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Antropologia parte 2. Marlencia Manhique-1

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10
Marlência Ester Oriel Manhique
Relação cosmogónica entre alguns alimentos da província de Inhambane com a população local: A relação entre os vivos e os mortos a partir de alimentos
Licenciatura em Física  
Universidade Save
Massinga
2021
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Universidade Save 
Massinga
2020
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Marlência Ester Oriel Manhique
Relação cosmogónica entre alguns alimentos da província de Inhambane com a população local: A relação entre os vivos e os mortos a partir de alimentos
Docente: PhD. Carlitos Sitoe
 
Universidade Save
Massinga
2021
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Universidade Save
Massinga
2020
 
 
 
 
Trabalho de Antropologia Cultural, a ser apresentado ao departamento de ciências naturais e exactas, para efeitos de avaliação. 
Índice
	1
1.0.Introdução	4
1.1.Objectivos	4
1.1.1.Objectivo geral	4
1.1.2.Objectivos específicos	4
1.2.Justificativa	5
1.3.Metodologias	5
2.0.Contextualização	6
2.1.Morte nas tradições Africanas (em particular a Moçambicana)	7
2.2.Agricultura em Inhambane	8
3.0.Tradição Moçambicana. O culto dos antepassados	9
4.0.Relação cosmogónica entre alguns alimentos da província de Inhambane com a população local.	11
4.1.O milho como elo de ligação entre os dois mundos	11
4.2.O cajueiro como o elemento União do mundo dos vivos e o mundo dos mortos.	12
4.3.O amendoim como mediador da relação entre os mortos e os vivos	13
4.4.A mandioca e a batata-doce como mediadores da relação entre o mundo dos mortos e o mundo dos vivos	14
4.5.O feijão como elo de ligação entre o mundo dos mortos e o mundo dos vivos	15
5.0.Considerações finais	16
5.1.Conclusão	16
6.0.Referências bibliográficas	17
1.0.Introdução 
A antropologia nos ensina a nos descentrarmos de nós mesmos assim como de nossa própria sociedade e cultura, esta dinâmica nos abre as portas para novos universos, novas possibilidades e alternativas de aprendermos com os outros e de nos vermos através dos outros, conhecendo-nos mais profundamente.
A antropologia, para além das inumeráveis tentativas de objectivação de uma definição, deve ser entendida como um esforço de quem a pratica de olhar para o mundo e procurar interpretá-lo e compreendê-lo através dos olhos dos outros e deste modo enquadrar esses múltiplos olhares no plano mais geral dos comportamentos e das escolhas humanas, mas sempre conferindo a tudo isto uma especificidade, uma forma e um sentido actuais, sempre complexo, mutável e contextual.
Partindo de uma abordagem antropológica e tendo como pano de fundo os acontecimentos relatados, procuro desenvolver um estudo em prol da relação cosmológica entre alguns alimentos da província de Inhambane com a população local, isto é, irei buscar estabelecer a relação existente entre os vivos e os mortos a partir de alimentos, são eles: o milho, a mandioca, a batata-doce, o amendoim, o feijão anexando também o cajueiro.
1.1.Objectivos 
1.1.1.Objectivo geral 
⇒ Estudar como a relação entre o mundo dos antepassados e o mundo dos vivos pode se estabelecer a partir de certos alimentos (mandioca, milho, feijão, amendoim, batata doce, cajueiro) com vista a valorizar o património cultural dos Moçambicanos
1.1.2.Objectivos específicos 
⇒Fazer o estudo e compressão da religião e da tradicionalidade Moçambicana
⇒ Colocar por escrito, a memória das fontes orais no que diz respeito as originalidades da cultura do meu clã.
1.2.Justificativa 
O interesse em fazer esta pesquisa em forma de trabalho científico justifica se pela vivência e praticas da cultura e/ou tradições Moçambicanas e na necessidade de contribuir para o resgate dos valores culturais, das crenças e das nossas origens de certa forma.
