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Nem todas as respostas são reforçadas quando ocorrem, mas nem por isso o comportamento deixa de ocorrer. Você não deixa de ir à padaria, por exemplo, porque foi uma vez e não encontrou pão quentinho. Isso significa que muitos dos nossos comportamentos são apenas intermitentemente reforçados. E, o conceito de esquema de reforçamento corresponde, justamente, a quais critérios uma resposta deve atingir para que ocorra o reforçamento. Ou seja, descreve quais condições as respostas devem obedecer para que o estímulo reforçador seja liberado. Esquema de reforçamento contínuo: nesse esquema, que recebe a sigla CRF, toda resposta é seguida da apresentação de um estímulo reforçador. Acontece, por exemplo, no caso do namorado que aceita todos os convites da namorada. Esquema de reforçamento intermitente: nesse esquema algumas respostas são reforçadas e outras não. Um exemplo cotidiano pode ser chegar as notificações de sua rede social, tendo como consequência novas curtidas, as quais nem sempre serão encontradas. O comportamento de checar as notificações de sua rede social, nesse caso, é mantido por um esquema de reforçamento intermitente. Existem quatro tipos principais de esquemas de reforçamento intermitente: razão fixa (FR), razão variável (VR), intervalo fixo (IF) e intervalo variável (VI). Nos esquemas de razão, o requisito para a liberação da consequência reforçadora é o número de respostas emitidas. Já nos esquemas de intervalo, o principal requisito é a passagem de certo período desde o reforçamento da última resposta. Esquemas de reforçamento intermitente de razão: caracterizam-se por exigirem certo número de respostas para a apresentação de cada estímulo reforçador. Ou seja, para que o reforçador seja apresentado, é necessário que o organismo emita mais de uma resposta. • Razão fixa: nesse esquema, o organismo deve emitir um número sempre igual de respostas para que o seu comportamento seja reforçado. Por exemplo, Joãozinho está na aula de educação física. Para poder ser liberado para beber água, ele deve dar 10 voltas correndo ao REFERÊNCIA: MOREIRA, M. B.; MEDEIROS, C. A. de. Princípios Básicos de Análise do Comportamento. Porto Alegre: Artmed, 2008. (Capítulo 7) redor da quadra de basquete. Assim, toda vez que completa as 10 voltas, o professor o autoriza a ir ao bebedouro. • Razão variável: nesse esquema, o número de respostas necessárias para a apresentação do estímulo reforçador se modifica a cada nova apresentação. Por exemplo, a pessoa puxa a alavanca da máquina 117 vezes e ganha algumas moedas. Depois disso, ela talvez acione a alavanca outras 62 vezes até ganhar novamente, e assim por diante. o Quando dizemos que um comportamento está sendo reforçado em um esquema de razão variável 30 (VR 30), estamos afirmando que, em média, a cada 30 respostas, uma é reforçada. o Se numa determinada situação houve 800 respostas para 20 reforçadores, por exemplo, o VR é 40, pois as 800 são divididas pelos 20. Esquemas de reforçamento intermitente de intervalo: nos esquemas de reforçamento de intervalo, o número de respostas emitidas não é relevante, bastando a ocorrência de uma única para que o estímulo reforçador seja apresentado. No entanto, essa resposta somente será reforçada de tempos em tempos. • Intervalo fixo: nesse esquema, a primeira resposta emitida após a passagem de um período específico é reforçada. O intervalo entre a apresentação do último reforçador e a disponibilidade do próximo é sempre o mesmo para todos os reforçamentos. Por exemplo, podemos citar um adolescente que tem seu pedido de dinheiro atendido todos os sábados, e que, caso ele peça dinheiro nos outros dias, não terá seu comportamento reforçado, pois o intervalo é de sábado em sábado, não incluindo o restante dos dias da semana. Vale lembrar que o estímulo reforçador somente será apresentado caso o organismo se comporte. Ou seja, se o adolescente não pedir dinheiro, não