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Julia Paris Malaco – ambulatório cirurgia Doenças orificiais Damos este nome aos problemas que ocorrem no ânus, como hemorroidas, fissura, fístula, abscesso e outras condições do tipo. Anatomia do Reto O reto é a porção final do trago gastrointestinal, sendo dividido do canal anal pela linha pectínea. Essa divisão é importante, já que é onde diversas mudanças histológicas, fisiológicas e da própria anatomia ocorrem. Assim, é a linha pectínea que irá delimitar a divisão entre o epitélio colunar simples proximal e o epitélio estratificado distal, a inervação visceral proximal e a inervação somática distal. É nessa região que iremos encontrar as colunas retais, compostas pelas criptas (criptas de Morgagni), no interior das quais os ductos excretores das glândulas anais se abrem. Em relação a vascularização dessa região, teremos o plexo venoso superior, encontrado acima da linha pectínea, responsável pela drenagem sanguínea do reto; e o plexo venoso inferior, responsável pela drenagem sanguínea do canal anal, sendo eles os responsáveis pela principal doença que iremos estudar neste material. Sendo um órgão responsável pelo armazenamento e posterior excreção de tudo que não fora absorvido da digestão, junto com as bactérias, essa região possui uma grande rede muscular para manter o tônus funcionante. Assim, teremos os músculos esfíncteres externo e interno, sendo o primeiro composto por fibras estriadas voluntárias, enquanto o segundo é composto por fibras lisas involuntárias. Hemorroida As doenças hemorroidárias são compostas por estruturas vasculares anormais no canal anal, decorrentes de um canal de tecidos conjuntivos arteriovenosos que drena para as veias hemorroidas superior e inferior. São formadas a partir de coleções de sinusoides submucosos, fibrovasculares e arteriovenosas. As principais características da doença incluem sangramento, prurido anal, prolapso e dor devido a trombose. São veias ao redor do ânus que se inflamam ou dilatam. Durante o trânsito intestinal, elas se dilatam, aumentando a pressão e causando coceira, dores e sangramento no momento de evacuar. É uma doença hereditária, mas que pode ser causada por constipação intestinal, prisão de ventre e por maus hábitos, incluindo sedentarismo e obesidade. Hemorroidas surgem de um plexo de vasos arteriovenosos dilatados em conjunto com o tecido conjuntivo que o cerca. Hemorroidas internas surgem do plexo venoso superior. Suas três localizações primárias (lateral esquerda, anterior direita e posterior direita) correspondem aos ramos finais das veias hemorroidárias médias e superiores. O epitélio colunar sobrejacente é visceralmente inervado; portanto, essas hemorroidas não são sensíveis a dor, toque ou temperatura. Hemorroidas externas surgem do plexo venoso inferior. Eles são cobertos pelo epitélio escamoso modificado, que contém numerosos receptores somáticos de dor, tornando as hemorroidas externas extremamente dolorosas na trombose. Hemorroidas internas e externas se comunicam e drenam para as veias pudendas internas e, finalmente, para a veia cava inferior. O desenvolvimento de hemorroidas sintomáticas tem sido associado ao avanço da idade, diarreia, gravidez, tumores pélvicos, repouso prolongado, esforço, constipação crônica e pacientes em uso de anticoagulação e terapia antiplaquetária, embora não esteja claro se a associação é causal. As hemorroidas podem ser classificadas de acordo com: Localização Internas: localizadas na submucosa anorretal acima do ligamento de Parks. São próximas ou Julia Paris Malaco – ambulatório cirurgia acima da linha pectínea. Os tecidos acima da linha pectínea recebem inervação visceral, menos sensível a dor e irritação. Externas: localizadas abaixo do ligamento de Parks. Estão distais ou abaixo da linha pectínea, onde os tecidos são inervados por fibras somaticamente e, portanto, são mais sensíveis a dor e irritação. Mistas: cobrem a linha pectínea e geralmente são tratadas da mesma maneira que as hemorroidas externas. Segundo a evolução das hemorroidas internas e partes internas das hemorroidas mistas Grau I: apresenta congestão e intumescimento dos mamilos hemorroidários, podendo ocorrer sangramento sem haver