Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA – INPA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA DE ÁGUA DOCE E PESCA INTERIOR – PPG BADPI Respostas fisiológicas e metabólicas do tambaqui (Colossoma macropomum, Cuvier 1818) às alterações climáticas previstas pelos diferentes cenários do IPCC para o ano de 2100 Fernanda Garcia Dragan Manaus, Amazonas 02/2015 ii FERNANDA GARCIA DRAGAN Respostas fisiológicas e metabólicas do tambaqui (Colossoma macropomum, Cuvier 1818) às alterações climáticas previstas pelos diferentes cenários do IPCC para o ano de 2100 Manaus, Amazonas 02/2015 Orientadora: Dra. Vera Maria Fonseca de Almeida e Val Financiamento: Bolsa - CAPES INCT-ADAPTA FAPEAM (3159/08) – CNPq (573976/2008-2) Dissertação apresentada ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Biologia de Água Doce e Pesca Interior. iii D759 Dragan, Fernanda Garcia Respostas fisiológicas e metabólicas do tambaqui (Colossoma macropomum, Cuvier 1818) às alterações climáticas previstas pelos diferentes cenários do IPCC para o ano de 2100 / Fernanda Garcia Dragan. --- Manaus : [s.n], 2014. xiv, 81 f. : il. color. Dissertação (Mestrado) --- INPA, Manaus, 2014. Orientador : Vera Maria Fonseca de Almeida e Val. Área de concentração: Biologia de Água Doce e Pesca Interior. 1. Colossoma macropomum. 2. Tambaqui. 3. LDH. I. Título. CDD 597.5 iv À minha família, pelo apoio incondicional e por todo o amor, mesmo a distância. v Agradecimentos Agradeço aos meus pais por terem estimulado minha mente inquieta, por me permitirem sonhar e por sempre estarem do meu lado. À minha irmã por ser uma das pessoas mais importantes da minha vida, me apoiando incondicionalmente, mesmo quando não faz ideia do que eu estou falando. Ao amor que descobri durante esta jornada e que me manteve forte, mesmo quando achava que não tinha mais força. À querida Dra. Vera, por ter me dado a oportunidade de mostrar do que sou capaz. Nunca vou esquecer o carinho com o qual me recebeu e nem o estímulo que me deu para que eu me tornasse melhor do que era quando comecei. Ao Dr. Adalberto por me abrir a porta para uma área inusitada e apaixonante. Agradeço a confiança que depositou em mim. À MSc. Nazaré, pela amizade, carinho e broncas. Sem sua ajuda muito deste trabalho não seria possível! À Alzira pela incrível parceria que permitiu a realização do experimento. Agradeço também pelo apoio, dicas e assistências ao longo desse processo de crescimento. Ao Derek pela disponibilidade e paciência em me ajudar nas análises de LDH. À Leka por abraçar o microcosmos, pelo apoio com as análises diárias ao longo do experimento e pela amizade. À Luciana, pelo apoio e ajuda na fase final dessa etapa. À Susana pela amizade e apoio desde o inicio dessa minha jornada. Aos amigos Jéssica, Denise, Rodrigo e Marcos por estarem junto a mim durante os experimentos no microcosmo. Ao “Portuga” pela ajuda no experimento do polígono. À toda a equipe do LEEM pelo apoio, amizade e ensinamentos. vi Às secretárias do LEEM, Claudinha e D. Rai pelo carinho e atenção. Às secretárias do PPG-BADPI, em especial a Carminha, por ser uma pessoa tão especial. À Capes pela concessão da bolsa. Aos meus amigos pelo carinho, apoio e compreensão ao longo do percurso. À toda a minha família por estar perto, mesmo estando longe. À Sophia, meu pinguinho de gente que veio pra tornar minha vida mais especial. E, por fim, agradeço aos membros da banca avaliadora que gentilmente dispuseram do seu precioso tempo para leitura e presença neste momento tão esperado. Obrigada! vii "Aqui, no entanto, nós não olhamos para trás por muito tempo. Nós continuamos seguindo em frente, abrindo novas portas e fazendo coisas novas. Porque somos curiosos... e a curiosidade continua nos conduzindo por novos caminhos. Siga em frente." Walt Disney viii RESUMO O tambaqui (Colossoma macropomum) é uma espécie que possui diversas adaptações que lhe permitem sobreviver às diversidades impostas pelos ambientes amazônicos. Em contrapartida, ainda são necessários estudos para compreender os impactos que as mudanças climáticas terão sobre esta espécie. Existe uma relação direta entre temperatura e a distribuição da espécie em seu ambiente. O tambaqui foi aclimatado em quatro temperaturas distintas (25º, 28º, 31º e 34ºC) por 14 dias, seguido de uma alteração linear de temperatura até atingir o valor subletal. Os resultados permitiram a obtenção do polígono de tolerância térmica da espécie, cuja área total é de 266,71ºC2. O tambaqui apresenta baixa plasticidade térmica quando comparado às espécies de clima temperado. No experimento envolvendo exposição por 30 dias aos cenários climáticos previstos pelo IPCC para 2100, o tambaqui apresentou alterações significativas (p<0,05), após 30 dias de exposição no hematócrito em relação ao tempo zero nos cenários intermediário e extremo. A atividade da LDH de músculo apresentou aumento significativo (p<0,05) nos animais expostos por 30 dias nos cenários brando, intermediário e extremo em relação aos respectivos tempos zero. A razão LDH1/LDH10 indicou inibição para o músculo cardíaco e esquelético. Nas análises de cinética enzimática da LDH, o Km do coração do tambaqui não apresentou alterações significativas ao longo do experimento, reafirmando sua termoestabilidade. Em contrapartida, o Km da LDH do músculo do tambaqui apresentou aumento significativo após 30 dias de exposição em relação ao tempo zero. O presente estudo verificou que o aumento de temperatura concomitante ao aumento de CO2 provocam estresse metabólico no tambaqui. ix ABSTRACT Tambaqui (Colossoma macropomum) is a well adapted fish, since it survives natural environmental adversities of Amazon ambient. However, we still need to understand the possible effects of climate changes over this species. There is a straight relationship between temperature and this species distribution in it’s natural habitat. Several fish were acclimated in four distinct temperatures (25º, 28º, 31º e 34ºC) during 14 days, following by a linear increase or decrease in temperature, until reaching the sublethal temperatures. The temperature tolerance polygon was determined with a total area of 266,71ºC2. Results show that tambaqui has lower thermal plasticity in comparison with temperate species. The experiment’s related to 30 days exposure to IPCC climate change scenarios for 2100, resulted in hematological changes for tambaqui after 30 days. Hematocrit showed to be significantly different (p<0,05) after 30 days, suggesting that the exposure to the different scenarios caused stress in these fish. Muscle LDH activity showed to be significantly different (p<0,05) after 30 days of exposure to light, medium and extreme scenarios, in comparison to initial time. LDH ratio indicates inhibition of LDH in muscle and heart tissue. LDH kinetic results in heart muscle LDH resulted in no significant differences during the experiment, reassuring its thermostability. On the other hand, the Km of skeletal muscle LDH showed, for animals exposed after 30 days to the scenarios, to be variable (p<0,05). The present study concludes that high temperatureswith high CO2 concentrations induce metabolic stress on tambaqui. x Sumário Lista de Tabelas .......................................................................................... xii Lista de Figuras .......................................................................................... xii Lista de Abreviações e Siglas ..................................................................... xiii INTRODUÇÃO GERAL .............................................................................. 1 1.1O tambaqui e as mudanças climáticas .................................................. 1 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 3 Capítulo I- Tolerância térmica do tambaqui (Colossoma macropomum, Cuvier, 1818) em diferentes temperaturas de aclimatação ................... 6 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 7 1.1 A Temperatura como fator limitante .................................................... 7 1.2 O polígono de tolerância térmica ........................................................... 9 2 OBJETIVOS ............................................................................................ 10 2.1 Objetivo geral ........................................................................................ 10 2.2 Objetivos específicos ............................................................................ 10 3 MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................ 11 3.1 Obtenção dos animais .......................................................................... 11 3.2 Delineamento experimental .................................................................. 11 3.3 Determinação do polígono de tolerância térmica ................................. 12 3.4 Acompanhamento da qualidade da água ............................................. 12 3.5 Análise estatística ................................................................................. 13 4 RESULTADOS ........................................................................................ 13 5 DISCUSSÃO ............................................................................................ 15 xi 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................... 18 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................... 18 Capítulo II- Efeito de diferentes cenários climáticos sobre a LDH do tambaqui (Colossoma macropomum, Cuvier 1818) ................................. 