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Conteúdo Digital - Tema 01 - Formação do Estado-Nação

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DESCRIÇÃO
O Estado Nacional como objeto das preocupações do pensamento político moderno ocidental e
sua constituição histórica.
PROPÓSITO
O Estado, como aparelho burocrático-militar-institucional, é uma das invenções mais importantes
da modernidade ocidental, tendo sido difundido pelo mundo a partir das experiências de
colonização que os países europeus impuseram a outros territórios. Por isso, é fundamental
compreender, em suas dimensões teórica e prática, o Estado Nacional Moderno.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Identificar como o “Estado” tornou-se a questão fundamental para os tratados filosóficos que
fundaram o pensamento político moderno
MÓDULO 2
Descrever a formação dos Estados Nacionais e do nacionalismo como ideologia política,
fenômenos típicos da experiência histórica que chamamos de “modernidade”
MÓDULO 3
Exemplificar as diversas revoluções sociais que, na modernidade, confrontaram a estrutura do
Estado-nação
INTRODUÇÃO
Entre os séculos XVI e XIX formou-se na Europa aquela que se tornou uma das principais
organizações institucionais da modernidade, estruturando nossas vidas até os dias atuais: o
Estado Nacional, entendido como aparelho burocrático-militar-institucional mais ou menos
centralizado e capaz de exercer soberania sobre determinado território.
Nosso conteúdo está dividido em três partes: primeiro, examinaremos as discussões conceituais
que definiram filosoficamente o Estado nos textos mais emblemáticos do pensamento político
moderno. Em seguida, analisaremos a história da construção do Estado Moderno, tomando como
estudos de caso algumas regiões da Europa. Por último, estudaremos as revoluções sociais que,
desde o final do século XVII, estão confrontando o Estado.
MÓDULO 1
 Identificar como o “Estado” tornou-se a questão fundamental para os tratados
filosóficos que fundaram o pensamento político moderno
O CONCEITO DE ESTADO
Assista ao vídeo.
 The Course of Empire - Destruction, de Thomas Cole.
O conceito “Estado” costuma ser utilizado para definir o organismo institucional que nasceu na
Europa, na transição do século XIV para o século XV, sendo caracterizado pela centralização
administrativa, burocrática e militar e pela capacidade de exercer soberania sobre um território
delimitado por fronteiras.
Na próxima seção, estudaremos com mais detalhes a história da formação do Estado na Europa.
Por ora, é importante entender como essa organização política chamou a atenção dos autores
que, na época, tentavam interpretar as sociedades europeias.
Certamente, o intelectual florentino Nicolau Maquiavel (1469-1527) é um dos nomes mais
destacados entre os primeiros esforços de criação de uma teoria do Estado Moderno, sendo
conhecido como o fundador da Ciência Política. Maquiavel costuma ser conhecido pelo livro O
Príncipe, publicado postumamente em 1532, com a máxima os “fins justificam os meios”, que, no
senso comum, se tornou sinônimo de tolerância com a perversidade política.
Fonte: Santi di Tito/Wikimedia commons/licença (CC BY 3.0...)
 Nicolau Maquiavel
Porém, se estudarmos com mais cuidado os escritos de Maquiavel, perceberemos que seu
interesse era desenvolver uma teoria de governo capaz de garantir a “virtude da República”. A
ideia de “República” que, segundo o historiador inglês Quentin Skinner, Maquiavel herdou da
tradição republicana, é fundamental para o pensamento político do intelectual florentino e para o
próprio pensamento político moderno.
Essa ideia de virtude foi desenvolvida, em um primeiro momento, na Grécia Clássica,
especialmente por Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.), sendo trabalhada também em Roma por
autores como Cícero (106 a.C.- 43 a.C.) e Tito Lívio (59 a.C. – 17 d.C.), chegando até Maquiavel
por uma série de debates políticos que estavam sendo travados na Península Itálica desde o final
do século XII.
Foi nesse momento, ainda segundo Quentin Skinner, que as estruturas políticas dos principados
medievais, comandados por monarcas com direito hereditário, começaram a ser repudiadas no
território que, no século XIX, passaria a ser chamado de “Itália”. As sociedades italianas, ou
regnum italicum, como eram chamadas na época, estavam preocupadas em desenvolver formas
de convivência coletiva capazes de resistir ao despotismo monárquico e garantir a estabilidade
interna e externa, proporcionando aos seus cidadãos aquilo que Aristóteles chamava de “boa
vida”.
Fronteira do Sacro Império
Caríntia
Hungria
Croácia
Principado de
Benevento
Ducado
de Espoleto
Principado
de Salerno
Emirado
da Sicília
Ducado
de Amalfi
Principado
de Cápua
Estados
Pontifícios
Córsega
Giudicado
da Sicília
Reino da
Lombardia
Borgonha Suábia
Baviera
Marquesado
de Verona
PentápolisMarquesado
de Toscana
República
de Veneza
Veneza
Zara
Espalato
Siracusa
Romanha
Roma
Gênova
Pisa
Itália
Itália
Mar Tirreno
Mar
Adriático
Bari
Catapanato da Itália
(Império Bizantino)
Brindisi
Tarento
Nápoles
Régio
(disputado com
os sarracenos)
(disputado por
Gênova e Pisa)
Palermo
Geta
Fonte: MapMaster/Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
 Regnum Italiae (Localização de Reino Itálico)
Para isso, era necessário encontrar meios que impedissem, ou amenizassem, a “corrupção” da
República — outro conceito trazido do vocabulário político aristotélico. Corrupção, disse
Aristóteles no tratado da Política, é o efeito natural do tempo nos governos, podendo, no máximo,
ser atenuado por governantes virtuosos. Foi essa atmosfera conceitual dentro da qual Maquiavel
pensou, escreveu e atuou politicamente, como analista, poeta, historiador e conselheiro do poder.
Tito Lívio, autor e historiador romano que registrou a história de Roma e seu significado político,
elaborou o texto Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio entre 1513 e 1521. Na obra,
Maquiavel tem interesse de entender as leis, a liberdade e as instituições políticas no
funcionamento de uma República. Em sua discussão sobre política e governos, Maquiavel parte
da premissa de que os assuntos terrenos estão na alçada das competências humanas, não
restando espaço para a interferência divina.
REPÚBLICA
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República é uma ideia romana em que público e privado se separavam e a função do
governo era estabelecer a administração do que era público, além de zelar para que os
limites do privado não fossem ultrapassados.
REFLEXÃO
A boa vida comum, portanto, é da responsabilidade dos seres humanos, a eles cabendo
desenvolver mecanismos que tornem possível o convívio coletivo harmônico. A Ciência Política
elaborada por Maquiavel afirma a laicização da vida social.
LAICIZAÇÃO
É o processo pelo qual a sociedade se torna laica, sem os incentivos religiosos ou o
pragmatismo natural das religiões.
O NASCIMENTO DE UMA CIDADE SE DÁ PELA
AÇÃO DOS HOMENS. NÃO É, CONTUDO,
PRODUTO DE INDIVÍDUOS, MAS SIM DE POVOS
OU GRUPOS QUE VIVEM DISPERSOS E, DE
ALGUMA FORMA, DECIDEM UNIR-SE EM UMA
MESMA ÁREA, SEJA EM RAZÃO DE SUA
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SEGURANÇA OU DE QUALQUER OUTRO MOTIVO
[...] NO MOMENTO DA CONSTITUIÇÃO DO
ESTADO, OS INDIVÍDUOS JÁ ESTÃO REUNIDOS
EM GRUPOS. E É COMO TAL QUE SE ORGANIZAM
PARA FORMAR O ESTADO. A PROSPERIDADE E A
SEGURANÇA DA CIDADE NÃO SÃO MATÉRIA
INDIVIDUAL, DE FORO ÍNTIMO, MAS SIM
ASSUNTO DOS GRUPOS.
(MAQUIAVEL, 1982)
Temos, na citação, muitos elementos que nos permitem compreender o núcleo do pensamento
político de Maquiavel para além dos clichês compartilhados no senso comum. Na época de
Maquiavel, Florença era objeto de constantes assédios de repúblicas vizinhas e impérios
estrangeiros, o que colocou o tema da estabilidade do governo no primeiro plano das
preocupações do autor.
A cidade, que no texto de Maquiavel pode ser tomada como sinônimo de “Estado”, é resultado de
uma escolha racional, feita por grupos humanos, que antes viviam de forma desagregada e
esparsa. Não há em Maquiavel um “Estado natural”,pré-social, como vamos encontrar em outros
teóricos do Estado Moderno. A agregação social é um “desde sempre” no pensamento do escritor
florentino.
O Estado surge quando esses grupos, movidos por necessidade prática, decidem que é melhor
se unir e pactuar a organização de um poder relativamente centralizado que seja capaz de
defender os interesses de todos. A partir desse momento fundacional, o desafio da comunidade
política passa a ser a defesa da “virtude” da República, entendida como a capacidade de prover o
bem comum contra os assédios internos das facções e os ataques dos inimigos estrangeiros.
É essa a discussão que Maquiavel desenvolve em O Príncipe, sem dúvida um dos livros mais
famosos da literatura política ocidental. O interesse do autor é aconselhar o príncipe no melhor
caminho para a conservação da República.
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O PRÍNCIPE
Um breve manual direcionado a governantes do momento em que Maquiavel viveu, na
busca de melhoria de sua condição social. Era influenciado pela tradição greco-latina, bem
como pelo seu contexto de observação do entorno, como no Império Turco-Otomano.
DEVE, POIS, ALGUÉM QUE SE TORNE PRÍNCIPE
MEDIANTE O FAVOR DO POVO CONSERVÁ-LO
AMIGO, O QUE SE LHE TORNA FÁCIL, UMA VEZ
QUE NÃO PEDE ELE SENÃO NÃO SER OPRIMIDO.
PORÉM, QUEM SE TORNA PRÍNCIPE PELO FAVOR
DOS GRANDES, CONTRA O POVO, DEVE ANTES
DE MAIS NADA GANHAR ESTE PARA SI, O QUE SE
LHE TORNA FÁCIL QUANDO ASSUME SUA
PROTEÇÃO. E PORQUE OS HOMENS, QUANDO
RECEBEM O BEM DE QUEM ESPERAVAM
SOMENTE O MAL, OBRIGAM-SE MAIS AO SEU
BENFEITOR, TORNA-SE O POVO DESDE LOGO
MAIS SEU AMIGO DO QUE SE TIVESSE SIDO POR
ELE LEVADO AO PRINCIPADO.
