ainda
não foram integrados a ela.
Imagem: MarcusBritish/Wikimedia commons/Domínio Público
 Napoleão cruzando os Alpes , Jacques-Louis David, 1801.
A ditadura da soberania se distingue do absolutismo, pois deve abarcar, inclusive, o foro privado
que Hobbes havia excluído do domínio do Estado. No arranjo estatal de Rousseau, o líder não é
aquele que incorpora unicamente o poder político, como em Hobbes, mas alguém mais
esclarecido a respeito da vontade geral do que o restante dos indivíduos. Sua tarefa é estabelecer
a identidade complexa entre moral e política. Para isso, é preciso guiar não só as ações dos
indivíduos, mas também suas convicções – diferenciando-se, portanto, do soberano hobbesiano,
que não se ocupava de legislar sobre o foro íntimo dos súditos.
Koselleck (1999) argumenta que Rousseau estatizou a censura moral, isto é, o líder deve legislar
sobre a opinião pública permanentemente para estabelecer a unidade entre convicção e ação.
Sua tarefa mais importante é substituir a autoridade pelo poder da opinião pública.
A moral do cidadão e a política do Estado não são coincidentes. Por isso, cabe ao líder manter
essa identidade complexa a partir de meios como o terror e a ideologia. É como se, em Rousseau,
a crítica progressista fosse transferida para o âmbito político.
Nas palavras de Koselleck (1999), é como se a ideia de progresso moral cobrasse suas notas
promissórias por meio da ditadura da soberania. O estado de crise que Rousseau descreve é
como se fosse o cumprimento da crítica dos iluministas ao absolutismo, a execução de seus
juízos. É, como dizíamos, uma forma de trazer a oposição entre moral e política para o campo da
política.
IMMANUEL KANT
Immanuel Kant (1724-1804) é possivelmente um dos filósofos mais influentes de toda a
modernidade. Suas contribuições no campo da Filosofia incluem a teoria do conhecimento, a
estética e as questões éticas e políticas. A partir de sua obra Crítica da razão pura , vemos a
elaboração de uma ideia que procura traçar os limites da razão ao diferenciar o pensamento do
conhecimento.
O conhecimento é concebido por Kant (2015) como uma experiência das coisas fora de nós,
mediada por conceitos do sujeito que conhece. O pensamento, por sua vez, seria o uso da razão
para elaborar ideias e princípios sem qualquer referência à experiência. Isso não significa, porém,
que a razão não tem sentido ou que é irrelevante. O que Kant procura fazer é apenas delimitar
seu campo de atuação. Ela não pode, por conta própria, mostrar-nos como o mundo é, mas
apenas nos fornecer ideias consistentes capazes de regular nossas ações, sem que essas ideias
possam ser determinadas como reais ou não.
Imagem: Sardanaphalus/Wikimedia commons/Domínio Público
 Retrato de Immanuel Kant , Johann Gottlieb Becker, 1768.
Isso teve um papel importantíssimo em sua ética e em sua política, pois, ainda que não se
pudesse averiguar a realidade de certas questões filosóficas por não serem objeto da experiência,
elas ainda podiam ser pensadas: era o caso da liberdade dos homens.
A ética kantiana pode ser reduzida a três ideias fundamentais:
Todo homem é livre, mesmo quando parece ser coagido.
Por ser livre, agir eticamente implica assumir sua liberdade na escolha de suas ações.
Visto que os homens são todos livres, nenhum homem deve ser um meio para um fim .
Isso significa que, como não haveria nenhuma contradição nesse conceito, o homem poderia ser
pensado como livre, ainda que essa ideia jamais pudesse ser comprovada de fato. Disso resulta
que, se essa ideia fosse preservada como certo princípio regulador de nossas vidas (ainda que
não fosse passível de comprovação), uma situação de coação significaria que haveria certa
escolha na submissão.
Nesses casos, para Kant, o homem estaria livremente escolhendo delegar o poder de decisão e
controle para outras pessoas ou até para outros valores. Assim, as ações dos homens seriam
meios para fins , isto é, o homem estaria agindo sempre de acordo com um outro.
