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Guia da Disciplina met ling port como L2

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METODOLOGIA DE ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA COMO L2 
Me. Marina Savordelli Versolato 
GUIA DA 
DISCIPLINA 
 2021 
 
 
1 Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa como L2 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
1. A EDUCAÇÃO BILÍNGUE 
 
Objetivo 
Estudar e conhecer sobre o que é a Educação Bilíngue para surdos. 
 
Introdução 
Diferentes práticas pedagógicas envolvendo os sujeitos surdos apresentam uma 
série de limitações, e esses sujeitos, ao final da escolarização básica, apresentam 
dificuldade de ler e escrever satisfatoriamente ou ter um domínio adequado dos conteúdos 
acadêmicos. 
 
Se faz importante iniciarmos a discussão desta disciplina falando sobre Educação 
Bilíngue, uma vez que, pensar metodologias de ensino de Língua Portuguesa como L2, 
pressupõem uma educação bilíngue, na qual L1 seria a Libras e L2 a língua portuguesa na 
sua modalidade escrita. 
 
Sendo assim, ponderamos ser importante também conhecer, mesmo que 
brevemente, sobre a sobre a história, bem como as filosofias e métodos educacionais 
criados para os alunos com surdez. 
 
 A história serve de base para que seja feita uma análise crítica das consequências 
de cada filosofia ou método de ensino no desenvolvimento destas crianças, 
contextualizando as práticas vigente. 
 
1.1 A história da educação dos surdos: uma reflexão importante. 
Ao longo da História foi proposto uma variedade de abordagens e métodos para a 
educação dos alunos com surdez. Muitos deles fundamenta-se em substituir a audição 
perdida por um outro canal sensorial, como a visão, o tato, ou aproveitando os resíduos da 
audição existentes. 
 
Segundo Quadros (1997) fazendo uma espécie de digressão sobre a educação de 
surdos no Brasil, temos duas fases que podem ser claramente delineadas e uma terceira 
fase, a atual, que configura um processo de transição. Fizemos essa linha do tempo para 
tentarmos facilitar a compreensão das 3 fases: 
 
 
2 Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa como L2 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 
 
A primeira fase configura-se pela proposta oralista, que infelizmente, apresenta 
resquícios de sua ideologia até hoje. Segundo a autora Ronice M. Quadros (1997) podemos 
dizer que basicamente, a proposta oralista fundamenta-se na “recuperação” da pessoa 
surda. O oralismo enfatiza a língua oral em termos terapêuticos. 
 
O oralismo ou filosofia oralista visa a integração do aluno com surdez na comunidade 
de ouvintes, dando-lhe condições de desenvolver a língua oral (no caso do Brasil, o 
português). Cabe destacar que o oralismo sempre foi e continua sendo uma experiência 
que apresenta resultados nada atraentes para o desenvolvimento da linguagem e da 
comunidade dos surdos. 
 
Apesar do investimento de anos da vida de uma criança surda na sua oralização, 
ela somente é capaz de captar, através da leitura labial, cerca de 20% da mensagem 
e, além disso, sua produção oral, normalmente, não é compreendida por pessoas 
que não convivem com ela. (QUADROS, 1997, p. 23) 
 
 
Diante desse difícil contexto, surge então uma nova proposta: a comunicação total, 
que se define como uma filosofia que requer a incorporação de modelos auditivos, manuais 
e orais para assegurar a comunicação eficaz entre as pessoas com surdez. 
 
Os defensores da filosofia da Comunicação Total recomendam então o uso 
simultâneo de diferentes códigos como: a Língua de Sinais, a datilologia, a amplificação 
sonora, o português sinalizado etc. O objetivo é fornecer à criança a possibilidade de 
desenvolver uma comunicação real com seus familiares, professores e coetâneos, para 
ORALISMO
1969-1984
COMUNICAÇÃO 
TOTAL
1985-1992
BILÍNGUISMO
a partir de 1993
 
 
3 Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa como L2 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
que possa construir seu mundo interno. É importante destacar que todos esses códigos 
manuais (português sinalizado, inglês sinalizado etc.) são usados obedecendo a estrutura 
gramatical da língua oral, não se respeitando a estrutura própria da Língua de Sinais. 
 
Neste contexto, a autora QUADROS (1997) relata que se desenvolveu o 
BIMODALISMO que é uma proposta que se caracteriza pelo uso simultâneo de sinais e 
fala. Os sinais passam a ser utilizados pelos profissionais em contato com o surdo dentro 
da estrutura da língua portuguesa. Esse sistema artificial passa a ser chamado de 
português sinalizado. O ensino não enfatiza mais o oral exclusivamente, mas o bimodal. 
Sobre isso temos: 
 
(...)não é possível efetuar a transliteração de uma língua falada em Sinal palavra 
por palavra, ou frase por frase – as estruturas são essencialmente diferentes. 
Imagina-se com frequência, vagamente, que a língua de sinais é Inglês ou Francês: 
não é nada disso; ela é própria, Sinal. Portanto, o “Inglês Sinalizado” agora 
favorecido como um compromisso, é desnecessário, pois não precisa de nenhuma 
pseudolíngua intermediária. E, no entanto, os surdos são obrigados a aprender os 
sinais não para ideias e ações que querem expressar, mas pelos sons fonéticos em 
inglês que não podem ouvir. (SACKS, 1990, p.47) 
 
Foi na década de 1990 que avançamos para o bilinguismo, abordagem essa que 
utiliza da Libras como primeira língua para o surdo e o português, na modalidade escrita, 
como segunda língua. 
 
 
 
 As duas primeiras fases constituem grande parte da história da educação dos 
surdos no Brasil e no mundo. Segundo Quadros (1997) as comunidades surdas já 
despertaram e perceberam que foram muito prejudicadas com as propostas de ensino 
desenvolvidas até e sabem da importância e do valor da sua língua, isto é, a LIBRAS. 
Assim, a educação de surdos no Brasil entrou na terceira fase na direção de uma proposta 
de educação bilíngue. 
 
 
4 Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa como L2 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 
Para além da questão da língua, portanto, o bilinguismo na educação de surdos 
representa questões políticas, sociais e culturais. Nesse sentido, a educação de 
surdos em uma perspectiva bilíngue deve ter um currículo organizado em uma 
perspectiva visoespacial para garantir o acesso a todos os conteúdos escolares na 
própria língua da criança, a língua de sinais brasileira (QUADROS, 2015, p. 197) 
 
 
De acordo com Quadros (1997) o bilinguismo é uma proposta de ensino usada por 
escolas que se propõe a tornar acessível ao aluno(a) surdo duas línguas no contexto 
escolar. Os estudos apontam que essa proposta é a mais adequada para o ensino das 
crianças surdas, tendo em vista que considera a língua de sinais como a língua natural e 
parte desse pressuposto para o ensino do português na modalidade escrita como segunda 
língua. 
 
 
 
 
 “Quando eu aceito a língua de outra pessoa, eu aceito a 
pessoa. Quando eu rejeito a língua, eu rejeitei a pessoa porque a 
língua é parte de nós mesmos...” 
 (Terje Basilier, 1993) 
 
 
 
1.2 Marcos legais importantes para a Educação Bilíngue no Brasil 
 Segundo ANDRADE (2020) em 1857, no Brasil, é inaugurado, pelo professor francês 
Édouard Huet, o Instituto Imperial de Surdos-Mudos, na cidade do Rio de Janeiro. Huet, 
também surdo, sugere a criação de uma escola especializada na educação de pessoas 
surdas e Dom Pedro II aceita sua proposta. Atualmente o instituto ainda existe, com o nome 
de Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES). Esse é um marco da educação de 
surdos no Brasil. O INES acompanhou as abordagens oralista, comunicação total e 
bilinguismo de acordo com as tendências mundiais. 
 
Com essa breve contextualização histórica podemos dizer que, atualmente, falar 
sobre o surdo é também falar sobre bilinguismo, defesa sustentada, sobretudo, pelas 
conquistas legais advindas da Lei nº 10.098/2000, conhecida como a Lei de acessibilidade, 
que propõe a supressão de barreiras e de obstáculosnas vias e espaços públicos, no 
 
 
5 Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa como L2 
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mobiliário urbano, na construção e reforma de edifícios e nos meios de transporte e de 
comunicação. 
 
 Outra Lei importantíssimo é a LEI 10. 436 de 24 de abril de 2002 conhecida como 
LEI DE LIBRAS. 
 
“Art. 1o É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua 
Brasileira de Sinais - Libras e outros recursos de expressão a ela associados.” 
(BRASIL, 2002) 
 
Uma coisa importante nessa lei e que definiu a inclusão disciplina de libras em todos 
os cursos de licenciatura e fonoaudiologia. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais - 
Libras a forma de comunicação e expressão, em que o sistema linguístico de natureza 
visual-motora, com estrutura gramatical própria, constitui um sistema linguístico de 
transmissão de ideias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil. No 
Art. 4º Parágrafo único. A Língua Brasileira de Sinais - Libras não poderá substituir a 
modalidade escrita da língua portuguesa, 
 
A regulamentação da lei de libras ocorreu pelo decreto 5.626 de 22 de dezembro de 
2005. O decreto descreve o surdo como: 
 
Para os fins deste Decreto, considera-se pessoa surda aquela que, por ter perda 
auditiva, compreende e interage com o mundo por meio de experiências visuais, 
manifestando sua cultura principalmente pelo uso da Língua Brasileira de Sinais - 
Libras. (BRASIL, 2005) 
 
É importante conhecer a legislação que visa a garantida de direitos para os surdos. 
Compreendemos então que falar em bilinguismo alude à afirmação das conquistas 
linguísticas e culturais da comunidade surda. Já que, historicamente, a língua de sinais foi 
tão menosprezada e hoje se mostra indispensável para a construção cultural, de 
pertencimento à sociedade e de acesso ao conhecimento e de avanços cognitivos e 
afetivos dos sujeitos surdos. (ANDRADE, 2020). 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa como L2 
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Se a língua de sinais é uma língua natural adquirida de forma espontânea pela 
pessoa surda em contato com pessoas que usam essa língua e se a língua oral 
é adquirida de forma sistematizada, então as pessoas surdas possuem o direito 
de ser ensinadas na língua de sinais. A proposta de Educação Bilingue busca 
captar e garantir esse direito, que conforme pudemos ver foi negado ao longo 
da história. 
 
