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Programa de Recursos Humanos da ANP – PRH28/UFPE Departamento de Engenharia Química Universidade Federal de Pernambuco Versão 3.2 por Eduardo Luis Canedo UAEMa/UFCG Renate Maria Ramos Wellen DEMAT/UFPB Yêda Medeiros Bastos de Almeida DEQ/UFPE 2016 A compilação destas notas foi inspirada pelos meus queridos estudantes do curso de pós graduação em Engenharia Química da Universidade Federal de Pernambuco, Jokderléa Correa de Sousa, Salim Abdelnor Arruda e Juliana Cisneiros Lima. A eles estão dedicadas... ELC © 2016, Eduardo Luis Canedo, Renate Maria Ramos Wellen e Yêda Medeiros Bastos de Almeida. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma ou meio ou arquivada em qualquer banco de dados sem permissão escrita dos titulares do direito autoral. Contato: ecanedo2004@yahoo.com Citar como: Canedo, E.L; Wellen, R. M. R; Almeida, Y. M. B. Cristalização de Polímeros – Tratamento de Dados e Modelagem Macrocinética. ANP PRH-28/DEQ/UFPE, Recife, 2016. DOI: 0000000000000 mailto:ecanedo2004@yahoo.com Apresentação Estas notas discutem como analisar e correlacionar os dados fornecidos por calorimetria exploratória diferencial (DSC) sobre eventos de cristalização durante o tratamento térmico de amostras de resinas termoplásticas semicristalinas puras ou aditivadas, ou utilizadas como matrizes em blendas e compósitos. A origem microscópica (nucleação e crescimento cristalino) dos fenômenos macroscópicos detectáveis no DSC, assim como as consequências microestruturais dos mesmos não são consideradas. Estudantes de engenharia de materiais utilizam rotineiramente esta técnica de caracterização, mas usualmente não extraem toda a informação contida nos resultados experimentais obtidos. Nosso objetivo é melhorar essa situação. A premissa destas notas é que os dados experimentais brutos adquiridos com a técnica de DSC precisam ser tratados (analisados, correlacionados, modelados) antes de ser interpretados. O tratamento dos dados deve ser conduzido de forma rigorosa, com base nos princípios fundamentais da física, expressos na peculiar linguagem dessa disciplina: a matemática. A validade e pertinência das conclusões obtidas a partir de resultados experimentais dependem da etapa de análise dos dados, que é mais um elo – modesto, mas imprescindível – na cadeia que vai da medição à caracterização estrutural, ou ao desenho e controle de processos. Nosso objetivo nestas notas é contribuir para que – no que concerne à cristalização de polímeros estudada por DSC – o elo mais fraco da cadeia não seja o tratamento e correlação dos resultados experimentais. Exemplos detalhados incluídos nas notas – ocupam mais da metade do texto – ilustram a aplicação dos procedimentos discutidos em casos concretos extraídos de nossa prática. Resultados experimentais, atribuídos no texto a colegas pesquisadores e estudantes, foram reanalisados e correlacionados pelos autores destas notas. Opiniões que discordam da ortodoxia estabelecida na “literatura” de cristalização de polímeros são expressas às vezes no texto. Essas opiniões são da exclusiva responsabilidade dos autores. Seus muitos colaboradores são inocentes. Os pré-requisitos para o aproveitamento integral destas notas não se estendem além de noções elementares de ciência de polímeros, fenômenos de transporte e cálculo diferencial e integral. Eduardo L. Canedo, Renate, M. R. Wellen e Yêda Medeiros B. de Almeida Campina Grande/PB, João Pessoa/PB e Recife/PE Dezembro de 2016 Conteúdo 1. Introdução ....................................................................................................... 1 2. Tratamento de dados ...................................................................................... 7 2.1. Dados experimentais ...................................................................................... 7 2.2. Análise dos dados experimentais .................................................................. 10 2.3. Cristalinidade relativa e taxa de cristalização ............................................... 16 2.4. A linha de base sigmoide .............................................................................. 22 2.5. Calor latente de cristalização e cristalinidade ............................................... 25 2.6. Fusão ........................................................................................................... 28 Apêndice 1: Parâmetros termodinâmicos de fusão ............................................... 31 Exemplo 1 .......................................................................................................... 33 Exemplo 2 .......................................................................................................... 83 Exemplo 3 .......................................................................................................... 99 Exemplo 4 ........................................................................................................ 113 Exemplo 5 ........................................................................................................ 121 Exemplo 6 ........................................................................................................ 125 Exemplo 7 ........................................................................................................ 135 3. Cristalização isotérmica: modelo de Avrami .............................................. 141 3.1 O modelo ..................................................................................................... 141 3.2. Intervalo de validade e incerteza ................................................................. 142 3.3. Constante cinética e energia de ativação .................................................... 144 3.4. Expoente dependente da temperatura ........................................................ 148 3.5. Interpretação microscópica dos parâmetros de Avrami ............................... 149 3.6. Outros modelos .......................................................................................... 151 Exemplo 8 ........................................................................................................ 155 4.Cristalização não-isotérmica ....................................................................... 159 4.1. Pseudo-Avrami ........................................................................................... 159 Apêndice 2: Jeziorny e os epígonos .................................................................... 160 4.2. Modelos de Ozawa e de Mo ......................................................................... 163 4.2.1. Modelo de Ozawa ..................................................................................... 163 4.2.2. Modelo de Mo .......................................................................................... 167 Exemplo 9 ........................................................................................................ 169 Exemplo 10 ...................................................................................................... 173 Exemplo 11 ...................................................................................................... 181 Exemplo 12 ...................................................................................................... 189 4.3. Relação entre os modelos de Avrami e de Ozawa ........................................ 194 4.4. Relação entre os modelos de Mo, Ozawa e Pseudo-Arami ........................... 196 4.5. Forma diferencial dos modelos macrocinéticos ........................................... 199 4.5.1. Modelo Pseudo-Avrami ............................................................................199 4.5.2. Modelo de Ozawa ..................................................................................... 201 4.5.3. Modelo de Mo .......................................................................................... 203 4.6. Energia de ativação .................................................................................... 205 4.6.1. Conceito de energia de ativação ............................................................... 205 4.6.2. Energia de ativação e o modelo de Ozawa ................................................ 207 4.6.3. Método de Kissinger ................................................................................ 209 4.6.4. Método isoconversional (Friedman) .......................................................... 210 Exemplo 13 ...................................................................................................... 213 5. Software ....................................................................................................... 219 5.1. Programa INTEGRAL .................................................................................. 220 5.2. Programa INTERPOL .................................................................................. 228 Referências ...................................................................................................... 233 Apêndice. Nucleação e crescimento cristalino em materiais poliméricos a nível macromolecular (introdução aos modelos microcinéticos) .................... 