A vivência e a convivência com uma parte dos Moçambicanos (Machanganas) permite aferir que de facto existe um défice cultural e a própria identidade cultural pela maioria dos Moçambicanos dando especial atenção para a geração actual a camada jovem do nosso país s os ditos “ Brancos em pele de preto”.
Para PACHECO (1990:80) o lema um povo uno e indivisível só será aceitável e tolerável quando as politicas publicas Curriculares respeitarem as diversidades culturais com o reconhecimento das diferenças entre os indivíduos e etnias culturais.
Desta forma é importante frisar que existem vivencias ou saberes culturais presentes no dia-a-dia da sociedade, são eles: as crenças, os valores culturais, a morte, as tradições, a herança … etc.
1.3.Metodologias 
Para a compilação final deste trabalho de pesquisa adoptei uma metodologia de carácter qualitativo, porque como diz (CHIZZOTTI, 1991:9) essa modalidade de pesquisa abriga tendências diversas e pressupostos com raízes filosóficas distintas, para além de enfatizar a descrição, a indução, o estudo das percepções pessoais facilitando desta forma o mergulho na complexidade dos acontecimentos reais esta metodologia também é rica em pormenores descritivos relativamente locais.
Em termos práticos o uso desta metodologia combinei a técnica de pesquisa bibliográfica com a técnica da entrevista, onde foram necessárias buscas de materiais de leitura sobre elementos da cultura social, tradições e crenças de Moçambique, por outro lado também realizei trabalhos campo com o pressuposto de encontrar várias fontes orais com a mesma sede de resgatar os valores culturais de Moçambique apesar de serem limitados e outros feitos de uma forma não participante. No desenvolvimento privilegiou se o discurso das pessoas envolvidas no trabalho de campo dado que, pretende se conhecer os elementos sociais e culturais em essencial a tradição do povo Moçambicano no que concerne ao mundo dos mortos e o dos vivos. 
2.0.Contextualização 
Falar de relação cosmogónica é de certa forma falar da relação que existe entre os mortos e os vivos a partir de alimentos, isto é, falar dos ancestrais e seu papel vital na comunidade. Deste modo o objectivo primata deste estudo etnográfico é juntar o mundo dos mortos e o dos vivos através de uma conjuntura de alimentos produzidos na província de Inhambane.
A relevância do objecto de pesquisa está assente em duas vertentes: objectiva e subjectiva. No contexto subjectivo sendo eu a pesquisadora que faz parte do mundo tradicional e cultural dos Moçambicanos concretamente os Machanganas, sinto a urgência de colocar por escrito a memoria, a cultura oral, as crenças do meu povo e suas interpretações para que esses saberes não perecem, que cheguem até as gerações vindouras. Na vertente objectiva procura apresentar um olhar antropológico no que concerne ao culto dos antepassados fazendo menção de certos alimentos como elo de ligação para com os vivos.
A fragilidade da moral, da consciência identitária, o desequilíbrio cultural e o esquecimento das crenças da parte dos Moçambicanos é um resultado da colonização portuguesa que embutiu na cabeça dos Moçambicanos que eles são aculturados, ou seja eles estão isentos de cultura trazendo desta forma para Moçambique a questão de Eurocentrismo (isto é, a cultura europeia é superior em relação às outras), perdendo assim os seus valores ou seja esquecendo se das originalidades de sua cultura, porem um estudo antropológico em prol da cultura, tradições e crenças é contribuir para o fortalecimento da cultura nacional guiando se sempre pela questão de alteridade cultural.
Na cultura Moçambicana reside a questão de diversidade cultural, isto é ela é rica em conteúdos de formação social e culturais inerentes na formação de um homem com uma visão ampla das suas origens.
Inhambane historicamente conhecida como terra da boa gente faz parte das 11 províncias de Moçambique localizando se especificamente na parte sul e oriental do país. Esta província é rica em várias culturas são elas: o amendoim, o milho, a mandioca, a batata-doce, entre outros, pretende-se desta forma relacionar alguns alimentos desta província com a população local tendo os alimentos da província de Inhambane como o elo de ligação entre o mundodos mortos e o mundo dos vivos.
