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Educare Pedagogia Magda Oswald tvd Obrigada pelo feed felizes• Ali Tarqualo o, T.tlYla M�la Super rocomondo CI), Ver 1 rt!$post.1 anterior" __ _ Ev fiz osso curso e gostei bastante 1 m Curtrr Ro•pond&r Educare Ped.-gogla Alê Torquato mui10 obrigado pelo feédback. https://sun.eduzz.com/904558?utm_source=dentro-apostila Sumário Apresentação .......................................................................... 9 CAPÍTULO I ........................................................................... 15 Princípios neuropsicológicos ........................................... 15 Introdução .............................................................................. 15 Ciência e Tecnologia ........................................................... 15 Para pôr em prática ............................................................. 19 O cérebro e os neurônios .................................................. 20 Para pôr em prática ............................................................. 21 Alguns princípios da neurociência ................................. 21 O cérebro e a velocidade ................................................... 23 O cérebro e a tecnologia de aprendizagem .................. 25 Para pôr em prática ............................................................. 31 Princípios Neuropedagógicos da aprendizagem ........ 32 Fundamentos Didáticos (do livro A Didática Necessária) ............................................................................ 43 Princípios da didática ......................................................... 55 Motivos que levam uma pessoa a agir ........................... 75 O que faz o aluno gostar de estudar? ............................ 80 Por que o professor não deve motivar os alunos?..... 83 Fontes de incentivo ............................................................. 84 Síntese ..................................................................................... 88 Saiba mais .............................................................................. 89 CAPÍTULO II ........................................................................... 90 Neurociências, neuroeducação e neuropedagogia..... 90 Introdução .............................................................................. 90 Neurociências ........................................................................ 91 Para pôr em prática .............................................................. 97 Neurociência e neuroeducação – reflexões necessárias ............................................................................ 98 Neuropedagogia ................................................................. 106 Para pôr em prática ............................................................ 112 Neuroeducação ................................................................... 112 Importância da neuroeducação: cérebros em plena ação ........................................................................................ 116 Neurociência: um novo olhar educacional .................. 118 Por dentro do cérebro ....................................................... 132 Neurociência cognitiva e a nossa realidade ............... 135 Para pôr em prática ............................................................ 140 A escola sem significado ................................................. 141 Escolas preparam futuros desempregados ................ 148 Emoções, sentimento, afeto ............................................ 150 O papel pedagógico dos neurônios-espelho .............. 153 O cérebro e o processo de aprendizagem em rede .. 155 Emoções ............................................................................... 160 Para pôr em prática ........................................................... 166 O cérebro e a linguagem .................................................. 166 Síntese .................................................................................. 170 Saiba mais ............................................................................ 171 CAPÍTULO III ....................................................................... 172 Neurodidática ...................................................................... 172 Introdução ............................................................................ 172 Fundamentos da didática ................................................ 177 Filosofia da educação ....................................................... 178 Diageutico das necessidades de cada aluno ............. 189 Currículo ............................................................................... 193 Formas de elaboração de currículo .............................. 194 Currículo centrado na aprendizagem significativa ... 208 Métodos e técnicas de aprendizagem .......................... 214 Métodos e técnicas socializados ................................... 235 Os métodos socioindividualizados ............................... 240 A tecnologia na educação ............................................... 269 Tecnologia aplicada à educação ................................... 273 A integração da internet na aprendizagem: o presente e o futuro do ensino .......................................................... 277 O método Salman Khan e a rede .................................... 279 Aula de ponta-cabeça ........................................................ 280 A neuroeducação e a EaD ................................................ 283 Avaliação da aprendizagem ............................................. 287 Formas e instrumentos de avaliação ............................ 289 Metodologia ......................................................................... 293 Síntese ................................................................................... 298 Saiba mais ............................................................................ 299 Considerações finais ......................................................... 300 Referências .......................................................................... 301 9 Apresentação Você já tem bastante conhecimento sobre a Neurociência, relacionado à anatomia do cérebro, às funções de cada uma de suas partes, os distúrbios neurológicos e cognitivos e a outros. Neste livro, vamos aprender como aproveitar esses fundamentos na prática e no fazer acontecer para que a pessoa se eduque e aprenda. Não vamos estudar o que cada parte do cérebro faz, mas fazer com que as partes se integrem no processo de aprender. Quais estímulos e como apresentá-los para que o cérebro seja ativado e acelerado. Antes da neurociência, pais e professores tinham como fundamentos para educar a Psicologia, a Biologia, a Didática e a Metodologia. O objeto de pesquisa era o comportamento das crianças e dos aprendizes. Com a tecnologia, tomografia computadorizada, podemos ver o cérebro funcionando em tempo real. A cor e a intensidade das imagens nos indicam o grau de atenção e o 10 envolvimento do cérebro em relação ao estímulo apresentado. Podemos comparar o cérebro com uma fogueira. Quanto mais lenha maior será o fogo. Mas não basta ser só lenha. Se eu amontoarmos os paus de lenha e riscarmos um palito de fósforo, não haverá fogo. Primeiramente é necessário pegar palha e gravetos que é material mais suscetível a aquecimento. Por quê? Porque o fogo precisa de oxigênio. Entre a palha e os gravetos, o oxigênio está bem próximo do palito. O fogo iniciado aquece os paus grossos para que possam ajudar na combustão provocando um fogo mais duradouro. Também não adianta amontoar os paus em linhahorizontal. É necessário cruzá-los ou colocá-los de forma a ficarem próximos uns dos outros para entrar facilmente o oxigênio. Por que próximos? Para um ajudar o outro no calor, o fogo tem que ser colocado embaixo do monte de lenha. Isso é necessário para atender ao princípio da Física: o frio desce e o calor sobe. Subindo ele vai soltando gás 11 quente para esquentar os paus que estão acima e aumentar o fogo mais rapidamente. O exemplo acima pode ser comparado à educação bancária. Hoje, o professor vai jogando lenha (informações) no cérebro do aprendiz, de forma linear (em linha horizontal), sem se importar se o aluno já tem palha, gravetos e oxigênio (pré-requisitos: experiências anteriores) para entender essas informações, para que a aprendizagem tenha algum significado para o aluno. Por essa razão, o livro foi elaborado com linguagem simples, com visão pragmática, contextualizando e integrando os fundamentos da educação, currículo, métodos, técnicas e tecnologia da educação. Boa parte deste livro foi extraída do livro “A Didática Necessária”, de minha autoria, publicado pela editora IBRASA, em 1992. A segunda edição está online, gratuitamente. Naquela época, os princípios que fundamentavam a Didática vinham da Biologia, da Psicologia e da Pedagogia. Quase todos esses princípios foram confirmados recentemente pelas 12 neurociências, em suas mais variadas subdivisões: neuroeducação, neuropedagogia, neurodidática, neurometodologia, neuropsicoplogia, neurolinguística. As neurociências trouxeram mais segurança em termos de conclusões científicas para aplicação em várias discussões: nas emoções, no currículo, nas diferenças individuais, no comportamento das pessoas e no relacionamento humano. De pouco adianta conhecer a teoria da neuropedagogia e da neurodidática, se não aprendermos como aplicar os princípios produzidos por elas. Daí a razão de serem apresentados vários exemplos práticos, que