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Rio 21 de outubro de 2011 - Julian Chediak

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Rio, 21 de outubro de 2011 
Direito Societário I
Direitos e deveres dos acionistas
O que qualifica a figura do acionista é a titularidade da ação. De maneira geral, os autores qualificam o acionista como uma espécie do gênero sócio cuja condição se comprova por meio da titularidade da ação. A titularidade da ação, por sua vez, se verifica através do livro de registro de ações nominativas ou por meio do comprovante de depósito emitido pela instituição responsável pela custódia das ações. 
A natureza do usufruto é o direito real sobre coisa alheia, ou seja, é o direito de usufruir daquele bem. O usufruto é uma distinção da propriedade para aquele que vai ter o direito de usufruir aquele bem. O nu-proprietário é aquele que, proprietário do bem, alienou o direito de usufruir do bem à terceiro – o direito de propriedade permanece com o proprietário original, mas o direito usufruir do bem foi transferido. Assim, o nu-proprietário não perde a condição dele de acionista. Será o usufrutuário, porém, que irá receber dividendos, votar, etc.
A lei estabelece uma série de deveres ao acionista, estabelecendo também uma obrigação específica que para a maior parte da doutrina é a principal obrigação do acionista: integralizar o capital. São utilizados, nesse caso, ambos os termos - dever e obrigação, porque há uma distinção doutrinária entre os dois. Na obrigação, tem-se um sujeito passivo dessa obrigação, um sujeito a quem essa obrigação deve ser cumprida. Já o dever representa uma norma de conduta; ele deve ser observado independentemente de contra quem ele é exercido. Aquele que acaba de se tornar acionista assume a obrigação de integralizar o capital – a Companhia torna-se credora daquele acionista no montante subscrito, se tornando sujeito passivo objeto daquela obrigação.
No caso de subscrição com necessidade de aporte de capital, a lei determina que quando houver promessa de que seja feita em dinheiro, pelo menos 10% deve ser feito no momento da entrada. O boletim da subscrição deve conter todas as características a serem consideradas para a integralização. No entanto, a lei prevê no parágrafo 1º do artigo 106 a hipótese de omissão – em caso de omissão do boletim de subscrição e do estatuto, cabe à administração da Companhia deliberar a chamada de capital, ou seja, cabe a ela determinar o momento em que aquele recurso será necessário. A lei estabelece ainda que no caso da omissão do estatuto e do boletim, o prazo para a realização da integralização não poderá ser inferior a 30 dias. O artigo também dispõe que em caso de inadimplemento do acionista nas condições estabelecidas no boletim do estatuto, este acionista inadimplente fica sujeito ao pagamento de juros, multa e correção monetária. A Companhia pode dispor sobre o que pode ocorrer em caso de inadimplência definitiva: vender as ações daquele acionista remisso em leilão especial ou a possibilidade da Companhia promover ação de execução contra aquele acionista. A possibilidade de vender a ação em bolsa pode ocorrer, porém não é de forma genérica – é apenas em um leilão especial referente a essas ações (isso é o que indica a doutrina). Já no caso da Companhia fechada, muitos doutrinadores indicam que essa hipótese do leilão não existe – esse inciso se aplicaria somente à Companhia Aberta. Esse é o principal instrumento que a Companhia terá para realizar o capital em caso de inadimplemento. Existe também a possibilidade de cumular ambas as opções – realizar um leilão especial e, não conseguindo receber o valor mínimo devido, pode realizar posteriormente uma ação de execução. A lei estabelece, ainda, a nulidade de qualquer dispositivo do Estatuto Social que limite a opção da Companhia em buscar o seu crédito. A lei também trata da possibilidade da Companhia não conseguir ver integralizadas as ações através do exercício de qualquer das opções, indicando novos caminhos a serem percorridos: a Companhia pode declarar caduca aquela ação e buscar a integralização dela através da utilização dos lucros da Sociedade. Se a Sociedade não tiver lucro para isso, ela pode, em um ano, tentar colocar essas ações caídas em comisso – ou seja, ela tem um ano para tentar encontrar um comprador. Se isso não acontecer, a Assembléia irá deliberar a redução do capital do valor correspondente que foi prometido e não integralizado. 
O alienante de ações não-inteligralizadas é solidário ao adquirente no momento da aquisição do capital – e essa solidariedade perdura por dois anos após a transferência das ações. 
Existem também direitos essenciais ao acionista – estão citados no artigo 109. Esses são considerados essenciais porque todos os outros direitos derivam de sua aplicação. O próprio artigo determina que nem o Estatuto Social nem qualquer deliberação podem limitar os meios para a concepção desses direitos essenciais dos acionistas. São direitos essenciais os cinco incisos previstos nesse artigo. O direito de voto não está no artigo 109 – já que nem toda ação terá direito de voto. O direito de participar dos lucros é essencial, já que ele centraliza o exercício da atividade econômica. A mola propulsora da Companhia é o lucro. 
