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Patologi� - Distúrbi� Hemodinâmic� A saúde das células e dos tecidos depende da circulação do sangue, que fornece oxigênio e nutrientes, removendo os resíduos gerados pelo metabolismo celular. Em condições normais, à medida que o sangue passa através dos leitos capilares, proteínas plasmáticas são retidas na vasculatura e há um pequeno movimento de água e eletrólitos dentro dos tecidos. Esse equilíbrio quase sempre é perturbado por condições patológicas que alteram a função endotelial, aumentam a pressão hidrostática vascular ou diminuem o conteúdo de proteína no plasma, e tudo isso promove o edema, o acúmulo de fluido resultante do movimento da água para os espaços extravasculares. A integridade estrutural dos vasos sanguíneos é frequentemente comprometida pelo trauma. Hemostasia é o processo de coagulação sanguínea que impede o sangramento excessivo após uma lesão ao vaso sanguíneo. A hemostasia inadequada pode resultar em hemorragia, capaz de comprometer a perfusão tecidual regional e, se for maciça e rápida, pode causar hipotensão, choque e óbito. Por outro lado, a coagulação inadequada (trombose) ou a migração de tromboêmbolos (embolia) pode obstruir os vasos sanguíneos, causando potencialmente a morte celular isquêmica (infarto). Hiperemia e congestão: Hiperemia e congestão são termos que se referem ao aumento do volume sanguíneo, no interior dos vasos, em um tecido, mas apresentam diferentes mecanismos de base. Hiperemia é um processo ativo resultante da dilatação arteriolar e aumento do influxo sanguíneo, como ocorre em locais de inflamação ou no músculo esquelético durante o exercício. Os tecidos hiperêmicos ficam mais avermelhados do que o normal devido ao ingurgitamento dos vasos por sangue oxigenado. Congestão é um processo passivo resultante do comprometimento do efluxo (saída) do sangue venoso de um tecido. Pode ocorrer sistemicamente, como na insuficiência cardíaca, ou localmente, como consequência de uma obstrução venosa isolada. Os tecidos congestos apresentam uma coloração vermelho-azulada anormal (cianose) originada a partir do acúmulo da hemoglobina desoxigenada na área afetada. Edema: Aproximadamente 60% do peso corporal magro é composto por água, da qual dois terços são intracelulares. A maior parte da água restante encontra-se em compartimentos extracelulares na forma de líquido intersticial; somente 5% da água corporal se encontram no plasma sanguíneo. Como já descrito anteriormente, edema é o acúmulo de fluido no espaço intersticial (dentro dos tecidos). O fluido extravascular também pode se acumular em cavidades corporais e tais acúmulos frequentemente são denominados coletivamente efusões. Exemplos incluem efusões na cavidade pleural (hidrotórax), na cavidade pericárdica (hidropericárdio) ou na cavidade peritoneal (hidroperitônio ou ascite). Anasarca é o edema grave, generalizado, caracterizado por grande tumefação dos tecidos subcutâneos e acúmulo de fluido nas cavidades corporais. O movimento de fluido entre os espaços vascular e intersticial é controlado principalmente por duas forças opostas — a pressão hidrostática vascular e a pressão coloidosmótica produzida pelas proteínas plasmáticas. Normalmente, o fluxo de saída de fluido produzido pela pressão hidrostática na extremidade arteriolar da microcirculação é equilibrado pelo influxo na extremidade venular devido à pressão coloidosmótica ligeiramente elevada; portanto, há apenas um pequeno efluxo de líquido para o espaço intersticial, que é drenado pelos vasos linfáticos. A pressão hidrostática aumentada ou a pressão coloidosmótica diminuída causa maior movimento de água para dentro do interstício. Isso, por sua vez, aumenta a pressão hidrostática tissular e, eventualmente, um novo equilíbrio é alcançado. O excesso de fluido do edema é removido pela drenagem linfática e retorna à circulação sanguínea via ducto torácico. O fluido do edema que se acumula devido ao aumento da pressão hidrostática ou redução da pressão coloidosmótica intravascular, tipicamente, é um transudato pobre em proteínas; ao contrário, devido ao aumento da permeabilidade vascular, o fluido do edema inflamatório é um exsudato rico em proteínas com elevada gravidade