são de fácil aplicação. Espero que os conteúdos apresentados cumpram seu papel de provocar interesse pelo aprofundamento destas ciências, que ainda está engatinhando em suas descobertas, mas que nos fascinam cada vez mais com as possibilidades que se avistam, rumo ao avanço das pesquisas científicas que se vislumbram e que se pretende que contribuam 13 para a melhoria da educação e da vida e de todo ser humano. É essencial que você compreenda diferentes temas que aqui serão abordados. Para mais fácil compreensão e aproveitamento do livro, fiz subdivisões por assunto. Nos Capítulos II e III, que tratam especificamente de Neuropedagogia e Neurodidática, não fiz separações, pois o cérebro é unitário, uma vez que, no processo de aprendizagem, todas as partes do cérebro trabalham de forma integrada. Além disso, quando os textos sobre o mesmo assunto estão próximos, é mais fácil compreendê-los. Nestes dois capítulos, fiz muitas citações de cientistas. Porque eu teria que interpretar e reescrever, o que os especialistas já escreveram? Os itens extraídos do livro “A didática necessária” são os seguintes: 1.7 a 1.9.1; 1.9.3 a 1.9.5.5; 3.4 a 3.4.2.3; 3.4.2.4 a 3.13.4.2; e 3.14 a 3.14.4. Esses itens foram revisados e atualizados, com alguns acréscimos. Fiz, apenas, seleção e catalogação de parágrafos e textos sobre cada 14 assunto. A ciência evolui tão rapidamente, que um livro escrito por mim, se torna obsoleto em pouco tempo. O papel do professor é se atualizar continuamente, para selecionar o que existe de mais atual e conhecer os diversos suportes para divulgar as novidades. A ciência é o caminho para quem almeja a transformação. 15 CAPÍTULO I Princípios neuropsicológicos Introdução Cada vez mais, a sociedade requer habilidades que somente a educação formal pode desenvolver, contudo, ainda temos muito a caminhar no processo educacional formal, uma vez que seus mecanismos estão fundamentados na educação tradicional. Neste capítulo, vamos discorrer sobre as teorias que podem auxiliar na transformação dessa formação. Vamos lá? Ciência e Tecnologia A ciência é produzida por meio de pesquisas rigorosamente planejadas passíveis de comprovação mediante repetição. 16 A ciência teve uma longa caminhada para chegar ao estágio atual. As pesquisas científicas apresentam suas conclusões em teorias. Das teorias, podemos extrair princípios. Princípio é o resumo do que pode ser concluído e aproveitado das pesquisas científicas e das teorias para utilizar na vida prática. Tecnologia é a aplicação de princípios científicos para a execução mais eficiente de técnicas, procedimentos e estratégias para obtenção de maior eficácia nos resultados de qualquer ação. O homem, no decorrer da história, descobriu uma imensidade de princípios. Graças a eles, alcançamos o conforto que temos hoje. O homem, que existe há mais de quatro milhões de anos, foi descobrindo novas formas de comunicação. Inicialmente, as inscrições de imagens eram feitas em rochas; posteriormente, ele utilizou pele de animais e fogo para escrever. Recentemente, inventou-se o papel jornal, bastante poroso. Há menos tempo, descobriu-se uma 17 cola especial para tornar o papel bem fino e liso, comumente utilizado por revistas e livros. As pesquisas geraram teorias. Das teorias saíram os princípios. Com o conhecimento e aplicação dos princípios consegue-se descobrir e criar tecnologia. Dentre as que revolucionaram o mundo temos a descoberta da eletricidade, do telégrafo, do rádio, da TV, do computador, da eletrônica, suportes os mais diversos (CD, do DVD, pen drive, chips), controle remoto, Internet, robôs, microscópios, satélite, naves espaciais e muitas outras coisas. Temos, hoje, até tecnologia que gera ciência; exemplo disso é a tomografia computadorizada que gera as neurociências. Tudo isso nos assusta, mas aconteceu, está em constante expansão e muito ainda virá. Mas, o que deve assustar mesmo é o nosso desconhecimento sobre o cérebro e o desconhecimento sobre como utilizá-lo corretamente. Precisamos, portanto, 18 conhecer profundamente sobre a ciências que tratam do cérebro. A ciência vai descobrindo novos princípios que, quando aplicados para o benefício do homem, transformam-se em tecnologia. Com o acúmulo das descobertas científicas e aplicações de princípios de física, química, eletricidade, eletrônica, é possível, hoje, produzir imagens de raios-X, ultrassom e ressonância magnética do cérebro. Esta evolução da ciência e da tecnologia tem potencializado as investigações sobre o cérebro e, consequentemente, sobre a educação. 19 Para pôr em prática Leia mais sobre esse conteúdo: HOMERO, Vilma. Neurociências: uma contribuição para a educação. Disponível em: http://www.faperj.br/boletim_interna.phtml?obj_id=8298 LEITE, Suely de Fátima Brito de Souza Calabri. Neurociência: Um novo olhar educacional. Disponível em: http://neuropsicopedagogianasaladeaula.blogspot.com.br/2012/09/ne urociencia-um-novo-olhar-educacional.html> OLIVEIRA, Tory. Por dentro do cérebro. Disponível em: http://www.cartacapital.com.br/carta-fundamental-arquivo/por-dentro- do-cerebro SABBATINI, Renato. Neuroeducação. In: Uma ponte entre a neurociência e a educação. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Neuroeduca%C3%A7%C3%A3o SILVA, Divina Salvador. A importância da Tecnologia na Educação. Disponível em: http://portal.sipeb.com.br/wp- content/uploads/2010/08/Artigo_004_A-Import%C3%A2ncia-da- Tecnologia-da-Educa%C3%A7%C3%A3o_Profa-Divina-Salvador- Silva.pdf 20 O cérebro e os neurônios Os neurônios são pequenas células nervosas que compõem o cérebro e o resto do sistema. O neurônio é a estrutura básica do sistema nervoso. O cérebro humano possui cerca de 10 a 100 bilhões de neurônios. Milharesde neurônios entram em contato com outros pelas sinapses. O número de conexões entre eles pode variar de 100 trilhões a 1quatrilhão. Essas conexões são feitas e ampliadas pela estimulação do cérebro, pelas atividades e pela educação. Até pouco tempo, as pesquisas sobre o que acontecia na mente eram feitas pela manifestação do comportamento das pessoas. A Psicologia chegou aos princípios da aprendizagem, observando o que emanava da mente pela fala, pelos hábitos e pelas atitudes. Hoje, temos comprovação de muitas das teorias e princípios da Psicologia por meio da tomografia computadorizada, que mostra a atividade do cérebro de forma animada, que são gravadas. Muitas pesquisas foram feitas, colocando as pessoas 21 em diferentes situações de aprendizagem e desenvolvimento. Para pôr em prática Alguns princípios da neurociência O cérebro tem alta plasticidade: capacidade de mudança. Os fatores de saúde do cérebro são: “os pensamentos, as emoções e os atos”. As funções do cérebro são construídas e ampliadas pelo exercício, Leia mais sobre esse conteúdo: ALVES, Eliane. O que é Neuropedagogia e qual seu reflexo na educação? Disponível em: http://educaneuro.blogspot.com/2010/04/o-que-e-neuropedagogia- e-qual-seu.html INSTITUTO CONSCIÊNCIA. Neuropedagogia: entenda como o “cérebro aprende”. Disponível em: http://www.institutoconscienciago.com.br/blog/neuropedagogia- entendo-como-o-cerebro-aprende/ http://educaneuro.blogspot.com/2010/04/o-que-e-neuropedagogia-e-qual-seu.html http://educaneuro.blogspot.com/2010/04/o-que-e-neuropedagogia-e-qual-seu.html http://www.institutoconscienciago.com.br/blog/neuropedagogia-entendo-como-o-cerebro-aprende/ http://www.institutoconscienciago.com.br/blog/neuropedagogia-entendo-como-o-cerebro-aprende/ 22 que ativa neurônios e fortalece conexões. É importante construir “representações mentais sofisticadas para manter o acesso a informações relevantes” e raciocínio extenso e flexível (RESTAK, 2006). Para a máxima eficiência, na aprendizagem, é necessário concentração absoluta, esquecendo todo o resto. É necessário, também, trabalhar os aspectos ou pontos mais fracos da aprendizagem do aluno. Praticar o que se faz bem dá prazer, mas não progresso. É preciso concentrar-se na tarefa, e não no ego; no difícil e no complexo e não repetir o fácil. Grandes façanhas requerem pelo menos dez anos de treinamento intensivo. Qualquer pessoa pode alcançar prodígios, mesmo os medíocres. O pesquisador Ericsson (RESTAK, 2006), concluiu que, para chegar ao nível de desempenho de gênio em menos de 10 anos, “a chave é aumentar o controle sobre cada componente do desempenho”. Os melhores têm intensa capacidade de concentração, 23 assim têm mais consciência de vários componentes. Por percebê-los, tornam-se mais detalhistas. O treino na infância, de 3 a 5 anos, é fundamental para formar o músico, mas essa idade vale para todas as atividades. Não é o talento herdado que faz o sucesso, mas a disposição para fazer horas de exercício. Thomas Edison dizia: “a genialidade é 99% transpiração e 1% inspiração”. O cérebro, quando executa grande atividade, aumenta o vermelho e o laranja na imagem codificada por cores na tomografia. Quando a atividade é menor, aparecem as cores verde e azul. O cérebro e a velocidade A tecnologia nos empurra para ter velocidade em toda parte: na produção de nossos conhecimentos, em ter que aprender, na inovação, na competitividade, nas imagens e na produção de novas tecnologias de mídia para dar informações. 