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CARREIRAS POLICIAIS Criminologia Capítulos 1 ao 5 CARREIRAS POLICIAIS Criminologia Capítulo 1 1 Olá, aluno! Bem-vindo ao estudo para os concursos de Carreiras Policiais. Preparamos todo esse material para você não só com muito carinho, mas também com muita métrica e especificidade, garantindo que você terá em mãos um conteúdo direcionado e distribuído de forma inteligente. Para isso, estamos constantemente analisando o histórico de provas anteriores com fins de entender como cada Banca e cada Carreira costuma cobrar os assuntos do edital. Afinal, queremos que sua atenção esteja focada nos assuntos que lhe trarão maior aproveitamento, pois o tempo é escasso e o cronograma é extenso. Conte conosco para otimizar seu estudo sempre! Ademais, estamos constantemente perseguindo melhorias para trazer um conteúdo completo que facilite a sua vida e potencialize seu aprendizado. Com isso em mente, a estrutura do PDF Ad Verum foi feita em capítulos, de modo que você possa consultar especificamente os assuntos que estiver estudando no dia ou na semana. Ao final de cada capítulo você tem a oportunidade de revisar, praticar, identificar erros e aprofundar o assunto com a leitura de jurisprudência selecionada. E mesmo você gostando muito de tudo isso, acreditamos que o PDF sempre pode ser aperfeiçoado! Portanto pedimos gentilmente que, caso tenha quaisquer sugestões ou comentários, entre em contato através do email pdf@cers.com.br. Sua opinião vale ouro para a gente! Racionalizar a preparação dos nossos alunos é mais que um objetivo para Ad Verum, trata-se de uma obsessão. Sem mais delongas, partiremos agora para o estudo da disciplina. Faça bom uso do seu PDF Ad Verum! Bons estudos mailto:pdfadverum@cers.com.br 2 Recorrência da disciplina Caro concurseiro, Para elaborar este material com o maior direcionamento e precisão possível, fizemos uma análise minuciosa dos últimos editais das carreiras de Agente, Escrivão e Investigador de Polícia, e pudemos verificar a incidência da disciplina de Criminologia nessas provas. que a disciplina de Direito Administrativo possui forte incidência nas provas. No geral, o tema mais cobrado é “Escolas sociológicas”, seguido por noções gerais de criminologia, vitimologia e escolas sociológicas: Criminologia 27% Escolas sociológicas 41% Teoria da prevenção 14% Vitimologia 18% Criminologia Escolas sociológicas Teoria da prevenção Vitimologia 3 Abordaremos os assuntos da disciplina de Criminologia da seguinte forma: CAPÍTULOS Capítulo 1 – Introdução e Noções Gerais da Criminologia. Objeto. Método. Funções. Interdisciplinaridade. Classificação da Criminologia. Capítulo 2 – História da Criminologia. Escolas Criminológicas. Capítulo 3 – Modelos Teóricos da Criminologia Capítulo 4 – Vitimologia. Prevenção Criminal e Reação Social. Capítulo 5 – Temas atuais da criminologia. 4 SUMÁRIO CRIMINOLOGIA, Capítulo 1 ................................................................................................................... 5 1. Introdução ao estudo da Criminologia ........................................................................................ 5 1.1 Conceito .......................................................................................................................................................... 5 1.2 Objetos da Criminologia .................................................................................................................................. 6 1.2.1 Crime (ou Delito) ............................................................................................................................................. 7 1.2.2 Criminoso (ou Delinquente) ........................................................................................................................... 10 1.2.3 A Vítima ........................................................................................................................................................ 11 1.2.4 Controle social............................................................................................................................................... 12 1.3 Método ......................................................................................................................................................... 13 1.4 Funções da Criminologia ................................................................................................................................ 14 1.5 Interdisciplinaridade ...................................................................................................................................... 15 1.5.1 Direito Penal ................................................................................................................................................. 16 1.5.2 Política Criminal ............................................................................................................................................ 17 1.5.3 Criminalística ................................................................................................................................................. 17 1.6 Classificação da Criminologia ......................................................................................................................... 17 QUADROS SINÓTICOS .......................................................................................................................... 19 QUESTÕES COMENTADAS ................................................................................................................... 22 GABARITO ............................................................................................................................................... 31 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................................... 35 5 CRIMINOLOGIA Capítulo 1 1. Introdução ao estudo da Criminologia 1.1 Conceito A Criminologia é a ciência empírica que estuda o crime, o criminoso, a vítima e o comportamento da sociedade. Ocupa-se do crime enquanto fato. Criminologia é uma ciência empírica e interdisciplinar, que se ocupa do estudo do crime, da pessoa do infrator, da vítima e do controle social do comportamento delitivo, e que trata de subministrar uma informação válida, contrastada, sobre a gênese, dinâmica e variáveis principais do crime – contemplando este como problema individual e como problema social -, assim como sobre os programas de prevenção eficaz do mesmo e técnicas de intervenção positiva no homem delinquente e nos diversos modelos ou sistemas de resposta ao delito (HERCULANO, 2020). A origem do termo Criminologia é atribuída ao jurista e ex-ministro da Corte de Apelação de Nápoles, Raffaele Garofalo. Entretanto, vale ressaltar, como lembram Fontes e Hoffmann (2019), a palavra criminologia foi criada em 1883 por Paul Topinard, mas difundida internacionalmente por Raffaele Garofalo em seu livro Criminologia, no ano de 1885. O termo CRIMINOLOGIA tem origem etimológica híbrida, visto que possui elemento proveniente da língua latina, crimino, o qual significa crime, e outro da língua grega, logos, que quer dizer estudo. Logo, por meio de uma análise etimológica da expressão, temos o estudo do crime. 6 Esse vocábulo, a princípio reservado ao estudo do crime, ascendeu à ciência geral da criminalidade, antes denominada Sociologia Criminal ou Antropologia Criminal. A criminologia é considerada ciência, pois apresenta função, método, e objeto próprios. Reúne informações válidas e confiáveis sobre a criminalidade baseadas na observação do mundo concreto, real. A Criminologia não se trata de uma ciência exata que traz informações absolutas, de certeza evidente, mas sim de uma ciência do ser,de natureza eminentemente humana, apresentando informações parciais, fragmentadas, e provisórias, mas compatíveis com a realidade. As informações dadas pela criminologia não são neutras, mas contribuem para compreensão do delito. A Criminologia observa a infração praticada e essa conduta será analisada enquanto fenômeno humano e social, observando a criminalidade como um todo e também encontrar as motivações do crime. 1.2 Objetos da Criminologia Como nos lembra Saló de Carvalho (2015), a criminologia tem como objetos referenciais: o crime, o criminoso, a vítima e o sistema criminalizador. Os objetos da criminologia1 são: o crime (ou delito), suas circunstâncias, o criminoso (ou delinquente), sua vítima e o controle social. 1 Vide questão 08 ao final do capítulo. 7 A Criminologia orienta como a política criminal deve se portar no que diz respeito a prevenção especial e direta dos crimes socialmente relevantes, na intervenção relativa às suas manifestações e aos seus efeitos graves para determinados indivíduos e famílias. Além disso, a Criminologia deve auxiliar a política social na prevenção geral e indireta das ações e omissões que, embora não previstas como crimes, merecem a reprovação máxima. 