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1 | P á g i n a QUESTÕES SOBRE O LIVRO VIAGEM À TERRA DO BRASIL, DE JEAN DE LÉRY 1) Os índios descritos já conheciam a bebida alcóolica antes da colonização. No entanto, uma das reclamações mais comuns dos colonizadores portugueses seria de como os índios eram bêbados e não trabalhavam. A partir da ideia de choque cultural e da descrição dos costumes indígenas feita por Jean de Léry, explique essas acusações portuguesas. Os índios antes da chegado dos portugueses bebiam por divertimento, realizavam bebedeiras em grupos enormes de pessoas. Exageravam na cauinagem e não paravam de beber até todo o cauim se esgotar. No capítulo IX Jean de Léry diz que os indígenas “não só beberam três dias e três noites consecutivas, mas ainda, depois de saciados e bêbados a mais não poder, vomitaram quanto tinham bebido e recomeçarem mais bem dispostos do que antes (...) como são refinados beberrões, alguns há que em uma reunião sorvem mais de vinte potes de cauim”. Léry escreve que toda essa bebedeira ocorria por não sofrerem de melancolia, o que lhes permitiam congregarem-se todos os dias para dançar e folgar em sua aldeia. Porém, com a chegado dos portugueses os índios sofreram muitas consequências, muitos foram mortos e escravizados, não bebiam mais como antes, pois isso era uma forma de evitar trabalho e dessa forma um preguiçoso. Os indígenas passam a beber não mais para se divertir, mas para tentar esquecer os problemas que passaram a ter com a chegado dos portugueses. 2) A ciência moderna é marcada pela racionalidade, pela valorização da experiência e pelo apoio no conhecimento dos outros cientistas. A partir disso, é possível qualificar a descrição feita por Jean de Léry como científica? Justifique. Sim, a obra escrita por Jean apresenta descrições científicas detalhadas da cultura dos povos e características da natureza presentes nas terras do Brasil. Isso mostra que, mesmo não sendo um cientista, ele valorizou a experiência de estar em um local desconhecido e procurou relatar tudo, modo de vida, língua, hábitos e vários outros aspectos, o que pode ser chamado de ciência etnográfica. Além disso, a obra dele é HISTÓRIA Valderisso Alfredo 2 | P á g i n a marcada pela racionalidade. Baseia-se em fatos reais para escrever e, apesar de ser muito religioso, não leva a religião tanto em consideração ao fazer as descrições da natureza e dos indígenas. No capítulo III Jean diz: “se alguém duvidar do que afirmo, louvando-se antes nos livros do que naqueles que viram a experiência, não o refutarei, mas tampouco deixarei de acreditar no que vi”, mostrando que tudo o que escreveu são verdades e valorizava mais a razão do que a fé. 3) Dois estereótipos marcaram a descrição dos indígenas desde o século XVI até os nossos dias. Um deles dizia respeito ao quão bárbaros e selvagens são, apelando para os aspectos negativos. Já o outro enfatizava a ideia do bom selvagem, que seria naturalmente bom. Em qual delas se encaixa Jean de Léry? Justifique. Jean de Léry apresenta vários aspectos dos indígenas, positivos e principalmente negativos. Percebe-se, de início, que ele os descreve de forma bem negativa, mostrando, na maioria das vezes, modos e atos que não são bem vistos pela sociedade. É muito enfatizado em todo a obra a ideia de serem povos bárbaros e selvagens, que praticam o canibalismo com os inimigos. Desse ponto de vista, Léry descreve mais a parte negativa dos nativos do Brasil, porém, se levarmos para a parte de organização social, que já era incrível para as condições que viviam, e lealdade, entre as tribos aliadas, vemos uma descrição mais positiva. Ele chega a dizer no capítulo XVII que “por mais bárbaros que sejam com seus inimigos esses selvagens me parecem de melhor índole que a maioria dos campônios da Europa. E com efeito discorrem melhor do que estes que, no entanto, se reputam inteligentes”, mostrando que ele pretendia trazer também características positivas desse povo, se comparado com os europeus. 