2.1.Morte nas tradições Africanas (em particular a Moçambicana)
Segundo ALTUNA (2014)
A morte é definida como separação (roptura de equilíbrio) dos elementos constitutivos enquanto outros são promovidos a um novo destino […]. Apresenta se como a destruição do todo (a pessoa) da sua unidade e harmonia mas nunca é a destruição de tudo (a pessoa).
Desta feita ALTUNA quer nos dizer que com a morte uma parte de nós deixa de existir para sempre, a morte finaliza a realidade humana e a sua plenitude o homem fica em espírito.
Para KAGAME (1976) a morte é o fim do existir como vivente, o morto passa a ser um existente não vivente.
O antepassado é um ser existente e vivente pois segundo os interlocutores apesar de morto fisicamente ele não deixa de viver continua a viver num mundo invisível se materializando simbolicamente por meio de práticas quotidianas, nas acções diárias dos indivíduos e nas suas relações uns com os outros, bem como nas suas visões do mundo, ou seja, nas formas como estes concebem e interpretam os contextos nos quais vivem.
Os antepassados ou mortos aparecem para os vivos e falam, interagem com eles, tal como revela o adágio popular: “o africano nunca descansa, mesmo após a morte continua trabalhando como antepassado” (adágio popular africano, recolhido durante o trabalho de
Campo).
Neste sentido, o antepassado tem vida sim, se entendermos a vida não somente do ponto de vista biológico, enquanto existência física, mas também, vida do ponto de vista social, enquanto uma construção sociocultural, vida enquanto o ato de existir, seja espiritualmente ou fisicamente, interagindo e exercendo influência sobre os indivíduos e na sua vida quotidiana.
No pensamento ou filosofia bantu, a morte, apesar de destruição e desordem, aparece como um momento necessário da vida, que brota no nascimento e culmina no estado de antepassado.
Os antepassados vivem também aqui e o agora (o presente), pois, nas tradições religiosas africanas, embora exista a ideia de uma vida após a morte física, esta crença, porém, não leva aos africanos a cultivarem a esperança de um futuro glorioso para além da vida que levam aqui na terra, ou seja, “não existe paraíso no qual teremos uma vida plena e nem um inferno onde teremos uma ‘vida horrível depois da morte’”. Daí urge a necessidade de os antepassados se manterem não só no mundo dos mortos, mas também, e, sobretudo no mundo dos vivos.
Altuna, referindo-se ao mundo dos mortos, dos antepassados, como “invisível” argumenta que “o mundo invisível está povoado de espíritos, génios e antepassados com diferentes modalidades”. Isto é, nas tradições Moçambicanas a pessoa quando morre esta sujeita a duas promoções ou é promovido a anjo ou a demónio.
2.2.Agricultura em Inhambane 
Como na generalidade dos países Africanos, a economia de Moçambique apresenta uma dualidade de estruturas caracterizado pela existência de um sector em que a produção é predominantemente de subsistência, porem toda produção transita do mercado.
A agricultura tem sido a fonte de subsistência na província de Inhambane com enfoque na agricultura familiar de subsistências que produzem: cereais, tubérculos e árvores de frutos. A agricultura é proporcionalmente dependente das condições climáticas que ocorrem durante o período agrícola.
3.0.Tradição Moçambicana. O culto dos antepassados 
Crença: é a convicção de que algo é verdadeiro e certo. Ao ter uma crença sobre algo acredita - se que há uma certeza sobre ela, porem não significa que esta certeza corresponde a verdade pois certeza e verdade são duas realidades diferentes.
Na tradição Moçambicana encontramos veiculadas varias crenças uma delas é que os Moçambicanos não se dão conta que precisam de uma entidade suprema no seu quotidiano pois eles acreditam numa força sobrenatural incontrolável que o rodeia e que se manifesta em todos os momentos (os antepassados).
