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1 Relatório sobre o Livro V da obra “Ética à Nicômacos” de Aristóteles. 1- Informações sobre a obra e autor Aristóteles foi um autor e filósofo nascido na Macedônia em 384 a.C. Era discípulo de Platão em sua academia. Ficou conhecido em razão de sua ética que se diferenciava daquela de origem socrático-platônica. Escrevendo a respeito da ética, Aristóteles tratou-a de maneira mais incisiva na obra Ética a Nicômaco - sendo por nós, alunos, estudada apenas a partir do Livro V. Para Aristóteles, a ética era um campo de ciência prática, e que ao se estudar a mesma, os resultados geraram um impacto positivo significativo para a sociedade. É a partir disso que o autor extrai da ética as importâncias das virtudes, como a coragem, temperança e justiça. Sobre o Livro V especificamente na obra Ética a Nicômaco, é analisada a temática de justiça, de modo que enquanto a mesma se entende como moral ela deve consequentemente determinar os princípios de um bem-estar social. 2- A justiça O conceito de justiça para o filósofo, todos os homens entendem por justiça a disposição de caráter que torna as pessoas propensas a fazer o que é justo, que as faz agir justamente e desejar aquilo que é justo (ARISTÓTELES, p.94, 300 a.C.). Ainda, segundo o autor, a justiça pode ser compreendida como uma virtude inteira, completa, isso pois ela resume todas as virtudes essenciais em seu exercício; como a justiça se eleva à condição de virtude, a mesma pode se denominar dikaiosyne. Na obra, é citado que o homem justo é aquele que cumpre e respeita a lei e é probo, isso é de caráter honrado; portanto não se pode denominar de justo aquele que teoriza acerca da justiça e não a prática (ARISTÓTELES, p.95, 300 a.C.). A partir deste conceito, a justiça foi classificada em áreas, sendo elas Geral ou Particular, Corretiva ou Distributiva e Natural e Legal. 2 A justiça particular, pode ser dividida em como corretiva e distributiva. Sobre a corretiva, o autor entende que a mesma ainda, “divide-se em duas: algumas podendo ser transações voluntárias ou involuntárias. Quando voluntárias são, por exemplo, as compras e vendas, os empréstimos para consumo, o empréstimo para uso, penhor, depósito, a locação (todas essas transações são chamadas de voluntárias pois sua origem é voluntária). Quando involuntárias, algumas são clandestinas, como o furto, o adultério, o envenenamento, o lenocínio, o engo com objetivo de escravizar, o falso testemunho; e outras ainda, são violentas, como a agressão, o sequestro, o assassinato, o roubo, a mutilação, a injúria e o ultraje”(ARISTÓTELES, p.99-100, 300 a.C.). De modo geral, a justiça particular é composta por diversas tentativas de se restabelecer igualdades que tenham sido desfeito por qualquer que seja o motivo. Aristóteles descreve a justiça distributiva como, “A partir da justiça particular e do que é justo no sentido que lhe corresponde, uma das espécies é a que se manifesta nas distribuições de magistraturas , de dinheiro ou das outras coisas que são divididas entre aqueles que têm parte na constituição.” (ARISTÓTELES, p.108-109, 300 a.C.). Por fim, o filósofo escreve que pode existir o justo político e que há algumas condições para sua existência: “[O justo político] se apresenta entre as pessoas que vivem juntas com o objetivo de assegurar a autossuficiência do grupo - pessoas livres e proporcionalmente ou aritmeticamente iguais. Logo, entre pessoas que não se enquadram nesta condição não há justiça política, e sim, a justiça em um sentido especial e por analogia” (ARISTÓTELES, p.108, 300 a.C.). Ainda sobre a justiça política a mesma se divide em natural e legal. A justiça natural é observada a partir da ideia exprimida por Aristóteles de que todo homem é um animal político por natureza, de modo que a justiça natural então "extrapola" as fronteiras políticas e se sobrepõe às vontades e desejos dos homens, “as coisas que existem por natureza são imutáveis e em toda parte têm a mesma força (assim como o fogo que arde aqui e na Pérsia)” (ARISTÓTELES, p 110, 300 a.C.). 