Com isso em mente, podemos entender o que é a ação ética para Kant. Trata-se de realizar uma
ação como um fim em si mesmo, como uma ação que é assumida (independentemente de seu
conteúdo) como decisão do sujeito que age e que se assume como sujeito livre.
Essa demanda pela ação responsável foi descrita por Kant como imperativo categórico : uma
espécie de princípio que não tem nenhum conteúdo específico, mas que nos urge a agir de forma
que assumamos a autoria de nossas ações.A consequência disso no âmbito social é que, como
os seres humanos são livres, nenhum pode ser tratado como meio para fim , ou seja, nenhum
ser humano pode ser usado, pois isso seria uma afronta à sua liberdade.
Imagem: Adam sk ~ commonswiki/Wikimedia commons/Domínio Público
 O Triunfo da Liberdade , Jacques Réattu, 1794.
Nesse sentido, também podemos entender a posição de Kant sobre a organização do Estado. Em
seu nível interno, seu objetivo deve ser garantir e preservar a liberdade de seus cidadãos. Na
prática, significa que o Estado deve lutar para preservar a liberdade de que os indivíduos
procurem sua felicidade como bem entenderem, assim como a liberdade religiosa e a liberdade
de expressão – sobretudo considerando que seria a liberdade para se exercer a razão
publicamente.
Externamente, os Estados devem procurar reproduzir no cenário internacional as relações éticas
que os cidadãos teriam entre si. Isso significa que, no campo internacional, nenhum Estado
poderia se utilizar de outro Estado para seus próprios ganhos. Essa situação, uma vez alcançada,
configura o que Kant chama de paz perpétua .
Mas não há, por parte do filósofo, uma crença de que isso ocorra de maneira absolutamente
espontânea. Kant enxerga essa possibilidade como uma ideia que deve regular as ações do
Estado, mesmo que se viva em períodos de disputas turbulentas. Para ele, as guerras devem ser
compreendidas não como entraves para a paz, mas como sinais de desequilíbrios entre os
países, que, uma vez resolvidos, reconfiguram as relações internacionais de modo mais
balanceado.
A paz perpétua, para Kant, funciona, portanto, como algo que vai se tornando cada vez mais real,
na medida em que os Estados ficam cada vez mais balanceados entre si, mesmo que o caminho
para isso seja feito – paradoxalmente – por meio da guerra.
GEORG WILHELM FRIEDRICH HEGEL
O pensamento de Hegel, concebido e formulado enquanto a Revolução Francesa se
transformava no Império Napoleônico, tem como principal mérito trazer para a Filosofia, de
maneira inédita, a questão da História. Mas isso não significa dizer apenas que Hegel elogiava a
História ou valorizava esse campo de saber.
Vamos entender o que isso significa com base em duas aproximações dessa inserção da História
na Filosofia a partir da Filosofia política de Hegel: o fato de a Filosofia hegeliana ser aquela que
lida com os problemas de seu tempo e aquela que lida com as consequências de o movimento
histórico ser a condição da verdade das coisas.
Imagem: FreeArt1/Wikimedia commons/Domínio Público
 Retrato de Georg W. F. Hegel , Jakob Schlesinger, 1831.
Em primeiro lugar, inserir a História na Filosofia não é nada mais que tomar a Filosofia como a
apreensão de seu próprio tempo pelo pensamento (HEGEL, 2006). Se a Filosofia de Hegel foi
gestada quando a Revolução Francesa se desdobrou e se deparou com suas tensões e seus
limites, seu pensamento também se viu diante dessas questões. Observamos isso em sua
Filosofia política, em que a distinção entre sociedade civil e Estado aparece como fundamental
devido aos desdobramentos da Revolução Francesa, sobretudo se considerarmos que ela foi
motivada por uma incapacidade do Estado de dar conta das demandas dos cidadãos.
PARA EXPLICAR ESSA DISJUNÇÃO, PODEMOS NOS
APOIAR NA CONCEITUAÇÃO QUE HEGEL FEZ DA
SOCIEDADE CIVIL EM OPOSIÇÃO AO ESTADO.