1.2.1 Crime (ou Delito) O crime (ou delito) é um dos objetos de estudo da Criminologia. Para conceitua- lo, importante analisar os critérios levados em consideração pela doutrina. Inicialmente, devemos entender o conceito de conduta. O conceito clássico de delito foi produto do pensamento jurídico característico do positivismo científico (Beling e Binding), que afastava completamente qualquer contribuição das valorações filosóficas, psicológicas e sociológicas. Assim, a ação, concebida de forma puramente naturalística, estruturava-se com um tipo objetivo-descritivo; a antijuridicidade era puramente objetivo-normativa e a culpabilidade, por sua vez, apresentava-se subjetivo-descritiva. Conceito clássico de delito: um movimento corporal (ação), produzindo uma modificação no mundo exterior (resultado). Posteriormente, o neokantismo patrocinou a reformulação do velho conceito de ação, atribuindo nova função ao tipo penal, além da transformação material da antijuridicidade e a redefinição da culpabilidade, sem alterar, no entanto, o conceito de crime, como a ação típica, antijurídica e culpável. Para Welzel, ação humana é exercício de atividade final. A ação é, portanto, um acontecer ‘final’ e não puramente ‘causal’. A ‘finalidade’ ou o caráter final da ação baseia-se em que o homem, graças a seu saber causal, pode prever, dentro de certos limites, as consequências possíveis de sua conduta. 8 No conceito previsto na Exposição de Motivos do Código Penal brasileiro, considera-se crime a infração penal a que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa. Além disso, ao conceituar o crime, a doutrina aponta uma divisão pelos seguintes critérios: a) Material; b) Legal c) Analítico. Segundo o critério material, crime é toda ação ou omissão humana que lesa ou expõe a perigo de lesão bens jurídicos penalmente tutelados. Enquanto isso, conforme o critério legal, crime é aquele fornecido pelo legislado, em que há uma pena de reclusão ou de detenção, isolada, alternativa ou cumulativamente com a pena de multa. Por fim, o critério mais importante e que levanta mais discussão: o analítico. Conforme nos lembra Cleber Masson (2018), esse critério, também chamado de formal ou dogmático, se funda nos elementos que compõem a estrutura do crime. Existem três posições no que diz respeito ao conceito analítico do crime: quadripartida, tripartida e bipartida. Basileu Garcia sustentava ser o crime composto por quatro elementos: fato típico, ilicitude, culpabilidade e punibilidade. Essa posição quadripartida é claramente minoritária e deve ser afastada, pois, a punibilidade não é elemento do crime, mas consequência da sua prática (MASSON, 2018). Nelson Hungria, Aníbal Bruno, Cezar Roberto Bitencourt, entre outros autores defendem e adotam em suas obras uma posição tripartida, pela qual seriam elementos do crime: fato típico, ilicitude e culpabilidade. Finalmente, existe a posição bipartida, em que autores como René Ariel Dotti, Damásio E. de Jesus e Júlio Fabbrini Mirabete entendem o crime como fato típico e ilícito. 9 Para os seguidores da teoria bipartida, a culpabilidade deve ser excluída da composição do crime, uma vez que se trata de pressuposto de aplicação da pena. Deste modo, para configuração do crime bastam o fato típico e a ilicitude, ao passo que a presença ou não da culpabilidade importará na possibilidade ou não de a pena ser imposta. Vale ressaltar as ponderações de Eduardo Viana (2019) sobre o fato de a Criminologia e o Direito Penal operarem com os mesmos conceitos de delito. Diferente do Direito Penal que tem uma visão individualizada, para a Criminologia o delito deve ser encarado como um fenômeno humano e cultural. A Criminologia indaga os motivos pelos quais determinada sociedade resolveu, em um determinado momento histórico, criminalizar uma conduta. O conceito jurídico-penal de delito não pode ser decalcado para a Criminologia, visto o conceito do Direito Penal é normativo e formal. Sendo a Criminologia uma ciência empírica2, o marco normativo não é mais que mero ponto de partida, cuja função precípua, sem dúvida, é balizar o campo de investigação de disciplina criminológica. Alguns fatos penalmente irrelevantes possuem repercussão e interesse criminológico, a exemplo do suicídio, do exercício da prostituição, ou, em alguns casos, do aborto. Por outro lado, fatos penalmente relevantes nem sempre são considerados pela sociedade como desviados, a exemplo da posse de substância entorpecente para consumo pessoal. Em outras palavras, o autor quis deixar claro que, apesar de terem sua devida importância, os conceitos de delito trazidos pelos penalistas não são, de toda forma, suficientes para compreender esse importante objeto de estudo da Criminologia. 2 Vide questões 09 e 10 ao final do capítulo. 10 Da mesma forma, apresentar um conceito de crime para a Criminologia não parece ser uma tarefa simples. Portanto, Eduardo Viana (2019), traz em sua obra parâmetros para identificar condutas delitivas. São eles: a) Incidência massiva; b) Incidência aflitiva; c) Persistência espaço-temporal; d) Inequívoco consenso a respeito da sua etiologia e eficazes técnicas de intervenção; e) Consciência generalizada sobre sua negatividade. O conceito de DELITO para a criminologia é real, fático (empírico, não normativo), problema social e comunitário, envolvendo termos como delito natural (infração dos sentimentos morais e sociais no cometimento do crime) e conduta desviada, além de se ocupar de fatos que o Direito Penal não analisa (ex.: cifra negra, campo social onde está inserido o infrator etc.). Antes, o delinquente era o protagonista da criminologia; hoje, na moderna criminologia, divide o protagonismo com a conduta delitiva, vítima e o controle social. Algumas das propostas as quais a Criminologia dispõe-se: estudar e esclarecer o impacto real da pena no infrator, analisar os programas de reinserção, expor o dado de que o crime é um problema de todos – não apenas do sistema legal. 1.2.2 Criminoso (ou Delinquente) A Criminologia tem, ainda, como objeto de estudo o sujeito ativo, o protagonista do acontecimento que convêm-se nomear de criminoso (ou delinquente). Conforme ficará demonstrado no segundo capítulo, ao longo da história, as Escolas Penais foram moldando o conceitode criminoso, bem como, quais pessoas eram consideradas como tal. 11 A visão do criminoso evolui muito com o estudo da Criminologia, onde cada escola tem sua visão. Era visto como pecador, que opta pela vida criminosa. Mas com o avanço dos estudos, o criminoso é visto como aquele ser que é um prisioneiro de sua patologia delituosa. Vale ressaltar que o marco científico da Criminologia se dá com a publicação da obra “L’Uomo Delinquente”, de Cesare Lombroso, no final do século XIX. Até então, diversas investigações sobre o crime e o criminoso foram conduzidas por pseudociências ou ciências ocultas, tais como a Demonologia, a Fisionomia e a Frenologia. 1.2.3 A Vítima A vítima é mais um dos objetos de estudo da Criminologia. Inicialmente deixada de lado no estuda da Criminologia, que a considerava como algo insignificante na existência do delito, passou por 03 (três) grandes momentos nos estudos penais. Vítima é a pessoa que tenha sofrido danos, causados por ação ou omissão que viole a legislação penal. Com o decorrer do tempo, a vítima perdeu foco no estudo da criminologia, mas na década de 50 voltou a ter foco, hoje é estudada dentro da Vitimologia, dado o tamanho da importância que ganhou. A idade de ouro, que compreende os primórdios da civilização até o fim da Alta Idade Média, onde a vítima possuía papel de destaque, traduzido pela Lei de Talião. O período de neutralização, que surgiu com a Santa Inquisição, passando a vítima a perder importância frente ao Poder Público e ao monopólio da jurisdição. Por fim, a revalorização da vítima, que ganhou destaque no Processo Penal com os pensamentos da Escola Clássica, sendo objeto de leis como no caso dos Juizados Especiais Criminais, que conferiu grande desteeaque processual à vítima. 12 Vale ressaltar que parte específica desta ciência empírica ocupa-se de estudar o ator passivo nas condutas delituosas: a Vitimologia. A Vitimologia pode ser definida como o estudo científico da extensão, natureza e causas da vitimização criminal, suas consequências para as pessoas envolvidas e as reações àquela pela sociedade, em particular pela polícia e pelo sistema de justiça criminal, assim como pelos trabalhadores voluntários e colaboradores profissionais. Em capítulo oportuno, a vitimologia será devidamente abordada, bem como toda a sua importância para o estudo da Criminologia. 1.2.4 Controle social3 O último, mas não menos importante, objeto de estudo da Criminologia é o Controle Social. A expressão deriva da sociologia norte-americana, sendo, normalmente, associada à capacidade que uma sociedade tem de autorregular socialmente. O controle social é formado por um conjunto de mecanismos e sanções sociais que submetem os indivíduos às normas de convivência social. Há dois sistemas de controles que coexistem, o primeiro deles, dito informal, está relacionado com a família, religião, escola, profissão, clubes e outros; Enquanto o segundo, chamado de formal, é representado pela Polícia, Ministério Público, Forças Armadas e demais órgãos públicos, com caráter nitidamente mais rigoroso e com conotação político-criminal. No sistema formal de controle social, exercem papel expressivo no controle social, com a principal forma de punir. No controle social será exercido diretamente nas pessoas e poderá ser feito de maneira direta ou indireta através das instituições sociais. 3 Vide questão 04 ao final do capítulo. 13 Dentro do Controle Social, merece destaque o Policiamento Comunitário, que consiste na associação da prevenção criminal e repressão com a necessária reaproximação do policial com a comunidade, passando o policial a integrar a esta última, fazendo parte efetiva do grupo social. 