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FILOSOFIA – LUCAS TURBIANI Página 1 LUCAS TURBIANI 
FILOSOFIA – LUCAS TURBIANI Página 2 
DESCARTES 
Conceitos-chave: Racionalismo, Método Cartesiano, Dúvida Metódica, Dualismo, Idealismo 
Resumo 
• O pensamento de Descartes (1596-1650) deve ser compreendido dentro do contexto histórico dos 
séculos XVI e XVII (Navegações, Renascimento, Revolução Científica, Reforma Religiosa, 
Capitalismo). Essa época é marcada pela tensão entre a modernidade e a tradição. Trata-se de um 
tempo de conflitos, crises e incertezas, tempo em que o ceticismo ganha novo fôlego. 
• Descartes pretende refutar o ceticismo encontrando uma verdade clara e distinta, portanto 
inquestionável. Diante da crise da ciência e do saber tradicional em sua época, assume uma postura 
racionalista: toma a razão natural como ponto de partida do processo de conhecimento, enfatizando a 
necessidade do método para “bem conduzir esta razão” em sua aplicação ao real. 
o Seu método é dividido em quatro regras: 
I. Regra da evidência: “jamais aceitar uma coisa como verdadeira que eu não soubesse 
ser evidentemente como tal”; 
II. Regra da análise: “dividir cada uma das dificuldades que eu examinasse em tantas 
partes quantas possíveis e quantas necessárias para melhor resolvê-las”; 
III. Regra da síntese: “conduzir por ordem meus pensamentos, a começar pelos objetos 
mais simples e mais fáceis de serem conhecidos, para galgar, pouco a pouco, como que 
por graus, até o conhecimento dos mais complexos”; 
IV. Regra da enumeração: “fazer em toda parte enumerações tão completas e revisões tão 
gerais que eu tivesse a certeza de nada ter omitido”. 
• A etapa inicial da argumentação cartesiana é a formulação de uma dúvida metódica, que coloca em 
questão todo o conhecimento adquirido, toda a ciência clássica, todas as nossas crenças e opiniões. 
o A dúvida passa por três níveis de intensidade crescente: 
I. O argumento contra a ilusão dos sentidos; 
II. O argumento do sonho; 
III. O argumento do “gênio maligno”, ou seja, a dúvida hiperbólica. 
• Primeira certeza (argumento do cogito): até mesmo para que o deus enganador possa me enganar 
sobre todas as coisas, é preciso que eu exista. A existência do pensamento, do ser pensante (res 
cogitans), não está sujeita à dúvida: é mais básica, mais originária do que esta, é um pressuposto dela. 
Depois de esclarecer que ele existe, identifica o eu à alma, e a alma ao pensamento. Estabelece o 
primado do espírito, fazendo dele algo inteiramente distinto do corpo. É a tese do dualismo: a alma é 
uma substância completamente distinta do corpo (res extensa). 
• O argumento do cogito o coloca diante do solipsismo, um idealismo radical que significa o isolamento 
da consciência (interioridade) em relação ao mundo exterior. 
• Como pode demonstrar a existência do mundo a partir do pensamento? 
o Descartes descobre que sua mente é composta de ideias. Uma ideia pode ser tanto o próprio 
ato do pensamento como o conteúdo deste ato: a representação. 
o Três tipos de ideias: 
I. inatas, que não são derivadas da experiência mas se encontram no indivíduo desde 
seu nascimento, dentre as quais se incluem as ideias de infinito e de perfeição; 
II. adventícias (ou empíricas), que formamos a partir de nossa experiência e que 
dependem de nossa percepção sensível, estando portanto sujeitas à dúvida; 
III. imaginação, que formamos em nossa mente a partir dos elementos de nossa 
experiência, como p.ex. a ideia de unicórnio, que resulta da junção da ideia de chifre à 
ideia de cavalo. 
• Descartes recorre à existência de Deus (ideia inata, argumento ontológico) para garantir a 
correspondência entre o pensamento e o real no processo de conhecimento (argumento cosmológico). 
Anotações 
 
 
 
 
 
FILOSOFIA – LUCAS TURBIANI Página 3 
Exercícios 
1. (UEL) Leia o texto a seguir. 
Há já algum tempo eu me apercebi de que, 
desde meus primeiros anos, recebera muitas 
falsas opiniões como verdadeiras, e de que 
aquilo que depois eu fundei em princípios tão mal 
assegurados não podia ser senão mui duvidoso e 
incerto; de modo que me era necessário tentar 
seriamente, uma vez em minha vida, desfazer-me 
de todas as opiniões a que até então dera 
crédito, e começar tudo novamente desde os 
fundamentos, se quisesse estabelecer algo de 
firme e de constante nas ciências. (Descartes) 
O desejo de evitar o erro, o caos e buscar a 
certeza, a ordem, por meio de um método de 
conhecimento, são marcas distintivas da 
modernidade. A respeito do problema do 
conhecimento e do método em René 
Descartes, assinale a alternativa correta. 
 
A. A decisão de tentar desfazer-se das opiniões 
duvidosas e incertas ampara-se em uma 
revelação divina, pois, ao pensar, o homem 
encontra Deus na origem do próprio 
pensamento, sendo Ele a primeira certeza 
fundadora da ciência. 
B. A dúvida é uma espécie de afecção episódica 
que toma conta dos que pensam 
demasiadamente no problema dos 
fundamentos do conhecimento, mas cuja 
concepção e prática possuem uma 
importância limitada. 
C. A dúvida metódica pretendia inviabilizar a 
metafísica, uma vez que certezas científicas e 
verdades metafísicas, além de possuírem 
âmbitos de vigência distintos, também dizem 
respeito a domínios excludentes do 
conhecimento. 
D. O método é um procedimento por meio do 
qual os dados da experiência são acolhidos, 
tratados cientificamente e, após o processo 
de depuração e de crítica, são recolocados 
em sua relação com o mundo, transformando 
nossos juízos. 
E. A decisão inaugural a ser radicalizada pela 
dúvida, tornada metódica, por meio da qual 
surgirá a certeza, é o ponto de partida da 
crítica à tradição, seja na figura dos 
conhecimentos incertos ou das falsas 
opiniões. 
2. (UFU) Eu, eu sou, eu, eu existo, isto é certo. 
Mas, por quanto tempo? Ora, enquanto penso, 
pois, talvez pudesse ocorrer também que, se 
eu já não tivesse nenhum pensamento, 
deixasse totalmente de ser. Agora, não admito 
nada que não seja necessariamente 
verdadeiro: sou, portanto, precisamente, só 
coisa pensante, isto é, mente ou ânimo ou 
intelecto ou razão, vocábulos cuja significação 
eu antes ignorava. Sou, porém, uma coisa 
verdadeira e verdadeiramente existente. Mas, 
qual coisa? Já disse: coisa pensante. 
DESCARTES. Meditações sobre Filosofia Primeira 
 
Marque (V) Verdadeira ou (F) Falsa. 
I. (___) Para Descartes, o erro/engano é o 
resultado de um mau uso da razão, da sua 
aplicação inadequada. O método deve pôr a 
razão em um caminho que garanta a correção 
do seu uso. 
II. (___) Uma das regras do método 
cartesiano é a da evidência. Tal regra diz que 
jamais se deve aceitar uma coisa como 
verdadeira que não se saiba ser 
evidentemente como tal. 
III. (___) A investigação de Descartes aponta 
essencialmente para uma única certeza: a de 
que só sabemos que nada sabemos. 
IV. (___) Com o argumento do Cogito 
(“Penso, logo existo”), Descartes refuta o 
ceticismo, estabelecendo o que considera ser 
uma certeza irrefutável. 
3. (ENEM) Nunca nos tornaremos matemáticos, 
por exemplo, embora nossa memória possua 
todas as demonstrações feitas por outros, se 
nosso espírito não for capaz de resolver toda 
espécie de problemas; não nos tornaríamos 
filósofos, por ter lido todos os raciocínios de 
Platão e Aristóteles, sem poder formular um 
juízo sólido sobre o que nos é proposto. 
Assim, de fato, pareceríamos ter aprendido, 
não ciências, mas histórias. (Descartes) 
 
Em sua busca pelo saber verdadeiro, o autor 
considera o conhecimento, de modo crítico, 
como resultado da 
A. investigação de natureza empírica. 
B. retomada da tradição intelectual. 
C. imposição de valores ortodoxos. 
D. autonomia do sujeito pensante. 
E. liberdade do agente moral. 
 
4. (UFU) Na obra Discurso do método, o 
filósofo francês Renê Descartes descreve as 
quatro regras que, segundo ele, podem levar ao 
conhecimento de todas as coisas de que o 
espírito é capaz de conhecer. Quanto a uma 
dessas regras, ele diz que se trata de “dividir 
cada dificuldade queexaminasse em tantas 
partes quantas possíveis e necessárias para 
melhor resolvê-las”. Descartes. Discurso do método,I-II, 
citado por: MARCONDES, Danilo. Textos Básicos de Filosofia. Rio 
de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2000. Tradução de Marcus 
Penchel. 
Essa regra, transcrita acima, é denominada 
A. regra da análise. B. regra da síntese. 
C. regra da evidência. D. regra da verificação. 
 