haverá reforçamento em intervalo fixo. • Intervalo variável: nesse esquema, os intervalos entre a apresentação do último estímulo reforçador e a do seguinte não são os mesmos. Acontece, por exemplo, quando alguém troca a estação de rádio do carro até encontrar uma música bacana. Às vezes a resposta de trocar de estação somente é reforçada após se terem passado cinco minutos desde a última música que agradou, às vezes após 13 minutos, e assim por diante. Nos experimentos com esquemas de reforçamento existem dois tipos de dados principais: • Dados de transição: são aqueles observados quando o comportamento do organismo acabou de ser submetido a um novo esquema de reforçamento. Nesse caso, o padrão comportamental REFERÊNCIA: MOREIRA, M. B.; MEDEIROS, C. A. de. Princípios Básicos de Análise do Comportamento. Porto Alegre: Artmed, 2008. (Capítulo 7) terá características da contingência anterior e da nova contingência. Dizemos, portanto, que o seu comportamento ainda não está adaptado ao novo esquema de reforçamento, mantendo características do padrão comportamental do esquema anterior. Os dados de transição são úteis para estudar os efeitos de história de reforçamento. • Dados em estado estável: são aqueles observados quando há pouca diferença entre os padrões comportamentais das sessões experimentais nas quais o mesmo esquema é utilizado. Para se obter dados em estado estável é necessário que o comportamento do organismo seja submetido a várias sessões com o mesmo esquema de reforçamento. Razão fixa: o padrão comportamental gerado por esquemas de razão fixa é caracterizado por pequenas pausas pós-reforçamento (tempo decorrido entre a apresentação do estímulo reforçador e o reinício do responder) e alta taxa de respostas (calculada dividindo-se o número de respostas ocorridas pelo intervalo de tempo no qual ocorreram. Quanto mais respostas ocorrerem em um dado período, maior será essa taxa). Quando dizemos que o padrão comportamental de FR é caracterizado por altas taxas de resposta, estamos dizendo que muitas respostas ocorrem em um curto intervalo de tempo. Os termos “muito” e “alta” são utilizados em comparação às taxas de respostas produzidas por outros esquemas. Considerando as características do padrão comportamental gerado por esquemas de FR, podemos fazer duas análises com relação às situações cotidianas. Primeiramente, temos uma ferramenta útil para entendermos por que certos comportamentos ocorrem em altas taxas de respostas, bem como a razão para a ocorrência de pausas após a apresentação do reforço, mesmo que estas resultem em menos reforçadores em longo prazo. Em segundo lugar, temos um referencial teórico e empírico para arranjarmos condições visando que um comportamento ocorra em alta frequência quando isso, por algum motivo, for importante. Tomemos como exemplo o ato de fazer exercícios físicos. Em muitos casos, é importante que as pessoas façam exercícios físicos com certa frequência. Esquemas de FR podem ser eficazes nesse sentido. Pela sua eficácia em produzir altas taxas de respostas, os esquemas de FR têm sido utilizados na indústria, dada a importância da alta produtividade para maximizar os lucros. São comuns casos em que uma certa quantia é paga após a execução de um número específico de peças. Razão variável: o padrão comportamental gerado por esquemas de razão variável é caracterizado por altas taxas de respostas e pausas pós-reforçamento praticamente ausentes e/ou irregulares. Em um esquema de razão variável, o reforçamento pode ocorrer após a emissão de uma ou várias respostas. Dessa forma, a apresentação do estímulo reforçador dificilmente adquirirá a função de REFERÊNCIA: MOREIRA, M. B.; MEDEIROS, C. A. de. Princípios Básicos de Análise do Comportamento. Porto Alegre: Artmed, 2008. (Capítulo 7) estímulo delta para o responder. Essa é uma possível explicação para a ausência de pausas pós- reforçamento ou para a ocorrênciade pausas irregulares nos esquemas de razão