(MAQUIAVEL, 2002)
O governante, diz Maquiavel, deve ser julgado por critérios específicos, diferentes daqueles
usados para avaliar o caráter dos homens comuns. Temos aqui a diferença entre os governantes
e os homens comuns, entre a vida política e a vida privada, estabelecida por Maquiavel como
“razão de Estado”.
A política teria moral própria e seu objetivo sempre é manter a “saúde cívica da República”, ainda
que para isso o governante precise fazer aquilo que seria considerado inadequado para o homem
comum, como matar. É fundamental que o governante, continua Aristóteles, tenha sorte (fortu) e
a capacidade de ser amado pela comunidade (virtu). Um governante azarado e odiado pela
maioria jamais conseguiria manter a República saudável e capaz de exercer “soberania sobre
territórios e corações”.
Fonte: Artist is Elihu Vedder/Santi di Tito/Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
 Governo, 1896, de Elihu Vedder. Pintura exposta na Biblioteca do Congresso, em Washington.
Na placa, pode-se ler: "um governo das pessoas, pelas pessoas, para as pessoas".
Se é fundamental ser “amigo do povo”, o governante precisa dosar os bons e os maus atos. Os
bons atos são executados em ritmo lento para “perpetuar a memória da bondade”, enquanto os
“maus atos” devem ser “executados de uma só vez para que sua memória seja curta”.
Então, ao governante é permitido ser mau?
Para Maquiavel, sim, desde que isso seja necessário para garantir a integridade da República.
Não se trata da defesa da maldade em si, mas sim do reconhecimento de que o governo da
cidade demanda escolhas difíceis. Por isso, o governante deve ser “sábio, ilustrado e corajoso”.
ESTADO E CONTRATO SOCIAL
Teoria do Estado bastante distinta da de Maquiavel foi aquela desenvolvida pelos autores que
costumamos agrupar na corrente dos “contratualistas”, que se desenvolveu na Europa entre os
séculos XVII e XVIII, encontrando em Thomas Hobbes (1588-1679) e Jean Jacques Rousseau
(1712-1778) seus principais expoentes.
Isso não significa que tenham abordado o tema do Estado da mesma maneira, pois há diferenças
substantivas entre os pensamentos políticos desenvolvidos pelos dois autores. Em comum entre
eles estão a sintaxe política e os conceitos acionados na reflexão.
Então, o que é Estado na visão do contratualismo?
O contratualismo parte da premissa de que o Estado é o resultado de um contrato social, de um
acordo coletivo movido pela racionalidade humana no qual a maioria, deliberada ou tacitamente,
decide que viver em comunidade é melhor do que viver isoladamente.
Disso depreende-se que, diferentemente de Maquiavel e da tradição aristotélica, os
contratualistas reconhecem a possibilidade de existência de um momento pré-político, de um
“estado natural”, quando os seres humanos não viviam de forma gregária.
Thomas Hobbes é autor do Leviatã, publicado em 1651 e um dos mais famosos tratados de
filosofia política da modernidade, popularmente reconhecido pela máxima “o homem é o lobo do
homem”. Porém, da mesma forma como fizemos há pouco com Maquiavel, é necessário entender
o pensamento político de Hobbes para além dos clichês e como um esforço de teorizar sobre a
própria ontologia humana.
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Fonte: Gustave Doré/Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
 Destruição do Leviatã, 1865, Gustave Doré
GREGÁRIA
Que vivem em bandos ou em grupos. Em sentido mais amplo, aqueles que são sociáveis,
que vivem bem socialmente.
LEVIATÃ
O livro traz a ideia de um grande ser, monstruoso, mas que precisava ser entendido
para que o senso e o coletivo não permitissem ser o monstro que era.
Fonte: Desconhecido/Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
 Capa original de Leviatã, de Thomas Hobbes, no qual ele discute o conceito de
contrato social.
Toda a discussão que o autor propõe a respeito do Estado parte de uma premissa ontológica,
segundo a qual nós, seres humanos, somos naturalmente ruins e racionais. Ou seja, nascemos
perversos, egoístas e apetitosos, mas nascemos também capazes de entender que nossa
natureza é potencialmente destrutiva, e que é necessário domá-la para que a própria vida seja
possível.
O estado natural, então, é violento, selvagem, uma situação de “guerra de todos contra todos”,
como o próprio Thomas Hobbes afirmava.
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ONTOLÓGICA
Reflexão a respeito do sentido abrangente do ser.
SE DOIS HOMENS DESEJAM A MESMA COISA,
ELES PODEM TORNAR-SE INIMIGOS, SE FOR
IMPOSSÍVEL QUE AMBOS ALCANCEM O QUE
DESEJAM AO MESMO TEMPO. E NO CAMINHO
PARA SEU FIM (QUE É PRINCIPALMENTE SUA
PRÓPRIA CONSERVAÇÃO, E ÀS VEZES APENAS
SEU DELEITE), ESFORÇAM-SE POR SE DESTRUIR
OU SUBJUGAR UM AO OUTRO. DISSO SEGUE-SE
QUE, QUANDO UM INVASOR NADA MAIS TEM A
RECEAR DO QUE O PODER DE UM ÚNICO OUTRO
HOMEM, SE ALGUÉM PLANTA, SEMEIA,
CONSTRÓI OU POSSUI UM LUGAR
CONVENIENTE, É PROVAVELMENTE PARA
ESPERAR QUE OUTROS VENHAM PREPARADOS
COM FORÇAS CONJUGADAS, PARA DESAPOSSÁ-
LOS E PRIVÁ-LOS, NÃO APENAS DO FRUTO DE
SEU TRABALHO, MAS TAMBÉM DE SUA VIDA E DE
SUA LIBERDADE. POR SUA VEZ, O INVASOR
FICARÁ NO MESMO PERIGO EM RELAÇÃO AOS
OUTROS.
(HOBBES, 1983)
Jean-Jacques Rousseau, autor de Contrato Social, publicado em 1762, parte de premissa
ontológica diametralmente oposta. Tal como Hobbes, Rousseau também afirma a existência de
um mundo pré-social, onde os homens viviam isolados. Porém, a natureza humana, para
Rousseau, é boa e generosa.
O estado de natureza é pacífico, harmonioso, é o “império da felicidade”.
NO PRINCÍPIO, QUANDO VIVIAM ENTREGUES AO
LIVRE-ARBÍTRIO DOS SEUS INSTINTOS, OS
HOMENS NÃO PRATICAVAM VILANIA, TIRANIA
OU ASSASSÍNIO. ERAM DOCES COMO ANIMAIS
DOMÉSTICOS, INOFENSIVOS COMO CRIANÇAS, E
A TERRA ABUNDAVA, DANDO O NECESSÁRIO
PARA TODOS VIVEREM COM FARTURA.
(ROUSSEAU, 1999)
Em Hobbes, o estado natural é o inferno na Terra. Em Rousseau, é o Éden.
Em comum entre eles está a ideia de que a saída da situação pré-social se deu por um acordo,
por um contrato estabelecido pela maioria e movido pelos imperativos da razão. Diz Hobbes que
os primeiros humanos perceberam que o estado de natureza, se perpetuado,significaria a
extinção da espécie. Pactuaram, então, que melhor seria abrir mão das liberdades primitivas para
submeterem-se a um poder externo, acima de todos, e que fosse capaz de garantir a vida e a
propriedade, tornando a própria existência coletiva possível.
O FIM ÚLTIMO, CAUSA FINAL E DESÍGNIO DOS
HOMENS (QUE AMAM NATURALMENTE A
LIBERDADE E O DOMÍNIO SOBRE OS OUTROS),
AO INTRODUZIR AQUELA RESTRIÇÃO SOBRE SI
MESMOS SOB A QUAL OS VEMOS VIVER NOS
ESTADOS, É O CUIDADO COM SUA PRÓPRIA
CONSERVAÇÃO E COM UMA VIDA MAIS
SATISFEITA. QUER DIZER, O DESEJO DE SAIR
DAQUELA MÍSERA CONDIÇÃO DE GUERRA QUE É
A CONSEQUÊNCIA NECESSÁRIA (CONFORME SE
MOSTROU) DAS PAIXÕES NATURAIS DOS
HOMENS, QUANDO NÃO HÁ UM PODER VISÍVEL
CAPAZ DE OS MANTER EM RESPEITO,
FORÇANDO-OS, POR MEDO DO CASTIGO, AO
CUMPRIMENTO DE SEUS PACTOS E ÀQUELAS
LEIS DE NATUREZA QUE FORAM EXPOSTAS.
(HOBBES, 1983)
 RESUMINDO
Na teoria hobbesiana, então, o Estado nasce de uma situação original de caos e violência e como
produto da racionalidade humana. Em Rousseau, a decadência não é original, intrínseca à
natureza humana, mas sim resultado de uma escolha infeliz: a invenção da propriedade privada,
que se deu no momento em que o primeiro ser humano “demarcou no chão um pedaço de terra
para dizer que era seu, encontrando outros inocentes o suficiente para acreditar nele”.
Começava aqui a guerra geral rousseauniana, porque, não havendo nenhum poder externo capaz
de regular os limites de cada propriedade, estabeleceu-se o “reino da força”, que, no limite, não
era proveitoso para ninguém, “pois nada garante que o mais forte hoje se manterá forte amanhã,
e a obrigação de se manter forte para sempre é fardo tão pesado que ninguém pode carregar
sobre os ombros” (ROUSSEAU, 1999).
Surge, então, o Estado, como um pacto no qual os homens abdicam de sua liberdade original
para dar aval à existência de um poder comum, responsável pela salvaguarda do interesse
coletivo.
Rousseau, no entanto, resguarda a possibilidade de ruptura com esse poder, desde que ele não
cumpra seu papel no contrato. Então, o contrato social para Rousseau poderia ser rompido
unilateralmente pela sociedade civil, em uma ação revolucionária.
A FIM DE QUE NÃO CONSTITUA, POIS, UM
FORMULÁRIO INÚTIL, O PACTO SOCIAL CONTÉM
TACITAMENTE ESTA OBRIGAÇÃO, A ÚNICA A
PODER DAR FORÇAS ÀS OUTRAS: QUEM SE
RECUSAR A OBEDECER À VONTADE GERAL, A
ISTO SERÁ CONSTRANGIDO PELO CORPO EM
CONJUNTO, O QUE APENAS SIGNIFICA QUE
SERÁ FORÇADO A SER LIVRE. ASSIM É ESTA
CONDIÇÃO: OFERECENDO OS CIDADÃOS À
PÁTRIA, PROTEGE-OS DE TODA DEPENDÊNCIA
PESSOAL; CONDIÇÃO QUE PROMOVE O
ARTIFÍCIO E O JOGO DA MÁQUINA POLÍTICA E
QUE É A ÚNICA A TORNAR LEGÍTIMAS AS
OBRIGAÇÕES CIVIS, AS QUAIS, SEM ISSO,
SERIAM ABSURDAS, TIRÂNICAS E SUJEITAS AOS
MAIORES ABUSOS.
