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AO JUÍZO DO TRABALHO DA ___ª VARA DO TRABALHO DO RIO DE JANEIRO
Processo nº ....
MILENA DE JESUS, brasileira, casada, rg: 88888, cpf:99999-99, CTPS:xxxxx, filha de Roseane de Jesus, residente e domiciliada à Rua Pau Ferro, nº777 Apt. 707, Jacarepagua, CEP: 22334455, Rio De Janeiro/RJ, vem à presença de Vossa Excelência, com fundamento no art. 840, §1º, da CLT combinado com o art. 319 do CPC, aplicado subsidiariamente ao Processo do Trabalho por força do art. 769 da CLT, propor
RECLAMAÇÃO TRABALHISTA
em face de CEBOLINHA LANCHONETE LTDA, pessoa jurídica inscrita no CNPJ: 99999999/001, com endereço à Rua do Gabinal, nº888, CEP:99999-99 Jacarepagua- Rio De Janeiro/ RJ, pelos motivos de fato e de direito a seguir expostos
DO BREVE RESUMO DO CONTRATO DE TRABALHO
A reclamante foi contratada em 25 de março de 2019. Apesar disso, na CTPS da reclamante consta a data de início de trabalho em 01 de junho de 2019 e sua função como balconista. 
Foi contratada para trabalhar de segunda a sabado das 07:00 AS 16:00. 
Durante o exercício de suas funções, a reclamante não tinha intervalo intrajornada, sendo que só poderia almoçar quando não havia movimento na loja ou quando revezava com sua avó, Tereza.
Embora registrada como balconista, a reclamante somente exerceu tal função até 01 de abril, data a partir da qual passou a exercer as funções de ajudante de cozinha. Apesar da mudança fática de função, a empresa se recusou a proceder a devida alteração na CTPS da reclamante, razão pela qual ela continuou registrada como balconista, embora exercendo função diversa. 
Insta consignar que, quando da contratação, a CTPS ficou em posse da reclamada por 3 meses e, ao reclamar, recebeu a informação que a contadora havia perdido a CTPS, sendo que somente depois ao receber a CTPS viu que constava sua função como balconista o que não condiz com a realidade pois trabalhava na cozinha.
Além disso, durante o período em que trabalhou na lanchonete, a reclamante exercia funções além do que foi estabelecido: como faxineira, atendente e caixa e ainda fazia hora extra em torno de uns 30 minutos, isso tudo sem acréscimo no seu salário.
Como se não bastassem os abusos cometidos pela reclamada com relação a não anotação correta na CTPS da reclamante, esta ainda foi vítima de assédio moral durante o exercício de suas funções. Isso porque, no dia 08 de agosto do ano corrente, chegaram na lanchonete mercadoria e o dono SR. Pedro pediu que a mesma pegasse umas das caixas que estavam pesadas, a Milena se encontrava gravida de 4 meses, se recusou a fazê-lo devido estado gravídico. O dono da reclamada então falou para Milena “AGUENTA UM HOMEM EM CIMA DE VOCE E NÃO PODE PEGAR UMA CAIXA?”
No dia 18 de setembro de 2020, Milena foi demitida sem justa causa, a reclamante saiu da reclamada sem o papel para dar entrada no seguro desemprego, também não teve cópia do TRCT. 
Inconformada com a impossibilidade de receber o seguro desemprego, a reclamante ligou para a lanchonete a fim de solicitar os documentos, contudo, após inúmeras súplicas, decorridos 120, a empresa forneceu os documentos solicitados, o que impossibilitou o recebimento do seguro desemprego. 
DO DESVIO DE FUNÇÃO
A reclamante foi contratada e exercia função diversa da constante em sua CTPS, razão pela qual faz jus ao percebimento do salário devido de acordo com a função e retificação da anotação;
Nossos Tribunais já se têm posicionado favoravelmente, não ao enquadramento por desvio de função, mas ao recebimento de diferenças entre elas, ex vi o apontado abaixo:
A Quarta Turma do Tribunal Superior do Trabalho não conheceu (rejeitou) recurso de revista movido pela Companhia Riograndense de Saneamento – Corsan- contra decisão do Tribunal Regional do TRT- RGS (4ª Região-) que condenou a empresa ao pagamento de diferenças salariais a um auxiliar técnico em desvio de função. 
