Buscar

[HS] A sindrome do pequeno poder

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 103 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 103 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 103 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

n dora:
Amél Azevedo
Vivi na oguetra de Azevedo Guerra
UL
T
de:
~L.""I'IC
167563
I 8
"'?l
"'L~a' v
::J O)~
Ç>'\
.~ ~
li
© Copyright by Ig1u Editora LIda.
Editor responsável:
Julio Igliori
Revisão:
Ana Maria Lebeis
Composição:
Real Produçõe Gráficas Ltda.
Dado Internacional de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara BrasUeira do Livro, SP, Brasil)
Crianças vitimizadas : a síndrome do pequeno poder / organizadoras
Maria Amélia Azevedo, Viviane Nogueira de Azevedo Guerra. - 2. ed. - São
Paulo: Iglu, 2000.
Vário auto
Bibliografia.
1. Adol cente vítimas de abu o f( i o 2. Adole cente vítimas de abuso
sexual 3. Criança vítimas de abuso rr ico 4. Criança vítimas de abuso
exual I. Azevedo, Maria Amélia n. Guerra, Viviane Nogueira de Azevedo.
00-0144 CDD-362.76
Índic para catálogo i temático:
1. Adole ente : Vitimização : Problema sociai 362.76
2. Crian : Vitimização : Problem sociais 362.76
3. Vitimização: Adole entes: Problema sociai 362.76
4. Vitimiza o: Crianç : Problemas sociai 362.76
Todos os direitos re ervados à
ti] IGLU EDITORA LTDA.Rua Dunio, 386
CEP 05043-020 - São Paulo-SP
19r~~ Te\.: (011) 3873-0227
ÍNDICE
Prefácio , . . . . . . . . . . . .. . . . .. . . . .. . . . 9
Introduçto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
PARTE I
A PROBLEMÁnCA DA VITIMlZAÇÁO
DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
Capítulo 1
Vit1maçio e vffimlzaçio: questões CGIlcd
1.1 Introduçlo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
1.2 Crianças de "'to risco. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 26
1.2.1 A fabricação do menor pela ordem divina. . . . . . . . . . 27
1.2.2 A fabricação do menor pela criminalizaçAo do pobre.. 28
1.2.3 A fabricação do menor no trabalho. . . . . . . . . . . . . . 28
1.2.4 A fabricaçio do menor na rua. . . . . . . . . . . . . . . . .. 30
1.2.5 A fabricação do menor pela escola. . . . . . . . . . . . . .. 31
1.2.6 ~ fabri~.do IDeIlOl' pela institucionalização jurí-
~1S1cncial. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . • . . . . .. 31
1.3 Crianças em estado de sítio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 35
1.3.1 Ab~vitimizaç.io ffsica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
1.3.2 Abuso-vitimizaçio psicológica................. 41
1.3.3 Abuso-vitimização sexual. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
1.4 Uma conc:luslo inconclusiva. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 46
Bíbliognúia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 47
Capítulo 2
Explonção sexual de~
2.1 lntroduçio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 49
2.2 O poder do homem e do adulto ... , . . . . . . . . . . . . . . . . .. 50
5
2.3 Poder e violência. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 56
2.4 Prostinrição. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 61
2.5 Prostituição de menores. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 71
2.6 Pornografia infantil , 82
2.7 Direitos bUJDaDOs. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 87
2.8 Conclusões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 93
Bibliografia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
PARTEn
ASPECTOS MÉDICOS E PSICOLóGICOS
DA VlTIMIZAÇÃO
DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 99
Capítulo 1
Vldrnn~~ Q:~emm~o~~
1.1 InIIodução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 105
1.2 Aspectos ~co . . . .. . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . .. 107
1.3 Tipos de fenmentos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. lOS
Bibliogra118 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 113
2.2.6 Provi~ncias a serem tomadas. . . . . . . . . . . . . . . . .. 119
2.2.7 Detecção precoce de crianças de risco. . . . . . . . . . .. 120
Bibliografia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 121
Capítulo 3
Vitimlzação senaI: conseqüfnclas orPnlcas
3.1 Introdução.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 123
3.2 Aspectos anatómicos e funcionais. . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 124
3.3 Freqüência .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 126
3.4 Conseqüências orgânicas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 128
3.4.1 Lesões físicas gerais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 129
3.4.2 Lesões genitais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 130
3.4.3 Lesões anais " 131
3.4.4 Gestação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 132
3.4.4.1 Freqüência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 132
3.4.4.2 Aspectos psicossociais. . . . . . . . . . . .. 133
3.4.4.3 Aspectos obst6trico . . . . . . . . . . . . .. 134
3.4.4.4 Aspectos genéticos............... 135
3.4.5 .Doenças sexualmente transmissíveis. . . . . . . . . . . . .. 137
3.4.6 Disfunções sexuais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 138
Bibliografia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 140
Capítulo 4
Cooseqüênda psicoI6glcas da vitirnfozação
de crianças e ad ntes
Capítulo 2
Vi : a ta .mdlca
2.1 Introdução .
2.2 A conduta ~ca .
2.2.1 O momento do exame.' .
2.2.2 Relacionamento dos pais com o pediatra .
2.2.3 A 8Mmoese .
2.2.4 O exame físico .
2.2.5 A suspeição diagnóstica de vitimjzaçio física .
2.2.5.1 Quadros clínicos mais usuais em vitimizaçio
física .
2.2.5.2 Exames subsiclliirios .
2.2.5.3 Diagnóstico diferencial .
6
115
115
115
116
116
116
117
117
118
118
4.1 Introdução 143
4.2 Conseqüências psicológicas do abuso sexual: quais? . . . .. 144
4.3 Conseqüências psicológicas do abuso xual: porque estas? . 152
4.3.1 Adaptação afetiva. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 153
4.3.2 Adaptação iotelpCSsoal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 154
4.3.3 AdaplaÇão sexual. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 156
4.4 Conseqüências psicológicas da vitimização física. . . . . . . .. 158
4.5 Conclusões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 163
Bibliografia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 163
PARTEm
OS CAMINHOS DA INfERVENÇÃO
Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 171
7
Capítulo 1
O terrível dllema:
multo cedo, multo tarde, multo, muito pouco. . . . .. 175
Capítulo 2
A Rede Criança: um programa inovador no Brasil
2.1 InU'odução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 181
2.1.1 Estrutura operaciona1.......... . . . . . . . . . . . . .. 181
2.1.2 Estrutura administrativa...................... 182
2.1.3 O Serviço de Advocacia da Criança. . . . . . . . . . . . .. 183
Capítulo 3
Modernas opções de tratamento
3.1 Inttodução.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 185
3.2 Os princípios de ttatamento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 185
3.2.1 Tratamento para os ~s. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 187
3.2.1.1 Psicoterapia individual. . . . . . . . . . . . . . . .. 187
3.2.1.2 Terapia por leigos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 187
3.2.1.3 Terapia de casal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 188
3.2.1.4 Terapia de grupo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 188
3.2.1.5 Telefones de crise. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 189
3.2.2 Tratamento para crianças " 189
3.2.2.1 Escolas de recreação terapêutica. . . . . . . . .. 189
3.2.2.2 Ludoterapia individual................. 190
3.2.2.3 Terapia de grupo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 191
3.2.3 Tratamento para famOias. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 191
3.2.3.1 Creches de emergência. . . . . . . . . . . . . . . .. 191
3.2.3.2 Terapia familiar. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 192
3.2.3.3 Tratamento residencial da familia.. . . . . . . .. 193
3.2.3.4 Intervenção pais-filbos.. . . . . . . . . . . . . . .. 193
3.3 O terapeuta. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 194
Referências bibliográficas " 195
Capítulo 4
Pais An6nimos: a experiêDcJa de um grupo de aoto-aJuda 199
Bibliografia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 207
Apênclke . . . . . . . . . . . . . . . . .. 209
8
Prefácio
A criança e o adolescente:
compromisso social
Um dos artifícios para manutenção do autontarismo socialmente
implantado no Brasil é uma retórica generosa, que se tomou obrigatória
pelo menos depois do populismo e que vem até os dias de hoje. Nessa
retórica as vítimas ganham imprecisa generalização, mais alvos da
emoção do que de ações sociais concretas. Entre essas vítimas, as
crianças foram idealizadas pela filantropia particular ou pelas políticas
do Estado. Crianças e adolescentes deveriam ser educados, amparados,
corrigidos, punidos, numa escalada de energia, disfarce da violência
física aberta, sem se reconhecer a situação social dos vitimizados. Mas,
quaisquer que fossem as soluções propostas, a atitude com as crianças
e adolescentes sempre foi man::ada pela dissimulação, porque sempre
deixava sob o silêncio a questão da administração da violência.
Essa repressão disfarçada pode ser mantida porque as instituições
onde a violência era administrada (e continua sendo) são fechadas ao
olhar pl1blico. A familia, tradicionalmente conceituada como o lugar da
administração privada dos pais, na realidade, como mostra Heleietb
Saffioti na Introdução, é submetida às impo .ções da arbitrariedade do
macho. Os pensionatos, os asilos para órfios, as' prisões disfarçadas de
institutos educacionais, são consolidados através da história como insti-
tuições fechadas. Ali as altíssimas justificativas do interesse pl1blico
atribuíam aos funcionários do Estado mão livre para imporem um lU'bí-
mo com as mesmas qualidades da família: severa, implacável. atuando
sobre não-cidadãos que somente tinham o direito de submissão. Nesses
espaços a criança estava fora do alcancé de qualquer proteção legal.
Mesmo quando a norma jurídica avançou para tentar assegwar a pro-
teçio dos direitos das crianças foi incapaz de romper esse cerco de
ocultação em tomo das instituições fechadas, especialmente numa
sociedade autoritária como o Brasil, onde as políticas em relação às
crianças sempre foram profiláticas, porque há imposição da ordem às
classes populares.
NAo poderia haver melhor estratégia para devassar essa ocultação do
que expor com precisão, rigor e clareza a administração da violência,
9
de
1 J1
Introdução
A síndrome do pequeno poder
HeJeieth I. B. Saffioti1
Rea.lizaIei. aqui, algumas análises, esclarecendo o sentido de deter-
minados conceitos imprescindíveis à compreensão dos fenômenos foca-
lizados nos capítulos I e 2. Neglig!ncia no cuidado de crianças, assim
como maus-tratos a elas infligidos e a exploração sexual que delas se
faz constituem fenômenos pungentes, que os adultos tendem a ocultar,
seja porque eles seriam passíveis de punição crimiJull, seja porque a
descoberta do agressor provocaria o desmoronamento de instituições,
cuja gigantesca força deriva, como no caso da família, de seu cará-
ter sagrado. Com efeito, dada a sacralidade da instituição familiar, a
sociedade marginaliza e estigmatiza aqueles que apontam suas mazelas.
No. que tange à vitimização sexual de crianças, há que se agregar outro
fator relevante. Mesmo nos casos em que a criança é sexualmente viti-
mizada por um agressor externo ao grupo familiar, estão presentes mui-
tas dificuldades que inibem a iniciativa de se levar a nodcia dos fatos a .
quem de direito. Não é diffcil compreender o porquê desta cónspiração
do silêncio que se estabelece em tomo de um abuso sexual de crianças.
Para o senso comum, a publicização do fato comprometeria a imagem
do adulto que a criança vitimizada virá a ser, condicionando negativa-o
mente suas possibilidades de formar uma nova sagrada família.
Convém lembrar que a família constitui o único locus legftimo para o
exercício da sexualidade legflima, com a ftnalidade de gerar a prole
legftima. A sexualidade exercitada com vistas à obtenção do prazer é,
via de regra, considerada sexo i1egftimo, e tende a ocorrer do lado de
fora da família, isto é. num Iocus i1egftimo, podendo gerar uma prole
ilegftima. Isto posto, fica patente a razão do silêncio que se forma em
tomo da vitimização sexual de crianças, tenha ela lugar no seio da
famfiia ou fora dela.
