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Módulo 2: O Sistema Plantio Direto No Brasil, o SPD teve início no ano de 1971 no Paraná, com as primeiras pesquisas em trigo, e no Rio Grande do Sul, em área experimental. Desde então, o sistema passou por frequentes ciclos de expansão e, na safra de 2011/2012, superou os 31 milhões de hectares em plantio direto. (FE- BRAPDP, 2013). Herbet Arnold Bartz, Franke Dijkstra e Manoel Henrique Pereira (também co- nhecido como Nonô Pereira) lideraram o início e a primeira onda de adoção do sistema, ainda com máquinas e implementos importados ou adaptados. Ainda na década de 1970 foram criadas importantes instituições com o intuito de desenvolver o sistema, como o Clube da Minhoca, a Fundação ABC e a Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha, que possibilita- ram a evolução e aumento expressivo da adoção inicial do sistema (ALT- MANN, 2010). Já em 1980, o mercado nacional dispunha de máquinas e implementos, no entanto, as adapta- ções e fabricações locais mantinham-se em alta. Nesse período, o principal desafio eram os pro- dutos químicos, especialmente os herbicidas. Puríssimo (1997) observa que, desde 1970 até meados de 1990, várias foram as dificuldades encontradas: desde a falta de equipamentos até a alta dependência do controle químico das plantas daninhas. No entanto, a partir da década de 1990, a tendência do SPD ficou mais proativa, com base mais em oportunidades do que em riscos. Um exemplo é a implan- tação do SPD em sistemas de produção animal por meio da integração lavoura–pecuária. Herbicidas O glifosate surgiu somente em 1984, sendo fabricado somente por uma empresa, o que elevava seu preço. Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto 40 Lá na fazenda Rio Novo Olá! Falou em integração de lavoura e pecuária, estou aqui! A combinação de culturas extensivas com a pro- dução de carne ou leite, pela inclusão de uma cobertura morta diferenciada, acrescida dos benefícios agrega- dos, é uma tentativa de retorno ao equilíbrio natural. Para melhorar esse equilíbrio, hoje nós consideramos também a integração com as florestas nos chamados sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta. Se você quiser conhecer mais sobre o assunto, é só se inscrever no curso integração Lavoura-Pecuária-Flo- resta deste mesmo programa! Lá vou mostrar como estamos fazendo essa integração na fazenda Rio Novo do meu sogro, o sr. Antônio. Benefícios foram trazidos com a adoção do SPD pelos agricultores, mos- trando que esse sistema é comprovadamente uma técnica de manejo do solo eficiente no controle da erosão, minimizando as perdas de solo. No entanto, é preciso ter cuidados: o não revolvimento do solo e o tráfego do maquinário agrícola podem aumentar a densidade do solo e diminuir a rugosidade superficial, prejudicando a entrada de água no sistema. Neste segundo módulo, falaremos sobre o sistema plantio direto, seus benefícios e as boas práticas para implantação. Veja o que preparamos para a aula deste módulo: Aula 1 - Sistema Plantio Direto • Princípios para a implantação do SPD • Benefícios do SPD Aula 2 - Boas práticas para a implantação do SPD Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto 41 Aula 1: Sistema Plantio Direto (SPD) O Sistema Plantio Direto (SPD) é uma forma diferenciada de manejo do solo. Ele tem como objetivo diminuir o impacto da agricultura e das má- quinas agrícolas sobre o ambiente, especialmente no próprio solo em que são feitos os plantios. Podemos dizer, portanto, que é uma tecnologia con- servacionista. Esse sistema de produção requer cuidados na sua implantação. No en- tanto, depois de estabelecido, seus benefícios se estendem não apenas ao solo, mas também ao rendimento das culturas, e promovem uma maior competitividade dos sistemas agropecuários. (CRUZ et al, 2019) Na década de 1990, o SPD passou por um grande desenvolvimento no Brasil e, atualmente, está bastante difundido, com adaptações para cada região e níveis de tecnologia disponíveis. Ao falarmos de agricultura conservacionista de uma forma geral, encon- tramos diversas denominações para descrever as práticas adotadas. Den- tre as principais, temos: • plantio direto; • semeadura direta; • cultivo mínimo; e • Sistema Plantio Direto. Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto 42 Cada uma delas tem uma definição específica e seu conhecimento permite o emprego correto dos termos, bem como a utilização das técnicas que cada uma representa. Vamos entender melhor? Plantio direto e semeadura direta Sistema Plantio Direto Cultivo mínimo A expressão “semeadura direta” é muito similar à “plantio direto”. É o ato de depositar no solo sementes ou partes de plantas na ausência de mobilizações intensas de solo. Essa expressão é fiel ao conceito “zero-tillage”, também chamado de “no tillage” ou “no-till”, que veio dos EUA e da Inglaterra e significa “sem preparo de solo” ou “sem amanho”, oriundas dos EUA e da Inglaterra. É um sistema de produção composto por um conjunto de ações que culminam no manejo sustentável e produtivo da área agrícola. O SPD, comprovadamente, contribui para a maior sustentabilidade da agri- cultura, particularmente no que se refere à produção de grãos. Cultivo mínimo é uma técnica utilizada em várias culturas agrícolas e florestais, e consiste no preparo mínimo do solo antes do plantio. Há mecanização, mas apenas onde é essencial. No caso da cana-de-açú- car e do eucalipto, somente a linha de plantio é mecanizada, evitando assim o revolvimento total da área. Confira na imagem a seguir. Cultivo mínimo florestal onde há revolvimento somente na linha de plantio. Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto 43 A expressão “Sistema Plantio Direto” surgiu, em meados dos anos 1980, em consequência da percepção de que a viabilidade da semeadura direta em regiões tropical e subtropical precisava ser compreendido como mais do que simplesmente o abandono do preparo intenso de solo. A semeadura direta necessitava ser entendida e praticada como um sistema de manejo e não como um simples método alternativo de preparo reduzido de solo. Assim, a expressão “Sistema Plantio Direto” passou a ser conceituada como um complexo tecnológico de manejo de solo e de culturas destinado à exploração de sistemas agrícolas, compreendendo: • mobilização de solo apenas na linha ou na cova de semeadura; • manutenção permanente da cobertura do solo; e • diversificação de espécies por meio da rotação e/ou consorciação de culturas. Tem sido observado, especialmente na região Centro-Oes- te do Brasil, inadequações na gestão da terra, como o cul- tivo de grandes áreas com uma única espécie, sequências de uma mesma cultura num mesmo ano agrícola e o uso de sequências simples, como a de soja/milho safrinha ou soja/milheto. Esses monocultivos ocorrem muito frequen- temente no campo e tais sistemas produtivos têm sido de- nominados de “plantio direto”, “plantio direto na palha” ou “semeadura direta” (HERNANI; DENARDIN, SD). Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto 44 Esses três pontos dão a base dos princípios do SPD, que são os pré-re- quisitos para que seja caracterizado o Sistema Plantio Direto. Siga para a próxima etapa desta aula e saiba mais sobre esse assunto. Sistema Plantio Direto: princípios O Sistema Plantio Direto possui três princípios: 1. Não revolvimento do solo. 2. Cobertura permanente do solo. 3. Rotação de culturas. A partir de agora, vamos conhecê-los melhor. Acompanhe com atenção, pois essas informações são importantes para você saber como implantar esse sistema em uma propriedade rural. Não revolvimento do solo No SPD, a movimentação de solo é feita somente na linha de plantio e pode ser por meio dos “facões” da plantadeira ou dos discos de corte. Sistema de subsolagem na linha de plantio, conhecido como “facão” ou “botinha” Fonte: SENAR Nacional. Ao evitar a movimentação geral, típica das operações de grade, arado ou subsolagem, temos as seguintes vantagens: Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto 45 • redução da degradação dosagregados de solo; • diminuição da pulverização do solo; • mais resistência a impactos da chuva; • maior taxa de infiltração de água no solo, caso não haja compacta- ção superficial; • maior macroporosidade, nas mesmas condições acima; • menores perdas de solo e água por erosão. Esse mesmo sistema faz também a distribuição de fertilizantes de modo que fiquem localizados na linha de plantio das sementes, na área de ação das raízes, facilitando sua absorção e eficiência de uso. Veja só esse exemplo de distribuição de fósforo. Essa dis- tribuição foi feita no perfil do solo após o oitavo cultivo com milho, nos sentidos horizontal (correspondente ao espaçamento da cultura), e vertical, em avaliação até 30 cm para aplicações de 80 kg de P2O5 a lanço (acima) e no sulco de plantio (abaixo). Lanço Pr o fu nd id ad e �c m � -5 -10 -15 -20 -25-25 30 20 10 01 02 03 0 Sulco Pr o fu nd id ad e �c m � Te o re s P M eh lic h- 1 �m g d m - 3 � -5 -10 -15 -20 -25-25 30 20 10 01 02 03 0 Distância em relação à linha de plantio �cm� 100 80 60 40 20 15 10 5 1 0 Vale ressaltar que, mesmo assim, a sulcagem não tem efeitos abaixo dos 15 cm. Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto 46 Cobertura permanente do solo O segundo princípio do Sistema Plantio Direto trata da cobertura perma- nente do solo. A permanência dos restos culturais ou de qualquer outro tipo de palhada é fundamental para a proteção dos solos contra a ação da chuva, do sol e do vento. Além disso, ela ajuda a manter a umidade do solo, oferecendo melhores condições para as culturas resistirem, por mais tempo, a períodos de seca. A palhada também atenua a variação brusca da temperatura, mantendo-a adequada para o desenvolvimento dos macro e micro-organismos do solo, tão importantes para a manu- tenção de suas características físi- cas, químicas e biológicas. Em solos desnudos ou sem cober- tura, por exemplo, a temperatura pode facilmente atingir de 60º C a 65º C durante o dia. Nessas condi- ções, as bactérias que fixam nitro- gênio nas raízes das leguminosas, como o feijoeiro e a soja, têm sua sobrevivência comprometida. A palhada ainda reduz a incidência de ervas daninhas, diminuindo a ne- cessidade de capinas e, consequentemente, minimizando a exposição do solo à ação dos agentes erosivos. Um dos principais benefícios da palhada é a possibilidade de formação de adubação verde. A adubação verde pode ser conceituada como o manejo de plantas visando à melhoria ou à manutenção da capacidade produtiva do solo, por meio de cultivo que não necessariamente possui finalidade comercial direta, ou seja, não gera produto para ser vendido, mas resulta em benefícios ao solo. Cultivo de soja com cobertura morta (palhada). Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto 47 Esse conceito abrange a tradicional prática de utilização de leguminosas e outras espécies vegetais, em rotação ou não, para cobertura do solo, sem que sejam necessariamente incorporadas, o que geraria impactos ao SPD pela mecanização. Lá na fazenda Rio Novo Olá! Sou a Natália, neta da Teresa. Tô aqui para te explicar algo muito importante! Quando a rotação é feita utilizando-se leguminosas como cultura principal ou na forma de adubo verde, consegue-se ainda incorporar nitrogênio ao sistema de plantio, reduzindo os custos com fertilizantes nitro- genados. E quero aproveitar para dizer que temos um curso mui- to interessante sobre Fixação Biológica de Nitrogênio lá no Portal do SENAR. Estarei esperando por você! Já as gramíneas, com seu sistema de raízes abundan- te, contribuem para melhor estruturar o solo, ao mes- mo tempo em que aumentam o aporte de matéria or- gânica abaixo da superfície. Gramíneas Como braquiárias, milheto, milho ou sorgo. Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto 48 Lá na fazenda Rio Novo Sabe que quando ouvi o pessoal das redondezas falan- do que estavam implantando o sistema plantio direto em suas propriedades, fiquei muito curiosa para saber por que eles tinham decidido fazer isso. Então comecei a estudar sobre SPD para entender quais são os bene- fícios desse sistema. E sabe o que descobri? Que o SPD trabalha com a cobertura vegetal permanente do solo e isso tem muitos efeitos positivos para a produção. A cobertura permanente proporciona: • a proteção da camada superficial do solo contra as gotas de chuva, o sol e o vento. • a manutenção de elevadas taxas de infiltração de água pelo efeito combinado do sistema radicular e da cobertura vegetal. No caso dos solos não com- pactados, isso evita o encrostamento superficial. • a redução do impacto das gotas de chuva no solo, minimizando o selamento superficial e a desagre- gação das partículas. • a manutenção ou elevação dos teores de matéria orgânica do solo. • a atenuação da amplitude térmica e diminuição da evaporação, aumentando a disponibilidade de água para as culturas comerciais. • o rompimento de camadas adensadas, com melhor agregação do solo. • a diminuição do processo erosivo. • a ciclagem de nutrientes. • a adição de nitrogênio ao solo por meio da fixação biológica por parte das leguminosas. • a redução da população de ervas daninhas. • a ativação do ciclo de macro e micro-organismos do solo. Muita coisa, não é mesmo? Depois de implantar o SPD aqui na Rio Novo, eu vi que tudo isso acontece de ver- dade e nossa produção ficou mais rentável e melhor para o meio ambiente! A cobertura para o SPD, seja ela viva ou morta, pode ser feita por gramí- neas ou leguminosas. Cada espécie possui um potencial de produção de matéria seca. Entenda melhor! Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto 49 Gramíneas Em geral, as gramíneas são as espécies que apresentam maiores produ- ções de matéria seca por hectare. Além de serem rústicas, são rápidas na formação inicial e eficientes na ciclagem de nutrientes. Podemos destacar o milheto, o sorgo, várias espécies de braquiária, a aveia, o trigo e o milho, que são de fácil aquisição em toda a região do cerrado. Seguramente, para a região do cerrado, o grande destaque entre as gra- míneas são as braquiárias, pois, além de serem excelentes plantas de co- bertura, elas são muito utilizadas para compor sistemas de integração lavoura e pecuária, podendo permanecer no sistema por longos períodos. Lá na fazenda Rio Novo Lembre-se de que você pode conhecer mais sobre sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta inscrevendo-se no curso integração Lavoura-Pe- cuária-Floresta deste mesmo programa. Leguminosas Diversas espécies de plantas leguminosas são empregadas na adubação verde. Essas plantas possuem como característica importante a fixação de nitrogênio por meio de simbiose com bactérias de solo, que disponibi- lizam o nutriente. As leguminosas são pouco utilizadas como planta de cobertura, pois seu desenvolvimento é lento, as sementes são mais caras e sua decomposição é muito rápida quando comparadas às gramíneas. No entanto, o consórcio entre gramíneas e leguminosas é uma alternativa viável em muitos casos, e o uso dessa consorciação é benéfico para o solo, na maioria das situações. Na região do cerrado, destacamos o uso da crotalária, guandu, mucuna e feijão de porco. Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto 50 Outras culturas, como a do nabo forrageiro, também têm sido emprega- das, especialmente por seu sistema radicular bastante agressivo e tole- rante à seca. Rotação de culturas A rotação de culturas é definida como sendo a alternância ordenada de diferentes culturas, em determinado espaço de tempo (ciclo), na mesma área. Um exemplo de sistema de rotação de culturas, especialmente para a par- te sul do cerrado (Mato Grosso do Sul) seria: aveia preta + nabo/milho – aveia branca/soja – milho safrinha/soja – trigo/ soja Nesse sistema, ocorre a alternância de espécies dentro de uma mesma estação. Confira. No inverno 25% da área com aveia preta + nabo forrageiro 25% com aveia branca para grão 25% com milho safrinha 25% com trigo No verão75% da área com soja 25% da área com milho Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto 51 Por outro lado, os sistemas onde o trigo ou o milho safrinha são cultivados em 100% da área, todos os anos no inverno, e a soja em 100% da área, todos os anos no verão, são caracterizados como sistemas de sucessão de culturas. A rotação de culturas é frequentemente confundida com a sucessão de culturas. Você sabe qual é a diferença en- tre as duas? A sucessão de culturas é a simples alternância de cultu- ras ao longo do ano agrícola, com sua repetição no ano seguinte. Esse é um forte fator de estímulo às monocul- turas de verão e outono–inverno. No cerrado, por exemplo, a sucessão mais tradicional é a soja no verão e o milho como segunda safra. Mas esse processo é insustentável a longo prazo, pois gera proble- mas fitossanitários ao longo do tempo. Já a rotação de culturas consiste em alternar espécies vegetais na mesma área agrícola, com propósito comer- cial e auxiliar na recuperação do solo. As culturas componentes de um sistema de rotação de culturas devem atender ao maior número possível de alguns princípios. Acompanhe um pouco da explicação do Marcos, Técnico do SENAR. Lá na fazenda Rio Novo Já estava decidida a implantar o SPD na fazenda Rio Novo quando me bateu aquela dúvida... Quais seriam as melhores culturas para compor o sistema aqui na propriedade? Ainda bem que posso contar com o Marcos, Técnico do SENAR. Ele foi superesclarecedor em relação ao que devo considerar nessas escolhas. Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto 52 Dica do Técnico Oi, dona Teresa! Tudo bem com a senhora? Existem alguns prin- cípios para nortear a escolha das culturas que vão compor o SPD. Os componentes desse sistema devem produzir quantidade sufi- ciente de fitomassa da parte aérea e raízes. O objetivo é o aumento do teor de matéria orgânica; a formação de cobertura morta para controlar os processos erosivos; a diminuição das oscilações de temperatura e a redução das perdas de água por evaporação. As culturas também devem promover condições favoráveis de solo que diminuam a suscetibilidade das plantas aos danos de pragas e doenças ou contribuam para a formação de um ambiente que dificulte o estabelecimento e a reprodução de pragas e doenças. Nesse ponto, também é importante buscar culturas com susceti- bilidade a pragas e doenças diferentes. Desse modo, você evita as espécies que sejam hospedeiras de pragas e doenças de impor- tância econômica para as culturas principais. Lembre-se também de que os componentes do SPD devem apre- sentar exigências nutricionais e capacidade de aproveitamento de nutrientes diferenciadas (leguminosas e gramíneas, por exemplo). A diversificação de princípios ativos e mecanismos de ação de herbicidas, inseticidas e fungicidas também é interessante. Assim você evita a seleção de espécies ou biótipos tolerantes ou resisten- tes demais. Pense também em reduzir o tempo em que a área permanece sem culturas vivas. Lembre-se de que você pode fazer a inclusão, em alguma fase, de culturas caracterizadas por alta produção de fito- massa e sistema radicular profundo, agressivo e abundante. Essas culturas melhoram a qualidade do solo. Por fim, as culturas do SPD devem resultar em renda direta, pela produção de grãos, sementes ou forragem; ou indireta, por meio de efeitos positivos sobre as culturas subsequentes. Você consegue perceber as vantagens da rotação de culturas? Elas são muitas. Além de proporcionar a produção diversificada de alimentos e outros pro- dutos agrícolas, se adotada e conduzida de modo adequado e por um período suficientemente longo, essa prática permite: Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto 53 • melhorar as características físicas, químicas e biológicas do solo; • auxiliar no controle de plantas daninhas, doenças e pragas; • repor matéria orgânica e protege o solo da ação dos agentes climá- ticos; e • ajudar a viabilização do SPD e dos seus efeitos benéficos sobre a produção agropecuária e sobre o ambiente como um todo. Como você pode ver, a rotação de culturas desempenha um papel impor- tante na qualidade do solo. Sabe por quê? Plantas com raízes que possuem características diferentes têm suas próprias formas de exploração do solo. Com isso, podem reduzir a densi- dade do solo compactado e auxiliar na formação de agregados maiores e mais estáveis. Milho Soja Cana-de-açúcar Além disso, a diversificação de espécies na rotação de culturas também aumenta a diversidade da comunidade microbiana, o que traz um enorme benefício para o solo, pois, com micro-organismos diversos, se algo preju- dicar determinado micro-organismo, é provável que a função exercida por ele seja desempenhada por outro. Isso é fundamental para a manutenção de funções como a ciclagem de nutrientes, a agregação do solo e o controle de patógenos, mesmo sob condições desfavoráveis. Além disso, é importante considerar que a pro- babilidade de que haja algum organismo antagônico ao agente causal de determinada doença é maior em ambientes com alta diversidade biológica (FRANCHINI et al., 2011). Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto 54 A monocultura tende a selecionar determinadas espécies de micro-organismos em detrimento de outras, o que é indesejável para a sustentabilidade dos sistemas de pro- dução. A falta de diversidade biológica pode comprome- ter a capacidade do solo de reagir a pragas e doenças e a variações climáticas (calor, frio, seca, excesso de chuvas). Portanto, sem a rotação de culturas, ocorre mais facilmente o comprometimento das funções do solo. Sistemas de manejo do solo também têm grande efeito sobre a fauna pre- sente no local. A rotação de culturas pode beneficiar toda a comunidade de insetos e pequenos animais no solo. Resultados de pesquisa comprovam que a rotação de culturas é uma prática viável para a sustentabilidade da produção agrícola. É um investimento na propriedade que trará retorno em médio e longo prazos. Lembre-se de que os benefícios da rotação de culturas se limitam ao aumento da produtividade, mas envolvem também a melhoria da qualidade física, química e bioló- gica do solo, bem como a redução na ocorrência de pra- gas, doenças e plantas daninhas. Agora, que tal entender mais dos benefícios do SPD? Siga em frente com atenção! Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto 55 Sistema Plantio Direto: benefícios do SPD Os cultivos intensivos e sequenciais de plantas anuais, aliados ao prepa- ro excessivo e superficial do solo, têm causado erosão e degradação da estrutura do solo. Solos fisicamente degradados podem ser recuperados com o cultivo de espécies de diferentes sistemas aéreos e radiculares que adicionam material orgânico em quantidade e composição variadas. O Sistema Plantio Direto tende a ser mais eficiente que outros métodos de cultivo por manter o carbono (C) orgânico do solo em níveis mais ade- quados, proporcionando mais qualidade, sustentabilidade e capacidade de produção dos solos agrícolas (WOHLENBERG et al., 2004). Áreas sob SPD possuem mais teores de carbono quando comparados ao cultivo convencional. Esse maior teor de carbono (C) no solo aumenta a capacidade de troca cati- ônica (CTC), que é reconhecidamente baixa em solos de regiões tropicais. As melhorias no solo, por conta disso, trazem mais sus- tentabilidade e capacidade de produção, desde que ou- tros fatores não interfiram no processo. Mas, além desse, o SPD traz diversos benefícios para o sistema produtivo em geral, para o produtor rural, sua propriedade e para o meio ambiente. Os principais são: • a conservação de solo; • a minimização das perdas de solo; • a manutenção de nutrientes; • os efeitos da cobertura vegetal; • o desenvolvimento e a manutenção da biota do solo; • as melhorias econômicas. Vamos entender melhor alguns deles? Biota É o conjunto de todos seres vivos de um determinado ambiente ou período. (WINGE et al., 2019). Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto 56 Conservação de soloOs benefícios ambientais do SPD destacam-se logo na primeira ava- liação. A melhoria nos aspectos re- lacionados à conservação do solo e da água, aliada ao terraceamento da área, são notados mais facilmen- te, quase que de imediato. O preparo e o manejo do solo po- dem influenciar as taxas de erosão ocorridas em um solo. Ao expor o solo, em maior ou menor intensida- de, ao impacto das gotas de chuva e à ação da enxurrada, propiciamos a ocorrência de erosão, a qual pode degradar a estrutura do solo. Essa degradação provoca perdas de solo, água, nutrientes e matéria orgânica, bem como a diminuição da fertilidade química, física e biológica. Desse modo, são provocados sérios danos ao setor agropecuário (OLIVEIRA et al., 2012). Esses efeitos podem ser observados em áreas de plantio convencional ou SPD malconduzidos ou planejados. Muitos estudos que mostram a efi- cácia dos preparos conservacionis- tas de solo no controle da erosão, com reduções de 50% a 95% nas perdas de solo, em relação ao pre- paro convencional. No entanto, as perdas de água, de modo geral, têm sido variadas e bem menos influen- ciadas pela cobertura superficial morta do que as perdas de solo, po- dendo ser superiores ora na seme- adura direta, ora no preparo redu- zido, ora no preparo convencional, ou mesmo semelhante entre os diferentes métodos de manejo do solo, dependendo de condições, tais como: regime de chuva, tipo de solo, topo- grafia e sequência/rotação cultural utilizada no sistema de manejo do solo da propriedade (COGO et al., 2003). Cultivo de algodão em Sistema Plantio Direto, sob palhada, em Barreiras (BA). Fonte: CNA Brasil / Tony Oliveira. Erosão em lavoura de plantio convencional na região de Dourados-MS. Fonte: Hayward (1977). Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto 57 Mesmo que a adoção do SPD melhore a infiltração de água no solo, a simples adoção dessa prática não é sufi- ciente para garantir que não haja escorrimento de água. A manutenção dos terraços, caixas de contenção e bar- raginhas, bem como os aspectos relacionados à conser- vação de estradas e ao controle do tráfego nas lavouras (especialmente as localizadas sobre solos mais argilosos) são práticas obrigatórias e devem caminhar juntamente com as demais técnicas preconizadas para o SPD, para que se evite tanto a compactação do solo quanto para que melhore a infiltração de água no perfil. Cogo et al. (2003) avaliaram as perdas de solo e água por erosão hídrica influenciadas por métodos de preparo, classes de declive e níveis de fer- tilidade do solo. Interaja com a imagem a seguir para ver as conclusões. Elevadas no preparo convencional. Preparo convencional Preparo reduzidoSemeadura direta Maiores no preparo convencional. Foram todas muito baixas e similares, mas com tendências, confira-as a seguir. Mais baixas na semeadura direta. Menores no preparo reduzido. Intermediárias no preparo reduzido. Intermediárias na semeadura direta. Perda de solo com o aumento dos valores das classes de declividade do terreno Perdas de solo por erosão hídrica Perdas de água Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto 58 Oliveira et al. (2012) concluíram que o plantio direto é uma técnica eficaz para redução da perda de solo por erosão hídrica, porém não apresenta a mesma eficácia de redução para as perdas de água e nutrientes, sendo necessária, na maioria dos casos, a adoção de práticas conservacionistas complementares que contribuam para a diminuição da enxurrada. Dentre essas práticas, destaca-se o terraceamento. Lá na fazenda Rio Novo Quando vi as informações sobre a manutenção das boas condições do solo, quis saber mais sobre o terra- ceamento. Aí o Marcos me passou algumas coisas para ler e discutir na reunião da associação que temos entre os proprietários e produtores aqui da região. Vou con- tar para você o que descobrimos. O terraceamento é uma das práticas mecânicas mais antigas e eficientes no controle da erosão hídrica. Ele interrompe o fluxo da enxurrada que leva o solo embo- ra e reduz as perdas de solo, e foi utilizado amplamente desde o período em que o Preparo Convencional (PC) de solo era o mais comum. No entanto, a confiança na eficiência do SPD para controlar perdas de solo levou, nos últimos anos, muitos agricultores e técnicos a reti- rarem parcial ou totalmente os terraços, supondo que o problema da erosão já estava solucionado. Mas a ocor- rência de chuvas intensas e de maior potencial erosivo nos últimos anos expôs novamente a agricultura a per- das de solo incompatíveis com a produção sustentável (CAVIGLIONE et al., 2010). Avaliando a utilização de terraços e seus espaçamentos em SPD e PC, Caviglione et al. (2010) observaram que as perdas de solo simuladas nos cenários de PC foram 1,8 vezes maiores em relação ao SPD nas mesmas si- tuações de erosividade e espaçamento. As proporções de perdas de solo do PC, em relação ao SPD, foram semelhantes aos resultados experimentais de perdas de solo com soja e trigo obtidos em macroparcelas já observadas anteriormente. Esta é a primeira motivação para a adoção do sistema: menor ocorrência de perdas de terra, água e nutrientes por erosão em relação aos sistemas convencionais de preparo do solo (DE MARIA, 1999). Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto 59 A erosão é muito menor quando o sistema de manejo do solo é o SPD. Vários autores compararam as perdas por erosão entre diferentes siste- mas de manejo do solo e mostraram que, em média, o SPD reduz as per- das de solo e de água em 84% e 58,7% em relação aos preparos conven- cionais (SILVA; DE MARIA, 2011). Primeira área em SPD no Mato Grosso do Sul (A) e área em manejo convencional (B), onde se notam grandes sulcos de erosão. Hernani et al. (1999) estudaram diferentes sistemas de manejo do solo e as perdas de nutrientes e ma- téria orgânica causadas por erosão na camada de 0 a 5 cm de um solo com textura muito argilosa, e observaram que o sistema manejado com arado de discos + duas grades niveladoras e sem nenhuma cobertura perdeu sete vezes mais água do que o sistema manejado em Plantio Direto. Isso demonstra o efeito positivo da SPD e sua contribuição na infiltração de água no solo. Solo com textura muito argilosa Neste caso, um latossolo roxo álico epieutrófico. A B Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto 60 Quanto às perdas de solo, o SPD foi o que perdeu menos solo na média dos seis anos avaliados: somente 605 kg/ ano. Os sistemas que foram ma- nejados com mecanização perderam de 2864 a 6918 kg/ha/ano, ou seja, de quatro a dez vezes, a cada ano. Para ter uma noção melhor das perdas de solo e água em relação a alguns métodos de preparo do solo, acompanhe a tabela a seguir. Tabela 1 - Estimativas de perdas de solo e água por erosão. Método de preparo do solo Perdas Solo (ton./ha) Água (m³) Arado + 2 grades niveladoras 3,43 828,5 Arado de aiveca + grade niveladora 8,01 944,7 Grade aradora + arado + grade niveladora 5,5 1063,7 Plantio Direto 0,41 170,4 Fonte: Landers, 1999. Agora que você já conhece os benefícios do SPD em relação à conserva- ção do solo, que tal ver os efeitos positivos da cobertura vegetal? Efeitos da cobertura vegetal A cobertura presente no solo tem efeitos importantes para as lavouras, como a redução das amplitudes térmicas, mantendo o solo com maiores temperaturas à noite e menores durante o dia. Além disso, a camada ve- getal dificulta a germinação de plantas daninhas, e o não revolvimento reduz a ativação do banco de sementes do solo, minimizando o uso de herbicidas e aumentando a atividade biológica no solo. Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto 61 A conversão dessa camada vegetal em matéria orgânica e sua elevação nas camadas mais superficiais do solo, segundo Lopes et al. (2004), são consequências de duas coisas: • mineralização mais lenta no SPD (em relação ao SPC) devido ao menor contato com o solo, o que retarda a ação dos micro-organis- mos responsáveis por este processo também;• maior adição de fitomassa das culturas em rotação e/ou sucessão; e • maior preservação da estrutura do solo. Isso confere à matéria orgânica mais proteção ao ataque de micro-orga- nismos e de seus complexos enzimáticos. Mão na Terra Conversando com o Antônio e o Marcos do SENAR, en- tendi algo muito valioso, e vou compartilhar com você! É que o uso de plantas específicas para melhorar al- guns atributos do solo, por meio da ação de suas ra- ízes, pode ser tão importante quanto a produção de cobertura do solo. Você pode selecionar espécies que apresentam produ- ção de abundante palhada para a cobertura do solo e crescimento do sistema radicular vigoroso. Essa com- binação irá resultar em melhorias estruturais do solo, especialmente nos aspectos relacionados à estrutura e ao acúmulo de matéria orgânica. Como exemplo, são indicadas as braquiárias, que possuem sistema radi- cular fasciculado e de rápido estabelecimento e são espécies plenamente adaptadas às condições climáticas de regiões de clima tropical, ampla- mente cultivadas para a formação de pastagens. Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto 62 Braquiária mutica. Raízes de braquiária. Fonte: Embrapa / Lourival Vilela. O sistema radicular de espécies com potencial para a rotação de culturas, como as braquiárias, o milheto e o feijão guandu, é bastante eficiente em promover uma estruturação do solo, com formação de agregados está- veis, macroporosidade e canais, proporcionando ambiente favorável para o crescimento do sistema radicular da cultura subsequente. De olho nos valores Aqui na fazenda Rio Novo, eu vi que, no caso da utiliza- ção em áreas de cultivo de soja, é plenamente possível o cultivo da braquiária na entressafra, de forma solteira ou em consórcio com o milho. Conversando com a minha nora Carmen, que conhe- ce muito de sistemas integrados, aprendi que um dos principais sistemas de manejo onde é possível ter plan- tas tanto para cobertura do solo quanto para “produ- ção de raízes” é a rotação entre a pastagem e a cultura de soja, ou Sistema Integrado Lavoura–Pastagem. Tenho uma observação importante que li em um texto de Salton e outros autores (1998): ao fazer a semea- dura da soja sobre a pastagem, é importante que esta se encontre em boas condições de produção de for- ragem e tenha um sistema radicular volumoso. É esse sistema, especialmente das braquiárias, que poderá resultar em importantes benefícios ao sistema de pro- dução como um todo. São muitos os efeitos positivos da cobertura vegetal, não é mesmo? Além deles, o SPD também promove benefícios à biota do solo. Siga em frente para ver! Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto 63 Benefícios à biota do solo A decomposição da matéria vegetal depositada na superfície da área em SPD se torna mais lenta e escalonada, em comparação com o Plantio Con- vencional. O SPD aumenta: • o metabolismo respiratório; • a população e a biomassa microbiana; • as taxas de amonificação e nitrificação; • o teor de húmus; • a retenção de umidade; • a capacidade de troca catiônica (CTC); • a reserva de nutrientes em compostos húmicos. Além disso, potencializa os nutrientes imobilizados nos ciclos metabólicos vitais da micro e da macrobiota do solo e, sobretudo, promove maior bio- diversidade biológica no sistema. A influência da cobertura morta na biologia do solo tem sido avaliada por seus efeitos globais em processos biológicos de liberação de CO2, em mi- neralização da matéria orgânica e do nitrogênio orgânico, em população e em biomassa microbiana. Sabe-se que a decomposição de um dado tipo de cobertura morta induz, inicialmente, a atividade de alguns organismos, para os quais serve como fonte de energia e nutrientes. Os produtos re- siduais dessa decomposição inicial tornam-se, então, úteis a outros tipos de vida. Assim, são estabelecidas relações que mantêm o equilíbrio da comunidade biológica como um todo (EIRA, 1995). A disponibilidade de matéria orgânica é fundamental para a vida microbiana do solo, pois é dela que a maioria dos organismos obtém a energia e os elementos minerais e orgânicos para a realização de seus processos vitais. Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto 64 No preparo convencional, os restos culturais são enterrados. Ao se fazer a incorporação dos restos culturais pelo preparo do solo, como ocorre no preparo convencional, o arejamento é favorecido, o que, com a introdução de resíduos vegetais, acelera a atividade microbiana e, consequentemen- te, a sua rápida decomposição (CRUZ et al., 2001). No plantio direto, os restos culturais ficam na superfície do solo, tornando a decomposição mais lenta e, assim, mantendo a população microbiana mais constante (ALMEIDA, 1985). Uma das principais consequ- ências desse aspecto é o efei- to do plantio direto sobre a sim- biose rizóbio e leguminosas. Voss e Sidiras (1985) verifi- caram que, em parcelas com plantio direto, o peso e o núme- ro de nódulos foram superiores aos das parcelas com plantio convencional, resultando em maior massa nodular, distribui- ção mais profunda dos nódulos no perfil do solo e maior núme- ro de nódulos em plantas de soja. Esses resultados foram atribuídos à maior cobertura do solo, que proporcionou me- nores variações de temperatura e maiores teores de umi- dade no solo. Rizóbio Rizóbios são bactérias do solo que possuem habilidade para induzir a formação de nódulos nas raízes e, em alguns casos no caule, de plantas leguminosas, onde convertem o nitrogênio atmosférico em formas utilizáveis pela planta hospedeira. (VIEIRA, 2019) Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto 65 Benefícios econômicos O plantio direto é um sistema complexo, com reflexos na erosão de solos, compactação, nutrientes, pragas, doenças, plantas daninhas, biologia dos solos, retenção de umidade ao longo dos anos. Além disso, não existe uma recomendação universal para sua implementação, pois cada ecossistema requer um ajuste específico, com reflexo nos custos envolvidos. Por isso, é de se esperar que a planilha de custo seja insuficiente para captar os efeitos econômicos de todas as mudanças ocasionadas pela im- plantação do sistema. O que se espera, contudo, é que, ainda que no início do processo, haja similaridade nos custos de produção entre os plantios direto e convencional, e ocorra redução no custo de produção ao longo dos anos, conforme a mesma área venha sendo cultivada usando o SPD. De olho nos valores Nesse tempo com o SPD aqui na nossa propriedade, aprendi que acompanhar os efeitos e as repercussões econômicas do uso do SPD exigem certo tempo, rigor e algumas intervenções. É importante considerar as peculiaridades ambientais de cada região e os sistemas de produção em que o plantio direto está inserido. A necessidade de alguns insumos, como fertilizantes e herbicidas, varia confor- me as condições locais da lavoura, o que reflete nos custos de produção. Apesar de ser um trabalho um pouquinho duro, as avaliações econômicas do SPD em cada região são muito importantes para compreender os benefícios do sistema. Além disso, aqui na Rio Novo, o acompanhamento fi- nanceiro foi essencial para melhorar a produção e a renda da nossa família. Então, tenho certeza de que algum acompanhamento também vai ser ótimo para você e a propriedade em que trabalha! Rodrigues (2005), em avaliação econômica do SPD, observou alguns be- nefícios econômicos da adoção desse sistema em culturas de soja e milho. Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto 66 Soja No caso da soja, a adoção do plantio direto ele- va o custo de produção em 0,47%, mas com a adição do custo de reposição de nutrientes do solo, esse custo passa a ser 0,37% menor que no plantio convencional. Isso comprova que, em uma situação de longo prazo, o plantio direto já é uma alter- nativa econômica mais atraente do que o plantio convencional. Ainda, com a posterior adição do custo de remo- ção de sedimentos de recursos hídricos, o cus- to social passa a ser 0,93% menordo que no plantio convencional. Também foi verificada uma redução de 81,22% no custo ambiental com a adoção do plantio direto, ficando assim demons- trado a maior sustentabilidade dessa tecnologia de plantio. Milho No cultivo do milho, os custos de produção do plantio direto são 5,92% menores do que os re- ferentes ao plantio convencional, demostrando sua maior eficiência econômica. Além disso, a adoção do plantio direto reduz o custo ambiental em 29,43% e o custo social em 6,17%. Mattoso et al. (2001) fizeram um amplo estudo comparativo no cerrado, mais precisamente em Balsas (MA), tomando como referência a cultura do milho em SPD e em plantio convencional. Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto 67 O gasto com fertilizantes foi o que mais onerou o custo, representando de 30,35% a 40,57% do custo operacio- nal, enquanto os gastos com herbicidas, o segundo item mais oneroso, variaram de 9,88% a 19,09%. O custo ini- cial do plantio direto foi 1% mais alto do que o do plantio convencional na mesma região. Isso se justifica, uma vez que a implantação do sistema implica maiores despesas, principalmente com fertilizantes e herbicidas. A produtividade das duas áreas foi igual, atingindo 6.200 kg/hectare. Levando em conta que, a partir do segundo ano, os custos do SPD são reduzidos e a gama de benefícios do sistema aumenta ao longo dos anos, a conversão da área para SPD ainda é financeiramente favorável. Depois de ter visto tantos benefícios, você deve estar se perguntando: afinal, como implantar o SPD? Quais são as boas práticas para conseguir todos esses efeitos positivos? Esse é o assunto da próxima aula. Então, prepare-se bem e siga em frente com seus estudos. Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto 68 Aula 2: Boas práticas para a implantação do SPD Diagnóstico da área O diagnóstico da área para implantação do Sis- tema Plantio Direto deve ser realizado para mini- mizar os riscos de insu- cesso e frustações de sa- fra no agronegócio. A análise química do solo é a principal ferramenta que devemos utilizar para conhecer os níveis de acidez e nutrientes do solo para tomada de decisão dos corretivos e fertilizantes que serão necessários para elevar as condições químicas do solo a níveis adequados para o cultivo de grãos. Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto 69 Mão na Terra O Marcos já me disse que a correção da acidez do solo na camada arável, entre 0 cm e 20 cm, é realizada principalmente com calcário. Trata-se de uma prática primordial para a implantação do SPD. A correção da acidez contribui para a redução da pre- sença de alumínio tóxico às plantas. Além disso solos com a acidez corrigida pelo calcário torna os macro a micronutriente mais disponíveis para as plantas, ou seja, um melhor aproveitamento dos fertilizantes apli- cados no solo. Com relação à camada do subsolo, entre 20 cm e 40 cm, a utilização do gesso agrícola pode contribuir para a redução do alumínio tóxico e para o fornecimento de cálcio e enxofre. Sua alta solubilidade aumenta a capacidade da água caminhar pelo solo, chegando a camadas mais profun- das e proporcionando um ambiente favorável para o aprofundamento do sistema radicular das culturas. A incorporação dos corretivos do solo deverá ser realizada na implantação do SPD, com a utilização dos implementos grade de discos e arado de ai- vecas, atentando para a correta incorporação até a profundidade mínima de 20 cm do solo. Essas operações devem ser simultâneas ao preparo do solo e ao sistema de terraceamento da área de cultivo. Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto 70 Calagem A calagem deve ser realizada na implantação do SPD para corrigir a aci- dez do solo pela incorporação do calcário. A recomendação para a apli- cação de calcário deve ser realizada quando, na camada de 0 cm–20 cm, observam-se: • valores de pH em água abaixo de 5,8; • valores de saturação por bases (V) abaixo de 60%; • a presença de alumínio trocável e de teores de matéria orgânica entre médios e baixos. Fonte: Istock / Alf Ribeiro. Existem vários métodos de recomendação de calagem. O método consiste em buscar elevar a saturação por bases do solo a valores predefinidos pela pesquisa como mais adequados para as culturas, conforme a equação: Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto 71 NC é a necessidade de calagem calculada para a camada de 0 cm– 20 cm de solo. V1 é a saturação por bases original do solo em porcentagem. V2 é a saturação por bases pretendida (ideal para a cultura) em porcentagem. CTC total capacidade de troca catiônica é a capacidade de troca de cátions total do solo, obtida por solução tampão de acetato de cálcio 0,5 mol L-1 a pH 7,0. PRNT poder relativo de neutralização total - %, obtido em função do tipo de calcário utilizado. NC (T HA-1) = {(V2 – V1) * CTC TOTAL} / (PRNT * 100) Há outros métodos para a recomendação das doses de calcário, de acordo com o teor de argila do solo e demais parâmetros químicos ou físicos. E atenção: Para uma correta recomendação de correção do solo você deve procurar um engenheiro agrônomo. Os valores ideais de saturação por bases (V), como exemplo para a cultura da soja, podem diferir de região para região. A recomendação da Embrapa Cerrados para os solos do Brasil central é de 50% para a cultura da soja (SOUSA; LOBATO, 1996). Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto 72 Por outro lado, os valores recomendados para solos do Paraná são de 70% para a cultura da soja (CAIRES, 2013). A diferença nas recomendações está ligada à variação do poder tampão dos solos, à disponibilidade de micronutrientes catiônicos e às estratégias de ma- nejo desses micronutrientes. Os trabalhos da Embrapa Cerrados enfatizaram o risco de se elevar muito o pH do solo em valores de saturação por bases superiores a 50%, o que reduziria a disponibilidade dos micronutrientes catiônicos (SOUSA; LO- BATO, 1996). Por outro lado, solos argilosos do Paraná e do Centro Sul de Mato Gros- so do Sul são derivados de basalto e ricos em elementos traço (dentre os quais os micronutrientes catiônicos). Além disso, são solos com argila mais ativa e maiores teores de matéria orgânica, o que lhes confere maior poder tampão, ou seja, menor variação do pH, mesmo com valores mais elevados de saturação por bases. Para solos arenosos (teor de argila < 15%), o poder tampão é baixo, assim como os teores de micronutrientes. Nesses solos, deve-se trabalhar com saturações por bases mais baixas para evitar o desequilíbrio nos níveis de micronutrientes. A Fundação MS tem recomendado a ponderação dos va- lores ideais de saturação por bases (V) em função das ca- racterísticas do solo. • V = 55% – em solo arenoso, com baixa Capacidade de Troca Catiônica (CTC), nível baixo de matéria orgânica e níveis baixos de zinco, cobre e manganês. • V = 60% – em solos de textura média, com média Ca- pacidade de Troca Catiônica (CTC), nível médio de ma- téria orgânica e níveis médios de zinco, cobre e man- ganês. • V = 70% – em solos argilosos, com Capacidade de Troca Catiônica (CTC) entre 8 e 11 cmol dm-3, nível bom de matéria orgânica e níveis altos de zinco, cobre e manganês. • V = 80% – são exceções, condição para solos mui- to argilosos, com alta Capacidade de Troca Catiônica (CTC), níveis altos de matéria orgânica, zinco, cobre e manganês. Micronutrientes catiônicos Zinco, cobre, manganês e ferro. Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto 73 A escolha do calcário deve levar em consideração a sua qualidade e as quantidades relativas de cálcio e magnésio. Quanto à qualidade Quanto aos teores de magnésio • todo o calcário deverá passar na peneira com malha de 2 mm; • os teores de CaO + MgO deverão ser superiores a 38% (EM- BRAPA, 2013). Os calcários são classificados em: • calcário calcítico (< 5,0 % de MgO); • calcário magnesiano (entre 5,0 e 12,0 % de MgO); • calcário dolomítico (> 12,0 % de MgO). Para a definição do calcá- rio a ser utilizado, deve- -se levar em consideração o balançoentre cálcio e magnésio no solo, obtido por análise do solo. Mão na Terra Aqui na fazenda Rio Novo aplicamos o calcário em toda a área, sendo uniformemente distribuído e incorporado até a camada de 0 cm a 20 cm. Utilizamos os arados + grade niveladora, mas você pode usar também as grades pesadas, desde que haja uma boa garantia da incorporação. Fizemos as aplicações com 3 meses de antecedência do início do plantio. Para solos arenosos, com teor de argila inferior a 15%, é recomendado que a correção do solo seja feita ao fi- nal da estação chuvosa, sendo implantada uma cultura de cobertura. Assim, a soja pode entrar na safra seguinte, já em Sis- tema Plantio Direto. balanço entre cálcio e magnésio Caso o teor de magnésio esteja abaixo de 0,8 cmolc dm-3 ou a relação cálcio/magnésio estiver alta, re- comenda-se a utilização de calcário magnesiano ou dolomítico. O calcário calcítico deve ser utilizado so- mente quando a relação cálcio/magnésio estiver baixa. Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto 74 A eficiência da aplicação de calcário, bem como a dura- ção de seus efeitos, está diretamente ligada à boa incor- poração. Após a aplicação, deve-se revolver o solo novamente, com grade aradora ou equipamento equivalente, com vis- tas a mover o calcário da superfície do solo para a cama- da mais profunda possível. Operação de revolvimento do solo já em preparo, com vistas a incorporar o calcário. Em 2010, Buzzatti avaliou diferentes formas de manejo do solo para a incorporação do calcário, variando o equipamento e a dose: T1: SPD sem revolvimento e com calcário em superfície, na dose de 2.500 kg ha-1. T2: SPD com escarificação: aplicação de calcário em superfície, na dose de 2.500 kg ha-1 seguido de escarificação. T3: Sem revolvimento nem aplicação de calcário (testemunha). T4: Incorporação de calcário pela aração, na dose de 6.300 kg ha-1. T5: Incorporação de calcário pela aração, com metade da dose antes da aração e metade depois, num total de 9.800 kg ha-1. Como principais observações, obteve que a aplicação de calcário na su- perfície (T1) não alterou o pH, após seis meses, em relação ao solo que não recebeu aplicação de calcário (T3). Essa forma de aplicação não favo- rece a reação do calcário com o solo, pois concentra o corretivo apenas na camada superficial e em contato com os resíduos culturais. Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto 75 Tabela 2 - pH em água em função do manejo do solo e profundidade seis meses após a aplicação dos tratamentos Tratamento Profundidade 0–05 05–10 10–15 15–20 Média T1 6 5,4 5,1 5 5,4 T2 6 6 5,5 5,1 5,6 T3 5,9 5,4 5,1 4,9 5,3 T4 6,4 6,2 5,9 5,6 6 T5 6,2 5,9 6 5,3 6 Média 6,0 A 5,6 AB 5,5 B 5,3 B - CV (%) tratamento = 3,90 CV (%) profundidade = 7,57 Médias seguidas pela mesma letra maiúscula na horizontal não diferem significati- vamente pelo teste de tukey ao nível de 5% de probabilidade. ns: não significativo. A aplicação superficial de calcário, seguida de escarificação, mostrou uma ação incorporadora de calcário da operação, com o escarificador. Nas ca- madas de 0 cm–5 cm, 5 cm–10 cm e 10cm–15 cm, para T1 e T2, os va- lores de pH foram 6,0 e 5,9; 5,3 e 5,9; 5,0 e 5,4 respectivamente; para saturação de bases (%) foram 72,5 e 68,5; 43,5 e 69,5; 27,0 e 54,5, res- pectivamente; saturação por Al (%) foram 0,0 e 0,0; 6,5 e 0,0; 28,5 e 0,0, respectivamente. Ficou evidente a incorporação do calcário aplicado na superfície pela es- carificação, uma vez que as mesmas quantidades de calcário foram aplica- das para o T1 e T2 (3.400 kg ha-1), sendo que T2 teve efeito até a camada de 15 cm do perfil do solo. A eficiência da calagem deverá ser conferida e monitora- da periodicamente. Sugere-se que novas amostragens de solo sejam feitas na área anualmente, ou a cada dois anos, no máximo, no intuito de avaliar se há necessidade de cor- reção superficial ou não. Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto 76 O processo de incorporação de calcário pela aração com dose de calcário para pH 5,5 (T4) e pH 6,0 (T5), com 8.600 kg ha-1 e 13.000 kg ha-1, res- pectivamente, foi efetivo para incorporação do calcário na profundidade trabalhada (0 cm–20 cm). A maior ação das operações de incorporação de calcário com aração, em ambos os casos, foi até os 20 cm. No T4 e no T5, houve uma diferença de pH, principalmente na camada de 15 cm–20 cm, em que T4 resultou em valores maiores de pH, mesmo com menores quantidades de calcário. Gessagem Os solos da região central do Brasil geralmente apresentam acidez não somente na camada superficial, mas também em profundidade. A cala- gem corrige com sucesso os primeiros 20 cm do solo, profundidade geral- mente atingida pela incorporação do calcário. A acidez na camada abaixo dos 20 cm pode significar ele- vados níveis de alumínio, restringindo o crescimento radi- cular à camada superficial corrigida. Nessas situações, a aplicação de gesso agrícola tem apresentado bons resul- tados, condicionando melhor a camada subsuperficial e permitindo o aprofundamento de raízes. O diagnóstico para a tomada de decisão sobre a aplicação de gesso agrí- cola toma como base os resultados de análise de solo na camada de 20 cm–40 cm. Recomenda-se a aplicação de gesso quando: • A saturação por alumínio na Capacidade de Troca Catiônica (CTC) efetiva (m) for maior que 20%; • Os teores de cálcio forem inferiores a 0,5 cmolc dm-3. A recomendação de gesso sugerida para a cultura da soja baseia-se na textura dos solos, podendo ser definida como: 700, 1.200, 2.200 e 3.200 Gesso agrícola Sulfato de cálcio. Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto 77 kg ha-1, respectivamente para solos de textura arenosa (< 20% de argila), média (de 20% a 40% de argila), argilosa (de 40% a 60% de argila) e mui- to argilosa (> 60% de argila). Alternativamente, pode-se utilizar a fórmula: DG é a dose de gesso a ser aplicado em kg por ha. ARGILA é o teor de argila obtido pela análise da superfície do solo, expresso em percentagem (%). DG (KG HA-1) = 50 X ARGILA Para uma correta recomendação de correção do solo você deve procurar um engenheiro agrônomo. Recomenda-se a aplicação em superfície, não havendo a necessidade de incorporação. O ideal é que o gesso seja aplicado após a calagem, para que haja tempo de reação do calcário e, consequentemente, o aumento nos teores de cálcio e magnésio na camada superficial, antes que o gesso promova a descida das bases para a camada subsuperficial. Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto 78 Na prática, no entanto, têm-se observado que, em áreas de abertura, o gesso é aplicado juntamente com o calcário e incorporado. Não há sérias restrições a essa prática, embora o gesso reaja prontamente e promova a migração de bases antes da reação do calcário. Para entender melhor a diferença entre calagem e gessagem, acesse a Biblioteca e confira o material complementar produzido pela Embrapa. Práticas de conservação do solo A erosão é o principal processo que remove os nutrientes presentes no solo, transportando-os para os rios e lagos próximos às áreas de cultivo. As per- das de solo, água e nutrientes são intensificadas em regiões com alta con- centração de chuvas, e o agravamento dos processos erosivos ocorre em áreas com solos sem cobertura permanente de palha ou vegetação. A conservação do solo fundamenta-se, principalmente, em: diminuição do impacto da gota de chuva no solo por meio da cobertura permanente do solo; diminuição do escoamento superficial, obtida por meio dos terraços e melhoramento da infiltração de água no solo, por meio do controle do tráfego e da umidade do solo, principalmente em solos com maiores teo- res de argila. O aumento da inclinação do terreno e da ex- tensão da rampa (encosta) por onde a chuva escorrerá pode aumentar o volume de enxur- rada e, consequentemente, evoluir para a for- mação de erosões em sulcos e voçorocas. A adoção de práticas de conservação do solo visa principalmente a reduzir a exposição do solo às gotas de chuva,a controlar a formação de enxurradas e a melhorar a infiltração de água no solo. Voçorocas Desmoronamento resultante de erosão produzida por águas subterrâneas ou águas pluviais. (PRIBERAM, 2019). Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto 79 Todo sistema de terraceamento é calculado considerando-se que vai ha- ver infiltração de água entre os terraços. Se o solo estiver compactado en- tre os terraços e a água não infiltrar nesse espaço, isso vai sobrecarregar o sistema de terraceamento e o risco de rompimento será enorme. Terraceamento agrícola Consiste na distribuição de terraços em áreas agrícolas. Os terraços são distribuídos de acordo com a erosi- vidade da chuva e da paisagem, com o comprimento da rampa, com a ru- gosidade do terreno, a profundidade e a permeabilidade do solo, e com as práticas de manejo agrícola. O terraço é composto de duas partes: a) canal coletor, de onde é retirada a massa de solo; b) camalhão ou dique, construído com a massa de solo movimentada do canal. Declive do terreno Talude do camalhão Talude do canal B b L H Corte transversal de um terraço com seção trapezoidal: B = base maior do trapézio; b = base do canal do terraço ou base menor do trapézio; H = altura do camalhão; L = largura da crista. Acompanhe a classificação dos terraços. Fonte: SENAR Nacional. Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto 80 Quanto à função Terraço em nível, de retenção ou de infiltração Terraço misto Terraço em gradiente, desnível, de escoamento ou de drenagem São terraços construídos sobre as niveladas demarcadas em nível e com as bordas bloqueadas, cuja função é interceptar a enxurrada e permitir que a água seja retida e infiltre. São terraços recomenda- dos para solos de boa permeabilidade, como latossolos e nitossolos, além dos arenosos, como os neossolos quartzarênicos. Construído com um canal de pequeno declive e com um volume de acumulação do escoamento superficial. Uma vez que esse volume de acumulação seja preenchido, começa a funcionar como terraço em gradiente. São construídos com pequeno gradiente ou desnível transversal- mente ao maior declive da rampa. Acumula o excedente de água e permite seu escoamento lentamente para fora da área protegida, por uma ou duas extremidades abertas, até canais escoadouros vegeta- dos. São recomendados para solos com permeabilidade moderada ou lenta que dificultam a infiltração de água da chuva na intensidade necessária. São recomendados para solos das classes dos cambis- solos, argissolos e neossolos litólicos. Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto 81 Quanto à construção Tipo Nichols Na sua construção, o solo é cortado com arado e não se deve usar grade aradora. É movimentado sempre de cima para baixo, de modo que a massa de solo que forma o camalhão é retirada da faixa ime- diatamente superior, o que resulta no canal (veja figuras a seguir). Esse tipo de canal pode ser construído em rampas com declive de até 15% e, excepcionalmente, se o solo apresentar boa cobertura de palhada, a 18%. Esquema de terraço tipo Nichols disposto numa rampa. Detalhe de terraço tipo Nichols construído em um latossolo de textura argilosa, em Sistema Plantio Direto de arroz de terras altas sobre palha de braquiária, em Brazabrantes, GO. Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto 82 Tipo Manghum Na sua construção, movimenta-se uma faixa mais larga de solo que a do terraço tipo Nichols. A massa de solo é deslocada tanto da faixa imediatamente superior como da inferior ao camalhão, ora num sen- tido da aração, ora noutro, em passadas de ida e volta com o trator. Esses terraços podem ser construídos com terraceadores em terre- nos de menor declividade. Quanto à dimensão da estrutura e volume de movimentação de ter- ras, os terraços podem ser de base estreita, média ou larga. A B C Nível original do terreno Nível original do terreno 6 a 12 metros 3 a 6 metros 3 metros Nível original do terreno Esquema comparativo da secção transversal de terraços de base larga (A), média (B) e estreita (C). Ilustração: Pedro L. O. de A. Machado. Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto 83 Os terraços de base larga e nivelados devem ser construídos em latossolos e neossolos quartzarênicos, solos arenosos. Eles têm a vantagem de permitir o cultivo em praticamente toda a sua superfície e de facilitar sua manutenção com as operações normais de preparo do solo. Os terraços de base média são indicados para pequenas ou médias propriedades onde há maquinaria suficiente para os implementos recomendados, com declividade do terreno de até 15%. Os terraços de base estreita são recomendados apenas em condições em que não seja possível instalar terraços de base média ou larga. Normalmente, são recomendados para pequenas propriedades, com baixa intensidade de mecanização agrícola e devem ser construídos em terrenos com declividade acima de 12%. Sua principal desvanta- gem é a diminuição da área útil para o cultivo agrícola. Nos últimos anos, diversos métodos matemáticos e computacionais foram desenvolvidos para o cálculo das distâncias, alturas e demais parâmetros técnicos dos terraços no SPD, como forma de conservação de solos. Por exemplo, o modelo matemático “Terraço for Windows” é um progra- ma computacional desenvolvido por Pruski et al. (1996) para o dimensio- namento de terraços. Esse programa calcula os espaçamentos verticais e/ ou horizontais máximos permissíveis entre terraços, empregando dados específicos da região e da lavoura em questão, como precipitação pluvial máxima esperada para tempos de retorno e duração estipuladas, tipo de solo, taxa de infiltração básica de água no solo, declividade do terreno, manejo de solo, de culturas e de resíduos culturais e altura da crista do terraço que pode ser construído em função das condições topográficas do terreno e do equipamento disponível para a sua construção. Atualmente, o “Terraço for Windows” chama-se “Terraço 3.0”, uma versão mais atualizada, e pode ser baixado gra- tuitamente em vários sítios na internet. Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto 84 Embora com esse software seja possível o dimensionamento apenas de sistemas de conservação de solos fundamentados no uso do terracea- mento, ressalta-se que a eficiência desse sistema depende da combina- ção de outras práticas conservacionistas complementares, como plantio em nível, rotação de culturas, controle das queimadas, manutenção de co- bertura morta na superfície do solo, entre outras. Você vai ver No próximo módulo, você vai ver práticas, manejo e oportunidades para a implantação do SPD no Cerrado. Mas, antes, você deverá acessar o AVA e realizar a atividade de aprendi- zagem obrigatória. Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto 85 Atividade de aprendizagem As questões a seguir são baseadas na história que apresentamos no Mó- dulo 1. Relembre a história do seu João. A história do Seu João Seu João é proprietário da fazenda “Palmeiras” em Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso. Essa fazenda, ele herdou de seu pai, assim como o amor ao cerrado e à agricultura. Seu João precisou aprender a lidar desde cedo com as exigências e necessidades da região: o latossolo de baixa fertili- dade natural, a alta lixiviação, o clima tropical sazonal, no qual as chuvas concentram-se na primavera e no verão, e o inverno é seco. Seu Francisco, o pai de João, criava gado nelore em sistema extensivo, deixava os animais soltos, sem controle do manejo da pastagem, nem su- plementava os animais. Na época que Seu João assumiu a fazenda, ele ouviu falar de uma cultura muito promissora: a soja. Decidiu, então, investir no cultivo dela, fez investi- mentos em maquinários e estrutura. Seu João estava sentindo-se no cami- nho certo, mas percebeu que a forma como estava produzindo monocultura de soja sob sistema convencional de preparo do solo ao longo dos anos não estava sendo benéfica para o rendimento do seu negócio, tampouco para a sustentabilidade dos recursos ambientais que ele usufruía. Assim, Seu Joãodecidiu procurar ajuda do Senar, que é o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural, e começou a frequentar palestras sobre técnicas conservacionistas do solo, foi a dias de campo e recebeu a visita da assis- tência técnica. Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto 86 As atividades aqui na apostila servem apenas para você ler e respondê-las com mais tranquilidade. Entretanto, você deverá acessar o AVA e resolver lá as questões. Você terá duas tentativas para realizar cada questão e só desbloqueará o próximo módulo depois que: 1. acertar as questões; ou 2. usar todas as suas tentativas. Questão 1 Conforme visto no texto anterior, Seu João recebeu a visita do técnico de campo, que, em uma das conversas, sugeriu que ele trocasse a monocul- tura de soja pelo sistema plantio direto. Analise as alternativas a seguir e assinale a que corresponde corretamen- te aos benefícios desse sistema. a) Diminui o teor de matéria orgânica e melhora a infiltração de água do solo. b) Reduz a incidência de plantas daninhas e aumenta a ocorrência de pragas e doenças. c) Aumenta os gastos com adubos químicos e controla a erosão do solo. d) Melhora a fertilidade natural do solo e suas características físicas e biológicas. Questão 2 Agora que Seu João já entendeu os benefícios do sistema plantio direto (SPD), ele está curioso e quer saber sobre os princípios dessa técnica! Analise as alternativas a seguir e assinale a que corresponde corretamen- te à prática de plantio adotada de acordo com um dos princípios desse sistema. Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto 87 a) Alternar o plantio de soja e de outra leguminosa forrageira na mes- ma área e ano agrícola. b) Plantar soja no verão e milho como segunda safra ano após ano. c) Alternar o plantio de espécies vegetais diferentes em determinado espaço de tempo e área agrícola. d) Realizar a sucessão de culturas na mesma área agrícola. Questão 3 Seu João entendeu os benefícios e princípios do sistema plantio direto, mas ele ainda está confuso e quer saber mais sobre a cobertura do solo, que é uma das premissas básicas do plantio direto. Ajude seu João a com- preender melhor sobre o assunto, analise as sentenças a seguir e verifique quais estão corretas quanto ao princípio de cobertura do solo: 1. A permanência da palhada ajuda a manter a umidade no solo favo- recendo o desenvolvimento da planta em épocas de veranico. 2. A palhada diminui a incidência direta dos raios solares no solo, fa- zendo com que os microrganismos do solo desapareçam. 3. A palhada evita o aparecimento de plantas invasoras, o que diminui a necessidade de uso de herbicidas. É correto o que se afirma em: a) Apenas 1. b) 1 e 3. c) 1, 2 e 3. d) 1 e 2. Questão 4 Pouco a pouco Seu João está esclarecendo todas as suas dúvidas, e já está mais seguro para a implantação do sistema plantio direto. Agora, ele conseguiu compreender a importância de manter a palhada sobre o solo, mas ainda ficou com algumas dúvidas. Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto 88 Seu João ouviu na palestra do Senar que as leguminosas tendem a pro- duzir uma quantidade de palhada menor em relação as gramíneas e que se decompõem rapidamente. Como ele mora em uma região que faz seca no período de inverno, ele está pensando em realizar o plantio de milho e braquiária consorciado. Com esse plantio consorciado, quais seriam as expectativas para a pro- priedade do João? a) Nenhuma expectativa. O consórcio não será eficiente, pois a bra- quiária tende a crescer mais rapidamente e acabar por abafar o mi- lho, inviabilizando a cultura. b) Com a germinação do milho bem mais rápida que a da braquiária, acaba por não deixar a braquiária ter seu desenvolvimento comple- to. Sendo assim, o aparecimento de invasoras ocorrerá, e o uso de herbicidas também deve ser realizado para o controle. c) A palhada da braquiária ajudará no controle de plantas invasoras e promoverá a compactação do solo, caso ela seja utilizada para pastejo com bovinos. E se Seu João colocar o gado na entre safra, haverá a compactação do solo e a necessidade de revolvimento do mesmo em seguida. d) A palhada deixada pela braquiária, após a colheita do milho, terá a função de cobrir o solo, inibindo o aparecimento de invasoras, bem como manter a temperatura do solo mais amena. Isso pois as tem- peraturas diurnas podem atingir até 60°C. Questão 5 Seu João está feliz com todo o aprendizado! Ele sabe da importância de manter os níveis de nutrientes adequados no solo, justamente para que se tenha produtividade. Agora, ele precisa de ajuda, pois, ao se propor a realização da calagem, além do fornecimento de cálcio e magnésio à planta, a aplicação do calcário requer algumas con- dições básicas. Ao se trabalhar com soja, por exemplo, exige-se boas condições de nu- trientes no solo: alguns importantes para o enraizamento, outros para flo- ração, outros necessários para enchimento de grãos, etc. Assim sendo, Seu João quer entender melhor sobre a calagem no sistema SPD. Sobre a recomendação para a aplicação de calcário, deve ser realizada quando: Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto 89 1. o solo apresentar a presença de alumínio trocável e de teores de matéria orgânica altos. 2. a análise de solo demonstrar que a acidez do solo atinge patamares de pH em água inferiores a 5,8. 3. a análise de solo indicar um valor de saturação por bases superior a 60%. É correto o que se afirma em: a) 1 e 3. b) apenas 2. c) apenas 1. d) 1, 2 e 3.
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