Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Laís Flauzino | HABILIDADES MÉDICAS | 4°P MEDICINA DISTÓCIAS DE PARTO Qualquer perturbação no bom andamento do parto em que estejam implicadas alterações em um dos três fatores fundamentais que participam do parto: o Força motriz ou contratilidade uterina – distocia funcional o Objeto – distocia fetal o Trajeto (bacia e partes moles) – distocia do trajeto o Discinesias o Alteração na força motriz durante o TP - a contratilidade uterina ineficiente para dilatar o colo e fazer progredir o parto, ou, ao contrário, a atividade exagerada, capaz de determinar parturição rápida e precipitada. o Presente em até 37% das nulíparas com gestações de baixo risco. o Os desvios dinâmicos da matriz podem existir isolados (distocia funcional idiopática) ou como decorrência de outras alterações patológicas (desproporção cefalopélvica, toxemia, polidrâmnio etc.). o Utiliza-se a classificação de Goff para descrever as distocias funcionais. A onda contrátil do parto normal é caracterizada pelo triplo gradiente descendente (TGD). As anomalias da contração podem ser quantitativas ou qualitativas. Nas alterações quantitativas, as ondas são generalizadas e mantêm o TGD, apenas seus valores são hipo ou hiperativos. Configuram anomalias qualitativas ondas generalizadas com o gradiente invertido ou ondas localizadas, assincrônicas, incoordenadas. DISTOCIA POR HIPOATIVIDADE UTERINA: ✓ Contração abaixo do normal, gerando um parto lento. ✓ Considera-se o útero hipoativo quando a contração tem intensidade inferior a 25 mmHg (hipossistolia), a frequência menor que 2 em 10 min (bradissistolia) e a atividade uterina situa-se abaixo de 100 unidades Montevidéu (UM); o tônus costuma ser menor que o normal. ✓ Suas causas não estão bem esclarecidas, e, na maioria das vezes, o útero é capaz de se contrair normalmente quando se perfunde ocitocina intravenosa em doses fisiológicas (1 a 8 mU/min), a melhor conduta terapêutica. Pode ser dividida em: o Hipoatividade primária – diagnosticada desde o início do trabalho de parto o Hipoatividade secundária – inicialmente normal, tornou-se ficou lento ou parou de evoluir DISTOCIA POR HIPERATIVIDADE UTERINA: ✓ As contrações têm intensidade exagerada, superior a 50 mmHg (hipersistolia), e frequência maior que 5 em 10 min (taquissistolia ou polissistolia), de modo que a atividade uterina ultrapassa 250 UM. ✓ A hipersistolia é consequência do aumento da força contrátil das fibras uterinas; aparece sem causa evidente, após a administração de ocitocina em doses elevadas, associada à toxemia ou ao parto obstruído. ✓ A hiperatividade uterina, na ausência de entrave mecânico, produz parto precipitado com possível laceração do trajeto, traumatismo e sofrimento fetal. O tratamento consiste na simples adoção do decúbito lateral (na taquissistolia isolada) ou no emprego de medicamentos uteroinibidores Subdivide-se em: o Hiperatividade com obstrução – devido à desproporção cefalopélvica, tumor de trajeto prévio ou sinequia do colo uterino o Hiperatividade sem obstrução – hiperatividade intrínseca causando um parto rápido, ao que se conceitua um parto em 3 horas ou menos – desde o início do trabalho de parto até a expulsão do produto conceptual e da placenta e suas membranas. DISTOCIA POR HIPERTONIA: Parto lento causado por: o Uso indevido de ocitocina – causa mais frequente; deve suspender seu uso imediatamente. o Sobredistensão uterina – por gemelidade ou polidramnia. Deve-se tentar amniodrenagem ou rotura de uma das bolsas amnióticas, se possível. o Divide-se em: fraca (12 a 20 mmHg), média (20 a 30 mmHg) e forte (acima de 30 mmHg). o Clinicamente, é fácil distinguir “útero mole” (tônus normal, de 10 mmHg) e “duro” (palpação no momento de uma contração de intensidade entre 30 e 40 mmHg). Contrariamente, estando o tônus uterino acima de 30 mmHg, torna-se difícil perceber as contrações (“útero muito duro”); além de 40 mmHg, não se consegue deprimir a parede uterina. De acordo com o mecanismo de produção, as hipertonias são classificadas