Devendo desta forma respeita-los assim sendo os Moçambicanos invocam os seus antepassados começando pelos que conheciam em vida até os mais afastados mas que deixaram tradição na família, esta crença atribui aos antepassados neste caso os mortos um poder sobre-humano de benevolência ou malevolência.
Culto dos antepassados: é uma prática baseada na crença de que o falecido, que muitas das vezes é o nosso familiar tem uma existência continua e possui a capacidade de influenciar a sorte dos vivos.
O objectivo primata do culto dos antepassados é garantir aos ancestrais uma continuidade de bem-estar e disposição positiva em relação à vida e as vezes pedir favores especiais ou assistência. A exaltação ou veneração dos ancestrais é cultivar os valores de parentesco neste caso a continuidade da linhagem da família.
O culto dos antepassados não é mais que um autêntico culto dos antepassados à medida que avulta o homem no mundo vivo psiquicamente o ser imaginário por eles visado, este culto representa a religião massificada em Moçambique e na África. O culto dos antepassados é uma constante em todas as civilizações, pautando se pelo facto de que cada cultura ou religião tem os seus rituais para com os mortos porem nos nossos dias parecem deixar de lado a questão de culto dos antepassados.
O culto dos antepassados é uma forma de respeitar, honrar e cuidar dos seus antepassados em seus pós-vidas assim como buscar a sua orientação para os seus descendentes vivos.
A parte central do culto dos antepassados é a celebração do sacrifício denominado por Mhamba. O Mhamba pode designar objectos em duas vertentes, são eles: os alimentos e o vestuário que são imediatamente úteis a existência humana e que são dados aos antepassados.
Os Moçambicanos acreditam que questões como a fecundidade, saúde, prosperidade, sorte, felicidade, a bênção ou a maldição dos vivos depende da benevolência dos seus antepassados.
Os antepassados são os guardiões e protectores dos familiares vivos, isto é, não há nada de bom ou de mal que aconteça na vida que não seja conectado directamente ou indirectamente com a vontade dos defuntos da família. Os antepassados por sua vez dependem dos seus familiares vivos para se alimentarem e continuarem vivos
Indo mais além nas crenças da tradição Moçambicana encontramos aquilo de que uma ou doutra forma também está incluído no culto dos antepassados que é o caso de Kuphalha.
O Kuphalha é a verdadeira oração de comunicação entre os vivos e os mortos, é através deste acto que se informa tudo aos antepassados, na realização de qualquer actividade ou celebração de outro tipo de cerimónias. Geralmente é feito pelo mais velho da família este que é autorizado a fazer a comunicação (na região sul de Moçambique), porem em outras regiões do país o mais velho da família é o coordenador pois todos os integrantes da família têm a palavra.
4.0.Relação cosmogónica entre alguns alimentos da província de Inhambane com a população local.
Nesta secção procuro já responder as inquietações dos objectivos traçados no génese do trabalho, isto é, estabelecer a relação existente entre os vivos e os mortos a partir de alimentos tais como: mandioca, milho, feijão, amendoim e a batata-doce sem se esquecer de relacionar o mundo dos mortos com o mundo dos vivos através do cajueiro.
Entre um vivo e um morto ou antepassado dá-se uma continuidade ontológica, isto é, o antepassado além de perdurar prolonga a sua descendência. Os mortos regulamentam as relações entre os membros do grupo, onde todos reconhecem as regras, além da ordem que pressupõe o equilíbrio os antepassados também geram desequilíbrio. É de salientar que eles nunca usurpam o lugar de Deus mesmo que pela participação ocupam um lugar preponderante.
A conformidade é total e os excessos individuais coarctados. A coesão, a boa ordem, a participação na vida comunitária e nas suas cerimónias, certa igualdade das condições materiais, o respeito mútuo, são assim assegurados sem dificuldade por poderes superiores, sempre atentos, onde a sabedoria expressa a conformidade do homem com a ordem das coisas.