variável. As mesmas possibilidades de aplicação discutidas quanto ao esquema de FR, em termos de altas taxas de respostas, também são válidas para o esquema de razão variável. Entretanto, arranjar condições de reforçamento características dos esquemas de razão variável em situações cotidianas pode ser consideravelmente mais difícil. Por exemplo, em uma indústria com um sistema de pagamento no qual o empregado recebe por unidades produzidas, seria uma situação estranha o empregador não especificar quantos pares de sapato o empregado deve produzir para receber o pagamento. Em contrapartida, há situações cotidianas não programadas nas quais uma análise das contingências de reforçamento revelará o arranjo de condições de reforçamento similares aos esquemas de razão variável (VR) e nos ajudará a entender por que certos comportamentos ocorrem em altas taxas. Considere o exemplo de um garoto que insiste em continuar telefonando para a sua ex-namorada e o faz com alta taxa de respostas. Ocasionalmente, ela atende após cinco ligações, em outro momento, após 12 ligações, num terceiro, após duas ligações apenas, e assim por diante. De maneira não planejada, a ex-namorada está arranjando condições de reforçamento equivalentes a um VR. Ao fazê-lo, ela mantém o comportamento de telefonar do ex-namorado em alta taxa – presumindo-se que o simples fato de ela atender o telefone, independentemente do que fale, tenha a função reforçadora para esse comportamento. Intervalo fixo: o padrão comportamental gerado pelo esquema de reforçamento de intervalo fixo é caracterizado por baixas taxas de respostas e por longas e consistentes pausas pós-reforçamento. Além disso, após a pausa, a taxa de respostas aumenta rapidamente e, então, se mantém estável até a apresentação do estímulo reforçador. Esse aumento na taxa de resposta é chamado de scallop. O FI é o esquema que produz as menores taxas de respostas. Possivelmente, isso acontece por duas razões: 1) é exigida apenas uma resposta ao final do intervalo, que é sempre o mesmo, para que o estímulo reforçador seja apresentado. Ou seja, respostas ao longo do intervalo nunca são reforçadas (extinção), o que as torna improváveis; 2) é o esquema que produz as maiores pausas pós-reforçamento, uma vez que a discriminação temporal entre o reforçamento e o não reforçamento é facilitada pela regularidade das durações dos intervalos entre os reforçamentos. Intervalo variável: o padrão comportamental gerado pelo esquema de reforçamento de intervalo variável é caracterizado por taxas moderadas e constantes de respostas e ausência de pausas pós- reforçamento. Uma possível explicação para essa ausência está no fato de que, às vezes, respostas ocorridas imediatamente após a apresentação do estímulo reforçador são novamente reforçadas, mas, REFERÊNCIA: MOREIRA, M. B.; MEDEIROS, C. A. de. Princípios Básicos de Análise do Comportamento. Porto Alegre: Artmed, 2008. (Capítulo 7) em outras, só serão reforçadas após longos intervalos. Como o número de respostas não é um dos requisitos para o reforçamento, a taxa de respostas é moderada em relação aos esquemas de razão. Os esquemas de reforçamento contínuo (CRFs) e intermitente (FR, VR, FI, VI) não diferem apenas quanto ao arranjo de condições para o reforçamento, mas também em relação aos seus efeitos sobre o comportamento mantido por eles. Modelagem e manutenção de um novo comportamento: o CRF é mais eficaz para a modelagem de um novo comportamento do que os esquemas intermitentes. Por exemplo, se, no procedimento de modelagem da resposta de pressão à barra, a água fosse apresentada após 10 pressões, dificilmente esse comportamento seria aprendido. É provável que o animal parasse de pressionar a barra antes de emitir a décima resposta que produziria o reforçamento, isto é, observaríamos o processo de extinção. Tanto em pesquisa quanto em aplicação, novos comportamentos costumam ser modelados e mantidos, inicialmente, por CRFs. Quando é necessário