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PERÍCIA E ARBITRAGEM CONTÁBIL AULA 5 Profª Tassiani Aparecida dos Santos 2 CONVERSA INICIAL Olá! Vamos iniciar a nossa quinta aula da disciplina de Perícia e Arbitragem Contábil. O objetivo desta aula é introduzi-los nos aspectos de execução da perícia contábil, em especial em relação às atividades e aos procedimentos do perito-contador e do assistente técnico. Temos discutido em todas as aulas como a profissão pericial é normatizada e regulada e os seus impactos nos procedimentos desses profissionais. Por ser demasiadamente regulada, a atividade do perito-contador se apresenta muito procedimental e detalhada. Assim, esta quinta aula do curso oferecerá subsídios para que vocês compreendam quais são os procedimentos e as atividades executados pelo perito em seu cotidiano profissional. Iniciaremos nossa aula abordando os principais termos de trabalho pericial, como o termo de responsabilidade técnica, o termo de diligência e o termo de ouvida da parte sobre a diligência. O tema 2 deste material versa sobre os tipos de perícia nas Varas Criminal, do Trabalho e Cível Estadual. Em seguida, no tema 3, trataremos dos tipos de perícia nas Varas de Execuções Fiscais e de Família e na Justiça Federal. O tema 4 explicita as perícias do universo de combinações de negócios, tais como fusão, cisão e incorporação. E, por fim, o tema 5 aborda as perícias no âmbito das medidas administrativas, das reavaliações do ativo não circulante e das reavaliações do patrimônio líquido. CONTEXTUALIZANDO A nossa quinta aula do curso de Perícia e Arbitragem Contábil versará sobre os aspectos da execução da profissão pericial. Na prática de sua atividade profissional, o perito-contador e o assistente técnico podem atuar em diferentes funções judiciais e extrajudiciais. Na esfera judicial, auxiliam o magistrado (perito-contador) e as partes (assistente técnico) em decisões criminais, do trabalho, cíveis, fiscais, familiares, entre outras. Enquanto na esfera extrajudicial, os profissionais atuam, principalmente, em medidas administrativas, reavaliações de ativos não circulante e do patrimônio das entidades, além de combinações de negócios. Bem, alunos, como já aprendemos muitas coisas a essa altura do curso, esta quinta aula tem como premissa tratar da execução do trabalho pericial no 3 campo em atividades comuns ao perito-contador. Assim, vamos explorar esses aspectos durante esta aula. TEMA 1 — TERMO DE RESPONSABILIDADE TÉCNICA DO CONTADOR COM ANUÊNCIA DO ADMINISTRADOR, TERMO DE OUVIDA DA PARTE SOBRE OS DOCUMENTOS SOLICITADOS NA DILIGÊNCIA E TERMO DE DILIGÊNCIA Trataremos, no tema 1, dos principais documentos de trabalho elaborados pelo perito e que auxiliam esse profissional na formalização das etapas do processo de execução do seu trabalho. Em especial, trataremos de três documentos importantes: termo de responsabilidade técnica do contador com anuência do administrador, termo de ouvida da parte sobre os documentos solicitados na diligência e o termo de diligência. 1.1 Termo de responsabilidade técnica do contador com anuência do administrador Esse termo é elaborado para reafirmar a responsabilidade técnica do contador perante o perito. Isto quer dizer que, o profissional contábil da entidade a ser examinada se compromete a fornecer informações verdadeiras ao perito contábil (Hoog, 2010). Contudo, salienta-se que, naturalmente, o perito-contador deve se assegurar das informações recebidas pelo contador, posto que sua responsabilidade no exame e análise dos fatos não diminui com o termo de responsabilidade técnica do contador com anuência do administrador. Esse documento é apenas mais uma evidência da atitude da entidade perante o processo judicial (Hoog, 2010). Assim, esse documento se constitui como evidência para construir a prova pericial, conforme art. 429 do Código de Processo Civil (CPC). Ainda, outras legislações versam sobre a utilização de termos dessa natureza, caso do art. 219 do Código Civil (CC), que prevê a utilização de declarações em documentos. Em relação ao profissional contábil da entidade, este está exposto ao Código Penal quanto ao testemunho falso, art. 342, e, ainda, em relação à indução do perito ao erro, art. 347. O art. 339 do CPC também versa sobre o dever do contador em colaborar com o Poder Judiciário (HooG, 2010). 