FILOSOFIA – LUCAS TURBIANI Página 4 
Para Pensar 
Nate Beeler é cartunista editorial do Washington Examiner desde 2005. Seus cartuns também aparecem 
em outras mídias e publicações. Além de cartuns editoriais, ele também desenha caricaturas coloridas 
para os jornais Examiner todas as semanas. 
Disponível em <https://nationalpress.org/award-winner/nate-beeler/>. Acesso em Mar de 2021 
 
Disponível em <https://www.goerie.com/opinion/20180604/beeler-cartoon-modern-philosophy>. Acesso em 27 de Fev de 2021 
A charge compara a primeira certeza de Descartes com um comportamento típico das redes sociais 
atualmente. Você concorda com a reflexão proposta? Como as redes sociais ajudam a moldar as pessoas 
e como elas podem “corromper” o comportamento delas? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FILOSOFIA – LUCAS TURBIANI Página 5 
Leitura complementar 
➢ DISCURSO DO MÉTODO 
 
Segunda parte 
[...] E assim pensei também, considerando que fomos todos crianças antes de sermos adultos, e 
que por muito tempo tivemos de ser governados por nossos apetites e nossos preceptores, geralmente 
contrários uns aos outros, e que talvez nem sempre uns e outros nos aconselhavam o melhor, que é 
quase impossível que nossos julgamentos sejam tão puros e tão sólidos quanto teriam sido se tivéssemos 
o uso completo de nossa razão desde o nascimento, e se jamais tivéssemos sido conduzidos senão por 
ela. 
[...] mas que o melhor a fazer, em relação a todas as opiniões que eu acolhera até então, era 
empreender de uma vez por todas retirar-lhes a confiança, a fim de substituí-las depois ou por outras 
melhores, ou pelas mesmas, quando as tivesse ajustado ao nível da razão. E acreditei firmemente que por 
esse meio conseguiria conduzir minha vida muito melhor do que se a edificasse apenas sobre velhos 
fundamentos, apoiando-me em princípios que eu me deixara infundir na juventude, sem nunca ter 
examinado se eram verdadeiros. 
[...] O que me fez pensar que era preciso buscar um outro método que, contendo as vantagens 
desses três, fosse isento de seus defeitos. E, assim como a multidão das leis fornece muitas vezes 
escusas aos vícios, de modo que um Estado é melhor governado quando, tendo poucas, elas são 
estritamente observadas, assim também acreditei que, em vez do grande número de preceitos de que a 
lógica se compõe, seriam suficientes os quatro seguintes, contanto eu tomasse a firme e constante 
resolução de não deixar uma única vez de observá-los. 
O primeiro era não aceitar jamais alguma coisa como verdadeira que eu não conhecesse 
evidentemente como tal: isto é, evitar cuidadosamente a precipitação e a prevenção, e nada incluir em 
meus julgamentos senão o que se apresentasse de maneira tão clara e distinta a meu espírito que eu não 
tivesse nenhuma ocasião de colocá-lo em dúvida. 
O segundo, dividir cada uma das dificuldades que eu examinasse em tantas parcelas possíveis e 
que fossem necessárias para melhor resolvê-las. 
O terceiro, conduzir por ordem meus pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais 
fáceis de conhecer, para subir aos poucos, como por degraus, até o conhecimento dos mais compostos, e 
supondo mesmo uma ordem entre os que não se precedem naturalmente uns aos outros. 
E o último, fazer em toda parte enumerações tão completas, e revisões tão gerais, que eu tivesse a 
certeza de nada omitir. 
[...] 
Terceira parte 
E, enfim, assim como não basta, antes de começar a reconstruir a casa onde se mora, derrubá-la e 
providenciar materiais e arquitetos, ou praticarmos nós mesmos a arquitetura, como também não basta ter 
traçado cuidadosamente a planta, sendo necessário arranjar uma outra onde se possa ficar comodamente 
alojado durante o tempo em que nela se trabalha, assim também, para que eu não permanecesse 
irresoluto em minhas ações enquanto a razão me obrigasse a sê-lo em meus julgamentos, e para que não 
deixasse de viver desde então da maneira mais feliz que pudesse, formei para mim mesmo uma moral 
provisória, que consistia em apenas três ou quatro máximas que faço questão de vos expor. 
A primeira era obedecer às leis e aos costumes de meu país, retendo constantemente a religião na 
qual Deus me deu a graça de ser instruído desde minha infância, e governando-me em todo o resto 
conforme as opiniões mais moderadas e afastadas do excesso, que fossem comumente aceitas na prática 
pelos mais sensatos daqueles com os quais teria de viver [...] 
Minha segunda máxima era ser o mais firme e o mais resoluto em minhas ações quanto pudesse, e 
não seguir menos constantemente as opiniões mais duvidosas, uma vez que a elas me tivesse 
determinado, como se fossem muito seguras. [...] 
Minha terceira máxima era procurar sempre vencer antes a mim mesmo do que a fortuna, e mudar 
meus desejos do que a ordem do mundo; e, de maneira geral, acostumar-me a crer que nada está 
inteiramente em nosso poder a não ser nossos pensamentos, de modo que, tendo feito o melhor no 
FILOSOFIA – LUCAS TURBIANI Página 6 
tocante às coisas que nos são exteriores, tudo o que não podemos conseguir é, para nós, absolutamente 
impossível. E só isso me parecia ser suficiente para eu não desejar, no futuro, algo que não pudesse 
adquirir, e assim ficar contente. [...] 
Enfim, como conclusão dessa moral, resolvi passar em revista as diversas ocupações que os 
homens têm nesta vida, a fim de escolher a melhor, e, sem querer dizer nada das dos outros, achei que o 
melhor seria continuar naquela em que me encontrava, isto é, empregar toda a minha vida em cultivar a 
razão e avançar tanto quanto pudesse no conhecimento da verdade, segundo o método que me prescrevi. 
[...] 
Quarta parte 
Não sei se devo falar das primeiras meditações que aí realizei, pois elas são tão metafísicas e tão 
pouco comuns que talvez não serão do gosto de todo o mundo. Contudo, a fim de que se possa julgar se 
os fundamentos que admiti são bastante firmes, vejo-me de certo modo obrigado a falar delas. Há muito 
eu havia observado que, em relação aos costumes, é necessário às vezes seguir opiniões que sabemos 
serem muito incertas como se fossem indubitáveis, conforme foi dito acima; mas, como eu desejava então 
ocupar-me apenas da busca da verdade, pensei que era preciso fazer o contrário, e rejeitar como 
absolutamente falso tudo aquilo em que pudesse imaginar a menor dúvida, a fim de ver se restaria, depois 
disso, alguma coisa em minha crença que fosse inteiramente indubitável. Assim, visto que nossos sentidos 
nos enganam às vezes, eu quis supor que não havia coisa alguma que fosse tal como nos fazem imaginar. 
E, como há homens que se equivocam ao raciocinar, mesmo sobre as mais simples matérias de 
geometria, e cometem paralogismos, e por julgar que eu estava sujeito a errar como qualquer outro, 
rejeitei como falsas todas as razões que antes havia tomado como demonstrações. Enfim, considerando 
que os mesmos pensamentos que temos quando acordados também podem nos ocorrer quando 
dormimos sem que então haja nenhum que seja verdadeiro, resolvi fingir que todas as coisas que alguma 
vez me haviam entrado no espírito não eram mais verdadeiras que as ilusões de meus sonhos. Mas logo 
notei que, quando quis assim pensar que tudo era falso, era preciso necessariamente que eu, que o 
pensava, fosse alguma coisa. E, observando que esta verdade, penso, logo existo, era tão firme e tão 
segura que as mais extravagantes suposições dos céticos eram incapazes de a abalar, julguei que podia 
admiti-la sem escrúpulo como o primeiro princípio da filosofia que eu buscava.Depois, examinando com atenção o que eu era, e, vendo que eu podia fingir que não tinha corpo 
algum e que não havia mundo algum ou lugar onde estivesse, mas nem por isso podia fingir que eu não 
existia; e que, ao contrário, do fato mesmo de pensar em duvidar da verdade das outras coisas seguia-se 
muito evidentemente e certamente que eu existia; ao passo que, se tivesse parado de pensar, ainda que o 
resto do que imaginara fosse verdadeiro, eu não teria razão de crer que tivesse existido; compreendi 
assim que eu era uma substância cuja essência ou natureza consistem apenas em pensar, e que, para 
ser, não tem necessidade de nenhum lugar nem depende de coisa material alguma. De modo que esse 
eu, isto é, a alma pela qual sou o que sou, é inteiramente distinta do corpo, sendo inclusive mais fácil de 
conhecer do que ele, e, ainda que ele não existisse, ela não deixaria de ser tudo o que é. 
Depois disso, considerei em geral o que é necessário a uma proposição para ser verdadeira e certa; 
pois, tendo acabado de encontrar uma que eu sabia ser tal, pensei que eu devia também saber em que 
consiste essa certeza. E, tendo observado que nisto, penso, logo existo, não há absolutamente nada que 
me assegure que digo a verdade, a não ser que vejo muito claramente que, para pensar, é preciso ser, 
julguei que podia tomar como regra geral que as coisas que concebemos de maneira muito clara e distinta 
são todas verdadeiras; há apenas alguma dificuldade em observar bem quais são aquelas que 
concebemos distintamente. 
 
 
 
 
 