que o comportamento seja mantido por esquemas intermitentes, a transição de um esquema para o outro é feita gradualmente, utilizando FRs intermediários, os quais evitam que o comportamento entre em processo de extinção antes que o reforçador seja apresentado. Esse tipo de estratégia é bastante comum em intervenções comportamentais com crianças diagnosticadas com autismo, por exemplo. A literatura científica tem mostrado que a aprendizagem dessas crianças é acelerada quando as condições de ensino são adequadamente planejadas e estruturadas em pequenos passos. Para essas crianças, alterações nas contingências de reforçamento, ainda que pequenas, podem resultar no enfraquecimento do responder previamente ensinado. Dessa forma, quanto menores as alterações nas contingências, maior a probabilidade de os comportamentos previamente ensinados continuarem a ocorrer. Resistência à extinção: os esquemas de reforçamento intermitente, principalmente os variáveis, são ideais para a manutenção do comportamento, ou seja, aumentam a sua resistência à extinção. Este termo refere-se ao quanto insistimos em fazer algo que não dá mais certo. Um exemplo cotidiano seria o de um controle remoto de alarme de carro com defeito, de modo que não abrisse o carro todas as vezes em que o botão fosse apertado. Caso o dispositivo pare de funcionar definitivamente, o comportamento de apertar o botão tenderá a se repetir várias vezes antes de deixar de ocorrer. Isso acontece porque, quando ainda funcionava, o botão precisava ser apertado algumas vezes antes de o carro abrir (ou seja, reforçamento intermitente). Em contrapartida, se o controle remoto estivesse REFERÊNCIA: MOREIRA, M. B.; MEDEIROS, C. A. de. Princípios Básicos de Análise do Comportamento. Porto Alegre: Artmed, 2008. (Capítulo 7) funcionando adequadamente, de modo que o carro abrisse todas as vezes que se pressionasse o botão (ou seja, reforçamento contínuo), e parasse de funcionar definitivamente, menos respostas de pressionar o botão ocorreriam até a sua frequência chegar a zero. No dia a dia, estímulos reforçadores que são liberados em esquemas de reforçamento intermitente às vezes não ficam disponíveis por tempo indeterminado. É comum que sua disponibilidade tenha duração limitada. Esse tempo é chamado de contenção limitada. Por exemplo, se o estímulo reforçador em questão é um dado programa de televisão que passa apenas uma vez por semana e tem duração de 30 minutos, estamos falando de um esquema de reforçamento intermitente de FI de uma semana com uma contenção limitada de 30 minutos. A contenção limitada geralmente produz aumento na taxa de respostas, seja em um esquema de intervalo fixo ou variável. Esquemas de intervalo e de razão são esquemas de reforçamento contingente. Ou seja, neles, mesmo nos de intervalo, o estímulo reforçador é sempre apresentado contingente à ocorrência de pelo menos uma resposta. Mas, existem também esquemas não contingentes, os quais o estímulo reforçador é apresentado independentemente da ocorrência de uma resposta específica. Nos esquemas intermitentes não contingentes o reforçador é apresentado de tempos em tempos, sem a necessidade de ocorrência de uma resposta. Os dois principais esquemas de reforçamento não contingente são o de tempo fixo e o de tempo variável. Tempo fixo (FT): este esquema é caracterizado pela apresentação dos reforçadores em intervalos de tempo regulares, mesmo que nenhuma resposta ocorra. Por exemplo, se um adolescente recebe uma “mesada” semanal de seus pais, sempre aos sábados e independentemente de qualquer comportamento que emita, diríamos que a “mesada” é apresentada em esquema não contingente de intervalo fixo (FT 1 semana). Tempo variável: acontece quando os reforçadores são apresentados em intervalos irregulares de tempo, independentemente da ocorrência de uma respostaespecífica. Esse esquema assemelha- se ao de intervalo variável (VI), porém sem a necessidade da ocorrência de uma resposta para