1.3 Método O método utilizando pela Criminologia é o empírico, baseado na coleção de uma grande quantidade de dados de um fenômeno natural. Da análise dos dados, cria-se uma teoria ou se chega a uma determinada conclusão. Esses dados empíricos são coletados por meio da observação sistemática de um fenômeno. Como exemplo, podemos mencionar a TEORIA DAS JANELAS QUEBRADAS: observando a realidade, essa teoria chega à conclusão que o Direito Penal deve intervir cada vez mais, pois se nós somos tolerantes com comportamentos indesejados, ainda que de menor gravidade, estamos contribuindo para o nascimento de comportamentos de maior gravidade. Essa teoria chega a essa conclusão observando a realidade. Através do seu método, a Criminologia busca analisar e conhecer o processo através da observação, utilizando-se da indução para estabelecer suas regras, ao contrário do Direito Penal que se utiliza da dedução. Como será visto no segundo capítulo, a Escola Positiva, que deu origem a fase científica da Criminologia, deu início ao uso do método empírico na análise do fenômeno criminal. Cumpre ressaltar que o método empírico não é ‘mero achismo’. Trata-se de método árduo de análise, observação e indução. A Criminologia parte da observação da realidade para, após análises, retirar dessas experiências as suas consequências. 14 Enquanto isso, o Direito Penal vale-se de uma regra geral, dela partindo para o caso concreto. A Criminologia não se trata de ciência exata que traz informações absolutas, de certeza evidente, mas sim de uma ciência do ser, de natureza eminentemente humana, apresentando informações parciais, fragmentadas, e provisórias, mas compatíveis com a realidade. A cientificidade revela que a Criminologia, por meio do seu método, poderá fornecer informações dotadas de validade e confiabilidade sobre o delito e sua causa. 1.4 Funções da Criminologia Os autores modernos, de forma copiosa, escrevem que a função linear da Criminologia é informar a sociedade e os poderes públicos sobre o crime, o criminoso, a vítima e o controle social, reunindo um núcleo de conhecimentos seguros que permita compreender cientificamente o problema criminal, preveni-lo e intervir com eficácia e de modo positivo no homem criminoso. Busca indicar um diagnóstico qualificado e conjuntural sobre o crime. A Criminologia não é causalista, bem como não é uma fonte de dados de estatísticas. Trata-se de ciência prática, com problemas e conflitos concretos. O papel da criminologia no cenário social é a constante luta contra a criminalidade, o controle e a prevenção do delito. A função da Criminologia, como ciência interdisciplinar e empírica, é submeter o crime a uma análise rígida, eliminando contradições e complementando lacunas. Assim, suas principais funções são: explicar e prevenir o crime, intervir na pessoa do infrator e avaliar os diferentes modelos de resposta ao crime. Fontes e Hoffmann (2019), afirmam que constituem funções da Criminologia: 15 1) Compreender cientificamente o fenômeno criminal; 2) Intervir no delinquente (prevenir e reprimir o crime com eficiência); 3) Valorar os diferentes modelos de resposta ao fenômeno criminal. A criminologia qualifica-se por ser ciência empírica de observação da realidade, que opera no mundo do ser, e emprega o método indutivo e experimental. Diferentemente do Direito Penal, ciência cultural que atua no plano do dever ser, por meio do método dedutivo. Logo, a criminologia investiga as causas do fenômeno da criminalidade segundo o método experimental, isto é, analisando o mundo do ser. Sua finalidade, de índole diagnóstica e profilática, é buscar entender o contexto da prática delituosa, analisando o modelo social de justiça criminal, a pessoa do delinquente, a vítima, o controle social e até mesmo o reflexo da lei penal na sociedade. Empirismo nada mais é do que o conhecimento obtido por meio da experiência. Empirismo (que não é mero achismo), é calcado no tripé análise-observação-indução.1.5 Interdisciplinaridade Pode-se conceituar criminologia como a ciência empírica (baseada na realidade) e interdisciplinar (que congrega ensinamentos de sociologia, psicologia, filosofia, medicina e direito) que possui como objeto de estudo o crime, o criminoso, a vítima e o comportamento social. O incremento da complexidade dos fenômenos criminais, como o aumento da violência urbana e o crescimento gradativo da população carcerária e do caos dos estabelecimentos penais, são motivos significativos para a ascensão da criminologia, ciência que pode fornecer respostas mais pormenorizadas a esses problemas. A criminologia é considerada uma ciência interdisciplinar, pois soma o conhecimento de várias ciências. A interdisciplinaridade da Criminologia decorre de sua própria consolidação histórica como ciência dotada de autonomia, à vista da influência profunda de diversas outras ciências, tais como a sociologia, a psicologia, o direito, a medicina legal etc. 16 Eduardo Fontes e Henrique Hoffmann (2019), lembram que a interdisciplinaridade não deve se confundir com multidisciplinaridade. A visão interdisciplinar é mais profunda que a multidisciplinar. Na interdisciplinaridade, os saberes parciais se integram e cooperam entre si. De outro lado, na multidisciplinaridade as distintas visões sobre um determinado problema são tratadas de maneira compartimentada, ou seja, cada uma delas oferece a sua própria visão sem necessariamente levar em consideração a posição das demais. Em outras palavras, a visão interdisciplinar é mais profunda que a multidisciplinar. Assim, é possível notar que a interdisciplinaridade é mais ampla e abrangente. Direito Penal Criminologia Política Criminal Analisa os fatos humanos indesejados, define quais devem ser rotulados como crime ou contravenção, anunciando as penas. Ciência empírica que estuda o crime, a vítima e o comportamento da sociedade. Trabalha estratégias e meios de controle social da criminalidade. Ocupa-se do crime enquanto norma. Ocupa-se do crime enquanto fato. Ocupa-se do crime enquanto valor. 1.5.1 Direito Penal Analisa os fatos humanos indesejados, define quais devem ser rotulados como crime ou contravenção, anunciando as penas. O direito penal estabelece as normas de conduta e comina sanções para prevenção e reprovação das infrações penais (crimes e contravenções). 17 Assim, o legislador ao criar o tipo penal tem em mente a proteção de um bem jurídico relevante, cuja lesão possa vir a causar uma desarmonia social. A Criminologia pode auxiliar o legislador, pois é a ciência que cuida da causa, da etiologia do comportamento criminoso e dos seus meios preventivos. 1.5.2 Política Criminal Trabalha as estratégias e meios de controle social da criminalidade. Ocupa-se do crime enquanto valor. Há quem acredite que a política criminal é um braço da criminologia. A criminologia deve orientar a política criminal possibilitando a prevenção de crimes, e influenciar o Direito Penal na repressão das condutas indesejadas que não foram evitadas. 1.5.3 Criminalística Não se pode e nem se deve confundir a criminologia com a criminalística. Enquanto a criminologia qualifica-se como ciência autônoma que estuda o fenômeno criminal de maneira empírica e interdisciplinar, a criminalística consiste em disciplina meramente auxiliar das ciências criminais, que objetiva ajudar a persecução criminal (investigação e processo) por meio do fornecimento de provas técnicas (perícias). A criminalística, portanto, é o estudo dos vestígios materiais deixados pelo crime. Esse conjunto de conhecimentos é materializado pelo perito por meio de um laudo pericial. 1.6 Classificação da Criminologia A doutrina sedimenta a classificação da Criminologia sob 02 (dois) enfoques, o geral e o clínico. Criminologia Geral: Consiste na sistematização, comparação e classificação dos resultados obtidos no âmbito das ciências criminais sobre o crime, o criminoso, a vítima, o controle social e a criminalidade. 18 Criminologia Clínica: Consiste na aplicação dos conhecimentos teóricos para o tratamento dos criminosos. Criminologia Científica: conjunto de conhecimentos, teorias, resultados e métodos que se referem à criminalidade como fenômeno individual e social, ao delinquente, à vítima, à sociedade e, em certa medida, ao sistema penal; seu conteúdo está determinado pelo enfoque que se dê ao termo científico e pelos métodos e técnicas que se utilizem na investigação criminal. Consequentemente, a Criminologia científica não se organiza para fins didáticos, senão de investigação. O seu conteúdo não é homogêneo, reflete a influência da sociologia, psicologia, etc. No geral, a Criminologia científica se manifesta em ensaios, pesquisas e projetos e raramente em forma de manuais ou tratados (VIANA, 2019). Criminologia Aplicada: constituída pelas aportações das Criminologias científica e empírica; nem sempre ortodoxamente científica, criada por juízes, funcionários, profissionais que forma parte do sistema penal. A aplicação pode se dar na formulação de uma nova ou reformada política criminal, em um programa ou prática determinados ou em qualquer atividade do sistema necessitada de Criminologia. Como aspecto prático da política criminal, a Criminologia Aplicada é a mais importante, mas também a que suscita maiores dificuldades para fazê-la de forma satisfatória (VIANA, 2019). Criminologia Acadêmica: é essencial, ainda que não exclusivamente descritiva e está constituída pela sistematização, ensino ou disseminação do conhecimento da Criminologia em geral. Assim, é criminologia didática, a qual se baseia em uma exploração sistemática. A aplicada persegue finalidade prática. É exatamente utilizada por juízes, advogados, etc. Essa criminologia se manifesta, sobretudo, por meio de monografias, ensaios. O corpo docente de uma faculdade de direito ou um departamento de sociologia são os seus protagonistas, em geral. Criminologia Analítica: sua finalidade é determinar se as outras criminologias e a política criminal cumprem seu objetivo. Ao fim e ao cabo, ela implica uma série de operações tendentes a demonstrar a validade ou invalidade do que se afirma criminologicamente. 