23 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 24 1.1 Efeito da temperatura e CO2 sobre os peixes ....................................... 24 1.2 Lactato Desidrogenase (LDH) ............................................................... 25 1.3 Efeito da temperatura e CO2 sobre o sangue dos peixes ..................... 27 2 OBJETIVOS ............................................................................................ 28 2.1 Objetivo geral ....................................................................................... 28 2.2 Objetivos específicos ............................................................................ 29 3 MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................ 29 3.1 Obtenção dos animais e aclimatação ................................................... 29 3.2 Delineamento Experimental .................................................................. 29 3.2.1 Cenários climáticos em microcosmos ................................................ 29 3.2.2 Exposição aos cenários climáticos em microcosmos ........................ 30 3.3 Acompanhamento da qualidade da água ............................................. 31 3.4 Obtenção das amostras ........................................................................ 31 3.5 Análise dos Parâmetros sanguíneos .................................................... 32 3.6 Atividade e cinética da LDH .................................................................. 32 3.7 Análise Estatística ................................................................................. 33 4 RESULTADOS ........................................................................................ 34 4.1 Microcosmos ......................................................................................... 34 4.2 Parâmetros sanguíneos ........................................................................ 36 4.3 Atividade da LDH .................................................................................. 38 4.4 Cinética Enzimática da LDH .................................................................. 41 5 DISCUSSÃO ............................................................................................ 47 xii 5.1 Parâmetros físico-químicos da água .................................................... 47 5.2 Estresse do tambaqui exposto aos cenários ........................................ 47 5.3 Efeito dos cenários climáticos na atividade da LDH ............................. 49 5.4 Taxa de inibição da LDH ....................................................................... 51 5.5 Cinética da LDH vs cenários climáticos ............................................... 52 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................. 54 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS GERAL ..................................................... 54 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 54 xiii Lista de Tabelas Capítulo I- Tolerância térmica do tambaqui (Colossoma macropomum, Cuvier, 1818) em diferentes temperaturas de aclimatação Tabela 1. Características físico-químicas da água e dos juvenis de tambaqui (C. macropomum) durante os experimentos de tolerância térmica ........................................................................................................ 12 Tabela 2. CTmáximas e CTmínimas para cada temperatura de aclimatação ................................................................................................. 12 Capítulo II- Efeito de diferentes cenários climáticos sobre a LDH do tambaqui (Colossoma macropomum, Cuvier, 1818) Tabela 1. Parâmetros físico-químicos da água utilizada no experimento com tambaqui em microcosmos ................................................................. 35 Tabela 2. Razão enzimática da LDH do coração de tambaqui................... 39 Tabela 3. Razão enzimática da LDH do músculo esquelético de tambaqui...................................................................................................... 40 Lista de Figuras Capítulo I- Tolerância térmica do tambaqui (Colossoma macropomum, Cuvier, 1818) em diferentes temperaturas de aclimatação Figura 1. Temperaturas máxima e mínima para o tambaqui submetido em diferentes temperaturas de aclimatação................................................ 13 Capítulo II- Efeito de diferentes cenários climáticos sobre a LDH do tambaqui (Colossoma macropomum, Cuvier, 1818) xiv Figura 1. Representação das condições de cada cenário simulados pelos microcosmos ..................................................................................... 29 Figura 2. Valores diários da concentração de CO2 no ar nos diferentes cenários ao longo do período experimental em microcosmos.................... 34 Figura 3. Valores diários da temperatura do ar nos diferentes cenários ao longo do período experimental em microcosmos................................... 34 Figura 4. Valores de temperatura e concentração de CO2 do ar no período de 24 horas nos cenários climáticos...............................................35 Figura 5. Glicose dos indivíduos de tambaqui expostos por 30 dias em microcosmos................................................................................................ 36 Figura 6. Hematócrito dos indivíduos de tambaqui expostos por 30 dias em microcosmos.......................................................................................... 37 Figura 7. Atividade da LDH presente no coração de tambaqui................... 38 Figura 8. Atividade da LDH presente no músculo esquelético de tambaqui ...................................................................................................... 39 Figura 9. Perfil de saturação da LDH do coração de tambaqui a concentrações de piruvato dos animais expostos ao cenário controle......................................................................................................... 41 Figura 10. Perfil de saturação da LDH do coração de tambaqui a concentrações de piruvato dos animais expostos ao cenário brando........................................................................................................... 41 Figura 11. Perfil de saturação da LDH do coração de tambaqui a concentrações de piruvato dos animais expostos ao cenário Intermediário.................................................................................................. 42 Figura 12. Perfil de saturação da LDH do coração de tambaqui a concentrações de piruvato dos animais expostos ao cenário extremo.......................................................................................................... 42 Figura 13. Perfil de saturação da LDH do músculo esquelético de tambaqui a concentrações de piruvato dos animais expostos ao cenário controle.......................................................................................................... 43 Figura 14. Perfil de saturação da LDH do músculo esquelético de tambaqui a concentrações de piruvato dos animais expostos ao cenário brando............................................................................................................ 44 xv Figura 15. Perfil de saturação da LDH do músculo esquelético de tambaqui a concentrações de piruvato dos animais expostos ao cenário intermediário................................................................................................... 44 Figura 16. Perfil de saturação da LDH do músculo esquelético de tambaqui a concentrações de piruvato dos animais expostos ao cenário extremo........................................................................................................... 45 Figura 17. Cinética enzimática da LDH de coração dos indivíduos de tambaqui expostos por 30 dias em microcosmos........................................ 46 Figura 18. Cinética enzimática da LDH de músculo dos indivíduos de tambaqui expostos por 30 dias em microcosmos........................................ 47 Lista de Abreviações e Siglas ATP Adenosina trifosfato A1B Cenário intermediário A2 Cenário extremo B1 Cenário brando Cm Centímetro CHCM Concentração de hemoglobina corpuscular média CO2 Dióxido de carbono CTM Metodologia de Temperatura Crítica (do inglês: Critical Thermal Meodology) Ctmáx Temperatura crítica máxima Ctmin Temperatura crítica mínima ºC Graus Celsius ºC2 Graus celsius elevado ao quadrado xvi EPA Do inglês: Uniterd Stantes Environmental Protection Agency G Gramas H+ Hidrogênio HCO3- Íons bicarbonato HIF-1 Do inglês: hypoxia inducible fator 1 Ht Hematócrito [Hb] Concentração de hemoglobina HCM Hemoglobina corpuscular média IPCC Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (do inglês: Intergovernamental Painel on Climate Change) Km Constante de Michaelis-Menten L Litro LDH Lactato desidrogenase mg/L Miligrama por litro mL Mililitro mM Milimolar mm3 Milímetro cúbico g Micrograma L Microlitro Na2CO3 Carbonato de sódio NADH Nicotiamida adenina dinucleotídeo oxidada NASA Administração Nacional da Aeronáutica e do Espaço (do inglês: National Aeronautics and Space Administrations) Nm Nanômetro NSIDC Do inglês: National Snow and Ice Data Center O2 Oxigênio pCO2 Pressão parcial do CO2 no sangue xvii pH Potencial hidrogeniônico Ppm Partes por milhão PVC Policroreto de vinila RBC Do inglês: Red blood cell Rpm Rotações por minuto [S] Concentração de substrato SEM Erro padrão da média TL50 Temperatura letal 50 por centro VCM Volume corpuscular médio Vmax Velocidade máxima da enzima V0 Velocidade inicial da enzima 1 INTRODUÇÃO 1.1 O tambaqui e as mudanças climáticas O termo “mudança