O fenômeno da vitimização de crianças tende a criar um enorme
1. Soci61oga. Bx-profClllOra titular da UNESP. Escritora. Advogada. Pt*jUiudon viii·
llInte DO LACRI - LaboratCSrio de Estudos da Criança -Instituto de Psicologia da USP. Mem·
bro d<)Comi~ de Coo..1ltores da Rede CriaDça - Secrewia de Estado do MeDOr - Sio PmIo.
13
/'
mal-estar nas pessoas. Embora o processo de vitimação resulte em
milhões de crianças abandonadas. no Brasil. causa mal-estar de menor
intensidade, já que a responsável por tal atrocidade é uma entidade
abstrata, ou seja, a sociedade. Ainda que esta sociedade possa ser qua-
,lificada de capitalista, de dependente, de subdesenvolvida, ela conti-
nua suficientemente abstrala para isentar de responsabilidade, pelo
meDOS direla. cada um de seus membros. Outra maneira de se escapar
às responsabilidades consiste em culpabilizar os governantes que, pelo
voto direto ou indireto, foram guindados ao poder pelos eleitores.
Passa-se, pois, a imputar culpa a entidades abstraIaS nas quais ninguém
se reconhece. O processo de vitimizaçAo, ao contrário, apresenta-se
às pessoas em sua dimensão concreta. Trata-se do pai que seduziu a
filha de 8 anos, com ela mantendo relações sexuais durante anos at6
que, ao 14 ou 15 anos de idade, a garota engravida. Trata-se do velho-
te de mais de 60 anos que. a preços módicos. utiliza-se sexualmente do
ojfice-boy da empresa em que trabalha. Trata-se da senhora de mais de
70 anos. estuprada pelo jovem que assaltou sua residencia. A extrema
concretude dos fatos induz as pessoas a pensarem os agressores como
monstros. como exceções, como doentes. Da mesma maneira são vistos
os pais ou responsáveis que se conduzem de forma negligente ao cuidar
de crianças ou lhes impor maus-tratos.
De fato. para as pessoas cuja ocupação não facilita o contato com
esta cruel realidade. a vitimização de crianças, quando chega ao seu
conhecimento. adquire contornos de inusitado, de eSporádico, de
excepcional. Quem jamais lidou com o fenômeno não tem idéia de
seu significado estatístico e de seus efeitos devastadores. O objetivo
nuclear desta Introdução consiste em mostrar que. tal.como o processo
de vitimaçio. o de vitimização tem suas raízes numa ordem social iní-
qua, na qual as relações sociais são permeadas pelo poder. Diante dis-
to. talvez o leitor se pergunte se não seriam as me mas as causas da
vitimação e da vitimizaçaõ. A respo ta a esta pergunta não pode :r
dada em termos de sim ou não.
Ao fenômeno da acumulação capitalista, isto é. à concentração de
riquezas em poucas mãos. corresponde. como corolário necessário.
a geração da miséria. Quanto mais concentrada for a distribuição da
renda nacional2• maior o número de miseráveis em um país. No Brasil.
2. Em 1983, o I~ . rico da populaçIo bruileirl aproprúlva-lIC de 13.3~ da rCDda
nacional; 01 5~ mais ricos, de 33,0%; 01 10~maíI ricos, de 46,2~; e os SO~ mais pobres,
de apcDlII 13.6~. JAGUARlBE, H~lio, 81'tUiJ, 2.()()() - Para ,.,. - paeto sociDJ. Rio de
Janeiro, paz e Tem, 1986, p. 63. Note-lIC que 01 SO% maíI pobres da popu1açio vivem (ou
vegetam) com o mesmo IDOIltallte de reoda OOIIIWJlÍdo pelo I~ maíI rico; que 10~ mais
riClOI apropri -Ie de quase a meade da reoda naciooal.
14
usando-se faixas salariais bastante baixas3, havia. cm 1984. mais de
60% da população sofrendo diferentes graus de carencia.
Obviamente. grande parte do fen6mcoo de abandono material de
crianças pode ser explicada por esta situação de extrema injustiça. Siopouco significativos estatisticamente os casos de abandono material de
crianças por parte de paismcxlianameote ou muito abastados. Isto. con-
tudo. não exclui o abandono afetivo de criaDças. comum em famOias
ricas. nas quais os pais t!m muitos compromissos de cantcr social e
nas famílias de classe m6dia, em que o marido e muIbcr dcseqlenham
atividades profissionais.
Se o abandono material de crianças deriva maciçamente de uma iní-
qua distribuição de renda, sendo a distAncia entre o salário mais alto e
o mais baixo de milhares de vezes. este tipo de sociedade funciona
através de uma engrenagem dentre cujas fuDç6es encontra-se a da viti-
mação. Há, pois. a nível social. a produçio de vítimas. Tnta-se de
crianças vitimadas pela fome. por aus&1cia de abrigo ou por habitaçlo
precMia. por falta de escolas. pela exposição a toda sorte de doenças
infecto-coDtagiosas. por iDexist!ncia de saneamento búico4.
T~m no caso da vitimi'lJlÇão, a engrenagem social respoode pela
prodUçio de vítimas. Entretanto. o processo de vitimizaçAo nIo atinge
apenas as crianças vitimadas. Estas 11ltimas tam maior probabilidade de
sofrer abusos de toda sorte. uma vez que vivem sempre, ou grude par-
te do tempo. nas roas. expostas crueldade-exploraçio dos adultos e
de outras criaDças mais velhas. Por outro lado. trata-se de crianças que
dominam o espaço da rua muito mais do que criaDçaÍ ela nIo expos-
tas. habituadas a viver, eDl grande medida. em ambientes fechados. No
que tange aos maus-tratos, à oeglig!ocia e aos abusos-exploração de
natureza sexual. sobretudo quando tais ~ncias tam lugar DO seio
da famfiia. o agente agressor situa-se eDl todas as classes sociais. viti-
miuUlOO oAo apenas crianças pobres. mas tam~m crianças de classe
mMia e rica. Desta forma, embora haja uma certa sobreposição entre
crianças vitimadas e crianças vitimizadas, o processo de vitimaçio
atinge exclusivamente fiIhos de fam1Iias economicamente desfavoreci-
3. Eram 13,4~ de ttaba1hIdorea miJedveia (pnhando at6 112 aürlo mtaimo - SM);
22,8~ de indígena (per'cebeDdo + 112 a I SM); e 25,0% de pobrc:I (rec:ebeodo + 1a 2 SM).
ElIas cibu IOmam 61,2~. ou leja. quue doia terçoI da popubçio bnlileira. Jtkm., ibidtm,
p.64.
4. O deficit habitllCioDal DO Bruil cifra-. em mi1h6es; maia de U4 doi~, em
1980, a~lavam inluf'ducia cal6rica elou prortica, proporçIo que. elevava pua 113
pua o Norde.ce. A populaçio braildra do 15 IDOI e mlIlia, a1fabetiDda, DIo cbcpva. em
1980, a a1caoçar 213 do tolal. No meIIDO aDO, a lUa de mortalidade iDfaDtil era de 87,9 por
mil pua ? pé como um IOdo, atíDgiDdo 12-4,5 pua a regilo NordeIte. Dado o proflmdo
empobrecimento dOIlDCOOI.mboedOl, preIUIDC-. lei' m 'lO pioc a IÍtuIÇIo amai,
15
1 17
que se attibui um poder extraordinário frente ao usuário que chega ao
gui~. Arrogantemente, o funcionário, 80 invés de facilitar a vida do
cliente, dificulta-a a mais não poder. Trata-se do encarregado de fechar
os portões das instituições nas quais se reaJiVlm exames vestibulares,
que não permite a passagem de um estudante que chega jUSlaJJlente no
momento em que o l1Itimo portão está sendo fechado. Trata-se do traba-
lhador que, com raiva de obedecer às ordens de seus superiores hierár-
quicos, mallJ'8ta a mulher e os filhos, quando volta a casa. Trata-se
da mãe que, oprimida e espezínhada pelo marido, exerce seu pequeno
poder contra os filho , maltratando-os quando atacada pela sÚldrome
do pequeno poder. Trata-se do assaltante jovem, que estupra uma mu-
lher de mais de 70 aoos.. Obviamente, o m6vel do crime não foi o dese-
jo sexual, mas a síndrome do pequeno poder. As categorias sociais
contra as quais se exerce o pequeno poder sob a forma de síndrome são
quantitativamente muito distintas. As mulheres, em geral, só podem
{'ntrar em síndrome do pequeno poder frente a crianças. Excetuando-se
aquelas cuja ocupação consiste em lidar com crianças, via de regra, a
mulher exerce seu pequeno poder contra as crianças de sua própria
família: filhos, sobrinhos, netos. A síndrome do pequeno poder do
homem estão sujeitas amplas categorias sociais: mulheres, crianças,
homens ocupando posições subalternas. Por se tratar de fenÔmeno
quantitativamente mais importante, a síndrome masculina do pequeno
poder tem conseqü8ncias mais graves. Também do ponto de vista quali-
tativo isto é verdadeiro. Se, da mesma maneira que homens, mulheres
espancam crianças, chegando a matá-las, dentre os agressores sexuais
a presença feminina é diminuta. Este dado, aliado a outros, sugere que
o abuso sexual de meninas e adolescentes constitui um componente
importante da socialização da mulher para submeter-se ao poder do
macho.6 Isto não significa a inexist!ncia de abusos sexuais de meninos.
Contudo, pesquisas revelam que o percentual de meninas sexualmente
vitimizadas representa o dobro do de meninos. Subjacentemente a este
fenômeno reside a idéia de que toda criança deve submeter-se aos
desígnios do macho adulto. Esta sujeição deve ser mais rigorosa no
caso da menina, a fim de que ela não coloque em xeque a dorninaçAo
masculina.
Pequeno ou grande, o poder permeia todas as relações sociais, def.e..
riorando-as. A rigor, relações de poder revelam a desigualdade social
entre seu protagonistas. C "anças são consideradas socialmente infe-
riores e adultos, mulheres socialmente inferiores a homens, negros
socialmente inferiore a brancos, pobres socialmente inferiores a ricos.
6. BAGLEY, C. - "Mental bealth and tbc in- family lexual &bUle oechildrea aDd adoIeI-
oeD!S.IDCDNIda',MeIlJlllHeoJlh.june,1984.
18
Embora a ciancia haja comprovado que o quociente de inteligência
independe de raça e de sexo, vez por outra. ainda surgem, na atualida-
de, teorias "provando" a menor inteligência do negro e da mulher.
Desta sorte, a luta pela igualdade social entre as mencionadas catego-
rias avança lentamente, já que existem "cientistas" a serviço da ideo-
logia dominaQte.
A meu ver, o pequeno poder é potencialmente mais perigoso que
o macropoder. Este último, não obstante castrar possibilidades de
prazer7, infunde em seu detentor uma sensação de plenitude. São tão
numeroso , e por isso quase sempre massas anônimas, os adultos sobre
o quais se exerce o grande poder, que, via de regra, ele não tem
necessidade de atuar contra crianças a fun de se afirmar. Ao contrário,
o pequeno poder, exatamente em função de sua pequenez, conduz,
freqíientemente, à síndrome caracterizada pela mesquinhez. Ao invés
de atuar bem-humorada e magnanimamente, a pessoa em síndrome do
pequeno poder age de mau humor e mesquinhamente. Na verdade,
consciente de seu diminuto poder. de seu não-poder, trata de ampliá-lo
ou criá-lo na relação interpessoal.que estabelece, et!mera ou duradou-
ramente, com outra pessoa. Esta pessoa pode até desfrutar de mais
poder numa outra esfera de vida. Por exemplo, uma mulher pode ocu-
par uma posição profissional mais importante que a de seu marido, per-
cebendo um salário mais alto. e ser vítima da síndrome do pequeno
poder de seu marido. Sua própria superioridade profissional pode deto-
nar a síndrome de mesquinhez de seu macho. Esta síndrome sempre
tem lugar numa relação interpessoal e rnidda, se comparada ao plano
macrossocial. Todavia, é preciso cautela para não pensá-la como
decorrencia de atributos pessoais negativos. Sua natureVl não é indivi-
dual! mas social. A estrutura social fornece todos os elementos para a
oc~ncia da sCndrome do pequeno poder, respaldando amplamente
seu protagonista. Se a mulher es~ mais bem situada que seu marido do
ponto de vista profissional, justifica-se que ele a humilhe, porquanto
"o destino do homem é mandar, enquanto o da mulher é obedecer".
