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75 Capítulo 4 Negócios Inovadores 1 Seção 1 Organizações exponenciais Se antes tínhamos a sensação de que a tecnologia avançava lentamente, hoje percebemos que, a cada ano, temos uma novidade em ascensão e que devemos considerá-la rapidamente, se quisermos continuar competitivos. Nesse novo cenário, assunto deste capítulo, temos as organizações exponenciais, a realidade da Gestão 3.0 e algumas sugestões de negócios que podem ser interessantes nos dias atuais. Empreender é resolver problemas, e os objetivos do milênio estão aí para mostrar que o mundo ainda tem muitos desafios a serem solucionados. Pode parecer impossível resolver um problema para o tamanho e universalidade de pessoas que existem no mundo, mas hoje em dia a tecnologia possibilita a criação de soluções exponenciais. 1.1 O que são organizações exponenciais? O conceito de Organizações Exponenciais foi introduzido por Ismail Michael S. Malone e Yuri van Geest (2014) e refere-se às organizações que crescem em uma velocidade muito maior que as empresas denominadas de lineares, causando impacto desproporcionalmente maior quando comparadas a empresas de modelo tradicional. A figura a seguir explica de forma fácil a diferença entre as empresas exponenciais e lineares. 1 HEERDT, Ana Paula Szpoganicz. Empreendedorismo. Palhoça: UnisulVirtual, 2019. 76 Capítulo 4 Figura 4.1 - Diferença de tipo de crescimento entre empresas lineares e empresas exponenciais Fonte: Elaboração da autora (2019). A capacidade de crescimento de uma organização disruptiva (que inova de forma barata, simples e acessível) é muitas vezes maior, chegando a ser dez vezes mais rápida do que a de suas concorrentes tradicionais, por conta da inovação no negócio. “Organização exponencial é aquela cujo impacto (ou resultado) é desproporcionalmente grande – pelo menos dez vezes maior – comparado ao de seus pares, devido ao uso de novas técnicas organizacionais que alavancam as tecnologias aceleradas” – Salim Ismail. Mas além de novas técnicas organizacionais que impulsionam essa transformação, há outros atributos, segundo Salim Ismail (coautor de Organizações Exponenciais), como o que ele chama de “bilhão emergente”. Serão três bilhões de novas mentes que se juntarão à economia nos próximos 6 anos, e isso é relevante por dois principais motivos: a. O primeiro é que serão milhares, bilhares de novos consumidores que representam dezenas de trilhões de dólares para a economia mundial. Pode parecer impossível resolver um problema para tanta gente, mas hoje em dia a tecnologia possibilita a criação de soluções exponenciais. b. O segundo é que esse grupo – o “bilhão emergente” – será uma nova classe de profissionais empreendedores que utilizarão a geração mais recente de tecnologias distribuídas. E essas mudanças no ambiente influenciam completamente o ritmo na inovação e suas consequências em organizações tradicionais. 77 Empreendedorismo 1.2 Por que as organizações exponenciais têm crescimento acelerado? Os principais motivos que impedem as empresas tradicionais de agirem de maneira rápida, mudando sua forma de atuação e gestão, está no grande número de funcionários e uma estrutura hierárquica mais fixa. E foi a partir desses pontos que as organizações exponenciais perceberam uma oportunidade para crescerem e se diferenciarem. No passado, quanto maior a força de trabalho de uma empresa, mais ela produzia. Em virtude disso, era muito difícil competir com as grandes organizações, mas a lógica do mercado mudou. Hoje, a tecnologia provocou a alteração do comportamento do consumidor, isso permitiu agilizar e eliminar processos manuais, bem como automatizar ainda mais tarefas repetitivas. Nesse cenário, a força de trabalho em excesso - pessoas, recursos, processos, regulamentos, burocracia etc. - passa a ser uma barreira, que reduz a velocidade das operações. O desenvolvimento da organização entra em crescimento exponencial quando a relação preço x performance dobra (em média) a cada um ou dois anos. Portanto, as organizações exponenciais são aquelas que têm uma velocidade de operação e de crescimento muito mais rápida! Isso ocorre, principalmente, quando o negócio gira em torno da informação. 1.3 Principais diferenças entre uma organização exponencial e empresas tradicionais As empresas lineares ou tradicionais possuem um crescimento orgânico, que é alcançado pelo aumento da sua produção e vendas, ou seja, para crescer é necessário vender mais e para vender mais, é necessário produzir mais. Só que, para fazer crescer a produção, serão necessários investimentos em pessoas, máquinas, eventual abertura de novas fábricas ou de fusões e aquisições, ou seja, dependerá de investimento intensivo de capital, podendo aumentar os riscos, caso haja qualquer variação imprevista na demanda. Resumindo, as organizações tradicionais trabalham de maneira linear, com uma quantidade limitada de recursos, ao passo que as organizações exponenciais se desenvolvem com um modelo de negócio escalável, algo que se pode reproduzir repetidamente em grande quantidade e com alto ganho de produtividade. 