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Zil Rosendo, o marujo-cantor Cantor e compositor de projeção internacional, esse altoense foi o precursor da Bossa Nova no Piauí Carlos Alberto Dias, professor e pesquisador. Altos – Piauí Anfrísio Rosendo Máximo, artisticamente Zil Rosendo. Nasceu em Altos, a 24 de maio de 1935 e faleceu em 14 de dezembro de 1966, aos 32 anos, na capital do Rio de Janeiro. Era filho de Lucas Rosendo Máximo e Maria Cristina do Nascimento. Fez os estudos iniciais em sua terra natal e o segundo grau em Teresina. Dai seguiu para o Rio, ingressando em 1954 na Marinha de Guerra do Brasil; fez carreira como cabo de esquadra e tornou-se o Marujo Cantor. Integrava o corpo dos navios oceanográficos Almirante Saldanha e Custódio de Melo. Cantor, compositor, violonista, poeta e militar. Foi o introdutor da Bossa Nova no estado do Piauí. Suas composições têm o mar como fonte de inspiração. O epíteto Marujo Cantor, de que gostava muito, lhe fora dado pelo jornalista Manoel Tavares, autor da coluna ‘De tudo um pouco’, e seu amigo particular. Sempre se apresentava fardado de marinheiro nas audições e emissoras de rádio e televisão. Ao jornal Diário Carioca disse que nunca quis ganhar dinheiro com a música, mas - incentivado pelos amigos - apresentou-se no Programa do Chacrinha, fazendo sucesso e passando a ser muito solicitado. Terminou por gravar suas composições, faturando algum dinheiro com o trabalho. A música tornara-se sua segunda paixão. Seu amigo Tavares, em artigo denominado Marujo Bossa Nova a Zero Hora na TV, diz que foi através de uma reportagem da Tv Guia que Zil Rosendo se tornou conhecido e admirado, acrescentando que as imagens de poeta e marujo representam o perfil de nosso músico homenageado e que “seu violão conservador do Norte endoidou com a estilização moderna da bossa-nova e adquiriu o ritmo de João Gilberto, de quem é enamorado artístico”, assegurando sua “vocação e talento irremediável”. Boêmio e seresteiro, tinha como inseparável companhia o seu violão. Foi amigo de Gilberto Gil, Caetano Veloso e Jorge Ben Jor. Costumava dar shows nos portos por onde passava. De fama internacional, apresentou-se em boates de Paris e Nova Iorque. O mesmo Manoel Tavares assim definiu sua apresentação na capital norte-americana: “Foi meia hora de show com gente à bessa de queixo caído e ouvido atento. Seu pouco mais de metro e meio paralisaram vários dois metros à porta da casa de discos na cidade gigante. Era um marujo representando a autenticidade da música brasileira em sua revolução rítmica e harmoniosa”. Realizou apresentações musicais em Portugal, na Rádio Clube de Lisboa e no Cassino do Estoril, tornando-se a maior referência em Bossa Nova no pavilhão português do Clube dos Artistas. Como referência do fazer musical brasileiro, ganhou como prêmio do Ministério da Marinha uma viagem de seis meses para percorrer diversos países e divulgar a nossa música. Sua jornada iniciou em 01 de setembro de 1965, concluindo-se em março do ano seguinte. Apareceu, com muito sucesso, em alguns musicais de rádios e das tvs Continental, Tupi e Excelsior (programa de Jair Amorim e na Rádio Nacional, no programa de Manoel Barcelos). No coquetel em que Marília Batista dava depoimento sobre Noel Rosa, Zil foi convidado por Haroldo Costa a integrar a Tv Excelsior, não se sabendo se o convite fora aceito. Era uma das maiores atrações do Domingo no Arpoador, atraindo multidões ao som de suas músicas e seu violão candente. Na foto 1, Zil é entrevistado no rádio e na foto 2, o cantor se apresentando na televisão. Compôs e gravou as seguintes canções: Balanço do mar, regravada por Ana Lúcia no lp Ana Lúcia Canta Triste, RGE, 1964; Saída do porto, com Jorge Ben, hoje Jorge Benjor, no lp Ben é samba bom (faixa 09), Philips, 1964; Beira do mar (faixa 09) e Onda quebrando, com Neide Fraga (faixa 11), regravadas por Lafayette no lp