4 A Lei n. 10.258 de 28 de agosto de 2001 é a base para a elaboração desse termo e considera os seguintes elementos como fundamentais para constar no documento elaborado: a responsabilidade do contador pelas demonstrações contábeis, crimes contra a ordem econômica e tributária, crime contra as relações de consumo, crime por omissão, desídia e improbidade; atos e fatos da gestão do administrador; obtenção de evidências por depoimento; fundamentar a extensão e profundidade da análise; possibilitar esclarecimentos sobre pontos não constantes das demonstrações contábeis, tais como subjetividade do contador; e, dar garantia ao perito sobre a responsabilidade do exame pericial (Hoog, 2010). Sugerimos que vocês consultem os modelos desse tipo de termo em Hoog (2010) entre as páginas 164 e 168. Por fim, vamos enumerar o que deverá constar no termo de responsabilidade técnica do contador com a anuência do administrador (Hoog, 2010): a. Data da diligência; b. Ser dirigida ao perito nomeado ou assistente técnico indicado; c. Fazer referência ao objeto da perícia; d. Mencionar o responsável técnico pelo registro e pelo sistema contábil, bem como por todo o sistema administrativo financeiro; e. Confirmar as estimativas contábeis; f. Revelar se há, ou não, contingências fiscais, trabalhistas, previdenciárias, ambientais, comerciais e legais que possam afetar a situação econômica ou financeira; g. Revelar se tem conhecimento de fatos que possam impedir ou alterar o caminho da prosperidade aziendal; h. Revelar eventos subsequentes que possam afetar o patrimônio; i. Confirmar se livros e registros comprobatórios foram colocados à disposição do perito, relacionando os não exibidos ou não existentes; j. Confirmar a contabilização de todos os atos e fatos, evidenciando os saldos e as transações com o meio, evidenciando prejuízos de compra e venda, acordos para recompras; k. Revelar todos os ativos dados em garantia e as garantias dos produtos e serviços, bem como as responsabilidades civil e criminal por danos ao consumidor e ao meio ambiente; 5 l. Revelar a existência de planos que possam afetar o valor ou a classificação de ativos ou passivos; m. Confirmar que não existem irregularidades envolvendo a administração ou os empregados, que possam ter efeitos sobre a empresa, inclusive crimes falimentares, práticas de cartel, concorrência desleal, superfaturamento ou subfaturamento; n. O termo deve ser assinado pelos administradores que têm poder para tal e pelo profissional responsável pelas demonstrações contábeis. A recusa de fornecer o presente termo constitui uma limitação ao exame pericial, pelo fato do olho clínico, tecnológico/científico do juiz, “do perito”; todos devem colaborar com a justiça, de acordo com o art. 339 do CPC. 1.2 Termo de ouvida da parte sobre os documentos solicitados na diligência O perito-contador pode utilizar-se do prescrito no art. 429 do CPC para elaborar um termo de ouvida da parte sobre os documentos solicitados na diligência. Esse documento visa respaldar o perito em relação a informações coletadas das partes em matéria contábil (Hoog, 2010). O profissional peritopode, independentemente de ouvir o contador responsável pela empresa, coletar informações novas, controversas ou confirmatórias das partes em relação ao contador e à contabilidade da entidade. Sabemos que o perito tem fé pública, portanto sua palavra é suficiente. Contudo, para garantir que não haja dúvidas em relação a isso, o perito pode utilizar desse termo para lavrar as declarações coletadas das partes e, pode, inclusive, servir de prova material para a elaboração do laudo pericial (Hoog, 2010). O objetivo desse termo é gerar maior transparência dos atos praticados pelo perito, minimizar os riscos da atividade pericial no processo judicial, como injúrias e calúnias das partes (Hoog, 2010). Para conhecer com mais detalhes como organizar um termo de ouvida das partes sobre os documentos solicitados na diligência, recomendamos a consulta ao modelo proposto por Hoog (2010, p. 169). 