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68 Unidade II Re vi sã o: J an an dr éa - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 05 /2 01 2 Unidade II 5 Educação SociaL 5.1 Breve histórico Ao pensarmos em educação, podemos compreendê-la pelas mais variadas concepções. Desta forma, escolhemos a de Maturana (1999), para quem a educação é um processo de interação que ocorre o tempo todo, ou seja, o conviver em sociedade é o que permite a troca entre o educando e o educador. Vista por esse ângulo, a educação não pode acontecer apenas em instituições escolares, mas em espaços não escolares. Partindo desse conceito, a educação é um processo que sofre interferências subjetivas como questões culturais e históricas, que permeiam nossa vida. Essa ideia passou a ser nomeada como educação social que, segundo Paulo Freire (2008), é um processo de formação humana, ou de humanização. As ideias centrais de Paulo Freire dizem respeito à necessidade de se construir uma educação prioritariamente democrática, que seja capaz de levar o educando de uma consciência ingênua à consciência crítica. Para que isso se torne possível, os métodos pedagógicos devem proporcionar ao educando a compreensão crítica dos problemas que envolvem seu bairro, seu país e mundo. Freire não propõe apenas a mudança de concepções de educação, mas a modificação do espaço físico: se, na educação formal, as salas de aula com carteiras enfileiradas são condições para o aprendizado, para o autor, a educação social pode construir-se em espaços não escolares, organizados em círculos para o debate de temas socialmente relevantes entre educadores e educandos. A origem latino-americana, a nacionalidade brasileira, a regionalidade nordestina e a experiência empírica desenvolvida no Estado do Rio Grande do Norte fazem-nos optar por um estudo mais aprofundado do legado de Paulo Freire para a compreensão mais ampliada da educação social. Os motivos que julgamos centrais para essa escolha são: sua contribuição no plano do contato efetivo com a realidade local dos excluídos no contexto imediato que nos cerca e seu caráter crítico, reflexivo e pesquisador da teoria desenvolvida. Assim, é inquestionável a importância dos estudos de Freire como marco teórico para compreensão e reflexão sobre a Pedagogia Social nos contextos não escolares de educação social. 69 Re vi sã o: J an an dr éa - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 05 /2 01 2 Tópicos de ATuAção profissionAl Figura 23 – Paulo Freire Para compreender a Pedagogia Social, é preciso entender também o contexto histórico em que ela surge. A educação formal sempre foi privilégio das classes mais abastadas, ou seja, das detentoras do poder, mas durante os séculos XX e XXI, percebeu-se que as classes menos favorecidas recebiam educação de pouca qualidade, isso gerava uma exclusão daqueles que já estavam nessa situação. observação Paulo Freire atuou também em cargos políticos: de 1 de janeiro de 1989 a 27 de maio de 1991 foi Secretário da Educação da Cidade de São Paulo. 5.1.1 A iniciativa das ONGs Na tentativa de reinserir ou inserir socialmente aqueles que foram excluídos, foram criadas as iniciativas de Organizações Não Governamentais (ONGs), bem como de instituições públicas a fim de desenvolverem políticas compensatórias de formação dos excluídos que compõem a massa das classes populares. Na sua maioria, esses projetos referenciam uma educação voltada à cidadania, não mais no sentido da garantia da participação e organização da população civil, na luta contra o regime militar, tal como ocorria no período dos anos 1970 e 1980, mas no sentido de uma cidadania ressignificada para o exercício da civilidade, da responsabilidade e para a responsabilização social de todos (MOURA apud MAKARENKO, 1989, p. 229). A partir de 1990, as ONGs difundiram-se país afora. O projeto de educação social no Brasil deslocou- se para a esfera de organizações que geram recursos próprios e lutam na perspectiva lucrativa por 70 Unidade II Re vi sã o: J an an dr éa - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 05 /2 01 2 acesso aos fundos públicos. Com isso, a economia informal, ou terceiro setor, passou a ser um dos principais espaços de realização da educação social. Diante do crescente aumento das ONGs, nasceu a necessidade de qualificação de seus quadros de educadores sociais. O Banco Mundial, a partir dos anos 1990, como agência financiadora da educação em países em desenvolvimento, estabeleceu diálogos e parcerias com as ONGs. Diante desse incentivo, o terceiro setor passou a se caracterizar como o novo setor favorável no plano da economia social. Com sua expansão, o desenvolvimento sustentável criou e desenvolveu frentes de trabalho, estruturou-se como uma empresa que se autodenominou cidadã e que tornou-se o foco inicial de contestação dos educadores sociais progressistas. O eixo articulatório que passou a fundamentar a participação na educação social nos anos 1990 é dado pelo princípio da lucratividade e da economia. Causas humanitárias também passaram a agregar valor às entidades, como organização pela paz, contra fome, contra violência, entre outros temas. Esta nova era econômica, política e social, na qual os conflitos sociais não são apenas pela distribuição de trabalho e renda, mas também de ordem de interpretação sobre o sentido de justiça, confere um importante papel a todos os processos de gestão social e política. Conforme Moacir Gadotti: A integração entre formação e trabalho constitui-se na maneira de sair da alienação crescente, reunificando o homem com a sociedade. Essa unidade, segundo Marx, deve dar-se desde a infância. O tripé básico da educação para todos é o ensino intelectual (cultura geral), desenvolvimento físico (ginástica e esporte) e o aprendizado profissional polivalente (técnico e científico) (GADOTTI, 1984, p. 54-55). Os educadores sociais buscam recriar alternativas pedagógicas repensando a realidade que os cercam, ou seja, a comunidade em que estão inseridos, pois conhecem a necessidade de formação. Já os educandos, por sua vez, são percebidos como responsáveis por todos os trabalhos e saberes que devem ser elevados, devendo relacionar-se diretamente à sua sobrevivência. Os acolhidos em contexto de educação social participam, constroem e implementam a composição dessa ideia de educação. A educação social deve realizar-se em todos os contextos nos quais se desenvolve a vida do ser humano, dentro e fora da instituição escolar, por exemplo. Apesar de sua larga contribuição nos espaços não formais de educação, reconhecemos que não se pode definir exclusivamente por opção praxiológica para espaços não escolares. Concordamos com Ortega (1999), ao assinalar que pensar assim implica em uma redução das possibilidades de extensão dela. Portanto, entendemos que é necessário que mesmo os educadores que veicularão seu trabalho em espaços escolares tomem ciência desse referencial teórico, tão necessário no enfrentamento dos contextos de exclusão social. 71 Re vi sã o: J an an dr éa - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 05 /2 01 2 Tópicos de ATuAção profissionAl Figura 24 – Escola solidária 5.2 Pedagogia Social A sociedade de hoje é pedagógica. Há muito mais educação fora do que dentro do sistema escolar, essa noção é reforçada quando nos lembramos do objetivo da educação “ao longo da vida” propugnado no Relatório Delores. Nesses tempos, a educação social deve, antes de tudo, mediar uma aprendizagem para o “ser” e para o “conviver” em comunidade. O objetivo maior que persegue a educação social pode sintetizar-se como um contributo para que o indivíduo se associe no meio social com capacidade crítica para melhorá-lo e transformá-lo (Ortega, 1999). A Pedagogia Social encoraja os grupos marginalizados e as comunidades marginalizadas a construir alianças políticas umas com as outras e, dessa forma, erradicar a homogeneidade cultural, interpretando e reconstruindo sua própria história. Como parte de um esforço planejadode luta anticapitalista, a Pedagogia Social procura estabelecer a igualdade social e econômica em contraste com a ideologia conservadora e liberal de oportunidade igual, que mascara a distribuição desigual existente de poder e de riqueza (McLAREN, 2002, p. 106). O fortalecimento do debate da educação social tem se dado pela interlocução desenvolvida com a Pedagogia Social, como teoria e como prática de intervenção educativa, que tem impulsionado a oferta de uma formação acadêmica específica, concomitante com a consolidação do campo de atuação profissional. O significado científico, disciplinar e intervencionista da Pedagogia Social apresenta conceitos diversificados, acumulados no tempo em função dos contextos em que se tem desenvolvido, tal como ocorre com a Pedagogia na perspectiva ampliada. Portanto, torna-se necessário conhecer o processo epistemológico do pensamento sobre a Pedagogia Social para se estabelecer diálogos e fronteiras com a educação não escolar, muitas vezes, nomeada de sociocomunitária. 72 Unidade II Re vi sã o: J an an dr éa - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 05 /2 01 2 A Pedagogia Social vem com o propósito de melhorar a vida das pessoas que enfrentam dificuldades pela exclusão social, visando a promover o pleno exercício da cidadania. Na assistência social, existem âmbitos que desenvolvem projetos para a educação de adultos, educação de jovens para a inclusão social, a orientação escolar dos alunos atingidos por condicionamentos sociais (pobreza, exclusão social, desagregação e trabalho familiar). Considerando a diversidade de práticas pertencentes à Pedagogia Social, Soares aponta que: O âmbito referencial da Pedagogia Social está formado por todos os processos educativos que compartilham no mínimo, dois ou três dos seguintes atributos: dirigem-se prioritariamente ao desenvolvimento da sociabilidade dos sujeitos; têm como destinatários privilegiados indivíduos ou grupos em situações de conflito social; têm lugar em contextos ou por meios educativos não formais (SOARES, 2003, p. 121). Atividades coletivas, que são organizadas na própria comunidade, podem favorecer os educandos a interagir socialmente, bem como reconhecer que o conhecimento se dá em relação ao outro por meio da participação social. 