 
FILOSOFIA – LUCAS TURBIANI Página 7 
A NOVA CIÊNCIA 
Conceitos-chave: Revolução Científica, Método Experimental, Teoria dos Ídolos, Método 
Indutivo, Técnica e Ciência 
Resumo 
• A época moderna marca o advento de uma nova maneira de conceber o mundo, caracterizado entre 
outros, pelo desenvolvimento da ciência moderna. Nos séculos XVI e XVII, com Galileu, Copérnico, 
Francis Bacon, Kepler, Giordano Bruno, Newton e outros, a ciência começa um processo de 
autonomização em relação à filosofia e transforma-se, no que hoje se denomina ciência moderna. 
• O ano de 1543, ano da publicação de “As Revoluções dos Orbes Celestes” de Nicolau Copérnico 
(1473-1543) pode ser considerado o marco daquilo que ficou conhecido como Revolução Científica. 
Pode-se considerar que são fundamentalmente duas as grandes transformações que levarão à 
revolução científica: 
o Do ponto de vista da cosmologia: a demonstração da validade do modelo heliocêntrico, 
empreendida por Galileu Galilei (1564-1642); a formulação da noção de um universo infinito, 
que se inicia com Nicolau de Cusa e Giordano Bruno; e a concepção do movimento dos 
corpos celestes, principalmente da Terra, em decorrência do modelo heliocêntrico; 
o Do ponto de vista da ideia de ciência, a valorização da observação e do método 
experimental, isto é, uma ciência ativa, que se opõe à ciência contemplativa dos antigos; e a 
utilização da matemática como linguagem da física, proposta por Galileu sob inspiração 
platônica e pitagórica e contrária à concepção aristotélica. 
• A ciência ativa moderna rompe com a separação antiga entre a ciência (o saber teórico), e a técnica (o 
saber aplicado), integrando ciência e técnica e fazendo com que problemas práticos no campo da 
técnica levem a desenvolvimentos científicos, bem como com que hipóteses teóricas sejam testadas 
na prática, a partir de sua aplicação na técnica. 
➢ Francis Bacon (1561-1626) é considerado, juntamente com Descartes, um dos iniciadores do 
pensamento moderno, por sua defesa do método experimental contra a ciência teórica e 
especulativa clássica, por sua rejeição da escolástica, bem como por sua concepção de um 
pensamento crítico e do progresso da ciência e da técnica. 
o Podemos distinguir dois aspectos, inter-relacionados, da contribuição filosófica de Bacon: 
▪ 1) sua concepção de pensamento crítico. A tarefa da filosofia é a liberação do homem 
de preconceitos, ilusões e superstições. É nesse contexto que encontramos sua teoria 
dos ídolos. Os ídolos são ilusões ou distorções que, segundo Bacon, “bloqueiam a 
mente humana”, impedindo o verdadeiro conhecimento. Os ídolos podem ser de quatro 
tipos: a) Ídolos da tribo: fundados sobre a própria natureza humana e dependentes do 
fato de que o intelecto humano mistura sempre a própria natureza com a das coisas, 
deformando-a e transfigurando-a; b) Ídolos da caverna: que derivam do indivíduo 
singular, e precisamente da natureza específica da alma e do corpo o indivíduo singular, 
ou então de sua educação e de seus hábitos, ou ainda de outros casos fortuitos; c) 
Ídolos do foro ou do mercado: dependentes dos contatos recíprocos do gênero 
humano, que se insinuam no intelecto por via das combinações impróprias das palavras 
e dos nomes; d) Ídolos do teatro: que penetram na alma humana por obra das diversas 
doutrinas filosóficas e das péssimas regras de demonstração. 
▪ 2) sua defesa do método indutivo no conhecimento científico e de um modelo de 
ciência antiespeculativo e integrado com a técnica. O novo método científico é a 
indução, que, com base em observações, permite o conhecimento do funcionamento da 
natureza e, observando a regularidade entre os fenômenos e estabelecendo relações 
entre eles, permite formular leis científicas que são generalizações indutivas. É desse 
modo que a ciência pode progredir e o conhecimento, crescer de forma controlada e, 
portanto, segura. Este é o modelo de ciência que defende: uma ciência aplicada, que 
interage com a técnica e nos possibilita o controle da natureza para o benefício do 
homem. “Saber é poder”, diz Bacon, pois, ao conhecer as leis que explicam o 
funcionamento da natureza, podemos fazer previsões e tentar controlar os fenômenos 
de modo que nos seja proveitoso. 
o Uma das mais famosas obras de Bacon é Nova Atlântida, que descreve uma cidade ideal na 
qual fixa um objetivo para a ciência: lutar contra a ignorância, o sofrimento e a miséria e, assim, 
melhorar a condição humana. 
FILOSOFIA – LUCAS TURBIANI Página 8 
Exercícios 
1. (Enem) A Filosofia encontra-se escrita 
neste grande livro que continuamente se abre 
perante nossos olhos (isto é, o universo), que 
não se pode compreender antes de entender a 
língua e conhecer os caracteres com os quais 
está escrito. Ele está escrito em língua 
matemática, os caracteres são triângulos, 
circunferências e outras figuras geométricas, sem 
cujos meios é impossível entender humanamente 
as palavras; sem eles, vagamos perdidos dentro 
de um obscuro labirinto. (GALILEI, G. O ensaiador. Os 
pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1978.) 
No contexto da Revolução Científica do século 
XVII, assumir a posição de Galileu significava 
defender a 
A. continuidade do vínculo entre ciência e fé 
dominante na Idade Média. 
B. necessidade de o estudo linguístico ser 
acompanhado do exame matemático. 
C. oposição da nova Física quantitativa aos 
pressupostos da Filosofia escolástica. 
D. importância da independência da 
investigação científica pretendida pela Igreja. 
E. inadequação da Matemática para elaborar 
uma explicação racional da natureza. 
 
2. (UNESP) Galileu tornou-se o criador da 
física moderna quando anunciou as leis 
fundamentais do movimento. Formulando tais 
princípios, ele estruturou todo o conhecimento 
científico da natureza e abalou os alicerces que 
fundamentavam a concepção medieval do 
mundo. Destruiu a ideia de que o mundo possui 
uma estrutura finita, hierarquicamente ordenada 
e substituiu-a pela visão de um universo aberto, 
infinito. Pôs de lado o finalismo aristotélico e 
escolástico, segundo o qual tudo aquilo que 
ocorre na natureza ocorre para cumprir desígnios 
superiores; e mostrou que a natureza é 
fundamentalmente um conjunto de fenômenos 
mecânicos. (José Américo M. Pessanha. Galileu Galilei, 2000. 
Adaptado.) 
A importância da obra de Galileu para o 
surgimento da ciência moderna justifica-se 
porque seu pensamento 
A. resgatou uma concepção medievalde 
mundo. 
B. baseou-se em uma visão teológica sobre 
a natureza. 
C. fundamentou-se em conceitos 
metafísicos. 
D. fundou as bases para o desenvolvimento 
da alquimia. 
E. atribuiu regularidade matemática aos 
fenômenos naturais 
 
3. (UEL) Leia o texto a seguir. 
Resta-nos um único e simples método, para 
alcançar os nossos intentos: levar os homens aos 
próprios fatos particulares e às suas séries e 
ordens, a fim de que eles, por si mesmos, se 
sintam obrigados a renunciar às suas noções e 
comecem a habituar-se ao trato direto das 
coisas. (BACON, F. Novum Organum Trad. José Aluysio Reis de 
Andrade. São Paulo: Abril Cultural, 1973, p. 26.) 
Com base no texto e nos conhecimentos sobre o 
problema do método de investigação da natureza 
em Bacon, assinale a alternativa correta. 
A. O preceito metodológico do “trato direto das 
coisas” supõe que cada um já possui em si as 
condições para realizar a investigação da 
natureza. 
B. A investigação da natureza consiste em 
aplicar um conjunto de pressupostos 
metafísicos, cuja função é orientar a 
investigação. 
C. As “séries e ordens” referentes aos fatos 
particulares resultam da aplicação dos 
pressupostos do método de investigação. 
D. A renúncia às noções que cada um possui é o 
princípio do método de investigação, que 
levará a ida aos fatos particulares. 
E. O método de interpretação da natureza 
propõe uma nova atitude com relação às 
coisas e uma nova compreensão dos poderes 
do intelecto. 
 
4. (UEL) Leia o texto a seguir: 
O pensamento moderno caracteriza-se pelo 
crescente abandono da ciência aristotélica. Um 
dos pensadores modernos desconfortáveis com a 
lógica dedutiva de Aristóteles – considerando que 
esta não permitia explicar o progresso do 
conhecimento científico – foi Francis Bacon. No 
livro Novum Organum, Bacon formulou o método 
indutivo como alternativa ao método lógico-
dedutivo aristotélico. 
Com base no texto e nos conhecimentos sobre o 
pensamento de Bacon, é correto afirmar que o 
método indutivo consiste 
A. na derivação de consequências lógicas 
com base no corpo de conhecimento de 
um dado período histórico. 
B. no estabelecimento de leis universais e 
necessárias com base nas formas válidas 
do silogismo tal como preservado pelos 
medievais. 
C. na postulação de leis universais com base 
em casos observados na experiência, os 
quais apresentam regularidade. 
D. na inferência de leis naturais baseadas no 
testemunho de autoridades científicas 
aceitas universalmente. 
E. na observação de casos particulares 
revelados pela experiência, os quais 
impedem a necessidade e a 
universalidade no estabelecimento das 
leis naturais. 
 
FILOSOFIA – LUCAS TURBIANI Página 9 
Para Pensar 
Calvin e Haroldo é uma das séries de tiras em quadrinhos mais populares do mundo. Criada, escrita e 
ilustrada pelo cartunista norte-americano Bill Watterson, ela foi publicada por dez anos, entre as décadas 
de 1980 e 1990, em jornais do mundo todo, como no brasileiro O Estado de S. Paulo. As tiras de 
Watterson fizeram tanto sucesso que lhe renderam o Reuben Award, o prestigioso prêmio da Associação 
dos Cartunistas dos Estados Unidos, nos anos de 1986 e 1988, além de uma indicação ao mesmo prêmio 
em 1992. No Brasil, Watterson foi agraciado com o Troféu HQ Mix por diversas vezes na categoria “Melhor 
tira estrangeira”. 
Disponível em <https://www.livrariadavila.com.br/indispensavel-de-calvin-e-haroldo-o-724729/p>. Acesso em 27 de Fev. de 2021 
 
Veja um dos trabalhos de Bill Watterson a seguir: 
 
 
Disponível em <https://pedromotasite.wordpress.com/2014/04/21/senso-comum-os-idolos-da-tribo-de-francis-bacon/>. Acesso em Mar de 2021 
 
A tirinha acima leva a reflexões sobre a verdade e a circulação de conhecimentos. Qual o papel do método 
científico para a busca da verdade e qual o papel da imprensa para a circulação de conhecimentos? Você 
acredita que a ciência seja o melhor caminho para o conhecimento? O único interesse da imprensa é a 
verdade? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FILOSOFIA – LUCAS TURBIANI Página 10 
Leitura complementar 
➢ CARTA DE GALILEU GALILEI A FORTUNIO LICETI EM PÁDUA1 
Muito Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor 
 