 
 
 
 
 
BRASIL. Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira 
de Sinais – Libras e dá outras providências. Diário Oficial da República 
Federativa do Brasil, Brasília, DF, 25 abr. 2002. 
 
BRASIL. Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei nº 
10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais 
– 121 Libras, e o art. 18 da Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Diário 
Oficial da União, Brasília, 23 dez. 2005. 
 
GOLDFELD, Marcia. A criança surda: linguagem e cognição numa perspectiva 
sócio-interacionista. 2ª ed. São Paulo: Plexus Editora, 2002. 
 
QUADROS, Ronice Muller de. Bilinguismo In: QUADROS, Ronice M. de. 
Educação de Surdos: a aquisição da linguagem. Porto Alegre: Artemed, 1997. 
 
QUADROS, Ronice Müller de. O “BI” em bilinguismo na educação de surdos. 
In: LODI, Ana Claudia Balieiro; MÉLO, Ana Dorziat Barbosa; FERNANDES, Eulália 
(Orgs.). Letramento, bilinguismo e educação de surdos. Porto Alegre: 
Mediação, 2015. 
 
LACERDA, Cristina BF de. Um pouco da história das diferentes abordagens na 
educação dos surdos. Cafajeste. CEDES, Campinas, v. 19, n. 46, p. 68-80, 
setembro de 1998 
 
SAKCS, Oliver. Vendo Vozes, Rio de Janeiro: Imagino, 1990. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa como L2 
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2. LIBRAS COMO L1 E O CONTEXTO DE AQUISIÇÃO 
 
Objetivo 
Contextualizar sobre a Libras enquanto L1 no contexto da educação e escola 
bilíngue. 
 
Introdução 
Como já vimos na aula anterior, para os alunos surdos, a aprendizagem da Língua 
Brasileira de Sinais – Libras como primeira língua (L1) propicia o desenvolvimento 
linguístico, cognitivo, psicológico e social tornando-os indivíduos constituídos 
integralmente, pois enquanto língua oportuniza a comunicação, a socialização, a formação 
de conceitos e a aprendizagem. O uso da língua de sinais possibilita capacidade de 
expressão dos pensamentos, de ideias e sentimentos de forma clara tanto quanto a 
aprendizagem de uma língua na modalidade oral, uma vez que exercer as mesmas funções 
que a língua falada para os usuários ouvintes (QUADROS, 1997). 
 
Traremos aqui um quadro comparativo entre a Língua Portuguesa Oral e a LIBRAS 
no que se refere a níveis linguístico, item lexical, canal de comunicação ou modalidade e 
gramática. Observe: 
 
 
 
 
8 Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa como L2 
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O próximo quadro continuamos a comparação entre as duas línguas, porém 
observando os seguintes itens: 
 
 
É importante compreender as diferenças das duas línguas para compreender que 
ambas têm sua estrutura e características e que essas devem se consideradas na hora de 
se pensar os processos de ensino e aprendizagem dos alunos de acordo com a sua língua 
natural. 
 
2.1. O processo de aquisição da língua de sinais 
Segundo Quadros (1997) muitas pesquisas desenvolvidas nos últimos anos sobre a 
aquisição da língua de sinais podem ser comparadas à aquisição das línguas orais em 
muitos sentidos. Sabendo que o processo de aquisição da Língua de Sinais é semelhante 
ao processo de aquisição da língua oral pelos ouvintes, no que se refere às fases deste 
processo. E acontece por meio de 4 estágios: 
 
 
PRÉ 
LINGUÍSTICO
0 a 1 ano de 
vida
ESTÁGIO DE 
UM SINAL
De 1 ano aos 2 
anos de idade
ESTÁGIO DAS 
PRIMEIRAS 
COMBINAÇÕES
Início aos 2 
anos de idade
ESTÁGIO DAS 
MÚLTIPLAS 
COMBINAÇÕES 
Por volta dos 2 
anos e meio
 
 
9 Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa como L2 
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No estágio pré linguístico que dura do nascimento até o primeiro ano de vida tanto 
o bebê surdo quando o ouvinte desenvolve o balbucio oral e manual. Com o tempo, o bebê 
surdo vai deixando o balbucio oral e o ouvinte vai abandonando o balbucio manual. O bebê 
ouvinte tem a capacidade linguística em oral auditiva pelos estímulos da fala das pessoas 
que o cerca, enquanto o bebê surdo na capacidade espaço visual pelos estímulos gestuais 
das pessoas que o cerca. 
 
Depois temos o estágio de um sinal iniciado por volta dos 12 meses até por volta 
dos 2 anos. Nesse estágio a criança surda começa a visualizar a ação de apontar 
inicialmente gestual (pré-linguística) agora como elemento do sistema gramatical da Língua 
(linguístico). É neste estágio que ela inicia as primeiras produções, na Língua de Sinais, 
assim como a criança ouvinte começa a pronunciar as primeiras palavras. 
 
Na sequência temos o estágio das primeiras combinações que inicia- se por volta 
dos 2 anos de idade e quando a criança surda começa a ordenar palavras para estabelecer 
relações gramaticais como: 
 
• SV (sujeito-verbo)  Comer ovo comer  Eu quero comer ovo. 
• VO (verbo-objeto)  Ovo ver  Eu quero ver ovo. 
• ou SVO (sujeito – verbo - objeto)  João comer ovo quer  Eu quero comer ovo 
 
O último estágio trazido de acordo com Quadros (1997) é o das múltiplas 
combinações que começa por volta dos 2 anos e 6 meses. A criança surda comete os 
mesmos erros gramaticais na Língua de Sinais que a criança ouvinte comete na Língua 
Oral, como exemplo é o caso da flexão verbal. Exemplo: “eu gosti” (língua oral) fala do 
ouvinte que será representada da mesma forma na Língua de Sinais. 
 
Esses 4 estágios se dão quando a criança surda temcontato com a libras desde o 
seu nascimento. O que acontece é que muitas crianças surdas são filhas de pais ouvintes 
que na maioria das vezes não ofertam a Libras para as crianças. 
 
Observe a figura abaixo e entenda e reflita sobre a importância de a criança surda 
ter contato com a LIBRAS desde cedo. 
 
 
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O processo de aquisição da língua de sinais deve ocorrer de forma natural como 
acontece com as crianças ouvintes na aquisição da língua oral, pela interação com o meio 
social. Geralmente as crianças surdas, filhos de pais ouvintes não adquirem a L1 (Língua 
de Sinais) espontaneamente, pois os pais se dirigirem ao filho (a) surdo por gestos para 
suprir a necessidade da criança surda e/ou interagem por meio da língua oral. Fizemos um 
organograma para exemplificar o processo de aquisição tardia da Libras: 
 
Quando a criança surda tem acesso a apenas a língua oral e a gesticulação de sinais 
caseiros isso leva a um processo de aquisição tardia da L1. Considerando essas questões 
muitas crianças passam pelo processo de aquisição tardia, que se aplica àqueles que não 
adquiriram a língua de sinais no período comum de aquisição da linguagem. Segundo 
Chomsky (1981) mesmo assim, a criança é capaz de, a partir de estímulos, atingir uma 
língua com todas as possibilidades que apresenta. 
 
As próprias crianças desenvolvem um sistema gestual individual enquanto sistema 
de comunicação conhecido como “sinais caseiros” para utilizar com sua família. O que 
Língua oral
Gesticulação 
- Sinais 
caseiros
Aquisição 
tardia da L1
Fonte: http://aeeufc-2013.blogspot.com/2014/03/oralismiocomunicacao-total-e-bilinguismo.html 
 
 
11 Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa como L2 
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restringe a comunicação e a dificulta entre os pares surdos. Os sinais caseiros são um 
sistema linguístico incompleto – propriedades essenciais das línguas humanas. 
 
Nos casos mais extremos de privação linguística e privação social envolvem 
comprometimentos não apenas linguísticos, mas cognitivos e neste sentido a Escola 
Bilíngue pode e deve ser um espaço para que os surdos possam desenvolver sua língua 
natural, no caso a Libras. 
 
2.2. Libras e a escola bilíngue: 
A língua de sinais ocupa o espaço de primeira língua (L1), visto que se configura 
como a língua mais acessível aos surdos, pois seu processo de aquisição acontece sem 
impedimentos fisiológicos e sua apropriação também contribui para o desenvolvimento 
cognitivo das crianças surdas. 
 
É fundamental que as crianças surdas tenham acesso à LIBRAS durante o período 
escolar, pois as oportunidades de acesso à LIBRAS são, infelizmente, escassas. Por isso 
também é importante que as escolas bilíngues tenham instrutores surdos para que os 
alunos tenham contato com a cultural e comunidade surda. As crianças surdas filhos de 
pais ouvintes, por vezes, podem ter acesso a Libras e a cultura surda na escola bilíngue. 
 