24 Para isso é necessário um novo cérebro. Um cérebro que seja capaz de dar conta dessa velocidade aqui e em outro lugar, de rever o passado em imagens e vislumbrar o futuro. O mundo empurra-nos a fazer várias coisas ao mesmo tempo. Mudar de tarefa exige alterações no processo cerebral; exige mudanças de objetivo e ativação de novas regras de funcionamento em locais diferentes do cérebro. Isso provoca perda de tempo, menos eficiência e estresse. Mudar de tarefa pode ser até perigoso. Usar o celular ao dirigir é um exemplo, pois a distração reduz a eficiência. Por que isso? Porque o cérebro só consegue trabalhar uma coisa de cada vez. A sua eficiência é máxima, quando se dedica a uma única tarefa e em períodos contínuos. A tecnologia e as neurociências oferecem-nos os alertas, mas a realidade nos leva a outros rumos. 25 O cérebro e a tecnologia de aprendizagem A neurociência, em suas ramificações em neuroeducação, neuropedagogia, neurodidática, neurometodologia, neurolinguística, entre outras, tem muitas aplicações na aprendizagem, as quais, também, podem ser chamadas de tecnologia educacional e tecnologia da aprendizagem. Vejamos alguns exemplos da sua aplicação. Os técnicos em informática têm dificuldade em se tornar educadores. Por quê? Porque utilizaram muitos de seus neurônios de reserva para produzir conexões na área de informática. Passaram muito tempo pensando e se preocupando apenas com uma área do conhecimento. Em decorrência disso, foi utilizada, predominantemente, apenas uma parte e uma função do cérebro. A maioria dos artistas morre pobre, pelas mesmas razões mencionadas anteriormente. A preocupação central deles era o desempenho na 26 profissão, na arte. Não produziram estruturas mentais para saber se organizar na vida. “Dize-me o que lês e eu te direi quem és”. Quem lê muito sobre um determinado assunto tende a ser competente naquilo. Suas emoções estão voltadas àquilo. Suas conexões neurônicas formam uma sólida rede de conhecimentos sobre uma referida área, envolvendo conhecimentos, emoções e aplicação. “Dize-me o que assistes e eu te direi quem és”. Se você, e mais ainda uma criança ou adolescente, assistir a filmes de violência, pode desenvolver comportamentos violentos. Se assiste a filmes românticos, você é ou se torna mais romântico, assim por diante. Filmes “paz e amor”, pornográficos, de corrupção, de roubo, policiais etc., estruturam o cérebro com atitudes e comportamentos correspondentes. Li em jornal, tempos atrás, que, na Argentina, um senhor idoso, com visão fraca, pediu a um auxiliar da biblioteca que fosse a sua casa, à noite, para ler 27 livros para ele. Por muitos anos, o auxiliar fez isso, cerca de duas vezes por dia. Tornou-se embaixador e é um dos escritores mais importantes do mundo. Infelizmente, não me lembro o nome dele. Um pensador disse certa vez: ”Tenho medo de um homem de um livro só”, ou seja, de um homem que lê apenas um mesmo assunto. Por quê? Porque ele só conhece aquilo. Utilizou seus neurônios para construir e reconstruir sempre ideias iguais e semelhantes. Pessoas que construíram seu cérebro assim têm dificuldade de compreender e aceitar ideias diferentes, de inovar. Diz-se que têm mente fechada. Normalmente são radicais. As pessoas que leem muito sobre um mesmo assunto, uma mesma teoria e linha de pensamento se tornam fanáticas. E suas posições, frente à sociedade, são ideológicas. O perigo é maior, quando assumem o poder, pois são autoritárias. Podem, inclusive, impor sua ideologia para a população governada, pois desconhecem outras alternativas. 28 A TV, que mostra diariamente em seus noticiários morte, violência, sangue, corrupção, constrói uma mente trágica, sem esperança, insensível. A TV poderia colocar em 2/3 de sua programação fatos positivos, boas coisas que foram feitas, entusiasmo e otimismo. A TV e os filmes têm enorme poder de modelagem. O que é bom constrói, e o que é ruim destrói. Assim, as pessoas vão construindo seu cérebro e, como decorrência, seu caráter e personalidade. Se examinarmos, por exemplo, alguns programas infantis, poderemos concluir que a criança vai construir um cérebro repleto de futilidades. É preciso que os pais saibam escolherprogramas construtivos para os filhos assistirem. A gravidez na adolescência também é decorrente de modelagem de filmes e novelas. Cenas de estimulação de namoro e sexo levam a isso. Existem, também, outras formas de construção do cérebro. 29 A fofoqueira construiu um cérebro a partir dos primeiros estímulos de reforço que teve. Contou uma fofoca para vizinha. A vizinha gostou e achou graça. E ela se sentiu importante. No dia seguinte, contou a outras. Assim continuou, até ser conhecida como tal. Assim, pode ser construído um cérebro de futilidades, de raiva e de ódio, de alcoolismo, de delinquência, de violência, de agressividade e de outras infinitas possibilidades. Avô rico, pai nobre, filho pobre. O pai trabalhando 12 horas por dia. O filho, recebendo seu dinheirinho “pra gandaia”, dormindo até duas horas da tarde. Não se sente valorizado, não recebe atenção e amor, não tem obrigações. Não constrói cérebro para a responsabilidade, para o trabalho, para pensar e administrar. Além disso, seus neurônios vão morrendo, por falta de uso. Vai torrar o que o avô e o pai construíram, pois não sabe fazer outra coisa. Precisamos, para nós mesmos, para nossos filhos e alunos, criar ambientes saudáveis, de alta estimulação cerebral para emoções positivas, que 30 aumentem nossa autoestima, nossa alegria, satisfação, vontade de ajudar, de servir e de melhorar a nossa comcapítulo, o país e o mundo. Mas, lembre-se, a aula expositiva ativa minimamente o cérebro. Ao contrário de outras atividades, estratégias e meios, tais como: leituras, pesquisas, projetos, discussão, solução de problemas, Internet, filmes, documentários. Sem a ativação do cérebro ou sem malhação cerebral, não há aprendizagem. Nesta parte introdutória, foram apresentados alguns princípios neuropedagógicos, com exemplos. Estes são a base para refletirmos sobre as nossas ações educativas e os processos de aprendizagem. 31 Para pôr em prática Leia mais sobre esse conteúdo: D’ECA, Teresa Almeida. A integração da internet na aprendizagem. In: Net aprendizagem: a internet na educação. Porto: porto Editora, 1998. p. 57 e 58. SENGUPTA, Somini. Trad. MIGLIACCI, Paulo. Professor popular pelo YouTube inspira negócio de cursos on-line. IN: Jornal NEW YORK TIMES. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/13436-professor- popular-pelo-youtube-inspira-negocio-de-cursos-on- line.shtml. SILVA, Divina Salvador. A importância da Tecnologia na Educação. Disponível em: http://portal.sipeb.com.br/wp- content/uploads/2010/08/Artigo_004_A-Import%C3%A2ncia- da-Tecnologia-da-Educa%C3%A7%C3%A3o_Profa-Divina- Salvador-Silva.pdf. http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/13436-professor-popular-pelo-youtube-inspira-negocio-de-cursos-on-line.shtml http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/13436-professor-popular-pelo-youtube-inspira-negocio-de-cursos-on-line.shtml http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/13436-professor-popular-pelo-youtube-inspira-negocio-de-cursos-on-line.shtml http://portal.sipeb.com.br/wp-content/uploads/2010/08/Artigo_004_A-Import%C3%A2ncia-da-Tecnologia-da-Educa%C3%A7%C3%A3o_Profa-Divina-Salvador-Silva.pdf http://portal.sipeb.com.br/wp-content/uploads/2010/08/Artigo_004_A-Import%C3%A2ncia-da-Tecnologia-da-Educa%C3%A7%C3%A3o_Profa-Divina-Salvador-Silva.pdf http://portal.sipeb.com.br/wp-content/uploads/2010/08/Artigo_004_A-Import%C3%A2ncia-da-Tecnologia-da-Educa%C3%A7%C3%A3o_Profa-Divina-Salvador-Silva.pdf http://portal.sipeb.com.br/wp-content/uploads/2010/08/Artigo_004_A-Import%C3%A2ncia-da-Tecnologia-da-Educa%C3%A7%C3%A3o_Profa-Divina-Salvador-Silva.pdf 32 Princípios Neuropedagógicos da aprendizagem Por princípio da aprendizagem entende-se uma regra, um enunciado sintético decorrente de pesquisa ou teoria sobre aprendizagem. São pressupostos que, se forem seguidos, tornarão a educação mais eficaz. Os princípios abaixo foram selecionados e classificados para qualquer situação de aprendizagem. Primeiramente, os objetivos são relacionados e classificados por categoria. Em seguida, há uma breve explicação de como os mesmos podem ser aplicados no processo de educação e na aprendizagem. Vejamos os objetivos mais relevantes para o trabalho que propomos: Princípios relativos ao agente e sua ação O agente da aprendizagem é o aluno (e não o professor). O aluno deve estar em atividade para aprender. Os conceitos se formam pela ação – pelo fazer. 33 A inteligência da criança se forma pela ação. A inteligência da criança se desenvolve ao organizar o real. É a atividade que leva à reflexão. A pessoa tem sede de descobrir, de conhecer, de resolver os problemas. Toda pessoa é curiosa, tem sede de saber. É a ação do aluno que provoca o raciocínio. Nunca se aprende uma coisa só. É a dificuldade que provoca o pensamento e a ação. A atividade intelectual aparece e se desenvolve quando há um fim a atingir. O esforço é proporcional aos motivos que impulsionam o aluno. Antes de começar a aprender, o aluno deve querer aprender. O homem é movido pela emoção e vontade. 