exteriorização. Não geram um prolapso abaixo da linha pectínea Grau II: ocorre prolapso dos mamilos hemorroidários quando ocorre aumento da pressão intrabdominal, recolhendo-se espontaneamente após a cessação do esforço, principalmente defecatorio. Pode ocorrer sangramento. Grau III: ocorre prolapso dos mamilos hemorroidários com maior facilidade, com retorno à parte interna lentamente e com auxílio de manobras manuais. Grau IV: mamilos hemorroidários permanentemente exteriorizados, com lesões em revestimento mucoso, macerações e até erosões e podem ser estranguladas. Hemorroida interna As hemorroidas internas tornam-se sintomáti cas quando sua estrutura de suporte entra em uma espécie de “colapso ”, e o coxim vascular prolapsa. A hemorroida interna é encontrada com maior frequência em indivíduos com constipação que apresentam normalmente fezes endurecidas As hemorroidas internas provocam sangramento indolor. Um gotejamento após o término da evacuação também é descrito . O diagnóstico é reali zado através da anuscopia ou mesmo da retossigmoidoscopia O tratamento tem como base o grau da doença hemorroidária. Pacientes com hemorroi das de primeiro grau habitualmente respondem apenas à manipul ação dietética. Uma dieta rica em fibras ( 20 a 30 g/di a) é introduzida de forma gradual, e o paciente deve ser recomendado a ingerir líquidos (seis a oito copos d ’água ao dia). A ligadura elástica é a abordagem inicial para os casos de doença de segundo grau; nestes indivíduos, a fotocoagulação pode ser empregada para manejar o sangramento. Hemorroidectomia é possível em casos de hemorroidas de grandes dimensões, como a de terceiro grau A fotocoagulação com raios infravermelhos emprega radiação para coagular tecidos , levando à fibrose. A hemorroida de quarto grau é tratada com cirurgia Outras indicações de intervenção cirúrgica na doença hemorroidária incluem hemorroidas, de qualquer grau, complicadas por estrangulamento, fissura, ulceração ou fístulas. A técnica cirúrgica mais empregada é a hemorroidectomia aberta ( Milligan- Morgan). Hemorroida externa e plicoma anal O plicoma é visível na margem anal e geralmente representa tecido cutâneo redundante e residual, de corrente de episódi os passados de inflamação e edema do plexo hemorroidário externo. Tipicamente é observado em adultos jovens e de meia - idade. A hemorroida externa usualmente não causa sintomas; sangramento não ocorre, pois o plexo hemorroidário externo é recoberto por epitéli o escamoso. Durante a higiene da região perianal , alguns pacientes se queixam de irritação local, prurido, às vezes dor discreta, ou sensação incômoda de tecido redundante. Julia Paris Malaco – ambulatório cirurgia O tratamento das hemorroidas externas usualmente não é cirúrgico O evento inflamatório que complica as hemorroidas externas é a trombose . O quadro clínico é de congestão, edema e dor, acometendo o plexo hemorroidário externo. A dor é aguda, latejante ou em queimação, de intensidadecrescente e associada à sensação de plenitude anal . Caso o paciente se apresente nas primeiras 72 horas do início dos sintomas, o tratamento consiste em incisão e evacuação do trombo hemorroidário Clínica e diagnostico Aproximadamente 40% dos indivíduos com hemorroidas são assintomáticos. Os pacientes sintomáticos geralmente buscam tratamento para hematoquezia, dor associada a hemorroidas trombosadas, prurido perianal ou solo fecal. O sangramento da hemorroida é quase sempre indolor e geralmente está associado a um movimento intestinal, embora possa ser espontâneo. O sangue é tipicamente vermelho vivo e reveste as fezes no final da defecação ou pode pingar no vaso sanitário. Ocasionalmente, o sangramento pode ser abundante e pode ser exacerbado pelo esforço. Em casos raros, a perda crônica de sangue pode causar anemia por deficiência de ferro com sintomas associados de fraqueza, dor de cabeça, irritabilidade e graus variáveis de fadiga e intolerância ao exercício. Hemorroidas sintomáticas devem ser suspeitas em pacientes com sangue vermelho brilhante por reto, prurido anal e/ou início agudo de dor perianal. O diagnóstico é estabelecido pela exclusão de outras causas de sintomas semelhantes e pela visualização de hemorroidas. O diagnóstico do nosso