específica. Pressão Hidrostática Aumentada: Aumentos locais da pressão intravascular causados, por exemplo, por uma trombose venosa profunda nos membros inferiores pode causar edema restrito à porção distal da perna acometida. Aumentos generalizados da pressão venosa, com resultante edema sistêmico, ocorrem mais comumente na insuficiência cardíaca congestiva. O débito cardíaco reduzido conduz a congestão venosa sistêmica e ao aumento da pressão hidrostática capilar. Ao mesmo tempo, a redução do débito cardíaco resulta em hipoperfusão renal, estimulando o eixo reninaangiotensina-aldosterona e induzindo a retenção de sódio e água (hiperaldosteronismo secundário). Em pacientes com função cardíaca normal, essa adaptação aumenta o enchimento e o débito cardíaco, melhorando desse modo a perfusão renal. Entretanto, o coração insuficiente geralmente não é capaz de aumentar seu débito em resposta aos aumentos compensatórios do volume sanguíneo. Em vez disso, segue-se um círculo vicioso de retenção de fluido, aumento da pressão hidrostática venosa e piora do edema. Pressão Osmótica Plasmática Reduzida: A redução da concentração de albumina plasmática leva à redução da pressão coloidosmótica sanguínea e à perda de fluido a partir da circulação. Em circunstâncias normais, a albumina é responsável por quase metade da proteína plasmática total. Portanto, condições nas quais a albumina da circulação é perdida ou sintetizada em quantidades inadequadas são as causas mais comuns de pressão osmótica plasmática reduzida. A síndrome nefrótica é a causa mais importante de perda de albumina sanguínea. Nas doenças caracterizadas por síndrome nefrótica, os capilares glomerulares danificados tornam-se anormalmente permeáveis, levando à perda de albumina (e de outras proteínas plasmáticas) na urina e ao desenvolvimento de edema generalizado. Redução da síntese de albumina ocorre no quadro de doença hepática grave (p. ex., cirrose) e desnutrição proteica. Obstrução Linfática: O edema pode ser resultado de obstrução linfática que compromete a reabsorção de fluidos dos espaços intersticiais. A drenagem linfática prejudicada e o consequente linfedema normalmente resultam de uma obstrução localizada causada por uma condição inflamatória ou neoplásica. Por exemplo, a filariose. Retenção de Sódio e Água: A retenção excessiva de sal (e obrigatoriamente a água associada a isso) pode induzir o edema devido ao aumento da pressão hidrostática (por causa da expansão do volume intravascular) e redução da pressão osmótica plasmática. A retenção excessiva de sal e água é observada em diversas doenças que comprometem a função renal, incluindo glomerulonefrite pós- estreptocócica e insuficiência renal aguda. Hemorragia: Hemorragia, definida como o extravasamento de sangue dos vasos, ocorre mais frequentemente devido a lesões aos vasos sanguíneos ou à formação defeituosa do coágulo. Trauma, aterosclerose ou erosão inflamatória ou neoplásica de um vaso também podem levar à hemorragia, que pode ser extensa se o vaso afetado for uma grande veia ou artéria. O risco de hemorragia (muitas vezes, depois de uma lesão aparentemente insignificante) está aumentado em uma ampla variedade de distúrbios clínicos chamados coletivamente diáteses hemorrágicas. Esses distúrbios apresentam diversas causas e entre elas estão os defeitos hereditários e/ou adquiridos associados às paredes dos vasos, plaquetas ou fatores de coagulação, os quais devem funcionar corretamente para garantir a homeostase. - A hemorragia pode ser externa ou acumular-se dentro de um tecido como um hematoma que varia desde insignificante (p. ex., uma contusão) até fatal (p. ex., um hematoma retroperitoneal maciço resultante da ruptura de um aneurisma da aorta dissecante). Várias denominações são dadas aos grandes sangramentos dentro das cavidades corporaisde acordo com a sua localização — hemotórax, hemopericárdio, hemoperitônio ou hemartrose (nas articulações). Extensas hemorragias podem ocasionalmente resultar em icterícia decorrente da destruição maciça de hemácias e hemoglobina. - Petéquias são hemorragias diminutas (1 a 2 mm de diâmetro) na pele, membranas mucosas ou superfícies serosas; entre suas causas estão o reduzido número de plaquetas (trombocitopenia), a função plaquetária defeituosa (trombocitopatia) e a perda de suporte da parede vascular, como na deficiência de vitamina C. - Púrpura consiste em hemorragias ligeiramente maiores (3 a 5 mm). A púrpura pode ser resultante das mesmas desordens que causam as petéquias, bem como por trauma, inflamação vascular (vasculite) e fragilidade vascular aumentada. - Equimoses são hematomas subcutâneos maiores (1 a 2 cm) (coloquialmente chamadas contusões). Hemácias extravasadas são fagocitadas e degradadas por macrófagos; as alterações características da coloração de uma contusão se devem à conversão enzimática de hemoglobina (cor vermelhoazulada) para bilirrubina (cor azul-esverdeada) e, eventualmente, em hemossiderina (castanho-dourada). Hemostasia e trombose: A hemostasia normal compreende uma série de processos regulados que culmina na formação de um coágulo de sangue que limita o sangramento de um vaso lesado. A contraparte patológica da hemostasia é a trombose, a formação de coágulo sanguíneo (trombo) dentro de vasos intactos, não lesados. Hemostasia Normal: A hemostasia é um processo precisamente orquestrado envolvendo as plaquetas, os fatores de coagulação e o endotélio, que ocorre no local de lesão vascular e culmina na formação de um tampão fibrinoplaquetário, que serve para evitar ou limitar a extensão do sangramento. - A vasoconstrição arteriolar ocorre imediatamente e reduz intensamente o fluxo sanguíneo para a área lesionada. Essa etapa é mediada por mecanismos reflexos neurogênicos, aumentados pela secreção local de fatores, como a endotelina, um potente vasoconstritor derivado do endotélio. Esse efeito é transitório, porém, o sangramento rapidamente retornaria se não fosse a ativação de plaquetas e dos fatores de coagulação. - Hemostasia primária: a formação do tampão plaquetário. A descontinuidade do endotélio expõe o fator de von Willebrand (vWF) e o colágeno subendotelial, que promovem a adesão e ativação das plaquetas. A ativação plaquetária resulta em uma alteração importante de sua forma (de pequenos discos arredondados para placas achatadas com protuberâncias espiculadas que aumentam sensivelmente a sua área de superfície), bem como na liberação de grânulos de secreção. Dentro de minutos, os produtos secretados recrutam mais plaquetas, que sofrem agregação e formam um tampão hemostático primário. - Hemostasia secundária: deposição de fibrina. A lesão vascular também expõe o fator tecidual no local da lesão. O fator tecidual é uma glicoproteína pró-coagulante, envolta por membrana, normalmente expressa pelas células subendoteliais na parede dos vasos, como as células musculares lisas e os fibroblastos. O fator tecidual liga-se e ativa o fator VII que desencadeia a cascata de reações que culminam na geração da trombina. A trombina cliva o fibrinogênio circulante formando fibrina insolúvel, o que gera uma malha de fibrina e também é um potente ativador adicional de plaquetas, que servem para potencializar o tampão hemostático. Essa sequência, denominada hemostasia secundária, consolida o tampão plaquetário inicial. - Estabilização e reabsorção do tampão hemostático. A fibrina polimerizada e as plaquetas agregadas sofrem contração para formar um tampão sólido e permanente que impede ainda mais a hemorragia. Nesta fase, os mecanismos contrarregulatórios (p. ex., ativador de plasminogênio tecidual, t-PA produzido por células endoteliais) estão em movimento para limitar a coagulação ao local da lesão e eventualmente desencadear reabsorção do tampão e reparo do tecido. Plaquetas: As plaquetas desempenham um papel crítico na hemostasia normal por meio da formação um tampão hemostático primário, que inicialmente sela os defeitos vasculares e proporciona uma superfície que recruta e concentra os fatores de coagulação ativados. As plaquetas são fragmentos celulares anucleados, em forma de disco, presentes na corrente sanguínea, que se originam dos megacariócitos medulares. A função plaquetária depende de vários receptores de glicoproteína da família das integrinas, um citoesqueleto contrátil e dois tipos de grânulos citoplasmáticos. - A adesão plaquetária é mediada amplamente por interações com o vWF, que age como uma ponte entre a glicoproteína Ib do