34 Aplicação Sendo o aluno o agente da aprendizagem, é ele que precisa fazer esforço. São suas ações, seu interesse, sua vontade que o levam a aprender. É por essa razão que o material impresso contém orientações de estudo que propõe atividades, ações para o aluno executar, física ou apenas mentalmente. Estratégias adequadas para isso são os problemas, obstáculos, projetos a partir de conteúdos que o aluno seja capaz de entender, relacionados a seus problemas, a seus interesses e experiências. São colocados desafios que o intriguem, que provoquem desejo de descobrir, de buscar, de pesquisar. Isso pode provocá-lo a pensar. Refletir, construir conhecimento próprio é o objetivo de uma aprendizagem mais eficaz. Princípios relativos à aprendizagem Continuando e reforçando os princípios já citados acima, temos: A aprendizagem deve estar relacionada aos problemas da vida real. 35 A aprendizagem ocorre, com mais intensidade, quando envolve sentimentos e significados pessoais. A aprendizagem significativa ou experimental traz envolvimento pessoal. Não se deve ensinar nada que o aluno não seja capaz de aprender. A aprendizagem parte do ponto em que os alunos se encontram. A aprendizagem se dá melhor do todo para as partes. A aprendizagem é progressiva, se dá passo a passo. Deve-se ir do simples para o complexo, do concreto para o abstrato, do próximo para o remoto. Deve-se ir do conhecido para o desconhecido. Aprende-se a fazer, fazendo. O erro faz parte do processo de aprendizagem e deve ser encarado como construção de hipóteses. 36 A problematização auxilia na busca de resposta e na construção do conhecimento. Toda aprendizagem nova deve ter ao menos alguma semelhança com a aprendizagem antiga. No processo de aprendizagem, o aluno deve estar ciente de como e por que está aprendendo. Aprender primeiro as coisas, só depois, as palavras. Formar a inteligência antes da língua. Aplicação Primeiramente, precisaríamos sondar e descobrir quais as necessidades, problemas, interesses e expectativas dos estudantes. Em segundo lugar é conveniente saber quais são suas experiências e nível de conhecimento sobre o assunto ou sobre as atividades e práticas. O conteúdo deve atender às necessidades dos aprendizes considerando as experiências que possuem, colocando questões e problemas que envolvam ação, 37 sentimentos, vontade de solução e perspectiva de aplicação prática. Princípios relativos ao relacionamento professor x aluno Os alunos se sentem bem em clima de confiança e de calor humano. O aluno busca prestígio, reconhecimento, atenção e respeito. O entusiasmo do professor é um forte estimulante. O professor precisa acreditar na capacidadedo aluno, oportunizando, assim a construção do conhecimento. A relação professor/aluno deve ser harmônica, visando ao bom relacionamento e a afetividade. Aplicação O entusiasmo tem por objetivo contagiar o aluno para o estudo, para a disciplina e a solução de problemas sociais e saber resolver seus problemas pessoais. Sobre este item, você verá mais 38 informações nos textos seguintes, que tratam das emoções e da motivação. Princípios relativos ao prazer e à estética A pessoa gosta de atividades que deem prazer. Atividades prazerosas estimulam a participação e são realizadas com maior entusiasmo. A pessoa gosta de coisas atraentes e novidades. As novidades e conteúdos atraentes instigam a curiosidade e a vontade de aprender. O conteúdo e as atividades propostas devem apresentar novidades ao estudante e provocar satisfação, prazer e ampliação do conhecimento. Primeiramente, é necessário saber quais são as possíveis atividades que dariam prazer. Em termos gerais, podemos dizer que são as lúdicas, as que envolvem atividades em grupo, as que levam à descoberta ou à realização pessoal, as que propiciam exploração do mundo, fora da sala de aula, as que envolvem multimídia e animação. De qualquer forma, é necessário que a pessoa sinta satisfação pelo que faz e que o esforço seja recompensado. 39 O próprio saber, a construção de conhecimento, pode ser motivo de prazer. Para muitos, a perspectiva de se graduar torna-se, também, um aspecto motivacional. Em termos práticos, podemos propor atividades tais como: jogos das mais variadas formas, não esquecendo os eletrônicos, dinâmicas de grupo em geral, excursões, visitas a ambientes diversos, filmes, vídeos, documentários e outros. Problemas desafiantes que o aluno consiga resolver, também podem ser causa de prazer. Princípios relativos ao reforço O sucesso de uma descoberta pessoal é altamente reforçador. Atividades bem-sucedidas, tendem a ser repetidas. O mundo é um grande reforçador natural. Toda pessoa gosta de recompensa e reconhecimento. O estudante precisa ter liberdade para poder descobrir. 40 Aplicação O material didático e as atividades propostas devem possibilitar amplo espaço de autonomia para as ações. Pode-se utilizar conteúdo e estratégias que propiciem condições de fazer descobertas pessoais, que provoquem espanto, satisfação e vontade de pesquisar, experimentar e descobrir mais. O aluno deve sentir que está progredindo, ser elogiado pelo resultado de cada atividade e pelo sucesso que vem obtendo. Daí a importância do currículo e do atendimento individualizado ou personalizado. Princípios relativos à natureza humana A pessoa aprende melhor se estiver atenta. Devem ser apresentados estímulos fortes para se obter a atenção dos alunos. O que é intrigante deixa a pessoa aguçada para prestar atenção. As necessidades são um forte impulsionante para a pessoa agir. O ensino deve ser centrado nos problemas e sentimentos dos alunos. 41 A aprendizagem, ou o conteúdo, deve ser desafiante. Quem tem autoconfiança aprende melhor. O aluno aprende melhor quando sua vontade está envolvida. Todas as pessoas são diferentes umas das outras. Toda pessoa tem motivos, desejos, interesses, necessidades e emoções diferentes. Toda pessoa tem ritmo próprio de aprender. Aplicação Respeitar a natureza é condição para o sucesso em qualquer área. Em educação, o objeto é o aprendiz. Ele tem sentimentos e emoções que são o combustível que o faz agir. Assim, o material deve envolver as emoções dos estudantes, respeitando seus sentimentos, provocando emoções através de colocação de problemas, obstáculos e desafios, tomando cuidado para que nunca percam a autoconfiança. Na cobrança da execução das atividades, não exigir que todos executem as atividades no mesmo ritmo. Nas avaliações, não exigir que todos deem 42 respostas iguais, pois o que importa é que demonstrem capacidade de estudar, de aprender, de pensar, de correlacionar, de analisar, de questionar e de criticar, incentivando o desenvolvimento da autonomia. É necessário respeitar os limites e o potencial de cada aprendiz. Princípios relativos à metodologia Dar exemplos antes de ensinar as regras. Deve-se ir do todo para as partes. Aplicação Podemos apresentar modelos que servirão de parâmetros para o trabalho: exemplos de projetos, de textos, de esquemas, de problemas, de resenhas, de análise, de citações e referências e inúmeros outros. Depois disso, apresentar as regras. De certa forma, esse princípio atende também o “do concreto para o abstrato”. 43 Fundamentos Didáticos (do livro A Didática Necessária) A Didática tem seus fundamentos em várias ciências. Dentre elas, podemos citar a Filosofia, especialmente a Filosofia da Educação, a Biologia, a Psicologia, a Sociologia, a Metodologia Científica, a História e as Neurociências. A Filosofia levanta várias questões que levam o educador a refletir, entre as quais: o que é o homem? Por que existe? Donde veio? Qual a sua natureza? De que ele é capaz? O que ele deve ou não fazer? Quais seus direitos? Quais seus deveres? A partir da resposta a essas questões, o homem forma a sua própria filosofia de vida. A maioria das correntes filosóficas afirma que o homem é um ser especial, educável, livre; mas, inquieto. O homem é um ser capaz de buscar incessantemente a perfeição. Ora, se é capaz, ele deve se aperfeiçoar. Daí a importância da educação. 44 A Biologia, por sua vez, indica a natureza biológica do homem, que precisa de alimentação, água, repouso e temperatura adequada para sobreviver. Sem isso, ele também não tem condições de aprender. A Didática tem que levar em consideração a hereditariedade do aluno, o temperamento, a saúde, a fadiga e seu sistema nervoso, entre outros fatores biológicos. A Sociologia estuda as formas e condições de vida social. Indica os valores, os costumes e os problemas sociais. O homem deve viver bem em seu ambiente. Para isso, precisa conhecê-lo e atuar positiva e cooperativamente para melhorá-lo. Numa sociedade democrática, é preciso que o homem participe ativa e responsavelmente para seu desenvolvimento. O homem é um ser gregário e comunitário. O relacionamento do aluno com o seu meio e as influências deste sobre o aluno precisam também ser consideradas para haver um bom “ensino”. Ajudar a solucionar os problemas sociais e tornar o homem mais feliz é uma das importantes funções da Didática. 