que o reforçador seja apresentado. Comportamento supersticioso: embora não seja necessária a ocorrência de uma resposta em esquemas não contingentes, o reforçador ocasionalmente é apresentado temporalmente próximo à ocorrência de alguma resposta. Chamamos essa relação temporal entre resposta e reforçador de REFERÊNCIA: MOREIRA, M. B.; MEDEIROS, C. A. de. Princípios Básicos de Análise do Comportamento. Porto Alegre: Artmed, 2008. (Capítulo 7) contiguidade, a qual pode ser suficiente para fortalecer um determinado comportamento. Por exemplo, se uma pessoa evita passar debaixo de escadas e, ao mesmo tempo, nada de ruim lhe acontece, essa relação de contiguidade pode reforçar seu comportamento de evitar passar debaixo de escadas. Esse processo é chamado de reforçamento acidental, em que não há uma relação de contingência entre uma resposta e uma consequência, mas, sim, uma relação de contiguidade temporal, ou seja, a resposta e a apresentação do estímulo reforçador estão próximas no tempo. Esse comportamento é chamado de supersticioso porque a sua relação com a consequência é apenas de contiguidade, e não de contingência. Ou seja, o que ocorreu foi apenas uma coincidência. *É importante lembrar que o conceito de comportamento supersticioso não se destina a descrever e, muito menos, explicar a superstição ou os ritos religiosos. Mesmo que a origem de algumas superstições ou de alguns ritos religiosos tenha relação com o reforçamento acidental, a sua disseminação entre múltiplas gerações compreende outros processos comportamentais. Existem esquemas de reforçamento desenvolvidos para controlar quão rápidas devem ser as respostas do organismo. Nesses esquemas, não se trata de uma resposta específica que é selecionada, mas da velocidade (taxa de respostas) com que ela é emitida. Ou seja, neles, o responder rápido ou lento é que é reforçado. Em outras palavras, neles são selecionados (reforçados) intervalos entre respostas (IRT). O intervalo entre respostas é o tempo decorrido entre a ocorrência de uma resposta e a ocorrência da seguinte. Reforçamento diferencial de altas taxas de respostas (DRH): corresponde a um esquema desenvolvido para produzir um responder rápido. Em outras palavras, somente taxas altas de respostas serão reforçadas. Seu funcionamento é parecido com um esquema de razão, ou seja, um número de respostas deve ser emitido para a liberação do reforço. Entretanto, o DRH possui um requisito extra: esse número de respostas deve ocorrer dentro de um tempo predeterminado para que o reforço seja apresentado (nesse caso existem prazos). Por exemplo, em uma prova de datilografia, um certo número de toques deveria ser dado por minuto para que o candidato não fosse eliminado do concurso, o que produzia um responder muito rápido. Exemplificando, o DRH pode ser utilizado, quando se deseja que um funcionário produza mais peças por hora em uma fábrica. Outra maneira de se implementar um esquema de reforçamento de DRH é reforçar respostas que ocorram com intervalo entre respostas menor que X segundos desde a última resposta. Por exemplo, considere que uma criança diagnosticada com autismo leva comida à boca durante as refeições com intervalos muito longos (p. ex., uma colher a cada 5 minutos em média). Nesse caso, podese reforçar REFERÊNCIA: MOREIRA, M. B.; MEDEIROS, C. A. de. Princípios Básicos de Análise do Comportamento. Porto Alegre: Artmed, 2008. (Capítulo 7) a resposta de levar a colher à boca apenas se ela ocorrer menos de 5 minutos depois da última; posteriormente, apenas se ocorrer com no máximo 4 minutos, e assim por diante, até que se chegue ao intervalo entre respostas (IRT) desejado. Reforçamento diferencial de baixas taxas de respostas (DRL): em um DRL, as respostas serão reforçadas apenas se forem espaçadas por um tempo mínimo. Em outras palavras, o estímulo reforçador somente será apresentado se um houver um tempo mínimo entre uma resposta e outra. No DRL, caso o organismo responda