climática” refere-se comumente a todos os tipos de alterações climáticas que durem por décadas ou mais, incluindo mudanças na temperatura, na precipitação, concentração de dióxido de carbono (CO2) ou padrão de vento, entre outros (NASA, 2012a). Tais mudanças podem ser causadas por processos naturais do sistema climático, por mudanças na atividade solar, por mudanças nos elementos orbitais do planeta e por atividades antropogênicas (EPA, 2012; NSIDC, 2012). Para melhor compreensão, o enfoque da presente dissertação será com relação ao aumento da temperatura e da concentração de dióxido de carbono de acordo com alguns cenários preconizados pelo quarto relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) para o ano de 2100. Estudos paleoclimáticos buscam entender o funcionamento dos ciclos climáticos e Petit et al. (1999) acreditam, inclusive, ser plausível afirmar que os gases do efeito estufa (dióxido de carbono, óxido nitroso, metano, clorofluorocarbonetos e vapor d’água) têm a capacidade de influenciar em até 3°C a temperatura média do planeta. Em meio a estes fatos, a preocupação atual com relação aos eventos climáticos está relacionada com a influência que o ser humano pode ter sobre eles (Henderson-Sellers & McGuffie, 2012). Um marco importante com relação às atividades antrópicas, por consequência das emissões de CO2, ocorreu na década de 1950, quando o nível de CO2 atmosférico ultrapassou os valores máximos registrados nos últimos 400 mil anos, apresentando, desde então, um aumento contínuo, sendo este acompanhado por um aumento de temperatura (NASA, 2012b). Conforme tais alterações foram ocorrendo, cientistas de diversos países sentiram a necessidade de estudar suas consequências. Foi criado então, em 1988, o IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change) cujo objetivo é consolidar e reunir informações climáticas globais, não apenas com a condição atual do planeta, mas também com previsões climáticas baseadas nas condições atuais, e disponibilizá-las em relatórios detalhados (IPCC, 2013). 2 Embora as consequências destas mudanças ainda sejam desconhecidas, algumas se tornam cada vez mais evidentes, como a diminuição da área da calota polar ártica, que vem sendo registrada desde 1979; a diminuição da massa do gelo antártico e o consequente aumento do nível dos oceanos (NASA, 2012b). Estudos sobre as possíveis consequências na Amazônia indicam que suas florestas podem estar em um limiar, com capacidade de transformar completamente seus ambientes (Henderson-Sellers & McGuffie, 2012). Os modelos climáticos para a região da Amazônia precisam de aprimoramento para uma maior precisão das previsões, entretanto especulações têm sido apresentadas em duas vertentes opostas: a savanização da floresta pela diminuição do regime de chuvas, e o aumento de tempestades devido à uma maior intensidade no regime de chuva. Ambas as previsões propiciam impactos aos ambientes terrestre e aquático (Manzi, 2008). O tambaqui (Colossoma macropomum) ocorre naturalmente tanto na bacia do Rio Amazonas quanto na bacia do Rio Orinoco, estando presente no Brasil, Bolívia, Peru, Venezuela e Colômbia. Possui adaptações para viver em águas claras, pretas e brancas, embora sejamais abundante em rios de água branca (Araújo-Lima & Goulding, 1998). Ele é um peixe pertencente à ordem Characiformes da família Serrasalmidae (Mirande, 2010). É uma espécie de corpo alto e comprimido que possui uma nadadeira adiposa raiada (Ferreira et al., 1998) característica deste grupo. É onívora e apresenta dentes molariformes que lhe permite alimentar-se de frutos e sementes, tendo como alternativa o zooplancton (Ferreira et al., 1998; Santos et al., 2006). Pelo fato do tambaqui ser um dos peixes mais apreciados da culinária local e apresentar um alto valor comercial, sua criação em cativeiro vem se tornando cada vez mais intensa (Ferreira et al., 1998; Val & Honczaryk, 1995; Golding & Carvalho, 1982; Santos et al., 2006). Apesar disso, devido à sua sobre- pesca, a espécie integra a lista do IBAMA, desde 2003, de espécies protegidas durante o período de defeso conforme Instrução Normativa Nº35/2005 (MMA, 2012). Os diferentes tipos de água da Amazônia possuem características distintas com relação ao pH, condutividade, carbono orgânico dissolvido (COD), entre outros (Sioli, 1985) e, sendo assim, o tambaqui necessita ter uma ampla faixa de tolerância para ser capaz de habitar todos esses ambientes. 3 Essa espécie possui diversas adaptações que lhe permitem sobreviver às diversidades impostas pelos ambientes amazônicos. Conforme a concentração de oxigênio dissolvido diminui, o tambaqui aumenta a taxa de ventilação branquial com o objetivo de otimizar a captação de oxigênio (Araújo-Lima & Goulding, 1998) e os níveis de lactato aumentam rapidamente (Almeida-Val et al., 1993). Quando o nível de oxigênio fica inferior a 0.5 mg/L, o lábio inferior expande-se com a formação de um edema, permitindo que o indivíduo capte a camada superficial da água, onde se encontra uma concentração maior de oxigênio, regredindo o lábio quando o ambiente volta a normóxia (Val et al., 1998). Estudos com a espécie indicam que o aumento da temperatura proporciona um aumento na taxa de crescimento relativo do tambaqui (Araújo-Lima & Goulding, 1998) e provoca uma diminuição na excreção de amônia (Ismiño-Orbe et al., 2003). Já a exposição do tambaqui a uma temperatura elevada, juntamente à uma alta concentração de CO2, induz a expressão da HSP70 (Heat Shock Protein) (Sakuragui et al., 2012), sendo esta a proteína mais comum com relação à resposta ao estresse térmico (Hochachka & Somero, 2002). Em experimento com aumento de temperatura em conjunto com o aumento do CO2, o tambaqui apresentou anormalidades nucleares eritrocíticas significativas (Souza-Netto, 2012). Embora a espécie apresente diversas adaptações para as variações ambientais, os resultados apresentados na literatura científica para a exposição a alterações de temperatura concomitante a alterações na concentração de CO2, mostram um impacto negativo sobre a espécie. Em contrapartida, ainda são necessários estudos complementares para compreender os impactos que as mudanças climáticas terão sobre o tambaqui. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Almeida-Val, V. M. F.; Val, A. L.; Hochachka, P.W. 1993. Hypoxia tolerance in amazon fishes: status of an under-explored biological “goldmine”. IN: Hochachka, P. W.; Lutz, P. L.; Sick, T.; Rosenthal, M.; Thillart, G. V. den. 4 (Eds.). Surviving hypoxia: mechanisms of control and adaptation. Boca Raton, CRC Press, p. 435-445. Araújo-Lima, C. A. R. M.; Goulding, M. 1988. Os frutos do tambaqui. Editora Sociedade Civil Mamirauá. Tefé, 186p. Ferreira, E. J. G.; Zuanon, J. A. S.; Santos, G. M. 1998. Peixes Comerciais do Médio Amazonas. 1ª ed. Editora IBAMA, Brasília, 211p. Goulding, M.; Carvalho, M. L. 1982. Life history and management of the tambaqui (Colossoma macropomum, Characidae): an important amazonian food fish. Revista Brasileira de Zoologia, 1: 107–133. Hochachka, P. W.; Somero, G. N. 2002. Biochemical Adaptation. Oxford University Press, New York, 466 p. Ismiño-Orbe, R. A.; Araújo-Lima, C. A. R. M.; Gomes, L. C. 2003. Excreção de amônia por tambaqui (Colossoma macropomum) de acordo com variações na temperatura da água e massa do peixe. Pesquisa Agropecuária Brasileira, 38(10): 1243-1247. Mirande, J. 2010. Phylogeny of the family Characidae (Teleostei: Characiformes): from characters to taxonomy. Neotropical Ichthyology, 8(3): 385-568. MMA (Ministério do Meio Ambiente), 2012. (www.ibama.gov.br). Acesso em: 20/10/2013. Sakuragui, M. M.; Caterina, F. E. G.; Vasquez, K. L.; Fagundes, D. B.; Nozawa, S. R.; Val, A. L.; Almeida-Val, V. M. F. 2012. Heat shock expression in Colossoma macropomum exposed to increased temperature and CO2. ADAPTA Short Note, 1: 34-36. Santos, G. M.; Ferreira, E. J. G.; Zuanon, J. A. S. 2006. Peixes comerciais de Manaus. Editora IBAMA, Manaus, 146 p. Sioli, H. 1985. Amazônia fundamentos da ecologia da maior região de florestas tropicais. Editora Vozes, 72p. 5 Souza-Netto, J. G. 2012. Respostas fisiológicas de Colossoma macropomum (Cuvier 1818) ao aumento de temperatura e CO2. Dissertação de mestrado para o Programa de Pós-Graduação em Biologia de Água Doce e Pesca Interior. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia. Manaus, Amazonas. 59p. Val, A. L.; Honczaryk, A. 1995. Criando Peixes na Amazônia. Editora INPA, Manaus, 149 p. Val, A. L; Paula-Silva, M. N.; Almeida-Val, V. M. F. 1998. Hypoxia adaptation in fish of the Amazon: a never-ending task. South African Journal of Surgery, 33(2): 107-114. 