5.2.1 Pedagogia Social e espaços não escolares Se, no passado, a escola era o único espaço que poderia ser considerado como fonte de formação e informação, atualmente essa ideia já não é mais aceitável, pois se entende que a educação ultrapassou os muros escolares. O espaço de aprendizagem se ampliou, ultrapassou os limites das instituições escolares formais, passou a incluir instituições não escolares (empresas, sindicatos, meios de comunicação) e também os movimentos sociais organizados. No século XXI, um novo panorama educacional se anuncia sobre a educação para o profissional que se insere no mercado de trabalho, sob diversas abrangências. Atualmente, muito se discute sobre globalização, neoliberalismo, terceiro setor, educação on-line, em função da nova estrutura social firmada, que exige profissionais cada vez mais qualificados, flexíveis e preparados para atuarem neste cenário ampliado e competitivo. Em consequência da atual realidade em que se encontra a sociedade, a educação transformou-se no foco principal para enfrentar os desafios gerados pela globalização e pelo avanço tecnológico, a tão inovadora e desafiadora Era da Informação. Também tem sido entendida pelas políticas assistenciais como foco para transformar a situação de miséria, tanto intelectual quanto econômica, política e social do povo, promovendo acesso à sociedade daqueles que são vistos como excluídos. O modelo da educação assistencial é uma forma de caracterizar a exclusão com face de inclusão, pela benevolência do Estado frente à “carência dos indivíduos”. Essa se dá também nas políticas sociais das sociedades capitalistas desenvolvidas, uma vez que, no limite, o conflito capital trabalho permanece mantendo a desigualdade social. Mesmo ampliando-se a qualidade e quantidade do usufruto de bens e serviços pela força do trabalho, o Estado 73 Re vi sã o: J an an dr éa - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 05 /2 01 2 Tópicos de ATuAção profissionAl burguês permanece pautado na “distributividade” das soluções nos limites dos interesses do capital (SPOSATI apud GADOTTI, 2000, p. 31). Assim, as políticas sociais têm se pautado no modelo de sociedade, isto é, a construção política é marcada e modificada por valores culturais e princípios que são adotados em cada sociedade, por isso suas possibilidades de transformação. Diante disso, Maria da Glória Gohn explica: Os efeitos da crise econômica globalizada e a rapidez das mudanças na era da informação levaram a questão social para o primeiro plano, e com ela o processo da exclusão social, que já não se limita à categoria das camadas populares, possibilitando o debate para a transformação da sociedade numa sociedade mais justa e igualitária (GOHN, 2001, p. 9). No contexto atual, a educação sofre mudanças em seu conceito, pois deixa de ser restrita ao processo de ensino-aprendizagem em espaços escolares formais, transpondo-se dos muros da escola para diferentes e diversos segmentos como: ONGs, família, trabalho, lazer, igreja, sindicatos, clubes etc. Abre-se assim um novo espaço para a educação: o campo da educação não formal, ou melhor, para educação não escolar. Apesar de os problemas da educação escolar estarem relacionados a questões tão antigas quanto à própria escola, os motivos geradores das questões atuais são muito mais amplos e diversificados. Talvez mais do que em qualquer outra época, as referências à crise da educação no contexto atual remetem para condicionantes econômicos, sociais, político e ideológicos muito diversificados e, consequentemente, as explicações produzidas e divulgadas são hoje mais heterogêneas e contraditórias (Afonso, 2001). Não podemos esquecer que a crise da educação, para ser compreendida, precisa levar em consideração alguns pontos decisivos: as condições atuais de expansão e internacionalização da economia capitalista num contexto de hegemonia ideológica neoliberal, a emergência do “capitalismo informacional”, as mutações aceleradas nas formas de organização do trabalho e a inevitabilidade, ideologicamente construída, do desemprego estrutural, afetam, sobretudo, as novas gerações. A crise da educação a permeabilidade e vulnerabilidade em função das pressões sociais, pressões que permitem que os espaços educativos, quase sempre passivamente tornam-se o “bode expiatório” para as crises econômicas cada vez mais frequentes. Os discursos da teoria do capital humano que induzem os cidadãos a pensar que a falta de emprego é devida a não qualificação dos indivíduos, sendo essa, por sua vez, acriticamente atribuída à incapacidade estrutural das propostas educativas para preparar os estudantes em função das (supostas) necessidades da economia (Afonso, 2001). Um dos grandes problemas da educação encontra-se na grande desvalorização da sociedade em relação à educação, pois não se acredita que por meio da educação o indivíduo possa assegurar uma colocação no mercado de trabalho. Dessa forma, a educação precisa assumir novos rumos à medida que os problemas sociais aumentam, diversificam-se e tornam-se mais complexos. 74 Unidade II Re vi sã o: J an an dr éa - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 05 /2 01 2 É indiscutível que a educação social tenha se popularizado, pois com a vida moderna, o tempo escasso e o advento da internet, novos espaços para a aprendizagem tornaram-se necessários. Como exemplo disso, a emergência dos novos lugares imateriais e virtuais de educação não escolar que configuram o ciberespaço, ou os contextos, não menos fluidos e de fronteiras também instáveis, que se relacionam demasiadamente com a chamada sociedade cognitiva (Brandão, 1986). Razão pela qual temos que refletir maisaprofundadamente sobre os dilemas e os desafios futuros que derivam do fato de o campo da educação não escolar ser disputado por muitos e diferentes interesses, contraditórios às racionalidades políticas e pedagógicas. A regulamentação dos espaços não escolares acontece com as diretrizes curriculares, a partir de 2005, em que o curso de Pedagogia aborda necessária a formação de profissionais para a Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, formação de professores, bem como uma formação voltada para o planejamento, gestão e avaliação escolar e ainda, planejar, executar, coordenar, acompanhar e avaliar projetos e experiências educativas não escolares. 5.2.2 O pedagogo em programas assistenciais Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia, por meio da Resolução do Conselho Nacional de Educação, o profissional de Pedagogia deve ser capaz de trabalhar em espaços escolares e não escolares, na promoção da aprendizagem de sujeitos em diferentes fases do desenvolvimento humano, em diversos níveis e modalidades do processo educativo. Além disso, o estágio curricular deverá contemplar a experiência de exercício profissional em ambientes escolares e não escolares. (BRASIL, 2006). A formação integral do pedagogo exige, sobretudo, uma avaliação sobre a situação de vulnerabilidade e análise sobre as necessidades, identificando e agrupando as demandas como subsídios para a construção da proposta de intervenção sociopedagógica, de modo a não ser reduzido a uma recomendação para o espontaneísmo individual e solitário de alguns profissionais. O conceito formação é geralmente associado a alguma atividade, sempre que se trata de formação para algo. Assim, a formação pode ser entendida como função social de transmissão de saberes, de saber fazer ou de saber- ser que se exerce em benefício do sistema socioeconômico, ou da cultura dominante. A formação pode também ser entendida como um processo de desenvolvimento e de estruturação da pessoa que se realiza com um duplo efeito de uma maturação interna e de possibilidades de aprendizagem, de experiências dos sujeitos. Por último, é possível falar-se de formação como instituição, quando nos referimos à estrutura organizacional que planifica e desenvolve as atividades de formação. A formação pode adotar diferentes aspectos conforme se considera o ponto de vista do objeto, ou do sujeito (GARCIA, 1999, p. 19). O autor afirma ainda que se pressuponha engajamento, vontade e desejo do profissional em relação à formação. O indivíduo é o responsável último pela ativação e desenvolvimento 75 Re vi sã o: J an an dr éa - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 05 /2 01 2 Tópicos de ATuAção profissionAl dos processos formativos, o que não significa dizer que ele seja autônoma, mas dependente fundamentalmente do querer ser e estar no espaço de formação e atuação como docente para que a práxis seja significativa. De acordo com Ryynannen (2009), pesquisadora finlandesa, o Brasil está em fase crescente de estudos sobre Pedagogia Social. Segundo esta autora: Posso afirmar que o Brasil está em fase de sistematização da Pedagogia Social como área de formação. Isso não significa que a Pedagogia Social já não exista no país, muito pelo contrário. Ressalta-se que no Brasil a história das abordagens que podem ser classificadas como sociopedagógico é longa e a tradição sociopedagógica é forte, incluindo, por exemplo, o movimento da Educação Social de Rua (ESR), O Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua (MNMMR), e os Centros de Defesa da Criança e do Adolescente (RYYNANNEN, 2009, p. 24). Dessa forma, a educação, em relação às ações sociais, representa um processo de descoberta e tomada de consciência desses usuários sobre as suas responsabilidades no exercício de direitos, cumprimento de deveres e na organização social por novas conquistas, baseando-se no referencial histórico e cultural do povo brasileiro. A