Para fechar essa reflexão trazemos a seguinte citação: 
 
“Senti-me consternado ao descobrir quantos surdos nunca adquire as faculdades 
da linguagem – ou pensamento- e como uma vida medíocre pode lhes estar 
reservada.” (SACKS, 1989, p.10) 
 
Para o surdo o não acesso a língua de sinais pode ser extremamente excludente e 
ruim para o seu desenvolvimento, por isso é muito importante que a Libras seja ofertada 
para a criança surda em todos os seus contextos sociais: 
 
 
 
12 Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa como L2 
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Sendo assim, oportunizar aquisição da LIBRAS, oferecer modelos bilíngues e 
bicultural à criança e oportunizar a aproximação da cultura especifica da 
comunidade surda; 
 
 
 
 
 
CAPOVILLA, F. C; RAPHAEL, W. D. Dicionário enciclopédico ilustrado trilíngue 
da língua de sinais brasileira. 2ª ed., SP: EDUSP; Imprensa Oficial do Estado, 
2001. 
 
GIUSEPPE, Rinaldi et al, Deficiência Auditiva. Brasília: SEESP, 1997 
QUADROS, Ronice Muller de. Bilinguismo In: QUADROS, Ronice M. de. 
Educação de Surdos: a aquisição da linguagem. Porto Alegre: Artemed, 1997. 
 
QUADROS, Ronice Mulller de; PIZZIO, Aline Lemos. Aquisição da Língua de 
Sinais. Florianópolis, 2011 
 
 
 
 
 
 
13 Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa como L2 
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3. LÍNGUA PORTUGUESA NA MODALIDADE ESCRITA COMO L2 E O 
CONTEXTO DA AQUISIÇÃO 
 
Objetivo 
O objetivo desta aula é falar sobre a escola bilíngue e o ensino de português na 
modalidade escrita como L2. Ao longo da disciplina falaremos mais detalhadamente de 
cada item abordado brevemente nesta aula. 
 
Introdução 
Para um aprendizado satisfatório da Língua Portuguesa escrita, faz-se necessário 
que a metodologia usada pelos professores seja diferenciada no sentido de metodologia 
própria de segunda língua, uma vez que existem diferenças expressivas entre a Língua 
Portuguesa a Libras, já que a primeira é oral-auditiva e a segunda é espaço-visual. 
(QUADROS e SCHMIEDT, 2006) 
 
De acordo com Quadros (1997) nem todas as crianças chegam à escola com uma 
língua bem estruturada. Além disso, nem todas as crianças surdas chegam à escola 
sabendo a língua de sinais, pois apenas 5% das crianças surdas são filhos de pais surdos 
os quais inserem os filhos dentro de contextos em que a Libras é usada cotidianamente. 
Mas os outros 95% de crianças surdas são filhos de ouvintes que muitas vezes não expõem 
os filhos em contato com a Libras. Nesse sentido, é fundamental o contato da criança surda 
com os adultos surdos nas escolas bilíngues para que haja um input linguístico favorável 
para uma imersão e contato natural com a Libras e, consequentemente, um maior 
desenvolvimento na Língua Portuguesa escrita. 
 
Nesta aula traremos a concepção socioantropológica que compreende a 
comunidade surda como uma comunidade minoritária que partilha uma língua de sinais, 
valores culturais, hábitos e modos de socialização próprios (SKLIAR, 1997). Cabe destacar 
que para a comunidade surda, existe uma cultura diferente e não uma cultura inferior. A 
perspectiva é olhar para a diversidade cultural de maneira qualitativa e não quantitativa. A 
grande diferença entre a cultura surda e a ouvinte caracterizada principalmente pela forma 
de acesso ao mundo: no caso dos surdos se dá pela visão. 
 
 
 
 
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3.1. Língua Portuguesa como L2 na escola bilíngue 
Segundo Quadros (1997) a aquisição da LIBRAS como L1 precisa ser assegurada 
para realizar um trabalho sistemático com a L2. A necessidade formal do ensino da língua 
portuguesa evidência que essa língua é, por excelência, uma segunda língua para a pessoa 
surda. 
 
O ensino da Língua Portuguesa, preferencialmente na modalidade escrita, como 
segunda língua, justifica-se por ser aquela que circula no país e está presente em todas as 
esferas sociais, tornando-se necessária para que os surdos, entre outros aspectos tenham 
acesso aos conhecimentos historicamente construídos pela humanidade que se encontram 
preservados por meio da escrita. (CARVALHO et. al, 2019). 
 
 
 
Sendo assim, a educação bilíngue para surdos se caracteriza, na atualidade, 
como a filosofia educacional mais adequada, pois respeita a condição da 
pessoa surda e sua experiência visual como constituidora de cultura singular, 
sem, contudo, desconsiderar a necessária aprendizagem escolar do português. 
 
 
A LP ocupa o espaço de segunda língua, tendo em vista que é geralmente adquirida 
após a língua de sinais, por meio de um processo sistemático vivenciado em instituições de 
ensino. É importante destacar que a aprendizagem dessa língua (LP) ocorre em sua 
modalidade escrita.Diante disso, as pesquisas científicas se dedicam a esclarecer os aspectos 
envolvidos no processo de ensino e aprendizagem de LP escrita para surdos e, dessa 
forma, contribuir para diminuir as barreiras linguísticas existentes. 
 
Quadros (1997) traz 3 formas basicamente de aquisição da L2: 
 
 A-) A aquisição simultânea da L1 e da L2  Filhos de país que usam uma língua 
diferente da comunidade onde vivem, ouvintes filhos de surdos; 
 B-) A aquisição espontânea da L2 não simultânea  Passa a morar em outro 
país onde a língua usada é outra; 
 
 
15 Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa como L2 
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 C-) A aprendizagem da L2 de forma sistemática  escolas de língua estrangeira; 
A aquisição da L2 ocorre em um ambiente artificial e de forma sistemática, 
observando metodologias de ensino. 
 
Considerando a aquisição da L2 por crianças surdas, as duas primeiras formas 
parecem não se possível de serem aplicadas. A e B não se aplica. A criança surda vive 
em uma comunidade que usa outra língua, porém ela não ouve a língua usada. 
 
Os surdos poderiam se enquadrar nas formas A e B, mas envolvendo outra língua 
de sinais. Ex: um surdo que domina a LIBRAS vai morar nos EUA e começa a aprender a 
Língua de sinais por lá. 
 
A opção C -> retrata a aquisição da L2 pelos surdos da Língua Portuguesa 
modalidade escrita. Cabe a escola bilíngue promover a aprendizagem sistematizada da 
Língua Portuguesa na modalidade escrita; 
 
No caso da comunidade surda, a L1 é essencial – as crianças surdas precisam ter 
acesso a língua de sinais para garantir o desenvolvimento da linguagem e, 
consequentemente, do pensamento. “E a L2 é necessária – pois os alunos surdos precisam 
dominar para fazer valer seus direitos diante da sociedade ouvinte.” (QUADROS, 1997, 
p.85) 
 
QUADROS (1997) traz 3 características da interação no ambiente linguístico em que 
ocorre o processo de aquisição de L2: 
 
 INPUT (Recepção) 
 OUTPUT (Produção) 
 FEEDBACK (e a reação oferecida na conversação diante da produção do aluno). 
 
 
16 Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa como L2 
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Elaboramos um organograma para facilitar a compreensão das 3 etapas: 
 
 A otimização da interação envolve a quantidade e qualidade do input, output e do 
feedback e destacamos também que além da técnica gramatical a importância da função 
social da língua portuguesa na modalidade escrita. 
 
É importante que os INPUT sejam planejados de maneira autêntica e diversificado. 
Por meio da “leitura” de contos na língua de sinais, da observação de vídeos, da aparição 
reiterada de certas estruturas sintáticas que figuram na literatura infantil, a criança surda 
vai progressivamente relacionando o significado do que percebe visualmente com as 
grafias que encontra no livro (MACCHI & VEINBERG, 2005). 
 
Sobre os principais desafios para se pensar o processo de aquisição da língua 
portuguesa como L2 pelos alunos surdos: 
 Não é uma língua natural do surdo 
 Diferença das modalidades das línguas e vias de discriminação perceptiva: 
 
 
 
 
17 Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa como L2 
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Conforme representado graficamente acima, ao se pensar o processo de ensino da 
língua portuguesa na modalidade para os alunos surdos é fundamental considerarmos que 
sua língua natural, diferentemente dos ouvintes, é gestual e visual e não oral e auditiva. 
Isso é primordial ser levado em conta para se pensar as metodologias de ensino da Língua 
Portuguesa como L2 para os alunos surdos. 
 
Trazemos abaixo graficamente as diferenças para ouvintes e surdos no processo de 
aprendizagem da língua portuguesa na modalidade escrita: 
 
 
 
É relevante também destacar como se dá a relação entre as duas línguas e a 
maneira como essa relação é o que leva a produção escrita dos alunos surdos. Conforme 
já vimos, é fundamental considerar essa relação e a especificidade comunicativa dos 
surdos para se pensar o processo de ensino da língua portuguesa na modalidade escrita. 
 
Espacial 
visual
L1
Gráfica 
visual
L2
Produção 
escrita
 
 
18 Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa como L2 
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Considerando essa relação entre as duas línguas podemos definir que o processo 
da língua portuguesa como L2 para os surdos é necessário considerar a intersecção de 
três questões importantes: a libras como L1, a Leitura (utilizando a libras) e a Interação 
comunicativa, ou seja, a função social das produções escritas. 
 
 
Estruturalmente falando, as línguas L1 e L2 são diferentes, como podemos 
exemplificar que L1 é de aquisição espontânea e essencial em ambiente natural de forma 
adquirida e não aprendida. Já L2 é proporcionada ao indivíduo a aprendizagem em um 
ambiente formal. O indivíduo precisa de um espaço formal para aprender essa segunda 
língua e nesse caso será a escola onde necessitará de professores especializados e uma 
metodologia diferenciada para que o sujeito surdo se aproprie de forma sólida. 
 
 
 
 
FERNANDES, S. Letramentos na educação bilíngue para surdos. In: BERBERIAN, 
A.P.; MORI-DE ANGELIS, C.; MASSI, G. (Orgs.). Letramento – referências em 
saúde e educação. São Paulo: Plexus Editora, 2006, p. 117-144. 
 
