Buscar

Capoeira Patrimônio Identidade Mandinga Resistência

Prévia do material em texto

5
CAPOEIRA-PATRIMÔNIO: IDENTIDADE-MANDINGA-RESISTÊNCIA E DIFUSÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA NO MUNDO.
	
Silva, Uelber Barbosa[footnoteRef:1] [1: Licenciado em História pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (2009), mestre em Serviço Social pela Universidade Federal de Alagoas (2011), doutorando em Serviço Social pela Universidade Federal de Alagoas (2017). Email: uelbsilva@hotmail.com] 
Santos, Lázaro Vieira dos[footnoteRef:2] [2: Mestre e fundador do Centro Educacional de Treinamento Arte e Movimento Capoeira Escola - CETA, de Vitória da Conquista, na Bahia. Email: cetasecretaria@gmail.com] 
Oliveira, Dayane Silva[footnoteRef:3] [3: Licenciada em História pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (2012) e mestranda em Serviço Social pela Universidade Federal de Alagoas (2018). Email: daycomuna@hotmail.com ] 
RESUMO: Trata-se de uma reflexão sobre a capoeira como criadora de uma identidade-mandinga-resistência e difusora da língua portuguesa. Apresenta a capoeira como instrumento de resistência da população afro-brasileira, que cria e recria uma identidade-mandinga-resistência e contribui na difusão da língua portuguesa nos de 150 países onde ela se faz presente. A reflexão aqui exposta foi realizada por meio de uma análise bibliográfica de textos chaves, previamente selecionados, da observação da prática da capoeira em outras nacionalidades e do acúmulo teórico-prático sobre a capoeira.
PALAVRAS-CHAVE: Capoeira. Identidade. Língua Portuguesa.
1. INTRODUÇÃO
A capoeira foi criada por africanos como instrumento de resistência à sua escravização e de manutenção das memórias culturais multiétnicas da África negra que mantinham certo nível de entretenimento nas senzalas, quilombos e portos do Brasil (SOARES, 1993; 1998). Apesar da maioria dos registros históricos serem do século XIX, ela já era reivindicada no século XVIII, como muito bem observou Abreu (2003, p. 34). Os capoeiristas foram perseguidos e a capoeira se tornou crime em 1890. Segundo Esteves (2004, p. 58), ela resistiu à perseguição estatal, foi reinventada por capoeiristas baianos (Bimba, Pastinha etc.) e retirada do código penal do Estado Novo, na era Vargas. Em 2008 e em 2014, depois de ter dado volta ao mundo, foi registrada como patrimônio cultural imaterial do Brasil (IPHAN) e patrimônio da humanidade (UNESCO). Atualmente, ela é praticada em cerca de cento e cinquenta (150) países, divulgando a língua portuguesa e a história do Brasil (SILVA, SANTOS, AMOROSO, 2017) e criando uma identidade-mandinga-resistência entre os seus praticantes.
A capoeira é um símbolo da resistência afro-brasileira no Brasil escravista, uma resposta político-cultural contra a escravidão. Contudo, ela é muito mais que isso. Uma brincadeira, uma dança, uma encenação, um jogo, uma luta: uma arte marcial brasileira, esportivizada, patrimonializada. Essa arte-luta cultural causa um efeito estético: a luta, cantada em versos cadenciados pelo berimbau; e possui uma ética: a unidade de um povo para manter sua cultura viva. O seu efeito estético é similar ao do caleidoscópio: a cada gesto realizado pelos capoeiras, na roda, surgem combinações de desenhos harmônicos diversos que encantam e hipnotizam os espectadores. E sua ética está ligada à criação de uma identidade onde a concepção de família-resistência aparece vibrante. Enfim, a capoeira é uma atividade social, criada e vivenciada numa dialética do resistir-entreter, que sobrevive e se reinventa cotidianamente.