45 A Didática vale-se também da Metodologia Científica. Esta indica os métodos e técnicas para se fazer ciência. Os fundamentos, os métodos e as técnicas da Didática foram testados, experimentados e comprovados como válidos cientificamente. A ciência da Didática nos diz quais as técnicas que deram certo e quais são as mais eficientes para se alcançar os objetivos do ensino. Isso evita que cada professor tenha que começar tudo de novo, com o risco de não dar certo. O próprio tratamento que se atribui à educação deve ser científico. O planejamento do ensino, a sua execução, a elaboração dos currículos, a seleção das técnicas, dos conteúdos e a avaliação devem ter procedimentos científicos. A História informa-nos sobre o passado do homem, sua evolução, suas descobertas, sua forma de viver e sobreviver. A História exerce enorme influência sobre a criança, pois reflete todo o passado do homem sobre ela mesma. A criança assimila, consciente ou inconscientemente, o meio em que ela 46 vive, os costumes, as atitudes, as habilidades, enfim a cultura que a cerca ou que chega até ela. Os mais importantes fundamentos da Didática, porém, são encontrados na Psicologia. Dela, podemos aprender que o educando tem características distintas em cada fase da vida. Em cada fase, ele temnecessidades, motivos e capacidades diferentes para aprender. A Psicologia da Educação define como é a natureza da pessoa humana e, sobretudo, da criança. Explica a importância dos motivos, dos desejos, dos impulsos, das emoções e dos interesses dos alunos. Orienta-nosquanto às influências das tensões, das angústias, das frustrações e dos desajustamentos na aprendizagem. Diz-nos que a criança é essencialmente irrequieta e ativa e que é incapaz de ficar parada. Há várias teorias que pretendem explicar os fenômenos da motivação, da natureza e do processo da aprendizagem para tornar essa mais consciente, mais duradoura e mais dinâmica. Vejamos, a seguir, 47 algumas ideias e conceitos de educadores e teorias psicológicas. Kerschensteiner deu ênfase à atividade do aluno. Os conceitos, segundo ele, formam-se pela ação e não pela abstração da realidade ambiental. Pelo fazer do aluno, é que ele aprende, e não pelas informações passadas por outros e pelos livros. O aluno deve ter oportcapítulo de observar, tocar, fazer e experimentar. A observação exige processo mental intenso. Isso leva o aluno a formular hipóteses e a experimentar o que gera saber de experiência, e não de informações verbalistas. O conhecimento está na atividade do aluno, e não no do professor. Dewey teve ideias parecidas, mas com a ação voltada para a sociedade. Segundo ele, é a atividade que leva à reflexão. A observação e o pensamento seriam instrumentos de adaptação. A criança estaria constantemente se adaptando às situações que surgem, ao grupo e ao meio. Para fazer isso, a criança estaria sempre atenta, prestando atenção. Muita 48 coisa, ela não sabe. Mas, ela é curiosa e pensa em alternativas de resposta, de solução para os problemas desconhecidos. Ela vai experimentando as alternativas ou hipóteses mais prováveis para satisfazer sua curiosidade, até que as encontre. Tais situações sucedem-se continuamente. Cada resposta é analisada pela criança, é ligada com as que ela já conhece e é generalizada para resolver os problemas sociais. Segundo Dewey, isso ocorre mais facilmente quando os alunos têm condições de discutir os problemas e conviver em grupos, como se fosse numa sociedade em miniatura. Claparède teve ideias semelhantes às de Kerschensteiner e Dewey. Segundo Claparède, é o ato e a reflexão que readaptam o indivíduo que constantemente estaria encontrando dificuldades. Dificuldades estas que passariam a ser necessidades. Necessidades que provocariam o pensamento e a ação. 49 Essas situações levam a pessoa a buscar dados, informações, conceitos e meios para satisfazer às necessidades. E essa busca de dados leva o indivíduo à aprendizagem, sem sentir e sem saber que está aprendendo. Piaget foi um psicólogo e educador que maiores contribuições trouxeram para a Didática. Ele admitia uma pedagogia científica, baseada na genética da atividade intelectual. Afirmou que há níveis de atividades intelectuais que vão dos mais simples para os mais complexos e que neles, os alunos ampliam as concepções de espaço, tempo, quantidade, qualidade, entre outras. A inteligência é constituída por uma estrutura. Constrói-se a estrutura ao organizar o real. A inteligência é formada pela ação, pelo fazer, pelo resumir, pelo debater, pelo pesquisar e pela solução de problemas. O conhecimento, assim, resulta da ação. No exterior, lida-se com objetos; no intelecto, com ideias. 50 É com ideias que criamos estruturas mentais operatórias superiores. Falamos em estruturas, mas o que vem a ser isso em psicologia? É a ligação de neurônios que permitem percepções e formam associações; é a ligação de ideia com ideia, que se transforma em pensamento e raciocínio. A concepção behaviorista defende que o conhecimento é cópia da realidade por meio dos sentidos. A concepção piagetiana é a interiorização das ações, que leva ao pensamento operatório. Não somos recipientes vazios, nos quais podem ser derramadas ideias. Estas precisam ser captadas por um intelecto ativo, com estruturas próprias, capazes de reelaborá-las. Quando uma pessoa se expressa de forma elegante, estética e criativa, é porque tem uma estrutura mental operatória bem desenvolvida. E isso é conseguido pela atividade intelectual graduada, na qual sempre atua a ação mental do aluno. 51 Bruner, por sua vez, preocupa-se com a captação da estrutura de um assunto que facilite o relacionamento com outras coisas de maneira a dominá-lo. A aprendizagem deve ser progressista. A pessoa pode aprender as mesmas coisas em todas as etapas de sua vida, mas, cada vez, de forma mais complexa e profunda. Inicialmente, a criança deve deduzir intuitivamente as ideias e aplicá-las. Depois, passa ao pensamento lógico-dedutivo. A intuição leva à perspicácia, à formulação de hipóteses e a conclusões. A intuição descobre novos fatos; é uma captação imediata do problema ou da solução. Brunerapela para que didatas e especialistas encontrem meios para estimular a intuição, que é a base da criatividade. Ele preocupa-se também com a motivação. Um filme pode ser boa incentivação, mas é passageira. O que importa mesmo é desenvolver, no aluno, o amor e a paixão pelo saber. Isso fará com que ele prossiga na busca pelo saber durante toda a vida. 52 O ambiente de onde a criança procede tem grande influência sobre o processo. Por isso, a escola deve criar um ambiente que desenvolva, no aluno, a prontidão para aprender coisas, mais cedo do que na idade considerada como própria. A criança deve aprender tudo o que for possível e aprender o mais cedo que puder. Carl Rogers foi outro psicólogo que estudou com profundidade a questão da aprendizagem e trouxe várias inovações interessantes para a educação. Segundo Rogers, toda pessoa deve chegar a compreender-se e a resolver seus problemas. O educador criaria, portanto, uma atmosfera de segurança e de calor que possibilitaria ao aluno alcançar a compreensão e a encontrar, por si mesmo, a solução para o seu problema. Usar-se-ia a empatia, por comunicação verbal ou não verbal, e a compreensão e a aceitação do aprendiz. O ensino deveria ser centrado nos problemas e nos 53 sentimentos do aluno. Assim, o aluno sentir-se-ia livre para elaborar suas experiências. A liberdade que o autor prega é apenas quanto à representação mental e à expressão dos dados de experiência e não por atos antissociais. Isso quer dizer liberdade de pensar e produzir, e não de fazer o que se quer. A concepção aplicada ao ensino, defendida por ele, visa estimular a iniciativa, a responsabilidade, o espírito crítico, a cooperação, a criatividade, a adaptabilidade e a socialização. O educador estimula e dá condições, mas quem aprende é o aluno. Devemos, portanto, deslocar o eixo da matéria do ensino para a pessoa que vai aprender e dar toda atenção ao aluno, pois a matéria a aprender é objeto dele e não do professor; os próprios objetivos seriam estabelecidos pelos alunos em função de seus interesses e necessidades. Para ser possível a Didática não-diretiva de Rogers, é necessário que as turmas sejam reduzidas; que os professores tenham sólida base psicológica; e que os critérios de avaliação sejam elásticos. 54 Allport foi outro grande psicólogo que abordou a questão da educação. Ele preocupou-se muito com o estudo do “eu” da pessoa. Toda pessoa se preocupa consigo mesma, com sua autoimagem e se autovaloriza. Às vezes, a pessoa retrai-se, fica na rotina para garantir segurança, evitar angústia e ansiedade. Outras vezes, busca a aventura e a novidade. Tudo está em função do seu “eu”, mas qualquer atitude vem acompanhada de tensão psíquica. Qualquer sinal para aliviá-la se torna fator de motivação. O que move, com mais intensidade, uma pessoa é o seu desejo de autorrealização.Esta é motivação de alto nível. É fonte de ideias. Allport preocupou-se muito com a felicidade do aluno. Disse que a descrença, em si e o desânimo com relação à sociedade são problemas relacionados à educação e podem, portanto, ser evitados por ela. Segundo ele, o homem tem que ser educado para o futuro. Formar o homem não é ensinar matéria 55 específica, mas abrir sua mente, fazer com que ele tenha abertura e flexibilidade mental. Mais importante que métodos, técnicas, procedimentos e recursos é a visão global do processo de educação e do que se pretende alcançar. Quando nos preocupamos com os problemas educacionais e amamos nossos alunos, descobrimos a melhor maneira de trabalhar. É uma didática da liberdade. Vejamos, a seguir, alguns princípios da aprendizagem que expressam, resumidamente, os fundamentos da Didática. Princípios da didática O que se entende por princípio Princípio é quase o mesmo que norma, lei. Em se tratando de educação, os princípios são extraídos das ciências que fundamentam a Didática, especialmente da Psicologia da Educação e das Neurociências. Elas dizem, sinteticamente, o que deve ser respeitado ou feito para que a aprendizagem 56 seja mais eficiente e científica. Os princípios da Didática podem também ser chamados de princípios da aprendizagem. Por que o professor deve conhecer os princípios da didática? É comum os professores terem problemas em sua sala de aula. Entre estes, destacam-se a falta de interesse dos alunos, a indisciplina e a falta de participação. Muitos alunos, mesmo interessados e prestando atenção, não aprendem, ou, no sistema tradicional, tiram notas baixas e os professores ficam sem saber o que fazer. Há professores que se desesperam com isso e sofrem muito. Outros perdem todo o ânimo e se tornam professores relapsos. Por quê? A causa principal é, seguramente, o não-conhecimento dos princípios da aprendizagem ou a não-aplicação deles na prática. O professor, conhecendo os princípios, pode, ele mesmo, inventar estratégias ou técnicas que levem os alunos a participar mais e entender melhor. 