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INSTITUTO AVANÇADO DE ENSINO SUPERIOR DE BARREIRAS - IAESB FACULDADE SÃO FRANCISCO DE BARREIRAS – FASB CURSO DE DIREITO DAVID MARQUES DOS SANTOS ABUSIVIDADE NO USO DA PRISÃO PREVENTIVA PARA OBTENÇÃO DE INFORMAÇÕES POR MEIO DA DELAÇÃO PREMIADA: VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO, AMPLA DEFESA E DEVIDO PROCESSO LEGAL BARREIRAS-BA 2018 DAVID MARQUES DOS SANTOS ABUSIVIDADE NO USO DA PRISÃO PREVENTIVA PARA OBTENÇÃO DE INFORMAÇÕES POR MEIO DA DELAÇÃO PREMIADA: VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO, AMPLA DEFESA E DEVIDO PROCESSO LEGAL Artigo científico apresentado à Faculdade São Francisco de Barreiras (FASB), como exigência à obtenção do título de bacharel em Direito. Orientador: Prof. Me. Luiz Antônio Fabro de Almeida BARREIRAS-BA 2018 DAVID MARQUES DOS SANTOS ABUSIVIDADE NO USO DA PRISÃO PREVENTIVA PARA OBTENÇÃO DE INFORMAÇÕES POR MEIO DA DELAÇÃO PREMIADA: VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO, AMPLA DEFESA E DEVIDO PROCESSO LEGAL Artigo científico apresentado à Faculdade São Francisco de Barreiras (FASB), como exigência à obtenção do título de bacharel em Direito. Data de aprovação_____/_____________/________ Banca examinadora: _________________________________________________ Prof. Me. Luiz Antônio Fabro de Almeida – Orientador Faculdade São Francisco de Barreiras (FASB) __________________________________________________ Prof. Me. Marcus Vinícius Aguiar Faria Faculdade São Francisco de Barreiras ___________________________________________________ Prof. Esp. Rafael Corado da Silva Batista Faculdade São Francisco de Barreiras BARREIRAS-BA 2018 “Quando a ordem é injusta, a desordem é já um princípio de justiça” Romain Rolland ABUSIVIDADE NO USO DA PRISÃO PREVENTIVA PARA OBTENÇÃO DE INFORMAÇÕES POR MEIO DA DELAÇÃO PREMIADA: VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO, AMPLA DEFESA E DEVIDO PROCESSO LEGAL David Marques dos Santos1 Luiz Antônio Fabro de Almeida2 RESUMO O artigo buscou analisar se os princípios do devido processo legal, contraditório e ampla defesa são afetados diante do uso abusivo da prisão preventiva para a obtenção da delação premiada, na problemática a utilização abusiva da prisão preventiva para a obtenção da delação premiada afeta os princípios do contraditório, ampla defesa e devido processo legal. O estudo analisou o instituto da delação premiada, explorou as situações que autorizam o uso da prisão preventiva e buscou estabelecer uma relação entre o abuso na utilização da prisão preventiva para a obtenção da delação premiada e os princípios do devido processo legal, ampla defesa e contraditório. Para a realização da pesquisa fez-se o uso de pesquisas bibliográficas, doutrinárias, a partir dos estudos de processo penal, princípios no processo penal e sobre a prisão preventiva. A pesquisa evidenciou a importância dos princípios usados na persecução penal, como garantias de direitos e de manutenção processual fornecidos pela própria constituição cidadã. Durante o estudo foi observado que o crescente número de prisões preventivas, após a inovação da delação premiada, como um meio eficaz de investigação, trouxe um alerta sobre um desrespeito aos princípios do devido processo legal, ampla defesa e contraditório, pois para conseguir obter as informações, através da delação premiada, passaram a se valer da prisão preventiva como um meio de coagir o indivíduo a colaborar ignorando os princípios essenciais para o bom andamento processual. Diante disso, constatou- se que a prisão preventiva usada nos casos para se obter a delação premiada, muitas vezes, não se atenta para o uso dos princípios, causando danos processuais e individuais para aquele que recai uma prisão e tem o seu direito cerceado. Palavras-chave: Delação Premiada. Prisão Preventiva. Violação. Princípios ABSTRACT The article sought to analyze if the principles of due legal process, contradictory and ample defense are affected by the abusive use of preventive detention to obtain the plea-bargain deal, in the problematic the abusive use of preventive detention to obtain the plea bargain of affects the principles of contradictory, ample defense and due legal 1Acadêmico do curso de Direito da Faculdade São Francisco de Barreiras (FASB). E-mail: frodo.sda123@gmail.com 2Professor orientador, mestre Direito Processual e Cidadania pela Universidade Paranaense – UNIPAR. E-mail: luizfabro75@gmail.com process. The study analyzed the plea bargain institute, explored the situations that authorize the use of preventive detention and sought to establish a relationship between abuse in the use of preventive detention to obtain the plea bargain and the principles of due legal process, ample defense and contradictory. To do this research, the bibliographical, doctrinal researches were made, from the studies of criminal procedure, principles in the criminal procedure and about the preventive detention. The research highlighted the importance of the principles used in criminal prosecution, such as guarantees of rights and procedural maintenance provided by the own citizen's constitution. During the study it was observed that the increasing number of preventive detentions, after the innovation of plea bargain, as an effective means of investigation, brought a warning about a disrespect for the principles of due legal process, ample defense and contradictory, because to obtain the information, through plea bargain, it began to draw on preventive detention as a means of coercing the individual to collaborate ignoring the essential principles for a good procedural. So, it was verified that the preventive detention used in the cases to obtain plea bargain deal, usually, does not pay attention to the use of the principles, causing procedural and individual damages to the one who is in prison and has his right curtailed. Keywords: Plea-bargain deal. Preventive Detention. Violation. Principles. Sumário: Introdução, p. 6; 1.0 O Instituto da Delação Premiada, p. 7; 1.1 Breve Comentário Histórico, p. 7; 1.2 Conceitos e Características, p. 8; 2.0 Situações que Autorizam o Uso da Prisão Preventiva, p. 10; 2.1 Breve Comentário Histórico Sobre as Penas de Prisão, p. 10; 2.1.1 Princípios Regentes das Prisões Cautelares, p. 14; 2.2 Prisão Preventiva: Conceitos, Definições e Características, p. 15; 3.0 Relação Entre o Abuso na Utilização da Prisão Preventiva para a Obtenção da Delação Premiada e os Princípios da Ampla Defesa e Devido Processo Legal, p. 20; 3.1 Princípios no Direito Processual Penal, p. 21; 3.2 Princípio do Devido Processo Legal, Ampla Defesa e Contraditório, p. 22; 3.3 Relação Entre o Abuso na Utilização da Prisão Preventiva para Detenção de Delação Premiada, p. 25; Considerações Finais, p. 30; Referências, p. 31. 