Ademais, o homem detentor do pequeno poder cr! ser necessário exer-
citar-se, a fim de, algum dia, vir a encarnar plenamente a figura do
macho todo-poderoso. Mais do que isto, acredita capacitar-se para o
exercício do grande poder tendo síndromes sucessivas do pequeno
poder. Na verdade, a exorbitância do pequeno poder, característica da
síndrome, revela a extrema fragilidade de seu ator. Ao tentar agigantarseu poder nIo faz senão apequená-lo ainda mais. Entretanto, a síndro-
me do pequeno poder tem conseqüências nefastas para as pessoas por
ela atingidas. Crianças são espancadas, assassinadas, estupradas por
7. SAFFIOTI, H.I. B. -Opodudomoc/w.ldem.lbitkm.
19
adultos que, Da maioria das vezes, têm justamente a função d~ pro-
tegê-las: mães, pais, outros parentes, responsáveis legais e profissionais
da esfera infantil, como babás, professores, ~icos etc.
Creio que o recurso a este conceito reformulado de síndrome do
pequeno poder auxiliará o leitor a entender o fenômeno da vitimização
de crianças e sua transversalidade na sociedade brasileira. Utilizan-
do-se dele, pode-se compreender que a estrutura social oferece con-
dições propícias à perpetuação do stalU.s quo em que o poder é ma-
cho, branco, rico e adulto e em que, por conseguinte, a síndrome do
pequeno poder acomete pessoas não idealmente situadas em todas estas
esferas. Assim,a mulher branca e rica tem possibilidades de exercer seu
pequeno poder exorbitado frente a um homem negro ou a uma criança.
Um branco pobre pode exagerar no exercício de seu pequeno poder
face a um negro rico. Portanto, neste jogo, várias combinações são
possíveis. Mas, existem invariantes ou quase isto. Nas relações de
gênero, os homens são os dominadores e as mulheres, as dominadas,
geralmente. Nas relações entre adultos e crianças são os primeiros que
ditam as regras. ()esta sorte, segundo esta pedagogia da violência que
domina a sociedade brasileira, criança que não obedece ao adulto, nao
apenas pode, mas deve ser espancada. E "não é de pequeno que se tor-
ce o pepino"? Não há combinatória capaz de tirar a criança da última
posição na escala dç poder.
É curioso ouvir-se, com freqüência, que violência gera mais vio-
lência, quando se trata de apreciar uma medida repressiva a ser ou
já aplicada a agressores de adultos. Por que não se aplica o mesmo
raciocínio quando se trata da agressão do~stica, no sentido de que
pais que praticam violências contra os fllhos estão criando fLlhos vio-
lentos quando adultos? Ora, violência doméstica, segundo a ideolo-
gia vigente, ocorre na família dos outros (e, por conseguinte, não na
minha), preferencialmente em famílias de negros, pobres. Os capítulos
1 e 2 revelam uma outra realidade: os agressores não são necessaria-
mente pobres e negros. Por outro lado, a exploração sexual de crianças
mostra uma face do adulto, normalmente ocultada pela idealização da
infância. Na idealização da infância está implícita a idealização do
adulto. As iro, à inocência da criança corresponde a inocência do adul-
to. Lembro, aqui, o filme Cna Cuervos, dirigido por Carlos Saura.
A personalidade da criança poderá desenvolver-se numa ou noutra
direção, dependendo da trama de relações em que ela vive. Ora, tais
relações são, para a criança, no início exclusivamente e mais tarde
eminentemente, familiares. Logo, a família pode criar um abutre e con-
tinuar a nutri-lo. Para isto, polim, é preciso que o poder promova a
substituição do amor pelo ódio, ainda que não explícito e inconsciente.
20
Lembro, ainda, o filme de Ruy Guerra, baseado em romance de Gabriel
Garcfa Marques, Eréndira. Uma mulher obriga a neta a prostituir-se, a
fim de lhe ressarcir de prejuízos supostamente de responsabilidade da
jovem. Formam-se filas de homens, atraídos pela beleza de Eréndira
(Cláudia Obana), à porta da tenda onde a moça atendia. Mesmo
exangüe e febril, depois de haver atendido a dezenas de homens, era
obrigada pela avó a continuar trabalhando. Afinal, havia que trabalhar
para saldar sua dívida. Laços de consangüinidade não asseguram o
amor. Há momentos em que outros sentimentos o esmagam no seio da
farnflia. Mais uma vez, não se pode imputar responsabilidades a fatores
de natureza individual, porquanto a sociedade fornece o caldo de cul-
tura propício ao desenvolvimento do desamor.
Para fmatizar, relatarei alguns fatos vinculados a um caso de incesto
pai-filha, que me chegou aos ouvidos. O homem mantinha relações
sexuais diariamente, ora com a mulher, ora com a filha. Tem prole com
ambas. Respondendo às reclamações da fllha, dizia a mãe: "Esta é
a vida de mulher: precisa se submeter aos desejos do homem. Se eu
posso agüentar, por que você não pode? Aliás, isto seria demais para
mim. É bom que aprendamos a dividir o fardo. Assim ele ficará mais
leve para ambas".
Quanto mais dominada for a mulher, mais difícil lhe será reunir as
forças necessárias para proteger sua ninhada dos ataques do macho.
Muitas há que denunciam o agressor. Mas ter coragem para tanto pode
ser o resultado de anos de convivência com o incesto pai-fllha ou
padrasto-enteada. A destruição do patriarcado coibiria tais abusos,
porque a mulher adulta seria socialmente igual ao homem adulto. Logo,
a mãe estaria capacitada a defender sua prole. Porém, e a criança que,
neste sistema, deve ser domesticada para se tranformar em força de
trabalho dócil? Creio que valerá a pena atacar a própria simbiose
patriarcado-racismo-capitalismo, na tentativa de forjar novos valores
e novas relações sociais. Se os valores contiverem a igoaldade social
entre homens e mulheres, entre branco e negros e o respeito pelo ser
humano de qualquer idade, a balança nas relações sociais tenderá a
pesar mais do lado do afeto que do poder. Neste novo contexto, talvez
os adultos não tenham necessidade de destruir seu próprio produto.
E o abutre dará lugar ao ser humano.
21
PARTE I
A PROBLEMÁTICA
DA VITIMIZAÇÃO DE
CRIANÇAS E ADOLESCENTES
Capítulo 1
Vitimação e vitimização:
questões conceituais
Maria Am6lia Azevedol
Viviane Nogueira de Azevedo Guerra2
1.1 INTRODUÇÃO
Só recentemente a literatura especializada tem revelado uma preocu-
pação mais sistemática com aquele segmento da população infantil que,
desde os primórdios da história da Humanidade, sempre coexistiu ao
lado da infdncia risonha e franca: o segmento constituído pela irif8ncia
em dificuJdode. Como já se assinalou, há quase tantas definições do
que seja infdncia em dificuldade, quantos sejam os profissionais~
cupado com ela.
Segundo alguns, ela inclui as crianças moI·amados, isto 6, as que
sofrem várias foImaS de abuso afetivo. Segundo outros, ela abrange as
crianças mtútires, isto 6, todas aquelas que sucumbem às várias formas
de viol~ncia física. Segundo outros ainda, compreende as crianças
abandonadas, isto 6, as atingidas pelo desamparo e negligência. Se-
gundo outros, fmalmente, envolve as crianças comercializadas, isto 6,
as que foram transformadas em mercadoria nas redes de prostituição e
pornografia infantis.
No contexto da presente obra, a inftincia em dificuJdode vai abran-
ger todas estas crianças e outras mais porque vai referir-se especifica-
mente às crianças-vftimas.
Se consultarmos o dicionári03, constataremos que a palavm vítima
I. Educadora. Advopda. Coordemdora da Rede CriaDça da Secretaria de Estado do
MeoorlSio Paulo.
2. Asaiatel1te Social. Coordemdora da Rede Criança da Scc:retaria de Estado do
MeoorfSio Paulo.
3. CI. BUARQUE DB HOLANDA FERREIRA, A. - Nuvo didon4rio da l/nguD põrru-
pua. 12' cd. Rio de Imeiro, Nova FroDflein, "Vítima (do Iat. Yicâma) I. f. J. Homem 011
animal imolado em boloc:austo _ deuJea. 2. Peaoa arbitrariamente coDdeDada l morte, ot
eavolvc dual idtias complementares: a de .r«:r1/kio c • de impOSiç40
d<dDno.
O que ea.6 implki&o em ambu 6 que lCl'" vítima Dia 6 um estado
IWW'IJ. Para que baja vfti.mll 6 precilo que tenha exilàdo um ptOCCIIO
de "f~-"""da- ...............
Dois alo 0& proccSlOll fund.emeotais de jNO(lMç/Jo de criDnçtJs--vfrI-
nlIQ,f em 'OCXdede. camo • noua:
- o ptrOOtS:SO • vilimar.so cuja l'uu.l&anlc • as que denoaúMmot
"c:n.oçu de alto ritco";
- o JX'OCeUO de~. cuja raultante do as que deoomi.na~
mot "criaoçu em catado de .Ctio",
Como VClUDlA • xeuir. ambas do fonnu de vi~ncia coaIB •
c:riaDça que.. embora pouam cocxiair. Dio devem ter iDJc:rpn:Udu
como as trai.........;. dua (KeIl da lDCIIDl moeda.
1.2. CRIANÇAS DE ALTO lUSCO
&ta do as criaDçaa.-vftimu da Vtol!DCla cstnlhU'al. C&I"IlC&e.IÍIIde IOClodedes como • DOSU, man::adu pela cbn1naçlo de clasleJ c por
pofuodu~ Da dtsuibwçIo da nqUoeUi IOCW SIo as que,
cufcm"ic-rnenle, dc:nom'D8lOOf WWftOr. eoqu.anIo eatcJOl"Y deslJ.DIÔva
da l.DfIDcia em siOJaÇio iTre6u./aT. a reei_r, portaDtO. lAtCrVeDÇio e
JlIO'OÇIo do Esado'
A tabe1a 1•• acpir. lDClr&Cn quanw do cuu cnaDÇU.
A de.oominaçlo alJo-.rúco tcfer&-IC 110 (ato de que CIUI cri.aDçu
&em WDa alta probêí.UdIlde de .afret. C«Kh.o. c pecm&Deocemcote a
vioIIçIo de acua cIird&ot '"QIWIOI -. ckmcntares: chreIto ..~ 1
lIdcIc. .. a1imenewçlo... eG'CeçAo, .. JCptaDÇa., ao lazer etc
A~ deAea direhoa faz-te auav6t do proccsao de violfocla
CICnlIUral~ de DONO liltemat6c:~c poUtico c
que te exerce princ:q.1mcnte JObrc as dUICI 1UbIltc:rnu lOtft. 01
"cIeeerdMb do ·iucm.... •
26
Tabela I - E.sdmaU"a da popoeleçio de uc:riaDç:M de alto .-:0"
no B...u (1985)
Tola1 do c:riançu 47'll> do lOCa1 da
b....Ueitu 62 milbi5e. populaçIo bruIIeira
(popUloçIo do ().19 &DOI)
Me.oomI careOIel- 36 mjlhões
58'll> do lOCa1 do
~bnollcUu
Menores 1IbandooIdos·· 7 milh6cs 2O'Jl, do lOCa1 doomaiOia carc:nteI
~ w-w car.-.. - Todo _ c:.jI ,.. -pu apca- da fwIIia,' bdericw. lJ4 do
A1irio....,(fUNAaEN).