FERREIRO, E. Reflexões sobre alfabetização. São Paulo: Cortez, 1995. LEMOS, 
C.T.G. Sobre a aquisição da escrita: algumas questões. In: ROJO, R. (Org.). 
Alfabetização e letramento. Campinas, SP: Mercado de Letras, 1998, p. 13-31. 
 
L1
Interação 
comunicativa
Leitura
 
 
19 Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa como L2 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
LEMOS, C.T.G. Prefácio. In: TEBEROSKY, A. Psicopedagogia da linguagem 
escrita. 9. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001, p. 7-10. 
 
 MACCHI, M.; VEINBERG, S. Estratégias de prealfabetización para niños 
sordos. Buenos Aires: Centro de Publicaciones Educativas y Material Didáctico, 
2005. 
 
MAYRINK-SABINSON, M. L. Reflexões sobre o processo de aquisição da escrita. 
In: ROJO, R. (Org.). Alfabetização e letramento. Campinas, SP: Mercado de 
Letras, 1998, p. 87-120. 
 
PEREIRA, M. C. C.; NAKASATO, R. Q. Aquisição do discurso narrativo em Língua 
Brasileira de Sinais. In: LAMPRECHT, R. (Org.). Aquisição da Linguagem: 
estudos recentes no Brasil. Porto Alegre, R.S.: EDIPUCRS, 2011, p. 201-212 
QUADROS, Ronice Muller de. Aquisição de L2: o contexto da pessoa surda. In: 
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE LINGÜÍSTICA, 1996, Porto Alegre. 
 
SKLIAR, C. Uma perspectiva sócio-histórica sobre a psicologia e a educação dos 
surdos. In: SKLIAR, C. (Org.). Educação e exclusão. Porto Alegre: Ed. Mediação, 
1997, p. 105-153. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
20 Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa como L2 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
4. FASES INICIAIS DA LÍNGUA PORTUGUESA NA MODALIDADE 
ESCRITA COMO L2 (INPUT E OUTPUT) 
 
Objetivo 
Nessa aula teremos como objetivo compreender o processo de 
aquisição/aprendizagem da língua portuguesa como segunda língua para surdos, na 
modalidade escrita, considerando as diferenças sintáticas, morfológicas e textuais entre a 
língua portuguesa e a língua brasileira de sinais. Destacaremos nessa aula o INPUT e 
OUTPUT. 
 
Introdução 
Considerando que a aquisição da linguagem escrita pelos alunos surdos tem sido 
motivo de grande preocupação para professores que trabalham com eles. 
 
Sabendo que existem diversos questionamentos a respeito das estratégias 
metodológicas a serem utilizadas na produção de textos escritos e, também, em relação 
aos critérios que devem ser considerados no momento da avaliação desses alunos. Se faz 
importante estudarmos as metodologia e propostas que vem sendo desenvolvida pensando 
na aprendizagem da língua portuguesa na modalidade escritacomo L2. 
 
Encontrar um método ideal para que pessoas surdas consigam escrever, seguindo 
as normas da Língua Portuguesa, tem suscitado incontáveis discussões entre os 
estudiosos do ramo, considerando os desafios que envolve esse processo. 
 
4.1. A aquisição da Língua Portuguesa como l2 para surdos 
Como já foi visto na aula anterior a autora QUADROS (1997) traz 3 características 
da interação no ambiente linguístico em que ocorre o processo de aquisição de L2: 
 
 INPUT (Recepção) 
 OUTPUT (Produção) 
 FEEDBACK (e a reação oferecida na conversação diante da produção do aluno) 
 
 
21 Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa como L2 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Nesta aula, traremos mais detalhadamente o que se refere ao INPUT (Recepção) e ao 
OUTPUT (Produção) 
 
 
Pensando no INPUT é necessário que o professor oportunize boas situações e 
vivências ao que se refere à Língua Portuguesa na modalidade escrita, ele precisa 
repertoriar os seus alunos nessa língua. Trazer histórias, jornais e diferentes gêneros 
textuais para que os alunos possam ir vivenciando a língua em sua modalidade escrita 
dentro de um contexto social. 
 
Será possível levar os alunos à produção escrita, considerando o conhecimento do 
tema anteriormente discutido em Libras, a realização de discussões para se conhecer o 
posicionamento dos alunos e o conhecimento do gênero que será trabalhado. É importante 
estimular a ampliação de repertório de língua portuguesa na modalidade escrita dos alunos 
utilizando diferentes gênero e tendo a libras como mediadora do processo. 
 
No que se refere ao OUTPUT temos as produções escritas dos alunos. Por meio da 
língua de sinais, as crianças surdas terão acesso ao conteúdo do texto (Input) e de 
diferentes gêneros textuais. No entanto, é fundamental que elas possam visualizar o texto 
e que o professor estabeleça relações entre o texto escrito e o expresso na língua de sinais, 
uma vez que assim serão inseridas no funcionamento linguístico-discursivo da língua 
portuguesa e poderão elaborar suas hipóteses sobre a escrita. Abaixo trazemos um 
exemplo de OUTPUT e como o professor respeito a produção do aluno, considerando o 
processo que o aluno se encontra de produção na L2. 
 
 
22 Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa como L2 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 
 
Fonte: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1984-63982014000400009 
 
Na produção acima, segundo as autoras STREIECHEN e KRAUSE-LEMKE (2014) 
foi utilizada a seguinte técnica: os alunos assistiram em libras ao vídeo: “A Lebre e a 
Tartaruga”. No decorrer da discussão a professora registrava o nome dos personagens da 
história no quadro. Os alunos contaram a história e fizeram a dramatização. Em seguida, 
desenharam os personagens e elaboraram o texto. Ao analisar o texto, pode-se observar 
que o aluno descreveu apenas as partes que julgou mais importantes da história e, 
certamente, as que ele lembrou. Esse aluno demonstrou, em sua escrita, certo domínio no 
uso da pontuação, pronomes, conjugação verbal, concordância entre outros elementos. 
Não deixou de colocar a sua opinião em relação à sua preferência pela tartaruga - “Eu gosto 
Tartaruga” (linha 2). Na linha 3, ele escreve “já” colocando entre aspas para indicar a hora 
em que a raposa (juiz) abaixa a mão para dar início à corrida. (STREICHEN e 
KRAUSELEMKE, 2014, p20) 
 
 
 
 
Segundo QUADROS (1999) é muito importante que os alunos surdos precisam 
tornar-se leitores na língua de sinais para se tornarem leitores na língua 
portuguesa. 
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1984-63982014000400009
 
 
23 Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa como L2 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
4.2. Possibilidades e estratégias para o ensino de língua portuguesa na 
modalidade escrita como L2. 
Segundo QUADROS (1999) o ambiente do ensino da língua portuguesa - L2 - para 
surdos, por envolver o ambiente escolar e o ensino de língua, caracteriza um ambiente não 
natural de língua. Pensando na realidade dos surdos brasileiros, poder-se-ia supor que o 
ambiente fosse caracterizado como natural, pois quase todas as pessoas com quem eles 
convivem usam a língua portuguesa, isto é, os surdos estão “imersos” no ambiente em que 
a língua é “falada”. No entanto, a condição física das pessoas surdas não lhes permite o 
acesso à língua portuguesa de forma natural. Na verdade, nestes casos não há “imersão”, 
no sentido em que o termo é empregado nas propostas de aquisição de L2 com base no 
enfoque natural (programas de imersão). Portanto, o ambiente de aquisição/aprendizagem 
da L2 para os surdos é não natural. 
 
É importante oferecer ao aluno surdo um input qualitativamente compreensível, 
autêntico e diversificado. Um input acessível, sem deixar de ser complexo o suficiente para 
desafiar o aluno a desenvolver seu processo de aquisição, exige que sejam promovidas 
discussões prévias sobre o assunto abordado em Libras. Além de ser compreensível, o 
input deve ser autêntico e diversificado, ou seja, os alunos precisam estar diante de 
verdadeiros textos (muitos profissionais simplificam textos tornando-os não autênticos) e 
com topologia diferenciadas. Outro aspecto abordado sobre o input é a quantidade em que 
ele é oferecido ao aluno. Considerando que o input da L2 é basicamente visual para os 
surdos, é imprescindível ampliar o tempo depreendido para o contato com a L2. O aluno 
deve ter oportunidade de interagir com o português escrito de várias formas e em todos os 
momentos em que for propício. (QUADROS, 1999) 
 
Neste sentido, como a escola pode pensar os input e estratégias para o ensino da 
língua portuguesa na modalidade escrita como L2 para os alunos surdos. Traremos aqui 
algumas sugestões que foram explanadas na videoaula. Segue algumas sugestões que 
foram retiradas do texto: “Abordagem Bilíngue na escolarização de pessoas com surdez” 
do MEC. (BRASIL, 2010) 
 
Para fases iniciais de aprendizado da Língua Portuguesa: 
 Expressão corporal; 
 Expressão artístico-cultural; 
 
 
24 Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa como L2 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 Dramatização 
 Contextualização de situações vividas; 
 Aula-passeio; 
 Sessão de filmes. 
 
Para a leitura: 
 Leitura de ícones, sinais, índices, símbolos e signos linguísticos; l Leitura visual 
de imagens; 
 Leitura de texto escrito: texto - frases - palavras - sílabas - letras; 
 Interpretação/compreensão por meio do desenho; 
 Interpretação/compreensão por meio da escrita: aplicação das condições de 
produção dos gêneros textuais e discursivos. 
 
Para a escrita: 
 Do desenho à palavra - da palavra ao desenho; 
 Da frase ao desenho - do desenho à frase; 
 Do texto ao desenho - do desenho ao texto; 
 Escrita de diferentes gêneros textuais. 
 
Para descoberta da escrita: 
 linguagens lúdicas: 
 Brincadeiras; 
 Jogos interativos; 
 Testes-problema; 
 Jogos eletrônicos; 
 Informática; 
 Livros. 
 