em quatro tipos: • Hipertonia por sobredistensão: existe sobredistensão quando o acréscimo anormal do conteúdo uterino não é acompanhado de crescimento progressivo da massa miometrial. O tônus excessivo deve-se ao fato de que as fibras uterinas foram estiradas acima do limite fisiológico, não sendo mais capazes de se adaptar às variações de comprimento. As hipertonias são fracas ou médias. O tratamento é o do polidrâmnio, corrigindo-se a discinesia pela extração do líquido amniótico excedente. • Hipertonia por incoordenação: como as diferentes partes do útero relaxam-se em tempos 2 Laís Flauzino | HABILIDADES MÉDICAS | 4°P MEDICINA diversos, a pressão amniótica nunca pode descer ao nível do tônus normal, havendo sempre área em contração. A incoordenação, em geral, produz hipertonias fracas. • Hipertonia por taquissistolia: o aumento anormal da frequência das contrações, acima de 5 em 10 min, causa elevação do tônus porque, encurtando-se o intervalo entre as metrossístoles, o útero não tem tempo para completar o seu relaxamento. As hipertonias por taquissistolia costumam ser fracas ou médias. A primeira medida terapêutica é a postura lateral da paciente completada por medicamentos inibidores da contratilidade uterina. • Hipertonia autêntica ou essencial: aqui, a hipertonia não pode ser explicada por nenhum dos mecanismos conhecidos (sobredistensão, incoordenação, taquissistolia) e depende do aumento do tônus primário. As hipertonias são fortes e geralmente estão associadas ao descolamento prematuro da placenta, à perfusão de ocitocina em doses maciças e à hipertonia por incoordenação. Parece não haver nenhum tratamento eficaz. As hipertonias ativas (autêntica, taquissistólica e por incoordenação) são as que produzem mais hipoxia no feto, reduzindo muito o afluxo de sangue à placenta; as passivas (por sobredistensão), por sua vez, diminuem em menor grau a circulação uteroplacentária. DISTOCIA POR HIPOTONIA UTERINA: ✓ A hipotonia uterina (tônus inferior a 8 mmHg) ocorre muito raramente e, em geral, está associada à hipoatividade. ✓ Sem relevância clínica durante a dilatação ou no período expulsivo, mas pode acarretar uma dequitação retardada. ✓ Deve ser corrigida com medidas ocitócicas. DISTOCIA DE DILATAÇÃO: ✓ Diagnóstico por eliminação. ✓ A atividade uterina e o tônus são normais, mas a evolução não é favorável. Quadro clínico pode se apresentar de duas formas: o Paciente poliqueixosa, ansiosa – a liberação de catecolaminas na circulação decorrente do estresse pode levar à incoordenação uterina. Deve-se orientar a paciente e oferecer, se possível, analgesia peridural. o Inversão de gradiente ou incoordenação de primeiro grau idiopáticos – deve-se adotar medidas ocitócicas, visto que a ocitocina sensibiliza o marcapasso uterino. Presença de anormalidades ósseas ou de partes moles – gera um estreitamento do canal de parto e dificulta ou até impede a evolução normal do trabalho de parto e a passagem do feto. o Distocia do trajeto mole o Distocia do trajeto duro – vícios pélvicos DISTOCIAS ÓSSEAS: Anormalidades no formato, no tamanho ou nas angulações da pelve – torna difícil ou até impede o parto por via vaginal. A pelve viciada apresenta acentuada redução de um ou mais de seus diâmetros, ou modificação apreciável de forma. Diagnóstico: avaliação clínica, através de pelvimetria, apesar da possibilidade de realização de radiografias de quadril ou ressonância magnética da pelve. Causam transtornos já durante as últimas fases da gravidez – a cabeça se mantém alta, provocando dificuldades respiratórias. Esses distúrbios são mais acentuados nas cifoescolióticas, porque o espaço abdominal apresenta-se diminuído devido à descida do tórax; não é raro o nivelamento das costelas com os rebordos da pelve. Em tais circunstâncias, há comprometimentoda circulação e diminuição da ventilação pulmonar, motivos de mau prognóstico. Defeitos mais discretos costumam ser rastreados somente no decurso do trabalho, que não progride, apresenta-se distócico, sendo incapaz de se resolver pelas vias