UMaor t toM-to-Ac:r'-;a"b" * ,.,. ......
.,....._•...,.owj.... fwN ......_ ..~ _ c
biIL:lade pdI. _ --.;:lo. .. cw- cIb:~' .1_ ;., cdrIcaçIo._~ 1IIic:a.
-'MOCEf)
Fo.Ie: NdlaaAI'W.A.... ,.. ii secla~
IBCiB""'-"'" F '6 i o. 1914
la u,.~ tio .-..:,,~~ • lN. Nhont. 1 tro. I.S.
........ _ doue J"OCCNO - ......'rio , <qXOduçIo do P'Ó"
prio sistcnw - do lOOllO bem dclcritas px FaJeirofS DO qUe dcaomi-
OCIJ oom D1Lita propriedade. "proccaao de fabrictlçio do menor'''. Os
seguintes excertot permilem tnIÇat um breve pcnH do poceuo de
virirnaçAo enquanto fonna pef'YCl'A. de "CabricaçIo do menor". (Os
snroo ..........)
1.2.1 A rabriQçlo do ........ peIa"'- di_
"No que <li% retpeito 11 quescões do menor, bi. ainda. prcdomi-
nIncia, em alsumu I.reu, de um pensamento meuf&ico bo·...·ndo
expli~·las como dcc::orrerx:ia do abandono de \IItJlotu mon:d4 lUtJwr-
soU e M wma COtUdInda rwlJalo.la.
Esta visIo aponta a ~hria do problema do meaoc como um du-
viD, uma anmwlia da própria~ cm rdaçio a wm. ordem
superior c nawral, conf\and.indo.4 a realidade com uma ordem divina
preesl.be~ida. l1IptUI'a a:lm Ufa orden ~ qtM! prcwooarla a~
da M pobres, de crlmino.Io.r, de vioIhtcitJ e do abandotttJ da CI"ÍaIIÇa."
27
n-
como partetamílW pob
ci 1
do
po
fe8',dc o
reivindicatório
c::rindnallizaçiio- do pobre
traI)albo
omeoor
1.2,3
leceu a idade de 14 mos como mínima para ingTCSllO Do
W o iJlfai r para os menores. A Comrirujçio d
de 12 com..uno iguaho do adullO.
7. SPIND • C. - O fIV_ IrtJba/hDdor.. 1m a.uaIarlado rc 1rtJdo. Sio Paulo, Nobel.
B....ma. M do TrabaIbo. 19 j.
2 29
=y' - .
InstJltudonalizaçlio JDJ1dlJcA>.
ratllrtc~iO do menor pel
cle.s:igwllldlllde, de exploração e de
formas de
1 2.S
30
A UDA. • V -O~~qwllOlbcurdldOl .1
31
É através da dinâmica institucional que se fabrica, quase sempre, o
delinqüente juvenil. A instituição, ao invés de recuperar, perverte; ao
invés de reintegrar e ressocializar, exclui e marginaliza; ao invés de
proteger, estigmatiza. Isto configura a pervecsidade institucional, por
produzir o efeito contrário ao proposto...
A institucionalização dos menores, a ação policial, a adoção de
medidas de segurança, o recolhimento dos menores detrás das grades
são medidas adotadas para proteger a vida e a propriedade das classes
dominantes que se vêem ameaçadas... Desta forma, a questão social do
menor se transmuta em questão jurídico-policial, sujeita ao aparelho
repressivo da justiça... (No entanto) os menores são vítimas da explo-
ração e não ~us, são resultado de uma determinada dinâmica histórica
do processo de produção, não sendo questão de segurança nacional,
mas de cidadania, ou de falta de cidadania, pela desigualdade social
crishdiuda. Na clientela atendida pela FUNABEMIO, 80% aproxima-
damente são menores carentes, pobres, desigualmente situados, 10%
são menores abandonados e apenas 10% são menores infratores...
O perfil do menor iofrator (Retrato do Brasil n2 26) traz as seguintes
características: semi-analfabeto, com alguma experiência de trabalho,
tendo vivido nas ruas (90% dos casos), iniciando-se na infração através
do furto ou do roubo, de cor parda ou negra, tendo saído de famOias
que sobreviviam com menos de um salário mínimo per capita...
A recepção do menor na instituição de triagem ou recolhimento
constitui uma passaagem violenta em razão das pressões sofridas! da
apreensão dos objetos pessoais.
Em vários depoimentos de meninos detidos, constata-se a denúncia
veemente do castigos, espancamentos e até de torturas, ..
Os meninos e meninas também introjetam a imagem de 'marginal',
pivete, trombadinha que deles faz a sociedade. Dizem eles que 'para os
monitores, os alunos é tudo marginal, ladrão ou bicha, os próprios fun-
cionários tratam a gente assim como seres desprezíveis', Os adolescen-
tes culpam-se ainda pela situação de exclusão ao dizer que 'a gente não
sabe aproveitar as oportunidades que teve'.
Os meninos, por outro lado, criticam a uniformização e despecsona-
lização de que 'a gente é tudo igual, rouba igual'. A estigmatização do
menor, a negação de sua identidade e de relacionamento individualiza-
dos reforçam sua exclusão social, submetendo-os a normas arbitrárias
de controle de sua vida cotidiana. O não-cumprimento das regras esta-
belecidas cria problemas para as próprias regras resolverem num cfrcu-
lo vicioso de repressão que gera repressão.
10. Organismo pI1blioo encarregado de traçar a polltica do menor (Fundação Nacional do
Bem-Eslllrdo Menor, criada em ~2 de dezembro de 1964, pela Lei4.S13).
32
A imagem vendida pelas instituições, no entanto, é de promotoras do
bem-estar através de cursos de 'formação' para os menores internos.
Segundo Herzer,II esses cursos não vão além da arte culinária, corte-
costura, couro, tecelagem, cabeleireiro, e 'tem-se a impres ão de que
esses cursos profissiOnalizantes dão alguns progressos às meninas,
mas isso não é verdade'. Ao pobre destinam-se cursos pobres, de ter·
ceira categoria, que não dão aos internos condições de competição no
mercado de trabalho. Ao estigma de pivete acrescenta-se o de incom-
petente." .
Todas essas modalidades de "fabricação do menor" têm o efeIto
cumulativo de assegurar que os direitos de muitos sejam aniquilados,
para que os privilégios de poucos sejam assegurados. Isso é possível
porque se trata de uma violência inerente e necessária à estrutura da
sociedade capitalista. "A sociedade capitalista se produz de forma
desigual ao estruturar-se na divisão entre apropriadores e expropriados.
Os primeiros detêm os meios de produzir a riqueu e os segundos a
força de trabalho. A desigualdade se estende à posse dos meios de vida
e ao acesso aos bens e serviços disponíveis, formando-se uma rede de
lugares diferenciados socialmente... Para que não haja extrapolamento
da ordem, nem nos momentos em que a pobreu chega aos seus limites,
é que se organiza o controle social através da ideologia da submis-
são, da assistência e da repressão. "12 No Brasil esses limites parecem
estar chegando, se atentarmos bem para os seguintes indicadores da
brutal diferença de qualidade de vida entre elas es dominante e elasses
subalternas.
"Que País!
País arruinado, com 36 milhões de pessoa concentradas em sua
região Nordeste à beira do apocalipse de uma explosão social, apesar
das mansões e das usinas que lá existem e até por causa delas; país
encalacrado, devendo a raiz dos cabelos, apesar das contas de milioná-
rios na Suíça, e até por causa delas; país com um déficit de 17 milhões
de habitações, apesar das "dachas" dos burocratas e até por causa
delas; país que tem um milhão de leprosos, três milhões de chagásicos
e três milhões de portadores de 'bócio cretino', em um só de seus Esta-
dos, apesar das panteras de luxo que esquIam no inverno em Gstaad,
nos Alpe suíços, e até por causa delas; país com 40 milhões de anal-fabetos e outros 40 milhões com apenas um ano de curso primário.
apesar de possuir 200 universidades, e até por causa delas; país em
cujas grandes cidades há três mil e oitocentos assaltos de jóias por dia,
II. HERZER-Aquedaparaoalto.PetnSpolis. Vozes,I983.
12. fALEIROS, V.,oh. cito
33
arrancadas dos dedos e do pescoço das mulheres indefesas, e até por
causa del~s; ~ co~ 14 milhões de crianças abandonadas, apesar das
cem famílias milionárias que enriqueceram no últimos vinte anos e, at6
por causa delas; país com 10 milhões de sifIJfticos com 12 milhões de
tuberculosos, com 15 milhões de débeis mentais' com 5 milhões de
esquistosso~s, apesar das melhore praias, das ~ores florestas, dos
melho~ elunas subtropicais, das maiores áreas cultiváveis do planeta,
d~s ma.t~re . rebanho de gado, das mais ricas reservas minerais, vego-
tals e anuDals e, assim por diante..... 13
As implicações para a infância brasileira desse quadro de desigual-
dade social ficam bastante claras quando lembramos, por exemplo, que:
a) a taxa de mortalidade infantil de crianças menores de um ano no
nos~ país ~ de ~7 ~r 1.000 nascidos vivos (1985), o que coloca o
Brasil ~m SltuaçaO pior que países como Paraguai, Uruguai, Chile,
Colombla etc.; b) cerca de 60% das crianças de O a 17 anos vivem em
f~as cuja renda per capita não ultrapassa 112 salário mínimo, das
ql18lS 35% em famílias de até 114 do salário mínimo isto é em con-
dições de extrema pobreza (1980); c) segundo dados de 1980' cerca de
33% das crianças em idade escolar (7 a 14 anos) estão fora da escola
e o índice de analfabetos é de 25,5% entre a população adulta (lO ano~
e mais).
E para finalizar vale a pena lembrarmos que o menor é tamb6m uma
criança.. S6 que uma criança para a qual de nada adiantou a Declaração
InternaciOnal do Direitos da Criança. Uma criança que merece, por-
tanto, o v rso amargo que lhe dirigiu Cora Coralinal4.
"MENOR ABANDONADO
Versos amargos para o Ano Internacional da Criança, 1979.
De onde vens, criança?
Que mensagem trazes de futuro?
Por que tão cedo e bati mo impuro
que mudou teu nome?
Em que galpão, casebre, invasão, favela,
ficou esquecida tua mãe?...
E teu pai, em que selva escura
se perdeu, perdendo o caminho
do barraco humilde?...
13. MOURÃO,C.-QuoPaCs,FolhadeSõcPaulo,abriJ. 1984.
14. CORAL! A. C. - Poemas tkJs becos ~ Goiás e estórias mais. São Pulo Global
1985. • ,
34
Criança periférica rejeitada...
Teu mundo é um submundo.
Mão nenhuma te valeu na derrapada.....
1.3 CRIANÇAS EM ESTADO DE stno
A violência estrutural, inerente ao modo de produção das sociedades
desiguais em geral e da sociedade capitalista em particular, não é a
única forma de "fabricar crianças-vítimas". A seu lado - e por vezes,
mas não necessariamente em intersecção com ela - coexiste a violência
inerente às relações in1erpessoais adulJo-criança.
Como a hist6ria social da infância tem se incumbido de mostrar,
essas relações são de natureza assimétrica. São relações hierárquicas,
adultocêntricas, porque assentadas no pressuposto do poder do adulto
(maior de idade) sobre a criança (menor de idade). A vitimização -
enquando violência interpessoal - constitui uma exacerbação desse
padrão. Pressupõe necessariamente o abuso, enquanto ação (ou
omissão) de um adulto, capaz de criar dano físico ou psicol6gico à
criança. Por essa razão costuma-se considerar abuso-vitimização como
as duas faces da mesma moeda de violência.
Enquanto violência inJerpessoal, a vitimização é uma forma de apri-
sionar a vontade e o desejo da criança, de submetê-Ia, portanto, ao
poder do adulto, a fim de coagi-la a satisfazer os interesses, as expecta-
tivas ou as paixões deste.
