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É uma crise que ocorre entre 6 meses e 6 anos de idade, associada à doença febril, não causada por infecção do sistema do SNC, sendo excluídas as crianças que apresentam crise neonatais ou crises não provocadas ou, que se encaixam nos critérios de outra crise sintomática aguda. Geralmente, a CF ocorre em associação com infecções virais das vias aéreas superiores, pulmonares, intestinais e do trato urinário, assim como associada à febre decorrente de vacinação. As CF constituem uma das manifestações neuropediátricas mais frequentes Trata-se de uma condição benigna, de ocorrência única na maioria das vezes e que cursa com desenvolvimento neuropsicomotor normal. É uma síndrome convulsiva relacionada a idade e não deve estar associada a convulsões neonatais ou a manifestações epilépticas prévias, lembrando que a epilepsia se caracteriza por crises afebris recorrentes. Nas literaturas CF é um evento próprio de crianças, entre 3 e 6 meses e 5 6 anos de idade. O pico de incidência varia de 9 a 18 meses, a CF raramente ocorre antes dos 3 meses e após os 6 anos de idade. A crise febril é classificada entre simples e complexa: Crise febril simples: Tem apresentação generalizada, duração inferior a 15 mi- nutos e não recorre em menos de 24 horas, com exame neurológico pós-ictal normal Crise febril complexa: Tem duração superior a 15 minutos e/ou apresenta uma ou mais recorrências nas primeiras 24 horas, podendo iniciar-se como focal e/ ou apresentar exame neurológico pós-ictal alterado. Epidemiologia Fatores de risco para CF: História de crise febril em parentes de 1º e 2º graus Internação hospitalar no período neonatal Atraso do desenvolvimento neuropsicomotor Atendimento frequente em hospital-dia Fatores importantes para recorrência: Idade precoce da primeira CF História familiar de CF Grau de elevação da temperatura (o risco de recorrência é inversamente proporcional ao grau da temperatura) Crise Febril Duração do período febril (quanto menor a duração da fe- bre, maior a chance de recorrência) OBS. É importante sempre ter muito cuidado com a febre baixa ou alta em uma criança que já teve uma CF. Genética A história familiar de CF em parentes de 1º grau é comum, e observa-se uma porcentagem bem maior de concordância de CF entre gêmeos monozigóticos (31 a 70%) que dizigóticos (14 a 18%) A incidência de CF varia também de acordo com a região geográfica Diagnóstico O diagnóstico da CF é predominantemente clínico O exame do líquido cefalorraquidiano, diante de uma primeira convulsão febril, está indicado nas seguintes condições: Menos de 6 meses de vida Sintomatologia de infecção do SNC Recuperação lenta ou alteração neurológica pós- ictal. Uso de antibióticos (lembrar que sintomas de meningite podem ser mascarados) OBS. Os demais exames laboratoriais são direcionados para a investigação do foco infeccioso, não fazendo parte da investigação rotineira da CF simples ou complexa. OBS. Eletroencefalograma (EEG), mapeamento cerebral, tomografia computorizada (TC) de crânio e RM cerebral também não devem ser realizados rotineiramente, uma vez que não contribuem para o diagnóstico nem para o tratamento. Tratamento O tratamento da CF é baseado em três aspectos fundamentais: 1) Tratamento da fase aguda; 2) Profilaxia da recorrência das crises; 3) Orientação familiar. No momento da admissão no setor do pronto –socorro, a temperatura deve ser imediatamente aferida, sendo indicado o controle da febre, por meios físicos como: compressas frias, banhos de água morna, e etc. Além de medicamentos. Quando há recorrência da CF, é recomendado o uso de benzodiazepínicos (diazepam, clonazepam e nitrazepam). O clonazepam e o nitrazepam são drogas predominantemente sedativas e miorrelaxantes, devem ser usadas com parcimônia (com moderação) Não é recomendado o uso contínuo ou profilático de anticonvulsivantes na CF simples. O tratamento profilático não altera o risco de epilepsia futura. Na CF complexa e com alta recorrência, podem-se utilizar benzodiazepínicos durante os episódios febris. Cada caso deve ser avaliado individualmente, embora, de modo geral, crianças neurologicamente saudáveis, com rápida recuperação da consciência e sem déficits neurológicos focais, geral- mente não necessitem de internação hospitalar. OBS. É necessário prestar atenção à duração da convulsão. No caso de tempo maior que 5 minutos, deve-se dirigir à emergência mais próxima ou chamar a ambulância. Diagnóstico diferencial O principal diagnóstico diferencial que temos é a meningite. É importante lembrar a família que: A crise febril tem um caráter benigno, não tendo sido observa- do, até os dias atuais, nenhum estudo em que houvesse mor- te causada pela CF, pois a crise para os pais está associada à ideia de morte. O controle rigoroso da febre é o aspecto mais importante do tratamento, com o uso de antitérmicos e/ou banhos típicos. As compressas frias podem ser postergadas para os casos em que a temperatura não diminui com o uso das medidas anteriores O risco de um novo episódio convulsivo durante o mesmo quadro febril é raro, embora possa ocorrer. Uma vez que as convulsões febris são associadas a elevações rápidas de temperatura corporal acima de 38°C, a crise pode ser o primeiro sinal de um processo infeccioso, não havendo tempo para a administração de antitérmicos antes que ela ocorra. É importante proteger a criança durante a crise; porém, sem restringir seus movimentos Não se deve introduzir nada em sua boca. Não se deve tentar respiração boca a boca ou massagem cardíaca em casa Se a criança tiver nova crise, os pais devem manter a calma, posicionar a criança em uma superfície confortável, em decúbito lateral direito, para evitar o acúmulo de saliva na cavidade oral e prevenir a broncoaspiração no caso de vômitos. Após o término das crises, não se deve administrar qualquer medicação ou líquidos por via oral até que a criança esteja bem desperta. É necessário prestar atenção à duração da convulsão. No caso de tempo maior que 5 minutos, deve-se dirigir à emergência mais próxima ou chamar uma ambulância. É preciso avaliar a temperatura com termômetro e não agasalhar demais a criança. Prognóstico Não se descrevem mortes, estado de mal convulsivo ou déficits neurológicos permanentes após crises febris e a morbidade é baixa. A maioria dos casos de CF evolui sem sequelas de qualquer natureza, mesmo àqueles que se manifestam por crises recorrentes, ou pelo estado de mal epiléptico. Considerações finais Crise febril é a crise epiléptica mais comum em lactentes e pré-escolares, de baixa morbidade, recorrência pouco frequente e não requer tratamento contínuo com drogas antiepilépticas. A profilaxia secundária não é indicada no caso de CF simples, mas no caso de CF complexa, prolongada ou focal, a profilaxia secundária intermitente pode ser considerada. A opção ou não pelo tratamento profilático e qual a melhor forma de fazê-lo envolve não apenas o conhecimento sobre a CF, mas também aspectos individuais, familiares e a estrutura social em que a criança está inserida.
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