4) Houve ao longo da colonização diferentes formas de descrever a terra que hoje é o Brasil. Simplificando, uma a tomava mais próxima do paraíso terrestre do que a Europa, enquanto a outra enfatizava a decadência da América se comparada ao Velho Mundo. A qual dos dois tipos Jean de Léry se aproxima mais? O Brasil é descrito em toda a obra positivamente, mostrando detalhadamente as riquezas da terra. No capítulo XIII há uma parte que diz: “quando revejo assim a bondade do ar, a abundância de animais, a variedade de aves, a formosura das árvores e das plantas, a excelência das frutas e em geral as riquezas que embelezam essa terra do Brasil”, aqui Jean de Léry diz sua opinião sobre o Brasil, ficando claro o quanto ele gostou e achou encantadora, tornando-a mais próxima do paraíso terrestre do que a Europa. 3 | P á g i n a 5) A historiografia tradicional aborda os indígenas apenas nos anos iniciais da conquista portuguesa, fazendo parecer que foram todos exterminados logo em sequência. Como o texto de Jean de Léry ajuda a mostrar os indígenas como protagonistas durante a colonização? A obra mostra que os indígenas ajudam os portugueses na realização de várias tarefas, o que contribui para a colonização. No capítulo XIII Jean de Léry diz: “se os estrangeiros que por aí viajam não fossem ajudados pelos selvagens não poderiam nem sequer em um ano carregar um navio de tamanho médio”, isso mostra que se não fosse pelos indígenas a colonização poderia não ter ocorrido. Além disso, as guerras entre os índios de diferentes tribos foi uma forma de aproximar colonos portugueses e indígenas, permitindo a formação de alianças que favoreciam tanto os índios como os interesses dos colonos, pois alguns dos indígenas das tribos rivais ficavam sendo seus escravos, tendo dessa forma, mão de obra para ajudar na realização de tarefas. Além disso as tribos aliadas aos portugueses seriam para eles um exército poderoso. Como se vê, mesmo depois da colonização, os indígenas continuaram existindo, porém escravizados e trabalhando para portugueses que colonizaram ainda mais as terras brasileiras. 6) O texto de Jean de Léry ajuda na ideia difundida na Europa de que os indígenas não tinham nem "nem fé, nem lei e nem rei"? Justifique. O texto de Jean de Léry mostra que os indígenas não acreditam no Deus, sendo isso exatamente a causa da sua viagem, que é levar aos indígenas o conhecimento de um ser superior que pode salvá-los. Ao contar os fatos Jean comprova a não existência de fé por parte dos indígenas que ignoravam o verdadeiro Deus. Porém ele diz que os índios são atormentas por espíritos malignos e “embora os nossos americanos não o confessem francamente, estão na verdade convencido da existência de alguma divindade” (cápitulo XVI). Não há leis a seguir, eles vivem sem nenhuma lei entre eles e na obra confirma-se também que os indígenas não tem reis e sim apenas pessoas que merecem mais respeito na aldeia, sendo isso confirmado no capítulo XIV, em que diz: “embora não tenham reis nem príncipes, e sejam iguais entre si, a natureza lhes ensinou o mesmo que os lacedemônios, isto é, que os velhos a quem chamam peorerupiché, em virtude da experiência, devem ser respeitados e obedecidos nas aldeias quando se oferece ocasião”. 4 | P á g i n a 7) Existe uma divisão sexual das tarefas entre os índios descritos? Justifique. Jean de Léry mostra que as tarefas são bem divididas entre os sexos. As mulheres são responsáveis por todas as tarefas agrícolas, como a colheita de frutos e raízes, preparo de comidas e objetos, como redes de algodão e vasilhas de barro. Já os homens são responsáveis apenas pela caça, pesca e guerrear. Algumas passagens do livro que pode justificar isso são: “os homens não se envolvem de maneira nenhuma na preparação da bebida, a qual, como a farinha, está a cargodas mulheres” (capítulo IX). “Na verdade, as mulheres dos nossos tupinambás trabalham muito mais do que os homens, pois estes, à exceção de roçar o mato para as suas culturas, o que fazem sempre de manhã exclusivamente, nada mais lhes importa a não ser a guerra, a caça e a pesca e a fabricação de tacapes, arcos, flechas e adornos de penas para enfeites” (capítulo XVII). 