6 1.3 Termo de diligência Por fim, trataremos do termo de diligência, que já foi abordado de maneira contextual quando falamos das diligências nas aulas anteriores. O objetivo desse termo formal é relacionar os documentos e as informações que estão de posse das partes para serem examinados no processo pericial. Assim, o perito- contador e o perito assistente devem comunicar, de maneira formal, pelo termo de diligência, quais documentos precisam ser acessados para o profissional elaborar sua opinião sobre o objeto da perícia (Hoog, 2010). Zanna (2007) traça a estrutura sugerida para o termo de diligência, que deve conter os seguintes elementos: a. Identificação do processo (comarca, vara, número do processo, tipo de causa e nome das partes); b. Identificação do perito judicial; c. Local, data e hora das diligências; d. Escopo da diligência; e. Livros e documentos requisitados, mencionando o período a que se referem; f. Identificação dos assistentes técnicos e das demais pessoas que participaram do trabalho, mesmo que apenas na condição de observadores, tais como, chefe e auxiliares do Departamento de Contabilidade da empresa visitada, advogados das partes e outros interessados; g. Assinaturas de todos os presentes à diligência. No caso de algum assistente técnico ou outra pessoa negar-se à assinatura do termo de diligência, esse fato deve ser autuado no rodapé do próprio termo. Para consultar alguns modelos desses termos, sugerimos verificar Hoog (2010, p. 171). Nas páginas 146 a 160 do livro do prof. Remo Dalla Zanna, o assunto aparece de forma mais completa e detalhada. TEMA 2 – TIPOS DE PERÍCIA CONTÁBIL NA ESFERA JUDICIAL: VARAS CRIMINAIS, DO TRABALHO, CÍVEIS ESTADUAIS Discorreremos agora sobre os tipos de perícia contábil na esfera judicial, que é composta por varas. As varas são a jurisdição da Justiça, o local no qual 7 o juiz exerce seu poder jurisdicional (Hoog, 2010). Nesse sentido, trataremos no segundo tema dessa aula sobre as Varas Criminais, do Trabalho e Cíveis Estaduais. A Vara Criminal acomoda as fraudes e os vícios contábeis, as adulterações de lançamentos e registros, desfalques e alcances, apropriações indébitas, inquérito judicial para efeitos penais, crimes contra a ordem econômica e tributária dentre outras, como atos e fatos que devem ser julgados na Vara Criminal (Hoog, 2010, p. 239). A Justiça do Trabalho prevê o julgamento e o trabalho pericial em indenizações de diversas modalidades, litígios entre empregadores e empregados de diversas espécies (Hoog, 2010). Sá (2010) advoga que as reclamações no âmbito trabalhista giram em torno de registro de empregados, de salários e de direitos inerentes às relações de trabalho, não sendo, de forma geral, perícias complexas. Para ilustrar, tomaremos como exemplo o caso de um litígio entre o comissionado e uma empresa, apresentado em Sá (2010, p. 199). O empregado, inicialmente, presta serviço como pessoa jurídica e posteriormente reclama direitos de trabalho como se fosse empregado. Os seguintes quesitos foram expostos para o trabalho pericial: a. Em que período o reclamante prestou serviços à empresa? b. Os recebidos de comissão, nesse período, assinados pelo reclamante referiam-se à sua pessoa jurídica? c. Em que páginas do Diário estão registrados tais fatos? d. Qual foi o lançamento? Queria o Sr. Perito reproduzi-lo? e. Queria o Sr. Perito reproduzir um quadro de comissões desse período, tal quadro era de conhecimento