19 CONCEITO DE CRIMINOLOGIA A Criminologia é a ciência empírica que estuda o crime, o criminoso, a vítima e o comportamento da sociedade. O vocábulo Criminologia foi 'criado' em 1883 por Paul Topinard, mas difundida internacionalmente por Raffaele Garofalo em seu livro Criminologia, no ano de 1885. A criminologia é considerada ciência, pois apresenta função, método, e objeto próprios. Reúne informações válidas e confiáveis sobre a criminalidade baseadas na observação do mundo concreto, real. Controle Social Vítima Criminoso Crime ] QUADROS SINÓTICOS OBJETOS DA CRIMINOLOGIA 20 INTERDISCIPLINARIEDADE FUNÇÕES DA CRIMINOLOGIA Direito Penal Criminalística Psicologia Política Criminal 1) compreender cientificamente o fenômeno criminal; 2) intervir no delinquente (prevenir e reprimir o crime com eficiência); 3) valorar os diferentes modelos de resposta ao fenômeno criminal. CRIMINOLOGIA 21 CLASSIFICAÇÃO DA CRIMINOLOGIA Criminologia Geral Consiste na sistematização, comparação e classificação dos resultados obtidos no âmbito das ciências criminais sobre o crime, o criminoso, a vítima, o controle social e a criminalidade. Criminologia Clínica Consiste na aplicação dos conhecimentos teóricos para o tratamento dos criminosos. Criminologia Científica Conjunto de conhecimentos, teorias, resultados e métodos que se referem à criminalidade como fenômeno individual e social, ao delinquente, à vítima, à sociedade e, em certa medida,ao sistema penal; seu conteúdo está determinado pelo enfoque que se dê ao termo científico e pelos métodos e técnicas que se utilizem na investigação criminal. Criminologia Aplicada Constituída pelas aportações das Criminologias científica e empírica; nem sempre ortodoxamente científica, criada por juízes, funcionários, profissionais que forma parte do sistema penal. Criminologia Acadêmica É essencial, ainda que não exclusivamente descritiva e está constituída pela sistematização, ensino ou disseminação do conhecimento da Criminologia em geral. Criminologia Analítica Sua finalidade é determinar se as outras criminologias e a política criminal cumprem seu objetivo. 22 QUESTÕES COMENTADAS Questão 1 (FUMARC – 2018 – PC-MG – Escrivão de Polícia Civil) A relação entre Criminologia e Direito Penal está evidenciada de forma CORRETA em: A) A Criminologia aproxima-se do fenômeno delitivo, sendo prescindível a obtenção de uma informação direta desse fenômeno. Já o Direito Penal limita interessadamente a realidade criminal, mediante os princípios da fragmentariedade e da seletividade, observando a realidade sempre sob o prisma do modelo típico. B) A Criminologia e o Direito Penal são disciplinas autônomas e interdependentes, e possuem o mesmo objetivo com meios diversos. A Criminologia, na atualidade, erige-se em estudos críticos do próprio Direito Penal, o que evita qualquer ideia de subordinação de uma ciência em cotejo com a outra. C) A Criminologia tem natureza formal e normativa. Ela isola um fragmento parcial da realidade, a partir de critérios axiológicos. Por outro lado, o Direito Penal reclama do investigador uma análise totalizadora do delito, sem mediações formais ou valorativas que relativizem ou obstaculizem seu diagnóstico. D) A Criminologia versa sobre normas que interpretam em suas conexões internas, sistematicamente. Interpretar a norma e aplicá-la ao caso concreto, a partir de seu sistema, são os momentos centrais da Criminologia. Por isso, ao contrário do Direito Penal, que é uma ciência empírica, a Criminologia tem um método dogmático e seu proceder é dedutivo sistemático. Comentário: Gabarito: Letra “B”. 23 É o que retiramos do Livro Criminologia de Sérgio Salomão Shecaira: "O direito penal e a criminologia aparecem assim como duas disciplinas que têm o mesmo objetivo com meios diversos: a criminologia com o conhecimento da realidade, e o direito penal com a valoração interessada dessa mesma realidade. Hoje é possível precisar, perfeitamente, a autonomia de ambas as disciplinas e, ao mesmo tempo, sua interdependência. (...) A criminologia, na atualidade, erige-se em estudos críticos do próprio direito penal, o que evita qualquer ideia de subordinação de uma ciência em cotejo com a outra" Fonte: Criminologia, (Sérgio Salomão Shecaira) p. 45. Questão 2 (ESCRIVÃO DE POLÍCIA – PCSP – VUNESP) São objetos de estudo da Criminologia moderna ______________, o criminoso, _____________ e o controle social. Assinale a alternativa que completa, correta e respectivamente, as lacunas do texto. A) a desigualdade social - o Estado B) a conduta - o castigo C) o direito - a ressocialização D) a sociedade - o bem jurídico E) o crime - a vítima Comentário: A criminologia possui quatro objetos de estudo: a) o delito; b) o delinquente; c) a vítima; d) o controle social. 24 Na visão da criminologia, o crime é um fenômeno social, o qual exige uma percepção apurada para que seja compreendido em seus diversos sentidos. A relatividade do conceito de delito é patente na criminologia, que o observa como um problema social. Para responder corretamente à questão, o examinando teria que observar que os objetos de estudo da criminologia não mencionados foram: o crime e a vítima. Delito: Entendido como um fenômeno social e comunitário, não existe por si só. Vítima: Objeto de estudo de Mendelsohn e Von Henrig. Vitimologia: Estudo da vítima com finalidade de melhor protegê-la. Vitimodogmática: Âmbito de estudo da área penal, previsto no art. 59, do CP. Questão 3 (2019 - Instituto Acesso - PC-ES - Delegado de Polícia) A Criminologia adquiriu autonomia e status de ciência quando o positivismo generalizou o emprego de seu método. Nesse sentido, é correto afirmar que a criminologia é uma ciência. A) do “dever ser”; logo, utiliza-se do método abstrato, formal e dedutivo, baseado em deduções lógicas e da opinião tradicional. B) empírica e teorética; logo, utiliza-se do método indutivo e empírico, baseado em deduções lógicas e opinativas tradicionais. C) do “ser”; logo, serve-se do método indutivo e empírico, baseado na análise e observação da realidade. D) do “dever ser”; logo, utiliza-se do método indutivo e empírico, baseado na análise e observação da realidade. E) do “ser”; logo, serve-se do método abstrato, formal e dedutivo, baseado em deduções lógicas e da opinião tradicional. Comentário: 25 A criminologia qualifica-se por ser ciência empírica de observação da realidade, que opera no mundo do ser, e emprega o método indutivo e experimental. Como ciência, deve fornecer informações válidas e seguras sobre o problema criminal, obtidas através do método empírico de análise e observação da realidade. É importante observar que o método jurídico da Criminologia é normativo (se preocupa com a norma, o “dever-ser”), diferentemente da Criminologia, que se preocupa com a realidade, o social, é uma ciência do “ser”. A criminologia se diferencia das outras ciências por ter a finalidade de encontrar fatores que causam a criminalidade, de forma que encontre formas de preveni-la. A criminologia é uma ciência empírica (experimental) e interdisciplinar, portanto é considerada uma ciência fática do “SER”; e o direito penal é considerado uma ciência do “DEVER SER”, tendo em vista o seu caráter jurídico e dogmático. Questão 4 (VUNESP – 2018 – PC-SP Escrivão de Polícia Civil) O objeto de estudo da criminologia que mais traduz a função exercida pela polícia judiciaria é A) A vítima B) O criminoso C) O autor do fato D) O crime E) O controle social. Comentário: Gabarito: Letra “E”. Com efeito, o controle social é o conjunto de instituições e de sanções da sociedade para submeter os indivíduos às normas de convivência em comum. Ele se classifica como controle social formal e informal. 26 Questão 5 (AGENTE POLICIAL – 2018 – VUNESP) em relação ao método da criminologia, é correto afirmar que: A) em razão do volume de dados, a criminologia foca suas análises em metodologias quantitativas, reservando às ciências jurídicas as metodologias que têm por base análises qualitativas. B) o método empírico dominou a fase inicial e pré-científica da criminologia, cedendo espaço posteriormente ao método dogmático e descritivo, que melhor se adequa à fase científica e ao reconhecimento da criminologia como ciência autônoma. C) o método dedutivo é priorizado na criminologia por respeito à cientificidade deste ramo do saber. D) o método empírico tem protagonismo, por tratar-se a criminologia de uma ciência do ser. E) as premissas dogmáticas norteiam as diversas linhas e pensamentos criminológicos de modo que se permita a sistematização do conhecimento. Comentário: A Moderna Criminologia está se consolidando como um empreendimento interdisciplinar, constituído a partir de informações empíricas confiáveis sobre as principais variáveis do delito, as suas características específicas (tempo oportuno, espaço físico adequado, vítimas potenciais etc.). O método possibilita a aproximação do objeto da ciência. A questão afirma que o método qualitativo está reservado as ciências jurídicas. Tal afirmação não é verdadeira. A criminologia usa os dois métodos em suaconcepção, os estudos podem ser quantitativos 27 (dedutivo, objetivo), visando estudar locais com população vasta, ou qualitativos (indutivo, subjetivo), visando estudar um caso particular. O método dedutivo foi usado na fase clássica, não é priorizado na criminologia. Criminologia é ciência do ser e seu método é o empírico, indutivo e interdisciplinar. Questão 6 (VUNESP – 2018 – PC-SP – Escrivão de Polícia Civil) Assinale a alternativa correta em relação ao conceito, método, objeto ou finalidade da Criminologia. A) Por ser uma categoria jurídica, o crime não é objeto de estudo da Criminologia, que se ocupa de seus efeitos. B) A finalidade precípua da Criminologia é fundamentar a tipificação criminal das condutas e as respectivas penas. C) Criminologia é uma ciência auxiliar do Direito Penal e a ele se circunscreve, visto ocupar-se das consequências dele decorrentes. D) A vítima, primeiro objeto a ser estudado pela Criminologia, deixou de ser interesse dessa ciência a partir do surgimento da vitimologia. E) Uma das finalidades da Criminologia, no seu atual estágio de desenvolvimento, é questionar a própria existência de alguns tipos de crimes. Comentário: Gabarito: Letra “E”. Com efeito, como visto neste capítulo, uma das finalidades da criminologia é questionar a própria existência de alguns tipos de crimes. 