O TRT já havia excluído da sentença de primeiro grau a ordem de reenquadramento do funcionário na função de auxiliar técnico de tratamento de água e esgoto. Ao reformar a decisão, o TRT ressaltou que, apesar de estar “satisfatoriamente demonstrado nos autos o exercício de atribuições de cargo distinto daquele originariamente contratado, o reenquadramento é inviável porque a empresa, sendo sociedade de economia mista, está subordinada ao comando previsto no art. 37, II da Constituição. O reclamante não prestou concurso para o cargo que ambiciona” não podendo, assim, ser reenquadrado nas funções que vem desempenhando na atualidade.. 
Apesar disso, o TRT ressaltou que o empregado vinha “desenvolvendo tarefas inerentes a um cargo hierarquicamente superior ao que estava enquadrado, não podendo a empresa furtar-se ao pagamento do salário correspondente a pretexto de que o autor não fez concurso, cuja responsabilidade em promover é da própria empregadora.” Os juízes do Tribunal Regional do Trabalho do Rio Grande do Sul, observaram também que “o autor preenche todos os requisitos para a ascensão funcional, estando exclusivamente na dependência de iniciativa da empresa, a quem compete promover concurso público com essa finalidade.” 
A tese defendida pela Corsan era a de que não era possível o pagamento de diferenças salariais por desvio de função sem a realização de concurso público, “uma vez que os efeitos pecuniários aos cofres públicos serão idênticos ao da condenação ao reenquadramento” – e tal situação, em seu entendimento, caracterizaria violação à Constituição. 
O relator do recurso de revista, ministro Barros Levenhagen, assinalou que a jurisprudência do TST, seguindo orientação do Supremo Tribunal Federal a respeito da matéria, é no sentido da vedação constitucional de reenquadramento de servidor público. A Orientação Jurisprudencial nº 125 da SBDI-1 do Tribunal, no entanto, estabelece que 
“o simples desvio funcional do empregado não gera direito a novo enquadramento, mas apenas às diferenças salariais respectivas, mesmo que o desvio de função haja iniciado antes da vigência da Constituição Federal de 88”. II- E mais, em síntese geral, somente para exemplificar diversos outros entendimentos de vários Tribunais que já se pacificam a respeito: “Merece ser confirmada a sentença que reconheceu o vínculo empregatício e deferiu parcelas de direito, em face de comprovado desvio de função- Remessa Oficial e Recurso Ordinário conhecido e providos, em parte, para se excluir a parcela de multa rescisória- (TRT 11ª R0 -Ex-Of.E RO 0259/2012- Rel Juiz Othilio Francisco Tino- J- 07.02.2002)
Empresa Pública Estadual- Desvio de Função- Diferenças salariais- Ainda que se trate de empresa pública, nada impede a paga da diferença salarial decorrentes do desvio de função apontado pelo empregado, enquanto perdurar a referida situação. (TRT 15ª R – RO 013.210/2000- Rel. Juiz Luiz Antõnio Lazarim- DOESP 18.02.2002)
Diferença salarial- Desvio de função- Caracterizado o desvio de função, são devidas as conseqüentes diferenças salariais. (TRT 17ª R. RO 2075/2000- 1116/2002- Rel. Juiz José Carlos Rizk- DOES 07.02.2002) 
Diferenças salariais – Desvio de função – Cabimento- Constatado o desvio de função, assiste ao trabalhador direito as diferenças salariais e seus reflexos, ainda que o empregador tenha Plano de Cargos e salário. (TRT 15ª R – RO 13998/2000- Rel. Juiz Luiz Antônio Lazarim- DOESP 04.03.2002_
Diferença Salarial – Desvio de função- O pedido de diferença salarial decorrente do desvio de função não se confunde com o pedido de equiparação salarial alegando pela recorrida e acolhido pelo MM Juízo a quo. Patenteado nos autos o desvio de função como causa de pedir e provado que a ex- empregada foi desviada para outro serviço sem que recebesse a contraprestação pelo exercício da nova função, faz jus às diferenças salariais pleiteada. Recurso provido (TRT 11ª R RO 0369/2012- 136/2002- Rel. Juoz José dos Santos Pereira Braga- J. 07.02.2002)
DA SUPRESSÃO DO INTERVALO INTRAJORNADA
Nos termos já mencionados no tópico “dos fatos”, a reclamante trabalhava com carga horária das 07h às 16h, fazendo jus, portanto, aointervalo intrajornada de uma hora. 
