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Unidade 9 - Gênero, sexualidade e identidades-1 (1)-3.pdf Reflita: Por que gêneros e sexualidades considerados “diferentes” podem causar sofrimento a inúmeras pessoas? Sexo, gênero e poder Antes de começarmos especificamente no tema, será necessário definir alguns conceitos importantes para compreendermos de forma científica e aprofundada o tema dessa unidade. Nesse ponto, é necessário diferenciar sexo e gênero. crédito: Laerte. Acervo pessoal da cartunista. O sexo biológico pode ser definido como o conjunto das características fisiológicas e biológicas (órgão genital, hormônios, genes, sistema nervoso e morfologia). O gênero tem relação com a cultura, com o aprendizado vivido desde o nascimento, pois toda cultura elabora, de algum modo, os papéis relacionados à identidade de gênero, inclusive, os papéis do “ser homem” e do “ser mulher”. A identidade de gênero é uma influência de convenções, estereótipos, e expectativas construídas na socialização das pessoas (com possibilidade de adaptação ou não aos padrões estabelecidos). Porém, essa influência em nossa socialização não é absoluta, pois os sujeitos se apropriam e atualizam os elementos culturais e representações que servem à construção de sua própria identidade. É importante compreender que as identidades de gênero não estão pré-estabelecidas como se fossem roupas que vestimos, nem são fixas e imutáveis. De acordo com a socióloga Joan Scott, uma das maiores especialistas no tema, gênero é um termo importado da gramática pelas feministas norte-americanas, nos anos 1960, com o objetivo de se contrapor às definições presas à Biologia. Dessa forma, a ideia de gênero passou a significar as relações de caráter cultural que estão sempre presentes (mesmo sem percebermos) nas definições e nas distinções sobre o que é “masculino” ou “feminino”. Unidade 9 - Gênero, sexualidade e identidades-1 (1)-2.pdf Ao final desta unidade, você será capaz de: - Refletir sobre as diferenças entre identidade de gênero e sexo biológico; - Analisar as relações de poder entre homens e mulheres; - Discutir a história e a importância do movimento feminista; - Abordar o problema da violência contra a mulher e a legislação relacionada a essa questão. Objetivos de aprendizagem Por que será que ser “menina” em uma sociedade como a nossa apresenta tantas características tão distintas e desiguais quando comparadas com as ideias e as atitudes que se reproduzem em relação ao “ser menino”? Tentando responder a essas e outras questões, esta unidade fará uma reflexão sociológica sobre as relações entre homens e mulheres no mundo atual. Relações, essas, marcadas por tensões, preconceitos, discriminações e poder. O que nos torna homens ou mulheres? O gênero de uma pessoa depende exclusivamente se ela nasce com genitais e características físicas de homens ou mulher? Perguntas simples. No entanto, veremos que não é bem assim. Unidade 9 - Gênero, sexualidade e identidades Construindo seu conhecimento sociológico Unidade 9 - Gênero, sexualidade e identidades-1 (1)-4.pdf Quando você se comporta, com gestos ou atitudes, de acordo com as expectativas de outros indivíduos, para agir como homem ou mulher, você está adotando um papel de gênero. O gênero é a construção social que demarca identidades, como de homens, mulheres e de outros gêneros, como elaborações do contexto histórico e social, e não decorrentes simplesmente da diferença anatômica dos corpos. De acordo com a filósofa Judith Butler, foi produzida e estruturada de forma arbitrária uma oposição binária entre o masculino e o feminino, um pensamento dicotômico e polarizado sobre os gêneros: homem e mulher como polos opostos dentro de uma lógica invariável de dominação-subordinação. As relações de gênero são estabelecidas como relações de poder por causa da assimetria construída ao longo da História. Essas posições foram construídas por meio das instituições de controle, tais como religião, Estado, Justiça, escola, que formaram e idealizaram hierarquias fixas e imutáveis entre os gêneros. Portanto, falar de gêneros (no plural!) também é falar de dominação e de patriarcado. O conceito de patriarcado é um dos principais pontos de partida do pensamento feminista do século XX. De acordo com as teorias feministas, o patriarcado é um sistema de poder análogo ao escravismo por submeter as mulheres aos homens e legitimar o poder masculino nas esferas privada e pública, justificando, por exemplo, a violência doméstica e outras formas de agressão contra a mulher. Assimile: Assimile: Unidade 9 - Gênero, sexualidade e identidades-1 (1)-6.pdf Na segunda metade do século XX, podemos afirmar que é a partir do livro O Segundo Sexo, escrito pela filósofa francesa Simone de Beauvoir e lançado em 