78 Capítulo 4 Por fim, e diferentemente da lógica de mercado que orienta as empresas tradicionais, todas as organizações exponenciais são guiadas por um Propósito Massivo Transformador (PMT), que inclui atributos comuns relacionados à criatividade, escalabilidade e elementos de controle da empresa. Além de unir as pessoas que trabalham na organização para um mesmo objetivo, o PMT tem um valor ainda maior: uma causa inspiradora, que tem o poder de engajar uma comunidade, um grupo de pessoas que busca um sentido naquilo que estão construindo e que começam a operar espontaneamente em torno do mesmo movimento cultural. O engajamento com stakeholders (público estratégico) externos à empresa – fans, parceiros, usuários, público em geral – permite que a empresa tenha consumidores mais fiéis e maior acesso à novas ideias. O PMT é o primeiro facilitador do crescimento exponencial. O aplicativo Waze, que permite a localização de um determinado endereço, é um exemplo de uma organização exponencial que usa ativos já existentes e que utiliza os smartphones dos seus usuários para entregar informações de trânsito. É preciso detectar a tecnologia exponencial cedo e abraçar a mudança. A partir do momento que conseguirmos acelerar a velocidade das mudanças usando tecnologias exponenciais com inteligência artificial, neurociência, biotecnologia, novas matrizes energéticas etc., essas mudanças irão trazer impactos profundos na economia, na riqueza dos países e na competitividade das empresas, pois isso pode se reverter em melhorias nos serviços de educação, no fornecimento de água e energia, na medicina e muitos outros setores. As organizações que atuam de forma exponencial têm como base a inovação, a favor do desenvolvimento de soluções cada vez melhores e, principalmente, como referência no momento de definir um modelo de negócio, o que as faz crescer acima da média. Descentralização e autonomia são pré-requisitos para inovação, uma vez que permitem alavancar o crescimento por meio de respostas rápidas e com maior adaptabilidade e flexibilidade na tomada de decisão. Mais do que uma ideia genial e original, o que são organizações exponenciais? São empresas que devem ser percebidas, antes de tudo, como uma nova forma de enxergar o mercado sob o ponto de vista do consumidor e, consequentemente, de fazer gestão. 79 Empreendedorismo Como grandes organizações podem inovar para não apenas sobreviver, mas vencer em um mundo em constante mudança? Para Clayton Cristensen (2018), autor de “O Dilema da Inovação”, existem três formas para as empresas já estabelecidas inovarem e crescerem: 1. Novos mercados: Entrar em novos mercados é uma das opções. No início é caro e complicado, requer pesquisa e desenvolvimento, e pode levar de 5 a 10 anos para trazer resultados financeiros. Um alerta é que muitas empresascaem na armadilha de focar apenas em um mercado consumidor e não enxergam o potencial em novos mercados. Quando está no início, a empresa tem produtos que são acessíveis para clientes com uma determinada faixa de renda, e, consequentemente, apenas coleta dados sobre essas pessoas ou empresas. Porém, quando o negócio ganha escala e a tecnologia se torna mais barata, por exemplo, o produto se torna acessível a novos consumidores, dos quais a empresa não possui dados e por isso, muitas vezes, ignora-os. O mercado dos novos potenciais consumidores deve ser explorado. 2. Agregar valor em produtos existentes: Essa forma diz respeito a fazer os produtos existentes se tornarem ainda melhores. Para conseguir adicionar valor, a empresa precisa se conectar melhor aos consumidores e entender quais são as necessidades deles que ainda não foram atendidas. Porém, segundo Christensen, o crescimento potencial dessa vertente não é tão grande quanto do primeiro caminho. 3. Eficiência: O terceiro meio de crescer é se tornar mais eficiente, como cortando custos para acelerar o crescimento. Essa opção tem um ótimo retorno no curto prazo, mas, segundo o autor, não transformará a empresa. 1.4 O ciclo de crescimento das tecnologias digitais Uma das maneiras de impactar positivamente a vida de milhões de pessoas é compreender as características das tecnologias exponenciais e internalizar seu ciclo de crescimento. A tecnologia está transformando radicalmente os processos industriais tradicionais. E esta mudança traz consigo oportunidades para os empreendedores. O potencial para causar disrupção em mercados milenares nunca foi tão grande como hoje e para atingir o sucesso no mercado do futuro, todo empreendedor deve pensar sobre quais tecnologias estão hoje trilhando seu caminho, por meio do ciclo de vida de uma tecnologia em crescimento exponencial. Analisando esses cenários, o empreendendor Peter Diamandis, em seu livro “Abundância”, criou o modelo dos 6 Ds do crescimento exponencial para entendermos e identificarmos quando uma tecnologia está prestes a entrar na curva exponencial. Em síntese, isso se desenvolve em seis etapas principais: 80 Capítulo 4 1. Digitalização; 2. Decepção; 3. Disrupção; 4. Desmonetização; 5. Desmaterialização; 6. Democratização. • Digitalização: Uma tecnologia torna-se exponencial quando se torna digitalizada, ou seja, representada em uns e zeros (bits). Uma vez que isso acontece, ela se torna uma tecnologia baseada em informações e lança uma curva de crescimento exponencial. Um exemplo clássico é o da fotografia que passou de analógica (filme) para digital. • Decepção: Nessa fase, a tecnologia está avançando, mas ainda não está sendo amplamente utilizada. Ao ser introduzida leva algum tempo para que atinja velocidade. A impressão em 3D foi assim durante muito tempo, assim como a Robótica e Inteligência Artificial. • Disrupção: Quando um avanço tecnológico atinge um ponto crítico, ele começa a ter efeitos dramáticos, superando o paradigma anterior em eficácia e custo. As tecnologias desempenham um papel na subversão das indústrias estabelecidas. Um exemplo clássico é a Uber, que está rompendo a indústria de táxis. Instagram rompeu totalmente o mercado da Kodak. Esse processo de substituição de produtos antigos por novos também é conhecido por “destruição criativa”. • Desmonetização: A partir do momento em que imagens digitais puderam ser armazenadas em uma câmera, o uso do filme foi totalmente desmonetizado, pois, de repente, ninguém mais comprava filmes. A Pixels fazia o mesmo trabalho. Então, o dinheiro sai da equação. • Desmaterialização: Pense em toda a tecnologia dos anos 80 ou 90 que agora é gratuita com seu smartphone: poder de computação e comunicação, capacidade de tirar fotos, localizador de GPS, gravador de voz, rádio, gravador e player de vídeo, enciclopédia etc. Apenas como exemplo, veja o caso de uma conta gratuita do Instagram, onde se pode acessar um software de edição de imagens que há 10 anos consistia de um pacote de software custando aproximadamente 2 milhões de dólares. Ninguém sai mais por aí para comprar câmeras fotográficas, porque ela vem embutida no smartphone e é acessível via software (App). 