243 Exemplos Exemplo 1. PET/PS (tratamento de dados – cristalização isotérmica) Exemplo 2. PET/ZnO (tratamento de dados – cristalização não isotérmica) Exemplo 3. PHB/babaçu (tratamento de dados – cristalização não isotérmica) Exemplo 4. PHB/babaçu (estabilidade da taxa de resfriamento) Exemplo 5. PET/ZnO (reprodutibilidade) Exemplo 6. PET/PS (separação de picos duplos) Exemplo 7. PBAT/PHB (blenda de polímeros semicristalinos) Exemplo 8. PET (modelagem: Avrami) Exemplo 9. PP (modelagem: Pseudo-Avrami) Exemplo 10. PET/ZnO (modelagem: Pseudo-Avrami) Exemplo 11. PET (modelagem: Ozawa) Exemplo 12. PET/ZnO (modelagem: Mo) Exemplo 13. PET (energia de ativação) 1 1. Introdução O presente trabalho foi elaborado como suporte para o curso de Estudo Dirigido sobre Cristalização de Polímeros no Departamento de Engenharia Química da Universidade Federal de Pernambuco (DEQ/UFPE) sob a direção das Professoras Yêda Almeida e Glória Vinhas nos anos 2014-2015. Boa parte do material foi apresentada nos Relatórios Técnicos correspondentes à bolsa de Desenvolvimento Científico Regional (DCR) no Instituto de Tecnologia de Pernambuco (ITEP) outorgada ao autor deste trabalho pelo CNPq/FACEPE no triênio 2013-2015 em colaboração com a Professora Renate Wellen. Neste trabalho se discute a aplicação dos modelos macrocinéticos clássicos mais conhecidos (Avrami, Ozawa, etc.) ao estudo da cristalização de polímeros por calorimetria exploratória diferencial (DSC). A cristalização a partir do estado sólido (amorfo) e a cristalização a partir do fundido são consideradas, em condições isotérmicas e não isotérmicas, com taxas de aquecimento/resfriamento constantes durante a mudança de fase. Os modelos são apresentados como expressões empíricas que tem como objetivo correlacionar os dados experimentais. Neste trabalho a teoria microcinética da cristalização de polímeros não é considerada em detalhe; uma discussão da mesma é incorporada como Apêndice. Parâmetros termodinâmicos e cinéticos derivados da análise e modelagem dos resultados macroscópicos dos testes de DSC não serão, portanto, interpretados em termos microscópicos, estruturais ou mecanísticos. Os modelos são definidos em termos da cristalinidade relativa x e da taxa de cristalização c, consideradas como resultados experimentais derivados das variáveis primárias fornecidas pelo instrumento (fluxo de energia entre a amostra e a vizinhança J e temperatura da amostra T como funções do tempo t ). A discussão dos modelos macrocinéticos de cristalização é precedida de uma consideração do tratamento dos dados experimentais brutos (J −T −t ) para gerar as variáveis dependentes utilizadas na modelagem (x e c ). Nesta parte a análise é estendida aos processos de fusão (além da cristalização). Apresenta-se então a análise dos dados de DSC para os processos de mudança de fase em sistemas poliméricos (resinas puras e aditivadas, blendas e compósitos de matriz polimérica): porém, não são consideradas as chamadas “transições de segunda ordem” (transição vítrea, etc.). Discute-se a estrutura dos picos exotérmicos e endotérmicos observáveis no DSC e uma série de parâmetros característicos (termodinâmicos e cinéticos) é avaliada para cada evento de mudança de fase, incluindo temperaturas e intervalos de tempo e temperatura de cristalização e fusão, taxas máximas e médias, calores latentes, cristalinidade, etc. Já na discussão dos modelos macrocinéticos de cristalização são considerados os procedimentos para avaliar os parâmetros dos modelos e as constantes cinéticas correspondentes. Dos modelos reportados na literatura apenas os mais utilizados na prática são discutidos em detalhe: o modelo de Avrami para cristalização 2 isotérmica e os modelos Pseudo-Avrami, de Ozawa e de Mo para cristalização não isotérmica. A relação entre o modelo de Avrami e de Ozawa é discutida em termos do “supermodelo” de Nakamura e procedimentos para avaliar a energia de ativação efetiva para o processo de cristalização (Kissinger, Friedman) são considerados. Os modelos considerados, não obstante a motivação “teórica” (i.e., microcinética) de alguns deles, são basicamente correlações empíricas dos resultados experimentais, desenvolvidos principalmente com o objetivo de predizer o desenvolvimento da cristalinidade e da taxa de cristalização no tempo. Nesse contexto, a medida em que os modelos representam os dados experimentais – isto é, a incerteza das predições baseadas nos modelos – e o intervalo de validade dos mesmos em casos particulares, são considerados em detalhe. Técnicas analíticas e preditivas baseadas na análise cinética “isoconversional” ou sem a utilização de modelos (model-free kinetics analysis) não são consideradas neste trabalho, dedicado principalmente aos modelos “clássicos” de cristalização de polímeros. O nível do tratamento da matéria é necessariamente elementar, mas métodos e conceitos são desenvolvidos e analisados rigorosamente. O assunto é apresentado em detalhe, mas o escopo do trabalho é limitado e focado nas necessidades das pesquisas em andamento em nossos grupos, especialmente no desenvolvimento de blendas e compósitos não convencionais de matrizes termoplásticas semicristalinas. Exemplos concretos são utilizados para ilustrar os procedimentos, tirados da experiência de nosso grupo ou de testes conduzidos especificamente para o presente projeto. Ainda que poucos conceitos ou métodos novos sejam apresentados neste trabalho, acreditamos que uma apresentação rigorosa e unificada da matéria com o nível de detalhe da presente é importante e não se encontra disponível na literatura. Este trabalho preenche, portanto, uma necessidade, e pode ser de utilidade no treinamento de novos pesquisadores em ciência e engenharia de materiais. No DSC, uma pequena amostra de material é submetida a um programa de temperatura e a energia (térmica) trocada entre a amostra e a vizinhança1 é monitorada em função do tempo. O instrumento fornece o valor da temperatura da amostra, que se assume uniforme e seguindo (aproximadamente) o programa de temperatura imposto, e o fluxo de energia como funções do tempo em forma contínua, monitoradas a intervalos uniformes de tempo. Durante um evento de cristalização a energia liberada pela amostra (calor latente de cristalização) aparece1 Na realidade, o DSC mede a diferença entre o fluxo de energia fornecido a amostra em questão e uma amostra de referência. Na configuração utilizada nos estudos de cristalização, a amostra de referência é ar ou um gás inerte (e.g., nitrogênio), com capacidade calorífica muito menor (mas do que 1000 vezes menor) do que a amostra polimérica. 3 como um pico exotérmico no sinal do DSC. Durante um evento de fusão a energia liberada pela amostra (calor latente de fusão) aparece como um pico endotérmico. Vários parâmetros associados ao processo de cristalização ou fusão (temperatura de cristalização/fusão, taxa de cristalização/fusão, calor latente de mudança de fase, etc.) podem ser avaliados através do estudo das curvas de DSC. Entre outros assuntos, é possível estudar a cinética do processo de cristalização ou fusão, isto é, a evolução da cristalinidade no tempo e sua dependência com as variáveis do processo. Os modernos DSC operam em um amplo intervalo de temperaturas, pressões e tamanhos de amostra, gerando resultados de alta precisão. Técnicas especializadas (e.g., modulação da temperatura) são utilizadas com crescente frequência. Neste trabalho só se analisam os procedimentos experimentais mais simples, de uso corrente nos laboratórios de ensino/pesquisa das instituições acadêmicas e nos laboratórios de controle de qualidade da indústria. Para isso é suficiente dispor de um instrumento que opere em temperaturas entre −50°C e 400°C, com taxas de aquecimento/resfriamento de até 50°C/min e utilizando amostras de 1 a 20 mg em cadinhos de alumínio descartáveis, abertos ou fechados. A cristalização dos polímeros nas condições prevalentes no DSC resulta em materiais policristalinos (técnicas especializadas são necessárias para obter monocristais e medir sua taxa de crescimento). Os dados fornecidos pelo DSC são grandezas macroscópicas e globais: referem-se a valores médios na amostra, não ao comportamento de cristais individuais e não distinguem os detalhes ou estágios do processo de nucleação e crescimento cristalino. A modelagem matemática da cinética de cristalização nessas condições é desenvolvida através de modelos macrocinéticos. Modelos microcinéticos são utilizados para estudar o fenômeno de cristalização no nível de cristais individuais, onde as taxas de nucleação (número de núcleos por unidade de tempo) e crescimento (velocidade de avanço da frente cristalina) podem ser expressas em termos das propriedades fundamentais das macromoléculas envolvidas e das condições operativas. Uma breve introdução à modelagem microcinética clássica (modelo analítico de Lauritzen e Hoffman) é considerada no Apêndice deste trabalho. Os modelos macrocinéticos considerados neste trabalho são essencialmente empíricos, ainda que muitos deles tenham sido sugeridos pela consideração dos mecanismos de cristalização a nível microscópico, e incluso derivados, através de uma série de suposições e aproximações, a partir dessas considerações. Os modelos macrocinéticos são analisados enquanto sua capacidade de representar os dados experimentais e julgados mais ou menos apropriados para correlacionar as variáveis macroscópicas de um sistema determinado com um dado nível de incerteza, num determinado intervalo de validade. Não são, portanto, corretos ou incorretos, nem pretendem – em princípio – explicar como ou porque o processo de cristalização se desenvolve a nível macromolecular. 