28 Questão 7 (VUNESP – 2018 – PC-SP – Investigador de Polícia) É correto afirmar que a Polícia Civil é uma A) Polícia Administrativa, que integra o controle social formal. B) Polícia Administrativa, que integra o controle social formal e informal. C) Polícia Judiciária, que não integra o controle social. D) Polícia Judiciária, que integra o controle social formal. E) Polícia Judiciária, que integra o controle social informal. Comentário: Gabarito: Letra “D”. Para Antonio Garcia Pablos de Molina, o conrole social é o conjunto de instituições e sanções que têm por objetivo promover a submissão dos indivíduos aos modelos e normas comunitárias. O controle social formal é o exercido pelos órgãos oficiais: polícia, Ministério Público, etc. Questão 8 (VUNESP – 2018 – PC-SP – Investigador de Polícia Civil) É correto afirmar que atualmente o objeto da criminologia está dividido em quatro vertentes, a saber: A) Vítima, criminoso, polícia e controle social B) Polícia, ministério público, poder judiciário e controle social. C) Crime, criminoso, vítima e controle social. D) Polícia, ministério público, poder judiciário e sistema prisional. E) Forças de segurança, criminoso, vítima, controle social. 29 Comentário: Gabarito: Letra “C”. O objeto de estudo da criminologia é delito, delinquente, vítima e controle social. Questão 9 (VUNESP – 2018 – PC-SP – Investigador de Polícia) Com relação ao método, é correto afirmar que a criminologia é uma ciência do A) dever ser, teorética (observação da realidade), que se vale do método indutivo, utilizando-se de métodos biológico e sociológico. B) ser, empírica (observação da realidade), que se vale do método indutivo, utilizando-se de métodos biológico e sociológico. C) dever ser, conceitual e abstrata, que se vale exclusivamente do método indutivo. D) dever ser, teorética e especulativa, que se vale do método indutivo, utilizando-se de métodos biológico e sociológico. E) ser, empírica e teorética (observação da realidade), que se vale exclusivamente do método indutivo. Comentário: Gabarito: Letra “B”. A criminologia é uma ciência empírica, de observação da realidade, que emprega o método indutivo e experimental. 30 Questão 10 (VUNESP – 2018 – PC-SP – Investigador de Polícia) A Criminologia é a ciência A) teorética que tem por objeto o estudo das ciências penais e processuais penais e seus reflexos no controle social, propondo soluções para redução da criminalidade. B) teorética alicerçada na análise dos antecedentes sociais da criminalidade e dos criminosos, que estuda exclusivamente o crime, propondo soluções para redução da criminalidade. C) empírica e teorética, alicerçada no estudo das ciências penais e processuais penais e seus reflexos no controle da criminalidade, tendo por objeto a redução da criminalidade. D) empírica (baseada na observação e na experiência) e interdisciplinar que tem por objeto de análise o crime, a personalidade do autor do comportamento delitivo, a vítima e o controle social das condutas criminosas. E) conceitual e abstrata, que se dedica ao estudo das armas de fogo e suas munições; das armas brancas e demais armas impróprias, objetivando o controle social e a redução da criminalidade. Comentário: Gabarito: Letra “D”. No mesmo sentido da assertiva anterior, temos que a criminologia é uma ciência empírica e interdisciplinar que tem como objetivo a análise do crime, a personalidade do autor, a vítima e o controle social das condutas criminosas. 31 GABARITO Questão 1 - B Questão 2 - E Questão 3 - C Questão 4 - E Questão 5 - D Questão 6 – E Questão 7 - B Questão 8 - C Questão 9 - B Questão10 - D 32 QUESTÃO DESAFIO O que se entende por Vítimo-dogmática? Quais são as suas direções? Máximo de 5 linhas 33 GABARITO DA QUESTÃO DESAFIO A Vítimo-Dogmática busca analisar a conduta da vítima no âmbito da prática criminosa, de modo que é possível atenuar ou isentar a responsabilidade do autor do fato. A direção moderada admite tão somente uma atenuação da pena, ao passo que a Radical admite até mesmo a isenção em crimes não violentos. Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta: Relação entre conduta da vítima e a pena Inicialmente, destaca-se que a Vítimo-Dogmática nasce de uma relação entre a dogmática penal e a análise da conduta da vítima quando da prática de um crime por outro agente. Em outras palavras, essa teoria visa a analisar a relação entre as atitudes da vítima ao sofrer um crime e a consequência dessas condutas no âmbito da responsabilização do autor. Destaca-se que a diferença para as teorias passadas reside no fato de que, sob esse aspecto, essa relação não é estudada apenas para agravar a pena do autor, mas sim para reduzir a sua pena ou até mesmo excluir a sua responsabilidade penal. (Silva Sánches, Jesúz María. Aproximacion al derecho penal contemporáneo. 2. ed. Buenos Aires: BdeF, 2010, p. 73) Isso porque o ponto central da Vítimo-Dogmática é o seguinte: se o fim do Direito Penal é a proteção dos bens jurídicos (inspirando-se no Funcionalismo Moderado de Roxin), então caso a vítima desproteja o bem jurídico tutelado, é possível que haja uma menor responsabilização do autor, tendo em vista a reduzida lesão ao bem jurídico. (VIANA, Eduardo. Criminologia. 6. ed. Salvador: Juspodium, 2018. 443 p.) Direção Moderada Feita essa introdução sobre a Vítimo-Dogmática, destaca-se primeiramente a Direção Moderada, a qual tem como um de seus principais teóricos Winfried Hassemer. (HASSEMER, Winfried. Consideraciones sobre la víctima del delito. Anuario de Derecho Penal y Ciencias Penales. Madrid, v. 43, n. 1, p. 241-259, jan./abr. 1990). 34 Segundo essa Direção, o comportamento da vítima repercute no âmbito da dosimetria da pena, de modo que a conduta da vítima quando do ato criminoso pode atenuar a responsabilidade do autor do crime, a depender das atitudes da vítima. Em outras palavras, algumas das atitudes da vítima colocam o bem jurídico tutelado em situação desprotegida, o que termina por reduzir o conteúdo da antijuridicidade do autor ou a sua culpabilidade. (VIANA, Eduardo. Criminologia. 6. ed. Salvador: Juspodium, 2018. 443 p.) Direção Radical De outro lado, aponta-se a Direção Radical, a qual tem como um de seus principais doutrinadores Schuneman. (SCHÜNEMANN, Bernd.A posição da vítima no sistema de justiça penal: um modelo de três colunas, In GRECO, Luís e LOBATO, Danilo. Temas de direito penal: parte geral, Rio de Janeiro: renovar, 2008.) De acordo com a mencionada Direção, leva-se em consideração com um maior enfoque a noção de prisão como "ultima ratio", de modo que, a depender das condutas praticadas pela vítima, é possível até mesmo isentar de responsabilidade o autor da ação penal. Entretanto, destaca-se que a Direção Radical não prevê essa isenção de responsabilidade a todo e qualquer crime, mas somente àqueles crimes não violentos. (VIANA, Eduardo. Criminologia. 6. ed. Salvador: Juspodium, 2018. 443 p.) 35 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CARVALHO, Salo de. Antimanual de criminologia / Salo de Carvalho. – 6. ed. rev. e ampl. – São Paulo: Saraiva, 2015. CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: parte geral (arts. 1º ao 120). 10. ed. rev., ampl. e atual. – Salvador: JusPODIVM, 2018. FONTES, Eduardo e HOFFMANN, Henrique. Carreiras policiais – Criminologia. 2ª Edição. Salvador, 2019. Editora JusPodivm. HERCULANO, Alexandre. Criminologia: coleção estudo direcionado, 1ª Edição. Salvador, 2020. Editora JusPodivm. MASSON, Cleber. Direito Penal: parte geral – vol. 1 / Cleber Masson – 12 ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, São Paulo: METODO, 2018. MOLINA, Antonio García-Pablos de; GOMES, Luiz Flávio. Criminologia. 4. Ed. São Paulo: RT, 2002. VIANA, Eduardo. Criminologia / Eduardo Viana – 7. Ed. Rev., Atual. e Ampl. – Salvador: JusPODIVM, 2019. CARREIRAS POLICIAIS Criminologia Capítulo 2 1 SUMÁRIO CRIMINOLOGIA, Capítulo 2 .................................................................................................................. 2 2. Nascimento e História da Criminologia....................................................................................... 2 2.1 O Nascimento da Criminologia ........................................................................................................................................ 