Ocorre que este intervalo foi suprido da reclamante que somente realizava rápidas pausas para alimentação quando o movimento na lanchonete diminuía. Nesse sentido, faz jus a reclamante à percepção do pagamento dos intervalos intrajornadas suprimidos, equivalente a todo período em que laborou para a Reclamada.
Assim já decidiu o TST, em entendimento fixado na súmula 437:
INTERVALO INTRAJORNADA PARA REPOUSO E ALIMENTAÇÃO. APLICAÇÃO DO ART. 71 DA CLT (conversão das Orientações Jurisprudenciais nºs 307, 342, 354, 380 e 381 da SBDI-1) - Res. 185/2012, DEJT divulgado em 25, 26 e 27.09.2012
 I - Após a edição da Lei nº 8.923/94, a não-concessão ou a concessão parcial do intervalo intrajornada mínimo, para repouso e alimentação, a empregados urbanos e rurais, implica o pagamento total do período correspondente, e não apenas daquele suprimido, com acréscimo de, no mínimo, 50% sobre o valor da remuneração da hora normal de trabalho (art. 71 da CLT), sem prejuízo do cômputo da efetiva jornada de labor para efeito de remuneração.
II - É inválida cláusula de acordo ou convenção coletiva de trabalho contemplando a supressão ou redução do intervalo intrajornada porque este constitui medida de higiene, saúde e segurança do trabalho, garantido por norma de ordem pública (art. 71 da CLT e art. 7º, XXII, da CF/1988), infenso à negociação coletiva.  
III - Possui natureza salarial a parcela prevista no art. 71, § 4º, da CLT, com redação introduzida pela Lei nº 8.923, de 27 de julho de 1994, quando não concedido ou reduzido pelo empregador o intervalo mínimo intrajornada para repouso e alimentação, repercutindo, assim, no cálculo de outras parcelas salariais.
IV - Ultrapassada habitualmente a jornada de seis horas de trabalho, é devido o gozo do intervalo intrajornada mínimo de uma hora, obrigando o empregador a remunerar o período para descanso e alimentação não usufruído como extra, acrescido do respectivo adicional, na forma prevista no art. 71, caput e § 4º da CLT.
DA NÃO ENTREGA DO TRCT
A reclamada não cumpriu com sua obrigação de entregar à reclamante cópia do TRCT quando da rescisão do contrato de trabalho, o que teve como consequência o não recebimento do seguro desemprego pela reclamante.
Assim, evidente que a atitude da reclamada trouxe graves prejuízos à reclamante, a reclamada deve ser compelida a pagar à reclamante o valor equivalente ao seguro desemprego não recebido por esta por culpa daquela. 
DOS DANOS MORAIS
Muito já se discutiu acerca da competência da Justiça Especializada do Trabalho para processar e julgar demanda que envolvesse matéria afeta ao direito civil, embora a ‘causa petendi’ se assentasse na relação de trabalho.
O art. 114 da Constituição Federal, contudo, é claro ao estabelecer: “Compete à Justiça do Trabalho conciliar e julgar os dissídios individuais e coletivos entre trabalhadores e empregadores... e, na forma da lei, outras controvérsias decorrentes da relação do trabalho...”. Como se vê, a competência da Justiça do Trabalho para tomar conhecimento da matéria relativa ao dano moral não se afigura questão estranha ao direito processual do trabalho ou de “lege ferenda”, a teor do disposto na CF/88.