4 Do ponto de vista macroscópico os processos de cristalização se classificam em dois tipos: • Cristalização isotérmica, conduzida à temperatura constante. • Cristalização não isotérmica, conduzida à temperatura variável no tempo. Para a cristalização não isotérmica define-se uma taxa de aquecimento ou resfriamento; a cristalização isotérmica pode ser considerada como um processo desenvolvido com taxa aquecimento/resfriamento nula. Neste trabalho só serão considerados os processos de cristalização conduzidos com taxa aquecimento/ resfriamento constante durante o evento de mudança de fase. Distinguimos: • Cristalização a partir do fundido (melt crystallization) durante o resfriamento da amostra. • Cristalização a frio (cold crystallization) ou cristalização a partir do estado sólido2, durante o aquecimento da amostra. Para cristalização isotérmica também é possível distinguir entre cristalização a frio e cristalização a partir do fundido. Obviamente, neste caso não se trata de cristalização durante aquecimento ou resfriamento (a temperatura é mantida constante). Porém, cabe assinalar que as condições de “temperatura constante” e “taxa de aquecimento ou resfriamento constante” são idealizações, mais ou menos realizáveis na prática. As fontes para o estudo da cristalização de sistemas poliméricos por calorimetria exploratória diferencial provem de duas áreas de conhecimento e pesquisa. Por uma parte, trabalhos focados em ciência de materiais, interessados principalmente nos mecanismos microcinéticos da cristalização e suas consequências na microestrutura (morfologia) do sistema. Exemplos típicos desta área de conhecimento são as obras de Schultz (2001) e Mandelkern (2002, 2004). Um tratamento atualizado, incluindo desenvolvimentos teóricos, simulações numéricas e técnicas experimentais mais recentes é a obra multi-autoral de Piorkowska & Rutledge (2013). Por outra parte, as obras dedicadas à análise térmica, com ênfase em instrumentação e análise de dados. Exemplos típicos recentes nesta área de conhecimento são os textos avançados de Menczel & Prime (2009) e Wunderlich (2010), e os volumes pertinentes do tratado de análise térmica editado por P. K. Gallagher (Brown, 1998; Cheng, 2002; Brown & Gallagher, 2008) e do handbook editado por J. E. Mark (2007). Vyzovkin (2015) apresenta um tratamento magistral dos métodos isoconversionais. Menção especial merecem as monografias práticas 2 Na literatura é comum qualificar a cristalização a frio como “cristalização a partir do estado vítreo” (glass crystallization por oposição a melt crystallization). Porém a cristalização de polímeros procede quase que exclusivamente a partir do estado amorfo “borrachoso”, a temperaturas acima do ponto de transição vítrea, condições em que a maior mobilidade das macromoléculas facilita o crescimento de cristais. 5 sobre o assunto (Ehrenstein et al, 2004; Wagner, 2010) que têm nos ajudado bastante nesta tarefa. Para a fundamentação metodológica da calorimetria exploratória diferencial – assunto que será desenvolvido neste trabalho – pode ser consultada a bibliografia especializada, por exemplo, Höhne et al. (2010). A bibliografia em português é muito limitada3. Temos utilizado também as normas técnicas (e.g., ASTM D 3417/3418, ASTM E 2070, ISO 11357) e os boletins e notas de aplicação difundidas pelos fabricantes de instrumentos; nesse sentido, os mini-artigos nas séries Thermal Analysis UserCom da Mettler Toledo e On-Set da Netzsch (disponíveis gratuitamente na Internet) tem sido de grande utilidade. Finalmente, cabe mencionar as compilações de dados disponíveis na Internet (e.g., ATHAS - Advanced Thermal Analysis System ) ou na forma mais tradicional de livro impresso (Brandrup et al, 1999; Mark, 1999). As clássicas monografias de Bicerano (2002) e Van Krevelen & Nijenhuis (2009) contém uma interessante seleção de dados experimentais e descrevem métodos para predizer as propriedades físicas dos polímeros a partir de sua estrutura química. 3 Por exemplo, o texto prático, Mothé & Azevedo, 2009, e um capítulo de livro, Machado & Matos, 2004. O texto introdutório de Akcelrud (2007) inclui um excelente capítulo dedicado ao assunto – de escopo limitado, devido ao caráter geral da obra. 6 7 2. Tratamento de dados 2.1. Dados experimentais O ponto de partida de nossa análise é a triade tempo-temperatura-fluxo de energia fornecida pelo DSC naforma de tabela numérica. Vamos assumir o equipamento calibrado corretamente e que o software do instrumento tem “limpado” (desmearing ) o sinal de acordo com os procedimentos de praxe4, e que as condições operacionais (massa de amostra, tipo de cadinho, tipo e fluxo do gás de purga, etc.) tenham sido escolhidas de acordo com as recomendações da boa prática (e das normas técnicas) para testes destinados ao estudo da mudança de fase (fusão, cristalização) de sistemas poliméricos termoplásticos semicristalinos (resinas puras e aditivada, blendas poliméricas, compósitos de matriz polimérica)5. O tempo (t ) é expresso usualmente em segundos ou minutos, medido desde o início do teste, onde t = 0, e registrado em intervalos constantes, tipicamente ∆t = 1 s ou fração. A temperatura da amostra (T ) é expressa em graus celsius (°C) e disponível com uma precisão de no mínimo ±0,01°C e uma exatidão de ±0,1°C em circunstâncias favoráveis. A taxa de variação da temperatura, dT/dt, corresponde à taxa de aquecimento (se positiva) ou resfriamento (se negativa); definimos, em geral: dT dt φ = (2-1) onde φ ≥ 0 é a taxa de aquecimento/resfriamento. O caso φ = 0 corresponde a um processo isotérmico; o caso φ > 0 a um processo não isotérmico. Para taxa aquecimento/resfriamento constante temos: ( )0 0T T t tφ= ± − (2-2) onde T0 = T(t0), sendo t0 é um tempo arbitrário, com o sinal positivo ou negativo de acordo com as circunstâncias (para um processo isotérmico T = T0). Os testes mais simples – os únicos que vamos considerar nestas notas – são divididos em estágios térmicos com taxa de aquecimento/resfriamento constante durante o estágio, mas que pode ser (e em geral, é) diferente em cada estágio. A taxa programada ou nominal, φnom, selecionada pelo operador como parte das condições operacionais, junto com a temperatura/tempo inicial e final do estágio, reflete a variação da temperatura de referência (um cadinho vazio do mesmo tipo do 4 Para uma discussão do pré-processamento (interno) do sinal do DSC consulte as obras especializadas, por exemplo: Höhne et al. (2010). 5 Uma discussão das condições operacionais apropriadas pode ser encontrada nos textos práticos citados na introdução: Ehrenstein et al (2004), Wagner (2010), etc. 8 utilizado para a amostra, no modelo mais comum de DSC). A temperatura da amostra é aproximadamente igual à temperatura de referência, mas apresenta pequenas, mas significativas, variações, especialmente durante os eventos de cristalização a partir do fundido (durante o resfriamento). Veja Exemplo 2. A taxa de aquecimento/resfriamento instantânea real pode ser avaliada a partir dos dados experimentais como uma função do tempo: 1 1 , 1, 2,..i ii T T i t φ + − − = = ∆ (2-3) O terceiro elemento da triade é o chamado fluxo de energia ou fluxo de calor6, que representamos com letra J. O fluxo é usualmente definido como a energia por unidade de tempo trocada entre a vizinhança (o DSC neste caso) e a amostra, medido geralmente em mW. De fato, a definição corresponde às variações da variável J, sendo dJ a energia por unidade de tempo trocada no intervalo de tempo entre t e t + dt. O valor absoluto de J não tem significado físico e depende da calibração do instrumento. A definição é válida dentro de um estágio com temperatura controlada (não necessariamente constante). O sinal da variação de J depende do sentido da troca de calor entre a amostra e vizinhança; isto é, se a energia térmica é transferida da vizinhança para a amostra ou vice-versa; no primeiro caso se trata de processos endotérmicos, no segundo caso de processos exotérmicos. Como o sinal de J é arbitrário, determinado pelas conexões internas do DSC, é costume indicar o sinal de ∆J mediante expressões do tipo “endo up” ou “exo up”. Neste trabalho utilizamos sempre a segunda convenção (exo up), significando que variações positivas ∆J > 0 correspondem à transferências de energia da amostra para a vizinhança; variações negativas ∆J < 0 correspondem a transferência de energia da vizinhança para a amostra. O fluxo de energia J é uma grandeza extensiva. Quando se comparam resultados de testes conduzidos com diferentes massas de amostra é conveniente considerar o fluxo de energia específica: ˆ S JJ m = (2-4) onde mS é a massa da amostra (em mg) e Ĵ fica expresso em mW/mg = W/g = kW/kg. Para o caso de compósitos ou blendas com polímeros não cristalizáveis nas condições do teste pode ser mais interessante considerar o fluxo de energia por 6 Em física o termo fluxo de calor é utilizado para indicar a energia térmica transferida por unidade de tempo e de área normal à direção da transferência, uma grandeza vetorial. Em português se utiliza o mesmo termo para o calor transferido por unidade de tempo – no sentido empregado nestas notas. Em inglês o primeiro é chamado heat flux e o segundo (nosso fluxo de calor) é chamado heat flow. 9 unidade de massa de polímero cristalizável, mP = wPmS, sendo wP a fração mássica de polímero cristalizável: ˆ P S JJ w m = (2-5) O intervalo do fluxo de energia depende das características do material e da massa da amostra, que em nosso caso varia entre 2 e 15 mg. Tipicamente ±1 mW por mg de amostra são fornecidos pelo instrumento com uma precisão de ±0,1 µW. Não é incomum na literatura representar o fluxo de calor como a variação da entalpia da amostra em relação ao tempo: dHJ dt = (2-6) Ainda que a Eq.(2-6) seja perfeitamente válida, preferimos utilizar diretamente o fluxo de calor como variável primária. Nestas notas consideramos o tempo e a temperatura como variáveis interdependentes, ligadas pela Eq.