6 INTRODUÇÃO Os Princípios do Devido Processo Legal, Ampla Defesa e Contraditório são apontados como uma base efetiva dos direitos garantidos na Constituição Federal de 1988. Esses Princípios trazem uma carga humanitária e garantista de direitos aos indivíduos que sofrem com uma persecução penal e desempenham uma função garantista e limitadora do direito/dever de punir que pertence ao Estado. A importância de tais princípios pode ser observada na esfera de garantidor da liberdade individual, na proteção contra arbitrariedades, aplicações de penas que ultrapassem o permitido e aplicação da forma adequada instituída pela Constituição Federal. Dessa forma permite que o Direito Penal não tenha um viés exclusivamentepunitivo, mas de garantias aos cidadãos. Entretanto, a constante evolução do crime na sociedade, e a desatualização e ineficiência dos meios comuns de produção de provas fez com que o legislador buscasse em outros ordenamentos jurídicos maneiras efetivas de deter o crime organizado. Dessa forma passou a ser usado no Brasil a delação premiada que é uma maneira de obtenção de provas que impulsiona o acusado a delatar ou colaborar com a investigação em troca de benefícios expressos na lei. Contudo, muitas vezes, o acusado não concorda em participar espontaneamente da delação premiada, sendo necessário que a investigação use outros meios para a obtenção da prova. E é nessa perspectiva que a pesquisa busca analisar se a prisão preventiva acaba por ser usada com o objetivo de pressionar o indivíduo a colaborar para não ser preso ou para ter sua liberdade novamente. Em volta da importância dos princípios do devido processo legal, ampla defesa e contraditório, ligado ao uso discricionário da prisão preventiva para se obter provas, surge a problemática dessa pesquisa: a utilização abusiva da prisão preventiva para 7 a obtenção da delação premiada afeta os princípios do contraditório, ampla defesa e devido processo legal? Nesse sentido, a pesquisa intitulada “Abusividade no uso da prisão preventiva para obtenção de informações por meio da delação premiada: violação dos princípios da ampla defesa e devido processo legal” busca analisar se os princípios do devido processo legal, contraditório e ampla defesa são afetados diante do uso abusivo da prisão preventiva para a obtenção da delação premiada e demonstrar que existe essa afetação, tida como uma ofensa à ordem constitucional. Para a realização deste estudo, utilizou-se a pesquisa bibliográfica ordenada no entendimento de doutrinadores e estudiosos do processo penal, como Aury Lopes Jr., Norberto Cláudio Pâncaro Avena, Paulo Bonavides, Fernando Capez, Guilherme de Souza Nucci entre outros. O objetivo geral desta investigação é analisar a ofensa aos princípios do contraditório, ampla defesa e devido processo legal diante do uso abusivo da prisão preventiva para a obtenção da delação premiada. Assim, a pesquisa busca analisar o instituto da delação premiada, explorar as situações que autorizam o uso da prisão preventiva e estabelecer a relação entre o abuso na utilização desta, para a obtenção da delação premiada e os princípios do contraditório, ampla defesa e devido processo legal. A importância do assunto é a necessidade de se desenvolver um estudo na temática do desrespeito aos princípios do devido processo legal, contraditório e ampla defesa, através da prisão preventiva, para se obter a delação premiada, visto que tais desrespeitos podem colocar em risco vários direitos do ordenamento jurídico e causar danos irreversíveis ao acusado. 1.0 O INSTITUTO DA DELAÇÃO PREMIADA 1.1 BREVE COMENTÁRIO HISTÓRICO 8 A delação premiada é um instituto utilizado há muito tempo como um meio de auxiliar o combate àqueles que contrariaram o sistema jurídico vigente. O seu surgimento é datado entre os séculos V e XV, na Idade Média, no qual teve um grande destaque nas Ordenações Filipinas, registrado no Livro V, que tratava da parte criminal, tendo em diversos títulos passagens que se referiam ao instituto. (LIMA FILHO, 2016, on- line). Fora do Brasil, no período de intenso combate às organizações criminosas nos Estados Unidos, a delação premiada foi um instrumento de imperial importância, que era bastante utilizado. Ainda, foi adotado para o combate à máfia, que se ascendeu na Itália no fim dos anos sessenta. (SILVA, 2012, on-line). O primeiro diploma legal a inserir expressamente o instituto da delação premiada no Brasil foi a Lei 8.072/90, a Lei de Crimes Hediondos, em seu artigo 8º, parágrafo único, disciplina que: “o participante e o associado que denunciar à autoridade o bando ou a quadrilha, possibilitando o seu desmantelamento, terá a pena reduzida de 1 (um) a 2/3 (dois terços).” (BRASIL, 1990, on-line). Posteriormente surgiram outras leis penais extravagantes que abarcavam o mesmo assunto. Em 1995 surgiu a Lei 9.034/95, chamada de Lei de Organizações Criminosas, novamente corroborando com o instituto da delação premiada, mas não possuía muita abrangência. Com isso, veio a Lei 12.850, de 2 de agosto de 2013, que revogou a Lei 9.034, de 1995. Essa nova lei referente ao crime organizado trouxe uma regulamentação mais ampla, dispondo da delação premiada dentro da nomenclatura “colaboração premiada”. A Delação Premiada ganhou grande espaço, principalmente, com a evolução da criminologia e os novos estudos sobre o criminoso, a sociedade e versatilidade dos crimes, que se inovam rapidamente. A partir dessa nova perspectiva o Estado, como detentor do poder/dever de punir e tutor dos bens jurídicos mais relevantes, teve a necessidade de buscar inovações para tornar efetiva a lei e garantir o amparo dos bens jurídicos protegidos pelo Direito Penal. 1.2 CONCEITOS E CARACTERÍSTICAS 9 As Técnicas Especiais de Investigação são métodos recentes trazidos para o Brasil com o fim de possibilitar a obtenção de provas e a desconstrução do crime organizado. Dentre elas estão a colaboração premiada, ação controlada, infiltração de agentes e captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos e acústicos. Todas regidas pela lei 12.850 de 2013 e como características predominantes há o sigilo e a dissimulação. Dentre as técnicas especiais de investigação destaca-se a Colaboração Premiada que é um termo mais encontrado em doutrinas e jurisprudências. Segundo, Aras (apud LIMA, 2016) a colaboração premiada possui quatro subespécies, sendo a principal a delação premiada (ou chamamento de corréu), onde o colaborador, além de confessar seu envolvimento na prática delituosa, também expõe outras pessoas relacionadas ao ato ilícito. A delação premiada se configurará quando um acusado, durante o interrogatório, admite a prática da infração penal e entrega um terceiro que participou com comunhão de esforços para o acontecimento do crime. Tais alegações, se vierem a colaborar de forma efetiva ao processo, poderão ensejar num benefício ao delator. Nucci (2011), em sua concepção, explica que será necessária a imputação do crime a outro agente e a confissão daquele que imputou, caso contrário não se configurará a delação premiada. Atualmente, a delação premiada no Brasil é um meio utilizado para o combate efetivo da criminalidade, principalmente em relação ao crime organizado. O artigo 159, §4.º, do Código Penal aduz que: “Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do sequestrado, terá sua pena reduzida de 1 (um) a 2/3 (dois terços).” (BRASIL, 1940, on-line). O artigo supracitado demonstra uma finalidade da delação premiada. Outras finalidades também podem ser encontradas no texto do artigo 8.º, parágrafo único, da Lei n. 8.072/90, visando o desmantelamento de quadrilha ou bando, e os artigos 13 e 14 da Lei n. 9.807/99 (Lei de Proteção à Testemunha), além de diversos outros textos legais. 