81 Empreendedorismo • Democratização: Essas tecnologias tornam-se cada vez mais baratas. Os celulares são um exemplo clássico. Nos anos 80, era uma tecnologia de luxo, que só os mais ricos podiam ter, e depois se moveram lentamente para onde estamos hoje, ou seja, 50% das pessoas do mundo está carregando um “supercomputador” no bolso. Assim, como essas coisas foram democratizadas, o acesso ficou disponível para qualquer um. O modelo de negócios de distribuição digital da Amazon passou por todos esses estágios até o ponto, em que o acesso a quase todo tipo de produto que você poderia querer está disponível a um deslize do dedo. Neste contexto de grandes transformações, também estão surgindo grandes oportunidades em áreas que ainda não sofreram mudanças significativas, mas que precisarão passar por um processo de adaptação à nova realidade que chega mais rápido e que nunca e que será muito mais agressiva do que qualquer previsão. Existem duas opções para as empresas que já existem se posicionarem no mercado. Entender rapidamente as necessidades dos seus consumidores e habilitar suas empresas à informação e assim sobreviver neste mercado extremamente ágil ou aguardar que novas organizações mais disruptivas ou startups a substituam do dia para noite. 1.5 Como criar uma organização com potencial para crescimento exponencial? Salin Ismail, no livro “Organizações Exponenciais”, recomenda 10 passos genéricos aos empreendedores que desejam atingir resultados extraordinários em suas Startups. Sabemos que cada negócio Startup é algo complexo, incerto e único em contexto, liderança, equipe etc., mas os autores compilaram as melhores indicações como veremos a seguir: 1. Definir um propósito transformador massivo – em outras palavras, algo que defina o porquê do negócio, a “causa maior” para existir e “transformar o mundo”. Esse propósito apontará para o norte (da bússola) que ajudará a conduzir o negócio e manter os empreendedores e equipe motivados, clientes interessados etc. 2. Reunir uma comunidade – para trocar conhecimentos e experiências, provocar atores que ajudarão a construir a startup. 3. Providenciar uma equipe de fundadores – com perfis, conhecimentos e experiências complementares, por exemplo: Um visionário, um especialista em experiência do usuário, um engenheiro e um gestor administrativo/financeiro. 82 Capítulo 4 4. Buscar uma ideia inovadora, algo que possa um dia superar pelo menos em 10 vezes o que existe por aí em termos de solução, para poder criar a disrupção no setor de mercado que vai atuar. 5. Construir um modelo de negócio – Canvas – para apoiar a estratégia. 6. Estudar como ganhar dinheiro, ter lucros – revisando a fonte de recursos financeiros do modelo de negócios. 7. Construir um produto mínimo viável (MVP) – usando os conceitos de Startup ágil e enxuta (Lean Startup), apoiada no modelo de desenvolvimento do cliente e usando princípios e metodologias ágeis. 8. Validar os canais de vendas e marketing – pois testá-los e validá- los será essencial para a geração de renda. 9. Organizar a empresa para que as funções críticas funcionem (operações) – considerando inclusive as funções críticas do negócio que ocorrem fora da organização. 10. Tornar o negócio uma plataforma – pois uma boa parte das organizações exponenciais (ExOs) bem-sucedidas atuam com plataformas, como as famosas GAFA (Google, Apple, Facebook e Amazon). As empresas exponenciais pensam em crescer sem ter que usar capital intensivo, utilizando-se do que já existe, facilitando sua adoção pelo mercado. Ser disruptivo e exponencial é aproveitar o que já existe, ser despretensioso, simples, útil e buscar inovar no que realmente importa para as pessoas. 83Empreendedorismo Seção 2 Gestão 3.0 Segundo Chiavenato (2007), para o empreendedor ter sucesso não deve apenas saber criar seu próprio empreendimento. Deve também saber gerir seu negócio, para mantê-lo e sustentá-lo em um ciclo de vida prolongado e obter retornos significativos de seus investimentos. Isso significa administrar, planejar, organizar, dirigir e controlar as atividades relacionadas direta ou indiretamente com o negócio. A gestão 3.0 propõe um novo modelo de gestão focado na autonomia das equipes de trabalho e em sua capacidade de se autogerir de forma ágil e colaborativa para o alcance de objetivos e metas já previamente estabelecidos. Esse modelo de gestão vem ao encontro dos princípios do empreendedorismo, pois não invalida a liderança do gestor e fomenta a participação dos colaboradores, criando um ambiente propício ao intraempreendedorismo. Aqui, a autonomia pode ser descrita como “grupos multidisciplinares e autogeridos, operando com autoridade descentralizada” – Salim Ismail (2015). Esse conceito é relativamente recente, e tem como proposta principal revolucionar a forma que gestores e líderes atuam nas empresas. O Management 3.0 (Gestão 3.0) foi um termo criado pelo Holandês Jurgen Appelo no livro Management 3.0 - Agile Developers, Developing Agile Leaders. Ele procurou se basear em métodos ágeis de gestão, ao