O direito aos lucros sociais, porém, é um direito genérico que não se confunde com o direito aos dividendos (apesar desse ser espécie daquele). O direito do acionista de que a Companhia apure os resultados e sobre eles delibere é o direito aos lucros sociais – apenas se esta deliberar que ocorreu lucro é que surge ao acionista um direito de crédito da Companhia com relação àquele dividendo declarado. O princípio geral é que havendo lucro e a possibilidade de distribuir dividendo, a Companhia deve distribuí-lo. Esse dever da Companhia em distribuir dividendo não é o mesmo dever da Companhia de pagar os dividendos já declarados – é uma diferença tênue que deve ser percebida. 
Existem hipóteses em que a Companhia obtém resultados positivos porém não os encaminha para distribuição de dividendo. A Companhia pode propor aos acionistas a retenção do dividendo para que a Companhia tenha recursos para fazer frente a uma eventual contingência. Por outro lado, se aquela contingência não se materializar, a Companhia tem obrigação de distribuir o valor retido anteriormente por conta de uma contingência que não se realizou – nesse caso, ela distribui como dividendo. 
O inciso II do artigo 109 trata do direito de participar do acervo da Companhia no caso de liquidação. Essa é uma hipótese específica em que é garantido ao acionista, uma vez pagos todos os credores sociais, participar, na proporção de sua participação no capital (em regra – podem existir também ações preferenciais com prioridade de reembolso), de participar do acervo que restar da Companhia. Nesse caso, uma vez pagos todos os credores sociais (inclusive os debenturistas – na ordem dada na aula passada, pela qualificação da debênture), o que permanecer será pagos aos acionistas. 
O inciso III do artigo 109 fala da fiscalização, pela forma prevista na lei. O direito de fiscalizar por si só é bastante genérico, e o exercício desse direito pode significar um engessamento muito grande da operação da Companhia. Sendo assim, o exercício do direito de fiscalizar um sócio em uma sociedade anônima é diferente do direito de fiscalizar do sócio em uma limitada, e mais ainda em uma sociedade simples. Em uma Companhia Aberta, deve existir, portanto, limitações a esse direito de fiscalização. A lei disciplina essa fiscalização ao falar das hipóteses de instalação do Conselho Fiscal ou quando estabelece que na AGO deve estar presentes os administradores da Companhia, momento em que é garantido ao acionista o direito de debater com a administração. Nem toda informação, porém, é de interesse do acionista na qualidade de acionista – além disso, existem ações sigilosas, confidenciais (mesmo porque o seu acionista pode ser acionista de uma concorrente também). 
Em seguida, o artigo 109 indica o direito de preferência, no inciso IV. Quando as debêntures são conversíveis, esse assunto em algum momento deve passar pela Assembléia,como vimos na aula anterior. O direito de preferência é um direito essencial e é de certa forma oriundo do direito de participação nos lucros sociais, porque em regra o porcentual de participação nos lucros da Companhia corresponde ao percentual da participação detida pelo acionista no capital social (exceto no caso de ações preferenciais). A questão da preferência visa resguardar a proporção da participação do acionista no capital social. Essa proporção é importante não apenas quanto aos lucros, mas sim para o exercício de muitos outros direitos previstos pela lei. Até o exercício de determinados direitos de fiscalização são exercidos a partir da proporção de participação no capital.
No inciso V tem-se o direito de retirar-se da sociedade nos casos previstos na lei das S.A. Nós já estudamos o direito de retirar-se da sociedade em determinados casos. A preocupação aqui é com o fato de que no momento em que o individuo se torna acionista subscrevendo as ações daquela sociedade, ele contratou com aquela sociedade de acordo com as regras vigentes naquele momento. Assim, ao subscrever a ação, ele sabia de antemão os direitos e deveres oriundos daquela subscrição. Por conta disso, a lei estabelece que caso ao longo da sociedade se alterem determinados conceitos com os quais ou pelos quais aquele acionista havia se motivado a contratar aquela sociedade, é dado o direito a esse acionista a retirar-se da sociedade. Um exemplo é a modificação do objeto social. O direito de retirada, porém, deve ser interpretado restritivamente – ele é uma exceção. Não é qualquer alteração que ensejará ao acionista a possibilidade de retirada. O direito de retirada é contra a Companhia, então existindo liquidez no mercado, basta que o acionista venda suas ações para que se retire da sociedade. A Assembléia pode se retratar de uma decisão para evitar o direito de retirada. 
O parágrafo 1º do artigo 109 indica que as ações de cada classe irão conferir iguais direitos aos seus titulares, não sendo possível distinguir acionistas detentores da mesma classe de ação. O parágrafo 2º, já comentado em aula, determina que os direitos essenciais dos acionistas não podem ser afastados pelo Estatuto ou por nenhuma outra deliberação. Já o parágrafo 3º, que surgiu em 2001, indica a possibilidade de o Estatuto prever a arbitragem para solucionar conflitos internos à Companhia.

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