Reafirmo as falas de alguns interlocutoressegundo os quais, por exemplo, quando algumas normas ritualísticas, de sociabilidade, ou regras sociais são transgredidas pelos indivíduos, os antepassados/mortos, insatisfeitos com tal acção, tomam medidas correctivas, que por vezes podem ser duras, tais como, gerar catástrofes, pestes, etc., no mundo dos vivos, gerando assim um ambiente de tensão e desequilíbrio, como forma de chamar atenção.
4.1.O milho como elo de ligação entre os dois mundos
Com a descoberta do fogo o vínculo entre o homem e o alimento tornou se ainda mais forte que acrescentou saberes e texturas diferentes ao que se consumia. A partir do momento em que adquirimos o conhecimento sobre plantio de grãos, hortaliças e frutas a criatividade humana contribuiu para o desenvolvimento da cultura de se alimentar.
Pelo que podemos observar durante a colecta das informações o milho constitui a base da alimentação actual, este é cultivado pelas mulheres que são apoiadas pelos homens nas primeiras lavouras usando a charrua de bois.
Para Salmina Muchlanga (uma das interlocutoras) o milho liga os dois mundos na medida em que é o primeiro alimento consumido pelo povo Moçambicano, considera se o milho como sendo um alicerce indispensável na tradição dos Moçambicanos, tendo sido criado por Deus foi o primeiro alimento criado para a nossa subsistência pelo pressuposto de que as pessoas comerão do seu suor, para que possamos praticar a agricultura para obter o alimento que neste caso é o milho com o mexer da terra para obter algo que seja comestível e benéfico para a sociedade.
O milho também serve como elo de ligação a partir do momento em que se transforma numa bebida sagrada (Uputxo ou Xinto) em memória dos nossos antepassados, pois no tempo deles não existiam as bebidas industrializadas porem eles faziam tradicionalmente. O Uputxo deixa de ser uma bebida normal ou simples quando bebe se em memória dos nossos antepassados isto é, celebrando um culto chamado de (Mhamba ya Xinto) o que significa cerimónia da bebida tradicional Xinto quando já estão sobre o efeito da bebida estão incorporando os seus antepassados. Salmina Muchlanga reitera ainda que quando isso acontece os antepassados quer onde família é importante frisar que o milho também representa de uma forma indirecta uma forma de comunicação entre os dois mundos, dado que para informar qualquer coisa aos antepassados precisa se colocar no chão ou sobre o santuário (local sagrado onde conversam com os ancestrais) um pouco da bebida feita de milho neste caso o Uputxo como vista a avisar que já estão ali os vivos para falar com eles.
Não só assim como o milho serve de alimento para ambos mundos pois é uma crença que o antepassado depende do vivo para se alimentar, desta forma prepara se a tradicional xima que serve de alimento básico quando estes pedem ou são submetidos a um culto (Mhamba).
4.2.O cajueiro como o elemento União do mundo dos vivos e o mundo dos mortos.
O cajueiro representa o elemento União ou mediador entre o mundo dos vivos e dos mortos a medida em que torna-se o nosso santuário, local sagrado onde o nosso chefe supremo (um regulo quando se trata de comunidade em geral e chefe ou mais velho da família no seu sentido seja amplo ou restrito) se dirige para falar com os nossos antepassados, é diante do cajueiro que apresentamos desde as nossas preocupações quando nada da certo, a nossa gratidão a eles quando tudo está bem, quando alguém é abençoado em uma das vertentes da vida, quando pretendemos viajar pedindo protecção a eles, e tudo aquilo que nos aflige e sentimos na necessidade de comunicar com os nossos Deuses. (Mtende Sitoe uma das interlocutoras).
Desta forma o cajueiro estabelece entre o mundo dos mortos e dos vivos a relação comunicativa, ele deixa de ser uma simples planta a medida em que se torna o local onde realizam se o culto de Kuphalha este que consiste na verdadeira oração comunicadora entre os mortos e os vivos. 