6 Capítulo I- Tolerância térmica do tambaqui (Colossoma macropomum, Cuvier, 1818) em diferentes temperaturas de aclimatação 7 INTRODUÇÃO 1.1 A Temperatura como fator limitante Os limites de tolerância encontram-se relacionados com os valores mínimo e máximo de fatores que influenciam o sucesso de um organismo ou de um grupo. Esses fatores não são obrigatoriamente físicos e há possibilidade de adaptação dos organismos, embora esta seja dificultada conforme as condições se aproximem dos extremos (Odum, 2010). Um fator letal é aquele que impõe uma condição na qual o animal morre em consequência de falhas no seu metabolismo promovidas pelo fator em questão. Já um fator limitante, implica na restrição ou privação de um recurso, impondo um custo energético adicional para sua regulação (Wootton, 1990). Estudos fisiológicos colaboram na estimativa dos efeitos que as mudanças climáticas vão ter, por determinarem quais espécies vivem perto do seu limite máximo de temperatura (Somero, 2009). Os peixes, em sua maioria, possuem sua temperatura corporal semelhante à do ambiente em que se encontram. Fato que ocorre por conta da passagem do sangue pelas lamelas, sendo resfriado pela água que envolve as brânquias (Schmidt-Nielsen, 2010). O calor específico elevado da água torna o processo de modificação da temperatura da mesma lento, permitindo que os peixes migrem para regiões com temperaturas mais favoráveis (Wootton, 1990). No entanto, no caso de permanência no ambiente alterado, os peixes podem sofrer de estresse térmico que, como todo fator estressante, desencadeia no animal respostas como aumento de catecolaminas, alterações na glicose, íons e parâmetros hematológicos, podendo inclusive influenciar no crescimento, capacidade de natação, entre outros (Barton, 2002). O efeito do clima pode influenciar negativamente os peixes, podendo inclusive prejudicar o desempenho reprodutivo (Pörtner & Peck, 2010) Os peixes possuem a capacidade de sobreviver dentro de uma faixa de temperatura limitada pelos valores incipientes de temperatura letal superior e inferior (Wootton, 1990). Consequentemente, existe uma relação direta da temperatura em relação à distribuição da espécie conforme a temperatura do ambiente (Brett, 1969). Caudill et al. (2013) ressaltam a importância de se estudaros regimes térmicos com o intuito de compreender o deslocamento dos peixes. De forma geral, é mais rápida 8 a aclimatação a temperaturas mais elevadas que a temperaturas mais baixas (Schmidt-Nielsen, 2010). No entanto, os limites superiores tendem a se tornarem críticos com uma maior facilidade que os inferiores (Odum, 2010). Portanto, muitas das espécies adaptadas a regiões tropicais são mais vulneráveis ao aumento da temperatura do que espécies adaptadas a regiões temperadas (Somero, 2005). Em experimentos que visam averiguar o limite térmico de uma espécie, o tempo de exposição influencia diretamente o resultado final (Terblanche et al., 2011). Os organismos, em geral, possuem distinção entre a faixa de tolerância ao longo do seu desenvolvimento (Wilson & Nagler, 2006). Comumente, a faixa de tolerância é mais estreita no início do desenvolvimento e durante o período reprodutivo (Moyes & Schulte, 2010; Odum, 2010). Estudos com o aumento da temperatura demonstram em Acanthochromis polyacanthus a diminuição da atividade da enzima colinesterase (Botté et al., 2013) e do seu sucesso reprodutivo (Donelson et al., 2010), assim como um aumento na bioacumulação de mercúrio em Lepomis macrochirus (Cember & Curtis, 1978). Em revisão bibliográfica Gale et al. (2013) verificaram que o aumento da temperatura representa um aumento da mortalidade de peixes em condição de captura em 70% dos artigos analisados. A temperatura também influência as larvas de peixes, podendo influenciar no crescimento como no caso de indivíduos de Amphiprion melanopus (Green & Fisher, 2004); na taxa de sobrevivência como no estudo com Amphiprion clarkii (Le et al., 2011); e inclusive na tolerância a salinidade, como demonstrado em indivíduos de Lophiosilurus alexandri (Martins et al., 2014). A variação da temperatura de acordo com a latitude colabora para a determinação da distribuição das espécies nos ambientes aquáticos marinhos e de água doce (Hochachka & Somero, 2002). A tolerância térmica dos peixes varia entre as espécies e encontra-se intimamente ligada às variações de temperatura pelas quais as espécies estão submetidas em seu habitat natural (Hochachka & Somero, 2002). As consequências provocadas por modificações na temperatura da água por meio de mudanças climáticas advindas de atividades antrópicas podem ser diferentes entre as espécies, podendo inclusive ocorrer espécies não afeadas (Elliott, 1991). Um exemplo desta condição são os resultados obtidos por Fé (2014) ao expor duas espécies de peixes ornamentais, Paracheirodon axeroldi e Paracheirodon simulans, 9 ao aumento de temperatura e CO2. Ao fim do experimento, os indivíduos de P. axeroldi apresentaram alta taxa de mortalidade enquanto os indivíduos de P. simulans não foram afetados. Desta forma, a resposta que os organismos ectotermos vão ter às mudanças que o aumento da temperatura corporal provocará no seu metabolismo será vital para o entendimento dos efeitos das mudanças climáticas (Somero, 2005). 1.2 O polígono de tolerância térmica O polígono de tolerância térmica pode ser determinado através da CTM (Critical Thermal Metodology), que permite caracterizar a tolerância térmica dos peixes. A aplicação desta técnica envolve a aclimatação de uma dada espécie a diferentes temperaturas, seguida de uma alteração linear de temperatura até um valor subletal (Beitinger et al., 2000). Uma característica favorável quanto a este método é a capacidade de estimar temperaturas letais sem necessariamente matar o animal (Ford & Beitinger, 2005). Ao determinarmos as temperaturas de aclimatação é necessário cautela, pois é preciso levar em consideração a faixa de temperatura na qual a espécie apresenta seu ciclo de vida (Hernández & Buckle, 2002). A conformação do polígono permite especulações quanto ao papel da aclimatação na tolerância térmica das espécies (Beitinger & Bennett, 2000) além de servir como ferramenta para a comparação entre espécies (Elliott, 1991). Sua área, expressa em ºC2, reflete o quão euritérmica é a espécie (Ford & Beitinger, 2005). Existem diversas variações metodológicas para a determinação de um polígono de tolerância térmica. A taxa de variação da temperatura deve ser determinada com cuidado. É necessário assegurar-se que a taxa de variação da temperatura não será lenta o suficiente para o animal se aclimatar e nem rápida o suficiente para provocar choque térmico no animal. Quanto maior a taxa de variação, maior será a diferença da temperatura final para a temperatura incipiente letal (Becker & Genoway, 1979). Comumente, é considerada a apresentação de perda de equilíbrio como fim do experimento (Bennett & Beitinger, 1997) por representar a perda da capacidade de escapar de uma condição que levará o animal à morte (Beitinger et al., 2000). 10 A finalidade em se estabelecer diferentes temperaturas de aclimatação está na variação encontrada tanto nas CTmáximas (Temperatura Crítica Máxima) quanto nas CTmínimas (Temperatura Crítica Mínima). Quanto maior a temperatura de aclimatação, maior será o valor de ambas, sendo o oposto verdadeiro (Currie et al., 1998). No entanto, os limites mínimos e máximos de temperatura da conformação geral de um polígono de tolerância térmica contem platôs. Após atingir o platô, mesmo que a temperatura de aclimatação continue sendo alterada em direção ao extremo, a temperatura máxima, ou mínima se mantém constante (Beitinger & Bennett, 2000). Experimentos realizados com fatores ambientais permitem a compreensão do papel de tais fatores nas espécies com relação ao seu desenvolvimento e ao metabolismo (Brett, 1969). O presente estudo teve por finalidade ampliar a compreensão da tolerância do tambaqui (Colossoma macropomum) à temperatura. Diante das constantes alterações climáticas registradas, o aprofundamento de estudos na área permitirá estimar as possíveis consequências para a espécie. Por ser uma espécie de alto valor comercial, o impacto não afeta apenas a biodiversidade, mas também a economia da região. 2. OBJETIVOS 2.1 Objetivo geral Avaliar a tolerância térmica do tambaqui (Colossoma macropomum) quando aclimatado a diferentes temperaturas. 2.2 Objetivos Específicos Determinar os limites inferior e superior de temperatura do tambaqui (Colossoma macropomum); Definir o polígono de tolerância térmica do tambaqui (Colossoma macropomum). 11 3. MATERIAL E MÉTODOS 3.1 Obtenção dos animais Juvenis de Colossoma macropomum com comprimento médio de 6,45 ± 0,1 cm e peso médio de 8,25 ± 0,4g foram adquiridos na Fazenda Tajá (Km 101- BR174) e transportados para o Laboratório de Ecofisiologia e Evolução Molecular (LEEM/CBio/INPA). No laboratório, os animais foram aclimatados à temperatura aproximada de 26ºC e alimentados ad libitum com ração comercial, uma vez ao dia por duas semanas. A alimentação foi suspensa 24 horas antes do início dos experimentos. 3.2 Delineamento experimental Foram montados 2 tanques para o grupo de resfriamento e 2 tanques para o grupo de aquecimento. Em cada tanque foram colocados 8 aquários de 2 L cada. As paredes dos aquários contiam furos que permitiam a entrada e saída da água proveniente do tanque. Para impedir que os indivíduos de tambaqui se machucassem nos furos, ou que eles pudessem ver uns aos outros, a parede interna de aquário estava revestida por uma tela azul. O excesso de água dos tanques era drenado por um ladrão que direcionava a água ou para o reservatório central de aquecimento ou para o reservatório central de resfriamento, dependendo de a qual grupo pertencesse o tanque. Uma bomba de água em cada reservatório central enviava a água de volta para os tanques, permitindo que o sistema tivesse circulação constante. Para resfriar a água foi utilizado um sistema de serpentina de alumínio atrelado a um motor de geladeira, controlado por umtermostato digital (TIK- 17). Para aquecer a água foi utilizado um mergulhão comercial (110v) controlado por termostato digital (TIK-17). Os animais foram transferidos para o sistema do polígono com a água em temperatura ambiente. A temperatura foi modificada 1 ºC por hora até atingir 25 ºC. Tanto os animais do grupo de resfriamento quanto os animais do grupo de aquecimento permaneceram 14 dias a 25 ºC para o período de aclimatação, durante 12 o qual ocorreu privação alimentar. Foi feita a troca parcial da água há cada 3 dias e sempre antes do experimento ser iniciado. Passado o período de aclimatação, foi dado início ao experimento. A mudança de temperatura foi realizada sempre na razão de 1ºC por hora até que 50% dos indivíduos de cada grupo apresentasse perda de equilíbrio (modificado de Hernándes & Buckle, 1998). A perda de equilíbrio foi representada pela perda da capacidade do indivíduo em manter-se no eixo vertical, mesmo com estímulo. Ao final do experimento, todos os animais foram medidos e pesados utilizando-se um ictiômetro e uma balança analítica Marte BL3200H. Esse procedimento foi repetido mais 3 vezes tendo como temperaturas de aclimatação 28 ºC, 31ºC e 34 ºC. As temperaturas de aclimatação foram determinadas conforme a faixa de temperatura na qual a espécie se encontra na natureza, conforme descrito por Araújo-Lima & Golding (1998). O manuseio e eutanásia dos animais obedecem as normas das diretrizes brasileiras para ética no uso de animais de laboratório, publicadas pelo CONCEA (Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal) (CONCEA, 2013 a; b). O experimento realizado no presente trabalho foi aprovado pelo CEUA do INPA e tem por numero de protocolo 023/2012. 