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Análise critíca CTS

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Nome: Manuela Bernardes de Oliveira n° USP: 12730866
Análise crítica do filme “Ensaio sobre a Cegueira”
Primeiramente, eu quero chamar a atenção para o fato de o filme causar uma certa aflição aos espectadores, por ser uma obra sem filtro, que mostra a realidade da “podridão humana”, por assim dizer. O primeiro aspecto a ser abordado é a forma como a doença foi inicialmente tratada pelo governo, eles separaram as pessoas que apresentavam “cegueira branca”, mas em nenhum momento houve testes médicos, tentativas de tratamento, ou até mesmo o mais básico dos protocolo sanitários, confirmar que as pessoas estavam realmente doentes, o que fica claro no filme, já que uma mulher entre os que foram segregados, enxergava normalmente. Assim, essa falta de organização, de respeito aos princípios básicos da ciência e dos direitos humanos, foi decisiva para o resultado que eles obtiveram, o completo caos e crise humanitária.
Dando seguimento aos aspectos mais chamativos do filme, como a cena da “divisão” de alimentos, que traz o questionamento: “o ser humano deixa de ser racional quando percebe que não tem leis para seguir, ou quando algumas de suas necessidades básicas lhe são negadas?”. Sendo que todos estavam cientes que se dividissem a comida igualmente ninguém sofreria com a fome, não o fizeram, o individualismo e a soberba começa a aparecer no momento em que uma pessoa se intitula “rei”, se posicionando como superior aos demais, e obrigando eles a se submeterem pela comida.
Outra coisa que eu gostaria de pontuar, que com certeza foi o que mais me perturbou em todo o filme foi a proposta de exploração sexual em troca de alimento, e o fato de apenas mulheres terem sido pressionadas a isso, me lembrou a frase que Simone de Beauvoir escreveu no século XX: “basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados”, o que foi retratado no filme pela opinião da maioria dos homens, que acreditavam ser basicamente uma obrigação das mulheres, e apenas um discordou de mandar sua esposa, somente porque não queria perder sua honra, em nenhum momento foi colocado em pauta o bem-estar das mulheres e o sacrifício que elas fizeram.
Após ter pontuado alguns tópicos principais, eu gostaria de trazer esse tema para os dias de hoje, enquanto estamos passando por uma pandemia. Quando as pessoas se veem entre duas escolhas, a de ajudar ou a de tirar proveito de uma situação, a grande maioria sempre opta pela segunda opção, isso está ligado ao pensamento individualista enraizado na sociedade a décadas. Podemos então comparar a cena da divisão desigual de comida, que aparece no filme, com um acontecimento da vida real, como o fato de que os açougues começaram a vender ossos agora, devido ao aumento do número de pessoas em situação de pobreza e extrema pobreza, cresceu também a procura por restos de carne que não eram vendidas, assim como no filme não havia a necessidade de diminuir o alimento de grande parte dos infectados, no mundo concreto também não há necessidade de vender ossos que nunca foram comercializados. Trazendo outra comparação para os tempos atuais do COVID-19, muitas pesquisas afirmam que mulheres negras são as mais vulneráveis ao vírus devido a posição econômica e social na qual a maioria se encontra, da mesma forma que na obra, as mulheres foram de longe as que mais sofreram com abusos físicos e psicológicos. E para finalizar, o último e mais importante paralelismo do filme com a realidade, as atitudes tomadas pelo Estado definem o futuro de toda a nação, assim como na obra, em nossa realidade muitas pessoas morreram, estão em situação vulnerável ou perderam grande parte do que tinham, sendo essa uma ótima advertência de o que a negligência por parte dos administradores pode causar.

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