paciente será baseado na anamnese e nos achados do exame físico. Os principais sintomas são prolapso e o sangramento. Com a evolução da patologia podem ocorre dor em pontada, ardência, sensação de pressão retal, secreção fecal e sangue nas roupas. Assim como dificuldade para defecar, exteriorização com redução espontânea ou manual, sensação de evacuação incompleta. O paciente poderá apresentar uma história de sangramento da hemorroida, sendo caracterizado pela passagem indolor de sangue vermelho brilhante pelo reto com um movimento intestinal. A defecação dolorosa não está associada a hemorroidas, sendo o sangramento quase sempre indolor e geralmente está associado a um movimento intestinal, embora possa ser espontâneo, como já vimos. Poderemos ter também como positivo na história do paciente: Incontinência fecal leve, secreção de muco, umidade ou sensação de plenitude na área perianal devido a uma hemorroida interna e prolapso. Irritação ou coceira na pele perianal. Pacientes com vazamento podem limpar agressivamente, irritando o períneo e também permitindo o contato de material fecal com a pele desnudada. Sangramento vermelho vivo em gotejamento. O exame físico deve ser realizado detalhadamente, com inspeção, palpação, toque retal, manobras de esforço e retossigmoidoscopia. Como complicações são citadas as tromboses, estrangulamentos, hemorragias, ulcerações com infecções secundárias e abscessos. Tratamento O tratamento das hemorroidas depende mais do conjunto de sintomas de cada paciente e dos achados objetivos ao exame proctológico. Portanto, apenas as hemorroidas sintomáticas precisam ser tratadas. Uma vez feito o diagnóstico de hemorroida sintomática, o tratamento dependerá do grau e da extensão da lesão. As opções incluem: Tratamento clínico; Tratamento conservador (nível ambulatorial); Tratamento cirúrgico. Tratamento Clínico Quando a doença hemorroidária é tratada logo no início, pode-se evitar a cirurgia. Neste caso, tratamento no consultório, uso de pomadas e supositórios ou a simples regularização do hábito intestinal podem ser suficientes para controlar a doença. Modificação dos hábitos alimentares Maior ingestão de líquidos e de fibras Julia Paris Malaco – ambulatório cirurgia Regularização do hábito intestinal Medicamentos como por exemplo pomadas de proctil e xiloproct duas vezes ao dia Orientações higiênicas (abolição do papel higiênico) Banhos de assento com água morna A água morna, aplicada na região anal, diminui, significativamente, a pressão de repouso do canal anal provocada por espasmo esfincteriano, consequentemente, diminuindo o sintoma de dor anal. Radiofrequência por ablação Hemorroidectomia Fissura anal Uma fissura é uma ferida ou um pequeno corte no revestimento do canal anal, trazendo dor ou sangramento durante a evacuação. Ela pode se apresentar de forma aguda ou crônica e é causada por traumas, como a passagem de fezes duras, secas e/ou muito grandes e sexo anal, por exemplo. Outros sintomas são desconforto anal ao sentar, dor ao evacuar, coceira e ardência, irritação e uma pequena rachadura visível na pele ao redor do ânus. A fissura anal é afecção benigna comum que acomete ambos os sexos e todas as faixas etárias. Caracteriza-se por lesão ulcerada no anoderma do canal anal, que raramente ultrapassa a linha pectínea e a anocutânea. Geralmente aparece na região posterior do canal anal. A fissura anal é considerada uma espécie de úlcera longitudinal localizada no canal anal A causa da fissura anal pode ser multifatorial. A passagem de fezes grandes e duras, dieta pobre em fibra, cirurgia anal prévia, trauma e infecção podem ser fatores contributivos. O aumento das pressões do canal anal em repouso e a diminuição do fluxo de sangue anal na linha média posterior também foram postulados como causa. Essas possibilidades levaram à introdução de várias abordagens médicas. A constipação crônica, com passagem de fezes endurecidas e consequente trauma local, é relatada pela maiori a dos pacientes, contudo, em alguns indivíduos, a fissura se estabelece após episódios de diarreia intensa. O principal sintoma é a dor anal precipitada pela evacuação. Muitos pacientes relatam dor intensa, como uma “lâmina cortante ” ou em queimação, que pode persistir