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Fratura dos Materiais Aula 7 - Fratura por �uência INTRODUÇÃO Diversos componentes estruturais atuam em contextos em que há combinação de tensão e temperatura, promovendo a criação e a movimentação de defeitos na ordem de grandeza atômica, como discordâncias, lacunas e átomos intersticiais. A deformação permanente que ocorre nessas condições é denominada �uência e constitui uma das principais causas de falha de componentes, representando motivo de preocupação por parte dos engenheiros projetistas. Nessa aula, analisaremos alguns aspectos teóricos e outros empíricos para entender os fenômenos físicos que originam a �uência. OBJETIVOS Conhecer o fenômeno da �uência e as fases que o compõem. Compreender qualitativamente o ensaio de �uência. Identi�car os efeitos da tensão e da temperatura na �uência. Analisar quantitativamente os métodos de extrapolação de dados nos ensaios de �uência. Relacionar qualitativamente a fratura por fadiga e �uência. O FENÔMENO DA FLUÊNCIA Em projetos de engenharia, frequentemente nos deparamos com situações em que os componentes são submetidos a esforços em temperaturas acima da temperatura ambiente. Nesse contexto, diversas estruturas/defeitos microscópicos, na ordem de grandeza atômica, como lacunas, discordâncias e contornos de grão se tornam mais suscetíveis à movimentação, resultando em deformações plásticas macroscópicas. A este fenômeno caracterizado por deformações permanentes, denominamos de �uência. Em metais, esse fenômeno assume especial importância em temperaturas acima de 0,4T , em que T é a temperatura absoluta (glossário) de fusão do material, situação em que a movimentação atômica é muito intensa. Atenção , Para os polímeros amorfos, que incluem os termoplásticos e as borrachas, espera-se que a �uência seja signi�cativa mesmo à temperatura ambiente. FASES DO FENÔMENO DA FLUÊNCIA Uma variação simples do ensaio de �uência consiste em submeter o corpo de prova a esforços trativos constantes, à medida que mantemos a temperatura de execução do ensaio também constante. As deformações ou alongamentos obtidos são registrados em um grá�co em função do tempo, como mostrado na Figura 1. A carga constante é utilizada por mostrar maior compatibilidade com os projetos de engenharia na posterior adaptação e extrapolação das informações para utilização em projetos reais. f f Figura 1: Grá�co ilustrando a deformação por �uência x tempo. No grá�co obtido, são perceptíveis três regiões, cada uma correspondente a uma fase do fenômeno de �uência. Região I - Fluência Primária: Essa fase, também conhecida como transiente, é caracterizada pela taxa de deformação decrescente ao longo do tempo, ou seja, a inclinação da curva diminui com tempo. A diminuição da taxa de deformação é uma consequência do encruamento (glossário) do material, que di�culta a deformação. Região II - Fluência Secundária: Essa fase apresenta taxa de deformação constante e é a mais duradoura. A constância da taxa resulta do equilíbrio entre o processo de encruamento e o processo de recuperação (glossário) do material. Região III - Fluência Terciária: Nessa fase, ocorre o aumento da taxa do processo de deformação, ou seja, a inclinação da curva aumenta em função do tempo. A fase termina com a fratura do material. ENSAIO DE FLUÊNCIA Os ensaios de �uência utilizam corpos de prova semelhantes aos de ensaio de tração uniaxial, porém, é utilizado um elemento térmico (forno) para o aquecimento do corpo de prova e a manutenção na temperatura requerida. O equipamento utilizado possui: Veja esquematicamente a Figura 2. Figura 2: Figura esquemática do ensaio de �uência. Saiba Mais , Extensômetro é um transdutor capaz de medir deformações de corpos através de sua própria deformação que, por sua vez, é proporcional à sua resistência. Termopares são sensores de temperatura constituídos de dois metais distintos unidos em uma das extremidades. Quando há uma diferença de temperatura entre a extremidade unida e as extremidades livres, veri�ca-se o surgimento de uma diferença de potencial que pode ser medida por um voltímetro e interpretada como a diferença de temperatura. Em situações em que o corpo de prova é fabricado com material frágil, é conveniente utilizarmos uma variação desse ensaio em que é utilizada força compressiva, para que não ocorra a concorrência de fenômenos relacionados à fratura, uma vez que a tração privilegia a abertura de trincas e a ampli�cação da tensão na ponta das mesmas. Para outros materiais, o fenômeno da �uência é virtualmente independente da direção de aplicação das forças. EFEITOS DA TENSÃO E DA TEMPERATURA NA FLUÊNCIA A temperatura e a tensão in�uenciam a taxa de deformação no fenômeno da �uência. Para temperaturas signi�cativamente abaixo de 0,4T , a taxa de deformação não varia após a deformação inicial, como mostra a Figura 3. Entretanto, para temperaturas superiores, teremos as seguintes consequências com o aumento da temperatura e a tensão: f Figura 3: In�uência da tensão “s" e da temperatura “T” na taxa de deformação por �uência. Algumas relações empíricas nos fornecem o comportamento da taxa de deformação em função da