3 Apesar de ser provado pelo autor que existe um justo natural, cabe ao legislador da pólis propagar e regrar a vida de sua comunidade, a fim de conjurar aquilo que a lei e o direito entendem como o bem para seus cidadãos. Sobre a justiça legal, Aristóteles diz que “existe uma justiça que funciona por natureza e outra por convenção” (ARISTÓTELES, p 110, 300 a.C.). As justiças por natureza e legal se diferem a ponto do autor afirmar que: “As coisas que são justas apenas em virtude da convenção e da conveniência assemelham-se a medidas, pois as medidas para o vinho e para o trigo não são iguais em todas as partes, mas maiores nos mercados atacadistas e menores nos retalhistas. Da mesma maneira, as coisas são justas não por natureza, mas por decisão humana, não são as mesmas em todos os lugares, uma vez que as próprias constituições não são as mesmas, embora haja apenas uma que é, por natureza a melhor em todos os lugares” (ARISTÓTELES, p 110, 300 a.C.). 3- O homem justo Para Aristóteles, o considerado homem justo é aquele que respeita a lei e a igualdade; além de sempre priorizar e escolher os maiores bens como a virtude e a felicidade em detrimento dos menores como as riquezas e os prazeres pessoais. 4- A injustiça O filósofo entende que é necessário falar sobre a injustiça porque ela cria as bases necessárias para se discutir e compreender o que é justiça; seguindo deste modo então o provérbio e ideia grega de que apenas quando se conhece a má condição a boa se manifesta. Na obra, injustiça é classificada como variante da palavra e ideia grega adikia; assim, se justiça pode ser entendida como a justa-medida, isso é, o meio-termo entre o excesso e a falta, a injustiça só pode apresentar a violação deste princípio. Segundo Aristóteles, a injustiça pode ser interpretada como excesso e a falta, de modo que ter muito pode ser sua vítima e ter demais é também agir injustamente. Entretanto nem todos que agem injustamente são injustos, por exemplo, um homem que comete um adultério pode até saber quem é a mulher com a qual deita, mas não faz isso em nome do pecado e sim pela paixão, ou seja o homem cometeu uma injustiça mas isso não faz dele um ser injusto. 4 As causas para as injustiças são muitas e variadas, como maldades, ganância, paixões, ignorância e desobediência. Considera-se um homem injusto aquele que viola a lei, aquele que, agindo pela avidez, toma mais do que lhe é devido. Também aquele que viola a igualdade, tomando no que diz respeito às coisas más, menos do que sua parte (ARISTÓTELES, p 113, 300 a.C.). Dessa maneira, tudo e todos que violam a proporção são injustos, “ os homens que agem injustamente tem em excesso, enquanto o que é injustiçado recebe pouco do que é bom. No caso das coisas más, acontece o contrário” (ARISTÓTELES, p. 108, 300 a.C.). 5- A equidade Para Aristóteles, a equidade é uma disposição de reconhecer igualmente o direito de cada um, ela não é idêntica e nem se pode confundir com a justiça, já que a mesma é inferior a esta. A função da justiça equitativa é a de servir como um instrumento para correções de leis quando a mesma não atua corretamente e é considerada deficiente; a equidade não é superior à lei natural mas a compreende e sabe aplicar quando exigida. Em suma, a justiça equitativa surge quando se dá conta de que se necessita de uma maior generalidade da lei. A esse respeito, Aristóteles afirma “já mostramos que tanto o homem como o ato injusto são ímprobos ou iníquos. Fica evidente, agora, que existe também um ponto intermediário entre as duas iniquidades existentes em cada caso. E esse é o ponto da equidade.” (ARISTÓTELES, 100, 300 a.C.). O princípio da justiça positiva deixa pressupor que a igualdade entre os homens se ache já fixadae em harmonia. Entretanto, os homens são desiguais. A igualdade é uma ideia sempre em abstração. Por fim, o homem equitativo é o homem justo e ainda mais do que isto. Isso pois, o mesmo escolhe e pratica os atos justos mas não se apega aos seus direitos em mau sentido; ele tende a tomar menos do que seu quinhão embora tenha a lei por si, é equitativa. É essa disposição única de caráter que se chama de equidade (ARISTÓTELES, 119, 300 a.C.). 6- A relação entre justiça e felicidade Todos os atos quando legítimos são justos e como tais possuem a capacidade de produzir e preservar a felicidade; de modo que podemos classificar a justiça plena como o sinônimo de felicidade (ARISTÓTELES, 95, 300 a.C.). 5 Referências Bibliográficas ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Editora Martin Claret, 2008, pp. 94-121.
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