Como, porém, a violência interpessoal constituí uma transgressão
(mais ou menos consciente) do poder disciplinador do adulto, ela exige
que a vítima seja "cúmplice", num "pacto de silêncio".
Portanto, a vítima tem restringida não apenas sua atividade de ação e
reação como também sua palavra é cassada e passa a viver sob o signo
do medo: medo da coação, medo da revelação...
Como a vitimiVlção não é um fenômeno isolado mas sim um proces-
so que se prolonga às vezes por anos, a vítima passa a viver uma
situação tfpica de um estado de sltio, em que sua-liberdade - enquanto
autonomia pessoal - é inteiramente cerceada e da qual só se resgatará,
via de regra, recuperando o poder da própria palavra, isto é, tomando
pública a violência privada de que foi vítima...
O abuso-vitimização de crianças consiste, pois, num processo de
completa objetalização destas, isto é, de sua redução à condição de
objeto de maus-tratos. Tal como no caso da vitimação, há várias
maneiras de maltratar uma criança, de vitimizá-Ja, de abusar de sua
condição, de domesticá-la...
35
determinar com clareza
sine qua 11071 definição
16. K MP ,C. u. a. H L , R. B. - H lplng 'M battutd chiJd and 1úfaMl1. New
Yol"k, Lippincon, 1975.
17 ARBARJNO.l. rLLlAM.., ob alI ,p. 6.
18. IL. D. O. - VIo~1IC ogabur chJJdr~" - pJry ab In'M UniUd SIoJu. 8! ed.
brld ,Harvard nl IY P ,197. p. 6
19. IdmI, /bIdmr.
37
uem o recebeu;
r d um observador sobre o aIO'
o julgamento.
- li nClonali • efeilO. avaliação e critb-
Í!DJ)()ctarites q do se discute a conceituação do
Ute tura I tra te fo privilegiadas de abuso-vitimização:
j(.siCQ. psicold ica e a sexum. uma delas envolve proble
ItU pccífi constata a .gUJr.
1 3.1
ri
A BAR O, J. OILLlAM. O. - Untk,.SUDllbng abu.rwefarni1ie.r. Mu.sacJ:I\UCl:tl
~IJlIll~Book ,19 I,p.'.
36
01 tIIOS de omJ.udo. com O objcc.lvo de ferir damficar ou dcst:ruir a
criaoçI;, iNk~~nlmvltk do grtIJI •~ do alO. Para de,
poIUnCO, todo e qualquer empreao de força físiCa 6 abusivo. Neste
upccto ele ~ cnticlldo por ou~ pesquisadores que consideram JlLI
~finiçIo muno ampLl, embcn Garbarino alegue que esteS estuetioeo.
~vez 010 concordem com a definiçlo de Gi.J por nlo visualizarem a
aplicaçlo de D'll!todoI educacionait nIo-violen(()S'·20.
o <frllo tkJ "'"
A lCricdadc do daoo tamb6n 6 um cb aspectos coeoct em
~ da cooceltuaçlo do feo&Deoo. embc:n nio f.que claro quk)
s&io um daoo deva a':I' pwa reoeber tlim du..r.....;io. Alguns au\O-
lU at'JUCm que tlim vítima deve ler m(rido uma fnte:ur1l; ou ..oe....
azuis e oear- .... que iMo te enquadre DO -.pcclO da sevendadc.
Outros arpem que buaam apenas marcas vermelhas. decon'eoIcI de
um C:Sp8D('.amt:ftIO, por exemplo, .... haver o enquadnmC:Dlo em ter-
~ de sev~. A palavra strio, por oulro lado, se toma pobl~
uca. na medida em que te .. que os pequenos danos de hoJC podem
se COIlverttt cm gandca daDoI amanbI e qUIçJ. em mane.
Na 6rea da Mecbci.oa. • qucstIo do abuso de on:Iem CWca se COOvet-
.... ~ S_ da <rlaoça """""""", ...un cognoounoda pela
puIJCIB vez em .1961, em um.lq)Ó$tO reaJlZIldo pela.A.rDerical AJ::a..
dcmy of Pec:1iacr:ic:s c pelai: Ors Kcmpe e Si.JveJ"D*I Arn."Ú deste
DOme, o 01". Kempe chamou a a&eoçlo do púbhco amencano para eae
fenOnhM).
Evidcn1emeru que bI. indmcrol caso. de cnaoças e de adolelceOlCl
vttuJ:. de abu-a ff&lCO e que: 010 te enquadnm Da classúlCaÇio desta
SCndromc, mas que paC'" outro lado, represenlam casos uoportIntes de
serem c::onsideradc:l Acreditamos que enlender o fen6meno que esta--
mot trarando apenas enquanto Slndrome do crianço u:pant:ada leria 00
mhurno se'procedc::r a um redncionismo em lermos da c:timenslo alcan-
çada pcLl problcnWlC"a
é imponante. te pensar aio só DOI casos boJC: grnes do poolO de
V1StA fCsK:iO oomo tamb6n oaquclet mais limplea; neale a5pcc:::lo, mas que
poderio ac COIlvatcr em CUOI a&ios amanhL Importa entender o
fCDÓmCDO RIo apc:oas em sua dimcndo clínica, mas u1tra~-la. per.
20. OARBARJN"O,J A OILLlAM. O.ob eh, p. 6
21 A~.~fue I.IRIllmcalC I aianr;u. bliu idade, que IOfreram fc:rlmenlOll
imItI..... rn.nu.~,~lmIIdwMefC., oconiducm i&poc:asdiYcfJU, bemc:omotm di'
f-. CUf* pn !Mdeq18dll ou IJlOOCllillenlUMn1C upUe.dal pclol JlllI O dilpÓl'
beo" qcMI kMad.. ndàoldJ"*' doi (erimcOlDl~
38
ccbendo que se traia de um feo&neDO c::ompJc1o, que requer O I,D~
mento de WYCrSU dilciplinu para lIlIa compreen&Io.
JuJgomervo fe.ilo~Io oNvvodt:Jr. F(NfI~ do crlúrio para~
A1pnJ peaquisadores se buewn DOI J*1r6c:a da coa:unidwk
eoqtw1lO cnl6ios definidorcl de abulo. EIcI con.sideram O feo6meDo
como: "o dano flsico ~adcl'lUll que 6 O rcsulcado de alai (ou
omiss6c.) de '*' OU mpoaúvel, que vI.pbn 01 podr6u da comuni-
datJe no qw diz ~ilo OOS acldodor CXlm a c:riaIIpr"l1. De KClI'do
com csce. poolO de vista, a COIDUD.KIadc 6 lObcrana para interpRtar lUa
I'I«IDIS e Ideotaficar os aro. que violam talI DClI'U*. o. paquiudorea
que aboniam escc aspec:1O, colocam que la' pouibi.lidadc de vanaçIo
DOI J*b6el pelas evidml;iu e:mpfricu. embora dei, DOI~ UDi-
dos, lenham Ie defn:atado com um lIlI'pI'eCodeDte COOICnIO entre atei
pdr6es DO teia de diferc:olCl gnrpoI~.
Do ponto de vista antropokSp:o, aJaunt pclqUiIadon:I v6cm o abu-
lO como uma etiqueta culturalmel'llC determinada que 10 aplica M) com-
portameI'Ito e 80S daDoIi. Como exemplo poderia c:iw- a ac:ari.fic:açIo
eoquanto espcc:to de um rito tribal de pus.qem, que RIo 6 a lIlCIID&
c:oi* que a impos)Çio de cicaarizes com tue em "1\UDCD1OI vio&mlOl.
Se:rdo uaim.~ evemos otrllClD o seu sianifcado do coo-
uto cm qut ocouem.
é imponaole, por outro lado, lembrar que. apesar de O embicnte
descmwlar o ímpeto de c:erw: açõcs, hf limites ao poder da cu.lo.zr. em
lCtIDOI de fazer ai coisu c::onetameble. Como DOI dh~:
""'WON culuns t!m pddcas danosa. li c:riaDçu... Noau prdpriu
culluru alUais I!m elementos (como o texUmo e o racisaIo) que •
danosoi U cnanças·'. O 1'16 górdJo da questlo esú em te pn:c.iJar cm
que medida aJaumas difereoçu culturail re.preaentlm aç6et que alo
intrintecamente danosas As criançu e adoJt*"Cntes e em que medida
eIu alo apeou difere.nçu em eatüo
Neuc ICJltido 6 que um OUU'O upcc:lO dcY'C ser k::vado em~
raçIo do ponlO de vista cooocituaJ - 6 o do c:ooMcilDHltO cicod5co em
lermoe da reLaç&s pait.-filbos. A avahlçio deve ICC feita pela deacia
e pcLl cultura. Falando-ae de uma forma mail expUc:ita. CIIC c:oobec:i--
meoto c:ientffico deve JCt ac:ruddo ao erit&io cstIIbdecido pelai 000-
Yioç6eI ac:erc:a. do cuidado com u crianças t»teado DOS CO$hun".
A1auns peaqul&adores. por exemplo. cttIo convencicb de que b' wtII
correlaçlo eolre o emprego de força ({sica e a delCrioraçlo do deleo-
22 OAR8ARlNO,IA GtLLIAM,O.,ob eil ,p. 6
2J Idou\l\.~.
39
volvimento psicológico e social. Por outro lado, se uma cultura aceita a
prática da punição física enquanto método disciplinar, há necessidade
de se verificar o que dizem os estudiosos acerca das conseqü!ncias
desta forma de disciplina. Sendo assim, o processo de definiç&> do
fenômeno "passa por uma negociação entre cultura e ciência, entre
sabedoria popular e a experiência profissional"24.
Garbarino, em sua obra, fmatiza sua discussão conceituaI, emitindo
a sua defInição da problemática: "atos de ação ou de omissão advindos
dos pais ou do responsável, julgados a partir de uma mistura de valores
da comunidade e da experiência profissional como sendo inapropriados
e danificadores"25. Inapropriados se referem à própria ação parental e
danificadores dizem respeito aos efeitos causados nas vítimas.
Parece-nos, entretanto, que em termos de sua definição, ele buscou
minimizar as ambigüidades discutidas anterionnente ao fazer com que
ciência e cultura defmam com clareza as questões associadas à inten-
cionalidade e à severidade do dano, bem como às respectivas con-
seqüências. Embora esta ainda seja uma tarefa a ser realizada para os
diversos casos de abuso-vitimização física, consideramos que o esforço
teórico deste autor é bem válido em termos do sentido que ele imprimiu
à questão.
Além disso, Garbarino tem se destacado pela luta em termos de se
reconhecer que o fenômeno que ora tratamos se estende de Oa 18 anos,
e não apenas a crianças de baixa idade como o evidenciado pela litera-
tura científica durante muito tempo. Garbarino aponta algumas razões
para se deixar de lado o adolescente como vítima deste processo. Na
verdade, ele nos diz que os adolescentes não se encaixam na imagem
de vítimas que usualmente a sociedade tem presente para si: a vítima
é o indivíduo indefeso, sem poder, passivo, sob o jugo de seu algoz.
A imagem social do adolescente desmente esses aspectos: desejoso de
independência, agressivo, contestador, com poder de defesa se agre-
dido. Por isso, a sociedade não tem nutrido grande preocupação com os
adolescentes vitimizados fisicamente: ou ela acredita que eles nem
existam ou imagina que a agressão física a que foram submetidos foi
merecida porque eles a provocaram. Ao pontuar estes aspectos, Garba-
rino preocupa-se profundamente com o adolescente vitimizado fisica-
mente, com as conseqüências desse processo, que muitas vezes não são
conseqüências de ordem física, mas o são de ordem emocional e muito
graves. Seus estudos têm tido o efeito de conscientizar o público sobre
esta questão, de desfazer preconceitos e de batalhar por uma atenção
mais especializada para estes adolescentes.