(2-2). O fluxo de energia é a variável dependente, que pode ser considerado tanto como função do tempo, J = J (t ), ou da temperatura, J = J (T ). Durante o aquecimento ou resfriamento de uma amostra polimérica onde não ocorrem transformações físicas ou químicas, mas a simples troca de calor sensível, regida pela capacidade calorífica (aproximadamente independente da temperatura) o traço de J versus t (ou T ) é uma linha aproximadamente reta. Muitas vezes – mas nem sempre – o software do instrumento “compensa” as variações devidas à troca de calor sensível e fornece uma reta horizontal, J = constante. Chamamos a essa reta linha de base. Neste trabalho estamos interessados no afastamento do fluxo da linha de base que acontece quando ocorre uma mudança de fase (cristalização ou fusão). Todos os processos de mudança de fase envolvem a troca de calor latente entre a amostra e a vizinhança7. Os processos de cristalização (seja a partir do sólido amorfo ou do polímero fundido) liberam o calor latente de cristalização (que é transferido da mostra para a vizinhança) e são, portanto, processos exotérmicos, caracterizados no DSC por uma variação positiva do fluxo de energia sob a convenção usual (exo up). Os processos de fusão da fração cristalina do polímero requerem que a vizinhança forneça o calor latente de fusão; são, portanto, processos endotérmicos, caracterizados no DSC por uma variação negativa do fluxo de energia na convenção usual. 7 Porém, não todos os desvios de J da linha de base se devem a mudanças de fase sólido/líquido. No caso de sistemas poliméricos devemos mencionar as mudanças de fase de segunda ordem (transição vítrea, polimorfismos) e as reações químicas (degradação, reticulação, etc). Nestas notas assumimos que os desvios da linha de base dentro do intervalo de temperaturas estudadas são devidos exclusivamente a cristalização e/ou a fusão parcial do(s) polímero(s) envolvido(s). 10 Do ponto de vista experimental o teste pode ser dividido em estágios de aquecimento, resfriamento ou temperatura constante. Os eventos de mudança de fase (cristalização ou fusão) se apresentam na forma de picos (simples ou complexos)no traço J versus t (ou J versus T ). A Figura 2-1 mostra um exemplo típico das curvas experimentais de temperatura e fluxo de energia versus tempo, no caso obtidas com uma amostra de PHB [poli(3-hidroxibutirato)], um termoplástico com cristalinidade de aproximadamente 50%. Figura 2-1. Output de DSC (PHB, massa da amostra: 5 mg, taxa de aquecimento/ resfriamento: 10°C/min) mostrando a temperatura (vermelho, escala na direita) e o fluxo de energia (azul, escala na esquerda) como funções do tempo. Fonte: P. B. Cipriano (2012). O teste envolve três estágios: aquecimento [1] da temperatura ambiente (~25°C) até 200°C, resfriamento [2] de volta até a temperatura ambiente, e reaquecimento novamente até 200°C; a taxa (nominal) de aquecimento/ resfriamento é mantida em 10°C/min durante todo o teste. Quatro eventos de mudança de fase podem ser identificados: fusão (F1) da fração cristalina, com pico duplo, durante o primeiro aquecimento, cristalização a partir do fundido (C1) durante o resfriamento, e cristalização a frio (C2) e segunda fusão (F2) durante o reaquecimento. 2.2. Análise dos dados experimentais A Figura 2-2 mostra um caso típico de cristalização a frio de PET [poli(etileno tereftalato)], no caso presente uma amostra substancialmente amorfa. Em processos não isotérmicos as representações em termos do tempo e da temperatura são equivalentes, sendo uma variável função linear da outra para taxa de aquecimento constante de acordo com a Eq.(2-2). Nos plots é possível identificar uma linha de base mais ou menos reta para t < t1 ≈ 265 s (T < T1 ≈ 108°C) e outra linha de base, também mais ou menos reta, para t > t2 ≈ 440 s (T > T2 ≈ 167°C). No intervalo de tempo 265-440 s (intervalo de 11 temperatura 108-167°C) observa-se um evento exotérmico, identificado com a cristalização (parcial) do polímero. O fluxo de energia J (t ) se afasta a linha de base para t > t1, atinge um máximo a tp = 316 s (Tp = 126°C) e se confunde novamente com a linha de base para t > t2; t1 e t2 são os tempos inicial e final do evento, T1 e T2 as temperaturas inicial e final, e Tp é a temperatura do pico de cristalização ou, simplesmente, a temperatura de cristalização, Tc ≡ Tp. (a) (b) Figura 2-2. Cristalização a frio de PET (massa da amostra: 7,5 mg, taxa de aquecimento: 20°C/min) mostrando o fluxo de energia como função do tempo (a) e da temperatura (b). Fonte: R. M. R. Wellen (2007). A determinação da temperatura do pico de cristalização é simples. A determinação precisa dos pontos inicial final do evento – os pontos onde o fluxo de energia J (t ) se afasta das linhas de base (retas) anterior e posterior ao evento, J1(t ) e J2(t ) – não é tão fácil. Ainda o software sofisticado da maioria dos instrumentos requer que os pontos inicial e final sejam determinados manualmente pelo operador, na base da observação visual (“a olho nu”) na tela do monitor (Figura 2-3). Consequentemente, a incerteza associada aos tempos e temperaturas limites de cristalização é bastante significativa. Parâmetros como o tempo de cristalização τmax = t2 – t1 e o intervalo de temperaturas de cristalização ∆Tc = |T2 – T1| só podem ser avaliados com incertezas apreciavelmente maiores que as associadas com outros parâmetros, como por exemplo, a temperatura do pico Tp. Isso tem motivado a procura de definições alternativas de tempos e temperaturas iniciais e finais; algumas dessas opções serão discutidas mais adiante. 12 Figura 2-3. Determinação dos pontos inicial e final, P1 e P2, do evento de cristalização do exemplo anterior. A linha azul, J(t ), é o fluxo de energia reportado pelo instrumento; as linhas vermelhas, J1(t ) e J2(t ), são a linhas de base retas anterior e posterior ao evento. A análise do processo de cristalização é baseada na identificação da energia trocada entre a amostra e a vizinhança, em excesso do valor correspondente ao calor sensível, com a energia liberada na cristalização: 0dE J J dt= − (2-7a) onde dE é o calor latente de cristalização liberado entre os tempos t e t + dt e J0 é o fluxo de energia que corresponde a troca de calor sensível no tempo t. A segunda premissa estabelece a proporcionalidade entre dE e a variação da cristalinidade da amostra dX: dE dX∝ (2-7b) A constante de proporcionalidade é uma propriedade do sistema, dependente da composição e da temperatura. A constante pode depender também da microestrutura (morfologia) do sistema, dependência desconsiderada em nosso tratamento do assunto. A Eq.(2-7a) apresenta o problema da avaliação de J0(t), a linha de base virtual durante o evento, t1 ≤ t ≤ t2. Efetivamente, durante esse intervalo de tempo não existe uma linha de base real; a linha de base virtual tem que ser construída por interpolação entre as linhas de base reais antes (t < t1) e depois (t > t2) do evento de cristalização. Quando as linhas de base anterior e posterior ao evento coincidem, a linha de base virtual é a continuação das mesmas, J0(t) = J1(t) = J2(t) para t1 < t < t2. Quando a coincidência é somente aproximada é prática comum estabelecer a linha de base virtual como a reta que une os pontos inicial e final do evento. O exemplo discutido 13 anteriormente é um caso típico de coincidência aproximada (Figura 2-4). A linha de base virtual reta pode ser utilizada quando a inclinação das linhas de base retas antes e depois do evento não diferem apreciavelmente. Lembrando que a inclinação da linha de base está associada à capacidade calorífica do material, podemos dizer que a aproximação linear à linha de base virtual é válida quando o processo de cristalização não muda apreciavelmente a capacidade calorífica; isto é, quando o calor específico do polímero amorfo é aproximadamente igual ao calor específico do polímero semicristalino. Figura 2-4. Linha de base virtual linear (linha vermelha pontilhada) durante o evento de cristalização do exemplo anterior. Porém, em alguns casos as inclinações das linhas de base anterior e posterior são suficientemente diferentes como para que a simples aproximação linear seja pouco recomendável. Esses casos requerem procedimentos de interpolação mais sofisticados, considerados na secção 2.4. Temos visto como a simples análise do traço do DSC durante o evento de cristalização permite determinar a localização e amplitude do evento através da temperatura de cristalização (Tc ≡ Tc ) e dos intervalos (máximos) de temperatura (∆Tc ) e tempo (τmax). A escolha de uma linha base virtual permite avaliar outros parâmetro de interesse, como a altura do pico Jp = |J (tp) – J0(tp)| e a largura do pico determinada à metade da altura ∆t½ = ∆t1 + ∆t2 (Figura 2-5) conhecida na literatura como FWHH (full width at half height) e expressa em termos da temperatura ∆T½ = φ∆t½ em testes não isotérmicos. 14 Figura 2-5. Construção para a avaliação da altura do pico de cristalização ∆Jp e a largura do pico a meia-altura ∆t½. Mesmo sistema e condições do exemplo anterior. A razão das larguras ξ½ = ∆t2/∆t1 é uma medida da assimetria do pico8. Tanto ∆t½ como ξ½ são determinadas na região central do pico, fora da zona de influência das “caudas”. A incerteza desses parâmetros é provavelmente menor que a incerteza dos intervalos medidos nos extremos das caudas. No exemplo apresentado na Figura 2-5 se obtém ∆Jp = 5,065 mW, ou ∆Jp/mS = 0,645 W/g. A largura a meia altura resulta ser ∆t½ = 37,5 s ou ∆T½ = φ∆t½ = 12,5°C; compare com τmax ≈ 175 s e ∆Tc ≈ 59°C avaliados anteriormente, incluindo as caudas. O pico é significativamente assimétrico, ainda tirando as caudas: ξ½ = 1,5. Outros parâmetros frequentemente reportados na literatura e favorecidos pelas normas técnicas (ASTM D3418, ISO 11357)9 são os chamados pontos extremos extrapolados. A extrapolação em questão é implementada através das tangentes à curva do fluxo de energia traçados nos pontos de inflexão que precedem e seguem ao pico. A intersecção das retas tangentes coma linha de base virtual determinam os pontos inicial e final extrapolados. A Figura 2-6 mostra um exemplo de avaliação da temperatura inicial extrapolada, T1(ex) = 117,4°C. Um procedimento semelhante pode ser utilizado para avaliar a temperatura final extrapolada. 