tensão aplicada: Em que: K e “n” - são constantes do material. Ao incluir a in�uência da temperatura na expressão, temos: Em que: K e Q - são constantes do material. Q - se denomina energia de ativação para o processo de �uência. MÉTODOS DA EXTRAPOLAÇÃO DE DADOS EM FLUÊNCIA Na maioria das vezes, a obtenção de dados em ensaios normais em laboratório para posterior utilização em projetos de engenharia é de difícil execução, uma vez que para temperaturas em torno da temperatura ambiente, o ensaio pode durar anos. 1 2 f f Para minimizar o problema, existem métodos de extrapolação de dados, entre os quais o método de Larson-Miller, que utiliza dados coletados em ensaios realizados a temperaturas superiores às requeridas na prática e tensões compatíveis àquelas a serem utilizadas no projeto de engenharia. O uso de temperaturas mais altas abrevia o ensaio. O método citado utiliza a expressão a seguir. ATIVIDADE Considere um determinado aço ferrítico cujo parâmetro de Larson-Miller é fornecido pelo grá�co a seguir. Com base nas informações fornecidas, determine a vida do componente até a ruptura, considerando que o mesmo está operando a 950K sob tensão de 100MPa. Resposta Correta FRATURA POR FADIGA E FLUÊNCIA Diversos fatores afetam o comportamento dos materiais submetidos à fadiga e à �uência. Um dos fatores que determina a diminuição dos materiais a ambos os processos é o aumento da temperatura, ou seja, à medida que a temperatura de trabalho aumenta, tem-se uma diminuição da capacidade do material em resistir tanto a esforços cíclicos como a cargas contínuas (estáticas). Entretanto, com relação à �uência, podemos dizer que a resistência a esse processo de deformação será tanto maior quanto maior for a temperatura de fusão (maior é o módulo de elasticidade) e o tamanho de grão. Esta última característica é uma consequência de uma área menor de contorno de grão para que ocorra o escorregamento de discordâncias no processo de deformação, ou seja, maior tamanho de grão, menor área de contorno de grão, resultando em menor quantidade de escorregamentos e menor deformação. Os aços inoxidáveis são altamente resistentes à �uência e normalmente empregados na fabricação de componentes submetidos a tensão e altas temperaturas. ATIVIDADE 1 - A �gura a seguir mostra a aeronave franco-britânica Concorde. Único avião a realizar voos comerciais acima da velocidade do som, atingindo Mach 2 (duas vezes a velocidade do som - 2.220Km/h), sendo capaz de fazer a distância entre Londres e Nova York em 3 horas e meia (em avião convencional, a distância é percorrida entre 7 e 8 horas). Quando o Concorde atingia Mach 2, podia-se veri�car temperaturas na ordem de 100 C em suas asas, que estavam submetidas à tração e compressão cíclicas. Nesse contexto, descreva os possíveis mecanismos de criação de trincas e deformaçãoplástica. Resposta Correta o 2 - O fenômeno da �uência pode ser dividido em três etapas, denominadas de fases da �uência. Em relação a essas fases, só NÃO podemos a�rmar: a) A região I é também conhecida como transiente e é caracterizada pela taxa de deformação decrescente ao longo do tempo. b) Na região I, a diminuição da taxa de deformação é uma consequência do encruamento do material, que di�culta a deformação. c) Na região II, a taxa de deformação é constante e é a mais duradoura das três fases da �uência. d) Na região II, a constância da taxa de deformação resulta da diminuição do processo de encruamento. e) Na região III, ocorre o aumento da taxa de deformação, resultando na ruptura do material. Justi�cativa 3 - Com relação aos efeitos da temperatura e da tensão sobre a �uência, NÃO podemos a�rmar: a) O aumento da temperatura provoca o aumento da deformação inicial. b) O aumento da tensão provoca a diminuição da deformação inicial. c) O aumento da temperatura provoca o aumento da taxa de deformação no período de �uência estacionária. d) O aumento da tensão provoca o aumento da taxa de deformação no período de �uência estacionária. e) O aumento da temperatura e da tensão provoca a diminuição do tempo de vida do corpo de prova até a ruptura. Justi�cativa 4 - Considerando o fenômeno de fratura associado a �uência, podemos a�rmar, com EXCEÇÃO de: a) O aumento de temperatura provoca tanto a diminuição da resistência à fadiga quanto à �uência. b) Os aços inoxidáveis são materiais adequados aos projetos que pretendem oferecer boa resistência a �uência. c) Um material com estrutura de grãos mais �na oferece maior resistência a �uência. d) Os aços com maior módulo de elasticidade oferecem maior resistência a �uência. e) O material com maior ponto de fusão é mais resistente a �uência. Justi�cativa Glossário TEMPERATURA ABSOLUTA É a temperatura fornecida em Kelvin, que associa o zero absoluto à ausência completa de energia cinética dos átomos que compõem o material. A escala Kelvin se relaciona à escala Celsius por meio da expressão K = C+273. ENCRUAMENTO É o endurecimento de um metal através de deformação mecânica. RECUPERAÇÃO No texto, o termo é utilizado para expressar a capacidade do material diminuir sua dureza, recuperando o estado anterior ao encruamento, por meio de mecanismos atômicos difusionais.