24. GARBARJNO.J.~GILLlAM,G .• ob.cit.,p. 7.
25. Idem, ibidmr.
40
p
Finalmente, um último aspecto que gostaríamos de explorar de uma
forma rápida é o da negligência. Ela representa uma omissão em ter-
mos de prover as necessidades físicas e emocionais de uma criança ou
adolescente. A negligência se configura quando os pais (ou responsá-
veis) falham em termos de alimentar, de vestir adequadamente seus
ftlhos e quando tal falha não é o resultado das condições de vida além
do seu controk. Ela se registra, por exemplo, quando os pais falham
em termOs de monitorar adequadamente o comportamento de seu filho,
permitindo-lhe que brinque em rua de muito tráfego ou que caia do alto
de uma janela na qual não foram postas grades de proteção (apesar de
os pais terem recursos para tanto).
Evidentemente que toda discussão anterior sobre a intencionalidade,
as conseqüências, a questão da cultura e da ciência estão implícitas no
aspecto da negligência. Quisemos apenas enfatizar o relacionamento
da negligência com as condições sociais de vida dos pais, aspecto este
tão relevante em uma realidade como a nossa. Evidentemente que se
uma criança está mal alimentada porque os pais não conseguem obter
dinheiro para o fazer adequadamente, o caso não será considerado
como negligência. Entretanto, se todo o dinheiro conseguido e que
seria, por exemplo, para a alimentação da prole é desviado para ~ con-
sumo de bebidas alcoólicas, então poderia se configurar um cwdado
negligente.
1.3.2 Abuso-vJdmização psicológica
Também designado como "tortura psicológica", ocorre quando o
adulto constantemente "deprecia a criança, bloqueia seUS esforços
de auto-aceitação, causando-lhe grande so~nto mental.~
de abandono também podem tornar uma cnança medrosa e anSiosa,
podendo representar formas de so~nto psicológico"26: O abuso-
vitimização psicológica pode asswmr duas formas básicas: a de
neglig~ncia t!.etiva e a de rejeição afetiva. A negligência afet!"'a con-
siste numa fálta de responsabilidade, de calor humano, de mteresse
para com as necessidades e manifestações da cn,an~. A rejeiç~ afe-
tiva caracteriza-se por manifestações de depreclaçao e agresslVldade
para com a criança. Por ser muito difícil de ~tar, dada sua colo-
cação intensamente subjetiva, costuma-se categonzar c~~ abuso aPc:-
nas as formas graves (extremas) e conlinuodas de re.JCIÇ80 ou negli-
gência afetiva27
26. GIL. E. - A boolc for and about adulIs abwed as chi/drm.San Praocisco. l..auDch
Prea.1984.
27. Para uma discussIo das manifeslllÇÕel de CtlTlnc:io afetiva OU de rejeição afetiva
41
2
3
t ~ li
f 8" ft,
"e:~h
I~f ii·1 8 R' ."
c!Q'J I, gij - L!J >I lfi' fi" iII: f( ii;!g §'lr s- I' f <{:-. ~R8'~,~ !G ~ ii1l. ....... "1H, J ~. o ~r.
~ lié'r 8i' ·5' o. i ~
~1
o o
~ Jl
i;,,"li I J*0.. ~
de vldmlzaçio de crianças
ostfmJ06~ EstimaJfwzs
Frsic:a
- EIIlima-1O que 109& du crlançu de mc:DOI de S &DOI que lOapreaeDlam _ proDlo-
socorro. ou hoIpilail do vftimu de abuso fIlico.O~m:eulel t!m rcYdado
que c:cn:a de I S'l& du crillllÇU de~ de doia .... boIpitalizadu 110 Quebec
torrem. de WDIdefici!Deia Itria a DÍvcl de pelO ou CIWW'I., porque (01'alD mal
nU.lridu ou oegUgcllCiId. por ICUI pafJ.
Psicológica
de c:staIúüc:a difJClCis de oompU., porque oa IinaiJ DIa ao evideulel.*' CSlIO embutida em oucru eslatíJtku:: de eriaDçu e adolcloeDta oolocadoa
em lamiUas IlIbsótuw. oentroI de rndaptaç;lo pan ai&oçIII com problemas de
oomportllmcrno etc.
Sexual
- Uma me.oina cm S (209&) e um IDCmllO em 10 (IOtJ» Iio vítimas de abUlO lOXUll1
anlCl dOi 18 mos. Cerca de 9'l&de lOd.as as mulheres (oram sexualmenlC virimkwfa
por~ e S'l& estivCRID envolvidas em iJx:es1o pal-fil.ba.
- A "S.O.S. Criança" euimaqueS.OOOmcninolrc 3.000 meninasmeooreade 18
CI1volvidoa cm prostituiçio cm Paris.
,tfsticas da poUda e da lista de assiD..ua de IDllterial pcl!I1IOpifioo caLc:u.Ia-
que, DOS EUA. 1.200.000 mmolU de 16 &DOI estejam alvolvidOl .. OOlDCl'l:ia·
Ih.IçIo JCxual.
6,0 ID1Ib6ClI de lDCIIiDa (20% do total)
3.1 lllilbl5a de tnalioos (109& do tocai)
totllJUDdo 9.1 milbl5a do criIDça
(ccn:a do 1S'l& do totaI de cri&Dl:U m-
silciru de Oli 19 ano8).
.. lZ1I aploratory
OOIflQ,CJftvqwlfI tnJ« luP"'JU8D~et da
.1986.
• 'II. New Yon:. Thc Pres. 1979.
bpIoilDlieft 01 cNJdrrll wiJla spedaJ ngmd U1 SIt:Xud exp1cUadon and
Loodoo. Tbe A DÓ Slavcry Society for lbc Pl'Ofeetionof HumaD Ri
- LorcDZi, M. cnallÇl2.smal amadiu. 510 Paulo, Global, 1985.
:ioaaiJ foram c:akuladOllObrc 01 JCJ\lÍDtel DJhncroa:
- TotaJ de criaDçu bruilc1ru de o. 19 mos (PNADlI98S) aproltimadamcllle 62 miIb6c:I (61.739.303)
- SIJJ roU1/ de criaoçu do 8IQD mtUCI.úiIro aproximadameutCl 31 mi1h6cs (31.288.785)
- SIJJ total de c:rillDÇlll do sexo/enrinJru'J aproximadamcolC 30 mi1h6cJ (3O.4SO.S 18)
b) V'tOUnc~ p.rkoI6p:o - Ide:m. Idem.
e) ViofbrdaSQM.Q/ - F"UJkc1hOl'. D.
- Cart-.Bo.
• Os dados InlCtllKiooais foram cxualdos das JCgWn
a) V'1OlInda Flsica - M. JI!lID-Guy, Mm:. La
•• Osd-so
V'aoIl1dJ
of cbil-
York., Th Free
icaJ. abuse in the Uniled
disponí-
ta ho. atamenle,
JlUL.üu.t em nosso pai . Oxalá
reslPOSta indign apenas.
e iedade...
d o r". ln HumanúJades, DI? 12,
ECI::R.RA. R M. Defining cJtild ~.
the !:Jarkred child and his
BIDJW'l1U.1VIi.A''''''-
A
8J,Swllar 6 que são formas ab lutamente
da infIncia. Dada a raiz ial de
para cuja supressão podemos coo-
COIN.C.I~USÃO CO CL1.4
6. CHAUt,
~ da
•cio ddlare 10 e violm:ia". IA Pu.rp«/iwu
ro, Zahar (4). pp. 23-62.
46 47
49
thL B.H
p~ulo 2
E~xpl(.ra~io sexual
2.1
1
52
8Sli;uo:.e a coo-
encargos
53
Encoruram-se. como suponcs deac ex.cessivo poder paterno. alguns
pre6lUpoa;tOl. a aaber.
I, marido e mulher amlUD-se reciprocamente;
2, pai e mie MWD seus filboa.
Quctooaar eICU prc:AlDÇ6es c:onstilw wera maldita. DII medida cm
que unc4iatameole bavcri ceo.rcou de pessoa promas a defeodcr a
""IJ1lda rom/ha. Cabe. pelo meaos•• pe<pOla: .........poa<oa ......
cionedoI do efetivameotc realizadol DI; famOia? Nua:. paroela UDen-
JUávd de 'amOla', 01 c&tiu&Q ou nunca te amaram ou.ii de:iunm de:
te amar 10rercIaeI v6ri0s. inclusive cooroOrmcoc. levam-oos a mania'
um ....r!IIe:(lto que. do lngWo amoroeo. dcs:morooou. b6 lW1IO 1IICmpO.
O lMU n:J.clooamcnlO de. J*I rdIcu: oeptivamcnte 1M» filhoI.. mais
fonemencc que a~ axljupl. Assim,. a criança pert:ebe. ameia
que nada te lhe.. que .cus pUI Ji""'m situaç6el afe:we.u que, Da
YCf'd8de. ~velam .... 1'1UlICCX". re..eotimeDlO. Ou Jeja. a C1'WIÇII per_
cebe a fallklldc do que lhe ~ dito. Ela vivetf. portanto. DO aúnuno.
o conndo entre o alptado 1M» &eJlOI. olbares e atitudes do .tulto e u
vcrbaJLDÇ(Ic.s desce edulto.
O maor que .. e mie "devem" nulrlr peJoc seus fiJbos men:ce a
maJOr atençIo. A fal*:ta tem inkio com o pressuposro de que toda mie
e IOdo pai amam incoodiciona1n1eOlc todos 0lI teUS filbos c DO mesmo
....u bIo equivale a diz.e.r que, seJUOdo a ideoJogta. aIán de todo pai e
IOda mie .mar IeUS fiJ.boc. amaDHlOs de maoeira uniforme. igualmence
• lodoe:. lCtn oenhuma d'.lnçIo. Como estes do prcceilOl ideol6pco&.
l'WWDeDCC um pai ousa cIcsaC"loa. As mies quase nunca o fazem. DI;
lDIldJda em que o valor da muIbcI- ~ medido. fundamenralmeotc. em
~ de seu dtlempe:nho do .-peJ de mie. Ora. quaDCo mail fOl1C •
idcolopl que J6 coas.ideB reaIiDda • muJ.ber-mle. maior sed a barrei.
l1II ClnoclOOal para promover ruptU.nts com csce sistema de id&a Data
forma. do lWÍSIJIDa as mies que abandonam seus CdboI: lCm unw.
UIlpOI'tance fUlo. QuaolaS • lUpor1am mau.s-uatos do owido por nkJ
podeft;m manter 1Q1inb.s 01 Cllbos e nkJ desejoltClD abancloo'-losl As
muJbcla que ...._ ..... f1lboa alo cxpoalas 1 cxecnoçlo pllblJca.
Ta.mWm do malviatas .. que demoostram pW" mais de um filho que
de OUlro, AlIam.. Cl.m de CWDpI"1r 01 precellC» da ideologia do amor
nwemo. u miei devem frngll'. Todavta. a criança acaba percebendo
que ~ prelCrida em bene.fklo do irmIo, uma vez que • imparcialidade
presente no diJcW'SO da mie tJIo es&i presente em todas as suas alitu-
duo Vez por OUlra. o .tulto se deixa trair pelo gesto. A obsc:rvlÇAo
moatra como a lin,guage;m do corpo~ acompanha • linguagem falada.
quando • pessoa nIo diz o que sente. A criança percebe a Jinauagem
do corpo IOUiIO mais do que o adulto pensa.. A panir diato deaenvol'o'C
distlnlU formas de x re1Kioaar com lUa mie c seu pai. Se ~ prelerlda
em benc.Hcio de um umIo. bu.tell conquistar o 8I0OI' dos pais. Se ~ a
preferida. buJca preservar leU' pnvU~JioI Tal IllUaÇlo gera de..ven-
ças entre lnnIoI. O cbma paieol6J,1CO estabeJecklo por tais~
~ muilO mail propICio ao deaenvolVUDCOlO do ........mor do que do 8I0OI'.