Para desenvolver o léxico: estudos ortográficos e do sentido das palavras em 
diferentes contextos: 
 Propor atividades de escrita contextualizada, ou seja, a partir de um dado 
assunto (aprender a escrever com sentido e não apenas desenhar palavras); 
 Contextualizar o uso do léxico (das palavras) da Língua Portuguesa escrita em 
várias situações diferentes (manga de camisa, manga fruta e outras). 
 
 
25 Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa como L2 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 
Para a produção de textos escritos em português: 
 Cultivar no aluno com surdez o processo de criar signos, para interagir com 
outras pessoas por meio da produção de textos escritos - bilhetes, cartas etc. 
(BRASIL, 2010, pg.20-21) 
 
 
 
 A escola tem uma contribuiçãomuito importante na inclusão da pessoa com 
surdez na sociedade e, nesse sentido, o aprendizado do Português escrito tem 
a sua parte, por ser mais um instrumento que essa pessoa terá para se integrar 
à sociedade. O ensino do Português escrito não restringe à alfabetização das 
pessoas com surdez, portanto, todos os níveis de letramento, desde o início 
do aprendizado até o ensino superior precisam ser desenvolvidos e, nesse 
sentido, o ensino da língua portuguesa escrita na escola bilíngue é 
indispensável. (BRASIL, 2010) 
 
 
 
 
BRASIL. Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira 
de Sinais – Libras e dá outras providências. Diário Oficial da República 
Federativa do Brasil, Brasília, DF, 25 abr. 2002. 
 
BRASIL,MEC. A educação especial na perspectiva da inclusão escolar: 
abordagem Bilíngue na escolarização de pessoas com surdez. Ministério da 
educação; Secretaria da educação Especial, Brasília, 2010. 
 
QUADROS, Ronice Muller de. Aquisição de L2: o contexto da pessoa surda. In: 
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE LINGÜÍSTICA, 1996, Porto Alegre. Anais do 
III SeminárioInternacional e Linguística. Porto Alegre: Gráfica Epecê, 1999. v.1. 
p.67-74 
 
STREIECHEN, ELIZIANE MANOSSO; KRAUSE-LEMKE, CIBELE. Análise da 
produção escrita de surdos alfabetizados com proposta bilíngue: implicações 
para a prática pedagógica. Revista Brasileira de Linguística Aplicada, v. 14, p. 
957-986, 2014. 
 
 
 
 
 
 
 
26 Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa como L2 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
5. ESTRATÉGIAS FACILITADORAS DE INTERVENÇÃO PARA O 
PROFESSOR (FEEDBACK) 
 
Objetivo 
Nessa aula teremos como objetivo continuar o processo de compreensão sobre a 
aquisição/aprendizagem da língua portuguesa como segunda língua para surdos, na 
modalidade escrita, considerando as diferenças sintáticas, morfológicas e textuais entre a 
língua portuguesa e a língua brasileira de sinais. Destacaremos nessa aula a etapa do 
FEEDBACK e a intervenção do professor nesse processo. 
 
Introdução 
Pensar e construir uma prática pedagógica que assuma a abordagem bilíngue e se 
volte para o desenvolvimento das potencialidades das pessoas com surdez na escola é 
fazer com que esta instituição esteja preparada para compreender cada pessoa em suas 
potencialidades, singularidades e diferenças e em seus contextos de vida. (BRASIL, 2010) 
 
Na abordagem bilíngue, a Libras e a Língua Portuguesa, em suas variantes de uso 
padrão, quando ensinadas no âmbito escolar, são deslocadas de seus lugares 
especificamente linguísticos e devem ser tomadas em seus componentes histórico-cultural, 
textual e pragmático, além de seus aspectos formais, envolvendo a fonologia, morfologia, 
sintaxe, léxico e semântica. Para que isso ocorra, não se discute o bilinguismo com olhar 
fronteiriço ou territorializado, pois a pessoa com surdez não é estrangeira em seu próprio 
país, embora possa ser usuária da Libras, um sistema linguístico com características e 
status próprios. (BRASIL, 2010) 
 
Considerando essa questões, nesta aula vamos refletir de quais maneiras podemos 
pensar e qualificar o processo de FEEDBACK realizado pelos professores das produções 
escritas dos alunos surdos. 
 
5.1. O feedback e o papel do professor 
Como já foi visto na aula anterior a autora QUADROS (1997) traz 3 características 
da interação no ambiente linguístico em que ocorre o processo de aquisição de L2: 
 INPUT (Recepção) 
 OUTPUT (Produção) 
 
 
27 Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa como L2 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 FEEDBACK (e a reação oferecida na conversação diante da produção do aluno) 
 
Nesta aula, traremos mais detalhadamente o que se refere ao processo de 
FEEDBACK. O feedback refere-se à intervenção do professor nas produções escritas dos 
alunos, buscando auxiliar no processo de qualificação e aprendizagem dos alunos. O 
professor tem a tarefa de viabilizar o acesso dos alunos surdos ao universo dos textos que 
circulam socialmente e ensinar a produzi-los. Desta forma, o aluno surdo poderá aprender 
o sistema da língua, bem como ampliar seu conhecimento letrado. 
 
Segundo Fernandes (2007) se faz necessário por parte do professor um olhar 
diferenciado nas produções escritas de alunos surdos é ponto de partida para concretizar, 
na prática, o diálogo com as diferenças, respeitando as possibilidades e limitações de seu 
aluno, para valorização de sua identidade surda. 
 
Por vezes, acredita-se que basta escrever uma palavra no papel para que o surdo 
entenda o que se está falando, o que já vimos que não é verdade. Isso se deve ao fato de 
que as pessoas ouvintes aprendem ouvindo e associam o som ao objeto ou à coisa que se 
fala. A pessoa ouvinte também associa a palavra silabicamente à imagem, o que se 
aprende a fazer desde criança. O mesmo não acontece com o surdo, pois para este é como 
se tivesse em sua mente apenas a imagem das coisas que vê, buscando relacionar esta 
imagem ao sinal e às palavras para gerar sua escrita. 
 
Na nossa videoaula explanamos sobre os mitos que envolvem os alunos com surdez 
e aqui iremos descrever brevemente apenas: 
• Preciso gritar com o aluno surdo; 
 
 
28 Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa como L2 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
• Se não sei Libras, não posso usar gestos na comunicação; 
• A pessoa surda não é capaz de oralizar – “surdo mudo”; 
• A intérprete ensina a Língua de sinais; 
• A Libras é universal; 
• Língua e linguagem de sinais tem o mesmo significado; 
• Com o dispositivo auditivo não precisam mais de Língua de sinais; 
 
Pensando em algumas estratégias que a escola pode adotar para pensar o processo 
de educação dos surdos temos: 
• Vínculo; 
• O melhor lugar é a carteira do meio e a frente, isto lhe garante a leitura labial, 
além de afastá-lo de barreiras visuais– como portas, janelas e paredes; 
• Falar sempre de frente, calmamente, sem gritar; 
• Articular naturalmente. 
 
E sobre as mediações que o professor pode e deve realizar temos: 
• Conteúdo em Libras (Intérprete ou professor bilíngue); 
• Curso de Libras para os alunos e parceiros ouvintes; 
• Sinalização do espaço escolar; 
• Utilizar recursos cênicos; 
• Considerar as vivências; 
• Contextualização; 
• Organizar pequenos grupos para estimular a cooperação e a comunicação entre 
os alunos; 
• Seguir instrumentos de uma Educação Bilíngue. 
 
Sobre o modelo bilíngue o que se tem definido é que a L1 será a Libras e a L2 a 
língua portuguesa na modalidade escrita e dentro disso deve-se ter garantido algumas 
coisas: Intérpretes de Libras, salas bilíngues, instrutores surdos, professores bilíngues e 
atendimento Educacional Especializado nas Salas de Recursos para pessoa com surdez 
no contra turno. 
 
Algumas redes de ensino optam pelo formato de Polo bilíngue, onde todos os alunos 
surdos da rede são encaminhados para uma unidade escolar e nesta unidade se tem: 
Instrutores Surdos, Intérpretes de Libras e professores bilíngues. A organização pode 
 
 
29 Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa como L2 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
mudar de uma rede para a outra, mas é importante garantir que o quadro de funcionário 
tenha o formato sugerido (instrutores surdos, professores bilíngues e intérpretes), que se 
tenha o atendimento educacional especializado em sala de recursos no contra turno e 
também que aula de libras para toda a comunidade escolar e familiares dos alunos. 
 
Outras redes de ensino optam pelo formato de sala bilíngue, nela os alunos surdos 
ficam nas salas bilíngues com professores bilíngues, intérpretes e instrutores surdos. Em 
algumas aulas os alunos surdos frequentam junto com os ouvintes e os intérpretes fazem 
a tradução para libras do que for dito, geralmente são as aulas de educação física, 
informática e artes. Neste formatotambém se oferta o Atendimento Educacional 
Especializado no contra turno e aulas de libras para toda a comunidade escolar e familiares 
dos alunos. 
 
A autora Quadros (1997) relata que as formas de se pensar o bilinguismo são 
influenciadas por fatores de ordem ideológica e filosófica e que a opção que a escola fizer 
requererá muita reflexão sobre as razões, objetivos e finalidades do tipo de proposta 
educacional adotada. Consideramos importante ter e considerar os surdos nas tomadas de 
decisões. 
 