antes do final desse intervalo, o cronômetro é zerado e o intervalo é reiniciado. O padrão comportamental de DRL é caracterizado por um responder pouco frequente, podendo ser utilizado, por exemplo, quando uma criança diagnosticada com autismo costuma levar à boca pedaços de comida tão rapidamente que a abarrota ou se engasga. Nesses casos, é possível utilizar o DRL para que a criança leve comida à boca em intervalos de tempo suficientes para mastigar cada pedaço. O reforçamento diferencial de outro comportamento (DRO) é uma alternativa comportamental bastante utilizada para reduzir a frequência de um comportamento sem a utilização de punição ou de extinção somente, pois produz menos respostas emocionais. O DRO consiste em reforçar a não ocorrência de um determinado comportamento em um certo período. Esse tipo de esquema de reforçamento é bastante utilizado para, por exemplo, reduzir a frequência de comportamentos autolesivos (bater a cabeça contra a parede, morder-se, etc.) de crianças diagnosticadas com autismo e de comportamentos inadequados, como birras, em crianças com e sem algum diagnóstico psiquiátrico. Se a criança apresenta comportamentos agressivos a cada cinco minutos, pode-se utilizar o DRO apresentando um estímulo reforçador caso ela fique esse período sem emiti-los. Após a criança ficar consistentemente cinco minutos sem emitir comportamentos agressivos, pode-se aumentar esse tempo para sete minutos, depois para 10, 15, e assim por diante. Existem esquemas de reforçamento que envolvem a combinação de mais de um esquema de reforçamento. São os chamados esquemas de reforçamento compostos, como os esquemas múltiplos, mistos etc. Estes tentam simular de forma mais fidedigna as diversas contingências das quais o comportamento faz parte. Esquema múltiplo: nesse esquema ocorre a alternância de mais de um esquema simples de reforçamento. Cada um deles permanece em vigor por um período, por um número de respostas REFERÊNCIA: MOREIRA, M. B.; MEDEIROS, C. A. de. Princípios Básicos de Análise do Comportamento. Porto Alegre: Artmed, 2008. (Capítulo 7) ocorridas ou por um número de reforçadores apresentados. É utilizado principalmente para estudar o controle de estímulos antecedentes sobre o comportamento operante em situações que envolvem discriminações sucessivas. Um exemplo de esquema múltiplo na vida cotidiana pode ser observado na relação de uma criança com seus pais divorciados. Por exemplo, pedidos por doces e brinquedos raramente são atendidos pela mãe, que passa toda a semana com a criança por ser a detentora de sua guarda. Porém, os mesmos pedidos são continuamente atendidos por seu pai, que vê a criança apenas nos fins de semana. A presença da mãe é um estímulo discriminativo que sinaliza um esquema de intervalo variável, isto é, na sua presença, em intervalos variáveis, os pedidos serão atendidos. Já a presença do pai é um estímulo discriminativo que sinaliza um esquema de reforçamento contínuo, uma vez que, na sua presença, os pedidos da criança são sempre reforçados. O esquema sinalizado pela mãe dura cinco dias, e o sinalizado pelo pai, dois. É provável que a criança faça pedidos para o pai com uma frequência maior do que os faz para mãe, apresentando comportamento compatível com o componente do esquema múltiplo em vigor. Esquema misto: nesse esquema, assim como no múltiplo, ocorre a alternância de mais de um esquema simples de reforçamento. No entanto, ao contrário do que ocorre no múltiplo, no esquema misto não há estímulos discriminativos que sinalizam qual esquema está em vigor. O organismo deve discriminar o esquema em vigor pelo próprio contato com a contingência do componente do esquema em atividade. Esquema encadeado: os esquemas encadeados foram desenvolvidospara estudar cadeias comportamentais. Ilustram situações discriminativas, nas quais cada resposta intermediária da cadeia é reforçada por produzir condições de estímulos para a resposta (ou requisito de resposta) posterior. A