educação para transformação encontra-se além dos muros das creches, escolas e universidades, ou seja, está na capacidade de organizar, refletir e produzir conhecimentos que possam ser aplicados em espaços coletivos que reconheçam as potencialidades dos indivíduos e a capacidade coletiva de (re) criar o mundo a partir da inclusão social. A contribuição da educação para a fundamentação da abordagem nas ações na Pedagogia Social está relacionada à base teórica que o pedagogo traz para a reflexão sobre a importância da participação ativa das pessoas no processo de aprendizagem e vivências, que consolida a educação para a transformação. Contudo, é preciso considerar as diferenças de cada ator social envolvido e, ao mesmo tempo, buscar uma linha de atuação que marque as abordagens sob uma lógica comum, evitando, assim, problemas de interpretação que gerem conflitos desnecessários e ameacem o trabalho coletivo. A importância do pedagogo para o exercício da cidadania é na estruturação de um espaço que promova a reflexão e/ou ações que acolha conflitos, dificuldades e potencialidades, produzindo coletivamente ideias e estimulando novas vivências. Portanto, o trabalho pedagógico em espaços não escolares é fruto das exigências expressas pelo mundo contemporâneo no sentido de refletir sobre como se alteram as condições de regulação social/desigualdade/poder; ou ainda está atrelada à ampliação do campo profissional em virtude da necessidade social. Consequentemente, como foi possível notar, a atuação do pedagogo na área da Pedagogia Social deve estar pautada na reflexão, no uso de estratégias lúdicas que assegure o direito à educação e permeie o processo de inclusão. Assim, o profissional de Pedagogia poderá estabelecer metas, objetivos, estratégias para articulação de projetos assistenciais. 76 Unidade II Re vi sã o: J an an dr éa - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 05 /2 01 2 6 PEdaGoGia EMPRESaRiaL Não há uma forma nem um único modelo de educação; a escola não é o único lugar em que ela acontece..., o ensino escolar não é a única prática, e o professor profissional não é o seu único praticante. Em casa, na rua, na igreja ou na escola, de um modo ou de muitos, todos nós envolvemos pedaços da vida com ela: para aprender, para ensinar, para conviver, todos os dias misturamos a vida à educação. Carlos Brandão Atualmente, a Pedagogia não é apenas um curso de licenciatura, de formação de professores como na sua origem. Segundo Santos (2004, p. 4), “a Pedagogia moderna, entre outras coisas, visa a preparar o pedagogo para uma atuação junto às empresas de vários ramos”. Essa tem sido a perspectiva de um novo e amplo campo de trabalho para pessoas que desejam trilhar uma nova carreira em uma empresa, sem a necessidade de graduar-se na área administrativa e econômica. A Pedagogia Empresarial busca utilizar técnicas diferenciadas, que são aplicadas de acordo com a necessidade do setor ou das pessoas em análise. Segundo Libâneo (1997, p. 132) “a Pedagogia é uma área do conhecimento que investiga a realidade educativa no geral e no particular, em que a ciência pedagógica pode postular para si”, ou seja, ramos de estudos particulares dedicados aos vários âmbitos da prática educativa, complementados com a contribuição das demais ciências ligadas à educação. Por outro lado, a atuação do pedagogo vai além de aplicação de técnicas que apenas visam a estabelecer políticas educacionais dentro da escola. O conhecimento não deve ser direcionado à Educação Infantil, Ensino Fundamental ou outras modalidades da educação como tradicionalmente muitos acreditam que deve ser a atuação de um pedagogo. 6.1 Histórico e base legal O surgimento de qualquer profissão dentro de uma sociedade está ligado a um contexto relacionado com a época, com as demandas dentro da realidade na qual está inserida. A atuação do pedagogo nas empresas surge na década de 1970 em meio às inovações tecnológicas e organizacionais que tornaram possível a reestruturação da produção ea reorganização dos mercados interno e externo. Com o processo de globalização, as mudanças no consumo e o comportamento dos consumidores, os processos de produção sofreram uma reestruturação que causou a necessidade de desenvolver pessoas capacitadas na área da educação para atuar nas empresas. No Brasil, a Pedagogia Empresarial surgiu vinculada à ideia da necessidade de preparação e formação dos Recursos Humanos nas empresas, tido como um fator essencial para o êxito empresarial. Esse personagem surge nas empresas com o apoio da Lei nº 6.297 de incentivos fiscais do treinamento. Para compreender essa relação de interesse e necessidade das empresas na formação e capacitação do trabalhador, é necessário um entendimento sobre a lei que abre caminhos no Brasil para a atuação do pedagogo neste ambiente. 77 Re vi sã o: J an an dr éa - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 05 /2 01 2 Tópicos de ATuAção profissionAl Lei nº 6.297 - de 15 de dezembro de 1975 Dispõe sobre a dedução do lucro tributável, para fins de imposto sobre a renda das pessoas jurídicas, do dobro das despesas realizadas em projetos de formação profissional, e dá outras providências. O Presidente da República, faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1º. As pessoas jurídicas poderão deduzir do lucro tributável, para fins do imposto sobre a renda, o dobro das despesas comprovadamente realizadas, no período-base, em projetos de formação profissional, previamente aprovados pelo Ministério do Trabalho. Parágrafo único. A dedução a que se refere o caput deste artigo não deverá exceder, em cada exercício financeiro, a 10% (dez por cento) do lucro tributável, podendo as despesas não deduzidas no exercício financeiro correspondente serem transferidas para dedução nos três exercícios financeiros subsequentes. Art. 2º. Considera-se formação profissional, para os efeitos desta Lei, as atividades realizadas em território nacional, pelas pessoas jurídicas beneficiárias da dedução estabelecida no Art. 1º que objetivam a preparação imediata para o trabalho de indivíduos, menores ou maiores, através da aprendizagem metódica, da qualificação profissional e do aperfeiçoamento e especialização técnica, em todos os níveis. § 1º. As despesas realizadas na construção ou instalação de centros de formação profissional, inclusive a aquisição de equipamentos, bem como as de custeio do ensino de 1º grau para fins de aprendizagem e de formação supletiva, do 2º grau e de nível superior, poderão, desde que constantes dos programas de formação profissional das pessoas jurídicas beneficiárias, ser consideradas para efeitos de dedução. § 2º. As despesas efetuadas pelas pessoas jurídicas beneficiárias com os aprendizes matriculados nos cursos de aprendizagem a que se referem o Art. 429 da Consolidação das Leis do Trabalho e o Decreto-lei n.º 8.622, de 10 de janeiro de 1946, poderão também ser consideradas para efeitos de dedução. Art. 3º. As isenções da contribuição ao Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – Senai – previstas no Art. 5º do Decreto-lei n.º 4.048, de 22 de janeiro de 1942; Art. 5º do Decreto-lei n.º 4.936, de 7 de novembro de 1942 e Art. 4º do Decreto-lei número 6.246, de 5 de fevereiro de 1944, bem como as isenções da contribuição ao Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial 78 Unidade II Re vi sã o: J an an dr éa - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 05 /2 01 2 – Senac – previstas no Art. 6º do Decreto-lei n.º 8.621, de 10 de janeiro de 1946, não poderão ser concedidas cumulativamente com a dedução de que trata o Art. 1º desta Lei. Art. 4º. O Poder Executivo estabelecerá as condições que deverão ser observadas pelas entidades gestoras de contribuições de natureza parafiscal, compulsoriamente arrecadadas, nos termos da legislação vigente, para fins de formação profissional. Art. 5º. O Poder Executivo regulamentará a presente Lei no prazo de 60 (sessenta) dias, contados a partir da data de sua publicação. Art. 6º. Esta Lei entrará em vigor a 1º de janeiro de 1976, revogadas as disposições em contrário. Brasília, 15 de dezembro de 1975; 154º da Independência e 87º da República. (BRASIL, 1975). Com o apoio da lei, o surgimento do sindicalismo independente e o fato da escola formal não atender às expectativas do mercado, a formação profissional passou a ser adquirida no próprio local de trabalho e com grande demanda para a formação imediata de profissionais. 