naturais. DISTOCIAS DE PARTES MOLES: Alterações do canal de parto (colo, vagina, vulva) e por tumorações prévias, genitais ou extragenitais que impede a progressão do trabalho de parto, excetuando-se as distocias ósseas: o Vulva e períneo – varizes, estenose ou edema de vulva, condiloma acuminado de grande extensão. Geralmente não impedem o parto, mas podem gerar mais sangramentos vaginais e/ou infecções pós-parto. o Vagina – septos vaginais (transversos ou longitudinais) o Colo – hipertrofia, estenose cervical pós-cirúrgica (conização, cerclagem) ou cicatriciale edema de colo o Tumores prévios – interpõem-se à apresentação fetal, como miomas ou neoplasias de colo uterino. Distocias do colo: 3 Laís Flauzino | HABILIDADES MÉDICAS | 4°P MEDICINA Rigidez: ✓ Dureza e inextensibilidade do colo ✓ Observada em primigestas idosas, pacientes de cervites ✓ Consequência de operações plásticas e cauterizações ✓ Dificulta ou impede a dilatação ✓ Pode levar à amputação espontânea do órgão. ✓ As contrações uterinas comprimem a apresentação e produzem zona isquêmica intravaginal do colo. Aglutinação: ✓ Decorre de processos infectuosos que destroem os epitélios da cérvice e determinam a justaposição das bordas do orifício externo. ✓ Ao toque, no parto adiantado, percebe-se tubérculo ou depressão punctiforme, circunscrito por anel resistente. ✓ É delgado, permitindo, muitas vezes, a percepção de suturas e fontanelas, o que leva a suposição de que a dilatação esteja completa. ✓ A pressão do dedo, seguida de movimentos em espiral, para desfazer bridas e deslocar o polo inferior do ovo, é uma técnica singela, mas capaz de resolver a maioria dos casos. ✓ Em casos de conglutinação, a operação cesariana é a melhor opção. Distopias: ✓ As alterações da estática uterina, espontâneas ou determinadas pelas operações corretoras de prolapso ou retroversão, podem acarretar expansão desigual do segmento inferior originando saculação que produz desvio do colo para trás, para frente ou para os lados. ✓ Trata-se da dilatação saciforme, confundida com a bolsa das águas e a dilatação completa. ✓ Por meio do segmento, muito fino, é possível notar suturas e fontanelas. Fig: Dilatação saciforme do segmento inferior. A. Desvio do colo para a frente. B. Desvio posterior. Edema: ✓ Observado nos partos prolongados ✓ Por compressão do colo entre a apresentação e a pelve ✓ Abrange toda a cérvice e é predominantemente encontrado no lábio anterior ✓ A infiltração edematosa dificulta a dilatação, chegando a impedi-la; caso a situação se prolongue, pode ocorrer necrose dos tecidos cervicais. ✓ Nos casos simples, com dilatação avançada, a conduta consiste em arregaçar o lábio anterior, levando-o para cima da apresentação. Quando a dilatação permanece estacionária, é preciso realizar operação cesariana. Distocias da vagina: Septos: ✓ Geralmente congênitos ✓ Podem ser longitudinais ou transversais, completos ou incompletos. ✓ Os septos longitudinais totais quase sempre se associam ao útero duplo, havendo dois orifícios cervicais e duas cavidades uterinas independentes. ✓ Poderá surgir gravidez em um ou em outro hemiútero (a ocorrência em ambos é rara) e o parto evoluir normalmente. ✓ Quando distocia se interpõe, geralmente é motivada pelo hemiútero vazio e não pelo septo vaginal ✓ O septamento incompleto cria obstáculo ao parto, indicando a cesariana. Distocias da vulva: Em geral, são resolvidas pelas episiotomia. Varizes: ✓ Necessário atenção quanto a rupturas, que ocasionam hematomas vulvovaginais, próprios do sobreparto, embora também ocorram na gravidez. Cistos e abscessos da glândula de Bartholin: ✓ Caso estejam muito desenvolvidos, devem ser extirpados ou incisados. Condilomas acuminados: ✓ Acarretam rupturas complicadas, difíceis de reparar. ✓ A episiotomia será feita em local livre de vegetações; conforme a extensão, indica-se a cesárea. Linfogranulomatose venérea: ✓ a infiltração e a reduzida elasticidade dos tecidos vulvoperineais e perirretais dificultam a progressão e a expulsão; esta ocorre à custa de rupturas importantes, cuja