por horas após o ato de defecar. “Sangue vivo” pode ser observado no papel sanitário ou sobre as fezes. No exame físico notamos muitas vezes um plicoma anal edemaciado e doloroso situado distalmente à fissura. Durante a fase aguda, o toque retal não é recomendado, pois agrava o espasmo muscular e causa uma dor descrita como “insuportável ” As fissuras anais crônicas apresentam uma tríade de achados relacionada à fibrose em suas margens , sendo descrita pela presença de ulceração profunda ( fissura propriamente dita), endurecimento das bordas , aumento de tecido no nível da linha denteada ( papilas hipertrofiadas) e plicoma anal sentinela, edemaciado, e distal à margem anal. Clinica e diagnostico Sintomas: Dor anal intensa , aguda e penetrante durante ou após a defecação, podendo irradiar para região genital, costas e membros inferiores, podendo manter-se por horas após a evacuação. Sangramento, rutilante, durante a evacuação, podendo acontecer no papel higiênico ou depositado nas fezes. Exame físico: o exame digital do ânus é muito doloroso. Pode-se observar a presença de papila hipertrófica (tumoração tipo dedo de luva em canal anal) e o espasmo esfincteriano , que acontece pela dor. Diagnóstico diferencial: pensar em Fissura anal sifilítica primária, ulcerações anais por Doença Inflamatória Intestinal e lesão Herpética. Tratamento Tratamento clínico Quando a fissura anal é tratada logo no início, pode-se evitar a cirurgia. Neste caso, tratamento no consultório, uso de pomadas e supositórios ou a simples regularização do hábito intestinal podem ser suficientes para controlar a doença. Modificação dos hábitos alimentares Maior ingestão de líquidos e de fibras Julia Paris Malaco – ambulatório cirurgia Regularização do hábito intestinal Medicamentos (proctyl e xiloproctduas vezes ao dia) Bloqueadores de canais de cálcio em gel (nifedipina, diltiazem) Bloqueadores de canais de cálcio orais (nifedipina, diltiazem) Orientações higiênicas (abolição do papel higiênico) Banhos de assento com água morna O padrão ouro para fissuras é cirúrgico com esfincterotomia lateral interna. Abcesso anorretal O abscesso anal ou perianal é causado pela formação de uma cavidade repleta de pus na pele da região ao redor do ânus, provocando sintomas como dor (principalmente ao evacuar ou sentar), sangramento ou eliminação de secreção amarelada e surgimento de um caroço doloroso na área. Praticamente toda doença supurativa anorretal resulta de infecção de glândulas localizadas nas criptas anais ( glândulas de Chiari ). O abscesso traz como consequência o surgimento de uma fístula anal (fistula-in-ano). Tanto é assim que abscessos e fIstulas são considerados fases distintas de um mesmo processo. Quanto à localização, os abscessos anorretais podem ser classificados em simples ou complexos. Os primeiros são os abscessos ditos perianais; já os complexos são aqueles que envolvem outros planos anorretais e , tipicamente, se encontram associados a fístulas complexas. Os abscessos anorretais são divididos de acordo com sua localização anatômica em: isquiorretal, interesfincteriano, supraelevador/pelvirretal (superior ao músculo elevador do ânus) e intermuscular ou submucoso. O mais comum é o perianal ( 40 a 50% dos casos) e o menos frequente é o sub mucoso, representando 0,5 a 3% dos casos. O abscesso perianal é extremamente doloroso, apresentando hiperemia e um abaulamento pequeno localizado na margem anal . O toque retal é muito doloroso e eventualmente se palpa certo empastamento o canal anal. O abscesso isquiorretal está localizad o entre o canal anal e parte inferior do reto, medialmente, e parede pélvica, lateralmente. Alguns pacientes relatam desconforto anal , sensação de peso no reto, febre e mal-estar geral . O exame pode revelar induração nas nádegas, portanto, distante da borda anal . O toque retal é menos doloroso que nos abscessos perianais. O abscesso interesfincteriano pode ser assintomático, sendo reconhecido apenas através de métodos de imagem como a Ultrassonografia ( USG) , a Tomografia Computadorizada ( TC) ou a Ressonância Magnética ( RM) . Em alguns casos sintomáticos, encontra - se dor de caráter latejante, que se assemelha a da fissura. Nesses pacientes, o toque retal é