(ROUSSEAU, 1999)
Fonte: Maurice Quentin de La Tour/ Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
Jean-Jacques Rousseau
Fonte: anónimo/ Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
Thomas Hobbes
ESTADO E LIBERDADE
Outra tradição que, na modernidade, trouxe o Estado para o centro de suas preocupações
filosóficas foi o liberalismo político, um “fenômeno histórico pertencente à história europeia e
marcado pelos embates com o absolutismo monárquico e outras formas de tirania política que
existiram na Europa no início da modernidade” (MATEUCI, 2000).
Fonte: artistique7/Shutterstok.com
Entre os fundadores do liberalismo político estão nomes como:
Fonte: Godfrey Kneller/ Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
John Locke (1632-1704)
Fonte: Laderer (graveur)/ Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
Benjamin Constant (1767-1830)
Locke e Constant notabilizaram-se por delinear dimensões mais claras ao ideário político liberal,
escrevendo importantes tratados sobre a limitação institucional do poder do Estado. Destacam-se
aqui o Primeiro tratado sobre o governo civil e o Segundo tratado sobre o governo civil, escritos
por Locke e publicados em 1689, além de Sobre a liberdade dos antigos comparada com a dos
modernos, escrito por Constant e publicado em 1819.
LIBERAL
Princípio filosófico que discute o sentido do ser, a capacidade de escolha e liberdade, do
seu corpo, das suas ações, entre outros.
Ambos os autores partem da premissa de que a boa vida em comunidade somente é possível a
partir de uma premissa: a existência de um Estado comprometido com o bem-estar coletivo e com
a defesa da vida e da propriedade dos indivíduos (entendidas como direitos naturais), sem que
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com isso se exerça tirania ou poder absoluto sobre a sociedade.
A noção de “governo consentido” é fundamental para Locke, que acredita que os seres humanos,
dotados de racionalidade intrínseca, são perfeitamente capazes de idealizar formas de governo
que atendam às suas necessidades, ou seja, a defesa da vida e da propriedade. Segundo Locke,
portanto, a existência dos governos, e no limite do próprio Estado, justifica-se pelas
necessidades da sociedade civil e não pelos interesses do próprio governo, ou do próprio
Estado.
SE O HOMEM NO ESTADO DE NATUREZA É LIVRE
COMO SE DISSE, SE É SENHOR ABSOLUTO DA
SUA PRÓPRIA PESSOA E SUAS PRÓPRIAS
POSSES, IGUAL AO MAIS EMINENTE DOS
HOMENS E A NINGUÉM SUBMETIDO, POR QUE
HAVERIA ELE DE SE DESFAZER DESSA
LIBERDADE? POR QUE HAVERIA DE RENUNCIAR
A ESSE IMPÉRIO E SUBMETER-SE AO DOMÍNIO E
AO CONTROLE DE QUALQUER OUTRO PODER? A
RESPOSTA EVIDENTE É A DE QUE, EMBORA
TIVESSE TAL DIREITO NO ESTADO DE
NATUREZA, O EXERCÍCIO DO MESMO É MUITO
INCERTO E ESTÁ CONSTANTEMENTE EXPOSTO À
VIOLAÇÃO POR PARTE DOS OUTROS [...]. TAIS
CIRCUNSTÂNCIAS O FAZEM QUERER ABDICAR
DESSA CONDIÇÃO, A QUAL, CONQUANTO LIVRE,
É REPLETA DE TEMORES E PERIGOS
CONSTANTES. E NÃO É SEM RAZÃO QUE ELE
PROCURA E ALMEJA UNIR-SE EM SOCIEDADE
COM OUTROS QUE JÁ SE ENCONTRAM
REUNIDOS OU PROJETAM UNIR-SE, PARA A
MÚTUA CONSERVAÇÃO DE SUAS VIDAS,
LIBERDADES E BENS, AOS QUAIS ATRIBUO O
TERMO GENÉRICO DE PROPRIEDADE. O FIM
MAIOR E PRINCIPAL PARA OS HOMENS UNIREM-
SE EM SOCIEDADES POLÍTICAS E SUBMETEREM-
SE A UM GOVERNO É, PORTANTO, A
CONSERVAÇÃO DE SUA PROPRIEDADE.
(LOCKE, 1990)
Benjamin Constant, por sua vez, está interessado em entender as especificidades da liberdade
moderna quando comparada com a antiga, com o objetivo de teorizar formas de governo
adequadas às modernas sociedades de massa, em muitos aspectos diferentes das sociedades
antigas. O autor argumenta que, na Antiguidade, a liberdade republicana era viável, pois garantia
aos cidadãos participarem diretamente do governo.
Esse tipo de liberdade somente seria possível em pequenos territórios, ocupados por populações
pouco numerosas. Como na modernidade a situação é bastante diferente, uma vez que as
nações modernas costumam ser mais extensas e populosas do que as repúblicas antigas, fez-se
necessária a reconceituação das ideias de liberdade e de participação política.
A LIBERDADE MODERNA CONSISTE NO DIREITO,
PARA CADA UM, DE INFLUIR SOBRE A
ADMINISTRAÇÃO DO GOVERNO, SEJA PELA
NOMEAÇÃO DE TODOS OU DE CERTOS
FUNCIONÁRIOS, SEJA POR REPRESENTAÇÕES,
PETIÇÕES, REIVINDICAÇÕES, ÀS QUAIS A
AUTORIDADE É MAIS OU MENOS OBRIGADA A
LEVAR EM CONSIDERAÇÃO. COMPARAI AGORA A
ESTA A LIBERDADE DOS ANTIGOS. ESTA ÚLTIMA
CONSISTIA EM EXERCER COLETIVA, MAS
DIRETAMENTE, VÁRIAS PARTES DA SOBERANIA
INTEIRA, EM DELIBERAR NA PRAÇA PÚBLICA
SOBRE A GUERRA E A PAZ, EM CONCLUIR COM
OS ESTRANGEIROS TRATADOS DE ALIANÇA, EM
VOTAR AS LEIS, EM PRONUNCIAR
JULGAMENTOS, EM EXAMINAR AS CONTAS, OS
ATOS, A GESTÃO DOS MAGISTRADOS; EM FAZÊ-
LOS COMPARECER DIANTE DE TODO UM POVO,
EM ACUSÁ-LOS DE DELITOS, EM CONDENÁ-LOS
OU EM ABSOLVÊ-LOS.
(CONSTANT, 2019)
Aqui o autor está formulando aquela que é uma das principais características do liberalismo
político: a defesa de uma democracia fundada em instituições legislativas responsáveis por
representar os interesses da população, que participaria do governo de forma indireta.
Assim, seria possível garantir direitos políticos às populaçõesnumerosas, que periodicamente
seriam convocadas ao debate público, no período eleitoral, para escolher livremente seus
representantes.
Outra filosofia política moderna que se preocupou em teorizar limites institucionais ao poder do
Estado foi o Constitucionalismo, principalmente com Montesquieu (1689-1756), autor do tratado O
espírito das leis, publicado em 1748 e considerado a matriz teórica inspiradora das Constituições
modernas. No texto, Montesquieu idealizou o sistema de “freios e contrapesos”, segundo o qual o
poder do Estado é dividido em três partes independentes entre si:
PODER LEGISLATIVO
PODER EXECUTIVO
PODER JUDICIÁRIO
COMO A VIRTUDE É NECESSÁRIA EM UMA
REPÚBLICA E NA MONARQUIA A HONRA, O MEDO
É NECESSÁRIO EM UM GOVERNO DESPÓTICO,
POIS NELE A VIRTUDE NÃO É NECESSÁRIA E A
HONRA SERIA PERIGOSA. O IMENSO PODER DO
PRÍNCIPE PASSA INTEIRAMENTE ÀQUELES QUE
ELE CONFIA E SE TORNA PERIGOSO
INSTRUMENTO DE OPRESSÃO CONTRA A
LIBERDADE DE TODOS. MANTER O PODER DO
PRÍNCIPE RESTRITO A LEIS PACTUADAS
COLETIVAMENTE É A ÚNICA FORMA DE
GARANTIR AS LIBERDADES INDIVIDUAIS E
COLETIVAS.
(MONTESQUIEU, 1990)
Percebe-se claramente como a preocupação com a liberdade contra a tirania do Estado pauta o
pensamento político moderno desde o século XVI, junto com outras questões, como a segurança
territorial contra as invasões estrangeiras e a prosperidade econômica da República.
ESTADO E A PRODUÇÃO DE RIQUEZA
A teoria política marxista, desenvolvida por Marx e Engels no século XIX, trouxe para a discussão
a agenda da libertação das classes oprimidas. No Manifesto comunista, publicado em 1848, os
autores argumentam que:
O ESTADO É UM ÓRGÃO ESPECIAL QUE SURGE
EM CERTO MOMENTO DA EVOLUÇÃO HISTÓRICA
DA HUMANIDADE, E QUE ESTÁ CONDENADO A
DESAPARECER NO DECURSO DA MESMA
EVOLUÇÃO. NASCEU DA DIVISÃO DA SOCIEDADE
EM CLASSES E DESAPARECERÁ NO MOMENTO
EM QUE DESAPARECER ESTA DIVISÃO. NASCEU
COMO INSTRUMENTO NAS MÃOS DA CLASSE
DOMINANTE, COM O FIM DE MANTER O DOMÍNIO
DESTA CLASSE SOBRE A SOCIEDADE, E
DESAPARECERÁ QUANDO O DOMÍNIO DESTA
CLASSE DESAPARECER.
(ENGELS; MARX, 2003)
 RESUMINDO
No vocabulário marxista, portanto, o Estado não é o resultado de uma racionalidade humana
intrínseca nem tampouco uma evolução em relação à situação das liberdades primitivas. O
Estado é resultado de uma realidade material e objetiva, na qual as classes superiores
desenvolvem aparelhos institucionais para dominar as classes inferiores.
Essa relação de dominação somente seria superada pela abolição da divisão de classes e do
próprio Estado, dando lugar a uma sociedade comunista em que as pessoas viveriam
solidariamente, consumindo o que produzem, sem se apropriarem da riqueza produzida por
outros.
No próximo módulo, nos debruçaremos sobre a realidade histórica que, na Europa, deu origem ao
Estado Nacional, buscando entender como foi forjada a estrutura de poder que por tanto tempo
tem sido o principal objeto do pensamento político ocidental.