3.3 Determinação do polígono de tolerância térmica As médias obtidas com os valores finais dos grupos de aquecimento e resfriamento foram utilizadas para delimitar as margens do polígono. Para cada temperatura de aclimatação foi obtida uma temperatura máxima e outra mínima. As faixas de temperatura obtidas para as 4 temperaturas de aclimatação possuíam uma região em comum que foi usada para calcular a zona de tolerância intrínseca. Já as regiões das faixas que não eram comuns as quatro, foram utilizadas para os cálculos das zonas de tolerância adquiridas superior e inferior. Sendo assim, a figura geométrica gerada foi subdividida em três áreas distintas: zona de tolerância intrínseca; zona de tolerância adquirida superior e zona de tolerância adquirida inferior (Bennet & Beitinger, 1997). 3.4 Acompanhamento de parâmetros da água 13 No decorrer do experimento foram realizadas medidas de pH, com auxílio de um pHmetro PG 1800 e de oxigênio dissolvido utilizando-se um oxímetro YSI-85. As medidas tiveram por objetivo garantir que os animais não estivessem sob hipóxia ou hiperóxia, uma vez que a alteração da temperatura influencia inversamente a solubilidade do oxigênio na água. 3.5 Análise estatística As análises dos resultados obtidos para as CTmáximas e CTmínimas foram realizadas utilizando-se a análise de variância com um fator (One way ANOVA) sendo temperaturas de aclimatação versus temperatura final, seguido do pós-teste de Dunn (Zar, 1984). O nível de significância admitido foi 95% (p < 0,05). O gráfico do polígono, assim como as análises de variância, foram obtidos utilizando-se o pacote estatístico SigmaPlot 11.0. 4. RESULTADOS Durante o experimento foram realizadas análises do pH e oxigênio de cada grupo. Embora tanto os grupos de resfriamento quanto os de aquecimento tenham sido aerados da mesma forma, foi verificado uma diferença significativa entre eles. No entanto, não foi observada diferença quanto a peso e comprimento dos indivíduos e nem quanto ao pH dos tratamento. Os valores de qualidade de água medidos durante o experimento, assim como o peso e o comprimento dos animais utilizados estão expostos na tabela 1. Os juvenis de tambaqui apresentaram uma CTmáxima de 43,48ºC ± 0,21 enquanto a CTmínima foi 12ºC ± 0 (Tabela 2). No caso das temperaturas máximas, Tabela 1. Características físico-químicas da água e dos juvenis de tambaqui (C. macropomum) durante os experimentos de tolerância térmica, divididos entre os experimentos de resfriamento e aquecimento. Os valores estão apresentados como média ± erro padrão da média. Peso (g) Comprimento (cm) pH Oxigênio (mg/L) Resfriamento 8,19 ± 0,35 6,49 ± 0,09 6,64 ± 0,27 8,42 ± 0,45* Aquecimento 8,32 ± 0,49 6,42 ± 0,1 5,71 ± 0,41 5,59 ± 0,23* (*) Indica diferença estatística significativa (p<0,05) entre os grupos de resfriamento em relação ao de aquecimento. 14 em nenhum dos grupos foi possível obter uma TL50, a mortalidade foi de 100% dos indivíduos sem que apresentassem perda de equilíbrio. Em contrapartida, nos grupos nos quais foi realizado o procedimento de resfriamento, foi possível estabelecer uma TL50. O polígono foi delimitado utilizando-se os valores máximos e mínimos obtidos em cada temperatura de aclimatação, cuja área foi expressa em ºC2. A figura geométrica formada foi dividida em zona de tolerância intrínseca com uma área de 227,52ºC2, zona de tolerância adquirida superior com uma área de 20,04ºC2 e zona de tolerância adquirida inferior com uma área de 19,15ºC2, totalizando uma área de 266,71ºC2, conforme observado na figura 1. O gráfico permite a constatação de que foi estabelecido um platô na parte superior do polígono, referente as CTMáximas. No entanto o mesmo não ocorre na parte inferior Tabela 2. CTmáximas e CTmínimas para cada temperatura de aclimatação. Os valores estão apresentados como média ± erro padrão da média. 25 ºC 28 ºC 31 ºC 34 ºC Resfriamento 13,33 ± 1,85 12 13 ± 0,28 15,22 ± 0,27 Aquecimento 40,5 ± 0,84 43,48 ± 0,21 43,2 42,5 Temperatura de aclimatação ( o C) 24 26 28 30 32 34 36 T e m p e ra tu ra ( o C ) 0 10 20 30 40 50 Resfriamento Aquecimento Área= 19,15 o C 2 Área= 227,52 o C 2 Área Total= 266,71 o C 2 Área= 20,04 o C 2 15 Figura 1. Temperaturas máxima e mínima para o tambaqui submetido em diferentes temperaturas de aclimatação. As linhas pontilhadas internas delimitam as três zonas do polígono: zona de tolerância intrínseca; zona de tolerância adquirida superior e zona de tolerância adquirida inferior. 5. DISCUSSÃO A aclimatação é um mecanismo importante para que os organismos se adaptem a mudanças no ambiente (Donelson & Munday, 2012). Experimentos que testam limites térmicos são de extrema importância para a obtenção de um melhor entendimento da fisiologia do peixe (Eme & Bennett, 2009) além da sua ecologia (Odum, 2010). O polígono térmico disponibiliza um resumo das exigências térmicas de uma espécie (Elliott, 1991). Durante a obtenção do polígono térmico de uma determinada espécie, é importante observar que a faixa de temperatura a ser testada deve estar de acordo com a variação de temperatura na qual a mesma está submetida em seu ambiente natural (Hernández & Buckle, 2002). Muitos dos experimentos com espécies de clima temperado têm as temperaturas de aclimatação variando entre a faixa de 10ºC a 40ºC. No entanto, o tambaqui vive em uma faixa que varia de 25º a 34ºC (Araújo- Lima & Goulding, 1998; Gomes et al., 2010), e esta foi a faixa utilizada para estabelecer as temperaturas de aclimatação do presente estudo. Embora, no presente estudo, tenha existido uma diferença estatística significativa na concentração de oxigênio entre os animais expostos ao aquecimento em relação aos expostos ao resfriamento, os valores permaneceram dentro do padrão de qualidade de água para peixes (Wetzel, 1993; Arana, 1997). Durante os testes com as temperaturas de aclimatação foi observado que nas temperaturas extremas (25º C e 34º C) os indivíduos não aceitavam a ração oferecida ou comiampouco. Para a alimentação não se tornar um fator que diferenciasse os tratamentos, optamos por suspender a de todos os grupos. Dessa forma todos passariam pelo mesmo tipo de estresse. A privação alimentar durante os 14 dias de aclimatação, tendo por base o estudo de Ituassu et al. (2004) sobre crescimento compensatório em tambaqui, encontra-se na margem de tolerância da espécie, apresentada no 16 estudo. Ituassu et al. (2004) comprovaram que a espécie tem a capacidade de permanecer 28 dias sob privação alimentar. O presente estudo foi realizado com uma espécie de clima tropical e que, por tanto, sofre pouca variação de temperatura ao longo do ano. Sunday et al. (2011) observou que as faixas de tolerância quanto ao aumento de temperatura são maiores para espécies de ambientes com variações climáticas mais pronunciadas. Este fato justifica a faixa de temperatura obtida para o tambaqui ser menor que a obtida para Cyprinodon variegatus por Bennett & Beitinger (1997). No entanto, Donelson & Munday (2012) verificaram que a capacidade de Acanthochromis polyacanthus de se adaptar a diferentes temperaturas de aclimatação não esta diretamente relacionada com as experiências térmicas pérvias dos indivíduos. Já em estudo com exemplares de Salmo salar L. foi verificado que a tolerância térmica variou entre as diferentes linhagens utilizadas (Anttila et al., 2013). A variação da área do polígono entre as espécies está relacionada com a aclimatização ao ambiente preferencial de cada espécie (Hernández & Buckle, 2002). No presente estudo a área do polígono obtida foi de 266,71ºC2, um valor que representa 19,32% do valor apresentado na revisão realizada por Beitinger & Bennett (2000) para C. variegatus, cuja área é de 1380ºC2, uma das maiores já documentadas e 56,98% do valor apresentado no mesmo estudo para Oncornynchus keta, cuja área é de 468ºC2, o menor valor mostrado na revisão. Já, em comparação com espécies da região amazônica, a área total do polígono do tambaqui é 18,22% maior que a de P. axelrodi e 11,61% maior que a de P. simulans (Campos et al., in prep.). Demonstrando que o tambaqui apresenta menor plasticidade térmica que peixes subtropicais e de clima temperado, mas é uma espécie mais euritérmica que as duas espécies amazônicas de peixes ornamentais e, assim, possui maior tolerância térmica que ambas. Ao observar a conformação