8 O parâmetro ξ½ pode ser avaliado também com as diferenças de temperatura. Porém, para cristalização a partir do fundido (durante o resfriamento) leve em consideração que T1 < T2; caso contrário o valor de ξ½ será inverso do obtido com as diferenças de tempo. 9 Um resumo destas e outras normas técnicas relevantes são encontrados em Ehrenstein et al (2004). 15 Figura 2-6. Construção para a avaliação da temperatura inicial extrapolada no teste do exemplo anterior. A curva azul inteira corresponde ao fluxo de energia como função da temperatura J (T ) e a reta azul tracejada à linha de base virtual J0(T ). P1 é o ponto inicial do evento e PX1 é o primeiro ponto de inflexão da curva J (T ). A reta vermelha é a tangente a J(T ) no ponto de PX1. O ponto vermelho é o “ponto inicial extrapolado”. Às vezes, a inclinação da reta tangente é considerada como indicativo da taxa de cristalização10. Esta identificação é – em nossa opinião – completamente errada. O fluxo de energia não é proporcional à cristalinidade relativa e, portanto, a inclinação da curva não é proporcional à sua taxa de variação. Como veremos na seção 2.3, o fluxo de energia – em excesso da linha de base – é diretamente proporcional à taxa de cristalização. Portanto, sua inclinação é proporcional à taxa de variação da taxa de cristalização (a segunda derivada da cristalinidade relativa em relação ao tempo). Esse parâmetro pode, ou não, ser de interesse em algum caso, mas com certeza não é um indicativo da taxa de cristalização11. A temperatura correspondente ao ponto de intersecção das tangentes (Figura 2-7) é um substituto da temperatura do pico de cristalização; a temperatura pico extrapolada é considerado mais reprodutível12. No caso do exemplo, Tp(ex) = 125,3°C (compare com Tp = 126,1°C). 10 Por exemplo, H. N. Beck & H. D. Ledbetter (1965), citado por C. Chen et al. (2002). 11 Nos capítulos 3 e 4 utilizamos a derivada da taxa na determinação do seu valor máximo. 12 Wagner (2010). 16 Figura 2-7. Construção para a avaliação da temperatura do pico extrapolada no teste do exemplo anterior. A curva azul corresponde ao fluxo de energia como função da temperatura J (T ) e a retas vermelhas são as tangentes a J (T ) nos pontos de inflexão PX1 e PX2. O ponto vermelho corresponde ao “pico extrapolado”. Cabe assinalar que os valores extrapolados não tem significado físico em sistemas poliméricos (Menzel & Prime, 2008). Seu uso é justificado por serem – supostamente – mais reprodutíveis (e independentes das caudas) que outros parâmetros equivalentes. Valores extrapolados fazem sentido na análise térmica de substâncias “puras” com pontos de fusão e cristalização bem definidos, onde as caudas podem ser atribuídas principalmente à contaminação das amostras ou à inercia térmica do instrumento13. 2.3. Cristalinidade relativa e taxa de cristalização A integração da Eq.(2-5) entre o tempo inicial da cristalização t1 e um tempo arbitrário t, t1 < t < t2, resulta na energia liberada durante a mudança de fase do material que cristalizou entre t1 e t: 1 0( ) ( ) ( ) t t E t J t J t dt′ ′ ′= −∫ (2-8) A energia total liberada durante o todo o evento é: 13 As normas falam da extrapolação do “segmento reto” da curva do fluxo de calor, inexistente no caso de polímeros. Faltando o tal “segmento reto”, recomenda-se utilizar a tangente no ponto de inflexão. A determinação precisa da inclinação da tangente no ponto de inflexão requerida para obter valores extrapolados confiáveis é bastante difícil na presença de erro experimental significativo. Um procedimento prático e simples envolve ajustar os dados em torno do possível ponto de inflexão com um polinômio de terceiro grau (função que, em geral, possui um e só um ponto de inflexão); a partir dos coeficientes do polinômio obtidos por regressão multilinear é possível obter a equação da reta tangente. 17 2 1 0 0( ) ( ) t t E J t J t dt= −∫ (2-9) Observe que E0 é a área sob o pico de cristalização ou, mais precisamente, a área entre a curva do fluxo de energia e a linha de base virtual durante o evento de cristalização. Se assumirmos que a energia liberada é proporcional à massa transformada do estado amorfo ao estado cristalino, podemos definir a fração transformada entre o tempo inicial t1 e o tempo t : 1 0 0 0 ( ) 1( ) ( ) ( ) t t E tx t J t J t dt E E ′ ′ ′= = −∫ (2-10) A nova variável x = x(t) é conhecida como cristalinidade relativa ou fracionária, devido à energia ser proporcional à variação da fração mássica de material cristalino na amostra ou cristalinidade “absoluta” X: 1 2 1 ( )( ) X t Xx t X X − = − (2-11) onde X1 e X2 são as cristalinidades inicial e final. Tanto x quanto X são frações mássicas (adimensionais), frequentemente expressas como percentagens. Enquanto X descreve o material em geral, x corresponde à transformação que ocorre durante um evento específico; x(t) é uma função estritamente crescente do tempo, que varia ente x = 0 para t = t1 e x = 1 para t = t2 (Figura 2-8a). O processo de cristalização é uma transformação física, mas às vezes pode ser conveniente utilizar a terminologia das reações químicas, e falar de reagentes e produtos, sendo cristalinidade relativa equivalente à conversão. Para processos não isotérmicos é possível representar a cristalinidade relativa como função da temperatura (Figura 2-8b): crescente para a cristalização a frio, durante o aquecimento, e decrescente para a cristalização a partir do fundido, durante o resfriamento. É conveniente, a partir deste ponto, medir o tempo a partir do início do evento, definindo um tempo relativo: 1t tτ = − (2-12) A nova variável independente varia entre τ = 0 no início do evento e τmax = t2 − t1 no final do evento. 18 (a) (b) Figura 2-8. Cristalinidade relativa como função do tempo (a) e da temperatura (b) para cristalização a frio de PET (massa da amostra: 7,5 mg, taxa de aquecimento: 20°C/min). Na literatura, a cristalinidade relativa é frequentemente expressa como a razão entre duas integrais da temperatura: 2 1 1 0 0( ) ( ) ( ) ( ) ( ) T T T T x T J T J T dT J T J T dT ′ ′ ′ ′ ′ ′= − − ∫ ∫ (2-13) Ainda que o procedimento seja correto para processos não isotérmicos que procedem a taxa de aquecimento/resfriamento constante, fica limitado a essas condições. No entanto, a Eq.(2-10) é válida para cristalização isotérmica e não isotérmica, e não requer a constância da taxa de aquecimento/resfriamento. Em princípio, as integrais das equações (2-8) e (2-9) são obtidas numericamente. Usualmente os intervalos de tempo ∆t são suficientemente pequenos em relação ao tempo de cristalização total τmax e J (τ ) é suficientemente suave como para permitir o uso de algoritmos simples (e.g., a “regra de Simpson”). O uso do programa INTEGRAL desenvolvido especialmente para isso é descrito na seção 4.7. A avaliação de função14 x(τ ) abre interessantes possibilidades. Como J(0) = J0(0), a taxa de cristalização c(τ ), obtida diferenciando a Eq.(2-10), é diretamente proporcional a |J – J0|: 0 0 ( ) ( ) ( ) J Jdxc d E τ τ τ τ − ≡ = (2-14) 14 A cristalinidade relativa e outras variáveis dependentes podem ser consideradas como funções do tempo t, do tempo relativo τ ou, para processos não isotérmicos, da temperatura T. O mesmo símbolo é utilizado; o contexto indica a variável independente. 19 A taxa “instantânea” de cristalização, expressa em unidades de tempo recíproco (s−1 ou min−1)não é nada mais que o pico de cristalização, com linha de base retificada e normalizado com área sob o mesmo (Figura 2-9). Observa-se que a cristalinidade relativa e a taxa de cristalização são formalmente independentes da massa da amostra. (a) (b) Figura 2-9. Taxa de cristalização como função do tempo (a) e da temperatura (b). Mesmo sistema e condições do exemplo anterior. A partir do plot de c versus τ (ou T ) é possível avaliar a taxa máxima de cristalização cmax = c (Tc ); a temperatura (pico) de cristalização é justamente a temperatura em que a taxa é máxima (Figura 2-9). No exemplo da Figura 2-10 cmax = 1,36 min−1 a Tc = 126°C. A taxa média de cristalização no intervalo de cristalinidade relativa xa-xb é definida como: b aab b a x xc τ τ − = − (2-15) onde τa e τb são os tempos em que em que cristalinidade relativa atinge os valores xa e xb, respectivamente. A escolha de a e b é arbitrária, mas intervalos simétricos parecem ser preferíveis. Por exemplo, é possível definir a taxa média central em que cristaliza 50% do polímero cristalizável, entre 25% e 75% de cristalinidade relativa: 20 80% 80% 20% 0,6c τ τ− = − (2-16a) e uma taxa média global em que cristaliza 99% do polímero cristalizável, entre 0,5% e 99,5% de cristalinidade relativa: 20 1 99% 99% 1% 0,98c τ τ− = − (2-16b) Figura 2-10. Construção para a avaliação da taxa máxima de cristalização cmax a Tc. Mesmo sistema e condições do exemplo anterior. Os tempos necessários para avaliar as taxas médias são facilmente estimados no plot de x versus τ (Figura 2-11a). Na literatura é frequentemente citado o tempo mediano de cristalização (crystallization half-time) τ½ como o tempo (relativo) em que a cristalinidade relativa atinge 50%15; τ½ é inversamente proporcional à taxa média de cristalização no intervalo 0-50%: 0 50% ½ 0,5c τ− = (2-17) Além disso, ξ = (τmax − τ½)/τ½ é outra medida da assimetria do evento, equivalente ao parâmetro ξ½ definido anteriormente, mas levando em consideração as caudas. 