2. DESENVOLVIMENTO
A capoeira se assemelha com unidades familiares extensas e se sobrepõe ao universo da rua, assim, são aspectos de vinculação com as práticas culturais de origem africana, herdeiras de todo o conjunto ancestral da tradição cultural Banto, da região do antigo reino Kongo-Angola. Portanto, ela não é “uma atividade exclusivamente africana” e sim “fruto da combinação de tradições africanas dispersas com ‘invenções’ culturais crioulas”, afro-brasileiras (SOARES, 1998, p. 125).
A característica multifacetada e multidimensional da capoeira não é apenas um floreio poético-filosófico, é um traço do seu ser na medida em que ela se configura como, segundo Areias (1983, p. 8), “música, poesia, festa, brincadeira, diversão e, acima de tudo, uma forma de luta, manifestação e expressão do povo, do oprimido e do homem em geral, em busca da sobrevivência, liberdade e dignidade”. Pode-se acrescentar que, como observou Julio Tavares (2000), a capoeira sintetiza a ressignificação do corpo no contexto escravocrata, a libertação e reinvenção como corpo hábil, dinâmico e produtivo, para rememorar a função identitária que possuía em África, podendo ser considerada uma linguagem que mantém viva a transgressão herdada dos nossos ancestrais da África Negra.
Como arte marcial ela conta um sistema de movimentos de ataque e de defesa eficientes executados ao som do berimbau. Sua prática é um constante exercício dialético, um jogo de perguntas e respostas, expressando uma relação causa-efeito permeada pelo acaso e pela tradição. A surpresa provocada pelo acaso tira qualquer possibilidade de monotonia e aprofunda o seu efeito caleidoscópico. Do ponto de vista da tradição, a roda de capoeira encerra uma constante necessidade de superação de si e do outro. Cada gesto-movimento abre um campo de possibilidades e impossibilidades e desencadeia ações que multiplica o tempo de cada instante.
A capoeira é um diálogo entre a música e a dança; o berimbau e a ginga; os dois jogadores; os jogadores e os espectadores; enfim entre o corpo e a mente, num constante exercício de superação de si e do outro. O vai e vem da ginga expressa a dialética de ataque e defesa, da afirmação e da negativa. Enquanto tal, ela exige um pensamento dinâmico e complexo, uma destreza corporal e uma atenção continuada, um segundo de desatenção pode significar a morte, mas o olhar constante permite o recuo na ginga, a esquiva, a negaça.
O capoeira é mandingueiro! Diferentemente da linguagem racista (que associa o mandingueiro ao “feiticeiro”, malvado, adorador de deuses violentos, impiedosos, injustos e homicidas), na capoeiragem o mandingueiro é o malandro que, dançando, dissimula tão bem a luta, a letalidade de seus gestos-movimentos, que até mesmo o oponente desatento entra na “dança”. Mandinga é dissimulação, é ironia, é sarcasmo, é a ação de forçar o outro a revelar sua intenção enquanto a sua segue oculta. Mandinga é diálogo entre o eu e outro, entre o eu e o mundo ambiente. A mandinga, entretanto, é componente das respostas à necessidade de superação de si e do outro. Tal necessidade, na roda, desencadeia ações que se desconstroem, numa contínua dialética adaptativa, própria das respostas das (os) trabalhadoras (res) escravizadas (os), na cotidiana resistência individual-coletiva.
Faz parte da filosofia do ser capoeira a busca pelo equilíbrio entre o corpo e a mente. Como representante da única arte marcial genuinamente brasileira, o capoeirista se apropriou da rica fauna, imitando bichos e criando uma relação autêntica com a natureza. O capoeira joga descalço pra sentir o chão, que vira e mexe ele toca, se apoia, abraça e faz dele uma arma. A capoeira é a reprodução da corporeidade humana em plena conexão com a natureza, em sua gênese está marcada a pluralidade (ela foi desenvolvida por diversos povos africanos no contexto da escravidão moderna). Seus dois troncos organizacionais – Regional e Angola – se intercruzam dando origem a várias outras “capoeiras”, sem deixar de ser a mesma o tempo todo. Ela agrega valor nessa composição multifacetada do ser/existir/resistir da essência humana. Todas essas características enriquecem a capoeira e faz dela uma legítima filha afro-brasileira, gestada em útero africano.