do reclamante? Ele o visou? f. Tal quadro coincide com os registros de Diário? Tal quadro é o que se acha às fls... dos autos? g. O reclamado pagou o valor que consta do quadro ao reclamante? h. Houve alteração no percentual de comissões pagas ao reclamante? Quando? Ou nunca houve? i. A comissão paga é a que consta do contrato de comissões com o reclamante, apenso aos autos fls...? Nesse caso apresentado, a empresa defende-se da acusação e contra as reivindicações de um vendedor. Por isso, os quesitos são da reclamada (no caso, 8 ré). Dessa forma, o advogado, ao formular os quesitos, tenta provar que o vendedor agiu de má-fé. Cabe ao profissional perito agir de maneira imparcial para averiguar os fatos expostos nos quesitos e apresentar a prova pericial (Sá, 2010). Por fim, trataremos das perícias contábeis atreladas à esfera das varas cíveis estaduais. Estas podem ser, segundo Hoog (2010, p. 239), ordinária, apuração de haveres, avaliação de patrimônio incorporado, busca e apreensão, consignação em pagamento, comissão de pena pecuniária, cambiais, compensação de créditos, consignação e depósito para pagamento, desapropriação de bens, dissolução de sociedade, exclusão de sócio, embargos de impedimento de consumação de alienação, estimativa de bens penhorados, exibição de livros e documentos, extravio e dissipação de bens, falta de entrega de mercadoria, fundo de comércio, indenização por danos, inventários na sucessão hereditária, liquidação de empresas, lucros cessantes, medidas cautelares, possessória, prestação de contas, rescisória, revisão de contratos bancários. Diversos casos podem ser consultados nos livros de Sá (2010) e Hoog (2010). Exemplificaremos um caso de apuração de haveres, contudo salientamos que se trata de um tipo de perícia complexa e, portanto, para maiores detalhes, sugerimos que vocês se aprofundem nos detalhes expostos no livro Sá (2010) dentre as páginas 95 a 101. A apuração de haveres acontece quando se torna necessário apurar os “direitos” de alguém em uma massa patrimonial. Isso se dá em razão de morte de sócio, morte de cônjuge de sócio, dissolução de sociedade ou, também, em casos em que um sócio se retira ou é expulso da sociedade. Assim, em um caso de apuração de haveres, o perito-contador, em linhas gerais, deve determinar: a. Os créditos do sócio, em conta, devidamente atualizados; b. Os débitos do sócio, em conta, devidamente atualizados; c. O valor de patrimônio líquido real; d. As expectativas de lucros da sociedade, quando ela vai continuar em funcionamento; e. As expectativas de realização do ativo, quando a sociedade vai ser liquidada. 9 TEMA 3 – TIPOS DE PERÍCIA CONTÁBIL NA ESFERA JUDICIAL: EXECUÇÕES FISCAIS, DE FAMÍLIA E NA JUSTIÇA FEDERAL Neste tópico, falaremos sobre as atividades periciais contábeis nas varas de execuções fiscais, de família e na Justiça Federal. As varas de execuções fiscais analisam casos envolvendo tributos de uma forma geral, tais como ICMS, ISS, IPTU. Já na Justiça Federal, discutem-se execução fiscal (INSS, FGTS, tributos federais e contribuições sociais no geral), revisão do SFH quando envolve a CEF, ações que envolvema União (ex. Desapropriação de terra por parte da União), etc. (Hoog, 2010). Para exemplificar, discorreremos sobre a impugnação de créditos fiscais de competência da União, que, portanto, será julgado na vara da Justiça Federal. Alunos, e se fosse um caso de impugnação de créditos fiscais do ICMS? Qual seria a vara a julgar esse caso? Bom... aí o caso seria julgado na Vara de Execuções Fiscais. Pois bem, vamos voltar ao nosso caso de competência da União. A integralização de capital em dinheiro sem que o contribuinte prove a disponibilidade do numerário no ato é prova de “omissão de receita”, supõe o fisco, decorrente de uma sonegação de imposto. Na área judiciária, todavia, requerida a perícia, o contribuinte logra provar que houve registro do dinheiro em caixa, conforme lançamento do