8) A descrição dos costumes dos outros é também uma análise e uma reflexão sobre os nossos próprios costumes. Essa frase, que é verdadeira ainda hoje, também o era para Jean de Léry. Encontre exemplos no texto que comprovem essa reflexão. Jean de Léry apresenta em alguns pontos comparações entre os nativos do Brasil e os povos europeus, mostrando semelhanças e diferenças existentes. Podemos encontrar essa comparação em várias partes, por exemplo, no capítulo VIII ao dizer que “os selvagens do Brasil, habitantes da América, chamados Tupinambás, entre os quais residi durante quase um ano e com os quais tratei familiarmente, não são maiores nem mais gordos do que os europeus; são, porém, mais fortes, mais robustos, mais entroncados, mais bem dispostos e menos sujeitos a moléstias, havendo entre eles muito poucos coxos, disformes, aleijados ou doentios”. Ainda no capítulo VIII mostra que os índios utilizavam certos utensílios assim como os europeus usavam o ouro: “chamam a estes boure e os enrolam ao pescoço como nos países europeus se faz com os cordões de ouro”. Também compara instrumentos construídos pelos indígenas com os dos europeus: “Depois de secá- lo, tiram-lhe os caroços e colocam no lugar algumas pedrinhas; amarram-nos então aos tornozelos, pois assim dispostos fazem tanto barulho quanto os guizos dos europeus, dos quais, aliás, se mostram muito cobiçosos”. 5 | P á g i n a 9) O historiador Peter Brown escreveu, sobre a religião dos romanos: "é preciso conhecer bem o prazer que sentia a devoção pagã em executar ritos". A partir da ideia da ritualística, explique como o canibalismo dos tupinambás poderia ser explicado para além da ideia de "vingança" elaborada por Jean de Léry. Esses rituais de canibalismo não eram apenas para se vingar, mas também para causar medo aos inimigos e aos próprios portugueses que chegavam nas terras do Brasil, Léry afirma isso ao dizer que “não comem a carne, como poderíamos pensar, por simples gulodice, pois embora confessem ser a carne humana saborosíssima, seu principal intuito é causar temor aos vivos” (capítulo XV). Além disso, a interpretação dos rituais de canibalismo dos indígenas pode ir muito além de saborear a carne dos inimigos ou se vingar, o que fala Jean de Léry. Para eles, comer o inimigo significava alimentar também a alma. Ao se alimentar de inimigos fortes e poderosos os indígenas acreditavam que absorveriam suas qualidades, ou seja, ganhariam força pela assimilação de outros. É por isso que muitas vezes eles comiam os corpos dos familiares mortos. 10) "E quando ribombava o trovão e nos valíamos da oportunidade para afirmar-lhes que era Deus quem assim fazia tremer o céu e a terra a fim de mostrar sua grandeza e seu poder, logo respondiam que se precisava intimidar-nos não valia nada." (p. 164) Explique as relações sociais e de poder numa tribo indígena a partir dessa frase do restante do texto de Jean de Léry. Os indígenas não acreditam em um ser superior que tem poder sobre eles, ainda mais se esse ser precisa intimidá-los para demostrar a superioridade. Diferente dos europeus, que eram acostumados com a ideia de que o rei precisava ser temido para ser respeitado e com todo uma divisão social, os índios não viviam dessa forma e não havia uma hierarquia, todos tinham o mesmo nível de poder, havendo apenas um pouco mais de respeito pelos mais velhos, em virtude de sua experiência. A partir do que Léry diz: “embora não tenham reis nem príncipes, e sejam iguais entre si”, comprova-se que os indígenas prezavam a igualdade entre eles, sem relação de superioridade.
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