mudar a maneira que os times se organizavam e realizavam seu trabalho, como, por exemplo, aqueles times que encontrávamos inicialmente apenas nas indústrias de TI para a aceleração e aprimoramento no desenvolvimento de software. O sucesso encontrado nessa agilidade e aceleração tem despertado a atenção de outros segmentos. Isso porque esse método pode auxiliar empresas a repensarem suas estruturas e processos para se tornarem mais produtivas, ao transmitir técnicas e ideias que podem ser usadas para ajudar um gestor a energizar as pessoas, empoderar times, alinhar restrições organizacionais, desenvolver competências, crescer a estrutura empresarial etc. O que se verifica na prática é que uma das principais mudanças geradas pelo Management 3.0 é exatamente a forma de atuação do gestor ou líder, pois ele deixa de definir regras detalhadas sobre como o time deverá trabalhar e passará a delegar funções e gerenciar equipes. Dessa maneira, ele consegue dar mais autonomia a cada um dos funcionários, ajudando-os a amadurecer profissionalmente com a ajuda de um trabalho individual, de acordo com as expectativas e necessidades de cada um. 84 Capítulo 4 Há o aumento da responsabilidade individual e o gestor passa a ser um motivador, mas isso não significa que o papel do líder é diminuído ou destacado. Dentro do conceito de gestão ágil, várias pessoas podem se reunir para gerenciar um sistema mais complexo, cuja administração por apenas um indivíduo seria impossível. Todo um time é envolvido para cuidar desse sistema, dividindo responsabilidades. Dessa forma, os participantes (colaboradores) dos times terão um espaço muito maior para participar ativamente da moldagem do que seria um ambiente ideal de trabalho. Outro impacto da gestão 3.0 é verificada na qualidade de vida do colaborador, pois envolve uma série de atividades relacionadas à motivação. Cabe, portanto, aos gestores buscarem uma forma de conectar o ambiente da empresa com aquilo que deixa o trabalhador motivado. Na gestão 3.0, a pessoa tem a oportunidade de experimentar um ambiente pautado em transparência e colaboração, e propício para assumir a responsabilidade sobre suas decisões, bem como desenvolver um perfil multidisciplinar de atuação. Como resultado, cria-se uma atmosfera na qual o colaborador consiga atuar de forma plena e se conectar ao que realmente o satisfaça. Para Jurgen Apello (2011), a empresa, ao contar com profissionais motivados (empreendedores) e em amplo crescimento, os resultados tendem a ser muito positivos, não apenas em número e produtividade. O clima organizacional melhora substancialmente, a rotatividade de funcionários diminui e a organização cresce com uma base de sustentação robusta. Pela gestão 3.0, as empresas buscam reavaliar a sua estrutura, tornando os processos mais produtivos, a partir da implantação de técnicas e ideias que ajudam a criar motivação, criatividade, atitude nas pessoas, bem como empoderar times pela auto-organização, autonomia, confiança por parte dos gestores, além de alinhar restrições organizacionais (alinhamento de interesses, engajamento, foco), e o desenvolvimento de competências (autossuficiência, capacitação, evolução das pessoas). Com base no livro Management 3.0, destacamos os princípios da gestão 3.0 que vimos no parágrafo acima: 85 Empreendedorismo Princípios da gestão 3.0: a) Empoderar Times Times devem ser auto-organizados, mas para isso será necessário empoderamento, autonomia e confiança dos gestores. b) Alinhar Restrições As restrições sempre são importantes para guiar e alinhar o interesse de todos os envolvidos. Visto que, por mais engajadas que as pessoas estejam, se o foco não for único, toda ação tomada pode não atender o objetivo proposto. c) Desenvolver Competências O time deve ser auto-organizado e também autossuficiente, ou seja, preparar e evoluir as pessoas deve ser uma prioridade. d) Crescer a Estrutura Toda organização deseja crescer, no Management 3.0 isso não é diferente. Porém, o crescimento deve ser consciente e com foco na qualidade do ambiente colaborativo. e) Melhorar tudo Melhoria contínua deve ser lei, ou seja, a receita do sucesso vai ser errar e aprender com os erros, dessa maneira não tem como não atingir os objetivos e metas. Seção 3 Ferramentas de gestão 3.0 Com a gestão 3.0, os setores de recursos humanos ganham a oportunidade de engajar os colaboradores de maneira genuína e profunda. O mesmo ocorre com a gestão de marketing, porém, sob o olhar dos consumidores. Afinal, o marketing contemporâneo também segue a mesma diretriz da gestão 3.0, pois prioriza a sustentabilidade e o propósito de suas campanhas, principalmente, em um mundo repleto de desafios políticos e dilemas diplomáticos relacionados ao meio ambiente. Nesse sentido, a tecnologia tem sido uma grande aliada da efetivação da gestão 3.0, pois automatiza processos e diminui a distância entre os clientes e empresas, aumentando a velocidade e a transformação do mercado. Com a gestão 3.0, as empresas mais valorizadas pelas comunidades serão aquelas que economizarem recursos, resolvendo problemas e oferecendo boas soluções. Ou seja, para atingirem os consumidores modernos, que se preocupam cada vez mais com os valores das empresas, é que a gestão 3.0 deve ser amplamente difundida. Trata-se de uma questão não apenas de melhoria, mas de 86 Capítulo 4 sobrevivência para as marcas, pois a adoção de um modelo de gestão flexível em detrimento do modelo linear tradicional fará toda a diferença em seus resultados no decorrer dos anos, principalmente, em um mercado cujo público-alvo é cada vez mais exigente, moderno e conectado. 