10 Art. 13. Poderá o juiz, de ofício ou a requerimento das partes, conceder o perdão judicial e a consequente extinção da punibilidade ao acusado que, sendo primário, tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e o processo criminal, desde que dessa colaboração tenha resultado: I - a identificação dos demais co-autores ou partícipes da ação criminosa; II - a localização da vítima com a sua integridade física preservada; III - a recuperação total ou parcial do produto do crime. Parágrafo único. A concessão do perdão judicial levará em conta a personalidade do beneficiado e a natureza, circunstâncias, gravidade e repercussão socialdo fato criminoso. Art. 14. O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação policial e o processo criminal na identificação dos demais co- autores ou partícipes do crime, na localização da vítima com vida e na recuperação total ou parcial do produto do crime, no caso de condenação, terá pena reduzida de um a dois terços. (BRASIL, 1999, on-line). Vê-se, assim, como principal intuito da delação, conseguir a confissão do crime cometido pelo colaborador e informações sobre os outros partícipes através de acordo, em troca de benefícios referentes à punição que este sofrerá. A delação premiada tem se mostrado efetiva em sua aplicação, pois através de recompensas (benefícios), aqueles que cometeram crimes passam a ter a oportunidade de confessarem seu delito e contribuem ao prestar informações relevantes para a investigação e, assim, conseguem proventos importantes durante a persecução penal e a aplicação da pena. Por se mostrar benéfico tanto ao réu, quanto ao sistema penal, o instituto em questão passou a ser muito utilizado, principalmente nos casos de crimes organizados que mais preocupam a sociedade no século XXI. Mesmo tendo se provado efetivo, deve- se usar a cautela, pois é necessária a utilização correta dos meios para se conseguir que o réu contribua para o processo, preservando-lhes os direitos garantidos pela Constituição Federal e do ordenamento jurídico penal a ele inerentes. 2.0 SITUAÇÕES QUE AUTORIZAM O USO DA PRISÃO PREVENTIVA. 2.1 BREVE COMENTÁRIO HISTÓRICO SOBRE AS PENAS E A PENA DE PRISÃO Durante sua história, a humanidade já acompanhou diversos tipos de penalidades impostas, como a vingança privada nas civilizações mais remotas, as penas expostas na Lei de Talião, pena de morte – que em alguns países existe até hoje, mutilações, 11 torturas e muitas outras atrocidades como as penas impostas na Idade Média pela Igreja Católica, e dentro dessas modalidades e espaços de tempo a principal característica da pena era seu teor exclusivamente aflitivo (GRECO, 2009). Com a evolução da sociedade e uma consequente mudança na forma de punir, houve uma melhoria no aspecto punitivo penalista. A punição exercida pelo Estado ao autor de uma infração penal deixou de ser corpórea, humilhante e com um fim exclusivamente aflitivo. O Estado Brasileiro se tornou um Estado Constitucional de direitos, no qual as penas impostas devem observar os princípios existentes no ordenamento jurídico (GRECO, 2009). O Direito Penal, revestido da Constituição, trouxe uma nova abordagem da pena que deixou de ter um teor de castigo em sua essência e passou a adotar um caráter ressocializador e preventivo em que figura a proteção do indivíduo contra penas desumanas, um objetivo ressocializador, de cuidado com a sociedade e demonstração da efetividade do Estado como detentor do direito/dever de punir. Dessa forma dispõe o art. 59 do Código Penal de 1940: O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime. (BRASIL, 1940, on-line) Nessa perspectiva retributiva e preventiva da pena, explica Damásio de Jesus (2014, p. 563): Apresenta a característica de retribuição, de ameaça de um mal contra o auto de uma infração penal. Tem finalidade preventiva, no sentido de evitar a prática de novas infrações. A prevenção é: a) geral; b) especial. Na prevenção geral o fim intimidativo da pena dirige-se a todos os destinatários da norma penal, visando impedir que os membros da sociedade pratiquem crimes. Na prevenção especial a pena visa o autor do delito, retirando-se do meio social, impedindo-o de delinquir e procurando corrigi-lo. Em suma a Pena é uma consequência natural e perpétua na humanidade em que passa a ser efetivada com o descumprimento legal, como explica Greco (2009). 12 É notório que todas as alterações e evoluções importantes surgiram a partir de uma evolução histórica propiciada por ideais reformadores e grandes nomes como Beccaria, Howard e Bentham que apontaram a crise do sistema punitivo e carcerário (BITENCOURT, 2008). Como reflexo dessas revoluções as penas passaram a ter um cunho de Direitos Humanos e sobre a luz da Constituição Cidadã que postula um Direito Penal Minimalista e Garantidor, explica Greco (2009, p. 485): Em nosso país, depois de uma longa e lenta evolução, a Constituição Federal, visando proteger os direitos de todos aqueles que, temporariamente ou não, estão em território nacional, proibiu a cominação de uma série de penas, por entender que todas elas, em sentido amplo, ofendiam a dignidade da pessoa humana, além de fugir, em algumas hipóteses, à sua função preventiva. Nesse contexto, o ordenamento jurídico penal dispôs algumas características como explica Damásio de Jesus (2014, p. 564): São caracteres da pena: a) é personalíssima, só́ atingindo o autor do crime (Const. Federal, art. 5.o, XLV); b) a sua aplicação é disciplinada pela lei; c) é inderrogável, no sentido da certeza de sua aplicação; d) é proporcional ao crime. Ademais, é importante frisar, que todas as penas passaram a ter previsão legal, a serem restritas, em regra, na aplicação, devendo se aguardar o trânsito em julgado da sentença, e necessariamente serem consoantes à Constituição Federal. O Código Penal brasileiro, em seu artigo 32 e seguintes, adotou os seguintes tipos de penas: privativas de liberdade; restritivas de direitos e pecuniárias. As penas privativas de liberdade são reclusão e detenção. Já as penas restritivas de direitos são divididas em: prestação pecuniária; perda de bens e valores; prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas; interdição temporária de direitos; e limitação de fim de semana. (BRASIL, 1940, on-line). Dentro das penas possibilitadas pelo ordenamento jurídico destacam-se as de prisão, que possuem sua essência na privação, durante um tempo, da liberdade daquele que foi condenado. É considerada uma pena moderna que tem um caráter teórico predominante ressocializador. 13 A pena de prisão é a mais moderna e usada atualmente, teve suas raízes em Roma, e se tornou a principal aplicação para abolir as penas aflitivas e desumanas (FERRAJOLI, 2006). A pena de prisão objetiva cercear a liberdade, por um determinado tempo, do indivíduo transgressor da lei que fora condenado por uma sentença transitada em julgado. Ferrajoli (2006) destaca que passa a existir uma abstração para justificar a prisão, que será a “privação de um tempo abstrato de liberdade” que objetiva efetivar a lei e exercer o poder/dever de punir do Estado. No entanto, independentemente da pena, a regra do ordenamento jurídico pátrio é que esta seja aplicada proporcionalmente e, apenas, com o trânsito em julgado da sentença penal, com base no Princípio da presunção de inocência como explica Lopes Jr. (2014, p. 803): É um princípio fundamental de civilidade, fruto de uma opção protetora do indivíduo, ainda que para isso tenha-se que pagar o preço da impunidade de algum culpável, pois sem dúvida o maior interesse é que todos os inocentes, sem exceção, estejam protegidos. Por mais que tal afirmação envolva o Princípio da presunção de inocência que é de suma importância para o Direito e o Processo Penal, deve-se destacar que diante de algumas situações haverá a possibilidade de penalizar o indivíduo, cerceando sua liberdade, para manutenção do processo, através das prisões cautelares. Entretanto, Ferrajoli (2006) destaca que os danos provenientes da prisão vão além de uma privação do tempo de liberdade, mas atingem a esfera psicológica do indivíduo que passa a sentir as drásticas consequências do cárceree nessa perspectiva, ressalta o autor, que a pena privativa de liberdade perde seu caráter de igualdade, de legalidade e de jurisdicionalidade. Tais argumentos ganham força no atual quadro prisional brasileiro, onde a pena privativa de liberdade não atinge apenas o psicológico, mas a integridade física dos presos que são obrigados a viver em situação desumana em presídios lotados, com má estrutura e falta de higienização. 