cicatrização é lenta devido à infecção. ✓ O traumatismo do parto é também desfavorável à evolução da doença, o que facilita a disseminação. ✓ A operação cesariana evita esses agravos e outras complicações. Hímen: ✓ Casos de parturiente com hímen normal e íntegro são exceções. ✓ Não há razões médicas para indicar cesariana. ✓ O hímen anormal é uma condição que oferece considerável resistência ao desprendimento da apresentação e constitui ponto de origem de grandes rupturas, sendo necessário seccionar o anel fibroso ou desinseri-lo à ponta de tesoura. Tumorações prévias: 4 Laís Flauzino | HABILIDADES MÉDICAS | 4°P MEDICINA Que ficam à frente da apresentação fetal e, por sua localização, dificultam ou impedem a progressão do móvel. Distinguem-se em genitais e extragenitais, sendo as primeiras mais frequentes. Miomas uterinos: ✓ Os nódulos que se desenvolvem no segmento inferior, por sua situação mais baixa que a apresentação, costumam prejudicar ou impedir o parto transpélvico. ✓ Não é rara a ascensão do tumor durante a gravidez ou no decurso do trabalho, tornando possível a passagem da cabeça fetal. No parto, deve-se atentar para a possibilidade de ocorrer ruptura uterina quando a parturição é obstruída. ✓ Nos miomas prévios bloqueantes, a via única é a abdominal, cesárea seguida ou não de ablação do tumor (miomectomia ou histerectomia), conforme o caso. Cistos e tumores do ovário: ✓ Ocasionalmente, podem tornar-se bloqueantes, impedindo o parto pela via natural. ✓ Ao contrário dos miomas, apenas excepcionalmente sofrem deslocamento espontâneo para cima. ✓ A ruptura dos cistos papilíferos pode causar a disseminação das papilas epiteliais pela cavidade peritoneal; elas aderem ao peritônio e proliferam. A indicação adequada é a laparotomia, para histerotomia e ooforectomia parcial. Anormalidades que ocorrem no trabalho de parto atribuídas ao feto e às relações materno-fetais. TAMANHO FETAL: o Mais de 4000g pode prejudicar a boa evolução do trabalho de parto; o A bacia materna não apresenta diâmetros que permitam a passagem – desproporção cefalopélvica. Deve-se tentar identificar preferencialmente antes do trabalho de parto – pode ser evidenciado de diversas maneiras: o Altura uterina acima do percentil 95 para idade gestacional o Presença de edema suprapúbico e membros inferiores sem insinuação do polo cefálico no estreito superior da bacia o Estimativa do peso fetal por meio de ultrassonografia obstétrica o Prova de trabalho de parto – caracteriza-se a parada secundária de dilatação pelo partograma. Desproporção cefalopélvica: Nas apresentações cefálicas, a desproporção decorre do volume demasiado ou da atitude viciosa da cabeça. Mulheres de pequena estatura com fetos grandes correm o risco de desenvolver o problema, além de fraturas prévias da pelve ou doenças ósseas metabólicas. Fig: As relações da cabeça com a sínfise púbica. A. Boa proporcionalidade cefalopélvica. B. Pequena desproporção. C. Grande desproporção. Fig: Cabeça passando pelo estreito inferior normal. B. Bacia afunilada: ângulo subpúbico angustiado, deslocando a cabeça para trás; o diâmetro sagital posterior do estreito inferior é amplo e possibilita a parturição. C. Ângulo subpúbico muito estreitado, não compensado pela amplitude do diâmetro sagital posterior; o parto não ocorre. Avaliação clínica da insinuação da cabeça fetal: o Na primípara, caso a cabeça não se insinue antes ou até a proximidadedo parto, fica caracterizada a suspeita de desproporção cefalopélvica. o Na multípara, o polo costuma se encaixar no período expulsivo. o onsidera-se a cabeça insinuada quando o vértice alcança ou ultrapassa a altura das espinhas ciáticas, plano “0” (zero). o O aprofundamento da cabeça na escavação é anotado pelo número de centímetros que se distanciam desse ponto ao ápice da apresentação. Para cima: “–1”, “–2” etc., para baixo: “+1”, “+2” etc. Suspeita-se de desproporção cefalopélvica se: • O progresso do parto for lento e arrastado, apesar da eficiente contratilidade uterina • Não houver insinuação da cabeça fetal (nas primíparas) • O toque vaginal revelar moldagem acentuada da cabeça e bossa serossanguínea • A cabeça estiver deficientemente aplicada ao colo Sinal de Farabeuf para o diagnóstico da insinuação. A. A cabeça está apenas adaptada ao estreito superior: três dedos podem ser introduzidos entre o vértice da apresentação, o plano do cóccix e o do períneo. B. Apresentação insinuada: apenas dois dedos podem ser colocados. C. Cabeça profundamente insinuada: somente um dedo. Diagnóstico: 5 Laís Flauzino | HABILIDADES MÉDICAS | 4°P MEDICINA o Os possíveis efeitos ominosos decorrentes dos raios X e a constante prática da operação cesariana tornaram o método obsoleto. A ultrassonografia, inócua, fornece apenas, com exatidão, a conjugata vera e o diâmetro biparietal (DBP) do feto. o Atualmente, o diagnóstico da DCP baseia-se na observação de trabalho de parto protraído ou das “paradas de progressão” durante a fase ativa. o O uso do partograma é indispensável para monitorar o progresso do parto, tornando possível a identificação de anormalidades e a realização de intervenções adequadas. Em geral, as alterações de parada secundária da dilatação e parada secundária da descida auxiliam na suspeita da possibilidade de DCP, especialmente quando o feto não está insinuado. Tratamento: o Pode ser permitida a prova de trabalho, embora a cesariana seja o procedimento de escolha. o É importante ressaltar: o fórceps é péssimo instrumento na desproporção cefalopélvica. DISTOCIA BIACROMIAL: o Distocia de ombros o Complicação grave – pode ocorrer quando a apresentação é cefálica e, após o desprendimento do polo cefálico, os ombros não se soltam e não há outros fatores que impeçam seu desprendimento. o Na maioria dos casos, a distocia ocorre no ombro anterior impactado na sínfise materna. o Sinal da tartaruga – a cabeça fetal se exterioriza e se retrai. o Associa-se frequentemente a obesidade materna, ao pós-datismo e à diabetes gestacional. o Pode causar graves consequências à parturiente – como lacerações, atonia uterina, rotura uterina ou disjunção da sínfise púbica – e ao feto – lesões de plexo braquial, fratura de clavícula ou úmero, podendo evoluir para óbito intraparto ou neonatal. o A complicação fetal mais frequente é a paralisia do plexo braquial, seguida da fratura de clavícula e do úmero. Praticamente todas as paralisias se resolvem em 6 a 12 meses, mas 10% se tornam definitivas. Predição e prevenção: ✓ É imprevisível ✓ Macrossomia fetal é o principal fator de risco, mas não é bom preditor. ✓ A maioria dos bebês > 4.500 g não desenvolve a distocia de ombros e quase 50% dos bebês com essa complicação pesam menos de 4.000 g. ✓ Além disso, a ultrassonografia de terceiro trimestre tem apenas 60% de sensibilidade para macrossomia (peso > 4.500 g). A cesárea eletiva para evitar a distocia de ombros somente está indicada em pequeno grupo de mulheres com diabetes e suspeita de macrossomia fetal (peso estimado > 4.500 g). Igualmente, a cesárea eletiva está indicada sempre que o peso estimado fetal for maior que 5.000 g. Diante de uma distocia biacromial, deve-se adotar as seguintes medidas iniciais, em ordem – protocolo ALEERTA, orientado pelo ALSO (Advanced Life Support of Obstetrics): Diante da impossibilidade de alcançar os ombros, deve-se indicar resolução da gestação por via alta, reintroduzindo a cabeça na pelve materna até as espinhas isquiáticas – manobra de Zavaneli. Tratamento: É emergência obstétrica e são necessárias manobras imediatas para solucioná-la. As técnicas obstétricas podem ser divididas em: 1ª linha, 2ª linha e 3ª linha. São consideradas medidas preliminares: • Requisição de obstetra mais experiente, auxiliares, anestesista e neonatologista • A episiotomia por si só não soluciona a distocia de ombros, que é problema ósseo; no entanto, ela pode ser necessária para manobras internas • Não deve ser aplicada força em excesso sobre a cabeça ou o pescoço nem exercer pressão no fundo 6 Laís Flauzino | HABILIDADES MÉDICAS | 4°P MEDICINA do útero, porque essas manobras não deslocam o ombro