A gratíssima de V. Sa. muito Ilma. e Exma. de 7 do corrente mês, repleta de termos corteses e 
afetuosíssimos, foi-me entregue hoje; e, não tendo eu outro tempo para responder além das poucas horas 
que restam até a noite, para não adiar a resposta por mais uma semana, procuro satisfazer a esta 
obrigação, ainda que sucintamente, mas com puras e simples palavras. 
Quanto àquilo que V. Sa. Exma. deseja enormemente junto comigo, a saber, que nas disputas da 
ciência sejam observados aqueles termos mais corteses e modestos que convêm a matéria tão 
veneranda, qual é a sagrada filosofia, dou-lhe minha palavra de não me afastar nem mesmo um dedo de 
seu estilo ingênuo e honrado; e para fazê-lo, usarei os mesmos títulos, atributos e louvores de honradez 
para com sua pessoa, que ela emprega humanamente para comigo; ainda que muito mais para sua 
pessoa que para comigo, e muito mais excelentes, seriam necessários; mas sua singular cortesia não me 
permitiu usar maiores. 
É-me grato saber que V. Sa. Exma. juntamente com muitos outros, segundo afirma, tenham-me 
como averso à filosofia peripatética, porque isto me dá a ocasião de liberar-me de tal pecha (pois assim a 
considero) e de mostrar quanto eu sou no íntimo admirador de um tão grande homem, como o é 
Aristóteles. Contentar-me-ei com o pouco tempo de que disponho para acenar com brevidade aquilo que 
penso com mais tempo poder mais ampla e manifestamente declarar e confirmar. 
Estimo (e creio que V. Sa. também estime) que ser verdadeiramente peripatético, isto é, filósofo 
aristotélico, consista principalissimamente em filosofar em conformidade com os ensinamentos 
aristotélicos, procedendo com aqueles métodos e com aquelas suposições e princípios verdadeiros nos 
quais assenta o discurso científico, supondo aquelas informações gerais, das quais desviar-se seria um 
grandíssimo defeito. Dentre essas suposições está tudo aquilo que Aristóteles nos ensina em sua Dialética 
[Organon], concernente ao tornar-nos precavidos no evitar as falácias do discurso, dirigindo-o e 
adestrando-o a bem silogizar e deduzir das premissas concedidas a necessária conclusão; e tal doutrina 
refere-se à forma do corretamente argumentar. Quanto a esta parte, creio ter aprendido das inumeráveis 
demonstrações matemáticas puras, nunca falazes, tal segurança no demonstrar, que, se não jamais, pelo 
menos raríssimas vezes eu tenha no meu argumentar caído em equívocos. Até aqui, portanto, eu sou 
peripatético. 
Dentre as maneiras seguras de conseguir a verdade está a de antepor a experiência a qualquer 
discurso, assegurando-nos que nele, pelo menos ocultamente, não esteja contida a falácia, não sendo 
possível que uma experiência sensível seja contrária ao verdadeiro; e este é também um preceito 
estimadíssimo por Aristóteles, e há muito anteposto ao valor e à força da autoridade de todos os homens 
do mundo, da qual V. Sa. mesma admite que não só não devemos ceder à autoridade dos outros, mas 
devemos negá-la a nós mesmos, toda vez que encontramos que o sentido nos mostra o contrário. Ora, 
Exmo. Sr., seja dito aqui com sua boa paz, que me parece que estou sendo julgado como contrário ao 
filosofar peripatético por aqueles que se servem erradamente do acima referido preceito, puríssimo e 
seguríssimo, isto é, que pretendem que o bem filosofar seja o receber e sustentar qualquer que se queira 
das afirmações e proposições escritas por Aristóteles, a cuja absoluta autoridade submetem-se, e para a 
manutenção da qual se induzem a negar experiências sensíveis, ou a dar estranhas interpretações aos 
textos de Aristóteles, para esclarecimento e limitação dos quais muito frequentemente farão dizer ao 
próprio filósofo outras coisas não menos extravagantes, ecertamente distanciadas da sua imaginação. 
Não é absurdo que um grande artífice tenha preceitos seguríssimos e perfeitíssimos na sua arte, e que por 
vezes ao operar erre em algum particular; como, por exemplo, que um músico ou um pintor, possuindo os 
verdadeiros preceitos da arte, produza na prática alguma dissonância ou inadvertidamente algum erro de 
perspectiva. Eu, portanto, porque sei que tais artífices não apenas possuíam os verdadeiros preceitos, 
mas eles próprios haviam sido seus inventores, vendo qualquer falha em alguma de suas obras, devo 
considerá-la como bem feita e digna de ser sustentada e imitada, em virtude da autoridade de seus 
autores? A isto certamente não prestarei meu assentimento. Quero acrescentar por ora apenas isto: que 
estou certo de que, se Aristóteles retornasse ao mundo, receber-me-ia entre seus seguidores, em virtude 
de minhas poucas contradições, embora bastante concludentes, muito mais que muitíssimos outros que, 
para sustentar cada um de seus ditos como verdadeiro, vão ciscando em seus textos conceitos que jamais 
 
1 Traduzido do original em italiano por Pablo Rubén Mariconda, SCIENTIÆ STUDIA, Vol. 1, No. 1, 2003, p. 75-80 
FILOSOFIA – LUCAS TURBIANI Página 11 
lhe teriam passado pela mente. E quando Aristóteles visse as novidades descobertas recentemente no 
céu, onde afirmou ser ele inalterável e imutável, porque nenhuma alteração havia ali sido vista até agora, 
indubitavelmente ele, mudando de opinião, diria agora o contrário: que bem se percebe que, enquanto diz 
ser o céu inalterável porque aí não haviam sido vistas alterações, diria agora ser alterável, porque 
alterações aí se percebem. A hora se faz avançada, e entraria num pélago imenso, se quisesse produzir 
tudo aquilo que em tal ocasião passou-me muitas vezes pela mente; por isso, deixá-lo-ei para outra 
ocasião. 
Quanto ao ter-me V. Sa. Exma. atribuído opiniões que não são minhas, isso pode ter acontecido 
tendo tomado algumas que me são atribuídas por outros, mas nunca escritas por mim: como, por exemplo, 
que, por afirmação do filósofo Lagalla, eu considere ser a luz corpórea; enquanto nesse mesmo autor e no 
mesmo lugar escreve-se que eu sempre confessei ingenuamente não saber que coisa seja a luz; e 
também o tomar como resoluta e primariamente meus alguns dos pensamentos relatados pelo Sr. Mário 
Guiducci, quando poderia acontecer que eu não tivesse neles parte alguma, ainda que me considere 
honrado de que se acredite que tais conceitos são meus, pois estimo-os verdadeiros e nobres. 
Quanto a ter porventura parecido prolixo no responder a suas objeções, não lhe atribuo um mínimo 
senão, nem por sombra de indignação em V. Sa. Exma., nem tampouco de imperfeição em mim, a não ser 
enquanto com menor tédio do leitor teria podido exprimir os meus sentidos; mas minha natural rudeza ao 
declarar-me faz que às vezes eu transborde onde não queria; além de que, pela nossa combinada 
liberdade filosófica e amigável, seja lícito dizer amavelmente, quando ela se comparasse à multiplicidade e 
prolixidade das oposições que V. Sa. faz a minha única proposição do candor lunar expressa em 
pouquíssimas frases; quando se comparasse, digo, ao comprimento de minhas respostas; talvez não 
encontrasse que a proporção entre as suas afirmações e as minhas seja menor que a proporção entre as 
frases de minha carta e as frases que suas afirmações contêm. Mas isso são miuçalhas que não devem 
ser tomadas senão como brincadeira. 
Compraz-me enormemente que aplauda meu pensamento de colocar em outra textura as minhas 
respostas, enviando-as a V. Sa.; onde terei oportunidade de não exagerar utilizando termos de reverência 
ao seu nome, ainda que eu esteja certo de dever ser amplamente superado em doutrina pelo seu elevado 
engenho. Poderia perfeitamente acontecer que o meu infortúnio, de ter que servir-me dos olhos e da pena 
de outros, para muito tédio do escritor, prolongasse por mais dias aquilo que em outros tempos por mim 
mesmo teria terminado em poucos dias, e V. Sa., em virtude da rapidez e vivacidade de seu engenho, em 
poucas horas. 
Vive feliz e concede-me sua boa graça, por mim estimada e prezada como fortuna favorável; e que 
o Senhor lhe dê prosperidade. 
Arcetri, 15 de setembro de 1640 
Galileu Galilei 
 
 
➢ NOVUM ORGANUM (Francis Bacon) 
XXXVIII 
Os ídolos e noções falsas que ora ocupam o intelecto humano e nele se acham implantados não 
somente o obstruem a ponto de ser difícil o acesso da verdade, como, mesmo depois de seu pórtico 
logrado e descerrado, poderão ressurgir como obstáculo à própria instauração das ciências, a não ser que 
os homens, já precavidos contra eles, se cuidem o mais que possam. 
XXXIX 
São de quatro gêneros os ídolos que bloqueiam a mente humana. Para melhor apresentá-los, lhes 
assinamos nomes, a saber: Ídolos da Tribo; Ídolos da Caverna; Ídolos do Foro e Ídolos do Teatro. 
XL 
A formação de noções e axiomas pela verdadeira indução é, sem dúvida, o remédio apropriado 
para afastar e repelir os ídolos. Será, contudo, de grande préstimo indicar no que consistem, posto que a 
doutrina dos ídolos tem a ver com a interpretação da natureza o mesmo que a doutrina dos elencos 
sofísticos com a dialética vulgar. 
XLI 
Os ídolos da tribo estão fundados na própria natureza humana, na própria tribo ou espécie 
humana. E falsa a asserção de que os sentidos do homem são a medida das coisas. Muito ao contrário, 
todas as percepções, tanto dos sentidos como da mente, guardam analogia com a natureza humana e não 
com o universo. O intelecto humano é semelhante a um espelho que reflete desigualmente os raios das 
coisas e, dessa forma, as distorce e corrompe. 
FILOSOFIA – LUCAS TURBIANI Página 12 
XLII 
Os ídolos da caverna são os dos homens enquanto indivíduos. Pois, cada um — além das 
aberrações próprias da natureza humana em geral — tem uma caverna ou uma cova que intercepta e 
corrompe a luz da natureza: seja devido à natureza própria e singular de cada um; seja devido à educação 
ou conversação com os outros; seja pela leitura dos livros ou pela autoridade daqueles que se respeitam e 
admiram; seja pela diferença de impressões, segundo ocorram em ânimo preocupado e predisposto ou em 
ânimo equânime e tranquilo; de tal forma que o espírito humano — tal como se acha disposto em cada um 
— é coisa vária, sujeita a múltiplas perturbações, e até certo ponto sujeita ao acaso. Por isso, bem 
proclamou Heráclito que os homens buscam em seus pequenos mundos e não no grande ou universal. 
XLIII 
Há também os ídolos provenientes, de certa forma, do intercurso e da associação recíproca dos 
indivíduos do gênero humano entre si, a que chamamos de ídolos do foro devido ao comércio e consórcio 
entre os homens. Com efeito, os homens se associam graças ao discurso, e as palavras são cunhadas 
pelo vulgo. E as palavras, impostas de maneira imprópria e inepta, bloqueiam espantosamente o intelecto. 
Nem as definições, nem as explicações com que os homens doutos se munem e se defendem, em certos 
domínios, restituem as coisas ao seu lugar. Ao contrário, as palavras forçam o intelecto e o perturbam por 
completo. E os homens são, assim, arrastados a inúmeras e inúteis controvérsias e fantasias. 
XLIV 
Há, por fim, ídolos que imigraram para o espírito dos homens por meio das diversas doutrinas 
filosóficas e também pelas regras viciosas da demonstração. São os ídolos do teatro: por parecer que as 
filosofias adotadas ou inventadas são outras tantas fábulas, produzidas e representadas, que figuram 
mundos fictícios e teatrais. Não nos referimos apenas às que ora existem ou às filosofias e seitas dos 
antigos. Inúmeras fábulas do mesmo teor se podem reunir e compor, por que as causas dos erros mais 
diversos são quase sempre as mesmas. Ademais, não pensamos apenas nos sistemas filosóficos, na 
universalidade, mas também nos numerosos princípios e axiomas das ciências que entraram em vigor, 
mercê datradição, da credulidade e da negligência. 
XCV 
Os que se dedicaram às ciências foram ou empíricos ou dogmáticos. Os empíricos, à maneira das 
formigas, acumulam e usam as provisões; os racionalistas, à maneira das aranhas, de si mesmos extraem 
o que lhes serve para a teia. A abelha representa a posição intermediária: recolhe a matéria-prima das 
flores do jardim e do campo e com seus próprios recursos a transforma e digere. Não é diferente o labor 
da verdadeira filosofia, que se não serve unicamente das forças da mente, nem tampouco se limita ao 
material fornecido pela história natural ou pelas artes mecânicas, conservado intato na memória. Mas ele 
deve ser modificado e elaborado pelo intelecto. Por isso muito se deve esperar da aliança estreita e sólida 
(ainda não levada a cabo) entre essas duas faculdades, a experimental e a racional. 
CXXIX 
Vale também recordar a força, a virtude e as consequências das coisas descobertas, o que em nada é tão 
manifesto quanto naquelas três descobertas que eram desconhecidas dos antigos e cujas origens, embora 
recentes, são obscuras e inglórias. Referimo-nos à arte da imprensa, à pólvora e à agulha de marear. 
Efetivamente essas três descobertas mudaram o aspecto e o estado das coisas em todo o mundo: a 
primeira nas letras, a segunda na arte militar e a terceira na navegação. Daí se seguiram inúmeras 
mudanças e essas foram de tal ordem que não consta que nenhum império, nenhuma seita, nenhum astro 
tenham tido maior poder e exercido maior influência sobre os assuntos humanos que esses três inventos 
mecânicos. 
A esta altura, não seria impróprio distinguirem-se três gêneros ou graus de ambição dos homens. O 
primeiro é o dos que aspiram ampliar seu próprio poder em sua pátria, gênero vulgar a aviltado; o segundo 
é o dos que ambicionam estender o poder e o domínio de sua pátria para todo o gênero humano, gênero 
sem dúvida mais digno, mas não menos cúpido. Mas se alguém se dispõe a instaurar e estender o poder e 
o domínio do gênero humano sobre o universo, a sua ambição (se assim pode ser chamada) seria, sem 
dúvida, a mais sábia e a mais nobre de todas. Pois bem, o império do homem sobre as coisas se apoia 
unicamente nas artes e nas ciências. A natureza não se domina, senão obedecendo-lhe. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FILOSOFIA – LUCAS TURBIANI Página 13 
 