14 Nesse quadro se torna uma obrigação a devida aplicação das penas privativas de liberdade, entretanto o legislador trouxe uma brecha, a aplicação rigorosa e cercada de cuidados, hipóteses em que se pode aplicar previamente a pena de prisão, como já citadas as prisões cautelares. As prisões cautelares são regidas majoritariamente pela Lei n° 12.403 de 2004 e será melhor analisada em tópico diverso. 2.1.1 Princípios regentes das medidas cautelares Para que se houvesse a devida atenção na aplicação das medidas cautelares, que antecipam algumas medidas punitivas com o intuito de resguardar o trâmite processual, proteger a vítima dentre outros, o ordenamento jurídico pátrio trouxe diversos princípios norteadores, que figuram como garantias e proteção aos indivíduos que vão sofrer alguma medida cautelar. Quando for necessário aplicar alguma medida cautelar será preciso a observância dos princípios que embasam tais medidas. Para Lopes Jr. (2017) os princípios na matéria de prisões cautelares são de suma importância, pois serão eles que permitirão a coexistência entre a aplicação precoce de uma penalidade ao indivíduo, em que no sistema penal atual é regido sobre o viés do in dubio pro reo, tendo a inexistência, até aquele momento da ação penal, de uma sentença penal transitada em julgada. O primeiro Princípio a se destacar é o da Jurisdicionalidade e Motivação que são embasados no art. 315 do Código de Processo Penal, que dispõe sobre a decisão que trata que decretar, substituir ou denegar a prisão preventiva deverá sempre vir fundamentada e motivada. (BRASIL, 1941, on-line). Sobre a Jurisdicionalidade o art. 5°, LXI, da CF, expõe a preservação da liberdade individual salvo nas hipóteses de flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente. Tais Princípios têm ligação direta com o Princípio do Devido Legal que deverá ser observado em todas as situações, prezando pela liberdade do acusado ao garantir um processo da maneira legal e prevista em lei até o trânsito em julgado. (LOPES JR., 2017). 15 O Princípio do Contraditório será melhor analisado em tópico específico. E, por último, há o Princípio da Provisionalidade, que é básico, pois tutela uma situação fática (LOPES JR., 2017). Está consagrado no art. 282, parágrafos 4º e 5º do CPP: § 4o No caso de descumprimento de qualquer das obrigações impostas, o juiz, de ofício ou mediante requerimento do Ministério Público, de seu assistente ou do querelante, poderá substituir a medida, impor outra em cumulação, ou, em último caso, decretar a prisão preventiva (art. 312, parágrafo único). § 5o O juiz poderá revogar a medida cautelar ou substituí-la quando verificar a falta de motivo para que subsista, bem como voltar a decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem. (BRASIL, 1941, on-line). Nesse viés, preceitua Lopes Jr. (2017) que o princípio supracitado evitará danos decorrentes de uma prisão que passou a ser ilegal, como a perda dos motivos que legitimam a prisão do réu. Esses são apenas alguns princípios apontados por Aury Lopes Jr. com o intuito de impedir que a pena de prisão preventiva cause danos irreversíveis ao indivíduo e que se siga o rito processual com os direitos e garantias expressos e implícitos tanto na Constituição Federal como na legislação. 2.2 PRISÃO PREVENTIVA: CONCEITOS, DEFINIÇÕES E CARACTERÍSTAS A Constituição Federal de 1988, no artigo 5º, LVII, diz que “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória.” (BRASIL, 1988, on-line). Isso consagra de forma expressa a presunção de inocência, sendo um dos princípios norteadores do sistema processual penal brasileiro. Prisão, conforme leciona Capez (2012, p. 301), é: [...] a privação da liberdade de locomoção em virtude de flagrante delito ou determinada por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência de sentença condenatória transitada em julgado ou, no curso do processo, em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva. É a prerrogativa que o Estado tem para punir aqueles que cometem alguma infração penal, na busca da reabilitação daquele que cometeu tal infração e da restauração da ordem jurídica violada. 16 O artigo 283, do Código de Processo Penal de 1941, dispõe acerca dos motivos que ensejam a prisão: Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência de sentença condenatória transitada em julgado ou, no curso da investigação ou do processo, em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva. (BRASIL, 1941, on-line). Diante de tais enunciados, percebe-se que a prisão é utilizada como uma exceção aplicada somente nas hipóteses trazidas pelo artigo, tendo como regra a liberdade. O ordenamento jurídico brasileiro dispõe sobre seis tipos de prisão: temporária, preventiva, em flagrante, para a execução de pena, preventiva para fins de extradição e a prisão civil do não pagador de pensão alimentícia. (OAB – SECCIONAL BAHIA, 2009, on-line). Esses tipos de prisão são divididas em três grandes espécies, como aduz Lima (2017), as quais são: prisão extrapenal, que abarca as prisões civil e militar; prisão penal, também conhecida como prisão pena ou, somente, pena, que é aquela que decorre, em regra, de sentença condenatória transitada em julgado; e a prisão cautelar, provisória, processual ou sem pena, que tem como principais subespécies a prisão temporária e a prisão preventiva. Dentre os tipos de prisões, tem-se a classificação das prisões cautelares, ou medidas cautelares. Nesse sentido, Lopes Jr. (2014, p. 804) destaca que “as medidas cautelares de natureza processual penal buscam garantir o normal desenvolvimento do processo e, como consequência, a eficaz aplicação do poder de penar.” Salienta ainda que essas medidas são destinadas à tutela do processo. Essas medidas são aplicadas, quando necessário, tendo em vista assegurar o andamento do processo de forma adequada. Para Lopes Jr. (2014, p. 805 e 806), 17 [...] o requisito para decretação de uma prisão cautelar é a existência do fumus commissi delicti, enquanto probabilidade da ocorrência de um delito (e não de um direito), ou mais, especificamente, na sistemática do CPP, a prova da existência do crime e indícios suficientes de autoria. Ainda aduz que o fundamento para ocorrência de tal instituto “é um periculum libertatis, enquanto perigo que decorre do estado de liberdade do imputado.” Ao se utilizar dessas medidas a serviço do processo, deve-se levar em conta esses postulados tanto a todos os outros dispostos constitucionais e legais, de forma a asseverar o seu correto uso, evitando, assim, abusos na aplicação desses instrumentos. Dentre as medidas cautelares, encontra-se a prisão preventiva. Conforme Nucci (2014, p. 549), esse tipo de prisão serve como um meio de “constrição à liberdade do indiciado ou réu, por razões de necessidade, respeitados os requisitos estabelecidos