receptor da superfície das plaquetas (GpIb) e o colágeno exposto. Notavelmente, as deficiências genéticas de vWF (doença de von Willebrand) ou GpIb (síndrome de Bernard-Soulier) resultam em distúrbios hemorrágicos, o que atesta a importância destes fatores. - As plaquetas alteram sua forma rapidamente após a adesão, convertidas de discos lisos para esferas com numerosas extensões citoplasmáticas longas e espiculadas, aumentando em muito a área de superfície (semelhantes a “ouriços do mar”). Esta mudança é acompanhada por alterações na glicoproteína IIb/IIIa que aumenta a sua afinidade para o fibrinogênio, e pela translocação de fosfolipídeos carregados negativamente (particularmente fosfatidilserina) para a superfície da plaqueta. Estes fosfolipídeos se ligam ao cálcio e servem como locais de nucleação para a montagem de complexos de fatores de coagulação. - Secreção (reação de liberação) do conteúdo dos grânulos ocorre juntamente com as alterações conformacionais; estes dois eventos são, muitas vezes, denominados ativação plaquetária. A ativação plaquetária é desencadeada por uma série de fatores, incluindo a trombina e o ADP. A trombina ativa as plaquetas através de um tipo especial de receptor acoplado a proteína G denominado receptor ativado por protease (PAR), que é ativado por clivagem proteolítica promovida pela trombina. O ADP é um componente dos grânulos densos; assim, a ativação plaquetária e a liberação de ADP geram ciclos adicionais de ativação das plaquetas, um fenômeno chamado recrutamento. As plaquetas ativadas também produzem a prostaglandina tromboxano A2 (TXA2), um potente indutor da agregação plaquetária. O ácido acetilsalicílico (Aspirina®) inibe a agregação plaquetária e produz uma discreta tendência ao sangramento, por inibir a cicloxigenase, uma enzima plaquetária necessária para a síntese do TXA2. Embora o fenômeno seja menos bem caracterizado, suspeita-se também que os fatores de crescimento liberados pelas plaquetas contribuem para o reparo da parede do vaso após lesão. - Agregação plaquetária após sua ativação. A alteração conformacional na glicoproteína Ilb/IIIa que ocorre na ativação das plaquetas permite a ligação do fibrinogênio, um grande polipeptídeo plasmático, bivalente, que forma pontes entre as plaquetas adjacentes, causando sua agregação. Previsivelmente, a deficiência hereditária de GPIIb-IIIa causa um distúrbio hemorrágico chamado trombastenia de Glanzmann. A onda inicial de agregação é reversível, mas a ativação simultânea de trombina estabiliza o tampão plaquetário, causando maior ativação e agregação de plaquetas e promove a contração irreversível das plaquetas. A contração das plaquetas é dependente do citoesqueleto e consolida as plaquetas agregadas. Paralelamente, a trombina também converte o fibrinogênio em fibrina insolúvel, cimentando as plaquetas no lugar, criando o tampão hemostático secundário definitivo. Células e leucócitos aprisionados são encontrados em tampões hemostáticos, em parte devido a adesão de leucócitos à P-selectina expressa nas plaquetas ativadas. Cascata da Coagulação: A cascata da coagulação é um conjunto de reações enzimáticas amplificadoras que culminam com a formação de um coágulo de fibrina insolúvel. Conforme discutido mais adiante, a dependência da formação de coágulos difere em vários fatores entre os testes laboratoriais realizados emtubos de ensaio laboratorial e nos vasos sanguíneos in vivo. Trombose: As anormalidades básicas que levam à trombose são: (1) lesão endotelial; (2) estase ou fluxo sanguíneo turbulento; e (3) hipercoagulabilidade do sangue (que compreendem a chamada “tríade de Virchow”). A trombose é um dos flagelos do homem moderno, porque ela está na base das formas mais graves e comuns de doença cardiovascular. Lesão Endotelial: A lesão endotelial que causa ativação plaquetária quase inevitavelmente leva à formação de trombos subjacentes no coração e na circulação arterial, onde a alta velocidade do fluxo sanguíneo impede a formação de coágulos (trombos). Fluxo Sanguíneo Anormal: A turbulência (fluxo sanguíneo caótico) contribui para trombose arterial e cardíaca por causar lesão ou disfunção endotelial, e também por gerar fluxos de contracorrentes e bolsas de estase