3.1 Escolhendo a ferramenta certa <subtítulo 2> Então como você pode ter os melhores resultados na aplicação de ferramentas de gestão? Tendo consciência do seu problema, selecionando a melhor ferramenta para aquela realidade, aplicando a teoria conforme a indicação e avaliando os resultados disciplinadamente. Em função disso, identificar, escolher, aplicar e avaliar os resultados de suas ferramentas gerenciais é um processo estratégico para quem empreende. A seguir, breve descrição de cada um desses passos: a. Identificar: O primeiro passo é entender o problema e identificar a situação. Não adianta você selecionar uma nova teoria de gestão, seja ela qual for, antes de entender o problema. O business model canvas, por exemplo, é bom desde que você esteja desenhando um novo negócio b. escolher: Depois de entender o problema e identificar a situação, o empreendedor irá escolher a teoria mais adequada para interpretar essa realidadee o profissional mais apropriado para obter os melhores resultados nessas circunstâncias específicas c. aplicar: Compreender que realidades distintas requerem abordagens distintas: “cada caso é um caso” e, por isso, as ferramentas deverão ser aplicadas conforme a necessidade ou os resultados não serão aqueles projetados. O lean startup por exemplo surgiu como uma nova teoria de gestão de projetos para uma nova realidade de maior grau de incerteza Afinal, o que é Lean Startup? A palavra lean pode ser traduzida como “enxuta”, então, Lean startup significa, numa tradução livre, startup enxuta. Esse conceito, no universo da administração, envolve um trabalho de identificação e eliminação de desperdícios nos processos e está muito atrelado ao ambiente de startups de tecnologia. (Endeavor, 2015) Disponível em: https://endeavor.org.br/estrategia-e-gestao/ lean-startup/ Acesso em: 01 ago. 2019. https://endeavor.org.br/estrategia-e-gestao/lean-startup/ https://endeavor.org.br/estrategia-e-gestao/lean-startup/ 87 Empreendedorismo d. Acompanhamento: O empreendedor precisa se manter atualizado sobre o que há de mais eficaz em termos de ferramentas, só assim ele vai conseguir aplicar o conhecimento mais adequado em cada situação. Aqui também vale lembrar que o empreendedor necessita ter um olhar crítico sobre como são feitas as ferramentas. Você sabe como funciona a fábrica de teorias de gestão? De forma resumida, as melhores teorias, como a da inovação disruptiva, do professor Clay Christensen, são produtos do método científico, que envolve observação, categorização, teste de hipóteses e teorização. Ou seja, uma boa teoria nunca advém de um único caso de sucesso. Uma teoria robusta não se resume a olhar algo que deu certo e buscar algum atributo presente. Você sabia que durante algum tempo, na busca do voo tripulado, os pesquisadores pensavam que o que fazia um avião voar eram as asas e não a mecânica dos fluidos? Foi necessário muitos experimentos e quedas de aviões com asas para que isso ficasse claro. Os problemas que surgem no mundo dos negócios são muito complexos para darmos pouca atenção à forma como selecionamos e aplicamos nossas ferramentas gerenciais. Seção 4 Transformando ideias em negócios Atualmente, enfrentamos uma grande diversidade de ideias, problemas, desafios que podem ser vistos como oportunidades para novos negócios, o mais intenso, sem dúvida, diz respeito à revolução tecnológica, a qual impacta na transformação da sociedade e das organizações existentes e as vindouras. Sob esse olhar discorreremos sob alguns tipos de negócios que merecem um aprofundamento, seja pela sua característica, sua escalabilidade, sua inovação, ou seus impactos sociais. 4.1 Negócios digitais Com toda a transformação nos modelos de negócios e a evolução nas suas ferramentas de gestão, como já vimos até o presente momento, precisamos também estar cientes que o empreendedorismo digital surge como uma forte tendência, pois com o acesso à internet cada vez simples e abrangente, há a ampliação das possibilidades de atuação nesse ambiente. 88 Capítulo 4 Os Negócios digitais estão embasados na utilização da tecnologia para agregar novos valores aos modelos de negócios, as experiências do cliente e as capacidades internas que dão suporte a suas principais operações. Esse conceito abrange tanto empresas que apenas existem no meio digital como aquelas mais tradicionais, que estão em processo de transformação a partir das tecnologias digitais. Ser digital requer estar aberto a reexaminar toda a sua maneira de fazer negócios e entender onde estão as novas fronteiras do valor. Para algumas empresas, a captura de novas fronteiras para ao seu “core business” (negócio principal) pode consistir em desenvolver negócios inteiramente novos em categorias adjacentes; para outros, pode ser sobre identificar e ir atrás de novos grupos de valor em setores existentes, visando a impulsionar o crescimento, receitas e desempenho de formas, até então impossíveis com os modelos tradicionais. Exemplos: possibilidade de consultar cardápios e fazer pedido em um restaurante com um simples toque na tela do celular, fazer compras pelo site da Amazon, solicitar um transporte por meio do aplicativo Uber, fazer uma reserva de uma acomodação pelo Airbnb, entre outras, que operam somente por via digital. “A internet oferece uma série de benefícios como ambiente de negócios: a inter- net possibilita iniciar empresas com pouco capital inicial, facilidade para a rápida montagem de uma pequena empresa virtual e a cobertura de grandes regiões geográficas”. (FRIED, HANSSEN, 2010). 