15 A preferência de τ½ sobre τmax como parâmetro cinético pode ser relacionada ao fato dos modelos microcinéticos simplificados ser aplicáveis preferentemente nas condições iniciais, onde a interação entre cristalitos crescentes é mínima, e o processo de cristalização pode ser assimilado ao crescimento de cristalitos isolados, livres de impedimentos. 21 (a) (b) Figura 2-11. Construção para a avaliação de tempos (a) e temperaturas (b) em que a cristalinidade relativa atinge valores determinados. Mesmo sistema e condições do exemplo anterior. Na análise de dados de eventos de cristalização não isotérmica é muitas vezes conveniente dispor de uma estimativa da temperatura inicial e final do processo de mudança de fase. Os valores da “verdadeira” temperatura inicial e final – os pontos em que a curva J(T ) se separa das linhas de bases anterior e posterior, J1(T ) e J2(T ) – sofrem da incerteza associada a sua determinação visual, que pode ser relativamente elevada no caso em que os dados envolvam erro experimental aleatório significativo. Temos arguido que as temperaturas inicial e final extrapoladas não tem muita relevância. Propomos então a utilização de medidas alternativas: T0,1% e T99,9% (ou T1% ou T99%) que podem ser avaliadas no plot de x versus T (Figura 2-11b). Intervalo de cristalização corrigidos, mais confiáveis que o intervalo bruto definido anteriormente são ∆T 'c = |T99,9% – T0,1%| ou ∆T"c = |T99% – T1%|. A temperatura em que 50% do material cristalizável é efetivamente transformado, T50%, é um parâmetro de localização alternativo, possivelmente mais representativo que a temperatura do pico de cristalização Tc. Favorecemos a utilização de T50%, ainda que reconheçamos que será difícil desbancar a temperatura do pico do lugar de privilégio que ocupa na literatura. A temperatura do pico deve ser avaliada preferentemente no plot retificado, c = c(T ), não no plot dos dados brutos, J = J (T ); na maior parte dos casos as diferenças são nulas ou desprezíveis, mas quando as linhas de base são muito inclinadas, a escolha pode fazer diferença (e nesse caso, a medida no plot retificado é a correta). Existem casos – bem mais comuns do que pode parecer, como veremos no decorrer destas notas – em que T50% é uma escolha bem melhor que Tc: os picos de cristalização complexos, que envolvem picos múltiplos, explícitos ou implícitos, estes últimos visualizados na forma de “ombros” (shoulders). A Figura 2-12 mostra 22 o resultado de um teste de cristalização não isotérmica a frio (durante o aquecimento) de uma blenda de PET com 5% de poliestireno (PS). Observam-se dois picos de cristalização bem definidos, com máximos a 134,2°C e 149,3°C; ambos os picos correspondem à cristalização do PET (o PS utilizado é um polímero completamente amorfo). Veja o Exemplo 3 para uma discussão do assunto. Figura 2-12. Fluxo de energia versus temperatura durante a cristalização a frio da blenda PET/PS com 5% (em massa) de PS aquecido a 10°C/min, mostrando a temperatura inicial e final do evento e a linha de base virtual reta (linha de traços). A coleção de parâmetros descritivos da “anatomia” do pico de cristalização discutidos nesta secção foi introduzida com o intuito de apresentar um tratamento mais completo do assunto; seu uso pode ser justificável como parâmetros de controle de qualidade, mas sua validade na caracterização do processo de cristalização é duvidosa. 2.4. A linha de base sigmoide Ainda que a linha de base virtual reta seja uma solução aceitável em muitos casos, existem circunstâncias em que a disparidade entre as linhas base reais anterior e posterior ao evento requer uma interpolação mais sofisticada entre as mesmas. Uma interpolação razoável deve preservar a continuidade da linha de base e de sua derivada nos pontos extremos. Estas restrições definem um polinômio de terceiro grau (tecnicamente: um spline cúbico) como possível forma funcional para a linha de base virtual. O procedimento, puramente empírico, é aceitável quando as fontes da defasagem entre as linhas virtuais reais são desconhecidas. Um procedimento mais satisfatório pode ser desenvolvido para o caso em que linha de base depende só da capacidade calorífica do material. Chamando c1 à capacidade calorífica (calor específico vezes a massa da amostra) do material antes do evento (T < T1) e c2 à capacidade calorífica do material depois do evento (T > T2), as linhas de base anterior e posterior podem ser expressas como: 23 1 1 2 2 ( ) ( ) ( ) ( ) A A A A J T J c T T J T J c T T = + − = + − (2-18) onde TA é a temperatura em que a linha de base anterior intersecta a linha de base posterior (o ponto de cruzamento existe porque as retas não são paralelas, desde que c1 ≠ c2); JA é o fluxo de energia nesse ponto, JA = J1(TA) = J2(TA). Sendo a cristalinidade relativa x = x(T ) a fração (mássica) de material transformado à temperatura T (compreendida entre a temperatura inicial T1 e a temperatura final T2 do evento) temos que x(T1) = 0 e x (T2) = 1. Multiplicando a Eq.(2-18a) pela fração mássica de material que ainda não foi transformado (1 – x) e a Eq.(2-18b) pela fração mássica de material que já foi transformado x, e somando os resultados, obtemos: [ ]1 2 1 2(1 ) ( ) ( ) (1 ) ( )A Ax J T xJ T J x c xc T T− + = + − + − (2-19) Mas o termo entre colchetes é justamente a capacidade calorífica c do material parcialmente transformado à temperatura T. Portanto, definimos: 0 ( ) ( ) ( )A AJ T J c x T T= + ⋅ − (2-20) ou 0 1 2( ) (1 ) ( ) ( )J T x J T xJ T= − + (2-21) como a linha de base virtual no intervalo T1 ≤ T ≤ T2. Para situações em que a taxa de aquecimento/resfriamento durante o evento for constante é válida uma expressão semelhante em termos do tempo. Esta linha de base interpolada é conhecida como linha de base sigmoide (Menczel &Prime, 2008) porque às vezes adota essa forma. O uso da Eq.(2-21) requer o conhecimento de x(T ). Mas a cristalinidade relativa requer uma linha de base virtual J0(T ). Portanto, linha de base virtual e cristalinidade relativa tem ser avaliadas simultaneamente. Um procedimento iterativo resolve a questão; por exemplo: • Uma primeira aproximação à cristalinidade relativa x[1] é obtida integrando o fluxo de energia com a linha de base reta J0[0], a “aproximação zero” à linha de base. • Utilizando x[1] computa-se uma primeira aproximação J0[1] à linha de base virtual através da Eq.(2-21). • Com a linha de base J0[1] avalia-se uma segunda aproximação à cristalinidade relativa x[2] utilizando a Eq.(2-10). E assim seguindo, até que duas iterações sucessivas resultem em valores que defiram em menos do que um limite de tolerância preestabelecido. Do ponto de vista prático a convergência pode ser verificada em forma integral, através da 24 avaliação sucessiva de E0, a área entre J e J0, Eq.(2-9). A experiência indica que apenas três ou quatro iterações são necessárias. A Figura 2-12 mostra um exemplo particularmente expressivo, a cristalização a frio de PET a taxa de aquecimento de 3,5°C/min após um aquecimento rápido da temperatura ambiente até 80°C. Neste caso a energia liberada durante o evento, atribuível ao calor latente de cristalização, é avaliada em E0 = 85,7 mJ utilizando a linha de base sigmoide; com a linha de base reta teria se obtido E0 = 180,6 mJ, mais do dobro! O efeito sobre a cristalinidade relativa e a taxa de cristalização, as funções básicas utilizadas para a modelagem cinética é também significativa (Figura 2-14). Figura 2-13. Linha de base sigmoide para a cristalização não isotérmica do PET a 3,5°C/min (massa da amostra: 5,5 mg). A curva azul inteira corresponde ao fluxo de energia como função do tempo J (t ) e a reta azul de traços à linha de base virtual reta J0[0 ] P1 é o ponto inicial do evento e P2 é o ponto final. As retas vermelhas correspondem às linhas de base anterior e posterior J1e J2. A curva lilás é a linha de base sigmoide J0[3 ] obtida após três iterações. Fonte: R. M. R. Wellen (2007). (a) (b) Figura 2-14. Efeito da escolha de linha de base virtual sobre a cristalinidade relativa (a) e a taxa de cristalização (b). Mesmo sistema e condições do exemplo anterior. 25 2.5. Calor latente de cristalização e cristalinidade O calor latente de cristalização por unidade de massa ou entalpia específica de cristalização é simplesmente: 0c S EH m ∆ = (2-22) onde mS é a massa da amostra. Para compósitos ou blendas com polímeros não cristalizáveis nas condições do teste deve-se substituir a massa de polímero cristalizável mP = wPmS, sendo wP a fração mássica de polímero cristalizável: 0c P S EH w m ∆ = (2-23) ∆Hc é expresso em mJ/mg = J/g = kJ/kg. O calor latente está relacionado com a variação de cristalinidade durante o evento: 2 1 0 c c m HX X X H ∆ ∆ = − = ∆ (2-24) onde X1 é a cristalinidade da amostra antes do evento, X2 é a cristalinidade depois do evento e ∆Hm° é o calor latente de fusão do polímero 100% cristalino. A cristalinidade Xc (às vezes referida como cristalinidade absoluta, em oposição à cristalinidade relativa antes definida) é definida como a fração mássica de polímero semicristalino que encontra na fase sólida cristalina; Xc = 0 implica o polímero completamente amorfo (sólido vítreo ou borrachoso, ou “líquido” fundido) e Xc = 1 indica o polímero completamente cristalino; amostras macroscópicas não atingem perfeita cristalinidade e a presença de regiões amorfas, intrínsecas na estrutura macromolecular, resulta em Xc < 1 para todos os polímeros industriais. Alguns polímeros semicristalinos (por exemplo, poliésteres) podem ser obtidos em forma “substancialmente” amorfa quando resfriados rapidamente (quenched) a partir do fundido. Porém, uma pequena cristalinidade residual é inevitável na maioria dos casos. A cristalinidade residual é frequentemente desconsiderada e não é incomum ver na literatura a Eq.