REVISANDO O MÓDULO
O Estado e o Príncipe: a visão de Maquiavel
O Liberalismo e o Estado: entre Jhon Locke e Adam Smith
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. O INTELECTUAL FLORENTINO NICOLAU MAQUIAVEL COSTUMA SER
RECONHECIDO PELA MÁXIMA “OS FINS JUSTIFICAM OS MEIOS”, QUE SE
TORNOU SINÔNIMO DE LEGITIMAÇÃO DA PERVERSIDADE POLÍTICA. NO
ENTANTO, A OBRA DE MAQUIAVEL É MUITO MAIS COMPLEXA. ASSINALE,
ENTRE AS ALTERNATIVAS A SEGUIR, AQUELA QUE MELHOR DEFINE A
OBRA DE MAQUIAVEL.
A) Maquiavel estava interessado em discutir como seria possível defender a monarquia e a tirania
do príncipe, sendo assim o principal teórico do autoritarismo político na modernidade.
B) Maquiavel estava interessado em discutir a abolição da propriedade privada e a revolução
social, sendo, por isso, o precursor do comunismo na modernidade e a fonte onde beberia Karl
Marx.
C) Maquiavel estava interessado em discutir formas de garantir a estabilidade interna e externa da
República, e, dessa maneira, atenuar os efeitos da corrupção, sendo o republicanismo de
Aristóteles sua principal referência.
D) Maquiavel estava interessado em afirmar a liberdade do mercado, sendo, portanto, o precursor
do liberalismo econômico, e a fonte onde a escola austríaca beberia.
E) Maquiavel estava interessado em defender a total abolição do Estado, sendo um dos primeiros
pensadores a formular o ideal anarquista.
2. THOMAS HOBBES E JEAN JACQUES ROUSSEAU SÃO OS PRINCIPAIS
EXPOENTES DA CORRENTE DE PENSAMENTO POLÍTICO QUE
COSTUMAMOS CHAMAR DE “CONTRATUALISTA”. ASSINALE, ENTRE AS
ALTERNATIVAS A SEGUIR, AQUELA QUE MELHOR DEFINE A PREMISSA DO
CONTRATUALISMO.
A) A premissa do contratualismo afirma a organização política como o resultado de um acordo
coletivo segundo o qual, racionalmente, os homens decidem que viver em coletividade é melhor
do que viver em situação de desagregação.
B) A premissa do contratualismo afirma que o homem é naturalmente gregário e, por isso, a
questão principal é desenvolver mecanismos de aprimoramento da sociedade política, visto que a
sua existência se confunde com a própria natureza humana.
C) A premissa do contratualismo afirma que o Estado Moderno é o resultado da vitória política da
burguesia, que acumulou poder suficiente para organizar uma estrutura de dominação, cujo
objetivo é a exploração do trabalho.
D) A premissa do contratualismo afirma que os homens estão naturalmente vocacionados à
liberdade, sendo o Estado o artifício criado pela tirania divina com o objetivo de impedir a plena
realização da natureza humana.
E) A premissa do contratualismo afirma que os seres humanos são naturalmente gregários, logo
o Estado é um “desde sempre” que não precisa ser necessariamente explicado, mas apenas
aprimorado.
GABARITO
1. O intelectual florentino Nicolau Maquiavel costuma ser reconhecido pela máxima “os fins
justificam os meios”, que se tornou sinônimo de legitimação da perversidade política. No
entanto, a obra de Maquiavel é muito mais complexa. Assinale, entre as alternativas a
seguir, aquela que melhor define a obra de Maquiavel.
A alternativa "C " está correta.
Maquiavel é herdeiro do republicanismo aristotélico, sendo seu interesse, portanto, discutir a ação
do governo no sentido de preservar a “virtude” da República.
2. Thomas Hobbes e Jean Jacques Rousseau são os principais expoentes da corrente de
pensamento político que costumamos chamar de “contratualista”. Assinale, entre as
alternativas a seguir, aquela que melhor define a premissa do contratualismo.
A alternativa "A " está correta.
Diferentemente do republicanismo maquiavélico de matriz aristotélica, o contratualismo parte do
princípio de que a organização política é o resultado de uma escolha racional, e não a
manifestação da natureza humana.
MÓDULO 2
 Descrever a formação dos Estados Nacionais e do nacionalismo como ideologia
política, fenômenos típicos da experiência histórica que chamamos de “modernidade”
ESTADO NACIONAL
Assista ao vídeo.
O Estado Nacional, entendido como estrutura de poder centralizada e capaz de exercer soberania
burocrática, política e militar sobre um território delimitado por fronteiras, é resultado da história
europeia ocidental entre os séculos XIV e XVII.
Nesse período, entende-se por “Europa Ocidental”, segundo o historiador inglês Perry Anderson
(2004), a aproximação de França e Inglaterra com a Península Ibérica, formada por Portugal e
Espanha. Crises democráticas agudas, guerras civis religiosas, início da laicização das
mentalidades e dos costumes, modernização das relações econômicas, urbanização. São essas
as experiências que aconteceram em uma Europa Ocidental plural e extremamente diversificada,
e que serviram de pano de fundo para o surgimento dos Estados Nacionais.
Começar a contar a história da origem dos Estados Nacionais nos convida, segundo Guy
Fourquin, a entender a dinâmica da prosperidade material vivida pela Europa no século XI. O
crescimento produtivo aumentou a quantidade de alimentos disponíveis para o comércio, fazendocom que seus preços dos víveres alimentícios diminuíssem e a qualidade de vida aumentasse,
resultando no crescimento demográfico e, consequentemente, no crescimento das cidades e na
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intensificação da atividade comercial.
GUY FOURQUIN
Professor na Universidade de Lille, Guy Fourquin foi um dos mais reconhecidos
especialistas franceses em matéria de História Medieval, seja no domínio da história
econômica, seja no da organização social e institucional.
E essa evolução também pode ser percebida nos âmbitos artístico e intelectual.
Na vida cultural, observou-se notória expansão das atividades artísticas e intelectuais, com a
difusão de universidades pelo continente. Tratava-se, portanto, de um ciclo virtuoso
experimentado em graus distintos em diversas regiões da Europa e que aponta para um cenário
de desenvolvimento econômico, prosperidade material e grandeza cultural, bem diferente da
imagem de uma Idade Média atrasada e decadente, que muitas vezes modula o imaginário
histórico coletivo.
Fonte: Etienne Collault/ Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
 Manuscrito medieval mostrando uma reunião de doutores na Universidade de Paris
Um dos resultados desse cenário, ainda seguindo os estudos de Fourquin, foi o aumento do
custo de vida da aristocracia feudal, pois, com a Revolução Comercial, para utilizarmos as
palavras de Henri Pirenne (apud FOURQUIN, 1987), ficou mais caro manter os signos de
distinção tão importantes para alimentar o ethos aristocrático em sociedades pré-modernas.
HENRI PIRENNE
Historiador, Henri Pirenne (1862-1935) fez grandes contribuições para o entendimento sobre
a formação do mundo ocidental, compreendendo a dinâmica de ocupação maior do Norte
após a expansão islâmica. A formação e o espírito das cidades marcam um ideal de vida
europeu, e a reestruturação do comércio mercantilista é a base do fortalecimento da Europa
nos séculos decorrentes.
ETHOS
Conjunto de costumes e hábitos fundamentais no âmbito do comportamento (instituições,
afazeres etc.) e da cultura (valores, ideias ou crenças). Muitas vezes traduzido por espírito, é
mais intenso do que a ideia de cultura.
E, com isso...
A consequência dessa situação foi o endividamento em massa da nobreza europeia, fenômeno
detectado por Fourquin (1987) a partir da análise de inventários post mortem. Ao estudar essas
fontes, o autor detectou que os nobres europeus, em geral, estavam morrendo endividados.
Temos aqui um impasse que, na racionalidade econômica moderna, capitalista, não seria dos
mais difíceis de se resolver. Bastaria que a nobreza diminuísse seus gastos ou aumentasse os
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impostos cobrados sobre seus dependentes. No entanto, a racionalidade econômica feudal
funciona a partir de outras prioridades, como demonstra Witold Kula (1974) no livro Teoria
econômica do sistema feudal.
WITOLD KULA
Witold Kula (1916-1988) foi cientista social, historiador e economista polonês, próximo da
metodologia do materialismo histórico.
Fonte: anonymous (Queen Mary Master)/ Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
 Obrigações Feudais
O autor argumenta que a economia, entendida como o conjunto de atividades sociais
desenvolvidas com o objetivo de garantir a existência material das pessoas, não pode ser
pensada de forma separada dos valores culturais. A cultura feudal é fundada na ideia da
desigualdade natural, ou seja, na premissa de que as pessoas nascem diferentes entre si,
divididas em inferiores e superiores, e assim ficarão até morrer. Isso não significa, entretanto, que
essa mesma tradição não reconheça os direitos adquiridos pelos “de baixo”.
O princípio da reciprocidade de direitos e deveres entre fortes e fracos, diz Kula, também é basilar
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da cosmovisão feudal.
E O QUE SIGNIFICA ESSE PRINCÍPIO?
VERIFICAR
Se o menor deve obediência e impostos (em forma de serviços e produtos) ao seu senhor, o
aristocrata também tem suas obrigações, como proteger seus dependentes e não cobrar taxas
abusivas. O endividamento da aristocracia colocava, então, um impasse ao sistema.
Ou seja, se a nobreza não pode cortar gastos porque precisa manter seu estilo de vida
ostentatório, e os servos não aceitam impostos que consideram abusivos, o que fazer? Essa
situação é o ponto de partida para a famosa “crise do feudalismo”. A crise do feudalismo,
portanto, foi o resultado da disfunção do próprio sistema, pois suas causas foram endógenas, isto
é, internas. A epidemia de Peste Negra, que assolou a Europa durante o século XIV, não foi a
causa da crise, mas sim o seu agravante.
Pressionada e endividada, parte da nobreza começou a quebrar os acordos consuetudinários
(legitimados pelos costumes), o que provocou uma revolta geral junto ao campesinato, dando
início ao que alguns autores chamam de “anarquia feudal”. Em alguns lugares da Europa
Ocidental, os conflitos foram mais intensos do que em outros, mas a realidade de colapso
estrutural foi comum a todo o continente, de acordo com as pesquisas desenvolvidas pelo
historiador francês Georges Duby.