2 2.2 História da Criminologia ...................................................................................................................................................... 4 2.2.1 A Criminologia na Antiguidade e Idade Média ........................................................................................................ 4 2.2.2 Pseudociências/Ciências Ocultas e Ciências que estudaram a Criminologia .............................................. 6 2.2.2.1 Demonologia ............................................................................................................................................................................ 6 2.2.2.2 Fisionomia .................................................................................................................................................................................. 7 2.2.2.3 Frenologia .................................................................................................................................................................................. 7 2.2.2.4 Outras ciências (e pseudociências)................................................................................................................................. 8 3. Escolas Criminológicas................................................................................................................... 10 3.1 Escola Clássica ........................................................................................................................................................................10 3.2 Escola Positiva.........................................................................................................................................................................13 3.3 Escola de Política Criminal ou Moderna Alemã ......................................................................................................18 3.4 Terza Scuola Italiana ............................................................................................................................................................18 3.5 Escola Técnico-Jurídica .......................................................................................................................................................19 3.6 Escola Correcionalista ..........................................................................................................................................................20 3.7 Movimentos Defensivistas do Século XX ...................................................................................................................21 3.8 Escolas Penais no Brasil ......................................................................................................................................................22 QUADRO SINÓTICO .............................................................................................................................. 24 QUESTÕES COMENTADAS ................................................................................................................... 33 GABARITO ............................................................................................................................................... 40 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................................... 44 2 CRIMINOLOGIA Capítulo 2 2. Nascimento e História da Criminologia 2.1 O Nascimento da Criminologia A criminologia classifica-se por ser uma ciência empírica de observação da realidade, que opera no mundo do ser, e emprega o método indutivo e experimental. Por isso, não deve ser confundida com o Direito Penal, ciência cultural que atua no plano do dever ser, por meio do método dedutivo. Conforme já afirmado no Capítulo 1, há o entendimento que o primeiro a utilizar o termo “Criminologia” fora Paul Topinard, porém, Cesare Lombroso é considerado o fundador da criminologia moderna com a publicação, em 1876, de seu livro O Homem Delinquente. Há quem defenda a tese de que foi Rafaelle Garófalo quem, em 1885, usou o termo Criminologia como nome de um livro científico pela primeira vez. Embora não exista um consenso, o nascimento da Criminologia como ciência, possivelmente, ocorreu após o ano de 1876. Entretanto, desde a Antiguidade Clássica, encontramos dados e informações que demonstram que inúmeros pensadores, teóricos, filósofos, sociólogos fizeram estudos, que, apesar de na época não serem considerados criminológicos, na prática, o eram. Como lembra Eduardo Viana (2019), é intuitiva a afirmação de que o fenômeno crime exerce algum tipo de atração sobre os homens; bem por isso se diz que a Criminologia sempre existiu, ainda que de maneira elementar, rudimentar e tosca. Por questões didáticas, apesar de haver críticas que tal divisão poderia cair em reducionismo, convêm-se dividir o estudo da história do pensamento criminológico em: Fase Pré-Científica e Fase Científica. 3 Na fase pré-científica da história da criminologia estão situadas, conforme veremos a seguir, o estudo do grupo de teorias em que busca-se explicar o crime e o seu sentido por meio de pseudociências. Enquanto isso, na fase científica da história criminológica, dá-se início ao estudo da Criminologia por meio de métodos de pesquisa científicos. A Criminologia deve procurar encontrar fatores concorrentes e causas do crime que possam ajudar a prevenir, predizer e controla-lo, de forma que àquele não ocorra. O estudo da Criminologia é extremamente necessário para sociedade, visto que, desde os primórdios da humanidade, o crime fez-se presente. Segundo ideias de Judith Shklar (1928 – 1992), a crueldade é a principal falha da sociedade. Eis que aí encontra-se a importância da Criminologia.No estudo do nascimento e da história da Criminologia, vale-se fazer uma advertência: deve-se compreender que as teorias criminológicas do passado representam o produto de uma determinada realidade histórica, por isso, não devemos analisá-las com o olhar crítico de hoje. Como lembra Viana (2019), a perspectiva etiológica busca explicar uma origem para o fenômeno delitivo e a faz por meio de uma distinção entre micro e macrocriminologia. A microcriminologia é voltada principalmente ao autor do delito, individualmente, ou dentro do grupo social onde vive, ao passo que a acentuação dos aspectos sociais na gênese do delito geraria a macrocriminologia. 4 Dessa forma, a macrocriminologia se ocuparia, sobretudo, da análise da estrutura da sociedade na qual surge o delito. Esse vocábulo, a princípio reservado ao estudo do crime, ascendeu à ciência geral da criminalidade, antes denominada Sociologia Criminal ou Antropologia Criminal. Afinal, quando nasceu a Criminologia, como ciência? 1. O termo criminologia foi criado por Garofalo; 2. O marco científico da criminologia se deve a Lombroso; 3. Zaffaroni alerta que para aqueles que entendem que a criminologia se resume ao estudo dos fenômenos sociais, a sua gênese se dá com os trabalhos de Queteler; 4. Por fim, para aqueles que entendem que criminologia abarca política criminal, sua origem ocorre com Beccaria. 2.2 História da Criminologia Desde os tempos remotos da Antiguidade já se concebia discussões acerca dos crimes e dos criminosos. Göppinger aponta que a criminologia tem uma curta história, porém um longo passado, daí porque, pela justa razão, há permanente risco em se recuar muito no tempo em busca de um estudo com verniz criminológico (VIANA, 2019). Para entender o estudo da história da Criminologia faremos uma análise, inicialmente, da Antiguidade e da Idade Média. Em seguida, falaremos das pseudociências. Por fim, falaremos da importância do Marquês de Beccaria. Após, iremos para a segunda parte deste capítulo, onde, enfim, trabalharemos as Escolas Criminológicas. 2.2.1 A Criminologia na Antiguidade e Idade Média A história da Criminologia costuma ser estruturada por meio de períodos ou fases distintas. Partindo-se desta premissa, o período da Antiguidade é marcado pelos grandes pensadores que opinavam e forneciam diversos conceitos sobre assuntos relacionados ao estudo criminológico, como os delitos, e as respectivas sanções. 5 Protágoras (490 - 415 a.C) compreendia a pena como meio de evitar a prática de novas infrações pelo exemplo que deveria dar a todos os membros de um corpo social. Seu estudo criminológico consistia no estudo sobre a finalidade da pena. Chegou à conclusão que a pena tem que ter uma finalidade de prevenção geral negativa (ele afasta da pena a ideia de retribuição). Sócrates (470 - 399 a.C) destaca a importância da ressocialização, na medida em que pregava a necessidade de ensinar aos delinquentes a não reiterar a conduta delitiva. Seu estudo criminológico consistia no estudo sobre a pena e sua finalidade. Destacou a importância da prevenção especial negativa (evitar a reincidência) e positiva (ressocialização). Platão (427 - 347 a.C) sustentava que a ganância, a cobiça ou cupidez geravam a criminalidade. O seu estudo criminológico consistiu no estudo sobre a etiologia do crime. Associa a prática delituosa a fatores de ordem econômica. Aristóteles (384 - 322 a.C) seguia a mesma linha de pensamento de Platão. Imputava a fatores econômicos a causa do fenômeno criminal. Há que se falar, também, do Código de Hamurabi da antiga Mesopotâmia. Não se trata de normas abstratas tal qual conhecemos hoje, era mais uma compilação dos casos concretos. Havia uma proporcionalidade da pena por meio da famosa Lei de Talião, na qual a pena para o delito é igual ao dano causado. Essa fase/período é responsável por lançar bases ou premissas éticas do delito e sua punição, com destaque para as causas e finalidades. No período da Idade Média vigorava na Europa o sistema feudal, e o cristianismo era a ideologia religiosa dominante da época. Nesta fase, a doutrina cita São Tomás de Aquino 6 (1225 – 1274), precursor da Justiça Distributiva, isto é, se dar a cada um o que é seu segundo certa igualdade. Sustentava que a pobreza desencadeava o roubo e defendia o furto famélico (excludente de estado de necessidade). Outra personalidade marcante, tida como pensador medieval, é Santo Agostinho (354 a 430 d.C). Apresenta também estudo criminológico. Compreendia a pena de talião como uma injustiça, pois, para ele, a pena devia assumir um papel de defesa social e promover a ressocialização do delinquente evitando a prática de novos crimes. Trabalha principalmente a finalidade da pena. Uma finalidade essencialmente preventiva. 