em lei”. Conforme dispõe o artigo 311, do Código de Processo Penal, a prisão preventiva pode ser decretada em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal, a requerimento do Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou por meio de representação da autoridade policial. O juiz decreta-a deofício, desde que no curso da ação penal. (BRASIL, 1941, on-line). Para que se haja decretação da prisão preventiva, deve-se observar requisitos, ao que diz Nucci (2014, p. 552): [...] são sempre, no mínimo três: prova da existência do crime (materialidade) + indício suficiente de autoria + uma das situações descritas no art. 312 do CPP, a saber: a) garantia da ordem pública; b) garantia da ordem econômica; c) conveniência da instrução criminal; d) garantia de aplicação da lei penal. A prova da existência do crime, também chamada de materialidade, é o meio pelo qual se demonstra que este ocorreu. Não se pode decretar a medida cautelar para uma pessoa presumidamente inocente se existir grande dúvida em relação a ter ocorrido realmente o fato típico. Ainda, conforme Nucci (2014, p. 552 e 553), essa prova: 18 [...] não precisa ser feita, mormente na fase probatória, de modo definitivo e fundada em laudos periciais. Admite-se que haja a certeza da morte de alguém (no caso do homicídio, por exemplo), porque as testemunhas ouvidas no inquérito assim afirmaram, bem como houve a juntada da certidão de óbito nos autos. O laudo necroscópico posteriormente pode ser apresentado. Assim, a materialidade é um requisito primordial para a prisão preventiva, pois sem a existência de um fato típico, não há crime e, sem crime, não há motivos para a aplicação de prisão. O indício suficiente de autoria diz respeito à suspeita com fundamentos de que alguém, sendo acusado, foi o autor do delito. “Não é exigida prova plena da culpa, pois isso é inviável num juízo meramente cautelar, feito, como regra, muito antes do julgamento de mérito.” (NUCCI, 2014, p. 553). Dessa forma, é necessário que se apresentem boas razões, demonstrando que a presunção da autoria é fundada, mas não a necessária comprovação plena da culpa, para que se mande alguém para o cárcere. A garantia da ordem pública é o requisito de interpretação mais aberto na observação da necessidade da prisão preventiva. Por essa expressão, segundo Nucci (2014), se entende a suma importância de se manter a ordem na sociedade, que é abalada pela prática de uma infração penal, como regra, de acordo com a gravidade da infração e sua repercussão na sociedade, que traga reflexos negativos e cause um forte sentimento de insegurança e impunidade, o Judiciário deve recolher o agente, também se observando o seu nível de periculosidade. Quanto à garantia da ordem econômica, pode se dizer que é uma subdivisão da garantia da ordem pública, pois também gera efeitos para toda sociedade. Nucci (2014, p. 555), diz que, no caso da garantia da ordem econômica: [...] visa-se, com a decretação da prisão preventiva, impedir que o agente, causador de seríssimo abalo à ordem econômico-financeira de uma instituição financeira ou mesmo de órgão do Estado, permaneça em liberdade, demonstrando à sociedade a impunidade reinante nessa área. O requisito da conveniência da instrução criminal é “o motivo resultante da garantia de existência do devido processo legal, no seu aspecto procedimental.” (NUCCI, 2014, 19 p. 555). Significa dizer que, todo processo requer que seus atos sejam feitos da melhor maneira possível, sem interrupções. Dessa maneira se há alguma ameaça para o perfeito andamento da instrução criminal pelo acusado, pode se considerar motivo para a aplicação da prisão preventiva. Conforme o autor já citado, na mesma obra, a ameaça a testemunhas, ameaças dirigidas ao órgão acusatório, à vítima ou ao juiz do feito, a investida contra provas buscando desaparecer com evidências, dentre outras, configuram condutas inaceitáveis dentro do processo, ensejando a prisão preventiva. Já a respeito da garantia de aplicação da lei penal, Lima (2017, p. 971) assevera: Se é verdade, então, que a simples fuga para se evitar a prisão em flagrante ou para impugnar decisão constritiva tida por ilegal não autorizem, de per si, a decretação da prisão preventiva, também é verdade que, demonstrada inequívoca intenção do agente de se furtar à aplicação da lei penal, em situações em que comprovada a sua fuga em momento anterior à expedição de decreto prisional, haverá causa idônea a justificar sua segregação cautelar com base na garantia da aplicação da lei penal. (grifo do autor). Assim, esse requisito busca consolidar o direito de punir do Estado, evitando que o agente que se volta contra o processo burle essa prerrogativa do Estado, garantindo a aplicação devida da punição àquele considerado autor do crime. A utilização dos requisitos para a decretação da prisão preventiva dá fundamento para essa medida, cabendo ao magistrado analisar cada um deles para se fazer a legitimação da aplicação do instituto de forma que respeite os devidos trâmites legais, decretando, substituindo ou denegando a prisão preventiva. Tal motivação é taxada no artigo 315 do Código de Processo Penal, vinculando a aplicação dela ao juiz. O Código de Processo Penal, em seu artigo 313, traz em seus incisos as situações em que a decretação da prisão preventiva pode ser admitida, sendo elas: Art. 313 [...] I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4 (quatro) anos; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença transitada em julgado, ressalvado o disposto no inciso I do caput do art. 64 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). III - se o crime envolver violência doméstica e familiar 20 contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). IV - (Revogado pela Lei nº 12.403, de 2011). (BRASIL, 1941, on-line) Ainda, no parágrafo único, diz que a prisão preventiva também será admitida quando houver dúvida a respeito da identidade civil da pessoa ou quando esta não fornecer elementos suficientes para torná-la clara, nesse caso o preso deve ser colocado imediatamente em liberdade após a identificação, ressalvados os casos em que a outra hipótese recomendar a manutenção da medida. Apresentadas as situações que admitem a decretação da prisão preventiva, faz-se mister apontar as circunstâncias que a limitam. O artigo 314 do Código de Processo Penal (BRASIL, 1941, on-line), traz como essas circunstâncias as hipóteses de exclusão da ilicitude, elencadas pelo artigo 23, do Código Penal (estado de necessidade, legítima defesa, exercício regular do direito e estrito cumprimento do dever legal). (BRASIL, 1940, on-line). Se o juiz verificar alguma dessas hipóteses, não poderá decretar em nenhum caso a prisão preventiva. Há também o caso em que o juiz poderá revogar a prisão preventiva. Isso ocorre quando, no decorrer do processo, se verifica a falta de motivo para que subsista. Outrossim, poderá decretá-la novamente, desde que se sobrevenham razões para justificá-la, essa possibilidade é trazida em respeito ao princípio da provisionalidade. Para que a prisão preventiva possa ser aplicada de forma efetiva e que respeite o processo penal, deve-se observar todos os preceitos elencados. A não observância de algum deles ou a sua má utilização pode acarretar um vício, pondo em xeque toda sua validade, até podendo se tornar uma medida coercitiva, que, inclusive, pode ser utilizada para a obtenção de delações premiadas, ferindo o normal andamento do processo e cerceando os direitos inerentes ao réu. 3.0 RELAÇÃO ENTRE O ABUSO NA UTILIZAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA PARA A OBTENÇÃO DA DELAÇÃO PREMIADA E OS PRINCÍPIOS DA AMPLA DEFESA E DEVIDO PROCESSO LEGAL. 