Diário; como os livros comerciais possuem fé pública, provando a favor do empresário, a pretensão fiscal tem sido derrotada nos tribunais. Assim, de acordo com Sá (2010), a perícia prova que: a. A escrita da empresa obedece às formalidades intrínsecas e extrínsecas; b. O aumento de capital em dinheiro foi registrado, movimentando as contas usuais e adequadas; c. O histórico do lançamento se refere a documento de valor também público, testemunhado e registrado na Junta Comercial tempestivamente; d. O dinheiro que entrou no caixa supriu pagamentos tais ou quais, devidamente documentados e válidos. Nas Varas de Família, o perito contábil pode atuar na avaliação de pensões alimentícias, avaliações patrimoniais, entre outras (Hoog, 2010). O caso de alimentos requer a apuração de haveres de cônjuge ou responsável pela manutenção de dependentes e busca-se, ainda, a averiguação sobre o poder 10 econômico. Assim, os quesitos apresentados para o perito direcionam-se no sentido de identificação da posse material ou patrimonial dos responsáveis pelos dependentes. Exemplos, ainda de acordo com Sá (2010): a. Qual a retirada pro labore do Sr. X nas empresas de sua administração? b. Qual a participação social do Sr. X no capital das sociedades 1, 2 e 3? c. Tem remuneração indiretas por seu cargo de direção? Quais? Em quanto montaram tais remunerações nos períodos dos últimos 24 meses, estabelecido para a avaliação o regime de moeda constante? d. A participação percentual no capital das sociedades 1, 2 e 3 do réu Sr. X alterou-se nos últimos três anos? Em quanto? e. Foram operadas transferências de capital do réu nos últimos três anos? Em que montante percentual? Para quem? f. Pela declaração de bens do réu, tem ele outras fontes de rendimentos? Quais? Em quanto montaram nesses últimos três anos, considerados os valores em moeda constante? g. O réu tem contas bancárias próprias? Em que bancos? Os depósitos feitos em suas contas coincidem com os rendimentos declarados? Ou, ainda, os depósitos são compatíveis com as fontes de rendimentos apuradas por retiradas pro labore e de lucros? Em suma, podemos dizer que na Vara de Família, e em casos similares ao apresentado, as investigações devem ser feitas no sentido de apuração da renda do réu para que o magistrado possa atribuir pensão alimentícia aos dependentes. Os quesitos têm, ainda, a características de identificar indícios de atitudes tomadas pelo réu para omitir rendas que sempre teve, com o intuito de reduzir o ônus da pensão alimentícia (Sá, 2010). TEMA 4 – TIPOS DE PERÍCIA CONTÁBIL NA ESFERA EXTRAJUDICIAL: FUSÃO, CISÃO E INCORPORAÇÃO Neste tópico da nossa quinta aula versaremos sobre as perícias contábeis na esfera extrajudicial, em especial, nos casos de combinações de negócios: fusão, cisão e incorporação. Mas o que são esses tipos de combinação de negócio? A fusão, segundo Hoog (2010, p. 240), é uma operação entre duas ou mais sociedades na qual elas se unem para formar uma nova sociedade, que 11 lhes sucede em todos os direitos e obrigações. Os procedimentos legalmente previstos para os casos de fusão de entidades empresariais podem ser consultados nos arts. 223 e 224 da Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Já a cisão “é a operação pela qual a companhia transfere parcelas do seu patrimônio para uma ou mais sociedades, constituídas para esse fim ou já existentes, extinguindo-se a companhia cindida se houver versão de todo o seu patrimônio, ou dividindo-se o seu capital se parcial a versão” (Hoog, 2010, p. 240). Essa combinação de negócio está exposta no art. 229 da Lei n. 6.404/1976. Por fim, a “incorporação é a operação pela qual uma ou mais sociedades são absorvidas por outras, que as sucede em todos os direitos e obrigações” (Hoog, 2010, p. 240), diferenciando-se, então, da fusão. Na incorporação, as sociedades incorporadas deixam de existir, conquanto a entidade incorporadora permanece com sua vida normal. Na