Diante da real possibilidade da destruição física e do desaparecimento do estamento social, a
aristocracia europeia aceitou fazer algo que, em condições normais, jamais aceitaria: abnegar de
sua autonomia, inclusive militar, para permitir que uma família aristocrática centralizasse o poder,
dominando todas as outras e, dessa maneira, reunisse condições políticas, econômicas e
militares para o restabelecimento das hierarquias feudais, ameaçadas pelas guerras camponesas.
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GEORGES DUBY
Georges Duby (1919-1996) foi um dos grandes medievalistas de seu tempo, teve foco
principal sobre as dinâmicas da organização política da França, decorrentes da
formação do Estado francês.
Fonte: Rob Bogaerts (ANEFO)/Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
ESTAMENTO SOCIAL
O estamento constitui uma forma de estratificação social com camadas mais fechadas do
que as classes sociais, e mais abertas do que as castas, ou seja, possui maior mobilidade
social do que o sistema de castas, e menor mobilidade social do que o sistema de classes
sociais.
Aconteceu, nesse momento, aquilo que Perry Anderson, no livro Linhagens do Estado Absolutista,
chama de Revolução Militar, que marcou o nascimento dos exércitos modernos, formados não
mais por servos que pagavam o “tributo de sangue”, mas sim por soldados profissionais,
remunerados e subordinados ao Estado centralizado, personificado na pessoa do rei, o “primeiro
entre iguais, o primus inter pares”, como se costumava dizer na época.
A ideia de monarquia precede a de República, mas a ideia de noção de identidade nacional
remete diretamente às dinâmicas da construção da identidade monárquica.
 EXEMPLO
No Brasil, a identidade monárquica é tão forte, que, mesmo na tentativa de ruptura republicana,
as cores e muitos dos símbolos foram mantidos.
Agora, uma casa aristocrática específica detinha o poder sobre as outras e sobre o território.
Surgiu, assim, o Estado Nacional, impulsionado pela tentativa de salvar as hierarquias tradicionais
da destruição, preservando o máximo possível a ordem social feudal. Para isso, entretanto, foi
necessário mudar, e a nobreza perdeu suas antigas liberdades, passando a estar subordinada ao
rei.
Desse jeito foi possível impor ao campesinato a “segunda servidão”, novamente utilizando as
palavras de Perry Anderson. Essa foi a contradição que caracterizou a formação dos Estados
Nacionais. Parasalvar a ordem feudal, o novo arranjo político deixou aquele que era um dos seus
valores fundamentais: a autarquia aristocrática.
Surgiu, junto com o Estado, um novo tipo de nobreza. Não mais aquela que vivia no campo, com
hábitos rústicos e no controle de seu exército particular. O nobre deixou de ser o “senhor da
guerra” para tornar-se o cortesão, sedentarizado, desarmado, vivendo na corte, sob controle do
trono.
 Retrato do "Tratados de Münster", um dos caminhos percorridos para a Paz de Vestfália, onde
o conceito de Estado-nação foi criado.
FORMAÇÃO DOS ESTADOS MODERNOS:
PORTUGAL
Fonte: Zulske heraldry/Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
Portugal foi o primeiro caso de modernidade política na Europa, no pleno sentido do termo, com
sistema fiscal, exército e burocracia em dimensão centralizada, supralocal. Tal como aconteceu no
restante da Europa, o Estado surgiu em Portugal como um dos resultados de experiências de
intensa movimentação militar e guerra civil provocadas pelo cenário geral da crise feudal, que
estudamos anteriormente.
Foi a chamada Revolução de Avis, iniciada em 1383 e terminada em 1385, que levou D. João
(1385-1433), chefe da casa de Avis, ao trono português, com o título de D. João I. A partir de
então, todos os empreendimentos da sociedade portuguesa, inclusive a expansão marítima e
comercial a partir do final do século XIV, seriam coordenados pela autoridade central do Estado.
Comparado com o restante da Europa, Portugal tinha vantagem em termos de eficiência e
rapidez, o que explica a dianteira que tomou na geopolítica continental na época.
Fonte: Jean d'Wavrin (Chronique d'Angleterre)/Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
 Batalha de Aljubarrota, de Jean de Wavrin.
Para entender como se deu a construção da modernidade em Portugal, é importante, segundo
Luiz Felipe Tomaz, estudar o processo de recristianização da Península Ibérica, pois, somente
mais tarde — a partir do século XI —, o território foi incorporado à cristandade. Desde a Idade
Média, argumenta Tomaz, Portugal contava com uma estrutura política e militar relativamente
centralizada. Quem comandou a reconquista cristã (avanço da cristandade sobre os mouristas) foi
a monarquia.
Fonte: unknown, uploaded by en:User:Muriel_Gottrop or de:User:Rhino/Wikimedia
commons/licença(CC BY 3.0...)
 D. Afonso Henriques, fundador da nação e da dinastia borgonhesa
Entre os séculos VII e XI, a Península Ibérica foi controlada pelos muçulmanos. Nesse momento,
a cristandade resumia-se a senhorios que se encontravam ao norte da península. Um dos
principais senhorios era o Condado Portucalense, onde vigorava a família de Borgonha (origem
francesa), sendo Afonso Henriques (1110-1185) o principal líder. A princípio, o Condado
Portucalense estava subordinado ao Reino de Leão.
Esse condado, juntamente com os outros senhores do norte, manifestou o desejo de ampliar
seus domínios (autoridade e riqueza) por meio da expansão militar e da guerra com os
muçulmanos. Nesse momento, as cidades do Porto e de Viana eram extremamente importantes
para o contato comercial com Flandres, atual Bélgica e centro comercial da época. A aliança com
essas cidades, que eram chefiadas por uma oligarquia mercantil, permitiu à coalizão cristã a
aquisição de recursos para a formação de exércitos.
Nessas cidades tinha-se grande autonomia municipal, pois as câmaras detinham forte poder em
relação aos senhores do norte. Essas câmaras eram governadas pelos homens bons (elite local),
que tinham interesse em garantir sua autonomia, que estava sendo contestada pelos senhores do
norte.
Afonso Henriques surgiu nesse contexto para oferecer proteção militar a fim de que essas cidades
mantivessem sua autonomia. Em troca, essas cidades ofereceriam dinheiro a Afonso Henriques.
Por meio da aliança com as cidades, Afonso Henriques acumulou dinheiro e, com os nobres,
otimizou a atividade militar. Tal fato conferiu notória força militar ao Condado Portucalense, a
ponto de outras casas aristocráticas reconhecerem sua ascendência sobre elas. A partir do século
XII, essas casas aristocráticas proclamaram a família dos Bourbon como dinastia real.
Surge, assim, a monarquia feudal em Portugal, liderada por um grande senhor de terras, que se
sobrepõe aos demais.
A expansão marítima e comercial portuguesa, portanto, foi potencializada por uma monarquia
com longo histórico de centralização administrativa, que gerenciou a nobreza com ethos militar e
que efetivamente se lançou aos mares.
 RECOMENDAÇÃO
Fonte: Luís Vaz de Camões/Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
Para entender melhor esses acontecimentos históricos, leia os textos de Luís Vaz de Camões, em
especial Os Lusíadas, obra de poesia épica da epopeia portuguesa.
FORMAÇÃO DOS ESTADOS MODERNOS:
ESPANHA
Fonte: Heralder/Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
O caso do Estado Nacional espanhol remete à principal experiência imperialista dos primeiros
anos da modernidade, visto o poder que a Espanha exerceu sobre grande parte do continente
americano e sobre o extenso território na própria Europa. Mais do que qualquer outro país
europeu, a Espanha beneficiou-se da política de alianças matrimoniais/diplomáticas característica
das sociedades monárquicas.
No século XIV, pressionados pela crise estrutural que assolava as sociedades europeias e pela
ocupação muçulmana, alguns reinos ibéricos decidiram unir-se com o objetivo de centralizar
esforços para a superação da crise e a reconquista cristã do território. Entre esses reinos, os
maiores eram o de Castela e o de Aragão, que se uniram por meio do casamento de Isabel I e
Fernando II, em 1649.
Fonte: Alexandre Vigo/Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
 Localização de Castela
Fonte: Unidentified painter/Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
ISABEL I
Fonte: Michel Sittow/Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
FERNANDO II
Perry Anderson mostra como, durante a escassez de mão de obra provocada pela crise geral do
feudalismo, Castela mostrou-se sede de uma lucrativa economia lanífera (Que produz lã.) .
Enquanto isso, Aragão, que já era potência territorial e comercial com capacidade de controlar
territórios mediterrânicos, como a Sicília e a Sardenha, garantia o fluxo comercial para abastecer o
Estado espanhol.
O DINAMISMO POLÍTICO E MILITAR DO
NOVO ESTADO LOGO SE REVELARIA
DRAMATICAMENTE EM UMA VASTA SÉRIE
DE CONQUISTAS EXTERNAS.
VERIFICAR
Granada, o último reduto mouro, foi destruída, completando a reconquista.
Nápoles foi anexada.
Navarra, absorvida.
E, acima de tudo, as Américas foram descobertas e subjugadas.
O Império espanhol chegou ao apogeu, em 1519, com Carlos I (1550-1558), que foi também o
Carlos V do Sacro Império Romano-Germânico. Devido a uma complexa teia de relações
dinásticas, Carlos, ao mesmo tempo um Bourbon e um Habsburgo, acabou herdando aqueles
que na época eram os maiores impérios do mundo: o espanhol, voltado ao Atlântico, e o
Habsburgo, continental, voltado ao centro da Europa. Surgiu assim, comandado a partir de Madri,
o maior império da era moderna.
 RECOMENDAÇÃO
A transição espanhola é muito bem explorada na literatura de Dom Quixote, que fala sobre um
novo mundo e os grupos apegados. No grande livro de Miguel de Cervantes (1547-1616), é
trabalhada a “confusão” de ideias entre um velho e um novo mundo, com a transição da
mentalidade e a confusa relação entre o ideal de cavalaria e a velha aristocracia.
FORMAÇÃO DOS ESTADOS MODERNOS:
FRANCESES X INGLESES
Na França, o Estado Nacional formou-se na transição do século XIV para o século XV, a partir da
sobreposição de duas situações de crise: a crise estrutural do feudalismo e a famosa Guerra dos
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Cem Anos (1339-1453) contra a Inglaterra. Em desvantagem na guerra e pressionada pela crise
das hierarquias feudais, a nobreza francesa permitiu que o reiCarlos VII concentrasse em si a
talha, que era o imposto de sangue que o campesinato pagava à aristocracia em forma de
serviços militares esporádicos. Nasceu assim a “talha real”, que direcionou à dinastia a
prerrogativa de apropriar-se do serviço militar dos camponeses.