Lafayette apresenta Dina Lúcia, CBS,1965; e O caso das bossas, com Dabliu Namor, gravada por Cassiano no LP Imagem e som, RCA Victor, 1971. Autor de outras composições, como Velhacap, Copacabana, Jogo do navio e Os cariocas. Conforme seu próprio depoimento, Balanço do Mar foi composto em águas francesas, a bordo do navio Custódio de Melo. A composição contou mais de vinte gravações, inclusive internacionais. Seu melhor biógrafo e admirador, Manoel Tavares, definiu Balanço do Mar como uma “espécie de hino popular da Marinha do Brasil, cheio de saudade contagiante, jogado assim como o navio ao embalo do mar”. Este sucesso e O caso das bossas foram reunidos pelo autor em um disco compacto de vinil e lançados pela Gravadora Fermata, constituindo-se em seu último trabalho publicado. Confira adiante a letra da composição: Balanço do mar Navega, navega navio Aproveita o balanço do mar. (2 X) O mar está tão bom, Mas a vontade é de chegar. Quero ao porto voltar Pra meu amor encontrar. Andei o mundo inteiro A saudade me faz regressar. Navega, navega navio Aproveita o balanço do mar. (2 X) Navega, navega, navega navio ... (2 X) N’ O caso das bossas o marujo conta a história da bossa nova, afirmando ter começado com João Gilberto e terminado com Jorge Ben, anotando-se uma passagem por Juca Chaves (visto por Zil como o falso da bossa, uma vez que o estilo do cantor paulista “é o mais antigo possível”) e pelo novo ritmo criado: o Sacudin, de Jorge Ben. O caso das bossas A história começou quando João chegou Cantando um samba com seu violão, Que fez o mundo se admirar. Os bacharéis do samba consultaram arquivos E verificaram que era bossa nova Aquele modo do João cantar. Depois chegou o outro com seu violão Cantando um samba assim, na base do João, Mas com a batida toda à moda antiga. Daí, quem não conhece fez a confusão, Dizendo que era a velha bossa do João Prejudicando o samba com essa briga. Mas o samba quer, quer inovação, Depois chegou um outro terminando a confusão: Por causa de você todo mundo foi cantar. Sac, sac, sacudin, sacun, cudin du dá! (2 X) A história começou quando João chegou... A imprensa noticiou na época o lançamento do compacto como uma “estréia auspiciosa”, afirmando que “Zil é mais uma revelação da MPM na atual temporada [...]; marujo-cantor de bom futuro”. Veículo informativo datado de 01.08.1965 - que não pudemos precisar o nome por conta do recorte feito - traz a seguinte nota, sob o título Marujo-cantor-compositor: sucesso: “Zil Rosendo vem aparecendo cada vez melhor como artista. Canta, compõe e toca no estilo moderno e seus horizontes começam a crescer. [...] No momento, seu êxito é o samba O caso das bossas”. O mesmo jornal traz uma reportagem sobre nosso personagem, onde se lê que “sua paixão pelas coisas do mar não o deixa dedicar-se unicamente à sua vida artística, conciliando as duas tarefas com dificuldade”. Em depoimento ao tablóide Zil afirma: “- Minha primeira composição, feita há seis anos, foi ‘Velhacap’, que não alcançou grande sucesso. Pouco depois tive o ensejo de conhecer o mundo, viajando no Custódio de Mello. Quando estávamos em águas francesas fiz o Balanço do mar e fiquei aguardando uma oportunidade. Em Lisboa, os portugueses levaram-se ao Clube Estoril, a mais famosa casa noturna de Portugal, e alcancei um bom sucesso. Em Lisboa, cantei, também, na Rádio Clube. Na França conheci muitos artistas, inclusive (Charles) Aznavour, que me abriu as portas das emissoras de televisão de lá. Quem, porém, gravou primeiro a composição no Brasil foi o cantor Luiz Henrique, atualmente nos EUA, divulgando a música com grande aceitação. Depois foi a vez de Neide Fraga e outros. A apresentação da música se deu no programa do Chacrinha. O sucesso, contudo, só surgiu de verdade quando eu mesmo gravei o ‘Balanço’. Até agora, não ganhei o suficiente para realizar meus sonhos”. No disco Lafayette apresentaDina Lúcia, organizado