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Dengue O vírus da dengue possui 4 sorotipos: DENV1, DENV2, DENV3 e DENV4, cada sorotipo proporciona imunidade para seu tipo Todos os sorotipos podem causar doenças graves e fatais (qualquer sorotipo pode dar dengue hemorrágica, forma grave da dengue) Há uma variação genética dentro de cada sorotipo, e algumas cepas dentro de cada sorotipo parecem ser mais virulentas ou ter maior potencial epidêmico A segunda vez que se pega dengue, geralmente é mais grave Transmitida pela picada do mosquito fêmea infectada (a fêmea infectada transmite para seus ovos o vírus, o macho que nasce infectado, não pica e transmite para as pessoas, já a fêmea que nasce infectada pica e transmite a doença) Fêmea pica preferencialmente durante o dia, vive próximo de habitações humanas, deposita ovos e produz larvas preferencialmente em recipientes artificiais Reservatório: ser humano Transmissão do vírus da dengue pelo Aedes aegypti O vírus é transmitido para o homem na saliva do mosquito O vírus se multiplica em órgãos alvo (principalmente nos hematopoiéticos) O vírus infecta as células brancas do sangue e os tecidos linfáticos O vírus se libera e circula no sangue O 2º mosquito ingere o sangue com o vírus O vírus se multiplica no intestino médio e em outros órgãos no mosquito, infectando as glândulas salivares O vírus se multiplica nas glândulas salivares, pica o ser humano (recomeça o ciclo) Fatores marcodeterminantes das epidemias de dengue e dengue hemorrágica Para ter epidemia é preciso que ocorra a conjunção de vários fatores como: ambiente físico, ambiente social, hospedeiro (imunologia), tipo do vírus, vetores Ex. População suscetível: epidemia depende da susceptibilidade, uma população que já foi infectada pelo sorotipo 1 não é mais susceptível ao sorotipo 1 Fisiopatologia A resposta imunológica à infecção pelo vírus da dengue pode ser protetora e levar à cura ou patogênica e conduzir à gravidade e à morte O vírus pode ter ação direta dos tecidos causando morte celular, por apoptose Endotélio (aumenta a permeabilidade), plaquetas (destruição de plaquetas), fígado (necrose de células hepáticas, hepatite), medula óssea (destruição das células sanguíneas), gânglios linfáticos, baço, coração (miocardite), cérebro, pulmão, rins (nefrite) Reação cruzada: organismo vai produzir autoanticorpo contra proteínas do próprio organismo Ativação do sistema complemento, elevando a lesão dos tecidos Pietra Rosa TXIX Ativação dos linfócitos T citotóxicos, que liberam citocinas, lesando o organismo Macrófagos fazendo fagocitose de plaquetas, células sanguíneas Perda de proteína (perde pressão oncótica do vaso), fazendo o líquido sair para o extravascular, perda de volume do intravascular (“como se tivesse perdendo sangue” = perda de volume = hipovolemia, levando à choque hipovolêmico, o choque leva a sinais de alerta, sinais de sangramento) Caso suspeito de dengue Paciente que nos últimos 15 dias tenha estado em local que tenha vetores ou transmissão de dengue (ou que tenha a presença de Aedes aegypti), com doença febril aguda, usualmente entre 2-7 dias, acompanhada de pelo menos 2 ou mais dos seguintes sintomas: Náuseas, vômitos Exantema Mialgia, artralgia Cefaleia, dor retro-orbital Petéquias ou prova do laço positiva Leucopenia Atenção: também pode ser considerado caso suspeito toda criança proveniente ou residente em área com transmissão de dengue, com quadro febril agudo, usualmente entre 2-7 dias, e sem foco de infecção aparente Caso suspeito de dengue com sinais de alarme É todo caso que no período de deferverscência da febre (declinio da febre) apresenta pelo menos 1 ou mais dos seguintes sinais de alarme: Dor abdominal intensa e contínua, ou dor a palpação do abdômen Vômitos persistentes Presença de derrame cavitário (ascites, derrame pleural, derrame pericárdico) Sangramento de mucosas Letargia ou irritabilidade Hipotensão postural (lipotímia) Hepatomegalia > 2 cm Aumento progressivo do hematócrito Caso suspeito de dengue grave Antigamente chamada de dengue hemorrágica É todo caso de dengue que apresenta pelo menor 1 ou mais dos seguintes resultados: Choque: decorrente de extravasamento grave de plasma evidenciado por taquicardia, extremidades frias e tempo de enchimento capilar > ou = 3 segundos, pulso débil ou indetectável, pressão diferencial convergente < ou = 20mmHg, hipotensão arterial em fase tardia e acumulação de líquidos com insuficiência respiratória Sangramento grave: ex.: hematêmese, melena, metrorragia volumosa, sangramento do SNC etc. Comprometimento grave de órgãos: como dano hepático significativo (AST