EMPIRISMO 
Conceitos-chave: Empirismo,Tábula Rasa (folha em branco), Ceticismo, Causalidade, Hábito 
Resumo 
A. John Locke e a origem das ideias 
• John Locke (1632-1704) vê a filosofia como uma tarefa crítica e preparatória para a construção da 
ciência. Sua principal obra no campo da teoria do conhecimento é o Ensaio sobre o entendimento 
humano (1690) 
• Locke desenvolve um modelo empirista, antiespeculativo e antimetafísico de conhecimento. 
Embora adotando a noção cartesiana de ideia, afirma que todas as nossas representações do real 
são derivadas de percepções sensíveis, não havendo outra fonte para o conhecimento. Não há, 
portanto, ideias inatas: o conhecimento não é inato, mas resulta da maneira como elaboramos os 
dados que nos vêm da sensibilidade por meio da experiência. A mente é como uma “folha em 
branco”, a tabula rasa, na qual a experiência deixa as suas marcas. As ideias, diz Locke, 
representam as coisas em nossa mente. Todas as ideias têm, portanto, como origem, as 
sensações ou a reflexão, quando examinamos o funcionamento da própria mente ao produzir 
ideias, e podem ser simples ou complexas 
• Distinção entre qualidades primárias e secundárias: 
o As qualidades primárias – como forma, extensão, volume – seriam propriedades dos 
próprios objetos, ao passo que cor, odor, textura etc. seriam resultado da maneira como 
percebemos esses objetos. As qualidades primárias são aquelas que uma substância deve 
ter para ser o que é e ter as demais qualidades (secundárias). 
o As qualidades secundárias, por sua vez, são características dos objetos, resultantes do 
modo como os corpúsculos que os compõem se organizam neles, afetando-nos 
sensorialmente de uma determinada maneira. 
B. David Hume e o ceticismo 
• O escocês David Hume (1711-1776) foi, sob muitos aspectos, o mais radical dos empiristas, 
levando essas teses às suas últimas consequências e assumindo uma posição filosófica cética. As 
principais obras de Hume são o Tratado sobre a natureza humana (1739) e a Investigação sobre 
o entendimento humano (1748). 
• Hume defende que nossas percepções são de dois tipos: 
o Impressões: são nossas percepções mais vivazes e fortes, como quando ouvimos, vemos, 
sentimos algo, ou quando amamos, odiamos, desejamos ou queremos. 
o As ideias, por sua vez, que são cópias das impressões, são mais fracas e tênues, e 
normalmente não atingem a mesma vivacidade das impressões originais. As ideias ou 
pensamentos se dão quando, pela memória, recordamos uma impressão, ou, pela 
imaginação, a antecipamos. 
o Hume considera que há três princípios de associação de ideias: semelhança, 
contiguidade (de tempo ou de lugar) e causa ou efeito (ou causação). 
• O ceticismo de Hume pode ser interpretado a partir da crítica que faz ao princípio da causalidade: 
o Hume questiona a realidade objetiva desse princípio causal. De fato, tudo o que a 
experiência nos revela é uma conjunção constante entre fenômenos, e não uma conexão 
necessária que chamamos de causalidade. 
o Para Hume, a causalidade resulta apenas de uma regularidade ou repetição em nossa 
experiência de uma conjunção constante entre fenômenos que, por força do hábito, 
acabamos por projetar na realidade, tratando-a como se fosse algo existente. É nesse 
sentido que pode ser dito que a causalidade é uma forma nossa de perceber o real, uma 
ideia derivada da reflexão sobre as operações de nossa própria mente, e não uma conexão 
necessária entre causa e efeito, uma característica do mundo natural. 
• Portanto, para Hume, se todo nosso conhecimento provém de impressões sensíveis e da reflexão 
sobre nossas ideias, se essas impressões e ideias são assim sempre variáveis, se a causalidade 
resulta apenas de regularidade, repetição, costume e hábito, então, em consequência, jamais 
temos um conhecimento certo e definitivo; toda a ciência é apenas resultado da indução, e o único 
critério de certeza que podemos ter é a probabilidade. 
FILOSOFIA – LUCAS TURBIANI Página 14 
 
Exercícios 
1. (UNESP) Posto que as qualidades que 
impressionam nossos sentidos estão nas 
próprias coisas, é claro que as ideias produzidas 
na mente entram pelos sentidos. O entendimento 
não tem o poder de inventar ou formar uma única 
ideia simples na mente que não tenha sido 
recebida pelos sentidos. Gostaria que alguém 
tentasse imaginar um gosto que jamais 
impressionou seu paladar, ou tentasse formar a 
ideia de um aroma que nunca cheirou. Quando 
puder fazer isso, concluirei também que um cego 
tem ideias das cores, e um surdo, noções reais 
dos diversos sons. (John Locke. Ensaio acerca do 
entendimento humano, 1991. Adaptado.) 
De acordo com o filósofo, todo conhecimento 
origina-se 
A. da reminiscência de ideias originalmente 
transcendentes. 
B. da combinação de ideias metafísicas e 
empíricas. 
C. de categorias a priori existentes na mente 
humana. 
D. da experiência com os objetos reais e 
empíricos. 
E. de uma relação dialética do espírito 
humano com o mundo. 
 
2. (UNICAMP) A maneira pela qual 
adquirimos qualquer conhecimento constitui 
suficiente prova de que não é inato. (John Locke, 
Ensaio acerca do entendimento humano. São Paulo: Nova 
Cultural, 1988, p.13.) 
O empirismo, corrente filosófica da qual Locke 
fazia parte, 
A. afirma que o conhecimento não é inato, 
pois sua aquisição deriva da 
experiência. 
B. é uma forma de ceticismo, pois nega que 
os conhecimentos possam ser obtidos. 
C. aproxima-se do modelo científico 
cartesiano, ao negar a existência de 
ideias inatas. 
D. defende que as ideias estão presentes na 
razão desde o nascimento. 
 
3. (UEL) Leia o texto a seguir.Podemos definir uma causa como um objeto, 
seguido de outro, tal que todos os objetos 
semelhantes ao primeiro são seguidos por 
objetos semelhantes ao segundo. Ou, em outras 
palavras, tal que, se o primeiro objeto não 
existisse, o segundo jamais teria existido. O 
aparecimento de uma causa sempre conduz a 
mente, por uma transição habitual, à ideia do 
efeito; disso também temos experiência. Em 
conformidade com essa experiência, podemos, 
portanto, formular uma outra definição de causa e 
chamá-la um objeto seguido de outro, e cujo 
aparecimento sempre conduz o pensamento 
àquele outro. Mas, não temos ideia dessa 
conexão, nem sequer uma noção distinta do que 
é que desejamos saber quando tentamos 
concebê-las. (Adaptado de: HUME, D. Investigação sobre 
o entendimento humano e sobre os princípios da moral. 
Seção VII, 29. Trad. José Oscar de Almeida Marques. São 
Paulo: UNESP, 2004. p.115.) 
Com base no texto e nos conhecimentos acerca 
das noções de causa e efeito em David Hume, 
assinale a alternativa correta. 
A. As noções de causa e efeito fazem parte 
da realidade e por isso os fenômenos do 
mundo são explicados através da 
indicação da causa. 
B. A presença do efeito revela a causa nele 
envolvida, o que garante a explicação de 
determinado acontecimento. 
C. A causa e o efeito são noções que se 
baseiam na experiência e, por meio dela, 
são apreendidas. 
D. A causa e o efeito são conhecidos 
objetivamente pela mente e não por 
hábitos formados pela percepção do 
mundo. 
E. A causa e o efeito proporcionam, 
necessariamente, explicações válidas 
sobre determinados fatos e 
acontecimentos. 
 