4.1.1 Diferença entre e-commerce e e-business Por comércio eletrônico (e-commerce), entende-se o processo de compra, venda e troca de alguns produtos e serviços pela internet. Já o e-business é um conceito um pouco mais abrangente, que inclui a compra e venda, mas também podem ocorrer a prestação de serviços aos clientes, a cooperação com parceiros comerciais e a realização de negócios eletrônicos dentro de uma organização. (Turban, King, 2004). Quando nos referimos a e-commerce, estamos falando do “comércio eletrônico” de artigos ou serviços. Essas transações não ultrapassam a esfera virtual, isto é, a escolha, o contato e o pagamento são feitos pela internet. Apenas eventuais contatos telefônicos via SAC e referentes ao transporte do objeto são realizados fora dessa cadeia digital. O e-business (negócio eletrônico) tem um formato mais amplo. Contempla as relações comerciais com parceiros e fornecedores, além dos clientes, e mantém uma estrutura completa de processos setorizados. Ele pode agregar um conjunto de sistemas eletrônicos aplicados ao negócio, abaixo elencamos os que são bastante usuais e cujas terminologias vocês irão ouvir muito se optarem por esse modal. 89 Empreendedorismo • ERP (Enterprise Resource Planning ou Sistema Integrado de Gestão Empresarial) — ferramenta que integra e gerencia todas as atividades diárias da empresa; • SAC (Serviço de Atendimento ao Cliente) — meio utilizado para estabelecer contato com o cliente, tirando dúvidas e recebendo sugestões e reclamações; • CRM (Customer Relationship Management ou Gestão de Relacionamento com o Cliente) — é um conjunto de práticas e tecnologias com foco no cliente, para gerenciar todas as interações e usar as informações estrategicamente para aumentar as vendas; • BI (Business inteligence ou Inteligência de Negócios) — softwares capazes de processar dados de outros sistemas. A partir deles, são mapeados cenários e fornecidas previsões de resultados como suporte ao planejamento corporativo; • SCM (Supply Chain Managment ou Gestão da Cadeia de Suprimentos) — sistema que possibilita o gerenciamento dos processos de logística; • E-commerce — plataforma de comércio eletrônico que pode ser utilizada como uma das estratégias do e-business. De acordo com O’Brien (2004), atualmente, muitas empresas participam de três categorias básicas de aplicação do comércio eletrônico: • de empresa-a-consumidor (B2C); • de empresa-a-empresa (B2B); • de consumidor-a-consumidor (C2C). Comércio eletrônico do tipo B2C é basicamente um tipo de transação comercial em que o comprador é uma pessoa física que, a partir de um computador pessoal, realiza suas buscas e adquire um produto ou serviço por meio da internet. Um bom exemplo de comércio eletrônico B2C pode ser o site de compras Submarino.com (http://www.submarino.com.br), uma vez que uma empresa (pessoa jurídica) vende diretamente a um consumidor (pessoa física). Pode-se dizer, então, que as soluções B2C são voltadas para os consumidores. O conceito do comércio eletrônico B2B, ou comércio eletrônico entre empresas, pode ser definido como a substituição dos processos físicos que envolvem as transações comerciais (envio e recebimento de cotações, troca de informações diversas etc.) por processo eletrônico. Normalmente, são construídos com apoiode tecnologias baseadas na internet, onde compradores e fornecedores encontram-se e transacionam em tempo real. 90 Capítulo 4 Como exemplo de comércio eletrônico B2B, pode-se citar a empresa Makro Atacadista (http://www.makroatacadista.com.br/), que comercializa produtos entre empresas. Ou seja, a Makro, por ser uma empresa, vende somente para outras empresas. Entre as categorias de comércio eletrônico há, ainda, o comércio eletrônico de consumidor-a-consumidor (C2C), uma importante estratégia de negócios, em que os comerciantes podem comprar e vender entre si em um processo de leilão. Esse é feito, tradicionalmente, quando se tem um produto a se ofertar e que, posteriormente, será vendido para quem der o maior lance (ofertar um maior valor). O C2C é a relação comercial entre duas ou mais pessoas físicas, sem a intermediação direta de empresas, também é conhecido como consumer-to- consumer. (BEZERRA; OLIVEIRA, 2006). Fonte: Trecho extraído de Hermann, Ingo Louis. Empreendedorismo: livro didático / Ingo Louis Hermann ; revisão e atualização de conteúdo Ingo Louis Hermann ; design instrucional [Flavia Lumi Matuzawa, Viviane Bastos], Roseli Rocha Moterle. – 3. ed. – Palhoça : UnisulVirtual, 2011. Páginas 133-134. Como exemplo de comércio C2C pode-se citar a OLX (http://www.olx.com.br), que comercializa, faz a intermediação de produtos, entre pessoas físicas. A natureza global da tecnologia, a oportunidade de atingir milhões de pessoas, a natureza interativa do comércio eletrônico, suas diferentes possibilidades de utilização, recursos e a rápida expansão de infraestrutura que lhe dá suporte, especialmente da web, resultam em inúmeros benefícios para as organizações, para os indivíduos e para a sociedade. 4.2 Start ups O termo startup começou a ser usado nos Estados Unidos, no final da década de 1990, no período do boom das empresas ligadas à Internet (as chamadas dotcom), sendo então utilizado para designar uma empresa ou empreendimento novo, criado por um grupo de pessoas com o objetivo de trabalhar uma ideia diferente da existente, e que, pelo menos aparentemente, deveria gerar muito dinheiro. O empreendedorismo de alto impacto como o próprio nome diz, trata-se de um tipo de empreendedorismo voltado para a criação de negócios altamente escaláveis. Como começam pequenos, mas em pouco tempo apresentam significativa capacidade de crescimento exponencial, eles são capazes de impactar de forma rápida e eficaz a economia do país. http://www.olx.com.br http://knoow.net/ciencinformtelec/informatica/internet/ 91 Empreendedorismo Obviamente, não é fácil ter uma ideia de negócios com essas características. As empresas que, de fato, crescem exponencial e aceleradamente, muitas vezes apresentam algum