O elemento central dessa nova teoria é o paradigma estrutura, conduta e desempenho (que veremos em detalhes no Capítulo 2). Essa nova abordagem forma uma das bases das análises de Michael Porter. Nesse paradigma, a estrutura de concorrência entre as firmas em uma determinada indústria é um elemento externo a essas empresas. Cabe às empresas adotarem sua conduta (estratégias). O desempenho de cada empresa depende então de como ela capta e interpreta as informações sobre a estrutura do mercado em que está inserida (BEGNIS, 2007). A mais conhecida aplicação dessa abordagem são as cinco forças de Michael Porter. Essas cinco forças são: barreiras à entrada e à saída; rivalidade; produtos substitutos; clientes e fornecedores. Em conjunto, essas forças determinam a lucratividade das empresas. Na visão de Porter (1989 apud BEGNIS, 2007), como as cinco forças competitivas e seus determinantes estruturais são características da própria indústria, a estratégia competitiva de cada empresa depende de um melhor entendimento destas forças do que aquele alcançado pelos seus concorrentes. Assim, o conjunto de escolhas realizadas por uma organização constitui a essência da sua estratégia competitiva (conduta) e pode influenciar as cinco forças, remodelando a própria estrutura da indústria (BEGNIS, 2007). 29 Introdução às Organizações Capítulo 1 Uma aplicação das cinco forças de Porter num setor do agronegócio pode ser lido em: Dércio Bernardes de Souza; Adriana Trindade Morais; José Paulo de Souza. “Estudo da estrutura competitiva da cadeia agroindustrial de leite na Região Noroeste do Paraná”. Sob esse aspecto, a noção de cadeia de valor desenvolvida por Porter (1989 apud BEGNIS, 2007) se coloca como uma ferramenta de análise da conduta das empresas, ou, em outras palavras, de sua estratégia competitiva. Essa cadeia de valor possibilita entender a formação dos custos e identificar as atividades de importância estratégica para uma organização, as quais apresentam potenciais fontes de diferenciação. A cadeia de valor, de acordo com Porter (1989 apud BEGNIS, 2007), é a representação de todas as atividades que são executadas, desde a projeção até a entrega de um produto, sendo um reflexo do histórico de sua própria conduta estratégica (BEGNIS, 2007). No entendimento de Porter (1989 apud BEGNIS, 2007), o valor é determinado pelo montante que os consumidores estão dispostos a pagar pelo que a empresa lhes oferece, sendo medido pela receita total, o que representa um reflexo do preço que o produto de uma empresa adota e a quantidade vendida. Uma das maiores contribuições de Porter é a proposta de uso do valor para analisar uma posição competitiva e não o custo do produto. Da diferença entre o custo e o valor surge a margem, que reflete então a posição competitiva da empresa. Isso ocorre porque as empresas podem ganhar um prêmio por meio da diferenciação (margem). A vantagem competitiva decorre então da diferença entre cadeias de valor concorrentes (empresas concorrentes possuem cadeias de valor diferentes) (BEGNIS, 2007). Porter (1989 apud BEGNIS, 2007) ainda divide as atividades de valor em primárias e de apoio. As primárias são as relacionadas com a criação física dos produtos, venda e transferência para o usuário/consumidor final. Essas atividades são sustentadas pelas atividades de apoio, que são responsáveis pelos insumos, tecnologias e recursos humanos necessários para as várias funções dentro da empresa (BEGNIS, 2007, p. 75). Em síntese, essas atividades são: atividades primárias genéricas: (a) logística interna; (b) operações; (c) logística externa; (d) marketing e vendas; e (e) serviço. E as atividades de apoio genéricas: (a) aquisição; (b) desenvolvimento de tecnologia; (c) gerência de recursos humanos; e (d) infraestrutura da empresa. Para finalizar este resumo sobre a cadeia de valor, tem-se uma observação feita por Gerbasi (2014, p. 24): 30 Gestão do Agronegócio I Assim como nos SAGs, o principal objetivo de uma cadeia de valor é o de produzir produtos ou serviços com valor agregado para o mercado por meio da transformação de recursos, dessa maneira, pode-se considerar que um Sistema Agroindustrial possui diversas cadeias de valor em sua estrutura que são diretamente ligadas a algum setor do agronegócio. Embora a indicação abaixo seja uma aplicação em um setor fora do agronegócio, entendemos que sua proposta de análise, faz uma integração entre planejamento estratégico e cadeia de valor. Essa figura pode ser utilizada como guia para futuras análises, levando em conta as especificidades de cada cadeia produtiva ou empresa que desejem analisar. VANTI, Adolfo Alberto; RAUTER, André; DAL-SOTO, Fábio. Configuração informacional na gestão da cadeia de valor e utilização de Business Intelligence (BI). f) Relacionamento interorganizacional A inclusão desse tópico nas teorias sobre agronegócio parte de uma avaliação da pertinência da abordagem para o entendimento das relações entre as organizações nos dias de hoje. Embora seja importante a análise (por exemplo) dos contratos realizados entre os agentes, existem outras dimensões das cadeias produtivas que necessitam ser analisadas. Begnis (2007, p. 62) parte da seguinte afirmação: É necessário ter atenção aos elementos que não são fruto exclusivo das transações e que estão muito mais ligados às atividades e aos processos de criação e transferência de bens e serviços através de cada elo da cadeia produtiva. Neste sentido, a interpretação de Edward e Cyrus (1993) mostra que há pelo menos duas razões principais que explicam por que a perspectiva dos custos de transação, dentro da teoria original de Williamsonn (1985) é limitada em sua habilidade de explicar estratégias interorganizacionais. Primeiro, porque a análise padrão dos custos de transação é essencialmente uma análise sustentada unicamente na questão da minimização de custos, negligenciando a interdependência das trocas entre os parceiros de negócios. Segundo, porque a teoria dos custos de transação enfatiza demasiadamente a análise estrutural das relações de trocas interorganizacionais e negligencia as questões processuais. 31 Introdução às Organizações Capítulo 1 O autor discorre sobre as estratégias interorganizacionais, que têm como objetivo maximizar o valor de forma conjunta ao invés de tentar minimizar os custos. As contribuições de Edward e Cyrus (1993 apud BEGNIS, 2007) enfatizam que o valor não é apenas criado, mas percebido e distribuído por meio de um processo. As trocas nessa abordagem são dinâmicas e imprevisíveis, sendo que o processo de criação, percepção e transferência de valor entre as firmas, que aderem a algum tipo de parceria, se converte em vantagem competitiva (BEGNIS, 2007). Embora essa formação de relacionamentos (parcerias, alianças, redes, cadeias, entre outras) permita a melhora na eficiência das organizações, existem desafios ao se desenhar estruturas de governança para gerir esses relacionamentos (BEGNIS, 2007). O desafio para as organizações está na identificação do que vem a ser valor para o consumidor, e como isso pode ser transferido, entre os diversos estágios, até o consumidor. A ênfase na criação de valor, a partir das cadeias de suprimentos, introduziu um novo conceito, à gestão das cadeias de valor (Value Chain Management). Essa abordagem surge a partir das deficiências da abordagem de cadeia de suprimentos (BEGNIS, 2007). Um ponto a destacar sobre como uma cadeia de suprimentos pode alcançar um nível maior de percepção, criação e distribuição de valor: Mudimigha, Zairib e Ahmed (2004) apontam para cinco pilares básicos da gestão das cadeias de valor, os quais enfatizam a importância da agilidade e velocidade: (a) Visão da gestão das cadeias de valor - as organizações que procuram alcançar padrões de excelência e desempenho sustentável utilizando princípios da cadeia de