21 3.1 PRINCÍPIOS NO DIREITO PROCESSUAL PENAL A formação, organização, manutenção e interpretação do ordenamento jurídico brasileiro sãobaseadas nos princípios. Como assevera Bonavides (2011, p. 258) “Os princípios, uma vez constitucionalizados, se fazem a chave de todo o sistema normativo.” Os princípios podem ser considerados como base do Direito, pois é a partir da sua aplicação que se formam normas que têm uma carga interpretativa a ser aplicada no sistema jurídico, sendo balizadores para a interpretação das leis. Na esfera Penal os princípios, também, exercem um papel controlador do Direito Penal e do jus puniendi, pois um dos principais objetivos é prevenir que arbitrariedades ocorram no curso da ação penal, como explica Cezar Roberto Bitencourt (2010, p. 345): As ideias de igualdade e de liberdade, apanágios do Iluminismo, deram ao Direito Penal um caráter formal menos cruel do que aquele que predominou durante o Estado Absolutista, impondo limites à intervenção estatal nas liberdades individuais. Muitos desses " princípios limitadores" passaram a integrar os Códigos Penais dos países democráticos e, afinal, receberam assento constitucional, como garantia máxima de respeito aos direitos fundamentais do cidadão. Bitencourt (2010) aponta que a Constituição Federal de 1988 trouxe, explícita e implicitamente, diversos princípios norteadores do Direito Penal e do Processo Penal que adotam um sistema de controle limitador do jus puniendi com o foco nos direitos humanos, resultando assim, um Direito Penal mínimo e garantista. Dessa forma em seu artigo 5º, incisos LIV e LV, a Constituição Federal ressalta expressamente a garantia dos direitos (instituídos como princípios) ao devido processo legal e à ampla defesa. Art. 5 [...] LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal; LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes. (BRASIL, 1988, on-line). 22 Esses princípios têm por finalidade certificar o bom andamento do sistema processual e, principalmente, assegurar que aquele em quem recaia alguma acusação possa ter o amparo legal asseverado de modo que tenha paridade de condições com aquele que o acuse. 3.2 PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL, AMPLA DEFESA E CONTRADITÓRIO A expressão due process of law deriva do direito anglo-americano instituído pela primeira vez em 1215 por João Sem-Terra, atualmente, está contida na Constituição Federal de 1988 como forma de garantir direitos, principalmente de proteger a liberdade do indivíduo acusado (AVENA, 2017). Conforme Norberto Avena (2017) o Princípio do Devido Processo Legal consiste em impedir prisões arbitrárias, perda de bens e danos provenientes. Tal Princípio, embasado no art. 5°, LIV, dispõe que “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”. Numa perspectiva processual e abrangedora de diversos direitos ao decorrer do curso penal, disserta Capez (2011, p. 80): No âmbito processual garante ao acusado a plenitude de defesa, compreendendo o direito de ser ouvido, de ser informado pessoalmente de todos os atos processuais, de ter acesso à defesa técnica, de ter a oportunidade de manifestar sempre depois da acusação, e em todas as oportunidades, à publicidade e motivação das decisões, ressalvadas as exceções legais, de ser julgado perante o juízo competente, ao duplo grau de jurisdição, à revisão criminal e à imutabilidade das decisões favoráveis transitadas em julgado. Além disso, o devido processo legal tem por finalidade garantir que todos os atos e direitos cabíveis no processo sejam plenamente aplicados. Nesta perspectiva, Moraes (2014, p. 110) diz: O devido processo legal configura dupla proteção ao indivíduo, atuando tanto no âmbito material de proteção ao direito de liberdade, quanto no âmbito formal, ao assegurar-lhe paridade total de condições com o Estado- persecutor e plenitude de defesa (direito a defesa técnica, à publicidade do processo, à citação, de produção ampla de provas, de ser processado e 23 julgado pelo juiz competente, aos recursos, à decisão imutável, à revisão criminal). Dessa maneira, para que o sistema processual cumpra as garantias constitucionais previstas, e supracitadas, com o intuito de evitar arbítrios e injustiças, se faz necessário que os preceitos abarcados pelo devido processo legal sejam devidamente obedecidos, assim é oferecida segurança jurídica e garantias de direitos àqueles que se encontram sob a sua proteção. Com o objetivo de obter maior efetivação do Princípio do Devido Processo Legal e proporcionar os meios cabíveis e necessários para a defesa do acusado e garantir a resposta pelo acusador faz-se necessário o uso de dois princípios, que vislumbram a mesma ótica de garantias de direitos fundamentais e prezam pelo bom andamento processual para que não haja discricionariedades pelo jus puniendi, sendo o princípio do Contraditório e da Ampla Defesa. Para Norberto Avena (2017) o princípio do Contraditório é um dos mais importantes no atual ordenamento jurídico processual, pois assegura às partes resposta aos fatos ocorridos no decorrer do Processo, possibilita a manifestação, produção de provas e garante a cientificação de todos os atos processuais praticados nos autos. O direito ao contraditório não foi uma característica do sistema inquisitório, entretanto se tornou um princípio basilar e fundamental para o Direito Penal atual, com o objetivo de evitar o audiatur et altera pars, o princípio traz consigo uma carga de direitos ao réu que tem a possibilidade de exercer seu direito de ficar calado ou contrariar todas as alegações feitas pela Acusação (CAPEZ, 2011). O Princípio do Contraditório é amplo e facultado a ambas as partes, especialmente ao autor para que possa se manifestar sobre as alegações do acusado, essa afirmação não exclui a possibilidade de o acusado fazer uso de tal princípio em sua defesa. Como explica Norberto Avena (2017, p. 32): Entretanto, comparadas essas duas garantias, o contraditório possui maior abrangência do que a ampla defesa, visto que alcança não apenas o polo defensivo, mas também o polo acusatório, na medida em que a este também 24 deva ser dada ciência e oportunidade de contrariar os atos praticados pela parte ex adversa. O Contraditório, para Lopes Jr. (2014), foi uma revolução no sistema processual penal, pois não se funda em um juízo protestativo e passa a possibilitar um conflito das partes de maneira igualitária de forma disciplinada e ritualizada. O princípio supracitado, ainda na perspectiva de Lopes Jr. (2014), é o que possibilita o sistema penal acusatório, pois permite a acusação contrapor o alegado pela defesa, é uma maneira de se manter a dialeticidade processual e fornecer ao julgador uma convicção motivada e fundamentada de suas decisões. O Princípio impôs ao magistrado uma maior participação processual, visto que a cada contraposição da acusação e da defesa ele deve se manifestar, o que torna o processo penal mais imparcial e adequado às garantias expressas na Constituição Federal. Nessa linha explica Lopes Jr. (2014, p. 222): Numa visão moderna, o contraditório engloba o direito das partes de debater frente ao juiz, mas não é suficiente que tenham a faculdade de ampla participação no processo, é necessário também que o Juiz participe intensamente (não confundir com juiz-inquisidor ou com a atribuição de poderes instrutórios ao juiz), respondendo adequadamente às petições e requerimentos das partes, fundamentando suas decisões. Entretanto, o contraditório não pode ser confundido com o direito de defesa para Lopes Jr. (2014), sua essência está no direito de ser informado para participar de todos os atos processuais e ser possibilitado à oportunidade de manifestar no processo. Para Norberto Avena (2017)a Ampla Defesa, por sua vez, é o dever que o Estado tem de oferecer ao acusado toda a defesa possível quanto às acusações imputadas. Ambos princípios estão resguardados no art. 5.