Fonte: Virgil Master and his atelier/ Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
 Soldados ingleses que desembarcaram na Normandia, c. 1380–1400, durante a Guerra dos
Cem Anos
GUERRA DOS CEM ANOS
Guerra travada na transição do medievo e da modernidade. O objetivo era, pelas relações
consanguíneas, o pleito inglês ao trono francês. Depois de uma primeira fase de vitórias
ingleses a partir de Calais, os franceses retomaram as terras continentais. O trajeto também
é mitológico, com representações como a de Joana D’Arc (1412-1431).
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Fonte: Alonso de Mendoza/ Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
 Joana D’Arc
Temos aqui, também segundo Perry Anderson, o evento que fundou o exército moderno, ao
centralizar no rei o direito exclusivo de convocar e coordenar a força militar. A nobreza foi, então,
desarmada, sedentarizada, em um ato voluntário, consentido, por uma questão de sobrevivência.
Como se diz popularmente: “entregou os anéis para não perder os dedos”.
Já na Inglaterra...
A formação do Estado Nacional deu-se de maneira distinta quando comparada à situação dos
países continentais (Portugal, Espanha e França). Para entender essas particularidades,
precisamos conhecer a situação de quase colapso na qual se encontrava a Inglaterra na segunda
metade do século XV.
Após perder a guerra para os franceses, a Inglaterra, que tinha tradição de descentralização
político-administrativa, foi dividida por uma guerra civil travada entre duas de suas principais
casas aristocráticas.
Foi a chamada Guerra das Duas Rosas (1450-1485), envolvendo os York e os Lancaster. A guerra
foi tão longa e sangrenta que praticamente extinguiu as duas casas, abrindo um vazio de poder
que foi ocupado por outra dinastia, a dos Tudor.
Fonte: Unknown Derivative/Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
 Guerra das Duas Rosas
Henrique VII (1457-1509) foi o primeiro rei da dinastia Tudor, diante da fragilidade das outras
casas aristocráticas, sempre rivais potenciais da dinastia. O projeto de centralização político-
administrativa liderado por Henrique VII, na avaliação do historiador Perry Anderson, teve três
movimentos:
PRIMEIRO MOVIMENTO
Desarmar a nobreza, fragilizando-a ainda mais e concentrando, na autoridade central, o poder de
convocar e formar exércitos.
SEGUNDO MOVIMENTO
Mais complexo, consistiu no esvaziamento político da nobreza.
TERCEIRO MOVIMENTO
Como consequência direta, foi o rompimento com a tradição que orientava o monarca a delegar
cargos para a aristocracia, nomeando em seu lugar novas famílias emergentes e enriquecidas em
virtude do comércio de lã.
Assim, a monarquia feudal menos centralizada da Europa Ocidental fortaleceu sua autoridade
central em virtude do profundo esgotamento da aristocracia, e não por causa dos esforços do
grupo em sobreviver à crise estrutural do feudalismo, como aconteceu no continente.
Fonte: https://futurehistory.wikia.org/es/wiki/Guerra_civil_francesa
 O irrestrito amor à nação como elemento formador de uma nova visão política
O processo de construção do Estado Nacional, no entanto, não envolve apenas centralização
política, administrativa e militar, mas também representações simbólicas que sejam capazes de
construir vínculos identitários entre as pessoas.
 RESUMINDO
Trata-se de convencer todos os que nasceram no território controlado por determinado Estado de
que fazem parte de uma comunidade, de que existem vínculos afetivos que os irmanam.
Para isso, foi fundamental o “nacionalismo”, um ambiente político-cultural que teve seu lugar na
Europa e nas Américas durante o século XIX.
Os diversos nacionalismos mobilizaram os estudos históricos, geográficos, e os rituais da cultura
popular com o objetivo de inventar ritos e tradições capazes de fomentar sensações de
pertencimento à nação que, antes de ser o território e seu aparato de poder institucional, é uma
“comunidade imaginada”, nas palavras do historiador norte-americano Benedict Anderson (2008).
Fonte: EdgarFabiano/ Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
 Mural nacionalista irlandês, em Belfast, mostrando solidariedade com o nacionalismo basco.
A nação é um tipo de comunidade imaginada socialmente, construída de modo a fazer as
pessoas pensarem sobre si próprias como parte de um grupo. A invenção da nação é de
interesse direto do Estado, pois não há poder que consiga se sustentar apenas pela repressão,
sem contar com nenhum consentimento.
A afetividade e a identidade fomentadas pela simbologia identitária, nesse sentido, são
fundamentais para a própria efetividade do poder público. Por isso, e essa foi uma das principais
caraterísticas da história política do século XIX, o Estado investe tanto na “invenção de tradições”,
como dizem os historiadores ingleses Eric Hobsbawm (1917-2012) e Terence Ranger (1929-2015).
POR “TRADIÇÃO INVENTADA” ENTENDE-SE UM
CONJUNTO DE PRÁTICAS, NORMALMENTE
REGULADAS POR REGRAS TÁCITA OU
ABERTAMENTE ACEITAS; TAIS PRÁTICAS, DE
NATUREZA RITUAL OU SIMBÓLICA, VISAM
INCULCAR CERTOS VALORES E NORMAS DE
COMPORTAMENTO ATRAVÉS DA REPETIÇÃO, O
QUE IMPLICA, AUTOMATICAMENTE, UMA
CONTINUIDADE EM RELAÇÃO AO PASSADO.
ALIÁS, SEMPRE QUE POSSÍVEL, TENTA-SE
ESTABELECER CONTINUIDADE COM UM
PASSADO HISTÓRICO APROPRIADO.
(HOBSBAWM; RANGER, 2004)
REVISANDO O MÓDULO
Nação e Nacionalismo: caminhos diversos
Estados em conflito: a era dos extremos
ATIVIDADE
VAMOS REFLETIR SOBRE O QUE APRENDEMOS?
Para isso, complete as frases com as palavras do quadro.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. A ANARQUIA FEUDAL, CARACTERÍSTICA DA CRISE DO FEUDALISMO,
FOI O PONTO DE PARTIDA PARA A FORMAÇÃO DOS ESTADOS NACIONAIS
NA EUROPA OCIDENTAL. ASSINALE ENTRE AS OPÇÕES A SEGUIR AQUELA
QUE JUSTIFICA CORRETAMENTE ESSA AFIRMAÇÃO.
A) As guerras camponesas (a anarquia feudal) levaram ao estabelecimento de uma aliança entre
o campesinato e a aristocracia, que juntos derrotaram a burguesia e mantiveram a estrutura
político-administrativa descentralizada. Nasceu, assim, o Estado Nacional Moderno.
B) As guerras camponesas (a anarquia feudal) levaram ao estabelecimento de uma aliança entre
as famílias aristocráticas, que favoreceram o fortalecimento de uma delas para centralizar os
esforços de repressão ao campesinato. Nasceu, assim, o Estado Nacional Moderno centralizado.
C) As guerras camponesas (a anarquia feudal) levaram ao estabelecimento de uma aliança entre
as frações da burguesia comercial, que favoreceram o fortalecimento de uma delas para
centralizar os esforços de repressão ao campesinato. Nasceu, assim, o Estado Nacional Moderno
centralizado.
D) As guerras camponesas (a anarquia feudal) levaram ao estabelecimento de uma aliança entre
a Igreja Católica e as frações da burguesia comercial, que favoreceram o fortalecimento de uma
delas para centralizar os esforços de repressão ao campesinato. Nasceu, assim, o Estado
Nacional Moderno centralizado.
E) As guerras camponesas (a anarquia feudal) levaram ao estabelecimento de uma aliança entre
a Igreja Católica e as famílias aristocráticas, que favoreceram o fortalecimento de uma delas para
centralizar os esforços de repressão ao campesinato. Nasceu, assim, o Estado Nacional Moderno
centralizado.
2. PORTUGAL FOI O PRIMEIRO CASO DE MODERNIDADE POLÍTICA NA
EUROPA. ASSINALE ENTRE AS OPÇÕES A SEGUIR AQUELA QUE MELHOR
EXPLICA POR QUÊ.
A) Portugal foi o primeiro caso de modernidade política na Europa porque já vinha desenvolvendo
relações comerciais no campo desde o século XI, o que potencializou a formação de um Estado
burguês.
B) Portugal foi o primeiro caso de modernidade política na Europa porque precisou formar um
exército nacional e centralizado pra lutarcontra a França no conflito que ficou conhecido como
Guerra dos Cem Anos.
C) Portugal foi o primeiro caso de modernidade política na Europa porque já contava com
situação de relativa centralização militar e administrativa desde a Idade Média, quando a
aristocracia cristã formou uma coalizão pra reconquistar o território ibérico, então ocupado pelos
muçulmanos.
D) Portugal foi o primeiro caso de modernidade política na Europa porque a expansão marítima
comercial forneceu recursos para a burguesia portuguesa, que se articulou politicamente e
fundou o primeiro Estado capitalista do mundo.
E) Portugal foi o primeiro caso de modernidade política na Europa porque a guerra com a
Espanha fortaleceu a nobreza, que derrotou a burguesia incipiente, fundando assim o primeiro
Estado aristocrático do mundo.
GABARITO
1. A anarquia feudal, característica da crise do feudalismo, foi o ponto de partida para a
formação dos Estados Nacionais na Europa Ocidental. Assinale entre as opções a seguir
aquela que justifica corretamente essa afirmação.
A alternativa "B " está correta.
As guerras camponesas travadas entre os séculos XIII e XIV colocaram a hierarquia feudal em
perigo, o que fez com que a nobreza europeia pactuasse que casas aristocráticas específicas
centralizariam os esforços para o restabelecimento da ordem.
2. Portugal foi o primeiro caso de modernidade política na Europa. Assinale entre as
opções a seguir aquela que melhor explica por quê.
A alternativa "C " está correta.
Portugal já havia centralizado esforços administrativos e militares na época da reconquista, sob o
comando de Afonso Henriques, chefe do Condado Portucalense.
MÓDULO 3
 Exemplificar as diversas revoluções sociais que, na modernidade, confrontaram a
estrutura do Estado-nação
ESTADO NACIONAL: REAFIRMAÇÃO E
REVOLUÇÕES
Assista ao vídeo.
O período compreendido entre os séculos XVII e XIX foi, ao mesmo tempo, o momento de
consolidação e crise dos Estados Nacionais. Foi nessa época que o modelo de Estado
centralizado, originado na Europa Ocidental no século XIV, se espalhou pelo mundo, mas foi
também quando a sociedade civil questionou e confrontou a autoridade centralizada.