ou ALT >1000 U/L), no SNC (alteração do nível de consciência), no coração (miocardite), ou em outros órgãos Caso confirmado de dengue grave Todo caso suspeito de dengue confirmado laboratorialmente por sorologia IgM, NS1 teste rápido ou ELISA, isolamento viral, reação em cadeia da polimerase ou imuno-histoquímica Quadro clínico Os pacientes suspeitos de dengue são divididos em 3 grupos de formas clínicas: Dengue Dengue com sinais de alarme Dengue grave Apresentação clínica diversa, variando de assintomáticos a casos fatais Período de incubação: de 3 a 15 dias (média de 5-6 dias) Febre é o principal sintoma, associado a intensa mialgia, cefaleia, adinamia, artralgias, dor retro-orbicular e rash (maculopapular, sem poupar plantas de pés e palmas das mãos) Quando ocorre declínio da febre entre o 3º - 6º dia do início dos sintomas, tem maior risco de evolução para dengue grave Possibilidade de início de sinais de alarme Os sinais de alarme avisam a gravidade, sendo sinais clínicos da evolução para o choque da dengue Sinais de alarme Analisados para ver se está evoluindo para choque Dor abdominal intensa e contínua ou dor a palpação do abdome Vômitos persistentes Hipotensão postural (diferença entre PAS sentado e em pé maior que 10 mmHg) Hepatomegalia dolorosa > 2cm Hemorragias (hematêmese e/ou melena), sangramento de mucosas (gengivorragia e/ou epistaxes) Sonolência ou irritabilidade Diminuição da diurese Diminuição repentina da temperatura corpórea Desconforto respiratório Queda abrupta de plaquetas Presença de derrames cavitários (derrame pleural, derrame pericárdico, ascite) Aumento progressivo do hematócrito Prova do laço É um teste para tentar detectar aumento da permeabilidade vascular e risco de sangramento Verificar a PA, calcular a PAM, fazer um quadradinho de 2,5 x 2,5 cm Insuflar novamente o manguito até o valor médio e manter por 5 minutos em adultos (3 min em crianças) Contar o número de petéquias no quadrado: se tiver > 20 petéquias é sugestivo de dengue Ex.: PA 12/8, somas as duas e divide por 2, PAM é 10 Classificação A partir da classificação é estabelecida a conduta Grupo A e B: dengue Grupo C: dengue com sinal de alarme Grupo D: dengue grave Grupo A (azul): suspeita de dengue Características Não tem sinais de alarme e/ou choque Prova do laço negativa Sem comorbidades ou gruo de risco ou condições clínicas especiais Febre há pelo menos 7 dias sem foco definido + Sintomas associados à dengue (pelo menos 2): exantema, mialgia ou artralgia, náuseas e vômitos, petéquias (prova do laço), leucopenia, dor retro-orbital, cefaleia, alteração palar, prostração + Ter estado em local com vetor da dengue Conduta Colher hemograma com retorno em 24h (pode ser simplificado: Hb, Ht, leucócitos e plaquetas) Colher sorologia no 6º dia Orientar sinais de alerta Recomendado para todos os casos de suspeita de dengue Tratamento Acompanhamento ambulatorial Hidratação oral: 60-80ml/Kg/dia, pelo menos 1/3 com soro de reidratação oral Sintomáticos: Paracetamol ou dipirona Antiemético se náusea Anti-histamínico se prurido Retorno para reavaliação no primeiro dia sem febre Grupo B (verde): tendênciaa sangramento Características Febre há pelo menos 7 dias sem foco definido Ausência de sinais de alerta e/ou choque Prova do laço positiva: presença de sangramento espontâneo ou induzido Fenômenos hemorrágicos: petéquias, prova do laço positiva, epistaxes, gengivorragia, metrorragia OU Fatores de risco Presença de condição clínica especial ou risco social ou comorbidades Idosos > 65 anos Crianças Gestantes Renais crônicos Diabéticos Doenças autoimunes Asma Doenças hematológicas Úlceras gastroduodenais Hipertensão e cardiopatia Conduta Hemograma simplificado (Hb, Ht, leucócitos e plaquetas) de urgência e resultado no mesmo dia (espera em observação até o resultado do exame) Parâmetros de hemoconcentração sugeridos: Criança: Ht > 42% Mulher: Ht > 44% Homem: Ht > 50% Tratamento Hidratação VO ou EV enquanto aguarda hemograma: 3 - 5ml/Kg/h Concuta com resultado do hemograma Com hemoconcentração ou plaquetas < 100.000: encaminhar ao OS para observação e repetir hemograma após hidratação Sem hemoconcentração e plaquetas > 100.000: retorno em 24h para reavaliação clínica-laboratorial e orientação quanto à hidratação e sinais de alerta Grupo C (amarelo): suspeita de dengue com sinal de alarme Características Presença de algum sinal de alarme com ou sem manifestações hemorrágicas Sem sinais de choque Conduta Não mandar para casa Leito de observação ou hospitalar (observar por 48h) Hidratação EV imediata inicial (SF ou Ringer) Adulto 25ml/kg em 4 horas, repetir até 3x Criança 