º, LV, da Constituição Federal que dispõe: “aos litigantes em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”. 25 Os princípios do contraditório e da ampla defesa, embora tenham a sua individualidade, estão interligados. Nesse sentido, Moraes (2014, p. 111) explica: Por ampla defesa entende-se o asseguramento que é dado ao réu de condições que lhe possibilitem trazer para o processo todos os elementos tendentes a esclarecer a verdade ou mesmo omitir-se ou calar-se, se entender necessário, enquanto o contraditório é a própria exteriorização da ampla defesa, impondo a condição dialética do processo (par conditio), pois a todo ato produzido pela acusação caberá igual direito da defesa de opor-se lhe ou dar-lhe a versão que melhor lhe apresente, ou, ainda, de fornecer uma interpretação jurídica diversa daquela feita pelo autor. (grifo do autor). Esses direitos garantem que não haja um cerceamento do indivíduo, possibilitando que se defenda de qualquer ato produzido contra ele pela acusação da forma como lhe for conveniente para a proteção da sua liberdade. O princípio do devido processo legal é uma afirmação direta dos princípios do contraditório e da ampla defesa, pois, para que o processo possa ocorrer como está previsto na lei, deve-se assegurar esses dois direitos ao indivíduo que sofra algum tipo de acusação, dessa maneira há uma proteção aos direitos do acusado. Os princípios do devido processo legal, contraditório e ampla defesa formam um corolário de proteção e garantias para que o acusado seja punido da forma mais justa, sem retomar as penas ultrajantes de outras épocas da humanidade. 3.3 RELAÇÃO ENTRE O ABUSO NA UTILIZAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA PARA A OBTENÇÃO DA DELAÇÃO PREMIADA A prisão preventiva, como preceitua o art. 312, do Código de Processo Penal, é a prisão necessária diante de algumas hipóteses expressas na legislação penal processual com o objetivo de garantir a ordem pública, econômica, por necessidade da instrução criminal ou com a finalidade de garantir a aplicação da lei penal. (BRASIL, 1941, on-line). Para que haja a aplicação da prisão preventiva, ainda é necessário, observar dois principais requisitos, o primeiro a prova da existência do crime e por último o indício suficiente de autoria. 26 Nessa perspectiva Lopes Jr. (2017) destaca os critérios para ocorrência da prisão preventiva e explica que o fumus commissi delicti que é a prova da inexistência do crime mais indícios suficientes da autoria. Como ressalta Lopes Jr. (2017, p. 94): O fumus commissi delicti exige a existência de sinais externos, com suporte fático real, extraídos dos atos de investigação levados a cabo, em que por meio de um raciocínio lógico, sério e desapaixonado se permita deduzir com maior ou menor veemência a comissão de um delito, cuja realização e consequências apresentam como responsável um sujeito concreto. Por último, é importante analisar o periculum libertatis, como aduz Lopes Jr. (2017, p. 98): Assim, pode-se considerar que o periculum libertatis é o perigo que decorre do estado de liberdade do sujeito passivo, previsto no CPP como o risco para a ordem pública, ordem econômica, conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal. É o periculum libertatis que garante a real necessidade da prisão preventiva, visto que a regra no ordenamento jurídico brasileiro é a preservação da liberdade, ainda assim será necessário que após a averiguação do fumus commissi e do periculum libertatis o juiz observe atentamente os dispostos no art. 313 do Código de Processo Penal de 1941, que aborda os limites da incidência da prisão preventiva (LOPES JR., 2017). A análise criteriosa para a aplicação da prisão preventiva faz-se necessária devido ao ordenamento jurídico vigente em que constituem direitos e garantias para que se evitem arbitrariedades. Como observa Lopes Jr. (2017) o princípio regente do processo penal é a presunção da inocência no qual visa impedir o cerceamento da liberdade, através das prisões, e garantir o devido processo legal com o direito ao contraditório e a ampla defesa. No prisma de garantias e cuidados a serem tomados na aplicação da prisão preventiva, aduz Lopes Jr. (2017, p. 19): É um princípio fundamental de civilidade, fruto de uma opção protetora do indivíduo, ainda que para isso tenha-se de pagar o preço da impunidade de algum culpável, pois sem dúvida o maior interesse é que todos os inocentes, sem exceção, estejam protegidos. Essa opção ideológica (pois eleição de valor), em se tratando de prisões cautelares, é da maior relevância, visto que decorre da consciência de que o preço a ser pago pela prisão prematura e 27 desnecessária de alguém inocente (pois ainda não existe sentença definitiva) é altíssimo, ainda mais no medieval sistema carcerário brasileiro. No entanto, ressalta-se que o quadro brasileiro é antagônico, acerca da aplicação da prisão preventiva, como foi demonstrado através de pesquisa realizada pelo Conselho Nacional de Justiça (2017) que constatou no ano de 2014 que 38,3% dos presos estavam sob prisão preventiva e segundo os dados do INFOPEN (2016) no ano de 2016 em nove estados brasileiros o número de presos provisórios ultrapassou 50% e a média nacional foi de 40% da massa carcerária. Por fim a pesquisa do CNJ traz em suas considerações finais um importante comentário sobre a realidade brasileira do uso discricionário da prisão preventiva (2016, p. 31): a prisão preventiva somente poderá ser decretada pelo juiz quando não forem cabíveis outras medidas menos gravosas ao direito de liberdade do indiciado ou acusado, a bibliografia consultada já apontava que não foi possível perceber o pretendido rompimento do binômio prisão preventiva/liberdade provisória, sendo a prisão preventiva cotidianamente aplicada nos tribunais do país, muitas vezes sem que sequer se verifique o cabimento de medidas alternativas e em desrespeito a garantias fundamentais como a legalidade, a presunção de inocência, a proporcionalidade, o devido processo legal e sua razoável duração. A pesquisa demonstrou que há um crescimento constante das prisões preventivas no Estado Brasileiro o que não condiz com a finalidade da prisão preventiva, ou seja, passa a ser um ato arbitrário tais prisões visto que, muitos desses casos, não preenchem os requisitos exigidos pelo Código de Processo Penal, em que se acarreta em prisões decretadas equivocadamente e de forma danosa para os acusados. Sobre as prisões preventivas na Itália, Ferrajoli (2006) já advertia aos possíveis problemas causados por ela, sobre seu uso ser um desrespeito a um Estado garantista e uma brecha para a aplicação punitiva discricionária. Dessa forma o autor ressalta (2006, p. 711) A verdade que o encarceramento preventivo é o momento do processo ordinário e é ordenando por um juiz. Todavia, por causa dos seus pressupostos, da sua modalidade e da sua dimensão assumida, tornou-se o sinal mais vistoso da crise da jurisdição, da tendência a tornar mais administrativo o processo penal e, sobretudo, da sua degeneração no sentido diretamente punitivo. 