Estudaremos aqui o ciclo de rebeliões sociais e políticas que aconteceu na Europa e nas
Américas nesse período. Foram experiências tão transformadoras que chegaram a modificar o
vocabulário político, como demonstra a filósofa alemã Hannah Arendt (1998), que identificou
aquela que teria sido a principal transformação político-semântica trazida pela modernidade: a
mudança no sentido do conceito “revolução”.
Se antes “revolução” era uma palavra associada ao movimento circular dos corpos celestes, agora
passa a ser um sinônimo de ruptura social e política drástica, que transforma para melhor as
sociedades, que acelera a marcha da história rumo ao futuro, como, por exemplo:
Fonte: William Shakespeare Burton/ Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
Alegoria da Guerra Civil Inglesa, por William Shakespeare Burton.
REVOLUÇÃO INGLESA
Fonte: E. Percy Moran /Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
Os britânicos avançam em Bunker Hill, por Percy Moran.
A INDEPENDÊNCIA DOS ESTADOS UNIDOS
Fonte: Eugène Delacroix/Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
A Liberdade guiando o povo, por Eugène Delacroix.
A REVOLUÇÃO FRANCESA
Foi assim que se construiu uma memória positiva desse conjunto de rebeliões sociais e políticas
que aprendemos a chamar de “Revoluções Burguesas”.
Vamos começar pela Revolução Inglesa!
INGLATERRA
Ainda no século XVII, a Inglaterra foi desestabilizada por um conjunto de revoltas sociais que
acabaram por instituir aquele que se tornaria um dos valores mais sagrados das democracias
liberais modernas: o Constitucionalismo, que, como vimos no módulo 1, está fundado na
premissa de que o poder do Estado deve ser limitado pela lei.
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CONSTITUCIONALISMO
É o exercício de estruturar a sociedade a partir da lei e da submissão de todos às suas
regras, públicas e claras por meio de Constituições nacionais.
 SAIBA MAIS
A Revolução Inglesa foi bastante estudada na bibliografia especializada, que apresenta
diferentes, e por vezes conflitantes, interpretações do evento. Certamente, as duas principais
referências para o assunto são os livros O mundo de ponta cabeça: ideias radicais durante a
Revolução Inglesa de 1640, de Christopher Hill, publicado em 1987, e o livro As causas da
Revolução Inglesa, de Lawrence Stone, publicado em 1988.
Enquanto Christopher Hill, em perspectiva marxista, afirma que a Revolução Inglesa foi o evento
de inauguração da fase moderna da luta de classes, ao decretar a primeira grande vitória da
burguesia sobre a aristocracia; Stone argumenta que o processo de aburguesamento da
Inglaterra se deu pela modernização da própria nobreza rural, a gentry.
Seja como for, apesar das diferenças, ambos os autores interpretam as revoluções inglesas do
século XVII como o momento de fundação da ordem capitalista, que passaria a estruturar a vida
social e política no mundo ocidental.
A Revolução Inglesa (1640-1688) foi um processo plural, cheio de idas e vindas e atravessado
por diversas guerras civis. Desde o século XVI, a burguesia inglesa (famílias ricas, mas sem
signos aristocráticos de distinção) era um grupo influente devido ao processo de cercamento dos
campos, que pioneiramente passou a subordinar o espaço rural às demandas comerciais e
industriais urbanas.
Fonte: Desconhecido/ Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
 Guerra Civil Inglesa durante a Revolução Inglesa
O campo inglês especializou-se em criar ovelhas para servirem como fonte de matéria-prima para
a incipiente indústria têxtil. Esse foi o “cercamento dos campos”, enclosures, aquilo que Karl Marx
(1818-1883) chamou de “acumulação primitiva do capital”.
Entretanto, essa burguesia ascendente estava sub-representada na estrutura da monarquia
aristocrata inglesa. Podemos dizer que essa situação de sub-representação foi um dos principais
focos de tensão que implodiram o sistema político inglês. No processo, o rei Carlos I foi morto, em
janeiro de 1649, no primeiro regicídio, ou seja, assassinato do rei, moderno da história.
 VOCÊ SABIA
Regicídios são normais nas monarquias, pois é comum que o trono seja objeto de desejo e alvo
de conspirações, quase sempre envolvendo grupos aristocráticos próximos ao monarca.
No caso da morte de Carlos I, o regicídio não foi conspiratório, mas sim realizado em execução
pública, em nome da “autoridade do povo”. O povo, então, empoderou-se a ponto de condenar o
rei à morte, o mesmo monarca que até então era visto como o portador de um direito divino.
Depois da execução de Carlos I, a Inglaterra viu, ainda, a formação de uma ditadura comandada
por um líder militar chamado Oliver Cromwell (1599-1658). A monarquia foi restaurada com a
dinastia dos Stuart, e uma nova guerra civil, a Revolução Gloriosa, em 1688, instituiu a primeira
monarquia constitucional da história.
Agora, a verdadeira soberania não pertencia ao rei, mas sim à lei, entendida como a manifestação
da vontade do “povo”.
É a máxima que diz que “o rei reina, mas não governa”.
Em todo esse período, o trono esteve em conflito com o parlamento, disputando a quem caberia o
controle político da monarquia. O parlamento venceu. O parlamentarismo sobrepôs-se ao
absolutismo.
INDEPENDÊNCIA DOS ESTADOS UNIDOS
Na segunda metade do século XVIII, o mundo inglês protagonizaria outro evento que seria
reconhecido como um dos momentos de fundação da cultura democrática moderna. Foi a
independência das treze colônias inglesas, ou a Revolução Americana, que trouxe ao mundo a
novidade de um país independente na América.
 COMENTÁRIO
A formação dos Estados Unidos nunca contou com uma organização única, tendo cada uma das
colônias estruturas singulares. Sua unidade nunca feriu esse princípio, não à toa foi ali que se
consolidou o modelo de federalismo. Declaração da independência dos Estados Unidos.
Diferentemente das revoluções inglesas do século XVII, a Revolução Americana não questionou a
monarquia ou a autoridade do rei, mas sim o parlamento, acusado de violar direitos coloniais
adquiridos. Até o fim do processo, as elites coloniais insurgentes pediram a proteção do rei contra
a espoliação feita pelo parlamento britânico. Por isso, como afirma John Pocock, a independência
dos EUA deve ser inserida no contexto mais amplo das transformações das instituições britânicas
que vinham se processando desde o século XVII.
SÉCULO XVII
Entre os períodos de 1641 a 1660 e entre 1688 a 1689, ocorreram crises nas relações entre
a Coroa inglesa e a classe inglesa proprietária de terras, das quais o King-in-Parliament saiu
fortalecido, embora profundamente transformado. A capacidade da Inglaterra de criar e
consolidar a “Grã-Bretanha” e seguir em busca de um império atlântico foi um dos
subprodutos de 1688. Porém, em 1776, ou mais propriamente entre 1764 e 1801, a
capacidade do parlamento de exercer o governo sobre as províncias — e, em menor grau, a
maneira como ele agora governava a sociedade inglesa — foi severamente desafiada. Nas
colônias americanas teve lugar a revolução contra o parlamento (POCOCK, 2003).
E como os conflitos começaram?
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 Guerra dos Sete Anos
Os conflitos entre as colônias e o parlamento começaram na década de 1760, logo após o fim da
Guerra dos Sete Anos (1756-1763).
 Brasão de Armas (Parlamento britânico)
Tendo saído da guerra com as contas desequilibradas, o parlamento britânico, que, como
sabemos, governava o Império desde a Revolução Gloriosa (1688), apertou o rigor em suas
relações mercantis com as colônias.
 Caricatura britânica representando as leis como uma violação de Boston
Entre 1764 e 1774, o parlamento criou dura legislação que pressionou os interesses econômicos
coloniais.
 O primeiro congresso continental, 1774.
Em 1774, as lideranças coloniais organizaram o I Congresso da Filadélfia, quando redigiram um
manifesto pedindo proteção e apresentando suas reclamações ao rei George III.
A Inglaterra era o parceiro governante e as raízes do parlamento estavam na sociedade inglesa
comercial e de proprietários de terra. Era isso o que “tornaria a conciliação com as colônias, em
última instância, impossível” (POCOCK, 2003).
Diante da recusa do parlamento inglês em atender às reivindicações das colônias, os
representantes coloniais reuniram-se novamente em 1776, quando Thomas Jefferson
(1743-1826) redigiu a Declaração de Independência dos EUA. Começou, então, um ciclo de
conflitos que se arrastaria até 1783, mostrando ao mundo o caso inédito de colônias que
confrontaram a autoridade de sua metrópole e venceram.
THOMAS JEFFERSON
Um dos mais importantes intelectuais norte-americanos. Notabilizou-se como um defensor
da República pela atuação na Constituição, e foi presidente dos Estados Unidos.
Para Bernard Bailyn (2003), o que alimentou a insatisfação das colônias foi a convicção de que
seus direitos tradicionais estavam sendo atacados, de que suas liberdades adquiridas corriam
risco. O algoz não era a monarquia centralizada. Era o parlamento.
NO FIM, CHEGUEI À CONCLUSÃO DE QUE O
MEDO DE UMA CONSPIRAÇÃO AMPLA CONTRA A
LIBERDADE NO MUNDO DE LÍNGUA INGLESA –
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UMA CONSPIRAÇÃO QUE SE ACREDITAVA TER
SIDO ALIMENTADA NA CORRUPÇÃO E SOBRE A
QUAL SE SENTIA QUE A OPRESSÃO NA AMÉRICA
DO NORTE ERA APENAS A PARTE MAIS
IMEDIATAMENTE VISÍVEL – ESTAVA NO
CORAÇÃO DO MOVIMENTO REVOLUCIONÁRIO.
(BAILYN, 2003)
Sem dúvida alguma, as revoltas sociais que desestabilizaram o mundo francês durante as
décadas de 1780 e 1790, e que posteriormente ficariam conhecidas como Revolução Francesa,
tornaram-se o evento simbolicamente mais importante da cultura política moderna. Já tendo sido
objeto de diversos estudos especializados, a Revolução Francesa precisa ser pensada como um
processo complexo, cheio de idas e vindas e não restrito apenas ao território europeu francês,
visto que se manifestou também em terras coloniais, como na ilha caribenha de Santo Domingo,
palco da mais radical e violenta revolução social dos primeiros anos da modernidade.
MODERNIDADE
A independência de uma parte da ilha conhecida atualmente como Haiti, liderada pelos
negros locais, gerou uma intensa reação dos senhores do restante da ilha, Santo Domingo,
além de desestabilizar o governo revolucionário haitiano.