tipo de inovação radical, seja no produto que oferecem ou na forma completamente nova e mais eficiente de pensar um processo que já existe. Agrega-se a isso o fato de atuarem normalmente em ambientes de alta incerteza. A essas empresas inovadoras em estágio inicial de desenvolvimento, dá-se o nome de Startups. Startup é uma empresa jovem com um modelo de negócios repetível e escalável, em um cenário de incertezas e soluções a serem desenvolvidas. Embora não se limite apenas a negócios digitais, uma startup necessita de inovação para não ser considerada uma empresa de modelo tradicional. (Eric, 2012, p. 26) Ele reforça que as startups utilizam muitos tipos de inovação: descobertas científicas originais, um novo uso para uma tecnologia existente, criação de um novo modelo de negócios que libera um valor que estava oculto, ou a simples disponibilização do produto ou serviço num novo local ou para um conjunto de clientes anteriormente mal atendidos. Em todos esses casos, a inovação é o cerne do sucesso da empresa. Apesar de serem conhecidas como “empresas emergentes” e “jovens”, nem todo novo negócio pode ser considerado uma startup. A marca de uma startup é a criatividade, inovação e visão de mercado, é pensar “fora da caixa”. Por exemplo: Ao invés de vender um produto, a Google, há anos, teve a ideia de obter dinheiro com a pesquisa das pessoas, tornando-se assim o maior site de busca existente. Redes como o Facebook, Apple, Microsoft, também são bons exemplos que iniciaram como startups e que decolaram e fazem render bilhões de reais com seus produtos e serviços. O termo startup também pode referir-se a uma fase de uma empresa já existente, que quer inovar, apostar em novas vertentes. Como todo negócio novo, abrir uma startup é um risco, sem muita (ou com nenhuma) garantia. Características de uma startup, segundo Steve Blank, em seu livro Startup Manual do Empreendedor (2014): Negócio temporário: A startup é uma fase, que dura enquanto o modelo de negócios ainda não adquiriu estabilidade. Repetível: A capacidade de repetição da startup ocorre quando não há necessidade de personalização ou adaptação dos seus produtos, facilitando o processo de venda. Garantindo a escalabilidade sem limites do produto ou serviço. 92 Capítulo 4 Escalabilidade: Um modelo de negócios escalável tem a característica de gerar muito mais receita e uma menor necessidade de investimentos em infraestrutura, recursos humanos e financeiros. Condições de incerteza: toda abertura de empresa gera insegurança em determinada medida. No entanto, a startup é fundada num cenário de incerteza ainda maior, pois está baseada primordialmente em ideias inovadoras e disruptivas, o que torna a execução do projeto ainda mais difícil de dar certo. Para conseguir executar a ideia com mais precaução, entretanto, é necessário um planejamento bem detalhado das ações, como já vimos na modelagem canvas e no plano de negócios. 4.3 Negócios de Impacto Social Os negócios de impacto social são basicamente empreendimentos que têm como objetivo a constituição de uma organização com foco na solução ou minimização de um problema social, com ou sem fins lucrativos. Eles têm um grande potencial de transformar o mundo, não apenas pelo seu foco, mas também pela sua estrutura organizacional que permite a sustentabilidade financeira do negócio. Segundo Yunus (2008, p.18), negócios sociais são empresas que têm a única missão de solucionar problemas sociais, são autossustentáveis financeiramente e não distribuem dividendos. É uma empresa na qual o investidor recupera seu investimento inicial, mas o lucro gerado é reinvestido na própria empresa para ampliação do impacto social. O sucesso do negócio não é medido pelo total do lucro gerado em determinado período, mas sim pelo impacto criado para as pessoas ou para o meio ambiente. Os “clientes” dos negócios de impacto social, na sua maioria, estão na base da pirâmide social, ou seja, estão nas classes C, D e E. Um olhar atento é capaz de identificar várias oportunidades de negócios nesses segmentos. A primeira vantagem é gerada pela grande demanda presente neste mercado por artigos de qualidade e baixo preço. A necessidade de manter os custos baixos leva as empresas a inovarem, pois precisam descobrir novas formas de desenvolver produtos e lidar com a cadeia de suprimentos, ganhar produtividade e gerar novas formas de gestão. 93 Empreendedorismo Questões como essas demonstram porque a base da pirâmide é considerada um canteiro para inovações. Nesse sentido, empresas como a General Electric, Danone e Coca-cola já utilizam inovação reversa, ou seja, inovar em mercados emergentes, pensando em soluções eficientes a um baixo custo e, posteriormente, levando essa inovação aos mercados desenvolvidos. É fundamental considerar que apesar da segmentação deste modelo ser a “base da pirâmide”, nada impede que você trabalhe com inclusão de deficientes físicos de todas as classes sociais, ou com causas de mobilidade urbana que atendam outras classes, ou, ainda, no caso de atendimento para setores da saúde que possam diminuir o custo de transação a partir de preços diferenciados a públicos específicos de clientes.