(2-23) reduzida a: 0 c c m HX H ∆ = ∆ (2-25) A Eq.(2-25) expressa mais a ignorância de X1 do que a convicção de que X1 ≈ 0. A técnica de DSC só permite medir diferenças de cristalinidade. Portanto, a análise de eventos isolados de cristalização não permite avaliar X2 e X1 separadamente. Porém, a análise combinada de eventos de cristalização com eventos de fusão (onde a suposição de cristalinidade final nula é mais justificável) permite estimar a cristalinidade residual das amostras “substancialmente” amorfas. 26 O ∆Hm° é geralmente determinado utilizando técnicas microcalorimétricas com monocristais em equilíbrio com o fundido ou é extrapolado a partir de valores determinados experimentalmente a taxas finitas. Valores bastante diferentes são regularmente reportados na literatura para o mesmo polímero16. Por esse motivo, é recomendável utilizar dados tomados de compilações críticas recentes; a seleção dos valores mais confiáveis é tarefa de especialistas. Normalmente o calor latente de fusão do polímero 100% cristalino é reportado à temperatura de fusão de equilíbrio Tm° (superior à temperatura de fusão ordinária medida em amostras semicristalinas imperfeitas e taxas finitas). O calor latente de mudança de fase depende da temperatura. Ainda que o processo de cristalização se desenvolva ao longo de um intervalo de temperaturas, é prática atribuir a mudança de fase à temperatura de cristalização Tc. Portanto ∆Hc é associado ao calor latente de cristalização a Tc. Para utilizar as equações (2-24) ou (2-25) é necessário avaliar o calor latente de fusão do material completamente cristalino ∆Hm° à mesma temperatura, sendo que os valores tabulados correspondem à temperatura Tm°, geralmente muito maior que Tc. Como ∆Hm° envolve a mudança de fase de um polímero sólido 100% cristalino para obter um polímero fundido 100% amorfo, é possível utilizar a relação termodinâmica: [ ] 0 0 0 0 ( ) ( ) m c m c T m m am crT T T H H c T c T dT∆ = ∆ − −∫ (2-26) onde cam e ccr são os calores específicos da fase amorfa e da fase cristalina, respectivamente. Se os calores específicos podem ser considerados independentes da temperatura (como é caso quando a diferença de temperaturas Tm° − Tc é relativamente pequena) a Eq.(2-26) fica: ( )00 0 0 c m m m m cT T H H c T T∆ = ∆ − ∆ − (2-27) onde ∆c = cam − cc. Se os calores específicos são considerados como funções lineares da temperatura: ( ) ( ) 0 0 1 1 am am am R cr cr cr R c c T T c c T T β β = + − = + − (2-28) onde cam° = cam(TR), ccr° = ccr(TR) e TR é uma temperatura de referência, usualmente 25°C; βam e βcr são coeficientes da ordem 10−3 °C−1. Substituindo na Eq.(2-26) e integrando 16 Por exemplo, valores entre 128 e 166 kJ/kg tem sido reportados na literatura para o calor latente de fusão do PET completamente cristalino; o valor mais confiável, recomendado na última edição do Polymer Handbook (Brandrup et al., 1999), é ∆Hm° = 140 ± 5 kJ/kg. Veja também Mark (1999) e Van Krevelen & Nijenhuis (2009). Para os valores extremos veja Kirshenbaum (1965) e Illers (1980). 27 ( ) ( )00 0 0 0 0121 2 c m m m m c m c RT T H H c T T K T T T ∆ = ∆ − ∆ − − + − (2-29) onde ∆c° =cam° − ccr° e 0 0 0 cr cr am amc cK c β β− = ∆ (2-30) Por exemplo, para o PET temos cam° = 1,55 J/g°C e ccr° = 1,15 J/g°C a TR = 25°C; isto é, ∆c°= 0,40 kJ/kg°C. Utilizando os coeficientes “genéricos” de temperatura, βam = 0,0012 °C−1 e βcr = 0,0030 °C−1 (Van Krevelen & Nijenhuis, 2009), temos, de acordo com a Eq.(2-30), K ≈ 4,0·10−3 °C−1. Levando em consideração que Tm° = 280°C, a Figura 2-15 mostra a correção do calor latente de ∆Hm°(Tm°) − ∆Hm°(Tc) como função da temperatura de cristalização Tc. A correção é significativa para todos os valores de Tc; na zona típica de cristalização a frio (100 a 140°C)a correção diminui o valor de ∆Hm° para 50 a 60% de seu valor à temperatura de fusão de equilíbrio. Portanto, a correção por temperatura não é refinamento, mas parte essencial da avaliação da cristalinidade, e justifica um estudo mais apurado das capacidades caloríficas das fases. Figura 2-15. Correção do calor latente de fusão do PET 100% cristalino pela diferença entre temperatura de fusão de equilíbrio e temperatura de cristalização. Linha cheia: calores específicos dependentes da temperatura; linha tracejada: calores específicos independentes da temperatura (valores a 25°C utilizados no cálculo). Temos discutido até agora a cristalinidade mássica (a massa de polímero cristalino por unidade de massa total). Porém muitos desenvolvimentos teóricos estão baseados na cristalinidade volumétrica (o volume de polímero cristalino por unidade de volume total). A relação entre as duas cristalinidades é a mesma que a relação entre frações mássicas e volumétricas, baseada na aditividade dos volumes específicos: 28 1 11 c crv c am XX X ρ ρ − − = + ⋅ (2-31) onde Xv e Xc são as cristalinidades volumétrica e mássica, e ρam e ρcr são as densidades da fase amorfa e cristalina, respectivamente. As densidades dependem da temperatura, mas a dependência bem menor que no caso dos calores específicos e pode ser desconsiderada em primeira aproximação. No caso do PET temos ρam = 1,35 g/cm3 e ρcr = 1,50 g/cm3 a 25°C, e ρam = 1,20 g/cm3 e ρcr = 1,40 g/cm3 a 250°C (Van Krevelen & Nijenhuis, 2009); a fração volumétrica é 10 a 15% inferior à fração mássica. O caso de copolímero e blendas miscíveis ou imiscíveis é amplamente estudado na literatura técnica17 e não faz parte do escopo de nosso tratamento introdutório. Às vezes é impossível distinguir os picos de cristalização dos componentes de blendas imiscíveis com mais de um polímero cristalizável. Nesse caso, o evento de cristalização deve ser analisado com base no valor médio de ∆Hm. O exemplo 7 considera um caso. 2.6. Fusão Os eventos de fusão podem ser analisados com os mesmos procedimentos utilizados na análise dos eventos de cristalização. As equações (2-10) e (2-14) que definem a fração cristalizada (cristalinidade relativa) x e a taxa de cristalização c são válidas para o processo de fusão, mas agora x é a fração fundida e c é a taxa de fusão. Tempos, temperaturas, intervalos e taxas características são definidas e avaliadas da mesma forma, sendo agora tempos, temperaturas, intervalos e taxas de fusão. A temperatura pico de fusão Tmp – temperatura em que a taxa de fusão é máxima – é utilizada como temperatura característica de fusão em normas e textos de ciência dos materiais. Porém em muitas aplicações, a temperatura em que se completa o processo de fusão – que vamos chamar nestas notas ponto de fusão e representar com o símbolo Tm – é mais expressiva (Menczel & Prime, 2008). A Figura 2-16 ilustra o caso para um polietileno de alta densidade (HDPE) com cristalinidade em torno de 62%. 17 Madelkern (2004); Piorkowska & Rutledge (2013). 29 Figura 2-16. Fluxo de energia versus temperatura durante a fusão de HDPE de (cristalinidade ~63%) aquecido a 10°C/min, mostrando a temperatura inicial e final do evento T1 e T2, e a temperatura do pico de fusão Tmp. Figura 2-17. Fração fundida versus temperatura durante a fusão do HDPE mostrando a temperatura média de fusão T50%. A análise se completa com a integração do pico e a identificação das temperaturas características: T0,1%, T50% e T99,9% (Figura 2-17). O ponto de fusão cristalino pode ser identificado com T99,9% (no caso do exemplo, Tm = 140,2°C); no estudos de processamento a temperatura inicial (T0,1%) e média (T50%) são igualmente relevantes. O calor latente fusão é avaliado com a mesma expressão utilizada para o caso da cristalização, Eq.(2-22), simbolizado agora como ∆Hm, e o mesmo acontece com a cristalinidade, Eq. (2-24). 30 Tanto a estrutura dos picos quanto os parâmetros do evento (temperaturas, taxas, etc.) encontram aplicação tanto para a caracterização morfológica dos sistemas poliméricos quanto para o desenho e otimização do processamento dos mesmos. Os picos de cristalização são usualmente mais simétricos do que os picos de fusão, se iniciam mais abruptamente e sua cauda posterior é maior; características opostas são observadas nos picos de fusão: são assimétricos, com cauda anterior e terminam mais abruptamente. Os parâmetros de cristalização são usualmente mais sensíveis às condições do teste (e.g., taxa de aquecimento/resfriamento na cristalização não isotérmica) e à composição da amostra (e.g., teor de carga em compósitos de matriz polimérica) do que os parâmetros de fusão, relativamente insensíveis a essas características. Por esse motivo, a análise do processo de cristalização – incluindo a modelagem macrocinética – é mais utilizada em ciência de polímeros. Porém, o processo de fusão afeta criticamente o processamento não formativo e é da maior importância na escolha das condições de processamento e no estudo da dispersão de cargas durante o processamento. No processo formativo (extrusão, injeção, etc), o processo de cristalização desempenha papel semelhante. Seis exemplos complementam este capitulo. O Exemplo 1 ilustra em detalhe os procedimentos desenvolvidos no capítulo para o caso de cristalização a frio PET puro e blendas PET/PS. Os Exemplos 2 e 3 consideram – de forma mais condensada – a cristalização não isotérmica a partir do fundido em compósitos de matriz poliméricas: PHB/fibra vegetal e PET/ZnO. Os dados brutos correspondentes a alguns testes discutidos nestes exemplos serão disponibilizados aos estudantes que desejem praticar a análise de dados Os Exemplos 4, 5, 6 e 7 consideram tópicos “especiais”: a constância da taxa de resfriamento durante eventos cristalização, a reprodutibilidade dos resultados de DSC, o tratamento de picos complexos, e a cristalização de blendas de dois polímeros semicristalinos. 