6.1.1 O papel do pedagogo O pedagogo passa a ser o profissional capacitado para atuar dentro dessa realidade, conforme cita Urt e Lindquist: O pedagogo começou a ser chamado para atuar na empresa no final da década de sessenta, início de setenta. Os princípios de racionalidade, eficiência e produtividade foram transportados da economia para a educação, de modo conciliatório com a política desenvolvimentista. A concepção de educação que predominava trazia consigo a ideologia desenvolvimentista, fundamentada nas teorias do Capital Humano, muito presente no cenário nacional, respaldando políticas e ações que visavam ao aperfeiçoamento do sistema industrial e econômico capitalista. Na década de 1970, observou-se uma crescente automação do processo de trabalho, de novas tecnologias. No entanto, a classe trabalhadora encontrava-se totalmente despreparada para o estágio de desenvolvimento industrial. O mercado de trabalho passou, então, a reclamar a profissionalização dos trabalhadores para acompanhar as mutações que estavam ocorrendo no mundo do trabalho, decorrentes de transformações tecnológicas. A escola encontrava-se despreparada para oferecer contribuições na profissionalização dos trabalhadores para que atendessem as perspectivas de desenvolvimento industrial. Sendo assim, buscaram-se outros mecanismos situados fora da escola formal para formar 79 Re vi sã o: J an an dr éa - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 05 /2 01 2 Tópicos de ATuAção profissionAl o trabalhador viável àquele momento. A formação profissional passou a ter seu âmbito cada vez mais definido no local de trabalho ou através de treinamentos intensivos, coordenados por instituições ou pela própria empresa. (URT; LINDQUIST, 2004, s/n). Em princípio, o foco da Pedagogia Empresarial era o treinamento e desenvolvimento de pessoal nas empresas. As ações realizadas em treinamentos, planejamentos e programação tinham um caráter didático e referiam-se à estruturação dos cursos, à formulação dos objetivos, à seleção de conteúdo, recursos instrucionais e métodos de avaliação, assim como à seleção de treinadores e instrutores. Nesse contexto, o pedagogo treinava e avaliava o avanço dos indivíduos, normalmente com baixa escolaridade. Suas intervenções pouco contribuíam para ascensão pessoal e profissional desses indivíduos. O termo Pedagogia Empresarial foi cunhado pela professora Maria Luiza Marins Holtz (2006) na década de 1980 para designar todas as atividades que envolviam cursos, projetos e programas de treinamento e desenvolvimento. Assim, a atuação do pedagogo nas empresas seria de estruturação e reestruturação do trabalho e do profissional em uma determinada área problemática, sem esquecer a importância de se conhecer e respeitar o homem. Morgan (1996) já avaliava que quando a organização é vista por alguém de fora, essa pessoa tem a percepção de uma realidade diferente da atual, e quando a situação é trabalhada de forma combinada e em conjunto, o resultado será uma produção totalmente diferente, com novas descobertas e interpretações entre pessoas e máquinas. Visualizar o problema e buscar soluções para ele é mais fácil quando se está observando de fora, como em qualquer situação e local. Verificar e compreender as relações do empregado e empregador é melhor quando se está fora da situação/problema, pois se obtém uma visão diferenciada. 6.2 o conhecimento e o mundo atual Se a inserção do pedagogo deu-se no contexto das revoluções tecnológicase rapidez nas informações e sua necessidade provém de compreender e adequar-se à nova realidade, precisamos compreender sob que aspecto é visto o conhecimento no mundo atual. Figura 25 – Exposição às informações 80 Unidade II Re vi sã o: J an an dr éa - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 05 /2 01 2 Vivemos em um mundo em que o atual processo de globalização tornou tudo muito mais rápido. Com a revolução nas comunicações, as informações circulam rapidamente e o conhecimento está em constante mudança, com uma velocidade imensurável. Esse fenômeno atingiu o mercado e vem demandando um profissional mais qualificado que, para competir no mercado de trabalho, precisa se destacar, ter um diferencial, estar em constante atualização do conhecimento. E o capital intelectual é esse diferencial no mercado de hoje. De acordo com Isolda Lopes, Ana Beatriz Trindade e Márcia Alvim Cadinha (2009), a obsolescência intelectual talvez seja o maior risco de qualquer profissional em todos os ramos de negócios atualmente. À medida que mais empresas investem no capital intelectual de seus funcionários, assegura-se a manutenção e retenção do seu quadro de profissionais, elevando seus padrões de qualidade e desempenho no mercado. Segundo Gilberto Dimenstein, “trata-se de um novo conceito no mercado de trabalho resultante da rápida obsolescência dos conhecimentos técnicos devido aos constantes avanços em áreas como computação, engenharia genética, administração [...]” (DIMENSTEIN, 2003, p. 10). Fazer com que seus funcionários não se acomodem com os conhecimentos adquiridos é um desafio para as empresas que buscam motivar o crescimento, aprimoramento e desenvolvimento intelectual de seus funcionários partindo do conceito de aprendizagem permanente. Assim, no mundo atual, é necessário adotar o hábito da aprendizagem permanente para manter-se no mercado de trabalho e acompanhar todas as suas mudanças. Figura 26 – Aprendizagem permanente Há alguns anos, as empresas buscavam desenvolver em seus profissionais competências e habilidades específicas para o desempenho de suas atividades dentro da organização. Atualmente, não basta só possuir tais competências e habilidades, é importante desenvolver a atitude, é fundamental querer investir no conhecimento no qual somente o indivíduo é capaz de mudar sua situação no mercado de trabalho e crescer profissionalmente. Para uma maior compreensão do que viria a ser esse querer do indivíduo voltado para a ampliação dos seus conhecimentos e melhoria de sua capacidade profissional, é válido citar um artigo com o título 81 Re vi sã o: J an an dr éa - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 05 /2 01 2 Tópicos de ATuAção profissionAl de “Prazer é a alma do negócio”, retirado do livro Aprendiz do futuro: cidadania hoje e amanhã, do autor Gilberto Dimenstein, 2003. Prazer é a alma do negócio Apesar dos 72 anos, Herbert Spirer professor da Universidade de Columbia, em Nova York, sentiu a necessidade de estudar espanhol. “Estou começando do zero” diz, animado. Quem já passou pelo desafio de aprender uma língua depois de adulto conhece o tormento. Tormento e, para quem vai morar no exterior, não raro constrangimento; em poucos meses, os pais recebem pitos (em público, claro) dos filhos pequenos pelos erros de pronúncia. Spirer teve de abrir brecha na sua carregada agenda. Professor de administração de empresas, dá um curso disputadíssimo, com filas de espera. Ensina a detectar fraudes, manipulações e distorções estatísticas. Prepara novo livro e coleta casos de deformações por todos os cantos do mundo – entre eles, o número de meninos de rua no Brasil, que, de milhões, passou para milhares, depois de simples contagens pelas praças e esquinas. Chegou à conclusão de que o esforço de aprender outra língua valeria a pena, ajudaria nas pesquisas, enriquecendo os livros e aulas. Essa lição é valiosa. Pesquisa realizada nos Estados Unidos vê um especial significado no gesto do professor às voltas com o aprendizado de novo idioma – é a chave para qualquer indivíduo sobreviver no próximo século. A associação dos Diretores de Escola dos Estados Unidos encomendou pesquisa com 55 respeitados psicólogos, empresários, administradores de empresas, especialistas em recursos humanos e demógrafos. Eles deveriam dizer quais as características necessárias para um profissional sobreviver, no século XXI, levando em consideração fatores como velocidade das descobertas tecnológicas e competição provocada pela globalização. Saiu um relatório de 74 páginas que mistura dicas sobre tipo de conhecimento necessário e comportamento. Exemplo de dica: mesmo o trabalhador comum deve ser educado a acompanhar tendências internacionais, entendendo a diversidade cultural. Tanto no Brasil como nos Estados Unidos, só por acidente um operário lê matérias sobre política exterior ou finanças internacionais. Uma palavra-chave transmitida por todos os entrevistados da pesquisa é a matriz de todas as dicas e explica o significado que está por trás das aulas de espanhol do professor Spirer: lifelong learning. Tradução: aprendizagem permanente. Até agora, essa postura de aprendizagem permanente estava restrita aos intelectuais, professores, pesquisadores, técnicos de alto nível, gente que nunca para de estudar. Com a competição feroz dos novos tempos, sem fronteiras, agora é exigência para qualquer 82 Unidade II Re vi sã o: J an an dr éa - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 05 /2 01 2 trabalhador. Aprendiz permanente é o curioso permanente, movido pelo prazer da descoberta e pela coragem de descartar antigas fórmulas. Soa ridículo falar em prazer da descoberta no Brasil, onde um trabalhador tem, em média, apenas quatro anos de estudo. Menos que no Paraguai. DIMENSTEIN, 2003, p. 10. Refletindo a partir desse artigo, podemos concluir que o que há de mais valioso nas empresas é o capital intelectual de seus profissionais. E, ao profissional, é importante que vise, além do resultado, à qualidade de sua produção, que seja polivalente, atuando e intervindo na empresa, dotado de uma visão crítica, audacioso e criativo. Necessita “querer” para se desenvolver. É nesse ponto que atualmente a Pedagogia Empresarial procura intervir para favorecer uma aprendizagem significativa e aperfeiçoamento do capital intelectual dos funcionários. Figura 27 – Conhecimento é atemporal 6.2.1 Capital intelectual Capital: sm (lat capitale) 1 Posses, quer em dinheiro, quer em propriedades, possuídas ou empregadas em uma empresa comercial ou industrial por um indivíduo, firma, corporação etc. 2 Importância que se põe a render juros; principal. 3 Cabedal em dinheiro para uma empresa. 4 Qualquer coisa que sirva de meio de ação ou utilidade permanente. 5 Econ polít Riqueza ou valores acumulados, destinados à produção de novos valores. 6 Riqueza. 