locais. Hipercoagulabilidade: Refere-se a uma tendência anormal do sangue em coagular, e normalmente é causada por alterações nos fatores de coagulação. Destino do Trombo: Se um paciente sobreviver a um evento trombótico inicial, durante os dias ou semanas subsequentes o trombo evolui pela combinação dos quatro processos a seguir: - Propagação. O trombo aumenta devido ao acréscimo de plaquetas adicionais e fibrina, que aumentam a margem de oclusão ou embolização vascular. - Embolização. O trombo, todo ou uma parte, desloca-se e é transportado para outra parte na vasculatura. - Dissolução. Se um trombo é recém-formado, a ativação dos fatores fibrinolíticos pode levar à sua rápida contração e completa dissolução. No caso de trombos antigos, a extensa polimerização da fibrina torna-o substancialmente mais resistente à proteólise induzida por plasmina, e a lise é ineficaz. Essa aquisição de resistência apresenta significância clínica, uma vez que a administração terapêutica de agentes fibrinolíticos (p. ex., t-PA no quadro de trombose coronariana aguda) geralmente não é eficaz, a não ser que sejam administrados nas primeiras horas após a formação do trombo. - Organização e recanalização. Os trombos antigos se tornam organizados pelo crescimento de células endoteliais, células da musculatura lisa e fibroblastos sobre e para dentro de um trombo. Ocasionalmente, formam-se canais capilares que — até certo ponto — criam condutos ao longo da extensão do trombo, restabelecendo a continuidade da luz original. Algumas vezes, a canalização adicional pode converter um trombo em massa vascularizada de tecido conjuntivo que eventualmente se incorpora à parede do vaso remodelado. Ocasionalmente, em vez de se organizar, o centro de um trombo sofre digestão enzimática, presumivelmente por liberação de enzimas lisossômicas provenientes dos leucócitos capturados. Se ocorrer semeadura bacteriana, o conteúdo dos trombos degradados serve como meio de cultura ideal, e a infecção resultante pode enfraquecer a parede do vaso, levando à formação de um aneurisma micótico. Coagulação Intravascular Disseminada: A CID é caracterizada pela presença de trombose generalizada dentro da microcirculação que pode ter um início súbito ou insidioso. Pode ser observada em distúrbios que variam desde complicações obstétricas até neoplasias avançadas. Para complicar a situação, a trombose microvascular disseminada consome plaquetas e proteínas da coagulação (por isso o sinônimo coagulopatia de consumo) e ao mesmo tempo mecanismos antifibrinolíticos são ativados. Embolia: Um êmbolo é uma massa intravascular solta, seja de natureza sólida, líquida ou gasosa que é transportada pelo sangue para um local distante de seu ponto de origem, onde pode causar disfunção tecidual e infarto. A vasta maioria dos êmbolos deriva-se de um trombo desalojado — daí o termo tromboembolismo. Tipos menos comuns de êmbolos são as gotículas de gordura, bolhas de ar ou nitrogênio, debris ateroscleróticos (êmbolos de colesterol), fragmentos tumorais, fragmentos de medula óssea e líquido amniótico. Inevitavelmente, os êmbolos se alojam em vasos pequenos para permitir a sua passagem, resultando em oclusão vascular parcial ou completa; dependendo do local de origem, os êmbolos podem se alojar em qualquer parte da árvore vascular. A consequência primária da embolização sistêmica é a necrose isquêmica (infarto) dos tecidos a jusante, enquanto a embolização na circulação pulmonar leva a hipóxia, hipotensão e insuficiência cardíaca direita. Infarto: Um infarto é uma área de necrose isquêmica causada por oclusão do suprimento vascular para o tecido afetado. O infarto que afeta principalmente o coração e o cérebro é uma causa comum e importante de doença clínica. Aproximadamente 40% de todas as mortes nos Estados Unidos são uma consequência de doença cardiovascular, sendo a maioria dessas mortes originárias de infarto do miocárdio ou cerebral. O infarto pulmonar é uma complicação clínica comum, o infarto intestinal é quase sempre fatal e a necrose isquêmica das extremidades distais (gangrena) causa substancial morbidade na população diabética. A trombose arterial ou embolia arterial apresenta-se subjacente à grande maioria dos infartos. Os infartos