4. (ENEM) Todo o poder criativo da mente 
se reduz a nada mais do que a faculdade de 
compor, transpor, aumentar ou diminuir os 
materiais que nos fornecem os sentidos e a 
experiência. Quando pensamos em uma 
montanha de ouro, não fazemos mais do que 
juntar duas ideias consistentes, ouro e montanha, 
que já conhecíamos. Podemos conceber um 
cavalo virtuoso, porque somos capazes de 
conceber a virtude a partir de nossos próprios 
sentimentos, e podemos unir a isso a figura e a 
forma de um cavalo, animal que nos é familiar. 
HUME, D. Investigação sobre o entendimento humano. São 
Paulo: Abril Cultural, 1995. 
Hume estabelece um vínculo entre pensamento e 
impressão ao considerar que 
 
A. os conteúdos das ideias no intelecto têm 
origem na sensação. 
B. o espírito é capaz de classificar os dados 
da percepção sensível. 
C. as ideias fracas resultam de experiências 
sensoriais determinadas pelo acaso. 
D. os sentimentos ordenam como os 
pensamentos devem ser processados na 
memória. 
E. as ideias têm como fonte específica o 
sentimento cujos dados são colhidos na 
empiria. 
 
 
 
FILOSOFIA – LUCAS TURBIANI Página 15 
 
Para Pensar 
 
 
https://www.deviantart.com/morbethia/art/Jokes-for-the-nerdy-David-Hume-542883418 
 
A tirinha acima brinca com uma das mas famosas ideias de Hume: o problema da indução. Qual a 
importância do pensamento indutivo? Em que medida você concorda ou discorda dessa ideia de Hume? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FILOSOFIA – LUCAS TURBIANI Página 16 
 
 
Leitura complementar 
 
➢ ENSAIO SOBRE O ENTENDIMENTO HUMANO (John Locke) 
 
As Ideias em geral e sua origem 
1. Ideia é o objeto do pensamento. Todo homem tem consciência de que pensa, e que quando está 
pensando sua mente se ocupa de ideias. Por conseguinte, é indubitável que as mentes humanas têm 
várias ideias, expressas, entre outros, pelos termos brancura, dureza, doçura, pensamento, movimento, 
homem, elefante, exército, embriaguez. Disso decorre a primeira questão a ser investigada: como elas são 
apreendidas? 
Consiste numa doutrina aceita que o ser primordial dos homens tem ideias inatas e caracteres 
originais estampados em sua mente. Já examinei, em linhas gerais, essa opinião, e suponho que o que 
ficou dito no livro anterior será facilmente admitido quando tiver mostrado como o entendimento obtém 
todas as suas ideias, e por quais meios e graus elas podem penetrar na mente; com este fim solicitarei a 
cada um recorrer à sua própria observação e experiência. 
2. Todas as ideias derivam da sensação ou reflexão. Suponhamos, pois, que a mente é, como 
dissemos, um papel em branco, desprovida de todos os caracteres, sem nenhuma ideia; como ela será 
suprida? De onde lhe provém este vasto estoque, que a ativa e ilimitada fantasia do homem pintou nela 
com uma variedade quase infinita? De onde apreende todos os materiais da razão e do conhecimento? A 
isso respondo, numa palavra: da experiência. Todo o nosso conhecimento está nela fundado, e dela deriva 
fundamentalmente o próprio conhecimento. Empregada tanto nos objetos sensíveis externos como nas 
operações internas de nossas mentes, que são por nós mesmos percebidas e refletidas, nossa 
observação supre nossos entendimentos com todos os materiais do pensamento. Dessas duas fontes de 
conhecimento jorram todas as nossas ideias, ou as que possivelmente teremos. 
3. O objeto da sensação é uma fonte das ideias. Primeiro, nossos sentidos, familiarizados com os 
objetos sensíveis particulares, levam para a mente várias e distintas percepções das coisas, segundo os 
vários meios pelos quais aqueles objetos os impressionaram. Recebemos, assim, as ideias de amarelo, 
branco, quente, frio, mole, duro, amargo, doce e todas as ideias que denominamos de qualidades 
sensíveis. Quando digo que os sentidos levam para a mente, entendo com isso que eles retiram dos 
objetos externos para a mente o que lhes produziu estas percepções. A esta grande fonte da maioria de 
nossas ideias, bastante dependente de nossos sentidos, dos quais se encaminham para o entendimento, 
denomino sensação. 
4. As operações de nossas mentes consistem na outra fonte de ideias. Segundo, a outra fonte pela 
qual a experiência supre o entendimento com ideias é a percepção das operações de nossa própria 
mente, que se ocupa das ideias que já lhe pertencem. Tais operações, quando a alma começa a refletir e 
a considerar, suprem o entendimento com outra série de ideias que não poderia ser obtida das coisas 
externas, tais como a percepção, o pensamento, o duvidar, o crer, o raciocinar, o conhecer, o querer e 
todos os diferentes atos de nossas próprias mentes. Tendo disso consciência, observando esses atos em 
nós mesmos, nós os incorporamos em nossos entendimentos como ideias distintas, do mesmo modo que 
fazemos com os corpos que impressionam nossos sentidos. Toda gente tem esta fonte de ideias 
completamente em si mesma; e, embora não a tenha sentido como relacionada com os objetos externos, 
provavelmente ela está e deve propriamente ser chamada de sentido interno. Mas, como denomino a 
outra de sensação, denomino esta de reflexão: ideias que se dão ao luxo de serem tais apenas quando a 
mente reflete acerca de suas próprias operações. Na parte seguinte deste discurso, quero que se entenda 
que a reflexão significa a mente observando suas próprias operações, como elas se formam, e como elas 
se tornam as ideias dessas operações no entendimento. Afirmo que estas duas, a saber, as coisas 
materiais externas, como objeto da sensação, e as operações de nossas próprias mentes, como objeto da 
reflexão, são, a meu ver, os únicos dados originais dos quais as ideias derivam. O termo operações é 
usado aqui em sentido lato, compreendendo não apenas as ações da mente sobre suas ideias, mas 
também certos tipos de paixões que às vezes nascem delas, tais como a satisfação ou inquietude que 
nascem de qualquer pensamento. 
 
 
 
 
 
FILOSOFIA – LUCAS TURBIANI Página 17 
 
➢ UMA INVESTIGAÇÃO SOBRE O ENTENDIMENTO HUMANO (David Hume) 
 