A sociedade civil é o campo que emerge a partir das relações de indivíduos em determinado
ambiente. Isso não se resume ao fato de que esses indivíduos convivem, mas envolve a
consideração de que a satisfação dos desejos de um indivíduo está conectada à satisfação do
desejo de outros indivíduos. Afinal, para que esses desejos sejam satisfeitos, é preciso que uma
série de relações de trocas recíprocas (de comércio, trabalho, proteção etc.) ocorra, mesmo que
ela não seja visível para os indivíduos em questão. Nesse sentido, a sociedade civil é o conjunto
de relações entre indivíduos e famílias que compõem determinada comunidade.
Isso se diferencia do Estado, que seria a concretização formal dos laços e valores sociais por
meio de leis, estruturas burocráticas estatais e instâncias de poder regulamentadas – uma
concretização que não necessariamente se articula com a sociedade civil.
Como vimos, há também outro sentido em que a questão da História se torna central no
pensamento hegeliano. Para Hegel, é apenas por meio do que chama de dialética que se pode
observar a verdade das coisas.
Por exemplo, a verdade de uma flor não estaria apenas em sua fase final, em seu “estado
florescido”, mas no fato de que ela, antes de desabrochar, foi um botão, embora este tenha sido
negado pela própria flor. Nos termos de Hegel, diz-se, portanto, que a verdade da flor conserva
negativamente (como algo que foi negado e superado) o botão.
DIALÉTICA
Desenvolvimento das coisas no tempo por meio de uma série de negações sucessivas.
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Imagem: Shutterstock.com
Vemos isso, porém, também no campo político, quando pensamos na Filosofia da história de
Hegel. No que diz respeito às ideias do Iluminismo, como liberdade, igualdade e fraternidade,
ainda que servissem como imagens desejáveis da política, não se pode deixar de notar a
distância entre elas e a sociedade tal como existia naquele momento. Essa distância, para Hegel,
não é simplesmente um problema, mas é o que acaba sendo o motor para que as condições
atuais da sociedade sejam transformadas em nome das ideias a que se aspira.
Nesse sentido, vemos como os próprios acontecimentos históricos em Hegel são encarados a
partir da dialética, de modo que procuram realizar as transformações que adéquam o mundo
social a suas aspirações.
UTILITARISMO
O progresso do conhecimento científico, com a criação da Royal Society na segunda metade do
século XVII, influenciou Jeremy Bentham (1748-1832) a trazer os princípios básicos do
experimentalismo e do empirismo para as Ciências Morais.
Bentham (1974) argumentava que as Ciências Morais deveriam ser pensadas em analogia com as
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Ciências Naturais, ou seja, aquilo que um físico é para um corpo natural o legislador deveria ser
para o corpo político. A legislação seria a Medicina exercida em larga escala.
Imagem: Dcoetzee/Wikimedia commons/Domínio Público
 Retrato de Jeremy Bentham , Henry William Pickersgill, 1875.
ROYAL SOCIETY
Academia Nacional de Ciências do Reino Unido: associação dos cientistas mais importantes
do mundo.
Imagem: Tenpop421/Wikimedia commons/Domínio Público
 Pintura que supostamente retrata o matemático Robert Hooke, 1680.
Bentham acreditava que toda matéria é quantificável em termos matemáticos, inclusive as dores e
os prazeres, que seriam, segundo seu entendimento, o fundamento a que toda atividade humana
pode ser reduzida. As dores e os prazeres são, assim, uma espécie de base material do
utilitarismo.
Embora as entidades fictícias sejam necessárias para o discurso humano, seu sentido só se torna
manifesto, para Bentham, por meio de sua conexão com essas entidades reais. Direitos e
deveres, por exemplo, só se tornam conceitos plenos de sentido a partir das dores e dos prazeres
que significam para os indivíduos.