maioria de nossos comportamentos compõe longas cadeias de respostas. O ponto crucial nessas cadeias é que o reforçador de um comportamento é o estímulo que serve de ocasião para o comportamento da contingência seguinte. *Nos esquemas múltiplos, cada componente está em vigor em um dado momento, e um não depende do outro. Já nos esquemas encadeados, apesar de cada esquema também estar em vigor em um dado momento, eles ocorrem sempre na mesma ordem. *Quando os esquemas encadeados podem ser realizados sem a utilização de estímulos discriminativos, recebe-se o nome de esquemas tandem. Esquemas concorrentes: consistem em duas ou mais fontes de reforçamento disponíveis ao mesmo tempo (dois ou mais esquemas de reforçamento disponíveis simultaneamente). Como REFERÊNCIA: MOREIRA, M. B.; MEDEIROS, C. A. de. Princípios Básicos de Análise do Comportamento. Porto Alegre: Artmed, 2008. (Capítulo 7) exemplos cotidianos desse esquema, podemos citar abrir o Facebook ou o WhatsApp e encontrar novas postagens. Abrir esses aplicativos pode ser um comportamento reforçado por encontrar novas postagens em esquemas de intervalo variável. Teríamos, então, dois esquemas concorrentes de intervalo variável em vigor (para quem passa o dia alternando acessos a esses dois aplicativos). Estes são utilizados para investigar o comportamento de escolha. Estudá-los nos ajuda a compreender como os fatores ambientais interferem nas escolhas dos organismos. O comportamento de escolha é medido de dois modos: pela distribuição do número de respostas em cada uma das alternativas de reforçamento e pela distribuição do tempo que o organismo permanece respondendo em uma dessas alternativas em relação às demais. Tanto a distribuição do número de respostas quanto a do tempo em cada alternativa podem ser descritas em termos de razão e proporção. Lei da igualação: incluída nos esquemas concorrentes, prevê que a distribuição de respostas entre duas ou mais alternativas de reforços tende a igualar a distribuição de reforçadores das alternativas. Esquemas concorrentes encadeados: envolvem a apresentação de duas ou mais alternativas de reforçamento que se constituem em cadeias de respostas. Nos esquemas concorrentes encadeados as respostas em uma das alternativas, quando reforçadas, resultam na entrada no elo seguinte na cadeia de respostas, até chegar-se ao reforçamento final. Eles têm sido utilizados para estudar experimentalmente respostas de autocontrole e impulsividade. Rachlin e Green (1972) definem autocontrole não como uma determinação interna do próprio indivíduo, mas, sim, como uma frequência maior de respostas em alternativas de reforçamento cujas consequências são de maior magnitude, ainda que atrasadas, em detrimento daquelas cujas consequências apresentam menor magnitude, porém imediatas. Por exemplo, uma jovem pode ceder aos pedidos que as amigas lhe fazem, como o empréstimo de roupas, livros e a ajuda nos trabalhos de faculdade. Em curto prazo, ao atendê-los, ela não entra em contato com a expressão de descontentamento de suas amigas que surgiria caso os negasse (consequências imediatas). Além disso, negar poderia implicar o risco de perder as amizades. Mas, como as amigas não fazem o mesmo por ela, a jovem se afasta delas e, assim, evita seus pedidos abusivos. Portanto, em longo prazo, a jovem fica sozinha de qualquer modo e ainda perde seus livros, suas roupas e seu tempo fazendo os trabalhos. Nesse exemplo, classificamos o comportamento de ceder às solicitações como alternativa impulsiva, já que produz consequências aversivas imediatas de menor magnitude. Negar, por sua vez, pode ser considerado a alternativa de autocontrole, porque produz consequências aversivas imediatas de menor magnitude e evita as atrasadas de maior magnitude. REFERÊNCIA: MOREIRA, M. B.; MEDEIROS, C. A. de. Princípios Básicos de Análise do Comportamento. Porto Alegre: Artmed, 2008. (Capítulo 7)
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