fusão, ambas as entidades deixam de existir, para a constituição de uma sociedade “totalmente” nova. Por que, então, o trabalho pericial perpassa níveis fundamentais em todos os tipos de combinação de negócio? Bom, o que está por trás de ambas as operações é a questão da avaliação do valor das entidades. Assim, em reestruturações societárias é comum a utilização de laudos contábeis de avaliação. Esse tipo de laudo é extrajudicial, contudo, o profissional perito-contador é o mais habilitado técnico-cientificamente para emitir tal afirmativa quanto ao valor econômico das entidades. Além disso, o Código Civil e a Lei das Sociedades por Ações (Lei n. 6.404/1976), bem como a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) estabelecem a obrigatoriedade do profissional perito para tais reestruturações societárias. TEMA 5 – TIPOS DE PERÍCIA CONTÁBIL NA ESFERA EXTRAJUDICIAL: MEDIDAS ADMINISTRATIVAS E DE REAVALIAÇÃO DO ATIVO NÃO CIRCULANTE E DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO Nesse último tópico, abordaremos as medidas administrativas e a reavaliação de elementos do ativo não circulante e do patrimônio líquido. As medidas administrativas são definidas por Hoog (2010, p. 241) como: Os procedimentos para embasar decisões administrativas, demissões por justa causa, responsabilidade de gerentes/diretores quando da administração e retorno do capital, apuração da eficiência, ou não, da 12 gestão de estoques. E também de impugnação de autos de infrações, como exemplo temos: as perícias na esfera administrativa da Secretaria da Receita Federal, onde encontramos a figura do perito e do assistente técnico indicado pelo contribuinte. Assim, podemos sumarizar que essa esfera visa apurar diversos fatos controversos nas entidades, de maneira interna, ou seja, visando responder questões de interesses internos dessas entidades para tomada de decisões administrativas. Em relação às reavaliações do ativo não circulante, Hoog (2010) assevera que devem ser efetuadas por três peritos diferentes ou por empresa especializada, com apresentação de laudo pericial que indique os critérios de avaliação e dos elementos de comparação adotados e instruídos com os documentos relativos aos bens avaliados. Aqui, vale a pena relembrar que os peritos devem observar os aspectos fiscais e contábeis. Além disso, é preciso em conta a possibilidade de recuperação desse ativo mediante o uso e basear o valor de mercado com a indicação da vida útil remanescente. Por fim, as reavaliações do patrimônio líquido são, geralmente, solicitadas nos casos de venda parcial ou total de uma empresa, ingresso de novos sócios ou retirada de sócios. As reservas de reavaliação do patrimônio líquido devem ser efetuadas por um perito contábil, fundamentadas em laudo pericial que leva em conta os seguintes atributos: a. O corpo de funcionários (especializaçãotécnica, treinamento, capital intelectual, etc.); b. A freguesia, carteira de fregueses e o seu potencial de rentabilidade para os próximos meses (mensurados pela taxa de retorno de investimento e a lucratividade em relação a receita); c. A localização da empresa (se for uma empresa tipicamente comercial, comércio varejista); d. O reflexo da reavaliação dos bens do ativo não circulante; e. A marca e o logotipo (tais itens costumam ter registro no INPI); f. Goodwill; g. Além dos demais itens contábeis, tais como: capital social e sua correção monetária (reservas de capital, de lucro, de contingências, estatutárias, lucros e prejuízos acumulados, etc.). 