As proposições teológicas, por sua vez, não lidam com fatos da experiência comum, mas com
uma realidade que transcende o mundo físico, de modo que, assim como a opinião não tem lugar
no discurso das Ciências Naturais, as verdades teológicas não têm lugar nas Ciências Morais.
Além disso, Bentham argumenta que princípios como o senso comum e a justiça natural são
vazios e não expressam mais do que o sentimento das pessoas que os enunciam. O princípio da
utilidade, ao contrário, estaria fundamentado em fatos verificáveis na experiência, que são as
dores e os prazeres. O princípio da utilidade toma, portanto, as dores e os prazeres como causa
última da ação humana e como causaeficiente da felicidade.
Outro teórico do utilitarismo, John Stuart Mill (1806-1873) argumenta que, assim como há um
fundamento para o raciocínio teórico – o princípio da indução enumerativa –, há, também, um
fundamento para a razão prática (MILL, 2020).
O raciocínio teórico envolve o desvelamento de uma razão para acreditar, e a razão prática, de
uma razão para agir. Nas palavras de Mill (2020), não há apenas princípios fundamentais do
conhecimento, mas também princípios fundamentais da conduta. E é na utilidade que Mill
encontra esse princípio. Para ele, a felicidade é o único fim da ação humana, e sua busca é o
teste pelo qual se pode avaliar qualquer conduta.
Mill (2020) julga apresentar uma prova do princípio da utilidade ao caracterizar a felicidade da
forma a seguir.
Foto: Scewing/Wikimedia commons/CC BY-SA 4.0
 Retrato de John Stuart Mill.
A felicidade é desejável.
Nada além da felicidade é desejável.
A felicidade de todos é igualmente desejável.
Não se trata de uma prova no sentido tradicional, ou seja, de uma dedução lógica do princípio de
utilidade. Em sentido estrito, os fins últimos não são passíveis de uma prova direta. O que Mill
procura mostrar, no entanto, é que o princípio da utilidade – isto é, a doutrina de que todas as
coisas são boas ou ruins em razão da dor ou do prazer que produzem – possui fundamentos
racionais.
AGORA, A DOUTORA RAQUEL AZEVEDO
ESCLARECE A IMPORTÂNCIA DO ILUMINISMO
PARA A MUDANÇA NA CONCEPÇÃO ACERCA DA
POLÍTICA, E COMO ISSO INFLUENCIOU TODA A
IDADE CONTEMPORÂNEA.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. OS PENSADORES ILUMINISTAS SE RELACIONAM COM A ORDEM
EXISTENTE POR MEIO DO EXAME MINUCIOSO DA CRÍTICA. AS
FORMULAÇÕES DE JEAN-JACQUES ROUSSEAU ENCARNAM O IMPASSE
DESSE PROCEDIMENTO, POIS:
A) A oposição crescente entre moral e política exigia que o conflito fosse transferido para o
próprio campo da política.
B) O filósofo defendia que a Filosofia política deveria se limitar à crítica ao despotismo.
C) O filósofo julgava que o governante não deveria legislar sobre o foro privado dos cidadãos.
D) O absolutismo se extinguiria de forma apolítica.
E) A atuação do governante sobre a opinião pública não é um meio adequado para estabelecer
uma identidade entre convicção e ação.
2. SEGUNDO IMMANUEL KANT, OS PRINCÍPIOS ÉTICOS NÃO DEVEM
APENAS REGER AS RELAÇÕES ENTRE INDIVÍDUOS, MAS TAMBÉM SER
ESPELHADOS NAS RELAÇÕES ENTRE DIFERENTES ESTADOS-NAÇÕES.
ENTRE PESSOAS, ISSO SIGNIFICARIA QUE NINGUÉM PODE SE UTILIZAR
DO OUTRO COMO MEIO PARA UM FIM, OU SEJA, COMO CAMINHO PARA
ATINGIR SEUS OBJETIVOS. ESSA RELAÇÃO ÉTICA ESPELHADA NO
ÂMBITO INTERNACIONAL IMPLICARIA QUE TIPO DE RELAÇÃO IDEAL
ENTRE PAÍSES?
A) Guerra de todos contra todos.