7 Numerário. (DICIONÁRIO MICHAELIS, 2012). A partir da definição dos dicionários, podemos dizer que capital é toda riqueza capaz de produzir renda. Um item de extrema importância quando se abre uma empresa é o capital, pois é ele que inicialmente constitui e forma essa nova empresa. Se associarmos à palavra intelectual ao conceito de capital, podemos dizer que são recursos gerados pelas empresas através do intelecto das pessoas. Porém, a definição de capital intelectual abrange vários elementos intangíveis, além do próprio capital humano. Assim, o capital intelectual pode ser definido como o conjunto de informações e conhecimentos encontrados nas organizações, que agregam ao produto e/ou serviços valores mediante à aplicação da 83 Re vi sã o: J an an dr éa - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 05 /2 01 2 Tópicos de ATuAção profissionAl inteligência e não do capital monetário. Quando não subestimado e usado de forma eficiente, pode trazer à empresa bons negócios e melhor rentabilidade. Figura 28 – Capital intelectual Atualmente, com a evolução empreendedorismo, incluem-se no capitalda empresa insumos invisíveis como a inteligência, a criatividade, a intuição, que está relacionada ao feeling. E o capital intelectual é a riqueza “invisível” que inclui, além dos insumos citados, conhecimento acumulados por indivíduos por meio de livros, cursos, congressos, seminários, vivências, dinâmicos encontros para troca de experiências. O capital de uma empresa pode ser composto de capital de terceiros – quando constitui a parte da empresa que deve a terceiros – e capital próprio – que pode ser originado de duas fontes: recursos do proprietário (capital inicial) e o capital proveniente do crescimento da empresa (os lucros). Futuramente, esses lucros seriam transformados em reservas. Figura 29 – Tempo pode gerar capital Segundo Edvinsson e Malone (1998, p. 9), para que seja produzido o capital intelectual, precisamos de três fatores ocultos, que são: 1) o capital humano, composto pelo conhecimento, expertise, poder de inovação e habilidade dos empregados, além dos valores, cultura e a filosofia da empresa; 2) o capital estrutural, que inclui equipamentos de informática, softwares, banco de dados, patentes, marcas registradas e tudo o mais que apoia a produtividade dos empregados; 3) o capital de clientes, que 84 Unidade II Re vi sã o: J an an dr éa - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 05 /2 01 2 envolve o relacionamento com clientes e tudo o mais que agregue valor para os clientes da organização. Para esses autores, o capital intelectual representa uma lacuna entre o valor de mercado e o valor contábil, sendo a junção do capital humano e o capital estrutural. Edvinsson e Malone apoiaram os primeiros movimentos que fomentaram o capital Intelectual e explica esse conceito a partir do desenho de uma árvore. Figura 30 – Representação figurativa do conceito de capital intelectual Em que, segundo eles: As partes visíveis da árvore, tronco, galhos e folhas, representam a empresa conforme é conhecida pelo mercado e expressa pelo processo contábil. O fruto produzido por essa árvore representa os lucros e os produtos da empresa. As raízes, massa que está abaixo da superfície, representa o valor oculto. Para que a árvore floresça e produza bons frutos, ela precisa ser alimentada por raízes fortes e sadias. (EDVINSSON; MALONE, 1998, p. 28.) O capital intelectual é um recurso obtido exclusivamente pelos seres humanos que desenvolvem seu potencial, gerando conhecimento e inovando os objetivos das organizações, transformando-os em benefícios para as empresas. Assim, o papel da educação nesse novo cenário está ligado a um novo modelo de racionalização dos processos produtivos, requalificação profissional, reorganização do trabalho, desenvolvimento de novas competências, entre outros. E é justamente com esses aspectos que atua o pedagogo empresarial, um profissional que contribuirá no desenvolvimento dos seus funcionários em todos os seus aspectos: intelectual (conhecimentos e habilidades), social e afetivo (atitudes). Itens que denominam o CHA da competência, que é um dos modelos mais atuais com o quais as melhores empresas trabalham para avaliar seus colaboradores. O “C” significa conhecimento sobre um determinado assunto, o 85 Re vi sã o: J an an dr éa - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 05 /2 01 2 Tópicos de ATuAção profissionAl “H” significa habilidade para produzir resultados com o conhecimento que se possui, o “A” significa atitude assertiva e proativa, iniciativa. Para construir tais competências, o profissional necessita desenvolver algumas competências básicas que, segundo Lopes, Trindade e Cadinha, são: Espírito de liderança: sujeito capaz de orientar, conduzir sua equipe para alcançar resultados. Acreditar nas habilidades e no discernimento das pessoas; ser flexível, acessível e ter carisma. Orientação para o cliente: saber identificar as necessidades do cliente; conhecer seu perfil; direcionar suas atividades de forma que o satisfaçam. Orientação para resultados: busca incessante para alcançar os objetivos. Comunicação clara e objetiva: ter pensamentos ordenados e claros para haver comunicação eficaz e eficiente. Flexibilidade e adaptabilidade: adaptar-se às inovações, ter a capacidade de modificar, em um curto espaço de tempo, a produção ou os produtos em função de variações no ambiente externo, buscando atender de forma ágil às flutuações do mercado. Criatividade e produtividade: ser inovador, ousado, usar do poder da criatividade para fazer a diferença nos resultados. Iniciativa e proatividade: ser ágil, ter ação, antecipar fatos, os resultados. Aprendizagem contínua: buscar sempre superar seus próprios conhecimentos, acompanhar as inovações, atualizar-se sempre, questionar-se (LOPES; TRINDADE; CADINHA, 2009, p. 31). Devido às novas exigências do mercado de trabalho, a Pedagogia Empresarial é responsável por ligar o desenvolvimento do indivíduo às estratégias organizacionais, visto que a Pedagogia é a ciência que estuda o fenômeno educativo e faz uso de ferramentas que possibilitam isso. 7 o PEdaGoGo NaS EMPRESaS O campo de atuação do profissional formado em Pedagogia é tão vasto quanto são as práticas educativas na sociedade. Em todo lugar onde houver uma prática educativa com caráter de intencionalidade, há aí uma Pedagogia. Libâneo 86 Unidade II Re vi sã o: J an an dr éa - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 05 /2 01 2 Como já vimos, várias são as áreas de atuação do pedagogo. Elas vão além do ambiente escolar, onde o pedagogo atua como professor, gestor, planejador, coordenador, orientador ou supervisor de ensino. Fora desse ambiente, o pedagogo desenvolve atividades pedagógicas não escolares em empresas privadas, órgãos públicos – em setores como da saúde, alimentação, cultura, promoção social –, ONGs, entre outros. O pedagogo é um especialista em aprendizagem e é capaz de conduzir o comportamento das pessoas, buscando uma mudança: a aprendizagem. Como especialista em aprendizagem e educação, na sua ação educativa em qualquer ambiente, procura resolver questões educacionais. Para isso, tem necessidade de conhecer os aspectos que envolvem o ser humano e toda a sua complexidade, desenvolvendo condições de orientá-lo eficazmente e encontrar soluções práticas para os problemas que o aflige, tanto de ordem individual, social e espiritual. Dentro das empresas, o pedagogo enfrenta o desafio de contrabalançar os efeitos desequilibradores da especialização profissional, limitante e muitas vezes castradora, usando atividades recriadoras e motivação. Figura 31 – Pedagogo nas empresas Sua atenção é voltada à educação integral, isto é, ao processo de influenciar e sugestionar positivamente os funcionários em todos os aspectos da sua personalidade, propiciando o desenvolvimento da produtividade pessoal nas mais diversas atividades. O pedagogo atuando nas empresas precisa fazer com que o empresário, ou grupo gestor, perceba que o seu ideal de vida, suas aspirações e objetivos pessoais correspondem a uma questão ética e social na empresa. Sendo assim, o pedagogo estuda e aplica doutrinas e princípios para um programa de ação, com os meios mais eficientes de formação, aperfeiçoamento e estímulo das faculdades da personalidade humana, para que o sujeito aproprie-se dos conhecimentos produzidos pela humanidade e continue a produzir novos saberes, novos conhecimentos, novas formas de cultura, evoluindo, refletindo, questionando e analisando conhecimentos anteriores para assim modificá-los e reconstruir novos conhecimentos. Então, a Pedagogia Empresarial também busca agir na realização de ideais e objetivos definidos, provocar mudanças no comportamento das pessoas, adequando-as às necessidades das empresa para 87 Re vi sã o: J an an dr éa - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 05 /2 01 2 Tópicos de ATuAção profissionAl que alcance os resultados desejados. Para isso, o pedagogo trabalha as relações no ambiente de trabalho, visto que a empresaé o local onde o empregado passa grande parte do seu dia. A empresa tem de respeitar o profissional, pois ele é um fator extrema importância no seu desenvolvimento e permanência no mercado. Para que uma empresa progrida, é importante a construção de uma missão, visão e objetivos baseados no crescimento do seu maior bem: o profissional e o capital intelectual que ele possui. Um profissional valorizado produz mais e sente-se motivado a aprender mais também. O homem não é uma máquina: tem necessidades, sejam elas físicas ou pessoais. Saiba mais Um bom exemplo para compreensão de que o homem não serve apenas para apertar parafusos e tampouco é uma máquina é o filme Tempos Modernos (1936), do diretor Charles Chaplin. O filme focaliza a vida na sociedade industrial caracterizada pela produção com base no sistema de linha de montagem e especialização do trabalho. É uma crítica à “modernidade” e ao capitalismo representado pelo modelo de industrialização, onde o operário é engolido pelo poder do capital e perseguido por suas ideias “subversivas”. 