Na volta do mundo dada pela capoeira, ela tem demonstrado sua capacidade de universalização da língua portuguesa, como meio de comunicação e ligação entre povos de várias nacionalidades (identidade-mandinga-resistência).
Muito provavelmente o Festival de Artes Negras realizado em 1966, na cidade de Dakar, no Senegal, tenhasido o primeiro movimento de internacionalização da capoeira. Logo em seguida, na década de 1970, uma série de “balés folclóricos” passaram a se apresentar fora do Brasil, sobretudo nos Estados Unidos e na Europa. É neste contexto de internacionalização que a capoeira passou a ser parte e produtora daquilo que Lourenço (1999) conceituou como lusofonia. Assim, ela passou a contribuir também para a preservação e divulgação da língua portuguesa. As aulas ministradas em português, a manutenção da nomenclatura dos gestos-movimentos, dos instrumentos musicais e das músicas cantadas nas rodas estimulam o aprendiz estrangeiro a conhecer e se apropriar do português e da história do Brasil.
Tal divulgação e preservação, entretanto, tem um aspecto de rebeldia, como fundamento mesmo da capoeira: sobretudo nas cantigas, a linguagem aparece em sua dialética própria do ontem e do hoje, apresentando um diálogo entre tempos distintos, preservando aspectos de uma linguagem que já caiu em desuso com a vivacidade da língua falada, sobretudo entre aqueles que pouco dominam a língua culta. Esse uso performático da língua apresenta uma compreensão histórico-política e cultural do escravizado, do subalternizado, da afrobrasilidade que luta por afirmação contra a hegemonia daquelas relações de poder oriundas da colonização e perpassadas pelo racismo (CARBONI, MAESTRI, 2003).
Atualmente, sabe-se que já existem profissionais não brasileiros dando aula de capoeira pelo mundo afora. Contudo, ainda que não sejam lusófonos, tais profissionais mantém o idioma português como característica básica da arte da rasteira. Um português que muitas vezes (na maioria) não é formal, mas que é carregado de significado. Esse universo perpassado pela língua portuguesa cria e recria uma identidade que é dinâmica e complexa, que é uma unidade de diversidades. A potência artística da capoeira abre portas para que o conhecimento, a compressão e o uso do passado possibilite intervenções no presente e planejamento para o futuro, expressando o seu valor histórico e atual como patrimônio cultural do Brasil e da humanidade.
3. CONCLUSÃO
A identidade-mandinga-resistência tem na preservação da língua um ponto de encontro importante. Essa concepção de identidade dialoga com aquilo que Hall (2006) considerou como a “identidade do sujeito sociológico”, que se cria e recria constantemente num diálogo entre o individual e o coletivo, entre o eu e o outro. É nesta perspectiva que a comunidade da capoeira, nos fluxos e refluxos migratórios, identificam-se e apresentam-se como uma verdadeira rede de solidariedade e respeito.
Enfim, a capoeira pode ser considerada como “O Patrimônio que nos une”, na medida em que cria uma identidade-mandinga-resistência e absorve “Todos os mundos”, como um patrimônio que engloba outros, pois realizada em senzalas, quilombos, portos, matas, praias, praças, espaços públicos ou privados, territorializados (ROLNIK, 1992), plenos de prestígio social (MARX, 1980), lugares de memória (NORA, 1993), como patrimônio vivo e dinâmico.
REFERÊNCIAS
ABREU, Frede. O Barracão do mestre Waldemar. Salvador: Zarabatana, 2003.
AREIAS, Almir das. O que é a capoeira. São Paulo: Brasiliense, 1983.
CARBONI, Florence; MAESTRI, Mário. A linguagem escravizada. Revista Espaço Acadêmico. Maringá, ano 2, n. 22, 2003.