doloroso, não havendo abaulamento, empastamento ou descarga na anuscopia. A dor persistente após tratamento adequado de uma fissura coexistente deve levantar suspeita de um abscesso interesfincteriano subjacente não diagnosticado. Os abscessos supraelevadore s são geral mente ocasionados por processos infecciosos em cavidade peritoneal ( apendicite , diverticulite , salpingite e tc.) . Muitas vezes, dor em andar inferior do abdome e urgência miccional são sintomas que desviam a atenção do cirurgião para uma possível doença anal . O abscesso submucoso ( intermuscular) é encontrado no plano submucoso , sendo ocasionado pela extensão de uma coleção interesfincteriana em direção da luz intestinal . Os pacientes se queixam de dor intensa. O exame proctológico é extremamente doloroso notando-se certo empastamento ou abaulamento no canal anal . A anuscopia nem sempre é possível devido à dor; O tratamento dos abscessos anorretais é eminentemente cirúrgico e consiste em drenagem. Os antibióticos usados de forma isolada não são adequados . Nos abscessos superficiais, a drenagem poderá ser feita em caráter ambulatorial . Na presença de sintomas sistêmicos (febre alta) ou em abscessos de localização alta, a abordagem no centro cirúrgico torna- se mandatória. Devem ser usados antibióticos de amplo espectro (gram positivo e gram negativo). Complicação: fistula, síndrome de fournier Julia Paris Malaco – ambulatório cirurgia Fistula anorretal A fístula anal é uma ferida que se forma entre o final do intestino e a pele do ânus, criando um pequeno túnel que provoca sintomas como dor, vermelhidão, sangramento e secreção aquosa com pus. Geralmente, o problema surge após um abscesso anal, mas também pode ser causado por doenças inflamatórias do intestino, como doença de Crohn ou diverticulite, por exemplo. Na maioria dos casos, a solução é cirúrgica. Algumas situações podem exigir exames como ultrassonografia ou ressonância magnética, antes da operação. O abscesso anorretal é condição predisponente à formação de uma fistula. A fístula anal pode-se desenvolver em aproximadamente 40% dos pacientes durante a fase aguda de sepse ou mesmo ser descoberta em seis meses após a terapia inicial. As fístulas são categorizadas pela classificação de Parks: A fístula anal mais comum é uma fístula interesfincteriana. Mais frequentemente, a fístula atravessa diretamente para baixo até a margem do ânus. Em alguns casos, no entanto, o trajeto pode-se dirigir para cima na parede retal (trajeto cego alto), com ou sem uma abertura perineal. Nas fístulas transesfincterianas, o trajeto viaja através do esfíncter externo e para a fossa isquiorretal, terminando na pele perineal. Se passar através do músculo em um nível baixo, a fístula não será complicada e o tratamento relativamente simples; no entanto, se envolver os dois terços superiores do esfíncter, a reparação é mais complicada. Deve-se ter cuidado na exploração dessas fístulas para evitar punção inadvertida do reto baixo, criando uma fístula extraesfincteriana baixa. As fístulas supraesfincterianas são raras e podem ser difíceis de tratar. Com essas fístulas, o trajeto está acima de todos os músculos importantes para a continência. Além disso, a fístula pode ter uma extensão adicional para a pelve, paralela ao reto (trajeto cego alto). Finalmente, uma fístula extraesfincteriana é também rara e resulta muitas vezes de uma lesão iatrogênica. Ela viaja desde a pele perineal até a parede retal acima do elevador do ânus. O trajeto está completamente fora do aparelho esfincteriano. O tratamento envolve com frequência a necessidade de colostomia. Drenagem de secreção seropurulenta com odor fétido pela região perianal é o principal sintoma apresentado pelos pacientes. Irritação e prurido anais são também observados. O exame proctológico é realizado sob anestesia. A palpação nos revela um peque no nódulo na parede do canal anal , que representa a abertura interna do trajeto fistuloso. anuscopia seguida da passagem de uma sonda através da abertura interna habitualmente define a anatomia anômala. Tratamento O tratamento adequado e apropriado depende da classificação correta da fístula e da identificação das aberturas interna e externa, da direção do trajeto e da quantidade