7.1 atuação do pedagogo nas empresas No seu trabalho nas empresas, o pedagogo pode atuar na universidade corporativa, que tem como objetivo oferecer cursos técnicos específicos para os colaboradores, estruturando os cursos exatamente de acordo com as políticas e estratégias das empresas, o que reduz custos do treinamento convencional, além da rapidez na formação da mão de obra. Figura 32 – Atuação do pedagogo 88 Unidade II Re vi sã o: J an an dr éa - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 05 /2 01 2 A seleção de pessoal pode ser definida como a escolha do profissional mais adequado aos cargos existentes na empresa visando à manutenção ou ao aumento da eficiência e do desempenho. Deve compreender que as diferenças em cada ser, tanto no plano físico como no plano psicológico, levam a comportamentos e percepções diferentes e, consequentemente, a desempenhos diferentes nas empresas. E cabe ao pedagogo identificar as diferenças e adaptá-las à missão da empresa. No treinamento de pessoal é onde se oferece oportunidades para que as pessoas possam refletir, criticar, estudar e profissionalizar-se. É uma espécie de investimento sob medida que atende às necessidades da empresa. Treinamento é o processo educacional de curto prazo, aplicado de maneira sistemática e organizada, através do qual as pessoas aprendem conhecimentos, habilidades e competências função de objetivos definidos (CHIAVENATO, 2004, p. 402). Para a execução do treinamento, é necessário ter bem claro quem precisa ser treinado e o que necessita ser aprendido. Isso envolve as seguintes etapas: • O diagnóstico, que nada mais é que o levantamento das necessidades de treinamento. • A programação e elaboração do treinamento para atender às necessidades levantadas no diagnóstico. • A execução do treinamento. • A avaliação dos resultados. Outra forma de atuação mais recente está ligada à elaboração de projetos de responsabilidade social das empresas, que se dá quando cumpridas as prescrições de leis e de contratos. Essa atividade constitui uma resposta da empresa às necessidades da sociedade, respondendo ao que se espera da organização no mundo globalizado e ligada também à sustentabilidade, cada vez mais discutida atualmente. A responsabilidade social volta-se para a atitude e o comportamento da empresa frente às exigências sociais em consequência das suas atividades. Responsabilidade social significa a atração responsável socialmente de seus membros, as atividades de beneficência e os compromissos da organização com a sociedade em geral e de forma mais intensa com aqueles grupos ou parte da sociedade com a qual está mais em contato (CHIAVENATO, 2004, p. 483). Outra forma de atuação desse profissional é organização da liderança e formação de equipe. Para isso, é preciso que ele compreenda os aspectos que envolvem o conceito de liderança, como um bom líder de equipe deve compartilhá-la com outros membros, estimulando, elevando a autoestima e a satisfação pessoal daqueles que assumem compromissos com a equipe, assim como também o aumento 89 Re vi sã o: J an an dr éa - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 05 /2 01 2 Tópicos de ATuAção profissionAl da busca pelo aperfeiçoamento e por novos conhecimentos e competências. Ribeiro fornece algumas dicas para formação de um líder e para o trabalho de formação de equipes. 1. As pessoas gostam de se sentir especiais... dê-lhes elogio; 2. As pessoas buscam um futuro melhor... dê-lhes esperança; 3. As pessoas precisam ser entendidas... dê-lhes ouvido; 4. As pessoas têm falta de sentido na vida... dê-lhes direção (RIBEIRO, 2006, p. 4). De acordo com Pascoal (2007), as competências de um pedagogo dentro da empresa se articulam em cinco campos: atividades pedagógicas, técnicas, sociais, burocráticas e administrativas: • Conceber, planejar, desenvolver e administrar atividades relacionadas à educação na empresa. • Diagnosticar a realidade institucional. • Elaborar e desenvolver projetos, buscando o conhecimento também em outras áreas profissionais. • Coordenar a atualização em serviço dos profissionais da empresa. • Planejar, controlar e avaliar o desempenho profissional dos funcionários da empresa. • Assessorar as empresas no que se refere ao entendimento dos assuntos pedagógicos atuais (PASCOAL, 2007, p. 190). Então, a função da Pedagogia Empresarial é mostrar como agir de maneira mais construtiva e produtiva para si, para os outros e para a sociedade. A Pedagogia apresenta atividades práticas que levam a atingir a um objetivo determinado, além de conhecer e encontrar as soluções práticas para as questões que envolvem a otimização da produtividade das pessoas – o objetivo de toda empresa. Almeida define essa atuação: A atuação do profissional de Pedagogia nas organizações será importante e positiva à medida que elas não estejam visualizando apenas a manutenção de políticas de RH clientelistas, mas sim estejam preocupadas com o desenvolvimento humano de forma efetiva voltadas para a potencialização da inteligência de cada um individualmente e da organização como um todo (ALMEIDA, 2006, p. 130). 90 Unidade II Re vi sã o: J an an dr éa - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 05 /2 01 2 Figura 33 – O pedagogo preocupa-se com o desenvolvimento humano O artigo a seguir, de Roselene N. M. Lindquist e Sonia da Cunha, contribui para uma melhor compreensão do papel do pedagogo nas empresas e, portanto, é aqui reproduzido na íntegra. O pedagogo na empresa: um “novo” personagem nas novas formas de sociabilidade do trabalho? Esta investigação teve como propósito buscar o entendimento sobre por que, em determinado momento histórico, as organizações empresariais passaram a absorver o pedagogo, e a que interesses eles foram chamados a atender. Procura-se também compreender como as mudanças no mercado de trabalho, os novos perfis exigidos pelas empresas contribuíram para a inserção desse profissional no meio empresarial. Mota (1987) afirma que, para se apreender o surgimento de uma profissão, é necessário examinar o próprio movimento da sociedade, identificando não somente as necessidades existentes como também o seu processo de criação e apropriação pelos agentes no interior da correlação de forças de classes. Vejamos primeiro como se deu historicamente a aproximação desse profissional nas organizações. O pedagogo começou a ser chamado para atuar na empresa no final da década de 1960, início de 1970. Esse período foi muito influenciado pela tecnocracia. Nesse momento, o papel da educação era contribuir para a aceleração do desenvolvimento econômico e do progresso social. Os princípios da racionalidade, eficiência e produtividade foram transportados da economia para a educação, de modo conciliatório com a política desenvolvimentista. A concepção de educação que predominava trazia consigo a ideologia desenvolvimentista, fundamentada nos princípiosda Teoria do Capital Humano, muito presente no cenário nacional, respaldando políticas e ações que visavam ao aperfeiçoamento do sistema industrial e econômico capitalista. 91 Re vi sã o: J an an dr éa - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 05 /2 01 2 Tópicos de ATuAção profissionAl Na década de 1970, observou-se uma crescente automação do processo de trabalho, de novas tecnologias. No entanto, a classe trabalhadora encontrava-se totalmente despreparada para o estágio de desenvolvimento industrial. O mercado de trabalho passou, então, a reclamar a profissionalização dos trabalhadores para acompanhar as mutações que estavam ocorrendo no mundo do trabalho, decorrentes de transformações tecnológicas. A escola encontrava-se despreparada para oferecer contribuições na profissionalização dos trabalhadores para que atendessem às perspectivas de desenvolvimento industrial. Sendo assim, buscaram-se outros mecanismos situados fora da escola formal para formar o trabalhador viável àquele momento. A formação profissional passou a ter seu âmbito cada vez mais definido no local de trabalho ou por meio de treinamentos intensivos, coordenados por instituições ou pela própria empresa. No momento de sua chegada, o pedagogo encontrou uma empresa com características tayloristas-fordistas, com trabalhadores com pouca escolaridade. O seu papel então voltou-se quase exclusivamente para a área de treinamento. Ele era a pessoa que fazia o levantamento das necessidades, planejava, ministrava os treinamentos, avaliava e ainda conduzia alguns processos de escolarização que ocorriam dentro da organização. Em um primeiro momento, o pedagogo era contratado para atuar nos famosos Centros de Treinamento das Empresas. Esses espaços eram específicos para treinar o funcionário nas diversas tarefas que eles teriam de realizar no seu trabalho, os cursos funcionavam quase como um adestramento. Nesse contextos, os pedagogos definiam horários, métodos de ensino, avaliação e orientavam os instrutores operacionais leigos em didática como “treinar”. A eficácia era o quanto os funcionários sabiam fazer a tarefa, com rapidez e qualidade. A preocupação da empresa naquele momento era a de ter um trabalhador que tivesse uma escolaridade básica, o conhecimento técnico da atividade que iria desenvolver e que não promovesse conflitos. Por isso, dentro da área de treinamento, existia a preocupação com a adaptação pacífica do empregado ao posto de trabalho. Dessa forma, dentro do processo de treinamento, estavam os cursos de relações humanas, que na maioria das vezes eram ministrados pelo pedagogo em parceria com o psicólogo. No primeiro momento da presença do pedagogo na empresa, a sua atuação estava voltada para a coordenação de programas educativos, como: a viabilização de programas de ensino normal que proporcionassem a escolaridade básica aos empregados que não tinham, a condução dos programas de treinamentos, o planejamento, a organização, a avaliação dos treinamentos e a formação de instrutores. Além disso, ministrava cursos de relações humanas, motivação, liderança etc. A ênfase da sua prática estava no pedagógico, no sentido de trabalhar com o processo de aprendizagem dentro dos programas de ensino formal e dos treinamentos. Para atender às suas necessidades, a empresa tinha de possuir um trabalhador que soubesse ler, escrever, contar e ser especialista em determinada função. Essa forma de atuação atendia aos interesses do modelo produtivo com características taylorista/fordista, que centrava as ações de formação na construção de um saber técnico, no saber fazer. Nesse período (década de 1970), em função de uma crescente automação do processo de trabalho e de a escola formal não atender às expectativas imediatistas 92 Unidade II Re vi sã o: J an an dr éa - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 05 /2 01 2 do mercado, a formação profissional no local de trabalho passou a ter grande ênfase, proporcionando uma demanda grande de treinamentos. As metamorfoses