57 Estará, assim, respeitando a natureza do educando e a Didática como ciência. Pobre é o professor que utiliza técnicas e não sabe por que as usa e nem prevê os resultados que pode alcançar com elas. Este é um professor que não tem mentalidade científica e não conhece as teorias da educação ou da aprendizagem. Vejamos, a seguir, algumas situações que envolvem princípios de Didática. Todo aluno quer ser livre, autônomo e independente. É a própria natureza da pessoa humana que determina que ele queira ser assim. Se o professor os respeita, está agindo cientificamente. Às vezes, veem-se crianças pequenas, de um ano ou dois, reagirem aos nossos pedidos. Não aceitam nem ser beijadas, sem sorrir para elas ou agradá-las antes. O aluno é um ser de vontade. Ele só faz alguma coisa, se quiser fazer. Só aprende, se quiser aprender. Obrigá-lo a aprender por meio de ameaças e castigos, de nada adiantará. Ele até pode aprender, mas vai 58 ficar revoltado e com ódio de estudar, da escola, do professor ou da matéria. Viver é aprender. E aprender deve ser viver. O aluno deve aprender o que tem relação com a vida dele, com o que ele gosta e que tem sentido para ele. O aluno precisa ter oportunidade e liberdade para viver a sua vida intensamente. Por isso, o professor precisa criar, na escola, ambiente de liberdade e respeitar interesses, necessidades, objetivos e ideais dos alunos. Deve orientá-los e assisti-los para que alcancem a plenitude de seus ideais. Todo aluno quer ter reconhecidas suas qualidades e seu esforço. Pode ser difícil para o professor dar atenção a cada um dos alunos, procurar conhecer suas qualidades e reconhecer o esforço de cada um deles, mas vale a pena. Não é assim que gostaríamos de ser tratados? O homem é sujeito de prazer, isto é, faz aquilo que dá prazer, que é agradável, de que gosta. Cada aluno tem gostos diferentes. Daí o professor ter que procurar conteúdos, experiências e atividades que 59 possam agradar a cada um em particular, ou ao menos à maioria da classe. Cada aluno amadurece e se desenvolve psicológica e intelectualmente em ritmo próprio. Isto quer dizer que alguns alunos se desenvolvem mais rapidamente que outros. Assim, numa mesma sala, temos alunos com os mais diversos níveis de capacidade de aprender, segundo o estágio em que se encontram e segundo as capacidades que têm. Todos os alunos são curiosos. Uns mais, outros menos. Alguns, por umas coisas; outros, por outras. Ligando este princípio com o anterior, percebemos que nem todos os alunos têm as mesmas condições de aprender, e que nem todos querem aprender as mesmas coisas. Mas, é certo que todos têm condições de aprender alguma coisa. Muitos têm curiosidade por poucas coisas, mas há também os que têm curiosidade por muitas coisas. É direito deles aprenderem ao menos o que querem aprender. É dever do professor atender a esse direito. 60 O próprio aluno é o seu agente de aprendizagem. Quem aprende é o aluno. Por melhor que seja o professor e por mais que ele queira, o aluno só aprende se quiser e pelo próprio esforço. Por isso, o professor deve selecionar conteúdos e atividades que sejam do agrado do aluno e deixar o próprio aluno trabalhar, e não trabalhar por ele. O aluno tem sentimentos e emoções. O aluno gosta de fazer amigos, de ser estimado, considerado e amado. O professor deve criar clima de calor humano em que possa ser cultivada a amizade, a camaradagem, a compreensão e o respeito. Deve evitar que possa haver problemas entre colegas e jamais humilhar os alunos. Se pedirmos para os alunos lerem assuntos que não sejam do interesse deles, vão dizer que é tudo a mesma coisa, não vão distinguir entre um assunto e outro, não prestarão atenção. Mas, se apresentarmos assuntos que interessam a eles, perceberão os mínimos detalhes e ficarão atentos a tudo. 61 Exemplos de aplicação de princípios Paulo é encarregado de colocar trilhos para uma estrada de ferro. Para que colocar trilhos? O objetivo é para o trem passar por cima deles. O objetivo imediato é, portanto, propiciar condições para a passagem do trem. Na primeira vez que passou pelos trilhos, o trem tombou. Paulo tinha colocado os trilhos. Mas, o objetivo não foi alcançado. Por quê? Ou melhor, qual a causa do descarrilamento? É que Paulo não conhecia o princípio da dilatação dos corpos: “ferro, quando esquenta, dilata”. Ele colocou os trilhos, com 10 metros de comprimento cada um, com uma ponta encostada na outra, em dia bem frio. No dia em que o trem passou, estava um sol muito forte; os trilhos haviam se dilatado e entortado. Ele devia ter deixado o espaço de uns 3 centímetros entre um trilho e outro, já que no dia em que ele os colocou fazia muito frio. Paulo devia ter aprendido antes que o “ferro, quando aquecido, dilata”. Faltou o conhecimento de 62 um princípio científico para ele fazer o serviço adequadamente. Como não o conhecia, não alcançou o objetivo e provocou um enorme prejuízo. A outra situação se refere a uma moça obesa, que queria emagrecer a todo custo. Onde ela soubesse que poderia conseguir receita de comida para emagrecer, ela ia. Chegou a juntar 70 receitas diferentes. Imaginemos o trabalho que ela teve para colecionar as receitas e depois para as preparar. Em vez de colecionar receitas, ela poderia ter procurado conhecer os princípios científicos para emagrecer. Vejamos alguns exemplos de princípios, de forma bem simples: - evitar frituras e carnes gordas emagrece; - evitar doces, massas e tubérculos emagrece; - comer alimentos fibrosos emagrece; - correr emagrece. Aqui estão quatro princípios. Se for respeitado cada um separadamente, já dá paraemagrecer. Mas, 63 se forem atendidos os quatro ao mesmo tempo, a probabilidade disso acontecer aumenta muito. O mesmo pode acontecer em Didática. Um professor pode procurar receitas de técnicas em toda parte e, mesmo assim, não conseguir resolver os problemas de aprendizagem de seus alunos. Todo professor deve conhecer, e muito bem, os princípios de Didática. A História da Educação está cheia de princípios de Didática. Embora não constassem como princípios, eles nortearam a educação no passado. Apenas recentemente, muitos deles foram confirmados como princípios. Santo Agostinho já afirmava, por volta do ano 390, que a criança precisa aprender primeiro o que as coisas são e só depois aprender o nome delas. Hoje, aquela recomendação de Santo Agostinho transformou-se em princípio que pode ter os seguintes termos: Aprende-se primeiro o concreto, depois o abstrato. 64 Outros dois princípios vindos de Santo Agostinho: - A demonstração é melhor que as palavras. - Só se aprende aquilo que é significativo. Até hoje, esses princípios estão sendo pouco respeitados, apesar de serem importantes. Há muitíssimos professores que ainda dão aula e julgam que eles são a causa da aprendizagem do aluno. Sem esforço do aluno, sem que o aluno observe, pense, compreenda, não existe aprendizagem, por mais que o professor se esforce. Isto está amplamente comprovado pela psicologia da aprendizagem e, hoje, confirmado pela neuroeducação. Vejamos, a seguir, uma lista de princípios de didática. Alguns têm redação um pouco diferente, mas o sentido é o mesmo. Motivação e incentivação Motivação e incentivação são assuntos que têm gerado muita discussão e controvérsia. 65 Agora, com as neurociências, tudo isso pode ser dissipado. Motivação é o motivo que leva alguém a agir para satisfazer uma necessidade, um interesse, uma intenção. As necessidades provocam certo grau de tensão na pessoa que a deixa preocupada, inquieta, até conseguir satisfazer à necessidade e alcançar o objetivo. Motivação é, portanto, estado psicológico em que a pessoa sente falta de alguma coisa. Todas as pessoas têm motivação para uma ou para outra coisa. Se o aluno não vê nenhuma perspectiva de satisfazer sua necessidade, ou de aliviar seu grau de tensão, e se isto perdurar por longo tempo, ele entra em estado de angústia, de aflição e até de neurose. Se, porém, notar uma possibilidade de resolver o problema, ele anima-se e passa a agir com mais esforço e até com sacrifício, se necessário. 66 O que é incentivação? Incentivação é o oferecimento dos meios, das condições ou dos objetos que satisfaçam às necessidades das pessoas, para que, assim, consigam diminuir o estado de tensão. É ir ao encontro da motivação das pessoas, com aquilo que corresponde aos motivos delas mesmas. Se alguém tem fome, tem motivação para procurar comida. Indicar onde e como consegui- la é incentivação. Se alguém tem sede, deve mostra- se como conseguir água. Observe-se bem, mostrar como e onde conseguir comida e água e não simplesmente dar comida e água. Porque, se der comida e água, acaba a motivação. A pessoa acomoda-se. Não age mais. Se alguém tem necessidade de afeto – e todas as pessoas têm – a motivação é procurar afeto. O incentivo que corresponde a esta necessidade é dar afeto. Aqui, sim, o professor pode dar o incentivo diretamente, pois a necessidade de afeto não acaba nunca. 