20ml/kg/h repetir até 3x Reavaliação Clínica c/ 2h criança, c/ 4h adulto HMG de 4/4h Melhora: hidratação EV manutenção Adulto: 80ml/kg/dia (no primeiro dia) diminuindo na sequência, monitorar sobrecarga Criança: TRH + perda capilar estimada 20-40ml/Kg/dia Se não ocorrer melhora vai para grupo D Grupo D (vermelho): presença de sinal de choque Características Presença de sinais de choque com ou sem menifestações hemorrágicas Sinais de choque Hipotensão arterial (PAS < 90 e PAD < 60) Pressão arterial convergente (PA sist – PA dist) < 20mmHg Extremidades frias e cianóticas Pulso rápido e fino Enchimento capilar lento (> 2s) Tratamento Hidratação EV imediata inicial: SF 0,9% 20ml/Kg em até 20 min e repetir até 3X se necessário Com melhora hemodinâmica: PA em 2 posições, débito urinário, pulso e FR Adequar volume infundido para reposição de perdas (cuidado com hiper-hidratação) Internação hospitalar: Reavaliação clínica a cada 15 a 30 minutos Ht a cada 2h até estabilização Sem melhora hemodinâmica: Ht aumentado: infundir coloide sintético 10ml/Kg/h ou plasma Ht diminuído: investigar sangramento, coagulopatia, hiper-hidratação (sinais de ICC) e transfundir hemácias Paciente mantendo hipotensão após hidratação inicial 3X 20ml em 1h Ht subindo: expansor plasmático Albumina 20% 3ml/Kg/h Albumina 10% 6ml/Kg/h Dextran 40 10ml/Kg/h Ht caindo: transfusão de concentrado de hemácias Tratamento Princípios do tratamento Hidratação: iniciar sempre o mais rápido possível, independentemente do local Orientação Monitoramento dos sinais de agravamento Sintomáticos Analgésicos e antitérmicos (paracetamol ou dipirona) Somente se necessário antieméticos e anti-histamínicos Hemoderivados Não há indicação de transfusão profilática e plaquetas, nem baseada na contagem isolada Indicação de transfusão de plaquetas Suspeita de sangramento SNC + plaquetas < 50.000 Sangramento importante + plaquetas < 20.000 Dose: 1U/ 7 a 10Kg a cada 8 ou 12h até parar o sangramento (e não normalizar as plaquetas) Pode induzir ou piorar CIVID se choque associado Plasma fresco congelado Sangramento importante + INR >1,25 Dose: 10ml/Kg a cada 8 ou 12h + vitamina K Marcadores de gravidade Hemograma: Hemoconcentração Leucocitose com desvio à esquerda Leucopenia menor que 1.000 Plaquetopenia menor que 50.000 Alterações no coagulograma: TP e TTPA Hipoalbuminemia ou hipopotassemia Derrame pleural ou ascite Indicações de internação independentes da classificação Presença de sinais de alarme Recusa na ingesta de alimentos e líquidos Impossibilidade de retorno à unidade Comprometimento respiratório Plaquetopenia (< 20.000) Comorbidades descompensadas (DM, HAS, asma, uso de cumarínicos, outras) Outras situações a critério do médico Considerações importantes Deve-se cuidar para não hiperhidratar após a recuperação Com a resolução do choque, há reabsorção do plasma extravasado, com queda adicional do hematócrito, mesmo com suspensão da hidratação parenteral Essa reabsorção poderá causar hipervolemia, edema pulmonar ou insuficiência cardíaca, requerendo vigilância clínica redobrada Critérios de alta Ausência de febre por 24h sem anti-térmico Melhora visível do quadro clínico Ht normal e estável por 24h Plaquetas em elevação > 50 000 / mm3 Estabilidade hemodinâmica por 24h Derrames cavitários: em regressão, sem repercussão clínica Formas pouco habituais de dengue Hepatite/hepatopatia aguda: insuficiência hepática Miocardite/ miocardiopatia: insuficiência cardíaca Encefalite/ encefalopatia: coma Nefrite/ nefropatia: insuficiência renal Diagnóstico O diagnóstico da febre por dengue inclui critérios clínicos, epidemiológicos e laboratoriais Isolamento viral Sorologia Detecção de antígeno Detecção de genoma Quadro clínico e quadro epidemiológico Exames específicos e rotina da vigilância Notificar todo caso de suspeita de dengue (notificação compulsória) Exames específicos Até 3º dia: colher 2 tubos acompanhado de SADT e ficha numerada do SINANNET Isolamento viral Teste rápido para NS-1 (antígenos virais) Após 6º dia: Sorologia, ELISA IgM (se NS-1 negativo ou não colhido) Todos os pacientes devem colher sorologia no 6º dia Paciente começou com febre hoje, conta como D0 e no D17 deve encaminhar para fazer exames Diagnósticos diferenciais Síndrome do choque Síndrome febril: malária, IVA, rotavírus, influenza, hepatite viral, leptospirose, meningite Síndrome exantemática: rubéola, sarampo, escarlatina, mononucleose, exantema súbito, enterovírus, alergia Síndrome hemorrágica: meningococcemia, septicemia, PTI, febre amarela, malária grave, leptospirose, hantavirose
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