Nos diversos momentos dos conflitos, em alguns de forma mais aguda, em outros de maneira
mais pálida, a “tirania” do Estado monárquico foi questionada pela sociedade. O historiador
francês Albert Soboul (1914-1982) divide o processo revolucionário em três momentos, cada qual
apresentando níveis diferentes de radicalismo disruptivo e projetos distintos para a organização
político-institucional do Império francês.
Entre 1789 e 1791, o projeto vitorioso foi o girondino, marcado pelo objetivo de transformar a
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monarquia absolutista comandada pelos Bourbons em uma monarquia constitucional, à moda
inglesa. A propriedade privada foi defendida e a desigualdade social não foi pautada como
problema estrutural da sociedade francesa.
FOI UM MOMENTO DE COMPROMISSO ENTRE A
BURGUESIA E OS SETORES MAIS
PROGRESSISTAS DA ARISTOCRACIA E DA
IGREJA. O OBJETIVO DO PACTO ERA ABOLIR A
FEUDALIDADE, AMPLIAR O ACESSO AOS
DIREITOS POLÍTICOS, NUMA REVOLUÇÃO
PACÍFICA QUE NÃO ALMEJAVA QUESTIONAR A
PROPRIEDADE PRIVADA E A AMPLIAÇÃO DE
DIREITOS SOCIAIS.
(SOBOUL, 1995)
REVOLUÇÃO FRANCESA
 Revolução Francesa
A partir de 1792 até 1795, começaria o momento de maior radicalidade do conflito, quando a
própria estrutura da sociedade francesa foi posta em questão pelo projeto jacobino, comandado
pela aliança entre operariados urbanos e a pequena burguesia liderada por Maximilien François
Marie Isidore de Robespierre (1758-1794). Esses grupos situavam-se mais à esquerda do
espectro político francês e demandavam mais do que apenas o fim da monarquia absolutista e o
fim da feudalidade. Desejavam questionar a estrutura fundiária, a divisão de terras, a miséria dos
trabalhadores urbanos.
Mas, politicamente, quem eram os jacobinos?
Politicamente, os jacobinos eram republicanos e não estavam dispostos a negociar com a
estrutura monárquica. O resultado foi o acirramento dos conflitos sociais e a militarização efetiva
da crise francesa, dando início àquilo que já na época ficou conhecido como “terror”, quando o
tribunal revolucionário executou milhares de pessoas, incluindo o rei Luís XVI e o próprio
Robespierre.
Os efeitos da guerra revolucionária atravessaram o oceano Atlântico, chegando à ilha de Santo
Domingo, colônia francesa na América. Santo Domingo era uma sociedade escravocrata, em que
a minoria branca comandava uma economia agroexportadora, movida pelo trabalho escravo da
maioria negra.
Nos anos da Revolução Pacífica girondina, como explica Eugene Genovese, a elite colonial
manifestou o desejo de ser representada na Assembleia dos Estados Gerais e gozar da
ampliação dos direitos políticos. Porém, com a radicalização jacobina, a escravidão foi abolida em
todo o império colonial francês.
Nesse momento, as forças revolucionárias eram lideradas pelo comandante e governador de
Santo Domingo Toussaint Bréda (1743-1803), e o objetivo era defender a Revolução, o que
significava defender a abolição da escravidão, tanto dos ataques restauradores internos como dos
externos.
Fonte: Desconhecido/ Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
 Toussaint Bréda
O termo “revolucionário” provocou a formação de um amplo arco de forças, que passou a ter o
objetivo de derrotar a agenda social e republicana dos jacobinos. Nobreza, clero, potências
internacionais e alta burguesia juntaram-se para atacar a RevoluçãoJacobina e retroceder o
processo ao estágio do capitalismo monárquico liberal, tal como era o objetivo na fase jacobina do
processo.
Em Santo Domingo, a reação colocou a emancipação política na agenda dos revolucionários,
agora comandados J. J. Dessalines (1758-1806), outra importante liderança militar negra. Os
conflitos foram sangrentos e a minoria branca foi quase completamente exterminada naquela que
foi a primeira revolução moderna a trazer a discussão racial para o centro da pauta dos conflitos.
Em 1º de janeiro de 1804 foi proclamada a independência da República do Haiti, que se tornou o
segundo país independente das Américas, logo depois dos EUA. Na França, a monarquia foi
restaurada, a propriedade privada respeitada e as demandas jacobinas por direitos sociais
sufocadas. Napoleão Bonaparte (1769-1821) tornou-se a principal liderança política do Império
francês.
NAPOLEÃO BONAPARTE
Comandante militar do Egito e convocado para comandar a França Revolucionária ao fim do
processo relatado.
Fonte: Jacques-Louis David / Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
 Napoleão Bonaparte
Os questionamentos ao Estado Moderno continuariam no século XIX, novamente nas duas
margens do Atlântico: dezenas de processos emancipacionistas decretaram o fim da dominação
colonial europeia nas Américas, novas revoluções sociais desestabilizaram a França, em 1830,
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1848 e 1871, apresentando amplo leque de projetos políticos, indo do liberalismo burguês ao
comunismo.
Se, entre os séculos XIV e XVI, a Europa construiu o Estado Moderno, com sua estrutura política,
administrativa e militar centralizada e com seu espírito aristocrático, os séculos XVIII e XIX
questionaram tanto a centralização como a dimensão feudal dos Estados Nacionais, dando
origem a uma série de disputas ideológicas que marcariam a história humana no século XX.
REVISANDO O MÓDULO
Estados Modernos e a invenção do capitalismo
ATIVIDADE
VAMOS REFLETIR SOBRE O QUE APRENDEMOS?
Para isso, complete as frases com as palavras do quadro.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. A REVOLUÇÃO AMERICANA GUARDA ALGUMAS PARTICULARIDADES
QUANDO COMPARADA COM AS REVOLUÇÕES INGLESAS DO SÉCULO XVII.
ASSINALE ENTRE AS ALTERNATIVAS A SEGUIR AQUELA QUE MELHOR
APRESENTA ESSAS PARTICULARIDADES.
A) Diferentemente das revoluções inglesas do século XVII, que questionaram o poder político da
burguesia, a Revolução Americana questionou o poder político da Igreja, considerada responsável
pelo endurecimento das relações coloniais a partir da década de 1760.
B) Diferentemente das revoluções inglesas do século XVII, que questionaram o poder político da
Igreja, a Revolução Americana questionou o poder político da burguesia, considerada responsável
pelo endurecimento das relações coloniais a partir da década de 1760.
C) Diferentemente das revoluções inglesas do século XVII, que questionaram a autoridade do rei,
a Revolução Americana questionou o poder do parlamento, considerado responsável pelo
endurecimento das relações coloniais a partir da década de 1760.
D) Diferentemente das revoluções inglesas do século XVII, que questionaram a autoridade do
parlamento, a Revolução Americana questionou o poder do rei, considerado responsável pelo
endurecimento das relações coloniais a partir da década de 1760.
E) Diferentemente das revoluções inglesas do século XVII, que questionaram a autoridade do rei,
a Revolução Americana questionou o poder da Igreja, considerada responsável pelo
endurecimento das relações coloniais a partir da década de 1760.
2. A REVOLUÇÃO FRANCESA FOI UM PROCESSO HISTÓRICO COMPLEXO,
HETEROGÊNEO E CHEIO DE IDAS E VINDAS, QUE NO FINAL DO SÉCULO
XVIII DESESTABILIZOU O MUNDO FRANCÊS. ASSINALE ENTRE AS
ALTERNATIVAS A SEGUIR AQUELA QUE MELHOR DEFINE A REVOLUÇÃO
FRANCESA.
A) A Revolução Francesa não ficou restrita apenas ao território europeu, chegando também à
América, e a partir disso surgiu o segundo país independente das Américas: a República do Haiti,
fundada em janeiro de 1804.
B) A Revolução Francesa ficou restrita ao território europeu francês, chegando às Américas
apenas no plano das ideias políticas, levando o continente a restaurar as relações coloniais,
abolidas desde a independência dos EUA, na década de 1770.
C) A Revolução Francesa não ficou restrita apenas ao território europeu, chegando também à
América, e a partir disso surgiu o segundo país independente das Américas, os EUA, fundado em
janeiro de 1804.
D) A Revolução Francesa não ficou restrita apenas ao território europeu, chegando também à
América, e a partir disso surgiu o primeiro país independente das Américas, os EUA, fundado em
janeiro de 1804.
E) A Revolução Francesa ficou restrita ao território europeu francês, chegando às Américas
apenas no plano das ideias políticas, levando o continente a adotar o comunismo, tal como havia
sido pregado em Paris, na década de 1780.
GABARITO
1. A Revolução Americana guarda algumas particularidades quando comparada com as
revoluções inglesas do século XVII. Assinale entre as alternativas a seguir aquela que
melhor apresenta essas particularidades.
A alternativa "C " está correta.
A rebelião das Treze Colônias inglesas aconteceu pela insatisfação com o parlamento, e não com
o rei, ou seja, o alvo da revolta colonial não foi a monarquia centralizada, mas sim as políticas
fiscais mercantis desenvolvidas pelo parlamento britânico.
2. A Revolução Francesa foi um processo histórico complexo, heterogêneo e cheio de idas
e vindas, que no final do século XVIII desestabilizou o mundo francês. Assinale entre as
alternativas a seguir aquela que melhor define a Revolução Francesa.
A alternativa "A " está correta.
A Revolução Francesa foi um processo histórico intercontinental vivenciado no império colonial
francês, tanto na Europa como na América. Um de seus principais desdobramentos foi a
independência do Haiti, que em 1804 tornou-se a segunda nação autônoma das Américas.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como aprendemos, estudar a história dos Estados Nacionais nos convida e entender a
heterogeneidade dos processos históricos que, em diversos lugares da Europa, levaram à
formação de estruturas políticas centralizadas, cujo objetivo foi salvar o feudalismo da experiência
de crise que começou no século XIV.
O tempo passou e, nos séculos XVIII e XIX, os Estados Nacionais tornaram-se alvo de
contestações das sociedades civis europeias, em um momento de urbanização e industrialização
do Velho Mundo. Vários projetos políticos foram formulados nesse momento: liberalismo,
anarquismo, comunismo, que seriam aprofundados no século XX e, de alguma maneira, estão
presentes até hoje nos conflitos políticos do nosso tempo.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
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BAILYN, B. As origens ideológicas da Revolução Americana. São Paulo: Edusc, 2003.
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GENOVESE, E. Da rebelião à revolução. São Paulo: Global, 1983.
HILL, C. O mundo de ponta cabeça: ideias radicais durante a Revolução Inglesa de 1640. São
Paulo: Companhia das Letras, 1987.
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LOCKE, J. Dois tratados sobre o governo civil. São Paulo:

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