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UFU - Fevereiro/2007 F I L O S O F I A Leia com atenção o texto abaixo. Um menino, a pedido de sua mãe, foi de ma- nhã à padaria para comprar pães de queijo. Como estivesse em dificuldades financeiras, o comerciante cobrou-lhe trinta centavos a mais pela mercadoria, considerando que este dinheiro por certo não faria falta a uma crian- ça de aparência tão saudável. No início da noite, o pai do menino voltou à padaria para comprar leite, e equivocou-se ao pagar o co- merciante, dando-lhe cinqüenta centavos a mais. O comerciante, no entanto, prontamen- te, restituiu ao freguês os cinqüenta centa- vos pagos a mais, considerando que o pai do menino era fiscal da prefeitura e que, em qual- quer caso, seria conveniente manter boas re- lações com as autoridades locais. Em conformidade com o pensamento kantiano, responda as três questões que se seguem. A) Por que a primeira atitude do comercian- te (em relação ao menino) é contrária ao dever e imoral? B) Por que a segunda atitude do comercian- te (em relação ao pai do menino) é con- forme ao dever, mas mesmo assim é imo- ral? C) De acordo com o pensamento de Kant, cite, para o caso 1 (relativo ao menino) e para o caso 2 (relativo ao pai do meni- no), uma regra que o comerciante poderia ter seguido para agir moralmente. RESOLUÇÃO A) Kant, em sua obra ‘Fundamentação da Metafísica dos Costumes’, afirma a exis- tência de uma oposição entre agir por in- clinação e por dever. A inclinação está fundada na liberdade do mundo sensível e é a dependência da faculdade de apetições das sensações. Quando agimos por inclinação, visamos apenas ao resul- tado imediato de nossas ações, sem nos preocuparmos se tais ações são ou não as melhores possíveis, no que se refere à conduta ética. Na situação apresentada na questão, a atitude do comerciante é contrária ao dever e imoral, pois o mesmo não visa nada além de suas inclinações e uma ação por inclinação, de acordo com Kant, não tem, em si mesma, um valor moral. B) Kant distingue a ação que tem verdadeiro valor moral, à qual ele denomina ‘ação por dever’ da ação que, mesmo sendo correta do ponto de vista externo, tem como fim o interesse, à esta segunda ele denomina ‘ação conforme o dever’. Ou seja, não bas- ta fazer o que é correto. No caso em ques- tão, o comerciante devolveu o dinheiro ao freguês, no entanto foi movido por interes- se meramente pessoal e não simplesmen- te pelo dever. O comerciante que atende honestamente aos clientes, age em con- formidade com o dever, mas não por de- ver, se não tem em vista senão o seu inte- resse bem definido de manter a clientela. C) A regra que poderia ter seguido, para os dois casos, de acordo com Kant, é deno- minada ‘imperativo categórico’, que é a ação que contém em si uma boa vontade, que é a disposição para agir por dever e não por inclinação ou em conformidade com o dever. A formulação de tal regra, para Kant, é a seguinte ‘Age somente se- gundo uma máxima(lei) tal que possas, ao mesmo tempo, querer que ela se tor- ne lei universal’. Procedendo desta ma- neira, o comerciante não estaria colocan- do a seu interesse particular em primeiro plano, mas sim submetendo a sua ação ao crivo de uma necessidade maior, a de que uma ação, para ser correta do ponto de vista ético, deve poder ser universalizada.