são classificados com base na sua coloração (que reflete o grau de hemorragia) e a presença ou a ausência de infecção microbiana. Assim, os infartos podem ser vermelhos (hemorrágicos) ou brancos (anêmicos) e, ainda, sépticos ou assépticos. Fatores que Influenciam o Desenvolvimento do Infarto: - Anatomia do suprimento vascular. A presença ou ausência de um suprimento sanguíneo alternativo é o fator mais importante para determinar se a oclusão de um determinado vaso causará dano ao tecido. O suprimento duplo do pulmão pelas artérias pulmonares e brônquicas significa que a obstrução das arteríolas pulmonares não causa infarto pulmonar, a não ser que a circulação brônquica também esteja comprometida. Da mesma forma, o fígado, que recebe sangue da artéria hepática e da veia porta, a mão e o antebraço, com seu suprimento arterial radial e ulnar paralelo, são potencialmente mais resistentes ao infarto. Em contrapartida, o rim e o baço apresentam circulações terminais, e a obstrução arterial geralmente leva ao infarto nesses tecidos. - Velocidade da oclusão. O desenvolvimento lento das oclusões apresenta menor probabilidade de causar infarto por proporcionar mais tempo para o desenvolvimento de suprimentos sanguíneos colaterais. Por exemplo, pequenas anastomoses arteriolares, que normalmente apresentam um fluxo sanguíneo mínimo, interconectam as três principais artérias coronárias. Se uma artéria coronária se oclui lentamente (p. ex., por uma placa aterosclerótica), o fluxo nessa circulação colateral pode aumentar o suficiente para impedir o infarto — mesmo que a artéria original se torne completamente ocluída. - Vulnerabilidade tecidual à hipóxia. Os neurônios sofrem dano irreversível quando privados de seu suprimento sanguíneo por apenas 3 a 4 minutos. As células miocárdicas, embora mais resistentes que os neurônios, morrem após 20 a 30 minutos de isquemia. Em contrapartida, os fibroblastos no miocárdio permanecem viáveis após muitas horas de isquemia. Choque: O choque é um estado no qual a diminuição do débito cardíaco ou do volume sanguíneo circulante efetivo prejudica a perfusão tecidual e leva à hipóxia celular. No início, a lesão celular é reversível; no entanto, o choque prolongado, eventualmente, leva a lesões irreversíveis nos tecidos que muitas vezes são fatais. O choque pode complicar hemorragias graves, trauma ou queimaduras extensas, infarto do miocárdio, embolia pulmonar e sepse microbiana. - O choque cardiogênico resulta do baixo débito cardíaco decorrente de falha da bomba miocárdica. Essa falha pode ser causada por dano miocárdico (infarto), arritmias ventriculares, compressão extrínseca (tamponamento cardíaco) ou por obstrução do fluxo de saída (p. ex., embolia pulmonar). - O choque hipovolêmico resulta do baixo débito cardíaco devido à perda de volume sanguíneo ou plasmático (p. ex., por hemorragia ou perda de fluido em decorrência de queimadurasgraves). - O choque séptico é desencadeado por infecções microbianas e está associado à síndrome da resposta inflamatória sistêmica grave (SIRS). - Além de microrganismos, a SIRS pode ser desencadeada por vários tipos de insultos, incluindo queimaduras, traumatismos e/ou pancreatite. O mecanismo patogênico comum é a presença maciça de mediadores inflamatórios de células imunes inatas e adaptativas que produzem vasodilatação arterial, extravasamento de líquido intravascular e represamento de sangue venoso. Essas anormalidades cardiovasculares resultam em hipoperfusão tecidual, hipóxia celular e distúrbios metabólicos que levam à disfunção orgânica e, se grave e persistente, a falência de múltiplos órgãos e a morte. Menos comumente, o choque pode resultar de uma perda de tônus vascular associada à anestesia ou secundária à lesão da medula espinal (choque neurogênico). O choque anafilático resulta de vasodilatação sistêmica e aumento da permeabilidade vascular desencadeada por uma reação de hipersensibilidade mediada por imunoglobulina E. Referência: KUMAR V.; ABBAS A.K.; ASTER J.C.; Robbins patologia básica [tradução Tatiana Ferreira Robaina] – [Reimpr.]. – Rio de Janeiro: GEN | Grupo Editorial Nacional. Publicado pelo selo Editora Guanabara Koogan Ltda., 2021.
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