D’AMORIM, Eduardo; ATIL, José. A Capoeira: Uma Escola de Educação. Recife: Ed. Do Autor, 2007.
ESTEVES, Acúrsio Pereira. A “Capoeira” da Indústria do Entretenimento: Corpo, Acrobacia e Espetáculo Para “Turista Ver”. Salvador: A. P. Esteves, 2003.
FALCÃO, Júlio L. C., 2006: “A capoeira é do Brasil? A capoeira no contexto da globalização. In: MILANI, Luciano. Portal Capoeira. Porto, 2006. Disponível em: https://portalcapoeira.com/capoeira/publicacoes-e-artigos/a-capoeira-e-do-brasil-a-capoeira-no-contexto-da-globalizacao/. Acesso em: 15 fev. 2020.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade.11. ed. São Paulo: DP&A, 2006.
LOURENÇO, Eduardo. A Nau de Ícaro seguido de imagem e miragem de lusofonia. Lisboa: Gradiva, 1999.
MARX, Murillo. Cidade brasileira. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1980.
NORA, Pierre et al. Entre memória e história: a problemática dos lugares. Projeto História: Revista do Programa de Estudos Pós-Graduados de História. São Paulo, v. 10, dez. 1993.
ROLNIK, Raquel. História urbana: história na cidade? In: FERNANDES, A.; GOMES,
M. A. F. (Org.). Cidade e história: modernização das cidades brasileiras nos séculos XIX e XX. 1992. Tese (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade Federal da Bahia, Salvador: UFBA,1992. 
SOARES, Carlos Eugênio Líbano. A negregada instituição: Os capoeiras na corte imperial, 1850-1890. São Paulo: Access, 1993.
SOARES, Carlos Eugênio Líbano. A capoeira escrava e outras tradições rebeldes no Rio de Janeiro (1808-1850). São Paulo: Access, 1998.
SILVA, Uelber Barbosa; SANTOS, Lázaro Vieira dos; AMOROSO, Maria Rita. Capoeira: dança de negro, contravenção penal, patrimônio cultural imaterial da humanidade. In: “Congresso da reabilitação do patrimônio”. Aveiro, Universidade de Aveiro, 2017. 
TAVARES, Julio. Educação, através do corpo: a representação do corpo nas populações afro-ameríndias. In: Negro de corpo e alma. Mostra do Redescobrimento. São Paulo: Fundação Bienal, 2000.
6
7
CAPOEIRA-HERITAGE: IDENTITY-MANDINGA-RESISTANCE AND DISSEMINATION OF PORTUGUESE LANGUAGE IN THE WORLD.
Silva, Uelber Barbosa[footnoteRef:4] [4: Degree in History from the State University of Southwest Bahia (2009), Master in Social Work from the Federal University of Alagoas (2011), PhD in Social Work from the Federal University of Alagoas (2017). Email: uelbsilva@hotmail.com] 
Santos, Lázaro Vieira dos[footnoteRef:5] [5: Master and founder of the Educational Training Center Art and Movement Capoeira School - CETA, in Vitória da Conquista, Bahia. Email: cetasecretaria@gmail.com ] 
Oliveira, Dayane Silva[footnoteRef:6] [6: Degree in History from the State University of Southwest Bahia (2012) and Master's degree in Social Work from the Federal University of Alagoas (2018). Email: daycomuna@hotmail.com] 
ABSTRACT: This is a reflection on capoeira as a creator of an identity-mandinga-resistance and diffuser of the Portuguese language. It presents capoeira as an instrument of resistance for the Afro-Brazilian population, which creates and recreates a mandingo-resistance identity and contributes to the spread of the Portuguese language in 150 countries where it is present. The reflection exposed here was carried out through a bibliographic analysis of key texts, previously selected, the observation of capoeira practice in other nationalities and the theoretical and practical accumulation on capoeira.