Para Salmina Muchlanga é importante ressaltar que para se comunicar com os mortos os vivos procuram o cajueiro mais frondoso da região e denominam como Palhelene (local sagrado usando no acto de Kuphalha) na ausência do cajueiro ajustamos nos num canhoeiro, pois essas duas árvores são originárias da nossa região. Ela ressalta ainda dizendo que o cajueiro representa ainda o nosso “ telefone” no que concerne à comunicação para com os mortos.
4.3.O amendoim como mediador da relação entre os mortos e os vivos
O Amendoim como mediador da relação entre os mortos e os vivos é tido como grão ou cereal ancestral porque é plantado e colhido da mesma forma há milhares de anos também mantem as mesmas propriedades nutricionistas de milénios.
O amendoim é uma das principais oleaginosas em Moçambique. O amendoim representa a principal fonte de confeccionar alimentos pois nos tempos dos nossos antepassados a questão de óleo industrializado não existia, eles sempre confeccionavam os alimentos a amendoim, este torna se mediador a medida em que ele também representa um alimento para os mortos pois sempre em Mhamba os alimentos (o caril) é feito a amendoim ou com água e sal, representa uma fonte de alimentação para os mortos assim como para os vivos. Quando comemos coisas feitas a amendoim estamos a levar adiante o legado dos nossos ancestrais.
No culto dos antepassados também usamos o amendoim para fazer molina, molina esta que vai nos ligar com os nossos ancestrais que morreram sem esposa, a molina representa um alimento de solteiros, sendo assim o amendoim é a fonte de alimento para os solteiros. (Elisa Mazuze).
4.4.A mandioca e a batata-doce como mediadores da relação entre o mundo dos mortos e o mundo dos vivos
A mandioca representa um dos principais alimentos energéticos e fonte de carbohidratos para cerca de milhões de habitantes que vivem nos países em via de desenvolvimento. O estudo mostra que a produção da mandioca é a base de sobrevivência da maioria das famílias Moçambicanas com mais profundidade nas famílias que vivem no interior de cada província, esta apresenta se de forma amarga ou doce.
Não tão obstante a batata-doce também faz parte do grupo da mandioca sendo este um alimento representativo da cadeia dos alimentos energéticos e fonte de carbohidratos.
Esses são vistos como mediadores à medida que são utilizados como fermento para uma bebida tradicional de Nome Maheu que também pode ser considerado como sumo de Maheu quando ainda não atingiu o seu auge da fermentação. Esses dois elementos deixam de ser simples alimentos quando mergulhados em pote com Maheu com vista a catalisar as reacções químicas que la ocorrem e tornar o seu processo mais rápido, geralmente o Maheu é indispensável na celebração de cerimónias fúnebres muito mais na província de Inhambane, nos conectamos com os falecidos ou antepassados quando consumimos Maheu o dito sumo de farinha em qualquer que seja a ocasião. (Rosa Zunguze um dos interlocutores da vila da Massinga).
Há quem acrescenta que a mandioca não só serve como mediador quando usamos como fermento para o Maheu assim como usamos a mandioca no culto dos antepassados para fazer uma chima tradicional de nome Mbabane (farinha de Mandioca), ressalta ainda que fazem essa chima, pois “quando estamos numa situação calamitosa de seca os antepassados deixam para nós mandioca e batata-doce para que não pereçamos de fome até que possamos cumprir com o desejo deles, comemos a mandioca em jeito de chima quando estamos numa situação de fome e chamamos fome quando não há produção de milho, portanto a mandioca constitui um mediador a medida em que é uma táctica de sobrevivência nos momentos tenebrosos até conseguir fazer ou cumprir com o desejo deles que é fazer o seu culto (Mhamba), neste caso alimenta-los”. (Maria Mazivila esposa do regulo da comunidade de Mahonhane no interior de Incaia distrito de Bilene na província de Gaza).
Essa tradição de comer mandioca em tempos de seca como Mbabane não parte de nós os vivos mas sim é praticada desde os tempos dos nossos antepassados o que estamos a fazer é levar as suas crenças adiante de modoque não pareçam e que a geração vindoura vinde encontrar. Desta feita podemos constatar que a mandioca serve como um “plano B” numa linguagem banal quando se trata de alimentação pois a principal fonte de alimentação para os homens segundo os interlocutores é a chima de milho.