Na videoaula abordamos algumas possíveis estratégias para o processo de 
aquisição dos alunos surdos da língua portuguesa na modalidade escrita. Nas fotos abaixo 
pensamos em diferentes recursos visuais (artigos, figuras e sinais/ libras) para apoiar o 
processo de escrita dos alunos surdos: 
 
 
30 Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa como L2 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Fonte: Arquivo pessoal da professora 
 
Nas propostas aqui trazidas, cabe destacar que a história foi contada aos alunos 
antes em libras. Traremos agora mais uma estratégia para alunos da Educação Infantil que 
se encontram em fase inicial de alfabetização. Trabalhamos com o projeto folclore e 
utilizamos fotos dos próprios alunos fazendo os sinais dos personagens, além da figura e 
do nome escrito dos personagens. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Fonte: Arquivo pessoal da professora 
 
 
31 Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa como L2 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Ao longo dessa aula pudemos notar que professores e pessoas que se relacionam 
com surdos precisam considerar que estão lidando com sujeitos que falam outra língua e, 
por isso, buscar entender as diferenças linguísticas e as peculiaridades de sua escrita. 
 
Todo professor envolvido com a Educação de surdos precisa ter noções mínimas de 
como agir frente a esse aluno, conhecer suas especificidades, sua cultura e reconhecer seu 
direito constitucional de aprender os conteúdos escolares, sem ser discriminado. E é 
justamente nessa perspectiva que deve ser pensado o processo de feedback das 
produções escritas dos alunos. 
 
 
 
 
BRASIL, MEC. A educação especial na perspectiva da inclusão escolar: 
abordagem Bilíngue na escolarização de pessoas com surdez. Ministério da 
educação; Secretaria da educação Especial, Brasília, 2010. 
 
FERNANDES, S. Educação bilíngue para surdos: desafios à inclusão. Curitiba: 
SEED/SUED/DEE, 2006. 
 
QUADROS, Ronice Muller de. Bilinguismo In: QUADROS, Ronice M. de. 
Educação de Surdos: a aquisição da linguagem. Porto Alegre: Artemed, 1997. 
 
QUADROS, Ronice Müller de. O “BI” em bilinguismo na educação de surdos. 
In: LODI, Ana Claudia Balieiro; MÉLO, Ana Dorziat Barbosa; FERNANDES, Eulália 
(Orgs.). Letramento, bilinguismo e educação de surdos. Porto Alegre: 
Mediação, 2015. 
 
SAKCS, Oliver. Vendo Vozes, Rio de Janeiro: Imagino, 1990. 
STREIECHEN, ELIZIANE MANOSSO; KRAUSE-LEMKE, CIBELE. Análise da 
produção escrita de surdos alfabetizados com proposta bilíngue: implicações 
para a prática pedagógica. Revista Brasileira de Linguística Aplicada, v. 14, p. 
957-986, 2014. 
 
 
 
 
 
 
 
 
32 Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa como L2 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
6. PROPOSTA CURRICULAR NACIONAL DE PORTUGUÊS COMO 
SEGUNDA LÍNGUA PARA SURDOS 
 
Objetivo 
Conhecer sobre a proposta curricular nacional de português como segunda língua 
para surdos que encontra-se em elaboração no Brasil. 
 
Introdução 
Nesta aula iremos falar um pouco sobre a proposta em elaboração do currículo 
nacional de português como segunda língua para surdos. A elaboração da proposta teve 
início de 2020. A proposta de elaboração está vinculada ao MEC e é o primeiro referencial 
curricular nacional para a educação bilíngue de surdos. Trata-se da elaboração de uma 
proposta curricular nacional de português como segunda língua para surdos. Os grupos 
foram divididos para pensar a proposta curricular por etapa da educação e cada grupo vai 
pensar as especificidades de cada etapa ou modalidade. A proposta contemplará da 
educação básica (ed. infantil, Ensino fundamental I e II; Ensino médio) até o ensino 
superior. 
 
5.1. Proposta curricular nacional de português como segunda língua para 
surdos: um olhas para a noção de competência comunicativa. 
A educação bilíngue necessita estar baseado na aceitação da cultura língua da 
comunidade surda e os conteúdos devem ser trabalhados na língua nativa dos alunos, ou 
seja, na LIBRAS e a Língua portuguesa na modalidade escrita deverá ser ensinada em 
momentos específicos das aulas. 
 
A elaboração da proposta curricular nacional de português como segunda língua para 
surdos é fundamentada no desenvolvimento de competências. Os documentos que 
fundamental a elaboração da proposta são basicamente dois documentos um nacional a 
Base Nacional Comum Curricular -BNCC (BRASIL, 2017) e o Quadro Europeu comum de 
referências para as línguas - QECR (Conselho da Europa, 2001). 
 
 
 
33 Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa como L2 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 
 
 
 
A base nacional comum curricular (BNCC) e o quadro europeu comum de 
referência para as línguas (QECR) possuem em comum a noção de 
competência que a proposta curricular também defende. 
 
 
 
Traremos agora duas citações que estão presentes na BNCC e trazem a definição 
de competência para a BASE: 
 
Na BNCC, competência é definida como a mobilização de conhecimentos 
(conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e 
socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da 
vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho. 
(BRASIL,2017, p. 8) 
 
Notamos o quanto a BNCC destaca que competência tem uma relação direta com a 
mobilização de conhecimentos para resolver as demandas da vida cotidiana, pensando 
especificamente na língua portuguesa na modalidade escrita para os surdos podemos 
refletir sobre quais seria a utilização dessa L2 na vida, como eles usariam esse 
conhecimento na escola e principalmente na vida. 
 
 
 
34 Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa como L2 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Ao adotar esse enfoque, a BNCC indica que as decisões pedagógicas devem 
estar orientadas para o desenvolvimento de competências. Por meio da 
indicação clara do que os alunos devem “saber” (considerando a constituição de 
conhecimentos, habilidades, atitudes e valores) e, sobretudo, do que devem “saber 
fazer” (considerando a mobilização desses conhecimentos, habilidades, atitudes e 
valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno 
exercício da cidadania e do mundo do trabalho), a explicitação das 
competências oferece referências para o fortalecimento de ações que 
assegurem as aprendizagens essenciais definidas na BNCC. 
 (BRASIL,2017, p.13) 
 
As decisões pedagógicas dos professores referentes as propostas para ensino 
portuguesa na modalidade escrita como L2 devem ser orientadas pelo desenvolvimento de 
competências. Pensando nisso do que adianta ensinar o surdo a conjugar verbos se ele 
não sabe em quais situações reais ele precisa deste conhecimento? É fundamental 
entender as demandas da vida cotidiano que os alunos surdos vão precisar utilizar o 
português na modalidade escrita para ensiná-los. 
 
O quadro europeu comum de referência para as línguas (QECR) traz que 
Competências (conhecimentos, habilidades e características que permitem a uma pessoa 
realizar ações) gerais (saber, saber fazer, saber ser e saber aprender) e as competências 
comunicativas (linguísticas, socioculturais e pragmáticas) que permitem à pessoa atuar 
utilizando especificamente os meios linguísticos. O quadro traz 3 tipos de competências: 
 
 
Aqui vamos destacara competência comunicativa, o conceito de competência 
comunicativa tornou-se fundamental para a aquisição e o ensino de línguas porque fez com 
que as regras gramaticais saíssem do papel para se inserir no contexto em que se realiza 
a comunicação. 
 
 
35 Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa como L2 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Diferentemente da subcompetência linguística (vinculada às regras gramaticais), a 
competência comunicativa está intrinsecamente relacionada ao contexto no qual se produz 
a comunicação e tem lugar no âmbito textual e oral. 
 
Espera-se dos estudantes que saibam utilizar a língua em contexto adequado, 
transmitir e compreender as intenções comunicativas, elaborar e compreender textos orais 
e escritos ou dispor de recursos para superar as dificuldades de comunicação. 
É essa competência comunicativa que deve permear os processos de ensino e 
aprendizagem da L2 para os alunos surdos. 
 
 
 
Essas competências pensam na direção de formar surdos que sejam 
capazes de agir por meio da língua portuguesa escrita diariamente nas 
situações que serão confrontadas, ou seja, compreender a função social da 
língua portuguesa na modalidade escrita. É pensar o usa do português na 
modalidade escrita na escola e na vida. 
 
 
 
 
 
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Educação é a Base. Brasília, 
MEC/CONSED/UNDIME, 2017. Disponível: 
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versao
final_site.pdf 
 
CRUZ, Eder Barbosa. O currículo de Português como 2ª língua para crianças 
surdas In: IV Edição da Semana Acadêmica do curso de Licenciatura em 
Pedagogia Bilíngue, Libras e Português, do Instituto Federal de Santa Catarina 
Campus Palhoça Bilíngue, 2020. Disponível em: 
https://www.youtube.com/watch?v=Vqa6dKwzezA&t=37s 
 
CONSELHO DA EUROPA. Quadro comum europeu de referência para as 
línguas: aprendizagem, ensino, avaliação. Edição portuguesa. Porto: Edições 
Asa, 2001. Disponível em: 
http://area.dge.mec.pt/gramatica/Quadro_Europeu_total.pdf 
 
 
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf
https://www.youtube.com/watch?v=Vqa6dKwzezA&t=37s
http://area.dge.mec.pt/gramatica/Quadro_Europeu_total.pdf
 
 
36 Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa como L2 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
7. O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO (AEE) PARA 
SURDOS 
 
Objetivo 
Conhecer sobre o Atendimento Educacional Especializado (AEE) e as possibilidades 
de trabalho com os alunos surdos. 
 
Introdução 
O Ministério da Educação, por intermédio da Secretaria de Educação Especial, 
considerando a Constituição Federal de 1988, que estabelece o direito de todos a educação 
e a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, de 
janeiro de 2008; e o Decreto Legislativo nº 186, de julho de 2008, que ratifica a Convenção 
Sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (ONU, 2006), institui as Diretrizes 
Operacionais da Educação Especial para o Atendimento Educacional Especializado – AEE 
na educação básica, regulamentado pelo do Decreto nº 6.571, de 18 de setembro de 2008. 
 