do polígono e os valores máximos obtidos no presente estudo, é possível verificar a presença de um platô na zona de tolerância adquirida superior. O platô é um indicador de que a temperatura, no caso do presente estudo a máxima, já foi atingida e, sendo assim, a aclimatação em temperaturas superiores a 34 ºC não vão apresentar novos valores para as CTMáximas (Beitinger & Bennett, 2000). No entanto, não foi observado platô nas 17 temperaturas mínimas, indicando que talvez seja possível aclimatar a espécie em temperaturas mais baixas. A CTmáxima encontrada para o tambaqui no presente estudo se assemelha aos valores de CTmáxima encontrados para Carassius auratus por Ford & Beitinger (2005). No entanto, quando comparamos os valores mínimos encontrados para o tambaqui a 24ºC, sua menor temperatura de aclimatação, com os valores mínimos para C. auratus aclimatado a 25ºC temos uma diferença de aproximadamente 8ºC, demonstrando uma maior plasticidade térmica do C. auratus em relação ao tambaqui. Em experimento com larvas de Rhamdia quelen, a tolerância de animais aclimatados a 21oC e a 26oC foi semelhante, com temperatura máxima de 29,25oC (Chippari-Gomes et al., 2000). Currie et al. (1998) sugerem que mudanças na temperatura de aclimatação possuem maior influência na tolerância a baixas temperaturas que na tolerância a altas temperaturas. Provavelmente em função da aclimatação à diminuição da temperatura ser mais demorada que ao aumento da temperatura (Schmidt-Nielsen, 2010). Também é preciso considerar que o efeito da temperatura no crescimento e desenvolvimento de espécies tropicais nem sempre é melhor que o de espécies temperadas ou sub-tropicais (Le et al., 2011). O conhecimento acerca da sensibilidade térmica, assim como os limites térmicos são de grande valor para o entendimento das adaptações das espécies ao ambiente atual e para colaborar em previsões dos efeitos que as mudanças climáticas vão ter sobre as mesmas (Pidcock, 2010). É necessário levar em consideração que os resultados obtidos no presente estudo são para juvenis de tambaqui e, como comprovado por Wilson & Nagler (2006), a tolerância à temperatura pode alterar-se ao longo do período de vida do indivíduo. Outro ponto a ser levado em consideração é o fato de diferentes populações não necessariamente terem a mesma capacidade de aclimatação térmica (Seebacher et al., 2012). Sendo assim, animais de pisciculturas diferentes podem ter variação quanto à plasticidade térmica. O tambaqui já é uma espécie amplamente cultivada em pisciculturas, não apenas da região Norte, como também Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste (Pezzato 18 & Scorvo-Filho, 2000; Ostrensky et al., 2008). Consequentemente, estudos acerca de sua tolerância térmica podem ser de grande interesse para os piscicultores de regiões com temperaturas mais frias. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS - O tambaqui apresenta baixa plasticidade térmica quando comparado às espécies de clima temperado. - O tambaqui possui uma plasticidade térmica maior quando comparado a espécies da região. 7. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS Arana, L. V. 1997. Princípios químicos da qualidade da água em aquicultura. 1ª ed. Editora da UFSC, Florianópolis, 166p. Araújo-Lima, C. A. M.; Goulding, M. 1998. Os Frutos do Tambaqui. 1ª edição. Editora Sociedade Civil Mamirauá, Tefé, 186p. Anttila, K.; Dhillon, R. S.; Boulgind, E. G.; Farrell, A. P.; Glebe, B. D.; Elliott, J. A. K.; Wolters, W. R.; Schulte, P. M. 2013. Variation in temperature tolerance among families of Atlantic salmon (Salmo salar) is associated with hypoxia tolerance, ventricle size and myoglobin level. The Journal of Experimental Biology, 216: 1183-1190. Barton, B. A. 2002. Stress in fishes: A diversity of responses with particular reference to changes in circulating corticosteroids. Integrative and Comparative Biology, 42(3): 517-525. 19 Becker, C. D.; Genoway, R. G. 1979. Evaluation of the critical thermal maximum for determining thermal tolerance of freshwater fish. Environmental Biology of Fishes, 4(3): 245-256. Beitinger, T. L.; Bennett, W. A. 2000. Quantification of the role of acclimation temperature in temperature tolerance of fishes. Environmental Biology of Fishes, 58: 277-288. Beitinger, T. L.; Bennett, W. A.; McCauley, R. W. 2000. Temperature tolerances of North American freshwater fishes exposed to dynamic changes in temperature. Environmental Biology of Fishes, 58: 237-275. Bennett, W. A.; Beitinger, T. L. 1997. Temperature tolerance of the sheepshead minnow, Cyprinodon variegatus. American Society of Ichthyologists and Herpetologists, 1: 77-87. Botté, E. S.; Smith-Keune, C.; Jerry, D. R. 2013. Temperature: A prolonged confounding factor on cholinesterase activity in the tropical reef fish Acanthochromis polyacanthus. Aquatic Toxicology, 140-141: 337-339. Brett, J. R. 1969. Temperature and fish. Chesapeake Science, 10(3): 275-276. Caudill, C. C.; Keefer, M. L.; Clabough, T. S.; Naughton, G. P.; Burke, B. J.; Peery, C. A. 2013. Indirect effects of impoundment on migrating fish: Temperature gradients in fish ladders slow dam passage by adult Chinook salmon and steelhead. Plos One, 8(12): 1-13. Cember, H.; Curtis, E. H. 1978. Mercury bioconcentration in fish: Temperature and concentration effects. Environmental Pollution, 17: 311-319. Chippari-Gomes, A. R.; Gomes, L. C.; Baldisserotto, B. 2000. Lethal temperatures for Rhamdia quelen larvae (Pimelodidae). Ciência Rural, 30(6):1069-1071. Currie, R. J.; Bennett, W. A.; Beitinger, T. L. 1998. Critical thermal minima and maxima of three freshwater game-fish species acclimated to constant temperatures. Environmental Biology of Fishes, 51: 187-200. Donelson, J. M.; Munday, P. L.; McCormick, M. I.; Pankhurst, N. W.; Pankhurst, P. M. 2010. Effects of elevated water temperature and food availability on the 20 reproductive performance of a coral reef fish. Marine Ecology Progress Series, 401: 233-243. Donelson, J. M.; Munday, P. L. 2012. Thermal sensitivity does not determine acclimation capacity for a tropical reef fish. Journal of Animal Ecology, 81(5): 1126-1131. Elliott, J. M. 1991. Tolerance and resistance to thermal stress in juvenile Atlantic salmon, Salmo salar. Freshwater Biology, 25: 61:70. Eme, J.; Bennett, W. A. 2009. Critical thermal tolerance polygons of tropical marine fishes from Sulawesi, Indonesia. Journal of Thermal Biology, 34(5): 220-225. Fé, L. M. L. 2014. Expressão gênica e atividade enzimática da L-Lactato Desidrogenase (LDH) de Paracheirodon axeroldi (Shultz 1956) e Paracheirodon simulans (Géry 1963) expostos aos cenários climáticos previstos pelo IPCC para o ano de 2100. Dissertação de mestrado para o Programa de Pós-Graduação em Genética, Conservação e Biologia Evolutiva. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia. Manaus, Amazônas. 74p. Ford, T; Beitinger, T. L. 2005. Temperature tolerance in the goldfish, Carassius auratus. Journal of Thermal Biology, 30: 147-152. Gale, M. K.; Hinch, S. G.; Donaldson, M. R. 2013. The role of temperature in the capture and release of fish. Fish and Fisheries, 14: 1-33. Gomes, L. C.; Simões, L. N.; Araújo-Lima, C. A. R. M. 2010. Tambaqui (Colossoma macropomum). IN: Baldisserotto, B.; Gomes, L.C. (Eds.). Espécies nativas para piscicultura no Brasil. 2ª. Ed. Editora UFSM, Santa Maria, p.175-204. Green, B. S.; Fisher, R. 2004. Temperature influences swimming speed, growth and larval duration in coral reef fish larvae. Journal of Exoerimental Marine Biology and Ecology, 299: 115-132. Hernández, R. M.; Buckle, R. L. F. 1998. Critical thermal maximum and minimum of Poecilia sphenops acclimated to different temperatures. Rivista Italiana di Acquacoltura, 33: 61–71. 21 Hernández, R. M.; Buckle, R. L. F. 2002. Temperature tolerance polygon of Poecilia sphenops valenciennes (Pisces: Poeciliidae). Journal of Thermal Biology, 27: 1-5. Hochachka, P. W.; Somero, G. N. 2002. Biochemical Adaptation. Oxford University Press, New York, 466 p. Houde, E. D. 1989. Comparative growth, mortality, and energetic of marine fish larvae: Temperature and implied latitudinal effects. Fishery Bulletin, 87(3): 471-495. Ituassu, D. R.; Santos, G. R. S.; Roubach, R.; Pereira-Filho, M. 2004. Desenvolvimento de tambaqui submetido a períodos de privação alimentar. Pesquisa Agropecuária Brasileira, 39(12): 1199-1203. Le, Y.; Sheng-Yun, Y; Xiao-Ming, Z.; Min, L.; Jing-Yi, L.; Kai-Chang, W. 2011. Effects of temperature on survival, development, growth and feeding of larvae of Yellowtail clownfish Amphiprion Clarkii (Pisces: Perciformes). Acta Ecologica Sinica, 31: 241-245. Martins, Y. S.; Melo, R. M. C.; Campos-Junior, P. H. A.; Santos, J. C. E.; Luz, R. K.; Rizzo, E.; Bazzoli, N. 2014. Salinity and temperature variations reflecting on cellular PCNA, IGF-I and II expressions, body growth and muscel cellularity of freshwater fish larvae. General and Comparative Endocrinology, 202: 50-58. Moyes, C. P.; Schulte, P. M. 2010. Princípios de Fisiologia Animal. 2ª ed. Editora Artmed, 792p. Odum, E. P. 2010. Ecologia. 23ª ed. Editora Guanabara, Rio de Janeiro, 434p. Ostrensky, A.; Borguetti, J. R.; Soto, D. 2008. Aquicultura no Brasil: O desafio é crescer. 1ª ed. Editora Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, Brasília, 276p. Pezzato, L. E.; Scorvo-Filho, J. D. 2000. Situação atual da aquicultura na região sudeste. IN: Valenti, W. C.; Poli, C. R.; Pereira, J. A.; Borghetti, J. R. (Eds.) Aquicultura no Brasil: bases para um desenvolvimento sustentável. Brasíli,: CNPq/Ministério da Ciência e Tecnologia, p.303-322. 