67 Para que o professor possa incentivar corretamente, precisa conhecer bem o aluno: seu meio, sua família, sua saúde, seu temperamento, suas necessidades, suas aspirações, seus hábitos e seus valores. É preciso saber o que o aluno precisa e ir ao encontro dele. É preciso animá-lo, dando esperanças de que ele terá satisfeitas as suas necessidades em breve. A motivação pode ser intrínseca ou extrínseca, tal qual a incentivação. Existe motivação intrínseca no aluno, quando ele estuda o assunto ou a matéria por gostar da matéria em si, por ter visto nela algo que lhe agradou. Um exemplo claro de motivação intrínseca é a resposta de um aluno em depoimento que deu sobre a pergunta: “Por que gosta de estudar?” “Eu gosto de estudar Química e Física, pois a gente estuda os elementos químicos, velocidade, tempo e outros”. O aluno certamente se encontrou com esses assuntos. Ele está motivado intrinsecamente, pela 68 importância, valor ou satisfação que a própria matéria traz para ele. Motivação extrínseca é aquela em que o aluno é impelido a estudar uma matéria para obter alguma vantagem ou benefício com ela. Como exemplo, temos com o mesmo aluno que deu o depoimento acima. Mais adiante, ele diz: “Educação Física eu gosto, porque tenho chance de participar de campeonatos e fazer novas amizades”. Note-se que ele gosta de Educação Física por razões externas à matéria, para satisfazer às necessidades de competir, de vencer, de estar com os outros e fazer novas amizades. Não é a matéria em si que lhe agrada. Quando o aluno estuda só por nota, para passar, para agradar ao professor, agradar aos pais ou ganhar um prêmio prometido, tem apenas motivação extrínseca. Bom seria, se todos os alunos tivessem sempre uma forte motivação intrínseca. Esta pode durar a vida toda; enquanto a extrínseca desaparece com o tempo. 69 Incentivação intrínseca é o uso de estímulos pelo professor para atender a motivos que demonstrem interesse pela matéria, por parte do aluno. Aqui o professor pode apresentar a beleza da matéria por meios auxiliares, por atividades sobre conteúdo significativo e que seja facilmente compreendido pelos alunos. O exame de células ao microscópio pode levar um aluno a se maravilhar pela Biologia ou pela Botânica. É um meio de incentivação intrínseca. Aproveitando também o depoimento de um aluno, que disse: “Quando eu consigo compreender bem a matéria, fica gostoso estudar”, assim, tudo o que o professor utilizar para satisfazer a curiosidade dos alunos sobre a matéria ou para torná-la de fácil compreensão é incentivação intrínseca. Incentivação extrínseca são todos os outros estímulos usados pelo professor para conseguir fazer com que o aluno estude e se esforce. Os estímulos podem ser positivos ou negativos. 70 Temos incentivação extrínseca positiva quando o professor utiliza elogios, promete recompensas, dá notas altas, utiliza técnicas atraentes, apresenta os benefícios que o aluno poderá obter com o conhecimento da matéria na vida dele. O próprio professor, sua maneira de ser e seu entusiasmo, pode ser incentivação extrínseca positiva. Estes procedimentos podem ser utilizados pelo professor. Em si, não há inconveniente. Pode até mesmo ser o ponto de partida para que o aluno, estudando, passe a gostar da matéria, chegando a ter motivação intrínseca, que é o ideal. A incentivação extrínseca negativa caracteriza- se por ameaças. Ameaças de reprovação, de notas baixas, de castigo, de chamar os pais. Não deve ser usada. Ela só faz os alunos se aborrecerem com a escola; ficar com ódio do estudo e do professor. Certa vez, um aluno de 4ª série, que sempre tirava notas nove e dez, tirou uma nota dois. Ficou três dias sem falar com ninguém. Imagine o choque que levou, a revolta que tomou conta dele e o ódio que 71 deve ter sentido pelo professor. Considerando-se que a melhor nota da classe foi cinco, conclui-se que o erro foi do professor. Cabe observar, nesse caso, que o aluno tinha o hábito de levar tudo a sério, de ser caprichoso, de estudar. Ele tinha convicção de que sabia bem a matéria e, no entanto, tirou nota dois. Estragou seu boletim, magoou seu ego, sua autoestima. Enfim, ficou arrasado. É por isso que o professor precisa conhecer também os hábitos dos alunos para não provocar desincentivos absurdos como esse. Fundamentos da motivaçãoÉ importante estudarmos os fundamentos da motivação, porque eles nos dão as bases científicas das razões pelas quais a pessoa age, uma vez que ela não é capaz de ficar parada. Muitos estudiosos fizeram pesquisas sobre o assunto, principalmente psicólogos e educadores. Assim, teremos algum conhecimento sobre a natureza humana. 72 Motivação vem de motivo para a ação. E os motivos para a ação vêm de dentro da pessoa. É fruto ou consequência de suas necessidades, interesses, desejos, aspirações e intenções. De forma que, se quisermos saber quais são os motivos que levam um aluno a agir, precisamos, basicamente, conhecer suas necessidades e interesses. Analisemos um pouco a questão das necessidades. As necessidades mais fortes são relacionadas à sobrevivência, são as biológicas. A pessoa faz toda força possível para se manter viva e não sentir dor. A fome e o frio é uma ameaça para a vida ou fazem sofrer. Se, por exemplo, um aluno está passando fome, o primeiro motivo que o leva a fazer alguma coisa é para saciar essa fome. Se tem sede, ele age para matar a sede. Se tem frio, ele procura agasalho. A ele, não importa escola, nem matéria, nem professor, nem reprovação, nem ameaças e nem punições. A satisfação das necessidades biológicas vem em primeiro lugar. 73 Suponhamos que essas necessidades estejam satisfeitas e que não sejam mais problema. Outras aparecerão. Ainda no nível biológico, ele poderá querer segurança, prazer, conforto e bem-estar. Ele age para ter onde morar, para não ter ameaça física, para não sofrer punições e maus tratos. Qualquer sintoma, neste sentido, coloca-o tenso e disposto a fazer algo para evitar esses perigos. Ele pode procurar, também, fazer esforço para ter uma vida melhor. Dependendo da idade do aluno, a segurança pode implicar também estar com seus pais ou com quem o ame, apoie-o e proteja-o. Satisfeitas às necessidades biológicas, passam a ter destaque as necessidades sociais. O aluno precisa sentir que é amado. Isso dá a ele tranquilidade e gera bem-estar. Ele gosta de estar com outras pessoas, pais, amigos, colegas. Ficar sozinho faz com que ele se sinta mal. Ele age e esforça-se para ser amado, estimado, compreendido e para poder estar com outros. 74 No grupo das necessidades sociais, está ainda o prestígio. O aluno quer e precisa sentir que tem aceitação ou posição relevante no grupo ou na sociedade. Ele sente-se bem, quando é elogiado pelo professor, aplaudido ou bajulado pelos colegas. Ele quer vencer, aparecer, ser alguém. Ele precisa, de uma forma ou de outra, chamar atenção sobre si, ou com notas boas, ou com desordem, ou com agressões ao professor; sobretudo ao professor “chato”. Mais uma vez, tendo o aluno satisfeito às necessidades anteriores, outras surgem. A pessoa humana é eternamente insatisfeita. Está sempre ansiosa. Agora, aparece a necessidade de fazer sucesso e se autorrealizar. Ele quer fazer sucesso nos estudos, o que demonstra pelas notas; quer fazer sucesso no jogo, no esporte ou no trabalho. É por isso que os alunos têm pressa em conhecer sua nota após fazer provas. A autorrealização e a busca do ideal são as necessidades mais elevadas. Como a pessoa nunca 75 alcança o ideal, vai, ao menos, sempre crescendo, aperfeiçoando-se. Logo adiante, veremos com mais detalhes como podem ser aproveitadas as necessidades dos alunos e como manter acesa essa motivação ou fazer com que ela seja aumentada. Motivos que levam uma pessoa a agir Você leu um texto longo sobre motivação e incentivação. O que é que você lembra? Muito pouco. Para facilitar o uso dos princípios biológicos, psicológicos e das neurociências, fiz uma lista bem sintética dos principais motivos que levam uma pessoa a agir. Quando planejar ações pedagógicas, ou de aprendizagem é interessante consultar a lista abaixo. Quanto mais motivos você descobrir em cada aluno e quanto mais incentivos você encontrar para atendê- los, mais envolvimento e resultados você conseguirá. 76 Os motivos podem ser inatos ou desenvolvidos pelo meio ou combinação destes dois fatores. São eles: Buscar e ter alimento; Ter água; Ter segurança; Ter agasalho; Ter moradia; Ser amada, querida e benquista; Sentir-se acolhida; Estar com os outros; Ser feliz; Aparecer, ser notada, exibir-se; Fazer sucesso; Vencer; Conquistar; Persuadir; Mexer e se mexer; Buscar paz, tranquilidade e sossego; Agir; Servir, ajudar, proteger; Satisfazer a curiosidade; 77 Aprender; Agredir, ofender, provocar; Conhecer; Descobrir; Ser alguém; Ter um ganho; Sentir-se realizada; Ter benefício imediato ou em longo prazo; Sentir satisfação; Fazer o que gosta; Comer o que gosta; Ler o que gosta; Ser melhor que os outros; Ver sentido no que tem que fazer; Ver utilidade no resultado; Ser livre; Fazer a coisa bem feita; Organizar; Ser mais forte; Fazer aventuras, agito, provocar adrenalina. 78 Em todas as ações acima estão envolvidas as emoções. As emoções são o combustível para o homem agir. Uma das funções do professor, ou de qualquer educador ou líder é ligar o motor. Para fazer isso, o professor deve ter e usar a chave do carro, ou seja, os incentivos adequados para cada educando ou aprendiz. O nosso cérebro é seletivo. Seleciona o que interessa a ele. Ou seja, o que interessa e tem semelhança com as estruturas mentais já formadas em seu cérebro. Por isso, o professor precisa saber quais os itens acima que movem ou atendem os motivos de cada pessoa. Incentivos são recursos, meios ou estratégias que o professor utiliza para ativar os motivos que a pessoa já tem. Saber escolher os incentivos é o segredo para conseguir disciplina, envolvimento e aprendizagem. Mas os incentivos devem ser bem planejados. Devem atender aos princípios gerais da natureza humana: satisfazer necessidade ou gerar prazer. 