Há quem ainda ressalta que pode existir qualquer tipo de seca até das piores sem porem nunca lhes falta a mandioca, maioritariamente a seca é o resultado da fúria dos antepassados, porem os antepassados sabem que para se alimentar eles dependem dos vivos logo deixam qualquer coisa na natureza para lhes servir de alimento.
4.5.O feijão como elo de ligação entre o mundo dos mortos e o mundo dos vivos
O feijão constitui um dos elementos construtores do organismo humano, ou seja o feijão constitui uma receita para o desenvolvimento do nosso organismo, também é tido como elemento representativo da gastronomia local.
O feijão é um elemento indispensável na celebração de cerimónias fúnebres servindo este como o principal alimento assim como um elemento pacificador, isto é, na nossa tradição quando morre alguém estando já no processo de efectivação do enterro saem alguns anciãos para preparar a cova onde vamos deixar a descansar o nosso ente querido o preparar da cova não significa abrir a cova, pois encontramos a cova já abertas o preparar a cova em si reside no facto de misturar as sementes de feijão e de milho com vista a garantir uma boa estadia para o morto onde quer que ele esteja. (Gustavo Mondlane interlocutor da vila de Massinga).
O feijão é um alimento de vital importância para os vivos, visto que ele é considerado um dos alimentos pesados que a natureza e os nossos antepassados nos impõem, isto é garantem a força para dar continuidade com os trabalhos agrícolas garantindo assim a nossa alimentação e a alimentação dos nossos ancestrais.
5.0.Considerações finais 
5.1.Conclusão 
Feito o estudo etnográfico em prol da relação cosmogónica entre alguns alimentos produzidos na província de Inhambane com a população local, ou seja, estabelecida a relação entre os mortos e os vivos a partir de alimentos pude constatar que entre um ser vivo e um morto da se uma continuidade ontológica onde o morto passa a ser a entidade superior, a entidade regulamentadora da relação entre os membros da sua clã.
A relação existente entre esses dois mundos tão distantes tanto que próximos é uma relação de interdependência dado que os vivos para que sejam abençoados, protegidos, curados, produzir muito precisam da benevolência dos mortos e estes por sua vez para dar continuidade na sua existência se alimentando, bebendo dependem dos vivos.
A interdependência entre os antepassados e os vivos que garante a instabilidade ou estabilidade no mundo real numa sociedade munida de sistemas de crenças e valores, práticas sociais, um culto dos antepassados podem estabelecer uma mediação entre os dois mundos o mundo dos vivos e o mundo dos mortos.
Nesta crença estabelece se uma verdadeira reciprocidade de ajuda e apoio familiar entre os vivos e os mortos. Os vivos necessitam de recorrer aos mortos para que a vida lhes corra bem e os antepassados só se mantêm existentes e vivos na medida em que são recordados e alimentados pelos descendentes vivos.
É nesta consciência de interdependência entre os vivos e mortos que se deve procurar a principal fonte da motivação para celebração do Mhamba, é de realçar que existem vários sinais através dos quais os antepassados falam aos vivos para lhes comunicar que é imperioso celebrar ao culto para garantir paz e harmonia no seio da família.
6.0.Referências bibliográficas 
ALTUNA, Raul. Cultura Tradicional Bantu. 2ª ed. Águeda: Paulinas Editora, 2014.
KAGAME, Alexis. La philosophie Bantu comparée. Paris: Présence africaine, 1976.
MBITI, John. African religions and philosophy. Nairobi, Kampala, Dar es Salam: East African Educational Publishers, 1969.
PACHECO, José. 1999. Componentes de processo de desenvolvimento do currículo. Livraria Atinho. Braga.
RIVIÉRE, Claude. 1995. Introdução antropologia. Edição 70. Lisboa.

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