28 Nessa perspectiva há um viés relevante, pois surge o fato de as prisões preventivas serem, muitas vezes, usadas como uma maneira de coagir o indivíduo a colaborar na investigação através da delação premiada. A delação premiada é um meio moderno de obtenção de provas, foi um útil e eficaz meio encontrado pelo Estado para se obter provas contra as organizações criminosas e, assim, efetivar a aplicação da leiao fato delituoso e ao autor do crime. A explicação para o uso da delação premiada se encontra na historicidade e evolução da criminalidade, visto principalmente nos crimes organizados, que tornou os meios de provas ordinárias ineficazes, onde coube ao legislador se adequar ao combate à criminalidade com esse novo instrumento de investigação que deriva de outros países como foi relatado em outro tópico. Como já explicado, a delação premiada é um meio probatório que em troca de uma informação relevante para a elucidação dos fatos, imputação da autoria, dentre outros, oferece uma premiação para aquele que serve como testemunha que, também, está indiciado (SILVA, 2012). Entretanto, a maioria dos indiciados não opta por colaborar em um primeiro momento, visto que a lei do silêncio vigora no crime organizado, para incentivar a colaboração passou-se a usar a prisão preventiva com o objetivo de impulsionar o réu a delatar seus companheiros criminosos, o uso da prisão preventiva conquistou uma finalidade de coibir o acusado a se valer da delação premiada. Dessa maneira, ao se utilizar da prisão preventiva de forma abusiva para a obtenção da delação premiada há o ferimento de todo o sistema processual, por não acolher ou respeitar as regras impostas por ele, e, principalmente, por se tornar uma violação aos princípios do contraditório, ampla defesa e do devido processo legal, pois o réu acaba não encontrando outro meio de escapar do método punitivo que lhe é imputado e, pelo temor, abre mão dos direitos a ele inerentes, cedendo à delação premiada. Por mais que Nestor Távora (2009) defenda a necessidade do contraditório para garantir que a delação premiada tenha valor probatório e se necessário que haja outro 29 interrogatório com o defensor do acusado, não significa que tal pensamento visa garantir o devido processo legal, a ampla defesa ou contraditório, mas sim, a licitude da prova. Os princípios do devido processo legal, ampla defesa e contraditório são basilares para o processo penal, são limitadores do jus puniendi, trazem um arcabouço de garantias ao indivíduo e permitem que o in dubio pro reo seja aplicado devidamente, pois efetivar o direito de se defender, de réplica e de manter sua liberdade até o trânsito em julgado é permitir ao juízo que julgue de forma fundamentada e com segurança de que não cometerá nenhuma injustiça. Nessa perspectiva não são apenas as garantias processuais a serem limitadas e, por vezes, desrespeitadas, mas a prisão preventiva passa a ser aplicada arbitrariamente sem observar os dispostos legais, culminando no poder punitivo estatal mais elevado do que o direito à liberdade. Denota-se que a Ampla Defesa e o Contraditório garantem todos os meios possíveis e legais para obtenção de provas e preceituam sobre a paridade de armas de forma igualitária. Quando há a aplicação da prisão preventiva de forma equivocada e com o fim de coagir o acusado para a obtenção da delação premiada, todo o sistema minimalista e garantista do Direito Penal são frustrados, pois as principais garantias, após a promulgação da Constituição Federal de 1988, são desobedecidas. Como resultado passa a existir mais um modo errôneo de aplicação do encarceramento, acaba por registrar um enorme número de presos, como analisado na pesquisa do CNJ (2016) e INFOPEN (2017), que abarrotam o sistema carcerário, têm direitos violados e o processo legal se torna frágil e passível de diversos erros que ultrapassam o mundo jurídico e atingem a sociedade. Respeitar os princípios supracitados é garantir o exposto na Constituição Federal de 1988, assim, há o intuito de manter e efetivar os princípios constitucionais basilares para o Direito Penal, preza-se por evitar qualquer tipo de afronta aos princípios supracitados. 30 CONSIDERAÇÕES FINAIS A pesquisa demonstrou a importância dos princípios do devido processo legal, contraditório e ampla defesa como garantidores de direitos essenciais para os cidadãos e que através deles é possível que haja a aplicação correta do jus puniendi, pois, também, figuram como limitadores do direito/dever de punir do Estado. Mesmo demonstrada a importância dos princípios supracitados notou-se ao longo da pesquisa que não são efetivados adequadamente ao curso processual e muitas vezes são afastados da persecução para buscar respostas e provas influenciadoras contra o crime organizado. Por mais que seja imprescindível a aplicação dos princípios aos casos concretos, em decorrência da evolução criminal e da perda de uma maneira efetiva de se obter provas para acabar com os crimes o legislador viu-se obrigado a aplicar no Brasil a delação premiada. A delação premiada, como visto, é de suma importância para as investigações e obtenção de provas eficazes no curso do processo, ela consiste em uma premiação prevista em lei para aqueles que colaborarem durante a investigação e período processual. Entretanto, por haver pouca colaboração da parte dos acusados, passou a ser adotada a prisão preventiva como meio de coagir o indivíduo a colaborar, se tornando totalmente arbitrário visto que não preenche todos os requisitos para a prisão preventiva que estão em lei e afasta o direito individual ao devido processo legal, contraditório e ampla defesa. Deve se ter uma atenção maior aos ocorridos em busca da punição e erradicação do crime organizado no Brasil, devido ao fato de ultrapassar os limites legais e provocar danos irreversíveis aos indivíduos que são apenados injustamente perdendo sua liberdade. Demonstrou-se que é necessário que se faça a aplicação dos princípios constitucionais devidos ao réu a quem querem submeter à delação premiada, para não se cercear a sua defesa, pois a justiça no Direito brasileiro não deve ser parcial ou por meios ilegais. 31 REFERÊNCIAS AVENA, Norberto Cláudio Pâncaro. Processo Penal. 9. ed. São Paulo: Método, 2017. BITENCOURT, Cezar Roberto. 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Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12850.htm>. Acesso em 14 abr. 2018. ______. Lei de 16 de dezembro de 1830. Manda executar o Código Criminal. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lim/lim-16-12-1830.htm>. Acesso em 14 abr. 2018. ______. Lei n. 9.807, de 13 de julho de 1999. Estabelece normas para a organização e a manutenção de programas especiais de proteção a vítimas e a testemunhas ameaçadas, [...]. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9807.htm>. Acesso em: 14 abr. 2018. http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/DEL%202.848-1940?OpenDocument http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/DEL%202.848-1940?OpenDocument 32 ______. Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990. Dispõe sobre os crimes hediondos, nos termos do art. 5º, incisoXLIII, da Constituição Federal, e determina outras providências. 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