do mercado de trabalho, as inovações tecnológicas, os novos perfis de trabalhador repercutiram muito na prática do pedagogo na empresa. Um fator significativo foi a suspensão da Lei 6297/75, em 12 de abril de 1990, eliminando o apoio financeiro do governo às empresas, o que enfraqueceu o processo de treinamento nas organizações e, como consequência, muitos centros de treinamento foram desativados. As empresas que tinham um número grande de pedagogos passaram a ficar somente com o psicólogo e um pedagogo. Esse último, que antes se envolvia em todo o processo de treinamento, passa a ser o articulador, o que contrata e avalia a processo de treinamento. Porém, as mudanças nas formas de organização do trabalho exigiram desse profissional mudanças no seu perfil e prática. Partindo do pressuposto de que a presença do pedagogo na empresa é histórica e que ocorreu em um momento de expansão do capital para atender as novas necessidades sociais, pretendemos discutir a inserção do pedagogo no meio empresarial. Realizamos a coleta dos dados da pesquisa empírica na cidade de São Paulo, em 06 (seis) empresas das quais duas pertenciam ao ramo da indústria, setores de alumínio e cosméticos; duas do comércio, setor varejista e duas de serviços, setor bancário e de informação. Dessas empresas, entrevistamos pedagogos e os gerentes de recursos humanos. Uma das pedagogas entrevistadas sintetizou a necessidade de transformação na prática do pedagogo: “Com o passar dos anos, com a própria automação industrial e informatização dos processos, o manuseio operacional dos equipamentos deixou de ser tão fundamental e, com isso, o Centro de Treinamento também. Contudo, em contrapartida, as empresas tomaram a consciência de que seu sucesso não estava na utilização dos braços e mãos, mas na capacidade inventiva e dedutiva dos seus funcionários. Os ambientes de constantes mudanças exigiram dos homens uma grande habilidade de aprender rapidamente e aplicar novos conceitos, quebrando paradigmas. A gestão do “capital intelectual”, como ficou conhecida, é estratégica para as organizações no mercado e para sua própria sobrevivência. Nesse contexto, o pedagogo é útil em atuar na produção, disseminação e gestão de conhecimento. Além disso, tem de ter o domínio das ferramentas mais modernas que existem, porque as pessoas as utilizam. Um exemplo disso são as metodologias ‘e-learning’ ”. O modelo flexível, atual paradigma do setor produtivo, exige um novo perfil de trabalhador, no qual as capacidades subjetivas do indivíduo são essenciais. Esse modelo apresenta outra lógica de utilização da força de trabalho: divisão menos acentuada do trabalho e integração mais pronunciada de funções. Palagana & Bianchetti (1995) destacam que as exigências intelectuais são maiores e distintas das que predominavam durante o modelo taylorista–fordista. Em função da prática produtiva, da automação e flexibilização, há uma apelação para o saber fazer, principalmente para a capacidade de dominar vários segmentos de uma linha produtiva, sendo a palavra de ordem a polivalência da mão de obra: maior versatilidade na ocupação do posto de trabalho, formação geral ampliada, formação 93 Re vi sã o: J an an dr éa - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 05 /2 01 2 Tópicos de ATuAção profissionAl técnica, envolvimento com a qualidade e atenuação de barreiras entre diferentes categorias de trabalhadores. Num momento em que a capacidade manual não é mais imprescindível, mas a capacidade cognitiva e emocional são fatores de desenvolvimento e produtividade, a empresa reivindica a “mente e o coração” do indivíduo; essa captura exige uma ação pedagógica muito contundente com vistas ao controle do trabalhador e do processo de trabalho. No quadro da empresa atual, sob o modelo da Qualidade Total, da flexibilização, o pedagogo tem um espaço predominantemente “pedagógico”. A formação do trabalhador dentro das expectativas do mercado atualexige o reforço da equipe de recursos humanos, uma vez que são grandes as expectativas de um “novo trabalhador”, como se percebe na fala da gerente de recursos humanos: “Em função de toda a mudança, tem que ser uma pessoa muito mais crítica, muito mais capaz de se adaptar à mudança, muito mais flexível, muito mais curativo, que contribua efetivamente para o processo. Então, a grande mudança que eu percebo nesse sistema é que você hoje não quer mais pessoas que simplesmente façam, tem que ser pessoas que façam, mas que melhorem continuamente o processo, que contribuam efetivamente com sugestão, ideias, iniciativa. Em linhas gerais, esse é o nosso perfil para ser operacional; no nível administrativo, é lógico que a gente tem outro nível de exigências em termos de formação, que está associado à área de atuação, mas que tem todo esses pontos também, criatividade, inovação... A gente tem todo um perfil que está baseado no mapeamento de competências para as pessoas administrativas nos vários níveis da organização. A gente divide em dois grupos: 1) as competências comportamentais, que são iguais para a organização como um todo. Quando a gente fala de áreas administrativas, cada competência tem comportamentos diferentes associados, e tem uma mudança a partir do nível gerencial; assim, algumas competências são diferentes. E 2) as competências técnicas, que são focadas na atividade de cada área. Aí sim, a área de treinamento tem um conjunto de competências técnicas diferente da área de remuneração, diferente da área de administração de pessoal”. O modelo das competências é o principal parâmetro atual com relação ao perfil de trabalhador almejado. Esse modelo valoriza, além do conhecimento técnico, o comportamento, as atitudes e as posturas do trabalhador na solução dos problemas do trabalho. Os elementos subjetivos são essenciais para a adaptação do trabalhador às novas práticas produtivas. O modelo das competências, associado ao conceito de empregabilidade, expressa as modernas formas de controle que se busca exercer sobre o trabalhador, que precisa controlar a si mesmo para se enquadrar dentro dos parâmetros exigidos. Esse modelo possui um caráter extremamente individualizante porque tira o foco do posto de trabalho, da categoria, passando para o indivíduo, transfere a responsabilidade da não contratação ou demissão para o trabalhador. O pedagogo é o agente educacional da empresa, sua função é a concretização da educação dentro dos interesses empresariais de cada momento específico. Sendo assim, é dentro do contexto da empresa flexível, dos programas de controle do processo de 94 Unidade II Re vi sã o: J an an dr éa - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 05 /2 01 2 trabalho, do modelo das competências que o pedagogo se estabelece na empresa como um profissional que agrega valores, pois juntamente com outros profissionais como o psicólogo, o administrador, o assistente social, a equipe de recursos humanos, educa e forma o trabalhador dentro das perspectivas empresariais atuais. Nas empresas, esses profissionais atuam na área de recursos humanos em setores como: desenvolvimento e treinamento, recrutamento e seleção e desenvolvimento gerenciado. Eles não têm uma função específica de pedagogo. Embora se afirme que, devido à sua formação, o seu forte seja treinamento, ele atua em várias frentes, como recrutamento, seleção e contratação. De forma geral, é denominado de analista de recursos humanos ou consultor de recursos humanos, fazendo parte de um grupo, dentro de recursos humanos, do qual fazem parte também, o psicólogo e o administrador. Geralmente, os pedagogos são responsáveis pelo programa de integração de novos funcionários, ou seja, eles têm a responsabilidade de veicular, nos primeiros momentos do empregado novo na empresa, todas as informações que precisam saber sobre a organização e sobre a atividade que desenvolverá. O momento da integração é fundamental para a empresa porque é nesse momento que, além de se transmitirem informações sobre a instituição, informações técnicas, burocráticas, passa-se a ideologia da organização, a cultura, a missão, os valores e as expectativas com relação ao trabalhador que está entrando na organização. Praticamente todas as empresas que pesquisamos desenvolvem o “programa de integração”, e, em todas, o pedagogo é o responsável por esse processo. Ou seja, o pedagogo começa a exercer poder e influência a partir do primeiro momento em que o trabalhador coloca os pés na empresa, é ele que “mostra a cara” da empresa. O pedagogo segue todo o desenvolvimento profissional do funcionário, acompanhando a performance, viabilizando cursos internos e externos, técnicos ou comportamentais, palestras, cursos de idiomas e acompanha o processo de avaliação de desempenho desse profissional. Sendo assim, a proximidade e o acesso a todos os funcionários é constante, o que dá condição a esse profissional de exercer um papel significativo no desenvolvimento dos empregados. Alguns entrevistados afirmaram que a empresa não está prioritariamente interessada no pedagogo, ela quer um profissional de recursos humanos que agregue valor à organização. No parecer dos responsáveis pelos Recursos Humanos, o pedagogo é um dos profissionais de humanas que tem um know how (saber) que agrega valor à instituição, mas o título não é o fundamental, e sim a postura, a atitude e o perfil. Na visão da empresa, parece que o pedagogo detém um saber que lhe é interessante. E esse saber está ligado ao conhecimento do processo de aprendizagem, de técnicas, de recursos, de formas para que o processo de aprendizagem dentro da organização se dê da melhor forma possível. Hoje é imprescindível para as organizações o controle do processo de conhecimento. A organização precisa encontrar métodos para que esse processo seja eficiente, pois desse processo depende seu sucesso ou fracasso. O empregado precisa estar apto para aprender a lidar com as novas tecnologias, a nova versão do software, novo