79 Devem visar ao alcance de objetivos educacionais previstos no projeto pedagógico da escola ou do curso. Citamos alguns exemplos: Eu me criei no sítio onde tinha um gato para eliminar os ratos. O que ele tinha que aprender? Desenvolver habilidade e agilidade para pegar e matar o rato. É da natureza dele. Para desenvolver essa habilidade podemos deixar no chão uma bolinha do tamanho de uma de pingue-pongue. O gato fica treinando por horas com ela. Ele brinca, gosta e nós previmos a utilidade. Se nós dermos ou disponibilizarmos brinquedos para as crianças elas ficam horas brincando. Mas quais brinquedos dar? Os que são compatíveis com a idade da criança. Que tenham utilidade educativa: discriminar cores, desenvolver a sensibilidade tátil, habilidade de montar, a criatividade. A criança faz, erra, tenta novamente e repete até acertar. Teve êxito, vitória, deu prazer. Os motivos negativos, porém, devem ser reprimidos com estratégias adequadas. 80 O que faz o aluno gostar de estudar? Fiz uma abordagem entre alunos da 5ª à 8ª séries do Ensino Fundamental e do Ensino Médio para verificar o que os leva a gostar de estudar. A pergunta colocada para eles foi: “você gosta de estudar? Em caso afirmativo, o que faz você gostar de estudar?”. Vejamos algumas respostas, com a redação melhorada por eu: “O que me faz gostar de estudar são as matérias mais práticas, movimentadas e que tenham interesse para mim.” “A maneira de o professor se expressar; o dinamismo com que é dada a matéria e a compreensão da mesma.” “Se consigo resolver os exercícios, gosto da matéria.” “Se o professor é animado, a aula também é interessante.” “Gosto de estudar para ser alguém no futuro, para ter uma colocação melhor e para aprender a falar certo.” 81 “Se a matéria me agrada... eu vou bem. Mas se o professor é legal, também ajuda.” “Quandoeu consigo compreender bem a matéria, fica gostoso estudar.” “Existem matérias que eu gosto de estudar, devido à facilidade, clareza e objetividade do professor; devido à concretização e ao bom relacionamento entre o professor e o aluno. Existem matérias com as quais não tenho muita afinidade devido ao alto número de teorias e pouca prática.” “As matérias preferidas são as da área de exatas, devido à facilidade e por estarem ligadas ao ramo da tecnologia. Não gosto de literatura, pois para mim não há nenhuma utilidade.” “Eu sempre fui uma pessoa muito curiosa. Portanto, gosto de estudar para satisfazer as minhas curiosidades e também porque somente através de estudo terei maiores conhecimentos e oportcapítulos de trabalho.” 82 “Eu gosto de estudar Química e Física, pois a gente estuda os elementos químicos, velocidade, tempo e outros. Educação Física eu gosto, porque tenho chance de participar de campeonatos e fazer novas amizades.” “Eu gosto de estudar para estar por dentro de tudo o que me diz, ou não, respeito. Porque estou sempre me testando. Também porque faço muitas amizades.” “Para ter uma profissão.” “Porque aprendo coisas novas e diferentes.” “Para ter uma vida melhor.” “Gosto de estudar, tendo preferência por algumas matérias, por causa dos professores que são mais legais.” “Porque o professor transmite segurança, objetividade e carinho pelo que faz e principalmente pelos alunos”. 83 Por que o professor não deve motivar os alunos? Simplesmente porque os alunos estão cheios de motivos. Se o professor conseguir satisfazer esses que o aluno já tem, conseguirá alunos atentos, estudiosos, disciplinados e esforçados. Motivar, aqui, assume o sentido de reforçar motivos ou criar novos motivos. Isso não deve ser feito, pois seriam artificiais e pouco fortes. Se uma pessoa acabou de almoçar, ele faria o mesmo esforço para buscar comida do que quem está com fome? Adianta querer despertar nela motivo para comer mais? Pode ser provocada a fome ou intensificada a vontade de comer naquele instante? O que deve ser feito é descobrir os outros motivos que a pessoa tem para agir que ainda não foram satisfeitos, e descobrir os incentivos correspondentes para atendê-los. Ao professor, cabe incentivar e não motivar. A motivação será reforçada pelo próprio aluno, à medida que estiver recebendo os 84 incentivos em dose correta e estiver despertando, em si mesmo, novas necessidades e intenções. Fontes de incentivo As fontes de incentivação podem facilmente ser notadas nos próprios depoimentos dos alunos, num dos itens anteriores, no início do capítulo. Eles falam que o que os faz gostar de estudar é o conteúdo, o professor, os métodos, os seus próprios objetivos. São estas, portanto, as fontes de incentivação. É delas que vêm todos os incentivos que atendem aos motivos dos alunos e que os fazem gostar de estudar. a) O conteúdo O conteúdo trabalhado deve ser significativo. Deve ir ao encontro dos motivos dos alunos e estar ligado às suas experiências, ao seu nível de entendimento, e ser de fácil compreensão. Eles não admitem estudar matéria em que não veem sentido e utilidade. 85 b) O professor O professor é, sem dúvida, a mais importante fonte de incentivação. Ele dá afeto, carinho, segurança e atenção ao aluno. Ele o apoia, elogia-o e ajuda-o a conseguir prestígio. É ele que analisa o aluno e o meio social e ajuda a selecionar os objetivos, o conteúdo, as técnicas. Ele avalia o aluno, informa sobre o progresso e sobre o alcance dos objetivos do mesmo. É ele ainda que dinamiza a aula, facilita a compreensão e torna o estudo agradável. c) Os métodos Os alunos têm necessidade de atividade. Eles gostam de métodos ativos de que possam participar. Eles não gostam de ficar parados. Se as técnicas usadas forem para trabalhar em grupo, ou em forma de jogo, melhor ainda. Aí terão oportcapítulo de estar com os outros, obter prestígio, reconhecimento. De qualquer forma, porém, os métodos devem também ser agradáveis, facilitar a compreensão e ser adequado para o alcance dos objetivos. 86 d) Os objetivos O aluno quer a satisfação de suas necessidades e de suas intenções. Os objetivos deveriam ser traçados de forma a ficar embutida a satisfação daquelas. Os alunos querem, também, alcançar os objetivos educacionais. Querem compreender, fazer progresso e ser alguém no futuro. Se os objetivos forem traçados de acordo com isso, serão fonte de prazer e, ao mesmo tempo, de esforço. Serão incentivos adequados para a dedicação e o empenho dos alunos. e) O prazer A maioria das pessoas gosta das coisas que deem prazer. É próprio da natureza humana. A criança e o jovem gostam de agito, de ação. Não aceitam ficar parados. A comida tem que ser gostosa. Você escolhe o que gosta de comer. Um livro tem que ser gostoso de ler, tem que ser fácil de entender, tem que mexer com as emoções, provocar adrenalina. 87 Na escola, o professor tem que ser legal, ser amigo. O conteúdo tem que ser fácil de ser entendido, tem que provocar curiosidade, ter utilidade, trazer novidade e estar atualizado. O que se aprende na escola deve servir para a vida toda e não para alguns dias. Temos que aprender da mesma forma que se aprende a andar de bicicleta. Uma vez aprendido, não se esquece mais. Quando se faz o que se gosta, o tempo passa sem sentir. A teoria de recursos humanos insiste em afirmar que a pessoa deve ser orientada e colocada no serviço que ela mais gosta de fazer. Por que na escola não se faz o mesmo? Deveríamos deixar o estudante estudar o que ele quisesse para se preparar para aquilo que gosta de fazer. Estudar na hora e no local que quiser, com a metodologia com a qual melhor aprender. Cerca de 20% dos estudantes desiste do curso superior que faz porque não gosta do curso, do professor ou da metodologia. O professor, em vez de impor, deveria ouvir o estudante para saber qual é seu 88 sonho e orientá-lo para alcançá-lo. Colocar objetivos, traçar metas com ele e estratégias. Alcançá-los é desafio para o estudante. O desafio deve ser do estudante e por esforço dele. A metodologia utilizada e toda meta alcançada lhe trará satisfação e sensação de realização pessoal. O reconhecimento do professor e recompensa adequada ao estudante são o reforço para continuar com afinco seus estudos. Síntese Cada vez mais, é necessário desenvolver habilidades que levem o indivíduo a aprender a aprender, a aprender a pensar, a aprender a estudar, a aprender a se comunicar, e não apenas reproduzir e memorizar informações, mas, sim, desenvolver competências de resolução de problemas. E como vimos neste capítulo, diferentes áreas científicas evidenciam que é um processo complexo, mas que é possível transformar a educação formal. 89 http://www.sbneurociencia.com.br/html/indice_artigos.htm http://neurociencia.tripod.com/ 90 CAPÍTULO II Neurociências, neuroeducação e neuropedagogia Introdução Como vimos no capítulo 1, precisamos cada vez mais, ter habilidades que nos permitam conviver socialmente, e a educação formal é o caminho para tais habilidades. Contudo, se nós quisermos ser educadores competentes, precisamos acreditar na ciência, descontruir os condicionamentos, desenvolver habilidades e criatividade para aplicar os princípios científicos no processo de aprendizagem. Neste capítulo, vamos falar das ciências que devem estar presentes no ensino formal para o desenvolvimento de habilidades. 91 Neurociências As neurociências contribuíram significativamente para compreender o cérebro e o processo de aprendizagem e educação. As descobertas científicas, feitas por meio das tecnologias computadorizadas: tomografia, ressonância magnética, entre outras. Com elas podemos saber como funciona o cérebro, diante dos
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