2.2.2 Pseudociências/Ciências Ocultas e Ciências que estudaram a Criminologia Se, para muitos autores, é certo que o marco científico da Criminologia se dá com a publicação da obra L’Uomo Delinquente, de Lombroso, não é menos verdade que, antes dele, diversas investigações sobre o crime e o criminoso foram levadas a cabo por método típico da Criminologia, o empirismo (VIANA, 2019). Muitas dessas aportações, destaca Garcia-Pablos, provavelmente pertencem ao mundo das crenças e convicções populares e utilizam-se de falso empirismo para colocarem-se a serviço de superstições. 2.2.2.1 Demonologia A Demonologia, mais que todas as ciências ocultas, é a mãe em linha reta da Criminologia. A Demonologia busca explicar a origem de todo mal por meio da existência do demônio. Logo, tal pseudociência estuda a natureza e qualidades dos demônios e tal foi seu desenvolvimento que se chegou ao número de 7 milhões de diabos. Os indivíduos mais afetados por essa ciência foram os doentes mentais, os quais eram confundidos com endemoniados e possuídos. 7 A Demonologia desenvolveu a “teoria”, até hoje presente, da tentação. Tal concepção promove a compreensão do crime como um mal externo à natureza humana. Em resumo, a demonologia estudava o crime e o criminoso por meio de ideias de possessão. Desenvolveu a teoria da tentação: o criminoso, embora não possuído, era tentado pelo espírito do mal. 2.2.2.2 Fisionomia A Fisionomia, sem dúvida, é a pseudociência que mais se aproxima do positivismo criminológico do final do século XIX e essa, desde a antiguidade havia difundido a ideia segundo a qual era possível estabelecer uma relação entre a estrutura corporal do indivíduo e a sua personalidade. Como o próprio nome enuncia, esta ciência oculta foca suas pesquisas na aparência do indivíduo como ponto de conexão entre o externo e o interno, entre o físico e o psíquico. Sustenta a relação entre corpo e alma, sinalizando para algumas características de índole criminosa que podem manifestar-se na cabeça, orelha, nariz e dentes. Esta teoria é aprimorada por Lombroso, o qual aplicou o que os fisionomistas não empregaram: método científico. Como lembra Viana (2019), o mais citado precursor importante da fisionomia é São Jerônimo, sobretudo, pela famosa frase “a face é o espelho da alma e os olhos, mesmo calados, confessam os segredos do coração”. Entre os fisionomistas destacam-se, também: 1) Della Porta (1586; o homem de bem teria escassez de sinais físicos); 2) Kaspar Lavater (século XVIII; o criminoso traz os sinais ou marcas da maldade no rosto). Lavater era um estudioso da demonologia também; 3) Petrus Caper (holandês, criou uma escala crescente de perfeição dos seres, desde os primatas até o modelo divino grecoromano). 2.2.2.3 Frenologia É a pseudociência que tem por objetivo identificar a localização física de cada função anímica do cérebro (teoria da localização). 8 A “chave” para explicar o comportamento criminoso está no crânio, poisnele manifesta-se cada função do cérebro. Como lembra Eduardo Viana (2019), fundada e difundida pelo francês/alemão Franz Joseph Gall, com o livro “Craneologia”, sua teoria baseia-se: a) O cérebro se forma em razão da interferência do crânio; b) Cada região do cérebro é responsável por uma faculdade; c) Seu determinismo biológico, por muito tempo, serviu como comprovação científica da superioridade da raça branca. 2.2.2.4 Outras ciências (e pseudociências) A astrologia fazia o estudo do destino do homem pelo zodíaco. A oftalmoscopia estudava o caráter do homem pela medida dos olhos. A metoposcopia fazia exame do caráter pelas rugas do homem. A quiromancia estudava o exame do passado e futuro pelas linhas das mãos. Os médicos psiquiatras analisam as eventuais doenças cerebrais e sua repercussão na imputabilidade do réu. Felipe Pinel: moderna psiquiatria; o louco era doente; Dominique Esquirol: loucura moral, relação entre loucura e crime. Filósofos e Humanistas: 1. Thomas Morus (utopia ideal; o ouro é a causa de todos os males); 2. Hobbes (os governantes devem dar segurança aos súditos); 3. Montesquieu (o legislador deveria evitar o delito em vez de castigar; liberdade dentro da lei; separação de Poderes); 4. Voltaire (pobreza e miséria como fatores criminógenos); 5. Rousseau (pacto social, indivíduo submetido à vontade geral). Penólogos: 1. John Howard (criador do sistema penitenciário, em 1777); 2. Jeremy Bentham (utilitarismo; vigilância severa dos presos); 9 3. Jean Mabilon (prisões em monastérios, 1632). Como lembra Penteado Filho (2018), na etapa pré-científica havia dois enfoques muito nítidos: de um lado, os clássicos, influenciados pelo Iluminismo, com seus métodos dedutivos e lógico-formais, e, de outro lado, os empíricos, que investigavam a gênese delitiva por meio de técnicas fracionadas, tais como as empregadas pelos fisionomistas, antropólogos, biólogos etc., os quais substituíram a lógica formal e a dedução pelo método indutivo experimental (empirismo). Essa dicotomia existente entre o que se convencionou chamar de clássicos e positivistas, quer com o caráter pré-científico, quer com o apoio da cientificidade, ensejou aquilo que se entendeu por “luta de escolas”. Essas pseudociências foram importantes para o nascimento do movimento científico da criminologia nos fins do século XIX. Essa importância está evidente nas obras de Lombroso, nome mais destacado da Escola Positiva. A seguir, para melhor entender a Fase Científica do estudo da História da Criminologia, falaremos das Escolas Criminológicas. São elas: a. Escola Clássica b. Escola Positiva i. Antropológica (Cesare Lombroso) ii. Sociológica (Enrico Ferri) iii. Jurídica (Raffaele Garofalo) c. Escola de Política Criminal ou Moderna Alemã d. Terza Scuola Italiana e. Escola Técnico-Jurídica f. Escola Correcionalista g. Movimentos Defensivistas no Século XX 10 3. Escolas Criminológicas Nas palavras de Penteado Filho (2018), o apogeu do Iluminismo deu-se na Revolução Francesa, com o pensamento liberal e humanista de seus expoentes, entre os quais se destacam Voltaire, Montesquieu e Rousseau, que teceram inúmeras críticas à legislação criminal que vigorava na Europa em meados do século XVIII, aduzindo a necessidade de individualização da pena, de redução das penas cruéis, de proporcionalidade etc. Merece destaque a teoria penológica proposta por Cesare Beccaria, considerado o precursor da Escola Clássica. Na lição de Cezar Roberto Bitencourt (2015), podemos extrair que “no século XIX surgiram inúmeras correntes de pensamento estruturadas de forma sistemática, segundo determinados princípios fundamentais. Essas correntes, que se convencionou chamar de Escolas Penais, foram definidas como ‘o corpo orgânico de concepções contrapostas sobre a legitimidade do direito de punir, sobre a natureza do delito e sobre o fim das sanções’” A maior parte dos Manuais de Criminologia estuda a evolução da ciência a partir das Escolas Clássica (séc. XVIII), Positiva (ou positivista) (séc. XIX) e Sociológica (séc. XIX). Os cientistas dessa época, ao voltarem seus olhos para o crime, encontram o criminoso. A disfunção interna (anormalidade endógena individual) é o principal objeto de pesquisa. Com a evolução do pensamento penal, também floresceram correntes de pensamentos jurídico-filosóficos converter o estudo do crime em ciência. Tais correntes são denominadas de Escolas Penais. As duas principais foram as Escola Clássica e a Escola Positiva. 3.1 Escola Clássica A Escola Clássica procurou construir os limites do poder punitivo do Estado em face da liberdade individual. 1. Ela é baseada no Iluminismo; 2. Contrapõe-se as torturas e desrespeitos aos direitos fundamentais praticados pelo Antigo Regime Absolutista; 11 3. Entende que o direito penal tem um fim de tutela e a pena é igual ao instrumento de proteção; 4. A pena deve ser proporcional ao delito, deve ser certa, conhecida e justa; 5. O fundamento da responsabilidade penal encontra-se no livre- arbítrio e na imputabilidade moral (o homem criminoso, sendo livre para escolher entre o bem e o mal, ele escolhe o último); 6. Os partidários dessa escola concentram seus estudos na vontade livre e consciente do indivíduo; 7. A pena é uma resposta objetiva a prática do delito revelando seu cunho retribucionista. Originou-se nas antigas doutrinas filosóficas gregas que afirmavam ser o crime uma afirmação da justiça e que se desenvolveu no final do século XVIII como reação ao Antigo Regime para garantir os direitos individuais. Como lembra Bitencourt (2015), não houve uma Escola Clássica propriamente, entendida como um corpo de doutrina comum, relativamente ao direito de punir e aos problemas fundamentais apresentados pelo crime e pela sanção penal. Tal Escola Criminológica foi assim denominada pelos positivistas em tom pejorativo (por Enrico Ferri1). Os Clássicos partiram de duas teorias distintas: o jusnaturalismo (direito natural, de Grócio), que decorria da natureza eterna e imutável do ser humano, e o contratualismo (contrato social ou utilitarismo, de Rousseau), em que o Estado surge a partir de um grande pacto entre os homens, no qual estes cedem parcela de sua liberdade e direitos em prol da segurança coletiva (PENTEADO FILHO, 2018). Surgem como grandes intelectos da Escola Clássica: Francesco Carrara (dogmática penal) e Giovanni Carmignani. Contudo, o principal nome dessa Escola é Cesare Bonesana, o Marquês de Beccaria, autor de Dos Delitos e Das Penas. O livro do Marquês de Beccaria, Dei delitti e dele pene (1764), será a mola propulsora para uma nova forma de pensar o sistema punitivo. 