Nesta aula falaremos sobre o que é e como funciona o atendimento educacional 
especializado e quais as possibilidades de trabalho com os alunos surdos. 
 
7.1. O Atendimento Educacional Especializado para os alunos surdos: 
Na perspectiva da Educação Especial Inclusiva, todas as pessoas têm direito 
irrestrito à educação, primando pelo acesso e pela permanência com qualidade, 
independentemente de suas condições físicas, emocionais e de saúde. 
 
De acordo com a Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da 
Educação Inclusiva (2008) é função da Educação Especial, como uma modalidade que 
perpassa por todas as etapas e níveis de ensino, disponibilizar recursos e serviços 
educacionais especializados para complementar ou suplementar a aprendizagem dos(as) 
alunos(as) com deficiência, transtorno global do desenvolvimento e altas habilidades/ 
superdotação no ensino regular. Dessa forma, o Atendimento Educacional Especializado 
(AEE) é um serviço especializado da Educação Especial na perspectiva inclusiva, o qual 
tem como objetivos eliminar as barreiras que impedem o educando com deficiência de 
acessar o currículo na sala regular, trabalhando em parceria com o professor do ensino 
regular. 
 
 
37 Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa como L2 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Na imagem a seguir podemos visualizar que a Educação Especial na perspectiva 
inclusiva perpassa todas as etapas e modalidades da educação de maneira transversal, ou 
seja, não é algo a parte, mas sim compõem junto durante todo o processo. O atendimento 
Educacional Especializado representa a educação especial na perspectiva inclusiva: 
 
Fonte: https://institutoitard.com.br/o-que-e-educacao-inclusiva-um-passo-a-passo-para-a-inclusao-escolar/ 
 
A educação especial é uma modalidade de ensino que perpassa todos os níveis, 
etapas e modalidades, realiza o atendimento educacional especializado, disponibiliza os 
recursos e serviços e orienta quanto a sua utilização no processo de ensino e aprendizagem 
nas turmas comuns do ensino regular. 
 
O atendimento educacional especializado - AEE tem como função identificar, 
elaborar e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras 
para a plena participação dos alunos, considerando suas necessidades específicas. Esse 
atendimento complementa e/ou suplementa a formação dos alunos com vistas à autonomia 
e independência na escola e fora dela. Consideram-se serviços e recursos da educação 
especial àqueles que asseguram condições de acesso ao currículo por meio da promoção 
da acessibilidade aos materiais didáticos, aos espaços e equipamentos, aos sistemas de 
comunicação e informação e ao conjunto das atividades escolares. 
 
Segundo a Política Nacional de educação especial na perspectiva inclusiva temos: 
 
https://institutoitard.com.br/o-que-e-educacao-inclusiva-um-passo-a-passo-para-a-inclusao-escolar/
 
 
38 Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa como L2 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
O atendimento educacional especializado tem como função identificar, elaborar e 
organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para 
a plena participação dos estudantes, considerando suas necessidades específicas. 
As atividades desenvolvidas no AEE diferenciam-se daquelas realizadas na sala de 
aula comum, não sendo substitutivas à escolarização. Esse atendimento 
complementa e/ou suplementa a formação dos estudantes com vistas à autonomia 
e independência na escola e fora dela. (BRASIL, 2008, p15) 
 
O AEE para alunos com surdez, na perspectiva inclusiva, estabelece como ponto de 
partida a compreensão e o reconhecimento do potencial e das capacidades dessas 
pessoas, vislumbrando o seu pleno desenvolvimento e aprendizagem. O atendimento as 
necessidades educacionais específicas desse aluno são reconhecidos e assegurados por 
dispositivos legais, que determinam o direito a uma educação bilíngue, em todo o processo 
educativo. 
 
O AEE, geralmente, se configura de duas maneiras, podendo acontecer em sala de 
recursos multifuncionais no contra turno e/ou no caráter itinerante. 
 
O AEE deve ser ofertado a todos os alunos público-alvo e respeitar as diretrizes, 
porém cada rede ou escola pode organizar da maneira que achar melhor no que se refere 
ao formato, regularidade, horário e frequência dos atendimentos. 
 
A elaboração do Plano de AEE inicia-se com o estudo das habilidades e 
necessidades educacionais específicas dos alunos com surdez, bem como das 
possibilidades e das barreiras que tais alunos encontram no processo de escolarização.Conforme Damázio (2007), o AEE envolve três momentos didático-pedagógicos: 
 
 
39 Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa como L2 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Atendimento Educacional Especializado em Libras; Atendimento Educacional 
Especializado de Libras e Atendimento Educacional Especializado de Língua Portuguesa. 
 
 
O AEE em seus três momentos visa oferece aos alunos surdos a eliminação de 
barreiras e qualificar o processo de ensino e aprendizagem deles. 
 
Na videoaula exploramos mais os sobre os três momentos do AEE, são eles: 
:AEE EM LIBRAS: ensino dos conteúdos referente ao currículo do ano ciclo do 
aluno na sala comum ou bilíngue em libras. 
Sala de recursos: Fornece a base conceitual dessa língua e do conteúdo curricular 
estudado na sala regular. 
Projeto Libras na sala regular: Complementar o ensino de Libras como segunda 
língua para ouvinte, objetiva fortalecer a comunicação entre o professor 
ouvinte/aluno surdo e o aluno ouvinte/aluno surdo, que resulta em diálogos. 
 AEE DE LIBRAS: ensino da LIBRAS (Língua) 
Sala de recursos: Ed. infantil - Estimular a comunicação em Língua de Sinais, 
favorecendo o conhecimento e a aquisição. 
Construir e estabelecer a Libras como primeira língua para o surdo, a partir da 
estrutura linguística dela, por analogia entre conceitos já existentes, de acordo com 
o domínio semântico e/ou por empréstimos lexicais. 
 AEE DE LÍNGUA PORTUGUESA ESCRITA: Ensino da língua portuguesa como 
L2. 
 
 
40 Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa como L2 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Sala de recursos: Oferta de materiais e recursos visuais para possibilitar a 
abstração dos significados de elementos e gramática da Língua Portuguesa como 
segunda língua para surdos que consiste na leitura e escrita, e não a oralidade. 
 
 
 
O Atendimento Educacional Especializado constitui esta proposta voltada aos 
alunos com surdez que visa a preparar para a individualidade e a coletividade, 
provocando um processo dialógico, de superação da imanência e a busca de 
mudanças sociais, culturais e filosóficas. Uma ruptura de fronteiras para as 
infinitas possibilidades humanas. (BRASIL, 2010) 
 
 
 
 
 
BRASIL, Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial. Política 
Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, 2008. 
 
BRASIL, Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial. Abordagem 
bilíngue na escolarização de pessoas com surdez. Brasília: MEC/SEESP/UFC, 
2010. 
 
DAMÁZIO, Mirlene Ferreira Macedo. Atendimento educacional especializado: 
pessoa com surdez. Brasília: MEC/SEESP/SEED, 1997. 
 
 
 
 
41 Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa como L2 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
8. O ATO DE LER E ESCREVER PARA A PESSOA SURDA 
 
Objetivo: 
O objetivo desta aula é abordar o processo de aquisição da língua portuguesa na 
modalidade escrita como L2, considerando o ato de ler e escrever para a pessoa surda. 
 
Introdução: 
Segundo Quadros (1997) a aquisição da LIBRAS como L1 precisa ser assegurada 
para realizar um trabalho sistemático com a L2. A necessidade formal do ensino da língua 
portuguesa evidência que essa língua é, por excelência, uma segunda língua para a pessoa 
surda. 
 
Considerando que o ensino da Língua Portuguesa na modalidade escrita como 
segunda língua se justifica por ser aquela que circula no país e está presente em todas as 
esferas sociais, tornando-se necessária para que os surdos, entre outros aspectos tenham 
acesso aos conhecimentos historicamente construídos pela humanidade que se encontram 
preservados por meio da escrita. (CARVALHO et. al, 2019). É muito importante que os 
alunos surdos tenham conhecimento e domínio da L2 até para conseguir fazer valer seus 
direitos. 
 
A LP ocupa o espaço de segunda língua, tendo em vista que é geralmente adquirida 
após a língua de sinais, por meio de um processo sistemático vivenciado em instituições de 
ensino. É importante destacar que a aprendizagem dessa língua (LP) ocorre em sua 
modalidade escrita. 
 
8.1. O ato de ler e escrever para a pessoa surda 
É importante destacar que existe diferenças entre as estruturas sintáticas da Língua 
Portuguesa e da Libras. A Libras possui regras próprias que refletem na forma que a pessoa 
surda processa suas ideias, e com base em sua percepção visual- espacial. Não são 
usados artigos preposições, conjunções, porque estes conectivos não estão incorporados 
ao sinal. 
 
Exemplo: 
Português: Eu vou à sua casa hoje à noite. (SVO) 
 
 
42 Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa como L2 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
LIBRAS: Hoje noite (eu) ir casa (OSV, SOV e SVO) 
Considerando que os surdos têm a Libras como L1 e sua forma de aprendizagem é 
visual. Ao pensarmos propostas para a aquisição da língua portuguesa na modalidade 
escrita e do processo de alfabetização dos surdos devemos utilizar diferentes recursos 
visuais que podem auxiliar e contribuir com o processo. Falamos bastante disso durante 
essa videoaula. 
 
Trabalhar a estrutura das frases na língua portuguesa utilizando a Libras como apoio 
visual pode ajudar no processo: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Esse apoio visual utilizando os sinais de Libras pode ajudar no processo de 
compreensão e aquisição da língua portuguesa na modalidade escrita por parte dos alunos 
surdos. 
 