KEYWORDS: Capoeira. Identity. Portuguese language.
1. INTRODUCTION
Capoeira was created by Africans as an instrument of resistance to their enslavement and maintenance of the multiethnic cultural memories of black Africa that maintained a certain level of entertainment in the slave quarters, quilombos and ports of Brazil (SOARES, 1993; 1998). Although most historical records are from the 19th century, it was already claimed in the 18th century, as Abreu (2003, p. 34) very well observed. Capoeiristas were persecuted and capoeira became a crime in 1890. According to Esteves (2004, p. 58), it resisted state persecution, was reinvented by Bahian capoeiristas (Bimba, Pastinha etc.) and removed from the penal code of the Estado Novo, in the Vargas era. In 2008 and 2014, after going around the world, it was registered as intangible cultural heritage of Brazil (IPHAN) and world heritage (UNESCO). Currently, it is practiced in about one hundred and fifty (150) countries, disseminating the Portuguese language and the history of Brazil (SILVA, SANTOS, AMOROSO, 2017) and creating an identity-resistance-mandinga among its practitioners.
Capoeira is a symbol of Afro-Brazilian resistance in slavery Brazil, a political-cultural response against slavery. However, it is much more than that. A game, a dance, astaging, a game, a fight: a Brazilian martial art, sports, heritage. This cultural art-struggle has an aesthetic effect: the struggle, sung in verses in cadence by the berimbau; and it has an ethics: the unity of a people to keep their culture alive. Its aesthetic effect is similar to that of the kaleidoscope: with each gesture performed by capoeiras, in the roda, combinations of different harmonic designs emerge that enchant and mesmerize the spectators. And its ethics is linked to the creation of an identity where the concept of family-resistance appears vibrant. Finally, capoeira is a social activity, created and experienced in a dialectic of resist-entertain, which survives and reinvents itself daily.
2. DEVELOPMENT
Capoeira resembles extensive family units and overlaps with the universe of the street, thus, they are aspects of connection with cultural practices of African origin, heirs of the entire ancestral ensemble of the Banto cultural tradition, from the region of the ancient Kongo-Angola kingdom. Therefore, it is not “an exclusively African activity” but “the result of the combination of dispersed African traditions with Creole cultural ‘inventions’”, Afro-Brazilian (SOARES, 1998, p. 125).
The multifaceted and multidimensional characteristic of capoeira is not just a poetic-philosophical flourish, it is a trait of its being insofar as it is configured, according to Areias (1983, p. 8), “music, poetry, party, play, fun and, above all, a form of struggle, manifestation and expression of the people, the oppressed and man in general, in search of survival, freedom and dignity”. It can be added that, as Julio Tavares (2000) observed, capoeira synthesizes the resignification of the body in the context of slavery, liberation and reinvention as a skillful, dynamic and productive body, to remember the function identity that it had in Africa, and it can be considered a language that keeps the transgression inherited from our Black African ancestors alive.
As a martial art it counts a system of efficient attack and defense movements executed to the sound of the berimbau. Its practice is a constant dialectical exercise, a game of questions and answers, expressing a cause-effect relationship permeated by chance and tradition. The surprise caused by chance removes any possibility of monotony and deepens its kaleidoscopic effect. From the point of view of tradition, the capoeira circle has a constant need to overcome itself and the other. Each gesture-movement opens a field of possibilities and impossibilities and triggers actions that multiply the time of each instant.
Capoeira is a dialogue between music and dance; berimbau and ginga; the two players; players and spectators; finally between the body and the mind, in a constant exercise of overcoming oneself and the other. The coming and going of the swing expresses the dialectic of attack and defense, of affirmation and denial. As such, it requires dynamic and complex thinking, bodily dexterity and continued attention, a second of inattention can mean death, but the constant look allows the retreat in the swing, the avoidance, the denial.