22 Pidcock, R. 2010. The role of adaptive physiology in a changing climate. Society for Experimental Biology Bulletim, 1:34-35. Pörtner, H. O.; Peck, M. A. 2010. Climate change effects on fishes and fisheries: towards a cause-and-effect understanding. Journal of Fish Biology, 77: 1745- 1779. Schmidt-Nielsen, K. 2010. Fisiologia animal. 5ª ed. Editora Santos, São Paulo, 611 p. Seebacher, F.; Holmes, S.; Roosen, N. J.; Nouvian, M.; Wilson, R. S.; Ward, A. J. W. 2012. Capacity for thermal acclimation differs between population and phylogenetic lineages within a species. Functional Ecology, 26: 1418-1428. Somero, G. N. 2005. Linking biogeography to physiology: Evolutionary and acclimatory adjustments of thermal limits. Frontiers in Zoology, 2:1. Somero, G. N. 2009. The physiology of climate change: how potentials for acclimatization and genetic adaptation will determine ‘winners’ and ‘losers’. The Journal of Experimental Biology, 213: 912-920. Sunday, J. M.; Bates, A. E.; Dulvy, N. K. 2011. Global analysis of thermal tolerance and latitude in ectotherms. Proceedings of the Royal Society B, 278: 1823- 1830. Terblanche, J. S.; Hoffmann, A. A.; Mitchell, K. A.; Rako, L.; Roux, P. C.; Chown, S. L. 2011. Ecological relevant measures of tolerance to potentially lethal temperatures. The Journal of Experimental Biology, 214: 3713-3725. Wetzel, R. G. 1993. Liminologia. 2ª ed. Editora Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 111p. Wilson, S. M.; Nagler, J. J. 2006. Age, but not salinity, affects the upper lethal temperatura limits for juvenile walleye (Sander vitreus). Aquaculture, 257: 187- 193. Wootton, R. J. 1990. Ecology of Teleost Fishes. 1ª ed. Editora Chapman and Hall, London, 404p. Zar, J.K. 1984. Biostatistical analysis. 2ª ed. Pretice-Hall, New Jersey, 718p. 23 Capítulo II- Efeito de diferentes cenários climáticos sobre a LDH do tambaqui (Colossoma macropomum, Cuvier 1818) 24 INTRODUÇÃO 1.1 Efeito da temperatura e CO2 sobre os peixes As mudanças climáticas podem provocar diversas alterações no bioma, bem como a relação entre as espécies e a estabilidade de uma comunidade (Parmesan & Yohe, 2003). A gravidade das consequências geradas pelas mudanças climáticas nas relações entre espécies irá depender de diversos fatores, tais como o nível de especialização das espécies envolvidas, do efeito direto das mudanças climáticas nas espécies e do potencial para a composição de novas comunidades, entre outros (Gilman et al., 2010). Essas alterações ocorrem devido à inserção de agentes físicos estressores no ambiente como a elevação da temperatura e da concentração de CO2 dissolvido para níveis inadequados (Val et al., 2004). O alto calor específico da água garante que a mesma tenha variações graduais ao longo do dia, promovendo uma estabilidade térmica maior que a do ar para o ecossistema aquático (Esteves, 1998). No entanto, por serem ectotermos, os peixes tem sua temperatura corpórea, salvo exceções, acompanhando a temperatura da água, de modo que qualquer mudança gradual na água pode provocar mudanças na temperatura do animal (Helfman et al., 2009). Isso significa que as taxas dos processos biológicos realizados por eles são influenciadas por uma faixa normal de temperatura, onde situações de temperaturas extremas podem levar a distúrbios graves ou letais (Crawford, 2002). As respostas apresentadas pelos organismos, em função dos agentes estressores, podem ser consideradas de baixa ou alta relevância ecológica. Determinados fatores estressores podem ser característicos de um habitat, impondo a necessidade de adaptações nas espécies (Val et al., 2004; Araújo-Lima & Gomes,2005). Alguns ajustes garantem, em curto prazo, a sobrevivência do animal ao fator estressante; no entanto, se o estresse for de longo prazo, as medidas 25 compensatórias tornam-se disfuncionais, influenciando negativamente o indivíduo, a espécie e sua comunidade (Val et al., 2006). Com o aumento da temperatura da água, mudanças fisiológicas ocorrem devido a alterações no metabolismo dos animais por promover modificações nas taxas de atividade enzimática (Schmidt-Nielsen, 2010). Os peixes, assim como outros organismos, tem uma tolerância térmica que varia de acordo com o habitat em que vive. A faixa de tolerância térmica de uma determinada espécie pode se alterar em determinadas fases da vida do indivíduo, tornando-se mais estreita (Odum, 2010). Assim como a temperatura, o CO2 possui grande influência sobre os organismos aquáticos (Ishimatsu et al., 2004). A dissolução do CO2 na água salgada, além de aumentar a concentração de H+ no oceano, promovendo sua acidificação, também altera o equilíbrio de carbonato (Ishinatsu & Dissanayake, 2010). Em águas continentais ocorre o mesmo processo, no qual o pH dos corpos de água varia conforme a concentração de CO2 e carbonato (Fivelstad et al., 1999). Estudos em ambientes marinhos demonstraram que muitas espécies não são afetadas por altos níveis de CO2, no entanto são prejudicadas ao incluir o aumento da temperatura (Pörtner et al., 2004). Quando ao aumento de temperatura, questionava-se se as espécies tropicais de peixes teriam a capacidade de sobreviver ao aquecimento das águas, pois vivem em regiões mais estáveis termicamente que as espécies em regiões temperadas. No entanto, Donelson et al. (2011) comprovaram a capacidade de aclimatação que as espécies tropicais marinhas tem, mediante o aumento de temperatura. Segundo Baldisserotto (2009), o aumento da temperatura da água pode estimular o crescimento de peixes de água doce mas, após atingir um determinado limite, a temperatura elevada poderá levar os animais à morte. Outra constante ecológica que pode ser afetada em função do aumento da temperatura é a interação predador- presa, levando a uma alteração nos padrões de alimentação e reprodução das espécies (Lampert & Sommer, 2007). 26 As especulações quanto ao efeito e impacto das mudanças climáticas sobre as espécies são possíveis conforme são realizados experimentos baseados na fisiologia e ecologia de cada uma (Kodas et al., 2011) 1.2 Lactato Desidrogenase (LDH) As enzimas são moléculas proteicas cuja função é promover a redução da energia de ativação de reações de transformação de um substrato em produto (Nelson & Cox, 2008). Com isso, o aumento da temperatura corporal pode levar a um deslocamento do equilíbrio de reações enzimáticas, gerando um distúrbio na estabilidade da membrana plasmática e influenciando o funcionamento dos órgãos (Hochachka & Somero, 2002). A quebra da molécula de glicose tem como resultado a produção de ATP. Ao todo existem três vias possíveis para o final da glicólise, a via aeróbica (via do ácido cítrico), e duas vias anaeróbicas (via da fermentação do ácido lático com ação da enzima lactato desidrogenase (LDH) e da fermentação alcoólica com a ação da enzima álcool desidrogenase) (Nelson & Cox, 2008). Em todas as vias o piruvato é o substrato chave do metabolismo (Zakhartsev et al., 2004). A LDH é um tetrâmero formado por duas cadeias polipeptídicas distintas, codificadas por dois genes na maioria dos vertebrados (Nelson & Cox, 2008). Esta enzima apresenta cinco isoformas distintas (isoenzimas) (LDH-1; LDH-2; LDH-3; LDH-4 e LDH-5) distribuídas no miocárdio, eritrócitos, cérebro, músculo esquelético, fígado e outros órgãos e tecidos, regulando suas atividades conforme o tecido onde se encontram (Motta, 2011). Em sua maioria, as espécies de peixes dispõem de duas ou mais isoenzimas de LDH, onde a combinação dos genes A e B permitem a formação de A4, A3B1, A2B2, A1B3 e B4 (Markert & Faulhaber, 1965), sendo a isoforma A4 predominante em tecidos anaeróbicos como músculo esquelético branco e a B4 predominante em tecidos aeróbicos como o coração e fígado (Somero, 1973). Essa variação de isoformas em cada tecido é uma mudança adaptativa às restrições fisiológicas e ambientais. Espécies de peixes que comumente tem acesso a ambientes em hipóxia e, portanto, dependem frequentemente do sistema anaeróbico, apresentam, muitas vezes, mudanças na predominância de uma das isoformas da LDH em seus tecidos (Almeida-Val et al., 1993). 27 Já foram vastamente explorados os efeitos que variações do ambiente podem ter tanto na expressão das isoformas da LDH, quanto sua atividade e parâmetros cinéticos. Muitos dos estudos que avaliam os efeitos de mudanças ambientais tem como foco o efeito da temperatura sobre a atividade da LDH (Moyes & Schulte, 2010). A atividade catalítica de uma enzima normalmente é interrompida quando esta é desnaturada (Nelson & Cox, 2008; Angilletta-Junior, 2011) e já foi comprovado que o calor tem a capacidade de inativar diferencialmente as isoenzimas da LDH (Ferreira et al., 1991), uma vez que as proteínas possuem uma faixa de tolerância térmica dentro da qual sua estrutura se mantém íntegra (Argos et al., 1979). Um ponto chave deste estudo é o entendimento do mecanismo de reação da catálise das enzimas, conhecido por cinética enzimática, onde podemos utilizar a constante de Michaelis-Menten (Km). A equação de Michaelis-Menten permite calcular os limites máximos das reações catalisadas enzimaticamente (Vmax), bem como a concentração na qual a enzima apresenta metade da velocidade máxima (Nelson & Cox, 2008). Esta constante, denominada Km, identifica a relação da enzima com seu substrato. Quanto maior o Km, menor a afinidade da enzima pelo substrato e vice-versa (Moyes & Schulte, 2010). O Km mínimo da LDH tende a ocorrer na temperatura ambiente em que a espécie está aclimatizada (Hochachka & Somero, 1968). 