31 Apêndice 1: Parâmetros de fusão de termoplásticos semicristalinos Tabela 2-1. Parâmetros termodinâmicos de fusão. Polímero 0 mH∆ 0 mT mC∆ (J/g) (°C) (J/g°C) PE 293 141 0,25 PP 207 188 0,29 PTFE 82 332 0,25 POM 326 184 0,23 PA-6 230 260 0,30 PA-66 255 301 0,32 PET 140 280 0,25 PBT 145 245 0,32 PLA 78 207 0,24 PCL 157 69 0,19 PHB 146 197 0,25 PBAT 114 160 0,25 i-PVC 176 273 0,20 i-PS 94 184 0,22 0 mH∆ é o calor latente de fusão por unidade de massa do polímero 100% cristalino, avaliado à temperatura de fusão de equilíbrio; 0mT é a temperatura de fusão de equilíbrio; mC∆ é a diferença entre o calor específico da fase amorfa (fundido) e o calor específico da fase cristalina (sólido), avaliada à temperatura de fusão de equilíbrio. É utilizada para estimar o calor latente de fusão do polímero 100% cristalino a temperaturas diferentes da temperatura de fusão de equilíbrio; por exemplo, à temperatura de cristalização Tc : ( )0 0 0( ) ( )m c m m m m cH T H T C T T∆ = ∆ − ∆ − A variação de 0mH∆ com a temperatura é raramente levada em consideração nos cálculos de cristalinidade, mas pode ser importante em sistemas com elevados super-resfriamentos (i.e., diferenças significativas entre a temperatura de cristalização e o ponto de fusão de equilíbrio). Valores de 0mH∆ e 0 mT tomados da base de dados ATHAS (Wunderlich, 2005) e outras fontes na literatura; os valores de mC∆ são estimativas próprias. 32 33 Exemplo 1 O exemplo apresenta uma análise de 30 testes de DSC em blendas PET/PS, com amostras contendo entre 0% (PET puro) e 60% em massa de PS. Todos os testes envolveram um estágio único de aquecimento entre a temperatura ambiente (20 a 40°C) e 300°C, a taxas de aquecimento (constantes ao longo de cada teste) entre 1 e 50°C/min. Todos os testes foram realizados pela Prof. Renate Wellen em 2003-2004 como parte de seutrabalho doutoral.16 Os dados foram obtidos no instrumento de marca Shimadzu, modelo DSC-50, em atmosfera de ar, com amostras 5 e 10 mg (±0,1 mg) substancialmente amorfas. As blendas foram preparadas em misturador interno de laboratório com polímeros previamente secos em estufa e resfriadas a 0°C imediatamente para minimizar a cristalização do PET. Em todos os casos serão analisados os eventos de cristalização a frio e de fusão do PET (o PS é um polímero amorfo) identificados, utilizando o programa INTEGRAL (veja seção 5.1). A análise do evento térmico de transição vítrea (transformação de segunda ordem), facilmente identificável no output do DSC na faixa de 60 a 80°C, não é considerado neste exemplo. Além dos parâmetros numéricos, o programa INTEGRAL avalia a fração cristalizada (ou fundida, dependendo do tipo de evento) e a taxa de cristalização (ou fusão) como funções do tempo e da temperatura. Os resultados “brutos” registrados pelo software do instrumento incluem o tempo (um ponto por segundo), a temperatura da amostra (com precisão de ±0,01°C), e o fluxo de energia entre a vizinhança e a amostra (com precisão de ±0,1 µW). Os testes estudados correspondem a três séries: • Testes com PET puro, aquecido a taxas de 1,0 - 2,5 - 5,0 - 7,5 - 10 – 15 – 20 – 30 - 40 - 50°C/min. • Testes com a blenda PET/20%PS, aquecidos a taxas de 1,0 - 2,5 - 5,0 - 7,5 - 10 – 15 – 20 – 30 - 40 - 50°C/min. • Testes com PET puro e blendas PET/PS com 1 - 2 - 3 - 5 - 10 - 15 - 20 - 30 - 40 e 60 % de PS, aquecida à taxa uniforme de 10°C/min. Três estudos podem ser desenvolvidos com base nos dados disponibilizados: (1) Efeito da taxa de aquecimento para teor de PS wS = 0% (PET puro). (2) Efeito da taxa de aquecimento para teor de PS wS = 20%. (3) Efeito do teor de PS à taxa de aquecimento φ = 10°C/min. Nas seções seguintes são apresentados os resultados destes três estudos. 16 Renate Maria Ramos Wellen, Cristalização a frio do PET e das blendas PET/PS e PET/SAN. Tese de Doutorado em Engenharia de Processos. Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande PB (2007); todos os testes foram reanalisados pelo autor destas Notas a partir dos arquivos originais do DSC. Veja também Wellen et al (2011). 34 Parte 1: Efeito da taxa de aquecimento na cristalização e fusão de PET puro Os dez testes de DSC analisados nesta parte foram realizados sobre amostras de PET (puro) submetidas a um estágio de aquecimento entre a temperatura ambiente (20 a 50°C) e 300°C, à taxas de aquecimento nominais de 1, 2,5, 5, 7,.5, 10, 15, 20, 30, 40 e 50°C/min. Dois eventos de mudança de fase são identificados em todos os testes no gráfico de fluxo de energia versus temperatura (Figura E1-1): • Cristalização a frio do PET à temperaturas entre 100 e 200°C; • Fusão da fração cristalina do PET à temperaturas entre 200 e 300°C. Figura E1-1. Fluxo de energia versus temperatura. PET puro. A taxa de aquecimento “real” (calculada a partir dos dados brutos de temperatura versus tempo) apresenta desvios de até 8% em relação à taxa de aquecimento nominal. A Tabela E1-1 apresenta a massa de amostra e a taxa de aquecimento avaliada nos intervalos de cristalização e de fusão. A Figura E1-2 mostra a diferença relativa entre as taxas real e nominal, tanto na cristalização (menores tempos/temperaturas) quanto na fusão (maiores tempos/temperaturas). Observe o comportamento sui generis do desvio da taxa de aquecimento. O Exemplo 6 apresenta outro caso de discrepância entre a taxa de aquecimento/resfriamento real e nominal. 35 Tabela E1-1. Massa de amostra e taxa de aquecimento calculada. Taxa nominal (°C/min) Massa de amostra (mg) Taxa de aquecimento calculada (°C/min) cristalização* fusão** 1 7,1 1,02 ± 0,02 1,04 ± 0,02 2,5 7,6 2,54 ± 0,03 2,61 ± 0,03 5 8,1 5,05 ± 0,06 5,23 ± 0,06 7,5 7,0 7,58 ± 0,08 7,95 ± 0,08 10 6,8 9,96 ± 0,10 10,55 ± 0,10 15 5,7 14,97 ± 0,14 15,98 ± 0,13 20 7,2 19,80 ± 0,19 21,47 ± 0,17 30 6,1 28,99 ± 0,31 32,51 ± 0,28 40 5,0 37,09 ± 0,48 42,92 ± 0,46 50 5,4 47,19 ± 0,58 54,07 ± 0,68 * 100 a 200°C, ** 200 a 300°C Figura E1-2. Diferença relativa entre as taxa de aquecimento real e nominal. 36 Cristalização a frio Os resultados experimentais do DSC para a cristalização foram plotados em função da temperatura e analisados visualmente para determinar o ponto inicial e final do evento (Figura E1-3). (a) (b) (c) (d) (e) (f) 37 (g) (h) (i) (j) Figura E1-3. Fluxo de energia versus temperatura durante a cristalização a frio em amostras de PET puro submetidas a diferentes taxas de aquecimento (indicadas), mostrando a temperatura inicial e final do evento e a linha de base virtual reta (linha de traços). Os picos de cristalização mostram um fraco ombro à direita (maiores temperaturas) do pico principal para baixas taxas de aquecimento; para taxas maiores ou iguais que 10°C/min, o pico de cristalização aparece visualmente simples. O pico mostra uma leve assimetria negativa (cauda), que se acentua para elevadas taxas de aquecimento (> 30°C/min). Os picos foram integrados utilizando o programa INTEGRAL, para obter a fração cristalizada (cristalinidade relativa) e o pico normalizado (taxa de cristalização) como funções da temperatura ou do tempo desde o início do evento, apresentadas nas Figuras E1-4 e E1-5, para todos os testes. O programa fornece uma série de parâmetros numéricos (temperaturas, tempos, taxas, cristalinidade, etc.), alguns deles reportados na Tabela E1-2. 38 Figura E1-4. Cristalinidade relativa versus temperatura. PET puro a diferentes taxas de aquecimento (indicadas). Figura E1-5. Taxa de cristalização versus temperatura. PET puro a diferentes taxas de aquecimento (indicadas). 39 Tabela E1-2. Parâmetros da cristalização a frio para todos os testes de PET puro Parâmetro Taxa de aquecimento nominal (°C/min) Tendência 1 2.5 5 7.5 10 15 20 30 40 50 T1% °C 101,7 104,3 97,4 104,8 116,5 118,4 121,0 123,3 128,8 131,5 ↑ T50% °C 109,7 114,3 119,0 122,0 124,4 130,0 133,4 139,0 144,9 152,0 ↑ T99% °C 122,9 135,7 137,6 140,9 143,2 144,8 151,0 162,7 171,2 189,9 ↑ ∆Tc °C 21,2 31,4 40,2 36,1 26,7 26,4 30,0 39,4 42,4 58,4 ↑ Tc °C 110,1 112,4 117,6 120,4 125,5 128,7 132,0 137,3 142,7 148,9 ↑ ∆Hc J/g 20,2 23,0 22,7 20,6 23,4 20,9 21,6 22,3 22,3 25,2 ≈ ∆Xc % 14,4 16,4 16,2 14,7 16,7 14,9 15,4 15,9 15,9 18,0 ≈ 1-99%c min −1 0,046 0,078 0,121 0,202 0,361 0,545 0,634 0,707 0,847 0,797 ↑ 20-80%c min −1 0,093 0,193 0,301 0,486 0,833 1,069 1,277 1,490 1,655 1,575 ↑ cmax min−1 0,100 0,235 0,331 0,576 1,228 1,289 1,566 1,870 2,086 2,080 ↑ τ½ min 10,0 5,4 5,6 3,2 1,23 1,11 0,85 0,75 0,63 0,61 ↓ As setas ↑↓ indicam tendência crescente/decrescente do valor do parâmetro com o aumento da taxa de aquecimento; ≈ indica ausência de tendências (parâmetro aproximadamente constante, independente da taxa de aquecimento). 40 Observa-se que a temperatura do pico de cristalização aumenta com a taxa de aquecimento, entre 110°C (a 1°C/min) e 149°C (a 50°C/min), um incremento de 39°C. As temperaturas inicial e final do evento (medidas a 1% e 99% da transformação) variam em 30 e 67°C, respectivamente, no mesmo intervalo (Figura E1-6). Figura E1-6. Temperatura inicial T1%, pico Tc e final T99% do evento de cristalização. O intervalo de cristalização, ∆Tc = T99% – T1%, também aumenta com a taxa de aquecimento, de 21°C a 58°C (Figura E1-7a). A cristalinidade desenvolvida durante o evento17 é independente da taxa de aquecimento, sendo ∆Xc = 15,9 ± 1,1 % (Figura E1-7b). A taxa de cristalização aumenta significativamente com a taxa de aquecimento, ainda se estabiliza para elevadas velocidades. As taxas médias global ( 1-99%c ) e central 20-80%c são 15 e 17 vezes maiores, respectivamente, quando a amostra é aquecida a 40°C/min que quando é aquecida
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