11. Qualquer um está pronto a admitir que existe uma diferença considerável entre as percepções da 
mente, quando um homem sente a dor decorrente do calor excessivo, ou o prazer de um clima moderado, 
e quando ele traz de novo à suamemória, mais tarde, tal sensação, ou a antecipa em sua imaginação. 
Essas faculdades podem imitar ou copiar as percepções dos sentidos; mas elas não chegam jamais a 
alcançar a força e vivacidade do sentimento original. O máximo que podemos dizer a respeito delas, 
mesmo quando operam com o maior vigor, é que representam seu objeto de uma maneira tão viva que 
quase poderíamos dizer que o sentimos ou vemos. Mas, com exceção das mentes deturpadas pela 
doença ou pela loucura, elas nunca serão capazes de chegar a um tal grau de vivacidade, a ponto de 
tornar impossível distinguir as percepções. Todas as cores da poesia, embora esplêndidas, nunca podem 
pintar objetos naturais de tal maneira que façam a descrição ser tomada por uma paisagem real. O mais 
vivo dos pensamentos continua sendo inferior à mais vaga das sensações. 
Podemos observar uma distinção semelhante atravessando todas as outras percepções da mente. 
Um homem num acesso de raiva é instigado de uma maneira muito diferente da de alguém que apenas 
pensa nessa emoção. Se você me contar que uma pessoa está apaixonada, entendo facilmente o que 
você quer dizer com isso e formo uma concepção precisa da situação; mas nunca se confundirá essa 
concepção com as desordens e agitações da paixão. Quando refletimos sobre nossos sentimentos e 
impressões do passado, o pensamento é um espelho fiel, que copia seu objeto com veracidade; mas as 
cores que ele utiliza são fracas e vagas em comparação com aquelas que vestiam nossas percepções 
originais. Não é necessário nenhum discernimento sutil, nenhuma cabeça metafísica, para assinalar a 
diferença entre elas. 
12. Aqui, portanto, podemos dividir todas as percepções da mente em duas classes ou espécies, que se 
distinguem por seus diferentes níveis de força e vivacidade. As menos fortes e vivas são normalmente 
denominadas Pensamentos ou Ideias. A outra espécie ainda precisa de um nome em nossa língua, assim 
como em muitas outras; suponho que isso se dê porque nenhum foi necessário, havendo apenas 
intenções filosóficas de classificar tais percepções sob um termo ou designação geral. Vamos fazer uso, 
então, de alguma liberdade, chamando-as de Impressões; palavra empregada em um sentido um tanto 
diferente do usual. Pois, com o termo impressão, refiro-me a todas as nossas percepções mais vivas, 
quando ouvimos, ou vemos, ou sentimos, ou amamos, ou odiamos, ou desejamos, ou queremos. E 
impressões se distinguem de ideias, as percepções menos vivas de que temos consciência quando 
refletimos sobre qualquer uma das sensações ou movimentos mencionados acima. 
13. À primeira vista, nada pode parecer mais ilimitado que o pensamento humano, que não só escapa a 
todo poder e autoridade dos homens, como também não fica restrito nem mesmo aos limites da natureza e 
da realidade. Formar monstruosidades, juntar desenhos e aparências incongruentes não custa à 
imaginação nenhum esforço a mais do que ao conceber os objetos mais naturais e familiares. E enquanto 
o corpo está confinado num único planeta, pelo qual se arrasta com dor e dificuldade, num instante o 
pensamento pode nos transportar para as regiões mais distantes do universo; ou mesmo para além do 
universo, para o caos ilimitado, onde a natureza se encontra, supostamente, em total confusão. Aquilo que 
nunca foi visto, de que nunca se ouviu falar, pode no entanto ser concebido. Nada está além do poder do 
pensamento, exceto o que implica uma absoluta contradição. 
Contudo, embora o nosso pensamento pareça possuir essa liberdade ilimitada, notaremos, 
baseados em um exame mais detalhado, que na realidade ele está confinado dentro de limites muito 
estreitos, e que todo o poder criativo da mente se reduz a nada mais do que a faculdade de compor, 
transpor, aumentar ou diminuir os materiais que nos fornecem os sentidos e a experiência. Quando 
pensamos em uma montanha de ouro, não fazemos mais do que juntar duas ideias consistentes, ouro e 
montanha, que já conhecíamos. Podemos conceber um cavalo virtuoso; porque somos capazes de 
conceber a virtude a partir de nossos próprios sentimentos; e podemos unir a isso a figura e a forma de um 
cavalo, animal que nos é familiar. Em resumo, todos os materiais do pensamento derivam ou do nosso 
sentimento exterior ou do interior: a mistura e a composição de ambos dizem respeito à mente e à 
vontade. Ou seja, para me expressar em linguagem filosófica, todas as nossas ideias, percepções mais 
débeis, são cópias de nossas impressões, mais vivas. 
14. Para provar isso, espero que os seguintes argumentos sejam suficientes. Primeiro, quando analisamos 
os nossos pensamentos e ideias, mesmo os compostos ou sublimes, sempre notamos que eles se 
reduzem a ideias tão simples quanto as copiadas de um sentimento precedente. Até as ideias que, à 
primeira vista, parecem as mais distantes dessa origem mostram-se, de acordo com um exame detalhado, 
como derivadas dela. A ideia de Deus, significando um Ser infinitamente inteligente, sábio e bom, surge da 
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reflexão sobre as operações de nossas próprias mentes, com as qualidades de bondade e sabedoria 
aumentadas ilimitadamente. Podemos dar prosseguimento a esta investigação o quanto quisermos; 
sempre notaremos que cada ideia examinada é cópia de uma impressão similar. Aqueles que argumentam 
contra tal posição, afirmando que ela não é universalmente verdadeira e tem exceções, só possuem um 
método de refutá-la, bastante simples: apontando a ideia que, em sua opinião, não deriva dessa fonte. 
Então, se pretendêssemos manter nossa doutrina, caberia a nós apontar a impressão, ou percepção viva, 
que correspondesse a tal ideia. 
15. Segundo. Se acontece de um homem, devido a um defeito orgânico, não ser suscetível a nenhuma 
espécie de sensação, sempre notaremos que ele tampouco é suscetível à ideia correspondente. Um 
homem cego não pode ter noção alguma das cores; um surdo, dos sons. Restaure os sentidos de que os 
dois são deficientes; abrindo essa nova entrada para suas sensações, você abre também uma entrada 
para as ideias; e eles não encontrarão dificuldade em conceber aqueles objetos. É o mesmo caso de 
quando um objeto, próprio para estimular certa sensação, nunca foi aplicado ao órgão de sentido. Um 
lapão ou um negro não têm nenhuma noção do gosto do vinho. E, apesar de haver poucos exemplos, 
talvez nenhum, de deficiências assim em que uma pessoa nunca sentiu algo, sendo totalmente incapaz de 
um sentimento ou de uma paixão pertencentes à sua espécie, entretanto notamos que a mesma 
observação tem lugar em graus menos intensos. Um homem de maneiras pacíficas não é capaz de formar 
a ideia de crueldade ou vingança a qualquer custo; assim como um coração egoísta não chega facilmente 
a conceber a elevação da amizade e da generosidade. É perfeitamente admissível que outros seres 
possuam muitos sentidos dos quais não podemos ter concepção alguma; porque as ideias deles nunca 
foram apresentadas a nós da única maneira pela qual uma ideia pode ter acesso à mente, isto é, pelo 
próprio sentimento e sensação. […] 
18. É evidente que há um princípio de conexão entre os diferentes pensamentos ou ideias da mente, e que 
cada um deles apresenta o outro, em sua aparição para a memória e a imaginação, com certo grau de 
regularidade e de método. Em nossos pensamentos ou discursos mais sérios isso é tão observável que 
qualquer pensamento, em particular, a interromper o curso regular ou corrente de ideias é imediatamente 
percebido e rejeitado. E mesmo em nossos devaneios mais descontrolados e mais errantes, até em 
nossos próprios sonhos, podemos notar, se refletirmos, que a imaginação não corre à solta em aventuras, 
mas continua havendo uma conexão, mantida em meio à diversidade das ideias que se sucedem. Se a 
conversa mais livre e frouxa fosse transcrita, imediatamente se observaria algo que a conecta em todas as 
suas transições. Nos pontos onde isso nãoocorre, a pessoa que rompeu o fio discursivo ainda será capaz 
de informar que, em segredo, estivera revolvendo na mente uma sucessão de pensamentos que a 
conduziram, gradualmente, a partir do assunto da conversa. Entre línguas diferentes, mesmo quando não 
podemos suspeitar que haja a mínima conexão ou comunicação, nota-se como as palavras, ao 
expressarem as ideias, as mais compostas, acabam sendo correspondentes: uma prova segura de que as 
ideias simples, contidas nas compostas, eram ligadas por algum princípio universal que teve uma 
influência igual para toda a humanidade. 
19. Embora o fato de as diferentes ideias estarem conectadas seja óbvio demais para escapar à 
observação, não considero que nenhum filósofo tenha tentado enumerar ou classificar todos os princípios 
de associação; um assunto que se mostra, contudo, digno de curiosidade. Para mim, parece haver apenas 
três princípios de conexão entre ideias, a saber: Semelhança, Contiguidade no tempo ou no espaço, e 
Causa ou Efeito. 
[...] 
58. Porém, pretendemos nos dirigir mais rapidamente à conclusão desse argumento, que já teve seu 
espaço de destaque muito longo: procuramos em vão uma ideia de força, ou conexão necessária, em 
todas as fontes das quais poderíamos supor que ela fosse derivada. Parece que, em casos singulares da 
operação de corpos, não podemos descobrir, mesmo por meio de nosso exame mais minucioso, nada 
além de um evento seguindo outro sem sermos capazes de compreender alguma força ou poder segundo 
os quais certa causa opera, nem qualquer conexão entre ela e seu suposto efeito. A mesma dificuldade 
ocorre na contemplação das operações da mente sobre o corpo — nas quais observamos o movimento 
deste seguindo a determinação daquela, mas não somos capazes de observar ou conceber o laço que 
prende o movimento e a determinação, nem a energia pela qual a mente produz esse efeito. A autoridade 
da vontade sobre suas próprias faculdades e ideias não é assunto mais compreensível. De modo que, no 
geral, perpassando toda a natureza, não aparece nenhum caso de conexão que seja concebível por nós. 
Todos os eventos parecem inteiramente soltos e separados. Um evento segue outro, mas nunca podemos 
observar nenhum laço entre eles. Eles aparecem conjugados, mas nunca conectados. Como não 
podemos ter nenhuma ideia de qualquer coisa que nunca apareceu para nosso sentido externo ou 
sentimento interno, a conclusão necessária parece ser a de que não possuímos nenhuma ideia de 
FILOSOFIA – LUCAS TURBIANI Página 19 
conexão ou força, e que tais palavras absolutamente não têm sentido quando as empregamos, tanto nos 
raciocínios filosóficos quanto na vida comum. 
59. Mas ainda resta um método para evitar essa conclusão, e uma fonte que não examinamos. Quando 
qualquer objeto ou evento natural se apresenta, é impossível para nós, por meio de qualquer sagacidade 
ou argúcia, descobrir ou mesmo conjecturar, sem experiência, qual evento resultará daquele, ou conduzir 
a nossa previsão para algo além do objeto que está imediatamente presente para a memória e os 
sentidos. Mesmo após uma situação, ou um experimento, em que tenhamos observado um evento 
particular vir em seguida de outro, não estamos autorizados a formar uma regra geral, a antecipar o que 
acontecerá em casos semelhantes. É justo que se considere uma temeridade imperdoável julgar todo o 
curso da natureza a partir de um experimento singular, apesar da sua precisão e certeza. Mas quando 
uma espécie particular de eventos sempre esteve, em todos os casos, conjugada com outra, não temos 
nenhum escrúpulo em prever um desses eventos a partir da aparição do outro, empregando aquele 
raciocínio que, sozinho, nos assegura de qualquer fato ou existência. Então, chamamos um objeto de 
Causa; o outro de Efeito. Supomos que haja alguma conexão entre eles; alguma força, no primeiro, pela 
qual ele produz infalivelmente o segundo, operando com a maior certeza e a mais forte necessidade. 
Parece, então, que a ideia de uma conexão necessária entre os eventos surge de uma quantidade 
de situações similares, que decorrem da conjunção constante desses eventos. Tal ideia não pode nunca 
ser sugerida por qualquer dessas situações, inspecionada em cada posição e sob todas as abordagens 
possíveis. Mas não existe nada, em uma quantidade de situações, diferente de qualquer situação singular 
supostamente similar às outras; exceção feita apenas ao fato de, após uma repetição de situações 
similares, a mente ser levada pelo hábito a esperar, quando um evento aparece, aquilo que costuma 
acompanhá-lo, acreditando que esse acompanhamento vai acontecer. Por conseguinte, essa conexão que 
sentimos na mente, essa transição costumeira da imaginação de um objeto para aquilo que o acompanha 
usualmente, é o sentimento ou impressão a partir do qual formamos a ideia de força ou conexão 
necessária. Não se trata de nada além disso. Contemple o assunto de todos os ângulos; você nunca 
achará nenhuma outra origem da ideia em questão. É essa a única diferença entre uma situação singular, 
da qual nunca podemos receber a ideia de conexão, e uma quantidade de situações similares, pelas quais 
a ideia é sugerida. Vendo pela primeira vez a comunicação de movimento por impulsão, por exemplo, no 
choque de duas bolas de bilhar, um homem não poderia afirmar que um evento estava conectado ao 
outro, mas apenas que eles estavam conjugados. Após observar diversas situações dessa natureza, ele 
passa a afirmar que os eventos são conectados. Que alteração aconteceu para dar origem a essa ideia 
nova de conexão? Nada além do fato de ele agora sentir que esses eventos estão conectados em sua 
imaginação, podendo predizer prontamente a existência de um deles a partir da aparição do outro. Assim, 
quando dizemos que um objeto está conectado a outro, isso significa apenas que eles adquiriram uma 
conexão em nosso pensamento, dando origem à inferência pela qual um se torna prova da existência do 
outro. Uma conclusão que tem algo de extraordinário, mas que parece fundada em evidência suficiente. E 
sua evidência não será enfraquecida por nenhuma desconfiança genérica por parte do entendimento, nem 
por uma suspeita cética a respeito de qualquer conclusão nova e extraordinária. Nenhuma conclusão pode 
agradar mais ao ceticismo do que as descobertas a respeito dos limites tênues e estreitos da razão e da 
capacidade humana. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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14 – KANT E O CRITICISMO 
Conceitos-chave: Crítica, Revolução Copernicana, Iluminismo, Autonomia, A Priori, A Posteriori, 
Fenômeno x Númeno, Deontologia (dever), Imperativo Categórico 
Resumo 
• Kant inaugura o criticismo: 
o Diante das diversas interpretações antagônicas do uso da razão em sua época, Kant vê a 
necessidade de submeter a própria razão ao julgamento, o que significa para ele fazer o uso 
crítico da razão. Tal uso tem como objetivo tanto desvendar o que é possível conhecer quanto 
realizar a liberdade e a autonomia do indivíduo, alçá-lo à maioridade intelectual, ou seja, torná-
lo esclarecido. 
A. Crítica da Razão Pura: 
• Revolução Copernicana na filosofia: inversão da relação tradicional entre sujeito e objeto no 
conhecimento, dando ao sujeito a iniciativa na elaboração do conhecimento. 
• A teoria do conhecimento: Kant entendeu o conhecimento como uma complexa ação teórica de 
identificação objetiva segundo certas condições subjetivas que são as faculdades e suas respectivas 
formas: a sensibilidade com as formas de espaço e tempo, e o entendimento com os conceitos 
básicos chamados categorias. 
• Juízos: O conhecimento consuma-se no momento em que percepções e conceitos são relacionados 
ou reunidos sob a forma de afirmações ou negações num juízo. 
o Condições de conhecimento e tipos de juízos: 
▪ a priori (puros), a posteriori (empíricas), analíticos (a relação entre sujeito e predicado 
é pensada por identidade e não contradição)e sintéticos (aumentam o conhecimento, 
uma vez que o predicado acrescenta algo ao sujeito). 
▪ A contribuição inovadora de Kant relativamente aos juízos sintéticos foi ter 
estabelecido, além dos juízos sintéticos a posteriori, a existência de juízos sintéticos a 
priori, que dizem respeito à possibilidade e estrutura geral da experiência e são 
universais e necessários. Da existência desse tipo de juízos dependeria a possibilidade 
não só da ciência, mas também da metafísica como ciência. 
• Enquanto tornam possíveis a experiência e o conhecimento, as condições a priori são chamadas de 
transcendentais 
• Fenômeno e Númeno: distinção que garante de forma segura o que nos é possível conhecer. Como o 
conhecimento implica uma correlação entre um sujeito e um objeto, os dados objetivos não são 
captados por nossa mente tais quais são (a coisa em si), mas configurados pelo modo com que a 
sensibilidade e o entendimento os apreendem. Assim, a coisa em si, o númeno, o absoluto, é 
incognoscível. Só conhecemos o ser das coisas na medida em que nos aparecem, isto é, enquanto 
fenômeno. 
B. Ética kantiana: 
• Kant dedicou três obras ao estudo da ação: Crítica da razão prática (1788), a Fundamentação da 
metafísica dos costumes (1785) e a Metafísica dos costumes (1797). 
• Kant investiga a possibilidade de um princípio a priori, ou seja, universal e imutável, para a moralidade 
(a razão em seu uso prático). 
• Os princípios da razão prática são leis universais que definem nossos deveres e se aplicam a todos os 
indivíduos em qualquer circunstância, ou seja, não está restrita a preceitos de caráter pessoal ou 
subjetivos, nem a hábitos e práticas culturais ou sociais Pode-se considerar assim a ética kantiana 
como uma ética deontológica (do dever). 
o O dever consiste na obediência a uma lei que se impõe universalmente a todos os seres 
racionais. Eis o sentido do imperativo para Kant, que pode ser: 
▪ Categórico: “Age de tal forma que sua ação possa ser considerada como norma 
universal”; "Age de tal forma que uses a humanidade, tanto na tua pessoa, como na 
pessoa de qualquer outro, sempre e ao mesmo tempo como fim e nunca simplesmente 
como meio"; "Age como se fosses, através de suas máximas, sempre um membro 
legislador no reino universal dos fins". 
• O imperativo categórico funda-se no princípio da autonomia, que quer dizer a 
capacidade de determinar-se segundo leis que a própria razão estabelece. 
▪ Hipotético: têm um caráter prático, estabelecendo uma regra para a realização de um 
fim, como: “Se você quiser ter credibilidade, cumpra suas promessas”. 
• A liberdade é o conceito-chave da prática, porque sem ela não existe ação. 
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Exercícios 
1. (UEL) O tempo nada mais é que a forma da nossa intuição interna. Se a condição particular da 
nossa sensibilidade lhe for suprimida, desaparece também o conceito de tempo, que não adere aos 
próprios objetos, mas apenas ao sujeito que os intui. 
 (KANT, I. Crítica da razão pura.) 
Com base nos conhecimentos sobre a concepção kantiana de tempo, assinale a alternativa correta. 
A. O tempo é uma condição a priori de todos os fenômenos em geral. 
B. O tempo é uma representação relativa subjacente às intuições. 
C. O tempo é um conceito discursivo, ou seja, um conceito universal. 
D. O tempo é um conceito empírico que pode ser abstraído de qualquer experiência. 
E. O tempo, concebido a partir da soma dos instantes, é infinito. 
 