impactado e podem lesionar a mãe e o feto • Colocar as nádegas da paciente na borda da mesa. Manobras de 1ª linha: ✓ Manobra de McRoberts: Flexão e abdução das coxas em direção ao abdome materno. Essa posição retifica o ângulo lombossacro e roda a sínfise púbica em direção cefálica, fazendo com que o ombro posterior caia na concavidade do sacro. A manobra de McRoberts é a intervenção isolada mais efetiva, com taxa de êxito de 90%, e deve ser a primeira a ser tentada. ✓ Pressão suprapúbica: simultaneamente com a manobra de McRoberts. Reduz o diâmetro biacromial e o roda para um dos diâmetros oblíquos da pelve; assim, o ombro é capaz de deslizar por baixo da sínfise com a ajuda da tração de rotina. A pressão suprapúbica externa é aplicada para baixo e para o lado, de modo a empurrar o ombro anterior em direção ao tórax fetal. fig: Manobra de McRoberts. Hiperflexão e abdução das coxas sobre o abdome materno (seta horizontal) e pressão suprapúbica simultânea (seta vertical). Manobras de 2ª linha: ✓ Manobras de rotação interna: tentam manipular o feto e rodar o ombro anterior para um plano oblíquo da bacia, a fim de desvencilhá-lo da sínfise materna. Compreendem a manobra de Rubin II, que consiste em inserir os dedos atrás do ombro anterior, tentando rodá-lo em direção ao tórax fetal, e a manobra de saca-rolha de Woods, na qual o parteiro coloca a mão atrás do ombro posterior do feto, tentando rodá-lo a 180°. Figura 83.10 Manobra de Rubin II. A. O diâmetro biacromial é mostrado como a distância entre as duas setas pequenas. B. O ombro anterior é empurrado em direção ao tórax fetal, reduzindo o diâmetro biacromial e liberando o ombro anterior encravado. Fig: Manobra de Woods. A mão é colocada atrás do ombro posterior do feto, que é então rodado progressivamente a 180°, de maneira similar ao movimento de um saca-rolha, de modo a desencravar o ombro anterior. ✓ Extração do braço posterior: A mão do operador é introduzida na vagina. O cotovelo fetal é flexionado e o antebraço é liberado em movimento de varredura sobre a parede anterior do tórax fetal. A mão é segurada e o braço é estendido ao longo da face fetal, liberando-o da vagina. Isso encurta o diâmetro biacromial e possibilita que o feto caia na concavidade sacra, liberando o ombro anterior impactado. Fig: Remoção do ombro posterior. A. A mão do operador é introduzida na vagina e segura o braço posterior, mantendo o cotovelo flexionado, trazendo o braço fletido em movimento de varredura sobre o tórax. B. A mão fetal é apreendida e o braço é 7 Laís Flauzino | HABILIDADES MÉDICAS | 4°P MEDICINA estendido ao longo da face. C. O braço posterior é extraído da vagina. ✓ Manobra da posição de 4: colocar a paciente em posição de 4, resultando frequentemente no desencravamento do ombro anterior. Certamente, essa manobra é mais apropriada em mulher magra e móvel, sem o efeito de anestesias de condução. Manobras de 3ª linha: Manobras heroicas, de exceção, última tentativa de evitar o óbito fetal. ✓ Clidotomia – fratura deliberada da clavícula anterior ✓ Manobra de Zavanelli – recolocação da cabeçafetal no útero, seguida de cesárea ✓ Sinfisiotomia – secção da cartilagem fibrosa da sínfise sob anestesia local. A manobra de Zavanelli talvez seja mais apropriada para os casos raros de distocia de ombros bilateral, quando ambos os ombros estão impactados – anteriormente acima do púbis e posteriormente sob o promontório sacro. Fig: Manobra de Zavanelli. Sob tocólise, é o polo cefálico rodado para OP ou OS, flexionado e impulsionado para refazer o caminho pela fieira pélvica. A cesárea é o próximo passo. Algoritmo para o tratamento da distocia de ombros: Não são tão frequentes no trabalho de parto quanto as distocias. https://www.febrasgo.org.br/pt/noticias/item/184- distocias Barbosa, MONTENEGRO, Carlos, A. e REZENDE FILHO, Jorge de. Rezende Obstetrícia, 13ª edição. Disponível em: Minha Biblioteca, Grupo GEN, 2016. https://www.febrasgo.org.br/pt/noticias/item/184-distocias https://www.febrasgo.org.br/pt/noticias/item/184-distocias
Compartilhar