No Estado de São Paulo, do qual cabe ao Egrégio Tribunal Regional do Trabalho da 2a Região decidir a matéria em grau de recurso, o assunto já se pacificou:
“DANO MORAL – É competente a Justiça do Trabalho para julgar a reparação de dano moral derivado da relação de emprego” (TRT/SP – RO 02960192910 – Rel. Juiz Sérgio Prado de Mello – 16.09.97);
	
Para pacificar de vez o assunto, o Pretório Excelso, no julgamento do Recurso Extraordinário no 238.737-4-SP, na lavra do eminente Ministro SEPÚLVEDA PERTENCE, com reflexos perante o E. TRT/SP (RO 02980239563 – Rel. Juiz Francisco Antônio de Oliveira – 27.04.99), decidiu:
“JUSTIÇA DO TRABALHO – Competência – Ação de reparação de danos decorrentes da imputação caluniosa irrogada ao trabalhador pelo empregador a pretexto de justa causa para a despedida e, assim, decorrente da relação de trabalho, não importando deva a controvérsia ser dirimida à luz do Direito Civil” (STF – 1a Turma – RE no 238.737-4-SP – Rel. Min. Sepúlveda Pertence – v.u. – DJU 05.02.99 – em. 1937-18).
Assim, é incontroversa a competência dessa Justiça Especializada para processar e julgar o dano moral oriundo de “relação de trabalho” (que nada tem haver com acidente de trabalho).
Como já mencionado nos fatos, a reclamante, grávida de quatro meses, foi gravemente humilhada pelo proprietário da lanchonete, ora reclamada, quando, ao se negar a carregar uma caixa extremamente pesada (o que colocaria a integridade de sua prole em risco), o proprietário, Sr. Pedro, proferiu os seguintes dizeres: “AGUENTA UM HOMEM EM CIMA DE VOCE E NÃO PODE PEGAR UMA CAIXA?”. 
Com a situação, a reclamante se sentiu HUMILHADA em seu decoro em razão da atitude COVARDE perpetrada pelo proprietário.
Desta forma, a título de dano moral pela dor íntima, humilhação, constrangimento e todos demais sentimentos negativos que um ser humano provido de bom senso pode sofrer, requer uma indenização no importe de R$ 12.380,00 (doze mil, trezentos e oitenta reais), equivalente a 10 (dez) vezes sua última remuneração (10 x R$ 1.238,00).
DO PEDIDO
Isto posto requer:
a) A citação da Reclamada para responder, querendo apresentar defesa, sob pena de confissão e revelia.
b) Seja julgada procedente a presente Reclamação Trabalhista, declarando e determinando a equiparação salarial com a de seu paradigma, condenando a Reclamada, nos termos do art. 461 da CLT, retificando o salário do Autor, bem como mandar pagar as diferenças salariais em todo o período trabalhado, desde de sua admissão até a sua demissão e seus reflexos em férias, 13º, FGTS e DSR's, tudo devidamente atualizado com juros e correção monetária.
c) O pagamento do valor referente ao intervalo intrajornada suprimido.
d) O pagamento do valor referente ao seguro desemprego não recebido pela reclamante por desídia da reclamada que demorou a entregar os documentos necessários
e) Indenização por DANOS MORAIS, estimados, em que pese o sistema livre adotado pelo direito pátrio, no importe de R$ 12.380,00 (doze mil, trezentos e oitenta reais), equivalente a 10 (dez) vezes sua última remuneração (10 x R$ 1.238,00).
Requer também seja a reclamada compelida a juntar nos autos todos os documentos funcionais da reclamante, em especial folhas de presença, cartões de ponto, demonstrativos de pagamentos de salários, ficha de registro de empregado, RE’s, GR’s e GRE’s - FGTS, de todo o período laboral, sob pena de confissão, “ex-vi” dos artigos 355 e 359 do Cód. Proc. Civil.
Outrossim, requer sejam deferidos os benefícios da gratuidade processual, posto não reunir condições econômicas de arcar com o pagamento de eventuais custas e despesas processuais. Nada obstante, em que pese o disposto no art. 4o da Lei no 1.060/50, por este ato, junta a reclamante DECLARAÇÃO DE ESTADO DE POBREZA, na forma da Lei no 7.115/83.
Finalmente, protesta e requer provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos, tais como juntada de novos documentos, expedição de ofícios, perícias, depoimento pessoal do representante legal da reclamada, sob pena de confissão (Enunciado 74 do C. TST), oitiva de testemunhas, bem como qualquer outro meio que no curso da instrução se faça necessário.
Dá à causa o valor de R$.....
Termos em que, 
Pede Deferimento. 
Local, data
Advogado, OAB

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