modelo organizacional e, principalmente, ter uma estrutura emocional que lhe dê condições 95 Re vi sã o: J an an dr éa - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 05 /2 01 2 Tópicos de ATuAção profissionAl de suportar as incertezas, as exigências por metas e resultados, as novas formas de relações, a instabilidade e o risco. E o pedagogo é visto pela empresa como um dos profissionais de recursos humanos mais aptos para lidar com esse processo, embora não seja exclusividade desse profissional, uma vez que a maioria das empresas se posicionaram de forma não restritiva com relação à formação acadêmica. Formar o trabalhador polivalente, flexível, dinâmico, criativo, que se envolva com os projetos da empresa, que dê resultados, esse é o grande desafio para o modelo empresarial. E como afirma Moraes (1999), é um novo um desafio para o próprio trabalhador que, no limite, é visto como um colaborador. E, nesse sentido, a participação, o interesse e o envolvimento sinalizam o aumento da produção e constituem fatores importantes para a manutenção do emprego e ascensão na carreira. São esses objetivos que fazem da área de recursos humanos das organizações a área mais estratégica, que agrega valor, porque está voltada para o desenvolvimento das pessoas, para o preparo de trabalhadores motivados, envolvidos e qualificados. Esse é, na visão da administração moderna, o maior patrimônio de uma organização, visão esta que se fundamenta nos princípios da teoria do capital humano, que em uma nova roupagem credita à educação a solução de problemas econômicos e sociais. Dentro desse princípio, a educação/ treinamento são considerados grandes investimentos, e o trabalhador, dono de seu “capital humano”, deve vendê-lo no mercado competitivo. A habilidade do pedagogo em lidar com a comunicação, com a aprendizagem, faz dele uma figura importantíssima no processo mais abrangente de pedagogização do trabalhador. Como declarou uma das pedagogasentrevistadas: “O pedagogo contribui na questão da formação das pessoas, no aprimoramento, no aperfeiçoamento, para elas acompanharem as mudanças que as próprias empresas passam. A gente está em sala falando de comportamento, falando de atitudes, de postura, ajudando a pessoa a mudar as ações, mudar as atitudes”. Ou seja, o pedagogo vai “moldando” o trabalhador de acordo com os interesses da empresa, desenvolvendo um papel de “mediador” como declarou uma das pedagogas entrevistadas: “Eu acho que o pedagogo consegue o efeito mediador, o que a empresa quer do funcionário, ele medeia. Então, a empresa passa o que os profissionais precisam aprender, e eu vou trabalhar em cima, utilizando ferramentas para estar transmitindo esse conteúdo, para estar formando as pessoas, então eu acho que ele faz esse link entre empresa e profissional”. Os desafios lançados sobre o pedagogo são grandes. A empresa flexível não o quer somente para coordenar os treinamentos, para elaborar planos didáticos, avaliar, ministrar cursos de relações humanas. Ela quer muito mais! Ela quer um aliado, um parceiro, um representante, alguém que lhe entenda e ajude a alcançar os seus objetivos. Alguém que forme, que “controle”, mas também que alivie as dores do trabalhador. A empresa “humanizada” é a que não está mais interessada em robôs, em músculos, mas no coração, nos pensamentos, na vontade, na adesão do trabalhador. Afirma que o trabalhador é importante, que está preocupada com o bem-estar dele, que quer estar próximo de seus familiares, que são parceiros, que todos ganham, e alguém precisa convencer o trabalhador de tudo isso. Um desafio difícil porque os fatos muitas vezes contradizem o discurso. A 96 Unidade II Re vi sã o: J an an dr éa - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 05 /2 01 2 pressão por resultados, as demissões, a queda dos salários, o controle contradizem todo o “amor” que o patrão diz ter pelo trabalhador. O trabalhador é chamado de “colaborador”. Tenta-se iludi-lo afirmando que não é um subalterno, um subserviente, e sim colaborador. O desafio do pedagogo é a atuação nesse campo ideológico. Ele precisa convencer o trabalhador dos desígnios do mercado, que o desemprego é uma realidade natural e, que se ele não se esforçar para se enquadrar, muitos candidatos estão esperando para substituí-lo, que a política salarial é essa mesma, os salários estão diminuindo, que todos precisam se adaptar ao perfil caso não queiram ser excluídos do mercado. Precisa convencer os trabalhadores dos desígnios da empresa, de que o encaminhamento que a empresa dá para as questões que envolve o trabalhador é o melhor. Mas por que esse convencimento todo? Por que as empresas perceberam a importância de se ter o trabalhador integralmente, totalmente envolvido com a organização, como demonstra o depoimento da gerente de recursos humanos? De acordo com uma das pedagogas entrevistadas: “Hoje, a grande mudança de recursos humanos é a gente estar cada vez mais junto do negócio, porque o negócio começa a perceber que faz diferença a pessoa comprometida, a pessoa motivada, a pessoa treinada; a pessoa envolvida gera resultados. Então, se está buscando muito isso, e a gente ajuda nesse processo”. Juntamente com o convencimento e a conquista da adesão dos empregados aos ideais da empresa, há a função de potencializar todas as capacidades do indivíduo e enquadrá-las no atual modelo exigido do capital, o que não é uma tarefa muito fácil. Trabalhar a subjetividade do indivíduo, o conhecimento, as experiências que esse indivíduo tem, para que venha a ter as competências requeridas no momento atual. Realmente parece que o encargo do pedagogo na empresa é árduo, pela responsabilidade em formar e desenvolver o trabalhador dentro das perspectivas do mercado atual, de ser mediador, de minimizar conflitos, em um momento extremamente complexo, em que agudas crises atingem o mundo do trabalho. Um momento em que o trabalhador se vê sendo substituído pela máquina, tendo que mudar sua forma de ser, tendo que flexibilizar a sua vida, correr riscos, tendo que lutar pela sobrevivência de forma solitária, pois como coloca Antunes (1999), as transformações e a crise atingiram diretamente a subjetividade do trabalhador, sua consciência de classe, afetando seus organismos de representação, dos quais os sindicatos e os partidos são expressão. O desafio é muito maior para o pedagogo consciente, aquele que percebe a contradição, que enxerga as artimanhas do capital, o caráter excludente e, às vezes, até cruel das exigências lançadas sobre os trabalhadores. E, na maioria das vezes, sua atuação precisa se restringir a reforçar, acomodar e a solidificar as propostas do capital. Acreditamos que, mais do que nunca, é importante pensar nesse profissional, que a nosso ver, de certa forma, foi ignorado, poderíamos até dizer, discriminado. A preocupação 97 Re vi sã o: J an an dr éa - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 05 /2 01 2 Tópicos de ATuAção profissionAl com o profissional pedagogo, de uma forma geral, sempre foi remetida às questões de âmbito escolar, sejam elas técnicas ou pedagógicas. Mas a indiferença diante dessa prática, nos dias atuais, é impossível. Na chamada sociedade do conhecimento (Drucker), da tecnologia da informação, das organizações da aprendizagem (Senge), as ações educativas se tornam cada vez mais necessárias e valorizadas. E o pedagogo poderá ser cada vez mais requisitado para atuar nas várias esferas do mundo empresarial, ainda que essa requisição vise à conformação às novas exigências do capital. Nos momentos finais deste estudo, cabe-nos questionar: Estaria esse profissional fadado somente ao papel de “servo” do capital? Não sabemos exatamente quais são essas possibilidades que deverão ser construídas. Assim como o psicólogo e o assistente social, que enquanto categoria profissional têm buscado outras possibilidades como alternativas de desvencilhamento do determinismo histórico que marca as profissões, de construção de novas referências e novas práticas na defesa do trabalhador, o pedagogo parece também poder, a partir de dados objetivos sobre a sua prática, enquanto categoria, discutir os limites e possibilidades de uma prática que esteja voltada para atendimento das necessidades do “patrão” e não dos companheiros de classe. Pensamos que as alternativas para construção de novas práticas e nova consciência profissional passam primordialmente por uma boa formação, uma formação que contemple de uma forma crítica fundamentos históricos, psicológicos, sociológicos e pedagógicos, com muita discussão sobre as relações de trabalho e esclarecimentos sobre as possibilidades que a profissão do pedagogo representa na sociedade atual. O propósito de nosso trabalho não foi de discutir se o pedagogo deve ou não estar na empresa, mesmo porque ele já está presente na empresa. Essa é uma questão que está posta. Existem os pedagogos que têm o compromisso com a socialização dos saberes pela escola, com ensino público e gratuito, que lutam por uma educação democrática e de qualidade, que se preocupam com a formação de futuros cidadãos, e que estão na escola, mas a escola não é o único espaço do pedagogo. A indagação que fica é: devemos virar as costas para os profissionais da empresa? Devemos negar a existência dessa prática? Acreditamos que não. Acreditamos que devemos discutir essa questão. Buscar seriamente dados sobre essa prática, conhecer quem é o pedagogo na empresa, o que pensa, o que faz, como faz e como ele é visto e desejado pela empresa. LINDQUIST; CUNHA, 2004, p. 1-14 (adaptado). observação Algumas empresas atualmente abrigam em seu interior creches ou locais específicos para os filhos de funcionários. Essas creches também compõe o campo de atuação do pedagogo. 98 Unidade II Re vi sã o: J an an dr éa - D ia gr am aç ão : L éo - 3 1/ 05 /2 01 2 7.2 Terceiro setor A educação é um processo social, é desenvolvimento.
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