A criaaça buKa o amor de ICUJ pais. Ela deseja ser aa.da. DIU nIo
por obripçio. &lc "amor" por obripçio. dever de oficio de ))IIi e
mie. alo beoeneia a enaoça.. Quanta crl.IDÇa ICIllC o quIo~~~
pela _ ....v\ado dec:_ ele ..... cIea......... _1 GnY>clcz
nIo dcaejada c:ooM:itw um ....vc problema. pMIUC. em aenl. )eva •
mie • rejeilar o filho. PenIa-tc. 8Qui. em FS~ Dia dc:3ejlda cm
razio de dúc:reolCl IDOUVOI.~ • mu.Jhcr te considere hratwa 1**
lCf mie. quer " lenha mwtol fllbol. quer DIa dispoobIi de cood~s
fanancdru .... }evar • cabo • aeaaçIo. a rejeiçio pode escar forte-
menre ptelCote. Talvez. valha • pena resultar um DJOÓVO capecial de
rejeiçlo do filho: • v~ia auu&l é aau\O raro WDI lIulbcl"Cfcsejar
}evar • lenDO WDI pVKlc1 ruuJtante do elWpro. NIo inlcnompe •
JCSIIÇk) quando lSIO nIo lbc , posaím. ma quue sempre deleja
fazb}o. E DIo , fkU para • mie 8IDIt o produto do estUpro. Conludo.
como o amor awcmo. aAUD como o palCtDO. ~ aprendido e DIa maIO.
pode ocorrer de a mu.1bcr aprc:oder • amar o filho que oa.so:u de una
viotlncia IC-Xual
O imponanl.e • reler desIa diJcuuIo 6 que lÚJI&'I6ID DUCC prando
de outru peuou O amor ~ aprendido. A criança apeode a aDa IUII
mie por lei" CSUI a pesaoe que. lhe Atisfe as ncceaJd-dea. A mie
aprcodc • IOIW' da cnança. porque • dctejou. porque • IeDIC~
leu. porque ela 6 fruto de WDll re1açlo de a.mrx ~. Ou a mie ~
ap:eade ..... da criança. potq_ eRa l1R»-lbe. liberdade de sau,
conou lUa ~U1l. 111lpCdc>-a de dormir. relRI1lOU de um aIO de vio-
~ SCJi:uaI Cle.
Tamb6D o amor p&.1IemO ~ .-cndido. Via de ~Jd. o pa.i tem mw.~
mclM» coovMo com 01 fUbOl que. mie. Loao. lCm IllttKXCS oportuIli-
ct.dcs de delenvolver aD:lOt por ele.. Mas. feliz.mc.olC. DI; nwicxia dos
~. 0lI pais amam teUl fllboa. O upo lDliI c:omum de pa.i aproxima-
se da figura d.iJWKC. com quem te pode ler cooWOS cm~ limi-
tadoa ele tempo peJo r.... ele • pea'" acr pouco ctiopoal"" da figuro
~. pois. embora pem:w.nocc.ndo pouco cempo com • cnaraça.
lCm o poder de premi'-la c de eutip..1a. Doia eJemcnros vakxizam esta
fi&ura: o lCt pouco di.ponível c deter. cm d.1lima iDIIIncia. todo o
poder no pequeno mundo da criança. ou seja. • famlJia. AW'COlado
por v*ioI elemeotol, dcnlrC 01 quais 10 dcstac:am 01 meocloDldol e
• valorizaçk) .oelal do macho. O pai UIUIDC. muitas vezes. todoI as
carac:terlJlicu de fi&ura mede.. Puaa • ter o deus da criaoça ou. pelo
mcooa, seu herói. B isto lbc coofae ainda mais poder.
55
comoividade.ex
2.
7
58 59
PR()S11TU1çAo
.5 AFPIOTl. H I. B O pod6do~M. 510 P lo. Moderna. 1987.
to do uti o 183 do Código Civil:
I~=n<k:ntel, ICja o puentesco legítimo ou ilegítimo, D&tunI
u do incesto· co títui fenômeno de enormes~
,inc 've no Brasil. E para transgredir ta
e de qualquer meio. Como ele det&1 grande
oridl.ade SU}:'IeIlIlll da fam1lia, merece a confiança d
itada. que só deseja o "bem" dos
CUIlLStl:ncilll.S, quer O • &dote a abordagem sedutora,
aRrt~'V8 para JDaIl1Cr relações libidino de
fllha. tem pou probab' . de fracasso
. nio que cenas caócias pró-
do amor filial. Ademais, se é o pai que
80 bom e socialmente aprovado, já que O
m ~ mm.10 e outro objeto, isto é, são atacado por
deita Cüria ~~dora. Há uma idéia b tante difundida de que o
alcoolismo co tui da viol~ncia. Rigorosamente, há bome
O álcool como álibi. U pessoa em estado etílico rem sua
cen.ura afrouxacla, o qu ignifica que ela procede gundo
de o com normas sociais. Logo, -o é o álcool
VI 1 Já faz parte intrfnscca da perso _
o é educado para vencer sempre, não
por e utilizados. Demo tmções de fo por-
OOIccswias uele qu foi socializado para r forte em
60 61
I da dominaçlo".
1nT.
u-
62 63
64
II. 1Jlm&. • . 45.
67
c-sedas, as proslJtuW do portadoras desta ideologia. NIo ob6tanle o
e5dlo de vKla que levam, educam., .tra~ de prepostol assaJ..ariados ou
membros da famOia. os filhos segundo os preceitos da mencionada
ideologia: as filhas 110 preparadas para chcgan::m virgeDl ao casa-
mento, enquanto os fllhos do emptlll"lldol para um treinamento sexual
que lhes pemuta ating.ir o casamento detendo ml1ltipk>s coMcc:UDCD-
tOI nesta área. RigOl"Otamente, nada ~ a estranhar ncatIi atitude de
mulheres prostituídas, Aímal, quando foram vitimizadas ICxuaJmente,
perdendo • virgioo.dc, nIo foram eltclufdu da lOCiedade da "genle
de bem"? Ora, a vivbcla da prost.IWta a conduz • uma .sedo amda
mail ftrme aos prlncípiot do F8triarcado, pois ela sofreu na c:ame os
efeitos: do nAo-cumpnmcnto dos preccitot deate sistema de dominaçic).
cxplonçfoo.
Os dlferentes paísca nIo uatam da mesma forma o fen&neno da
prostihÚÇlo. Slo tJf.a os siltemas jurídicos que regem cate fen6meoo.
O proibiclonismo considera crime tanlo • prosth:u.içio quanto a expio-
raç60 comercial do "Xo pai' pane de tereeUO$. ou seja, o knocCruo. Tal
regime jurldico COnstitUI uma segunda forma de apenar a ItIJlhcr. Esta,
que jt sofre a pena que lhe imp6c a pn:dominAncia do mICbo, com 01
pivU~gios que o iscnuun de culpa quando CStupnI ua:. mulher, ainda
recebe a peDI prevista na Iel peJa prüica da prostituiçlo. Delta sone,
tal regime pode ser COOllldcrado mjusto, j' que lUIda faz para abrir
c:aminboI pelos quau: a nwlber poua Iivrar~1C da vltimlnçlo ICxual
ongirWia. nem da prostituiçlo. e ainda lhe 891k:a penu.
O abolicionismo nIo considera crime • prostibJiçlo, mas somente o
~DOC{njO_ Isto ~. 6 passível de processo judicial e coodel\lÇlo a peuoa
que "induzir algu6n a manifestar a lasc(via de outrem", "induzir ou
acrau a1gu6:n I prosU1UJÇio, faciHlá-1a ou ampcdir que al~m a aban-
done", "manter, f'OI' C90la própria ou de terceiro, casa de proItituiçlo
ou lugar destinado a enc;:ontros para fim libidinoso, haja ou nIo intuito
dc lucro ou modieçlo direta do propriet6rio ou gerente", "tirar provei-
to da prostibJiçAo a1bcia. puticipendo d.lretamente de leU' IUClOl ou
faz.endo-se SUStentar, DO todo ou em parte, por quem a exerça", "pr0-
mover ou facilitar a enll'ada, no rerril6rio nacional, de mulher que nele
'I'CllbIi exercer • prostituiçlo, ou • safda de mulher que vt exerc!-la
no csltallgeiro" (respectivamente, artip do Código PcnaJ BruUcâro;
227 - Mediação para servir a lascívia de oub'em; 228 - Favorecimento
da prosUtuiçlo; 229 - Casa de prostibJlçIo; 230 - RufWl.ismo; 231 -
TrtfK:O de o.lIberes).
O regulamt!1lUU'lsmo acentua o estigma da prostitula, DI medida em
que a segrega, poi.s • confma, a fICha, a carimba.. O sistema reguJamen-
tarlSla, como diz o próprio nome, reguJamenla o exercício da prosti-
tuJçIo, clfCunscrevendo-o a zonas delimlt1da5 pelas aulOridades. Cons-
68
titui, na prjticI;, • lega1i7lçAo do lenocínio. Nas zonu dc prostirulç60
estabe1CCem-1C 01 bor<:i6is, oode prostituW t&n leU tftbelbo expiando
pelos proprieWios destas casu de to1er&ncIl., Defensores deste regime
alegam que o c:oofina.mento "limpa" as úea.s utilizAdas pela ",ente
de bem" e que permite o controle da sal1dc du proltituW. SAo equivo-
cados ambos a. argumcnlOJ. O decoro pdbUeo nIo se "limpa" com a
segregaçio de prostibJtaS. N60 6 a I8lkle da prostlluta que preocupa
a sociedade, mas a saddc da "gente de bem" que freqücnta os bar--
dtis. Ainda que fosse possível ter 10l:>% das protUtuW confmadu em
zooas, o que Mo 6 verdadtâroU, seria impossível manter sob controle a
saóde destas mulheres. A multiplicidade dos parceiros sexuais e seu
elevado o11mero tomam a proslJtuta li wna potencial enferma pcrma~
oente. Cada cliente representa uma ameaça de contaminaçlo por alen-
lC5 causadores das mol~sti.a.s sexualmeole lIlUlSmbsíveis. "A re&u~
roeotaçio oficiai da prostiNiçAo transforma-a, de cena manei;"',. num
"serviço de utilidade P'iblica", Os proxencw pasaam a ter.o direito de
explorar comercialmente indefesas mulheres, eDU'e as QUIJS, menores,
retardadas. analfabetas, infelizes de toda a esp6cie. Enfim, o Estado te
tranSforma DO mhimo proxeneta, dificultando o combate ao lenocí~
nio,"l) O confmamento resultante do sistema reguJamelltarista constitui
um preço social excessivamenle alto para se fazer a "limpeza das
ruas", porquanto nas zonas desenvolve-se toda tOne de~; do 0:'-
fico de entorpecentes c de mulheres lOS crimel contra a vld&. AdcmaiI,
o regulamentarismo nio propicia apenas o trtÍlCO I\IlClona1 de mull:le!a.
favOrece taJtb!m o inlemactonal.
Oficialmente. nenhum pari considerado civilizado adoca o regime
regulamenwista, pois são slgnaWios da Corrwnçdo para a nfJ'U'
$do do trdflco de seres humanos • da o:plomçtJo da pro.rriruiçtJo de
oUJr~m. elabomda pela ONU, O 8nlSiI assinou cata ConvençAo cm
1950. Na prilica, conlUdo, nAiO só o Brasil mal também ou~ países
procedem segundo o regime regulamcntarista, confinando proslJbJW e,
ponanto. eliminando definitivamente qualquer chance de~ para
aquelas mulheres e propiciando o deseovolvimento de todo tl~ de con-
travenç&s e crimes que, na maioria das vezes, permanecem unpunes.
A impunldade deriva da ktcologla machista, obviamente, mas aio
apenas dela. A eçkl das aulondadcs no processo de conf~~ de
mulheres prostituídas e seu comprometimento com multas das atiV1da-
des desenvolvidas no teio das zonas de prosubJiçlo favorecem extensa
e profundamente. impumdade, Policiais que se benef.ciam da segre.-
12. e.....RURL.OELAGENEST.H O lAa«Irlo*~60IlOBnuil.RkldeJlnd.
ro.Apr.l960
13 1&tJn,1bItbt. P 121.