de músculo envolvido. O tratamento cirúrgico continua sendo a primeira modalidade de tratamento para as fístulas não relacionadas a doença inflamatória intestinal. O exame sob anestesia permite uma avaliação anorretal completa e classificação adequada da doença. O exame digital pode revelar um nódulo palpável na parede do canal anal, uma indicação da abertura primária. Uma sonda podeser colocada gentilmente desde a abertura externa da pele até a abertura interna do canal anal. O tratamento das fístulas simples (aquelas com envolvimento mínimo do complexo esfincteriano – fístulas transesfincterianas baixas, fístulas interesfincterianas) é frequentemente realizado através da abertura do trajeto por fistulotomia. Dependendo do comprimento e profundidade do trajeto, pode ser marsupializado para promover a cicatrização. As taxas de recorrência e incontinência são em geral baixas, mas altamente dependentes da decisão e experiência do operador. A regra de Goodsall é útil para prever a anatomia das fístulas simples. Se a exploração direta não conseguir identificar a abertura interna, a injeção de uma mistura de azul de metileno e peróxido de hidrogênio pode ajudar a identificá- la. Julia Paris Malaco – ambulatório cirurgia O tratamento das fístulas anais é cirúrgico e tem como objetivos eliminar a fístula, prevenir sua recorrênci a e preservar a continência . A fistulotomia é o procedi mento usualmente empre gado nas fístul as interesfincterianas e transesfincterianas baixas. As fístulas complexas frequentemente requerem mais do que uma simples fistulotomia para serem resolvidas. Existe uma variedade de técnicas para o seu tratamento, o que mais uma vez é dependente da classificação e identificação precisa do orifício interno. Para fístulas que envolvem mais de 30% do esfíncter, aquelas distais à linha pectínea, ou fístulas transesfincterianas altas, um sedenho de drenagem (sutura ou elástico) é colocado de forma frouxa através do trajeto para facilitar a drenagem de qualquer sepse e preservar o esfíncter. Este pode ser convertido a um sedenho cortante, que é periodicamente apertado em intervalos regulares para cortar lentamente através do músculo esfincteriano envolvido e promover fibrose para evitar a ruptura do esfíncter e resultante incontinência. As taxas de sucesso são variáveis e vão de 60% a 100%; muitos pacientes acabam por ter algum nível de incontinência, mais frequentemente para gases do que para líquidos ou sólidos. Outros métodos de fechamento de fístulas no contexto de doença complexa incluem o uso de material biológico para promover o fechamento de fístulas sem divisão de qualquer músculo esfincteriano (cola de fibrina ou plug anal derivado do porco). Ambos os produtos promovem a cicatrização do trajeto através do fornecimento de uma matriz extracelular que serve como infraestrutura, permitindo o crescimento interno do tecido hospedeiro para incorporação e remodelação. A cola de fibrina contém fibrinogênio de plasma humano e trombina. A cola de fibrina é injetada para o interior do trajeto da fístula anal, começando na abertura interna e preenchendo o trajeto de dentro para fora. Uma revisão abrangente da literatura reportou que os resultados de sucesso com a cola de fibrina são variáveis e vão de 14% a 60%.32 O plug anal de fístula bioprotético também está disponível para servir de matriz ao crescimento interior do tecido e para obliterar o trajeto da fístula. É inserido no interior da fístula e depois fixado na abertura interna. A abertura externa é alargada e deixada aberta a fim de permitir a drenagem. Ao longo do tempo, o tecido irá crescer para o interior do tampão e substituir a matriz, obliterando o trajeto da fístula. Existem dados limitados sobre o sucesso dessa abordagem, mas a sua baixa morbidade e baixo risco tornam-na uma opção atrativa em pacientes com fístulas complexas. As fístulas altas ou outras fístulas persistentes podem ser tratadas com um retalho por avanço mucoso, constituído pela mucosa, submucosa e músculo circular para cobrir o orifício interno. https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595150461/epub/OEBPS/Text/B9788535288575000522.xhtml?favre=brett#bib0200
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