por Lafayette, Zil Rosendo figura entre músicos conceituados, como Niquinho e Othon Russo (Historinha de amor), Erasmo e Roberto Carlos (Moço toque um balanço, Matando a miséria a pau, O menino e a rosa), Regina Werneck e Durval Ferreira (Ibicuí), Walter Santos e Tereza de Souza (Azul contente), Hélio P. Costa (O fantasma camarada), Renato Corrêa (São Domingos), Donaldson Gonçalves e Renato Corrêa (João Ninguém) e Paulo Figueira, cantando com Renato Corrêa a canção O mar. Já no lp Ben é samba bom, Zil canta suas faixas ao lado de Jorge Ben (Descalço no parque, Bicho do mato, Gabriela, Zope Zope, Dandara hei, Samba menina e Guerreiro do rei), Orlandivo e Roberto Jorge (Onde anda o meu amor), João Mello (Vou de samba com você), Henrique de Almeida e Claudionor Sant'Anna (Samba legal) e João Gilberto (Ôba lá lá). O disco Ana Lúcia Canta Triste, um símbolo da bossa nova paulista, produzido em 1964, pelo animador cultural e jornalista Paulo Cotrim, dono do João Sebastião Bar (O beco das garrafas de lá), traz no repertório impecável nomes como Oscar Castro Neves, estreando na orquestração e regência e cantando Meu todo bem (com Luvercy Fiorini), o sambista Zé Kéti (Diz que fui por aí), o marinheiro e compositor Zil Rosendo (Balanço http://www.cliquemusic.com.br/fonogramas/pesquisaporautor/autor:10125/nome:Niquinho http://www.cliquemusic.com.br/fonogramas/pesquisaporautor/autor:14394/nome:Othon%20Russo http://www.cliquemusic.com.br/fonogramas/pesquisaporautor/autor:20199/nome:Erasmo%20Carlos http://www.cliquemusic.com.br/fonogramas/pesquisaporautor/autor:20553/nome:Roberto%20Carlos http://www.cliquemusic.com.br/fonogramas/pesquisaporautor/autor:3331/nome:Regina%20Werneck http://www.cliquemusic.com.br/fonogramas/pesquisaporautor/autor:15573/nome:Durval%20Ferreira http://www.cliquemusic.com.br/fonogramas/pesquisaporautor/autor:3898/nome:Walter%20Santos http://www.cliquemusic.com.br/fonogramas/pesquisaporautor/autor:21824/nome:Tereza%20de%20Souza http://www.cliquemusic.com.br/fonogramas/pesquisaporautor/autor:23998/nome:Hélio%20P.%20Costa http://www.cliquemusic.com.br/fonogramas/pesquisaporautor/autor:4169/nome:Renato%20Corrêa http://www.cliquemusic.com.br/fonogramas/pesquisaporautor/autor:4079/nome:Donaldson%20Gonçalves http://www.cliquemusic.com.br/fonogramas/pesquisaporautor/autor:4169/nome:Renato%20Corrêa http://www.cliquemusic.com.br/fonogramas/pesquisaporautor/autor:23999/nome:Paulo%20Figueira http://www.cliquemusic.com.br/fonogramas/pesquisaporautor/autor:4169/nome:Renato%20Corrêa http://www.cliquemusic.com.br/fonogramas/pesquisaporautor/autor:13432/nome:Jorge%20Ben http://www.cliquemusic.com.br/fonogramas/pesquisaporautor/autor:2260/nome:Orlandivo http://www.cliquemusic.com.br/fonogramas/pesquisaporautor/autor:6122/nome:Roberto%20Jorge http://www.cliquemusic.com.br/fonogramas/pesquisaporautor/autor:4974/nome:João%20Mello http://www.cliquemusic.com.br/fonogramas/pesquisaporautor/autor:8407/nome:Henrique%20de%20Almeida http://www.cliquemusic.com.br/fonogramas/pesquisaporautor/autor:14346/nome:Claudionor%20Sant'Anna http://www.cliquemusic.com.br/fonogramas/pesquisaporautor/autor:20450/nome:João%20Gilberto do mar) e a dupla formada pela compositora Tuca e a teatróloga Consuelo de Castro (Homem de verdade), que no meio musical paulista da época tinha o codinome de “Berimbau de mulher”. No lp vêem-se ainda clássicos de Baden, Vinicius, Caymmi e Pixinguinha. Ana Lúcia canta Tom Jobim & Newton Mendonça, além de Paulo Mendes Campos. Suas composições foram regravadas também por Alaíde Costa, Os velhinhos transviados e Os Cariocas, dentre outros. O jornal cearense Diário Ilustrado, de 22 de agosto de 1962, traz em suas páginas 03 e 06 a seguinte informação, sob o título Flashes de viagem – Zil Rosendo: “a história do marinheiro-artista conta-se em meia dúzia de palavras. Natural do Piauí, resolveu um dia, ainda menino e moço, abalar rumo