1.3 Efeito da temperatura e CO2 sobre o sangue dos peixes Os organismos aquáticos encontram dificuldades em realizar a regulação ácido-base do sangue devido à alta quantidade de partículas em suspensão presentes na água. A regulação iônica realizada nas brânquias é diretamente influenciada pelas características iônicas da água, e mudanças na composição da mesma podem provocar o desbalanceamento da regulação osmótica e de ácido- base, podendo, inclusive, interferir nas trocas gasosas (Heisler, 1993). Outros fatores que podem influenciar na regulação ácido-base são alterações na temperatura, oxigênio e na concentração de CO2 da água (Evans et al., 2005). A atividade muscular e a hipóxia extremas contribuem para alterar o controle ácido- 28 base do sangue dos peixes, devido à produção de ácido lático pelo metabolismo anaeróbico em função da liberação de íons H+ (Harper & Glass, 1965). A hipóxia ambiental ocorre com frequência em alguns ambientes amazônicos (Val et al., 1998) e é um dos fatores mais comuns responsáveis pela anóxia nos tecidos (Harper & Glass, 1965). O aumento do CO2 no sangue pode levar à acidose sanguínea devido ao acúmulo de H+ liberado na conversão de HCO3 - (íons bicarbonato) em CO2 (Perry & McDonald, 1993). O pH sanguíneo é inversamente proporcional ao CO2 sanguíneo, enquanto o fluxo sanguíneo é proporcional à concentração de pCO2 (Harper & Glass, 1965). Sendo assim, em eventos de hipercapnia o pH torna-se ácido rapidamente, mas recupera-se com o aumento da concentração de bicarbonato (Heisler, 1993). Outro fator importante é a influência que o pH e o CO2 exercem sobre a afinidade do O2 pela hemoglobina denominado efeito Root (Jensen, 2004; Schmidt-Nielsen, 2010). Com relação às mudanças térmicas variações na temperatura corpórea podem interferir nas funções fisiológicas (Somero, 2010). Uma das consequências do aumento da temperatura da água é o aumentono débito cardíaco (Farrell, 1993). Temperaturas elevadas enfraquecem as ligações do oxigênio com a hemoglobina, consequentemente o oxigênio é liberado mais facilmente (Schmidt-Nielsen, 2010). Por outro lado, o aumento da temperatura na água diminui a dissolução de oxigênio, tornando-o menos disponível aos peixes. Dados hematológicos costumam proporcionar diversas informações relevantes sobre o indivíduo estudado, como exemplo podemos afirmar que alterações na concentração de hemoglobina podem ser indicadoras de estresse ambiental (Cazenave et al., 2005) e baixos valores de hematócrito podem indicar uma dificuldade na excreção de CO2 (Perry& McDonald, 1993). Considerando o exposto, o presente trabalho visa o estudo do efeito dos diferentes cenários climáticos preconizados pelo IPCC para 2100, sobre o metabolismo do tambaqui (Colossoma macropomum). 29 2. OBJETIVOS 2.1 Objetivo Geral Avaliar a influência dos cenários climáticos sobre os parâmetros metabólicos, fisiológicos e enzimáticos do tambaqui. 2.2 Objetivos Específicos Avaliar a influência de tais cenários sobre parâmetros fisiológicos do tambaqui, em particular, glicose sanguínea e hematócrito; Avaliar a influência de tais cenários sobre os parâmetros cinéticos da enzima LDH do tambaqui. 3. MATERIAL E MÉTODOS 3.1 Obtenção dos animais e aclimatação Os exemplares de tambaqui foram obtidos na Fazenda Tajá (Km 101- BR174) e transportados ao Laboratório de Ecofisiologia e Evolução Molecular (LEEM) no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), onde foram aclimatados em tanque de 2000 L de água do poço artesiano do INPA com circulação e aeração constante, mantendo alimentação diária ad libitum por duas semanas. 3.2 Delineamento Experimental 3.2.1 Cenários climáticos em microcosmos Os microcosmos são ambientes criados para a simulação de cenários climáticos descritos no Quarto Relatório do IPCC (2007). Sua estrutura constitui-se em quatro salas climatizadas cujas temperaturas, umidades relativas do ar, luminosidades e concentrações de dióxido de carbono são controladas 24 horas por 30 dia. A sala 1 é considerada o cenário controle, onde as variáveis seguem, em tempo real, as condições encontradas na parte externa do laboratório, sendo elas temperatura, umidade do ar e concentração de dióxido de carbono (CO2). A sala 2 é o ambiente que reflete o cenário brando (B1) com um aumento de 1,5 °C na temperatura do ar e um aumento de 200 ppm de CO2; a sala 3 reflete o cenário intermediário (A1B) com um aumento de 2,5 °C na temperatura do ar e um aumento de 400 ppm de CO2; a sala 4 reflete o cenário extremo (A2) com um aumento de 4,5 °C na temperatura do ar e um aumento de 850 ppm de CO2. As salas 2, 3 e 4 tem seus parâmetros variando sempre com relação à sala 1. As quatro salas apresentam, em tempo real, a umidade relativa do ar encontrada na parte externa do laboratório. As salas possuem um timer que controla automaticamente as luzes, estabelecendo um regime de 12 horas com luz e 12 horas sem luz, conforme as características ambientais da região onde estão localizados os microcosmos. As salas possuem um sistema interno que capta os valores reais dos três parâmetros controlados a cada 2 minutos e os armazena em um computador exclusivo para esta finalidade. 3.2.2 Exposição aos cenários climáticos em microcosmos Os peixes foram colocados em tanques de plástico com capacidade para 80 L. Dentro do tanque foi colocada uma estrutura feita com cano de PVC de 2,5 polegadas com furos ao longo da base e três torres, dentro das quais foram colocadas mangueiras de aeração. Cada um dos quatro grupos amostrais foram divididos em seis tanques com capacidade para 80 L e os tanques foram numerados de 1 a 6. Em cada caixa foram colocados 19 juvenis de tambaqui. Foram montadas 6 baterias de 4 tanques de 80 L cada, com um intervalo de 3 dias entre as baterias. Todas foram montadas no mesmo horário e sob as mesmas condições. Após montar uma bateria, esta permaneceu por 5 dias no galpão de experimentos do LEEM, sendo transferidos em seguida para os cenários climáticos onde os 4 tanques da bateria foram distribuídos entre os 4 cenários. Ao final da montagem das 6 baterias, cada cenário passou a conter 6 tanques, cada um pertencendo a uma bateria diferente. (Figura 1.) 31 As coletas foram realizadas por bateria, retirando de cada tanque 2 peixes por coleta, totalizando 8 peixes por coleta. Foram retirados peixes nos tempos zero, 5, 15 e 30 dias, sendo que o tempo zero foi coletado 48 horas após a entrada dos peixes nos cenários. Durante o experimento os animais foram alimentados com ração comercial com 45% de proteína bruta uma vez ao dia, pela manhã, inclusive nos dias de coleta. Foi realizada a troca parcial da água dos tanques a cada dois dias. Quando a troca coincidiu com dias de coleta, a mesma foi realizada após a coleta dos animais. 3.3 Acompanhamento da qualidade da água Foi realizado o acompanhamento das características físico-químicas da água ao longo de toda a fase experimental. Para a determinação dos níveis de CO2 foi utilizado ensaio colorimétrico por meio de titulação em seringa (Boyd & Tucker, 1992) no qual foi avaliada a reação do carbonato de sódio (Na2CO3) tendo como indicador a fenolftaleína. O pH da água foi medido com pHmetro PG 1800 e oxigênio e temperatura utilizando oxímetro YSI-85. 3.4 Obtenção das amostras Cada animal foi medido e pesado conforme procedimento padrão do laboratório. Em seguida, foi realizada a coleta do sangue, para então ser realizada a secção medular para amostragem dos outros tecidos. As amostras de sangue total foram coletadas por meio de punção da veia caudal com seringas previamente heparinizadas. O sangue coletado foi colocado em microtubos estéries de 1,5 mL Figura 1. Representação das condições de cada cenário simulado pelos microcosmos. 32 mantidos no gelo enquanto eram retiradas as alíquotas para as análises hematológicas. Foram retirados coração e músculo branco para a realização das análises enzimáticas. Os tecidos foram prontamente congelados em nitrogênio líquido e armazenados em frezzer -80ºC até a realização das análises. O manuseio e eutanásia dos animais obedecem as normas das diretrizes brasileiras para ética no uso de animais de laboratório, publicadas pelo CONCEA (Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal) (CONCEA, 2013 a; b). O experimento realizado no presente trabalho foi aprovado pelo CEUA do INPA e tem por numero de protocolo 023/2012. 3.5 Análise dos Parâmetros sanguíneos Com o sangue total coletado foram realizadas, conforme protocolos já utilizados no laboratório, as seguintes análises: a) Glicose, por meio do dosador comercial portátil Accu-check Advantage Blood Glucose meter (Roche Diagnostics GmbH, D-68305, Mannheim, Alemanha) utilizando sangue total. O resultado é apresentado em mg/dl. b) Hematócrito (Ht), que foi determinado utilizando a técnica de microhematócrito, usando tubos capilares com sangue total em uma centrífuga FANEM 211N, Brasil, a 12000 rpm por 10 minutos. A leitura da taxa de sedimentação dos eritrócitos foi realizada em cartão padronizado. O resultado é apresentado em porcentagem. 3.6 Atividade e Cinética da LDH A cinética da LDH foi realizada com os tecidos muscular e cardíaco. Para estas análises foi utilizado o tampão de homogeneização contendo 150 mM de imidazol; 1 mM de EDTA e 1% de triton X-100, pH 7,4. Foram utilizados 0,003 g de músculo branco e 0,0015 g de coração. Os tecidos foram homogeneizados manualmente com pistilo em microtubo imerso em gelo fundente e centrifugados durante 15 minutos a 15.300 g em uma centrifuga Eppendorf 5430R a 4 ºC para retirar o material particulado. A diluição para a preparação do homogeneizado foi 33 previamente testada
Compartilhar