Segundo ALVEZ et al (2010) a escola constitui o lócus da aprendizagem formal da 
língua Portuguesa na modalidade escrita, em seus vários níveis de desenvolvimento. Na 
 
 
43 Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa como L2 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
educação bilíngue os alunos e professores utilizam as duas línguas em diversas situações 
do cotidiano e das práticas discursivas. 
Segundo as autoras para o ensino de a Língua Portuguesa escrita para os alunos 
surdos é importante considerar: 
 
Alunos com surdez e o ato de ler: além da atribuição de significados à imagem 
gráfica, Martins (1982) define a leitura como a relação que o leitor estabelece com a própria 
experiência, por meio do texto. Envolve aspectos sensoriais, emocionais e racionais. Ler 
não é dizer o já dito, mas falar do outro sentido é impossível uma leitura do consenso, as 
diferentes interpretações revelam a riqueza presentes no texto. 
 
A leitura se dá por meio de um processo de interlocução entre o leitor e o autor 
mediados pelo texto, num movimento que estimula seus mecanismos perceptivos, do todo 
para as partes e vice-versa, resultando nos percursos de contextualização, 
descontextualização e recontextualização. (ALVEZ et al, 2010, p.18) 
 
No percurso de contextualização, o aluno parte do todo textual para formar o sentido 
inicial da produção de significados o percurso de descontextualização, há o reconhecimento 
das partes do texto, das suas estruturas em palavras e frases, sílabas e grafemas. No 
percurso da recontextualização, o aluno realiza o processo de montagem de outros sentidos 
e a produção de novas palavras ou textos. (ALVEZ et al, 2010, p.18) 
 
O texto é uma tessitura de palavras, ideias e concepções articuladas de forma 
coerente e coesa. Ensinar aos alunos com surdez, assim como aos demais alunos, a 
produzir textos em português objetiva torná-los competentes em seus discursos, 
oferecendo-lhes oportunidades de interagir nas práticas da língua oficial e de transformar-
se em sujeitos de saber e poder com criatividade e arte. Para que essa aprendizagem 
ocorra, a educação escolar deve apresentar aos alunos com surdez a diversidade textual 
circulante em nossas práticas sociais. Essa apropriação dos gêneros e discursos é 
essencial para que os alunos façam uso da língua portuguesa. (ALVEZ et al, 2010, p.18). 
 
 A autora Pinheiro(2010) trouxe em sua pesquisa o método Método Perdoncini que 
foidesenvolvido na França pelo Pro Dr Guy Perdoncini e a professora Álpia Couto (1973) 
fez a adaptação do método do Francês para a Língua Portuguesa na modalidade escrita. 
 
 
 
44 Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa como L2 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Organograma da Linguagem é uma combinação simbólica composta por figuras 
geométricas que representam a estrutura frasal da Língua Portuguesa e oportuniza uma 
maior segurança na organização das próprias frases. 
 
 O círculo representa o núcleo do sujeito ou sintagma nominal (SN). O quadrado 
simboliza o núcleo do predicado ou o verbo (V). O triângulo pode representar o 
complemento verbal (CV), o complemento nominal (C ), o Sintagma nominal (SN) ou o 
sintagma adjetivo (AS). Há outras figuras e códigos que correspondem aos advérbios, as 
negações, ao plural, aos pronomes etc. A linguagem é, assim, tida como combinações de 
regras imutáveis da língua. (PINHEIRO, 2010, p.26) 
 
 
 
 
 
45 Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa como L2 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 
 
De início, será uma emissão mecânica, mas ter internalizado e compreendido 
esses códigos, os alunos serão capazes de produzir sem as figuras. As figuras 
podem auxiliar como recurso visual para compreensão da língua portuguesa 
na modalidade escrita. 
 
 
 
Traremos agora algumas fotos para exemplificar a utilização do método com os 
alunos surdos: 
 
 
 
Utilizando além dos símbolos geométricos do método Perdoncini temos também 
outras figuras para ajudar, inclusivo o verbo é um sinal de libras. Seguindo a mesma lógica 
de cores do método Perdoncini elaboramos uma atividade lúdica com peças de montar para 
ajudar no processo de aquisição. 
 
 
46 Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa como L2 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 
Elaboramos uma caixinha com diferentes imagens e sinais para repertoriar os alunos 
no processo de escrita. 
 
 
 
Estruturalmente falando, as línguas L1 e L2 são diferentes, como podemos 
exemplificar que L1 é de aquisição espontânea e essencial em ambiente 
natural de forma adquirida e não aprendida. Já L2 é proporcionada ao 
indivíduo a aprendizagem em um ambiente formal. O indivíduo precisa de um 
espaço formal para aprender essa segunda língua e nesse caso será a escola 
onde necessitará de professores especializados e uma metodologia 
diferenciada para que o sujeito surdo se aproprie de forma sólida. Nessa aula 
propusermos diferentes estratégias que podem contribuir com o processo de 
aquisição da L2 pelos alunos surdos. 
 
 
 
47 Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa como L2 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 
 
ALVES, Barbosa Carla; DAMAZIO, Macedo Ferreira Mirlene. Atendimento 
Educacional Especializado do aluno com surdez. Editora Moderna, São Paulo, 
2010. 
 
ALVEZ, Carla Barbosa; FERREIRA, Josimário de; DAMÁZIO, Mirlene Macedo. A 
Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar: abordagem bilíngue na 
escolarização de pessoas com surdez. Brasília, 2010. v. 4. (Coleção A Educação 
Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar) 
 
CARVALHO, M. E. ; CAVALCANTI, W. M. A. ; SILVA, J. A. . Ensino de Língua 
portuguesa para surdos: uma revisão integrativa da literatura. Revista CEFAC, 
v. 21, p. 1-12, 2019 
 
 
FELIPE, Tanya A; MONTEIRRO, Myrna S. Libras em Contexto: curso básico, livro 
do instrutor – Brasília: Programa Nacional de Apoio à Educação dos Surdos, 
MEC:SEESP,2001. 
 
PINHEIRO, Viviane da Silva. Estratégias utilizadas no processo de letramento 
de alunos surdos em Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, 2010. 
 
QUADROS, Ronice Müller de. Idéias para ensinar português para alunos 
surdos in: QUADROS, Ronice Muller, Magali L. P.Schmiedt. – Brasília : MEC, 
SEESP, 2006. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
48 Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa como L2 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
9. INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO: 
 
Objetivo: 
O objetivo desta aula conhecer algumas experiências de Educação Bilíngue pelo 
mundo quais as reflexões que elas podem nos trazer. 
 
Introdução: 
Nesta aula vamos pensar as especificidades que devem ser consideradas no 
processo de avaliação da aquisição da língua portuguesa na modalidade escrita como L2. 
 
Fernandes (2004) traz algumas sugestões para o ensino da L2, segundo a autora é 
muito importante a contextualização visual do texto em referências visuais que possibilitam 
aos alunos surdos uma compreensão prévia do tema implicado, a associação entre 
linguagem verbal e não verbal para a constituição dos sentidos da escrita. É importante 
também a exposição do conhecimento prévio das informações do texto, fazendo relações 
por meio da Língua de Sinais bem como registro do léxico das palavras e expressões 
desconhecidas e aspectos que organizam o texto escrito. As propostas de (re) elaboração 
da escrita em atividades que possibilitem avaliar se houve apropriação dos conhecimentos 
sistemáticos da Língua Portuguesa escrita. 
 
9.1. Critérios de avaliação da produção escrita dos alunos surdos: 
É importante Valorização do conteúdo desenvolvido pelo aluno, buscando a 
coerência em sua produção, mesmo que a estruturação frasal não corresponda aos 
padrões exigidos para o nível/série em que se encontra; 
 
Verificar, junto ao aluno, se o uso de palavras aparentemente inadequadas ou sem 
sentindo que não indicam um significado diverso do pretendido. Considere os possíveis 
equívocos em relação ao uso de tempos verbais e a omissão ou inadequação no uso de 
artigos e preposições, decorrentes do desconhecimento da língua portuguesa ou da 
interferência da LIBRAS. 
 
 Considera-se que o vocabulário “restrito”, deve-se às poucas experiências 
significativas com a Língua Portuguesa e é muito importante considerar isso no momento 
de avaliar a produção dos alunos surdos. É importante ainda a utilização das próprias 
 
 
49 Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa como L2 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
produções do aluno para avaliar seu progresso, evitando comparações com os demais 
alunos. 
 
Tanto para Quadros (1997) ou para Fernandes (2004), o surdo somente aprenderá 
a escrita da língua portuguesa, se submetido a um processo formal de aprendizagem, com 
metodologia específica e professores especializados para esse fim. Assim, ensinar ao 
surdo a L2, significa, em primeiro lugar, entender que o impedimento auditivo lhe traz novas 
possibilidades de conhecimento, baseando-se em experiências visuais. Se há pouca ou 
nenhuma audição, a visão por sua vez será o sentido mais importante para a aprendizagem 
da L2 pelo surdo. 
 
Nesse sentido, ninguém tem o direito de impedir o aluno surdo de se comunicar por 
outras vias, embora esta não seja a utilizada convencionalmente. Negar ao surdo este 
direito, é negar-lhe o direito de aprender e de se desenvolver. É fundamental valorizar a 
questão viso espacial! 
 
9.2. Possíveis instrumentos de avaliação: 
A proposta curricular nacional de língua portuguesa como segunda língua, que 
estudamos na aula 6, propõe uma avaliação por níveis. Seriam níveis comuns de referência 
– descrevem o nível de proficiência da língua pelos aprendentes e não a idade. Os níveis 
teriam relação com a proficiência e domínio da língua e não com a idade baseado no 
Quadro Europeu comum de referências para as línguas (Conselho da Europa, 2001). 
Segundo o QECR temos: 
 
 
50 Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa como L2 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 
 
De acordo com a proposta curricular em elaboração os alunos serão avaliados 
pensando na proficiência e nas competências comunicativas para se enquadrar em um 
nível de aquisição da língua portuguesa na modalidade escrita. É interessante que se 
padroniza o processo de avaliação e ainda

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