Capoeira is a mandingueiro. Unlike the racist language that associates the “mandingueiro” with the “sorcerer”, wicked, who adores violent, merciless, unjust and homicidal gods, in capoeiragem the “mandingueiro” is the trickster who, dancing, hides the fight so well that even the inattentive opponent enters in the dance. Mandinga is dissimulation, it is irony, it is sarcasm, it reveals the other's intention and conceals his own. The need to overcome oneself and the other, in the circle, triggers actions that are deconstructed, in a continuous adaptive dialectic, typical of the responses of the enslaved workers, in their daily individual-collective resistance.
The search for balance between body and mind is part of the philosophy of being capoeira. As a representative of the only genuinely Brazilian martial art, the capoeirista appropriated the rich fauna, imitating animals and creating an authentic relationship with nature. Capoeira plays barefoot to feel the ground, which turns and moves it touches, supports, embraces and makes it a weapon. Capoeira is the reproduction of human corporality in full connection with nature, in its genesis it is plurality was marked (it was developed by several African peoples in the context of modern slavery). Its two organizational trunks - Regional and Angola - intertwine giving rise to several other “capoeiras”, while remaining the same all the time. It adds value to this multifaceted composition of being / existing / resisting human essence. All these characteristics enrich capoeira and make it a legitimate Afro-Brazilian daughter, pregnant in an African womb.
In the return of the world given by capoeira, it has demonstrated its capacity to universalize the Portuguese language, as a means of communication and connection between people of different nationalities (identity-mandinga-resistance).
Most likely, the Black Arts Festival held in 1966, in the city of Dakar, Senegal, was the first internationalization movement in capoeira. Shortly thereafter, in the 1970s, a series of "folkloric ballets" began to be performed outside Brazil, especially in the United States and Europe. It is in this context of internationalization that capoeira became part and producer of what Lourenço (1999) conceptualized as Lusophone. Thus, it also began to contribute to the preservation and dissemination of the Portuguese language. The classes taught in Portuguese, the maintenance of the nomenclature of gestures-movements, musical instruments and songs sung on the wheels stimulate the foreign apprentice to know and appropriate Portuguese and Brazilian history.
Such dissemination and preservation, however, has an aspect of rebellion, as the very foundation of capoeira: especially in songs, language appears in its own dialectic of yesterday and today, presenting a dialogue between different times, preserving aspects of a language that has already it fell out of favor with the liveliness of the spoken language, especially among those who have little knowledge of the cultured language. This performative use of the language presents a historical-political and cultural understanding of the enslaved, the subalternized, the Afro-Brazilians who struggle to assert themselves against the hegemony of those power relations that came from colonization and permeated by racism (CARBONI, MAESTRI, 2003).
Currently, it is known that there are already non-Brazilian professionals teaching capoeira classes around the world. However, even though they are not Portuguese-speaking, such professionals maintain the Portuguese language as a basic characteristic of the rasteira art. A Portuguese who is often (mostly) not formal, but who is loaded with meaning. This universe permeated by the Portuguese language creates and recreates an identity that is dynamic and complex, which is a unit of diversities. The artistic power of capoeira opens doors so that knowledge, compression and the use of the past enable interventions in the present and planning for the future, expressing its historical and current value as a cultural heritage of Brazil and humanity.
3. CONCLUSION
Mandingo-resistance identity has an important meeting point in the preservation of language. This conception of identity dialogues with what Hall (2006) considered as the “identity of the sociological subject”, which is constantly created and recreated in a dialogue between the individual and the collective, between the self and the other. It is in this perspective that the capoeira community, in migratory flows and refluxes, identifies itself and presents itself as a true network of solidarity and respect.
Anyway, capoeira can be considered as “The Patrimony that unites us”, inasmuch as it creates an identity-mandinga-resistance and absorbs “All the worlds”, as a patrimony that encompasses others, since it is carried out in slave quarters, quilombos, ports , forests,beaches, squares, public or private spaces, territorialized (ROLNIK, 1992), full of social prestige (MARX, 1980), places of memory (NORA, 1993), as living and dynamic heritage.

Continue navegando