ao Ceará. Uma vez aqui chegado, resolveu inscrever-se como aluno da Escola de Aprendizes de Marinheiros. Enquanto lá, e sentindo correr nas veias o sangue nordestino, deu largas à vocação, primeiro de poeta, depois de intérprete. - Foi a saudade – começa por nos dizer Zil Rosendo – da terra e a dor da separação que criaram em mim o desejo de me tornar poeta. Esta inspiração, que eu de princípio não sabia aproveitar, nasceu do abandono do amor. Indagado sobre os anos que tinha de Marinha, responde que seis, prestes a fazer sete anos a “serviço da gloriosa Marinha do Brasil”, acrescentando que antes de fazer parte da guarnição do Custódio de Mello foi marinheiro no navio oceanográfico Almirante Saldanha. - Como encaram os seus superiores a sua faceta artística? - Só tenho encontrado boas vontades da parte dos meus superiores. Até certo ponto têm sido eles os incentivadores da minha carreira”. Zil Rosendo mostra-nos, para provar a sua afirmação, um cartaz, onde figura o seu retrato, e que foi distribuído e afixado durante a Semana da Marinha. O nosso entrevistado é, por assim dizer, o “embaixador romântico” da Armada do Brasil. - Já gravou algum disco? - Tenho já editados dois discos, em que interpreto composições da chamada bossa-nova. Dois outros discos cantados por Nonato Silva têm melodias e letras minhas. Uma delas, por exemplo, chama-se ‘Velhacap’, que é a abreviatura de ‘velha capital’. Esta letra foi feita por alturas da mudança do Rio de Janeiro para Brasília. - Em que estação se estreou? - A primeira atuação em tv foi na Continental, tendo colaborado em diversos programas nas demais estações de tv do Rio. - Já tomou contato com os ouvintes ou telespectadores portugueses? - Estive no passado sábado no programa da Rádio Clube Português ‘Meia-Noite”, onde compareci com o meu inseparável e confidente violão. Tive então a oportunidade de falar aos ouvintes portugueses e de lhes dedicar três sambinhas bossa-nova. Quanto à televisão, é provável que não tenha essa chance, pois o Custódio de Melo levanta ferro no próximo sábado rumo à Inglaterra. O marinheiro-artista mostra-nos uma série de jornais e revistas onde se elogia a faceta artística do jovem representante da Marinha do Brasil. [...]”. Nosso marujo cantador figura em importantes compêndios literários, como o Dicionário biográfico escritores piauienses de todos os tempos, de Adrião Neto (1995), e no virtual Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira. Postumamente, recebeu da Rádio Jornal do Brasil, através da Condessa Pereira Carneiro, sua diretora-presidente, um prêmio em forma de diploma e medalha como um dos oito mais representativos nomes da música popular e erudita brasileira em 1967. Receberam também a honraria Francisco Mignone (música erudita), Zé Kéti (melhor música de carnaval: Máscara negra), Milton Nascimento (compositor revelação), Chico Buarque de Holanda (conjunto da obra), Ismael Silva (serviços prestados à música), Johnny Alf (melhor música do ano: Eu e a brisa), Nélson Lins e Barros, também postumamente. Outras músicas de Zil Rosendo Saída do porto Quando meu navio for saindo É hora de chorar por você. (2 X) Vou andar o mundo inteiro Levando você em meu coração. (2 X) Vou andar o mundo inteiro Levando você em meu coração. (2 X) Quando meu navio for saindo É hora de chorar por você. (2 X) Vou andar o mundo inteiro Levando você em meu coração. (2 X) Onda quebrando Olha que balanço tem Essa onda que quebrando vem. (2 X) De boa popa olha, Olha que ela vai e vem. (2 X) Olha que balanço tem Essa onda que quebrando vem. (2 X) De boa popa olha, Olha que ela vai e vem. (2 X) Ela tem, vem trazendo uma dor E essa dor é a tristeza e a saudade do amor. Olha que balanço tem Essa onda que quebrando vem. (2 X) De boa popa olha, Olha que ela vai e vem. (2 X) Olha que balanço tem Essa onda que quebrandovem. (2 X)
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