1949, que o debate sobre a condição das mulheres e a relação entre os sexos ganha uma outra conotação, que vai influenciar a análise sociológica de forma marcante. Simone de Beauvoir procurou mostrar que o termo feminilidade foi inventado pelos homens e tinha como intenção limitar o papel social das mulheres. Para ela, as mulheres deveriam libertar-se das ideias pré-concebidas e dos mitos pré-estabelecidos. O que Beauvoir defendia é que a mulher é um ser em permanente construção que deve caminhar em direção à sua individualidade e autonomia. Das ideias de Simone de Beauvoir e de outras intelectuais, como Betty Friedan e Kate Millet, se organizou a chamada segunda onda do movimento feminista, na qual se aprofundam as lutas por direitos iguais perante os homens. Fazendo uma crítica à sociedade patriarcal, ou seja, a um modelo de família que dá privilégios aos homens, as feministas reivindicam igualdade nas condições de trabalho e de salário, direito ao controle do corpo, autonomia intelectual e punição aos homens pela violência doméstica e sexual, entre outras questões. A partir da década de 1990, o feminismo notabilizou-se por construir pontes com as questões de classe e de raça. As ideias levantadas por essa terceira onda tinham como referência as formulações da filósofa Judith Butler. Muitas feministas tentaram mostrar que o discurso universal é excludente, porque as opressões atingem as mulheres de formas diferentes, a depender, por exemplo, da sua classe social e da cor da sua pele. É importante ressaltar que a divisão da história do feminismo em três ondas coloca as mulheres brancas de classe média como agentes centrais da história da luta pelos direitos das mulheres, numa análise em que mulheres não brancas tornam-se agentes secundários, somente aceitas no decorrer da História. Durante a terceira onda, mulheres não brancas aparecem para transformar o feminismo em um movimento multicultural. É preciso desmistificar, portanto, a visão universalizante do feminino, pois não há apenas um tipo de mulher e uma experiência em comum para todas. São diversos tipos de mulheres que têm lutado ao longo do tempo por um mundo com maior igualdade e pelos mesmos acessos e oportunidades a todas as pessoas. Unidade 9 - Gênero, sexualidade e identidades-1 (1)-7.pdf Violência de gênero e a legislação brasileira A violência contra a mulher “é qualquer ato ou conduta baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública como na esfera privada” (OEA, 1994). Essa violência pode ser visível e explícita, com a agressão física, a morte, o estupro e a ameaça, ou invisível e sutil, como na publicidade e no humor machista, assim como em ameaças, constrangimentos, humilhação, vigilância, perseguição, chantagem, calúnia, difamação e injúria. Infelizmente ainda não é possível comemorar a diminuição e muito menos a erradicação dessas formas de violência no Brasil. No plano legislativo, podemos afirmar que uma grande conquista das mulheres no Brasil foi a chamada Lei Maria da Penha (Lei 11.340, sancionada em 7 de agosto de 2006), elaborada e aprovada pelo Congresso Nacional com o objetivo de coibir a violência doméstica e familiar contra as mulheres. A Lei, em diversos itens, garante às mulheres atendimento específico nas delegacias em caso de violência doméstica e familiar, além de providenciar investigações sobre os agressores. Pesquise mais: Clique no link abaixo e assista ao vídeo do canal Politize sobre a Lei Maria da Penha: <https://www.youtube.com/watch?v=wdK-w03Cnpk> Unidade 9 - Gênero, sexualidade e identidades-1 (1)-5.pdf O papel das mulheres nas sociedades modernas é discutido desde a Revolução Francesa, apesar de uma visão eurocêntrica, que entende a Europa como centro de referência e “modelo” de sociedade. Porém, parte da história do feminismo considera o surgimento de uma primeira onda do movimento somente nas últimas décadas do século XIX. Nesse período, a primeira bandeira da luta das mulheres se deu em torno da luta pelo direito ao voto. Esse movimento foi pioneiro na Inglaterra com as chamadas “suffragettes” que acabou sendo vitorioso em 1918, com a conquista do direito ao voto no Reino Unido. No Brasil, a primeira onda do feminismo também se manifestou mais publicamente por meio da luta pelo voto. Aqui, o movimento foi liderado pela bióloga Bertha Lutz e esse direito foi conquistado em 1932, quando foi promulgado o Novo Código Eleitoral Brasileiro. O papel das mulheres nas sociedade modernas Créditos: Armandinho. Acervo pessoal do cartunista. Pesquise mais: Assista ao vídeo produzido pelo Canal de youtube “Sociologia animada” e reflita sobre as diferenças entre as diferentes fases do movimento feminista: <https://www.youtube.com/watch?v=-fq8W_HT6vk>
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