B) Paz perpétua entre os Estados-nações.
C) Alianças entre países com afinidades históricas e culturais.
D) Formação de blocos com laços geográficos.
E) Relações econômicas livres, mas suspeitas militares.
GABARITO
1. Os pensadores iluministas se relacionam com a ordem existente por meio do exame
minucioso da crítica. As formulações de Jean-Jacques Rousseau encarnam o impasse
desse procedimento, pois:
A alternativa "A " está correta.
Com Rousseau, o campo da moral já havia crescido de tal forma que seria preciso que a oposição
entre moral e política fosse transferida para o próprio campo da política. Em outras palavras, ao
diagnóstico iluminista do progresso infinito parecia cada vez mais se impor uma decisão política,
considerando o crescente desacordo entre os juízos morais e a estrutura do Estado.
2. Segundo Immanuel Kant, os princípios éticos não devem apenas reger as relações entre
indivíduos, mas também ser espelhados nas relações entre diferentes Estados-nações.
Entre pessoas, isso significaria que ninguém pode se utilizar do outro como meio para um
fim, ou seja, como caminho para atingir seus objetivos. Essa relação ética espelhada no
âmbito internacional implicaria que tipo de relação ideal entre países?
A alternativa "B " está correta.
Apenas a paz perpétua pode ser tomada como ideal de relação internacional, pois é a única
situação em que nenhum Estado-nação procuraria se sobrepor aos outros e explorá-los para seus
benefícios, independentemente dos interesses do país explorado.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Revisitamos os principais conceitos construídos ao longo da modernidade a partir dos inúmeros
eventos que compõem esse período. A partir do Renascimento, é possível identificar uma série de
formas e valores políticos que ainda tem relevância na organização sociopolítica atual.
Vimos, sobretudo, como o surgimento da noção de indivíduo e o descolamento das questões
políticas do âmbito teológico estão atrelados à emergência das cidades-Estados. Com a
emergência dos Estados Nacionais, coloca-se, também, o problema da legitimidade política a
partir do contrato social.
Por fim, vimos como o pensamento iluminista, diante da democratização crescente da política (de
maior participação popular), acabou tendo de repensar o que se entendia por liberdade,
sociedade civil e até a finalidade dos governos. Foi possível investigar a formação histórica de
ideias tão importantes como individualidade, soberania e liberdade política. Isso significa
investigar não apenas a história do conceito, mas a relação do conceito com o contexto em que
surgiu.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
BENTHAM, J. Uma introdução aos princípios da moral e da legislação. São Paulo: Abril
Cultural, 1974.
ESPINOSA, B. Ética. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.
HEGEL, G. Introdução à história da filosofia. Porto: Edições 70, 2006.
HOBBES, T. Leviatã. São Paulo: Edipro, 2015.
KANT, I. Crítica da razão pura. Petrópolis: Vozes, 2015.
KOSELLECK, R. Crítica e crise: uma contribuição à patogênese do mundo burguês. Tradução
de Luciana Villas-Boas Castelo-Branco. Rio de Janeiro: Contraponto, 1999.
LA BOÉTIE, E. Discurso sobre a servidão voluntária. São Paulo: Edipro, 2020.
LE GOFF, J. A bolsa e a vida: a usura na Idade Média. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 2004.
LOCKE, J. Ensaio sobe o entendimento humano. São Paulo: Martins Fontes, 2012.
MAQUIAVEL, N. O príncipe. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
MILL, S. O utilitarismo. São Paulo: Iluminuras, 2020.
MONTAIGNE, M. Os ensaios. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
ROUSSEAU, J. O contrato social. São Paulo: Lafonte, 2020.
EXPLORE+
Se quiser ampliar o seu conhecimento sobre este tema, sugerimos o acesso ao site
Artepensamento, em que é possível encontrar uma série de textos acessíveis e
introdutórios, mas que abdicam de uma reflexão aprofundada.
CONTEUDISTAS
Raquel de Azevedo
 CURRÍCULO LATTES
Rafael Mófreita Saldanha
 CURRÍCULO LATTES
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