13 TROCANDO IDEIAS Nessa quinta aula do nosso curso sobre perícia contábil, aprendemos sobre as principais execuções periciais contábeis em seus ambientes jurídicos. Em um mundo tão normatizado e complexo, é comum o perito-contador e o assistente técnico transitarem por diferentes ambientes jurídicos, como as Varas Criminais, de Família, Trabalhistas, Cível Estadual, entre outras. Nessa atividade de fórum, você deverá refletir e expor a sua opinião sobre a seguinte questão: um profissional perito-contador foi nomeado pelo juiz da Vara Criminal para prestar auxílio técnico-científico em matéria contábil. Considerando os principais tipos de perícia, nessa vara que o profissional perito é chamado a trabalhar, quais podem ser os fatos a serem examinados? Cite um caso, especificando qual o caso jurídico e quais os fatos que o perito irá examinar. NA PRÁTICA Vamos agora para uma atividade prática! Nela, os conceitos aprendidos nessa aula serão a base para resolução de um problema pericial. Nesta atividade, você deverá refletir e aplicar o conceito de perícia em avaliação econômica de marca. A marca pode envolver negócios, como uma franquia, que é a maneira pela qual uma pessoa detentora de uma marca registrada, processo patenteado de produção ou direitos similares, concede a outras pessoas uma licença de utilização desses bens de propriedade industrial, sob certas condições. O que dá a visibilidade inicial à marca são os instrumentos de marketing, a internet e o ponto comercial. Como marca, entendemos ser um nome ou identificação, emblema, logotipo, uma forma ou desenho, que auxilia na identificação de um produto, de uma organização ou entidade e seu objeto social. Normalmente, pode sugerir benefícios como (tira-tosse, mata-piolho, etc.); é de fácil leitura, memorização e pronúncia como (fofo, garoto); tem a possibilidade de ser registrada no INPI e ser adaptável a qualquer mídia (TV, rádio, jornal, internet). Em tese, representa uma garantia de origem e satisfação ao freguês, como uma forma institucional de garantia e segurança. 14 As marcas representam bens de valor econômico e, por isso, devem ser avaliadas. A avaliação de uma marca visa, por meio de tecnologia e amostras, chegar a um “preço justo” do ativo intangível avaliado. O perito-contador envolve- se na avaliação da marca, quando solicitado por magistrado ou por partes, em processo judicial e/ou extrajudicial, posto que detém conhecimento técnico- científico para determinar o valor econômico desse ativo. Nesse cenário, você deve especificar quais os aspectos importantes no exame pericial no que concerne à avaliação de uma marca. FINALIZANDO Agora estamos finalizando nossa quinta aula do curso de Perícia Contábil. Essa aula sobre a execução do trabalho pericial contábil nos auxiliou a compreender e aplicar todos os conceitos e aspectos relativos à perícia discutidos nas aulas anteriores. Assim, vocês puderam compreender os principais casos e fatos analisados nas principais varas judiciais e, também, no âmbito extrajudicial, pelo profissional perito. O primeiro tema dessa aula abordou os principais documentos utilizados durante a execução das atividades periciais, em especial o termo de responsabilidade técnica do contador com anuência do administrador, termo de ouvida da parte sobre os documentos solicitados na diligência e o termo de diligência. Em seguida, foram apresentadas as atividades desenvolvidas pelo profissional perito-contador nas esferas judiciais. No tema 2 dessa aula, discorremos sobre as Varas Criminais, do Trabalho e Cíveis Estaduais. E no terceiro tema, tratamos das Varas da Família, de Execuções Fiscais e Justiça Federal. Por fim, os últimos dois tópicos dessa aula focaram no desenvolvimento do trabalho pericial no âmbito extrajudicial. O quarto tema versou sobre a atividade pericial em combinações de negócios: fusão, cisão e incorporação. Enquanto o último tema apresentou aspectos das medidas administrativas, da reavaliação de ativos não circulante e da reavaliação do patrimônio líquido das entidades. 15 REFERÊNCIAS HOOG, W. A. Z. Prova pericial contábil: teoria e prática. 8. ed. Curitiba: Juruá, 2010. SÁ, A. L. Perícia contábil. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2010. ZANNA, R. D. Prática de perícia contábil. 2. ed. São Paulo: IOB, 2007.
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