69
pçIo de prostituw RIo podem lCr leplmcnte .cuados pclu donu de
bor'dE:is por clea ICIIldas (ex-prwtituUll, que cootimuan I IOfrer a
viol!Dcia muc:ultna) Antes de se vuJumbrar qualquer poIIlbiJidadc de
se apunrem .. rapoosabilidades de &au POliCiaiS, estanam condenadas
.. e,x-pr'OfiUulU por exercício do lenodoio.14
Sem ddvida, o aboliciooumo COOJt1tui o melbor siMema jurídico
J*a se lidar com I prostiruiçlo. l....ameouvdmeote. poráD, na pr6n.
ca, o submundo do crime leva vaotaaeol lObR as forças da ordem.
O suborno e oub'U formas de COrtUpçlo impedem um eficaz. combale
.. lc:Dodnio ~m de desenvolver-se .,...·ocarwtArnrnte JraçaJ ao
canter corrupdveJ de muitas aurorid.adcI coc:arrepdas de c:omba&er cace
fee-">metao, o Ienoc:liUo ainda CDCODb'a fonDlll dufarçadu de tuociooat:
taxi-guts, cu.s DOIUmas, casas de c:6allldos, botlis. Mau modema-
meo.te, O Ieoocfoio florace Ilob o r60JJo de muuaena. u.unu e demais
Mividadel do aeocro. EU p:xque, a rip. llÓ Wstc proItIfUiçIo popu--
'-. pnrlcoda pc>< muIJler<& polfts. A pnlOlitWçIo~ ....
OW'OI DOCDCI e com da, graçu • sua diIcnçIo e boa educaçlo. alOClC-
dmc convive pcific:a,meotc, alo exiamdo seu confinarrcnto. Nilo t,
portanto, a proIlitwçlo que i:Dcc:Jmocs.; , lUa forma manife8ta de c.x.iaur.
Ora, a proetabliçlo de alio 00CW'1l0 mamím.ac lOb formasrcqu.i.nta-
das. com .. quais a lOciedade conVIve perfettamel:lte bem. A proIIli-
núçIo popular, I pr<*ituiçlo popriameote dita,. entretanto. assume
formu que a lOcicdade aio toleta. UIM vez. que esta t a.beI1a, lmOlÍcs-
" caeancarada, sua preaeuça IOr'na-se UX'&" di... medida em que
lembra .. ''bomens de bem" que • _ "'" CClOl<SpOlldc • kIooIosio
que I rettata coa:o harm6oica, intep1lda, coesa. A PrcKnÇa da prostt_
twçIo lembra pctml.llCDtel:D que mulheres e criaoças alo dominadl'
por homem. que a liberdade dcstca te constr6i pw;u • lUje.tçAo <lu
primeiras e que, aet:1a fOC'icdade petriarcaI. a vioIencia. incJusivc a
sexual, alo 0CIf1"C 80Ita apeou nu ruu. mu reside DO leio da famffia.
Se I famOia correspondesse ao modelo que a ideolopa apre... exis-
tir, RIo haYlCril vfol~ncia dotnlsdcI sllteml1ka, isto to como DOI1DL
E, a>mo .i' oe YCtiIicou•• 00_10 0CJWaI........ pom do quoJ ....
lupr DO interior da &moia, functooa com:> o priDclpio de um pnx:euo
de pr'OItItuiçlo ou, quaodo a pdbere ou adoletceotc engraVIda, fuodo-
na como fator de cJtC.lualo do grupo famillar, com um pRCÍIO vetor em
70
dlreçIo • zona. Embora o aacOlC da viollncia sexual oriain'ria poua
lCt um adoIe3cente. a Itl.cratur-. tobrc Vltimjuçio de pdbcres e ado.
cemca: mu1bctcI relJ.'ll'l maKN' lDCidm::aa de~ adullOa. O lido--
I ente rende I abusar JC.ltua1mcote mai.t do memoas, embora taIrJIXm
aqui o adulto predomine. Talvez este fenOmeno se explique pelo falo
de que adolesceoteJ do ICXO mucuUno participam. de josoa 1eXu&iJ
entre si. auat.ndo para leU cfrcuJo mc.D.1OOI menores, literalmente utlli-
zadoI peaot maiores Nilo se tnlta de bomouexualisrno, a.s do UIO
de outtoI~ a fim de satisfazer cenas nc:ceuidades de ordem
1CXl.W. Rigoroumcoto, 01 mcnmo. tel"Y'em--se uns aos outrw como
o oriffcao do tronco da banaoeirt. '**'~ Joat Lins do ReJO.
Em M~nino de eJ16tNto. CIte autor" rc1Ma a i.nicWçio sexual de I.D
proto que, premido por crcç6es, faz um bwKo DO tronco de uma
banmeira J*a lUas ejacullÇ6cl:. Obviamcrue, I questio torDIl-IC mau
~lIiI quando IC trata de .toksceotes USIOdo meni..... muito men0-
res. Mfm das COOJCql1l:Dc:aas delelbias que C$le faoOonlQ pode tnzer
~ o proto menor, confapa-se. nitidamente. um abuso do Ildoie.f.
cente cm relaçlo a uma cnança. E esta. quer seja do sexo macullDo.
quer te,. do sexo feminino. deve lCr Pf'l*psa de ataqUCa sexuais de
-.:os de quoJqucr Idodc
25 PROSTITUIçAO DE MENORES
~ impoa/vel cuminar esta terfsaimA queItIo da ex~
sexual de c::ri.Inças sem fornecer o pbO de fundo. o amte.xto~
cultural c politico cm que ela flor'esce. Dc:tta forma,~ que o
leitor recebeu, nu P'&inU anlCrioru dc$te artiao. iof.. ..-ç:6ca 1U1i.
aeoleJ pca lhe pemutir a formaçlo de t.IIM id6:ia mais ou meDOI data
do tipo de sociedade c de fam1lia cm que YiceJ&ID a pomopú1a com
utiJiz.açIo de crianças e I prostituiçlo propriamtntc dita de IDCOOC'ea.
O Código avu e o C6diao de Menores exilem que os respooávds
pelo me.oor prcItem-lhc Isslllbx:ia material. inldcc:tual e monJ.
O Código Penal capitula aJaM) crlmu COI#'JlTtJ a as:sistbtda~/ÚIr
IÇÕCI de pais com relaçlo I rtJhoa. dentre outrol coqKllumeOlOl entre
fomili.uol. T..w-....'. oquI. de 018'"" ortlao< do C6cfigo PeooI per-
tinentes ao assunto dcIIe tnba1ho. O artiao 24$ preve pena J*a 1*
ou mie que "COb"Cpt filho meooc de dezoito I0OI I peuoI. com I
qual aaiba ou deva ubc:r que faca moral ou ma&erialmeDtc em pcrilO".
NI mesma linha da pnwençlo da inlrOduçlo do menor em meiQl I cic
moralmente .maI~fkoI, o artigo 246 quailllca como crime a açlo de
"permitir al~ que menor de dezoito I0OI, IUjeilO a seu poder ou
cocúiado a sua guarda ou Yip1lnc....:
7.
, I E80ClIllJO
lo ou de o cn
i n za;
(...)".
mal-nflUltllKta, iU COOVlV com1-
11-
72 73
7S
obf1l c1tldl. p. 52.JimColJamp. Lo2.5. Oepolmllr:110 da Drt Dó
c:erveja,"2.5
1
7 71
lescentes sejam mole tadas; mas criancinhas? Isso é ab urdo demais',
insiste um médico da polícia que, no caso de Oeveland, colocou-se
contra a Dr! Higgs."31
Neste longo excerto encontram-se vário problemas. Um deles diz
respeito à exploração comercial dos serviço sexuais prestados por
crianças. Ademais, nesta matéria transcrita, aparece fenômeno raramen-
te relatado, qual seja, a exploração sexual de meninos. Não se trata,
neste caso, de mera pedofilia dos d z homens detidos. Trata-se de sua
ação de exploraçAo comercial dos garoto , a fun de atender a pedofilia
de outros. Como se tratava de 144 garotos, imagina-se o nÓ.IDero de
pedófilos que deles se serviam. O abuso sexual de crianças no seio da
famfiia apresenta volume ustador, como revelam as notícias forneci-
das pelo jornal aqui utilizado. O caso dos be~ pode ser considerado
um problema crucial, sobretudo quando a notícia vem sob a forma de
testemunho de uma pediatra. O deslocamento da 6tica de análise da
assi tente social revela quão significativas podem ser as mudanças em
um profissional que, confrontando a realidade, percebe que empurrou
as crianças para o covil. A reação do médico da polícia é paradigmáti-
ca: representa a opinião das autoridades e de toda a "gente de bem"
que prima pelo moralismo, sem ter nenhuma moralidade. Esta atitude
por parte da maioria dos adultos - a incredulidade - inibe a quase tota-
lidade das iniciativas das crianças no sentido da denWlcia de seus
agressores. Desta sorte, a incredulidade - verdadeira ou pretensa - dos
adulto obriga a criança a se tomar cómplice de seu agressor. E a partir
do estabelecimento da cumplicidade aparecem a vergonha, a depressão,
a de truição da uto-estima. Do abuso sexual de crianças em família à
prostituição não há senão um pequeno passo. Já que o agressor não é
movido pela atraçio sexual quando vitimiza crianças, e muito menos
pelo amor, mas sim pelo poder de que desfruta face aos menores, pode
se transformar no empresário da exploração sexual de suas vítimas.
Ainda que isto não ocona. a criança sexualmente vitimizada passa
a ser portadora de algumas condições para se submeter à prostituição.
O aniquilamento da auto-estima, o sentimento de que ela só pode ser
amada, ou pelo meno notada, obedecer às ordens do adulto, ac~
plicidade que foi obrigada a desenvolver tornam a criança pro tituíve1.
Isto é, o adulto desenvolve na criança nlimentos que impedem ou, DO
mínimo, dificultam uma atitude de desafio, caminhando na direção da
denWlcia do agre soro A criança é, pois, física e emocionalmente inde-
fesa. Sua depend!ncia, nos dois campos, em relação ao adulto, toma-a
presa fácil das ambições, de vários gêneros, do agressor.
Em O grito de milh&s de escravas (citado na DOta 26), o autor for-
31. JomaI doBrruíI, 06-12-87.
78
nece amplo material para a con tatação de que a vitimização sexual
de crianças prepara-as para a prostituição. Transcrevem-se, a seguir,
alguns depoimentos de pro titutas sobre o abu s sexuais que sofre-
ram na infância.
"Eu me perdi por causa da minha mãe e do meu padrasto, não foi
porque eu quis. Um dia, meu padrasto quis fazer mal pra mim. Eu gri-
tei. Minha mãe chegou, mas não acreditou em mim. Começou a me
maltratar. Meu padrasto continuou me pe guindo. (...) Meu padrasto
sempre queria fazer mal pra mim e me chamava de "biscate'. de ·puta'.
Dizia que eu não era mais virgem e me maltratava até convencer minha
mãe a me expulsar de casa. Ela pegou minha roupa e me jogou porta
afora. C..) Eu passei a dormir nos banheiros públicos e atrás das c0ns-
trUÇões, até que um dia uma colega me convidou e fui pra zona com
onze ano de idade." (pp. 21-22)
"Quando eu era criança, faltou carinho pra mim. Com oito anos
de idade, eu já trabalhava. Um dia. a patroa me mandou fazer uma
compra. Já eram quase 7 horas da noite. Na frente da quitanda tinha
uma casa abandonada com um quintal cheio de frotas. Pedi uma para o
homem que estava lá. Ele me fez entrar e eu não vi mais nada. Acordei
ensangüentada. Saí para fora, tive tontura e encostei numa árvore. C..)
Fiquei revoltada porque não era mais moça. C,,) Nunca tive namorado.
Com 13 anos comecei a vida." (pp. 28-29)
"Vou começar falando do meu primeiro caso.

Outros materiais