1 Vide questão 09 ao final do capítulo. 12 Apesar da sua abordagem nitidamente filosófica, a obra se volta contra os excessos punitivos, marca dos regimes absolutistas, pretendendo humanizar a resposta do Estado, à infração penal. Algumas informações importantes sobre Beccaria 1. Fez surgir o chamado movimento humanitário em relação do Direito de punir estatal. 2. Mostra-se contra as penas de caráter cruel e principalmente a desigualdade das penas determinadas pela classe social do delinquente. Quanto mais pobre, mais cruel a pena. Quanto mais rico, a pena é benevolente. 3. Inspirando-se na filosofia estrangeira, sobretudo em Montesquieu e Rousseau, Beccaria baseou seu pensamento nos princípios do contrato social, do direito natural e do utilitarismo. 4. Beccaria foi um contratualista, igualitário, liberal e individualista. 5. Beccaria abusava do critério de dedução, formulando princípios a priori e deduzindo depois. Vale mencionar, também, as principais ideias defendidas por Beccaria em sua principal obra:Dos Delitos e Das Penas. “(...) para que cada pena não seja uma violência (insurge-se contra as penas cruéis) de um ou de muitos contra um cidadão privado, deve ser essencialmente pública (conhecida), rápida, necessária, a mínima possível nas circunstâncias dadas, proporcional aos delitos e ditadas pelas leis (pena mínima, necessária e proporcional) ”. “Entre as penalidades e no modo de aplicá-las proporcionalmente aos delitos, é necessário, portanto, escolher os meios que devem provocar no espírito público a impressão mais eficaz e mais durável e, igualmente, menos cruel no corpo do culpado”. Beccaria é contra a pena de morte, salvo em tempo de guerra. “Se a intenção fosse punida, seria necessário ter não apenas um Código particular para cada cidadão, mas uma nova lei para cada crime”. Beccaria repudia tipificação do desejo, do pensamento. Incentivando a tipificação de condutas. Repudio ao direito penal do autor e um incentivo ao direito penal do fato. 13 “Ponde o texto sagrado das leis nas mãos do povo e, quantos mais homens o lerem, menos delitos haverá (princípio da taxatividade); pois não é possível duvidar que, no espírito do que pensa cometer um crime, o conhecimento e a certeza das penas coloquem um freio à eloquência das paixões”. Defende lei anterior, conhecida, certa e necessária. Beccaria defende, ainda, que o réu não deve ser julgado por um tribunal parcial (imparcialidade do julgador). Deve preponderar a publicidade do processo (mostra-se contra julgamentos secretos). Era contra acusações secretas. E, por fim, entendia que cabe ao juiz aplicar as leis e não as interpretar. Bentham considerava que a pena se justificava por sua utilidade: impedir que o réu cometa novos crimes, emendá-lo, intimidá-lo, protegendo, assim o coletivo. Feuerbach opina que o fim do Estado é a convivência dos homens conforme as leis jurídicas. A pena coagiria física e psicologicamente o indivíduo para punir e evitar o crime. Assim, para a Escola Clássica, a responsabilidade criminal do delinquente leva em conta sua responsabilidade moral e se sustenta pelo livre-arbítrio, este inerente ao ser humano. 3.2 Escola Positiva2 A criação da Escola Positiva é atribuída a Cesare Lombroso (1835 – 1909). O método formalista da Escola Clássica levou ao aparecimento do Positivismo, ou seja, o método é o principal diferenciador das duas escolas: dedutivo ou lógico-abstrato na Escola Clássica e indutivo e de observação na Escola Positiva. O nascimento da Criminologia é atribuído à Escola Positiva (VIANA, 2019). A Escola Positiva tem como seus principais autores e obras: 1. Fase Antropológica: Cesare Lombroso, autor de O Homem Delinquente; 2. Fase Sociológica: Enrico Ferri, autor de Sociologia Criminale. 3. Fase Júridica: Raffaele Garofalo, autor de Criminologia, e considerado o “pai da Criminologia” por ter disseminado o termo. 2 Vide questões 03 e 06 ao final do capítulo. 14 Também conhecido como período científico ou criminológico, é na Escola Positiva, que surge uma filosofia determinista, segundo a qual todos os fenômenos do universo, abrangendo a natureza, a sociedade e a história são subordinadas a leis e causas necessárias. As linhas de pensamento da Escola Positiva são, em resumo, as seguintes: 1. A criminalidade é considerada um fenômeno natural de causa determinada; 2. A Criminologia deve explicar as causas do delito, utilizando-se de método científico e prever meios de combater o crime; 3. A Criminologia assume o papel de defesa do corpo social; 4. A Criminologia combatendo a criminalidade (reação em favor da defesa social); 5. A pena é um instrumento de defesa social. 6. A pena não deve ser aplicada com o fim de retribuição (que é o que sustenta a Escola Clássica), mas em razão da periculosidade do delinquente; O maior expoente do positivismo foi Cesare Lombroso. Médico italiano, é o responsável por estudos do homem sob perspectiva morfológica. Nesse período positivista, o estudo da criminalidade abandona as ideias da Escola Clássica, defensora do livre arbítrio, e migra para o terreno do concretismo, da verificação prática do delito e do delinquente. Lombroso começa a estudar a morfologia do criminoso. Na sua construção teórica, promove um resumo de todo o pensamento à sua volta, especialmente os fisionomistas e frenólogos. Considera a aparência do indivíduo como ponto de conexão entre o externo e o interno, entre o físico e o psíquico. Lombroso parte da ideia que o comportamento criminoso está no crânio. Lombroso incorpora o método experimental em todos os seus trabalhos, derivando da aplicação desta orientação a figura do criminoso nato (expressão criada por Ferri). Lombroso, com base nos seus estudos, conclui qual crime determinada pessoa pode praticar. 15 Examinando o crânio de um criminoso multireincidente, Lombroso encontra uma série de anomalias, e, daí, à vista desta estranha característica do crânio do criminoso examinado, pensava ter resolvido o problema da origem do comportamento criminoso. As conclusões de Lombroso repercutem especialmente no modelo de política criminal a ser adotado para o combate à criminalidade: contra o criminoso nato, incorrigível, não caberiam aplicações de sanções morais, mas sim, preventivas, devendo a sociedade se proteger com aplicação da pena de prisão perpétua ou de morte. A principal contribuição de Lombroso para a Criminologia não reside tanto em sua famosa tipologia (onde destaca a categoria do “delinquente nato”) ou em sua teoria criminológica, senão no método que utilizou em suas investigações: o método empírico indutivo. Esse método permite considerar a obra de Lombroso o marco científico da criminologia. Sua teoria foi construída com base nos resultados de mais de 400 autópsias de delinquentes e 6.000 análises de delinquentes vivos. Classificava os delinquentes como: nato, louco moral, epiléptico, o louco, ocasional e o passional. O italiano Enrico Ferri inaugura a fase sociológica da Escola Positiva. Enrico Ferri (1856-1929) e seu determinismo social também contribuíram para a evolução da criminologia. Autor da obra Sociologia Criminal publicada em 1914, apontava os fatores antropológicos, sociais e físicos como as causas do delito. Entre os seus estudos pode ser apontada a tese de negativa do livre arbítrio e a defesa do determinismo social. A) Ferri não admite crime como produto da liberdade de escolha do delinquente; B) Defende a responsabilidade social; C) Ferri acredita que todo o criminoso deve ser afastado do convívio social; D) Pena como instrumento de defesa social. 16 Ferri foi o idealizador da Lei de Saturação Criminal, que realizava a seguinte associação: da mesma forma que o líquido em determinada temperatura dilui em parte, assim também ocorre com o fenômeno criminal, pois em determinadas condições sociais, seriam produzidos determinados delitos. A Escola Sociológica do Direito considera que o DIREITO é um fato social, é um fenômeno social decorrente do próprio convívio do homem em sociedade, sendo direito o conjunto de normas que regulam a vida social. Direito é a realidade da vida social. Seu FUNDAMENTO está na própria sociedade e nas inter-relações sociais. Tem ORIGEM com o pensamento dos sociólogos Herbert Spencer, Émile Durkheim, Léon Duguit, Nordi Greco. Por fim, na fase jurídica da Escola Positiva, temos o jurista e ministro da Corte de Apelação de Nápoles, Raffaele Garofalo (1851 – 1934). Garofalo, criador do TERMO criminologia, a compreendia como a ciência da criminalidade, do delito e da pena. Sustentava que se havia o criminoso nato também haveria de existir o delito desta mesma natureza. Portanto, Garofalo acreditava na existência de duas espécies de delitos:
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