2. (UEL) Leia o texto a seguir. 
As leis morais juntamente com seus princípios não só se distinguem essencialmente, em todo o 
conhecimento prático, de tudo o mais onde haja um elemento empírico qualquer, mas toda a Filosofia 
moral repousa inteiramente sobre a sua parte pura e, aplicada ao homem, não toma emprestado o mínimo 
que seja ao conhecimento do mesmo. 
(KANT, I. Fundamentação da Metafísica dos Costumes.) 
Com base no texto e na questão da liberdade e autonomia em Immanuel Kant, assinale a alternativa 
correta. 
A. A fonte das ações morais pode ser encontrada através da análise psicológica da consciência 
moral, na qual se pesquisa mais o que o homem é, do que o que ele deveria ser. 
B. O elemento determinante do caráter moral de uma ação está na inclinação da qual se origina, 
sendo as inclinações serenas moralmente mais perfeitas do que as passionais. 
C. O sentimento é o elemento determinante para a ação moral, e a razão, por sua vez, somente pode 
dar uma direção à presente inclinação, na medida em que fornece o meio para alcançar o que é 
desejado. 
D. O ponto de partida dos juízos morais encontra-se nos “propulsores” humanos naturais, os quais se 
direcionam ao bem próprio e ao bem do outro. 
E. O princípio supremo da moralidade deve assentar-se na razão prática pura, e as leis morais devem 
ser independentes de qualquer condição subjetiva da natureza humana. 
 
3. (ENEM) Esclarecimento é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado. A 
menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo. O 
homem é o próprio culpado dessa menoridade se a causa dela não se encontra na falta de entendimento, 
mas na falta de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem. Tem coragem de 
fazer uso de teu próprio entendimento, tal é o lema do esclarecimento. A preguiça e a covardia são as 
causas pelas quais uma tão grande parte dos homens, depois que a natureza de há muito os libertou de 
uma condição estranha, continuem, no entanto, de bom grado menores durante toda a vida. 
 (KANT, I. Resposta à pergunta: o que é esclarecimento? Petrópolis: Vozes, 1985.) 
Kant destaca no texto o conceito de Esclarecimento, fundamental para a compreensão do contexto 
filosófico da Modernidade. Esclarecimento, no sentido empregado por Kant, representa 
A. a reivindicação de autonomia da capacidade racional como expressão da maioridade. 
B. o exercício da racionalidade como pressuposto menor diante das verdades eternas. 
C. a imposição de verdades matemáticas, com caráter objetivo, de forma heterônoma. 
D. a compreensão de verdades religiosas que libertam o homem da falta de entendimento. 
E. a emancipação da subjetividade humana de ideologias produzidas pela própria razão. 
 
4. (UEMA) Fraqueza e covardia são as causas pelas quais a maioria das pessoas permanece infantil 
mesmo tendo condição de libertar-se da tutela mental alheia. Por isso, fica fácil para alguns exercer o 
papel de tutores, pois muitas pessoas, por comodismo, não desejam se tornar adultas. Se tenho um livro 
que pensa por mim; um sacerdote que dirige minha consciência moral; um médico que me prescreve 
receitas e, assim por diante, não necessito preocupar-me com minha vida. Se posso adquirir orientações, 
não necessito pensar pela minha cabeça: transfiro ao outro esta penosa tarefa de pensar. 
I. Kant, O que é a ilustração. In: F. Weffort (org). Os clássicos da política, v. 2, 6 ed. São Paulo: Saraiva, 2006. 
Esse fragmento compõe o livro de Kant que trata da importância da(o) 
A. juízo. B. razão. C. cultura. D. costume. E. experiência. 
 
 
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Para Pensar 
Caetano Cury é jornalista, publicitário, ilustrador, aquarelista e quadrinista, autor dos quadrinhos Téo & O 
Mini Mundo, série indicada ao troféu HQMix na categoria webtiras em 2019. Caetano tem suas raízes em 
Guaxupé, Sul de Minas Gerais. Foi apresentador e repórter da Rádio Bandeirantes de São Paulo. 
Trabalhou também nas rádios BandNews FM e CBN de Ribeirão Preto-SP. Como repórter de rádio, 
ganhou o prêmio Vladimir Herzog de Jornalismo e Direitos Humanos. Hoje é integrante do podcast Meio 
Rádio, vencedor do troféu APCA concedido pela Associação Paulista de Críticos de Artes. Caetano foi 
ainda ilustrador da Folha de S. Paulo, ganhou prêmio no Salão Internacional de Humor de Piracicaba, teve 
obra publicada no Enem e deu curso de produção de quadrinhos no SESC. Atualmente, além de

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