É importante registrar que não são todas as iniciativas que trabalham com a base da pirâmide que podem ser entendidas como negócios de impacto social. Empresas que não buscam um impacto social ou que praticam uma responsabilidade social distante do seu core business não podem ser assim consideradas, ou seja, para ser realmente um negócio de impacto social, a base da pirâmide não deve ser vista apenas como uma oportunidade de mercado, mas suas demandas devem ser analisadas e trabalhadas de forma a colaborar na resolução do problema social a partir da oferta de produtos ou serviços que colaborem com determinada questão. Um termo que tem se tornado comum para as empresas hoje, principalmente para as grandes é a “ criação de valor compartilhado”, criada por Porter e Kramer (2011). Ela considera que as empresas devem buscar ações que gerem valor para si e também para a sociedade, alinhadas à estratégia dos negócios, que continua buscando a lucratividade. Mas sob este viés – uma organização que gera valor compartilhado (ganha-ganha) não pode ser entendida como um negócio de impacto social. No Brasil, não há regulamentação para criação de negócios com impacto social, as questões jurídicas são tratadas da mesma forma que as empresas tradicionais, o setor ainda precisa de um grande apoio da sociedade civil e do Congresso Nacional para aprovação de leis que incentivem o segmento. A Artemisia, organização sem fins lucrativos que trabalha no fomento aos negócios de impacto social no Brasil, elenca seis aspectos que entende como indispensáveis à caracterização desses empreendimentos. São eles: 94 Capítulo 4 • Foco na baixa renda: são desenhados de acordo com as necessidades e características da população de baixa renda. • Intencionalidade: tem como missão causar impacto social e são geridos por empreendedores éticos e responsáveis. • Potencial de escala: podem ampliar seu alcance por meio da expansão do próprio negócio, seja pela replicação em outras regiões ou pela disseminação por outros empreendedores ou por políticas públicas. • Rentabilidade: Possuem um modelo sólido e com autonomia financeira, não dependendo de doações ou subsídios. • Impacto social relacionado `a atividade principal: o produto ou serviço deste negócio gera impacto social. • Distribuição de dividendos: o negócio pode ou não distribuir dividendos aos acionistas. Ponto importante para sua jornada de empreendedor social Instrumentalize desde o início o seu negócio a partir do uso de ferramentas de modelagem de negócios como o Canvas. Elas lhe ajudarão a ter claramente definido com qual público-alvo irá trabalhar, a “dor” de quem você quer aliviar’ a região em que deve iniciar, as alternativas de promoção que poderão ser aplicadas; e, não menos importante, qual a demanda social que você irá solucionar e em qual medida. Afinal, negócios de impacto social são empresas que têm fins sociais e não exclusivamente econômicos, por isso devem se comunicar com o cliente, entregar seu produto ou serviço com qualidade e sempre criar valor para a sociedade, por meio de seu produto e de sua estrutura de negócios. Logo, para apoiar a emergência desse modelo de negócios é necessário garantir um ecossistema privilegiado. Há alguns stakeholders (partes interessadas) que são importantes como: aceleradoras, investidores, incubadoras, ongs, pesquisadores, governo, entre outros. Dessa forma, consegue-se capilaridade e vantagens competitivas, já que esses apoiadores facilitam a viabilidade do negócio, seu crescimento e seu relacionamento com a sociedade. 4.4 Franquia Franquia é o termo genérico utilizado para designar o sistema como uma totalidade e pode ter dois significados bem distintos: • unidade ou negócio operado e administrado por um franqueado; • composição dos direitos concedidos por um determinado franqueador a cada um de seus franqueados. 95 Empreendedorismo Um modelo de negócios conhecido como franquia, ou franchising, não é necessariamente, uma tendência inovadora nos dias atuais, mas continua sendo uma boa oportunidade para aqueles que querem empreender e não possuem experiência anterior no ramo de negócio que passarão a atuar. A franquia refere-se ao licenciamento do uso de marcas. Constitui a transferência para um segundo empresário de toda a história de sucesso de determinada marca, incluindo, entre outros itens, o repasse de informações nos campos de tecnologia, gestão do negócio, treinamento e merchandising . Ela encontra-se regulada pela Lei 8955, de 15 de dezembro de 1994, e que define franquia em seu artigo 2º como: Franquia empresarial é o sistema pelo qual um franqueador cede ao franqueado o direito de uso de marca ou patente, associado ao direito de distribuição exclusiva ou semi-exclusiva de produtos ou serviços. Eventualmente, também ao direito de uso de tecnologia de implantação e administração de negócio ou sistema operacional desenvolvidos ou detidos pelo franqueador, mediante remuneração direta ou indireta, sem que, no entanto, fique caracterizado vínculo empregatício. A essência da franquia está na parceria, pois ela junta a capacidade mercadológica, tecnológica e gerencial do franqueador (o que disponibiliza o know-How) ao espírito empreendedor e à capacidade de trabalho do franqueado. O sucesso dependerá da competência e do trabalho harmônico de ambas as partes. Assim, o sistema de franchising constitui uma junção de interesses em que os dois parceiros — o franqueado e o franqueador — unem esforços em busca de um objetivo: o sucesso de ambos. Ao comprar uma marca já estabelecida no mercado, o franqueado, além de maiores chances de êxito, poupa-se do trabalho de reinventar a roda, já que adquire a experiência acumulada pelo franqueador. Queimam-se etapas, pois alguém já gastou o tempo e os recursos necessários para consolidar o negócio. O franqueado beneficia-se do fato de assumir um negócio amadurecido e pronto para render lucros. De igual modo, o franqueador beneficia-se com a possibilidade de cobrir um mercado maior com investimentos mais reduzidos e adquirir uma rentabilidade mediante a cobrança da franquia. No estudo sobre franchising, Dornelas (2005, p. 203) faz as seguintes definições: Franqueador é quem concede e vende à franquia, seja pessoa física ou jurídica. Geralmente, o franqueador desenvolve e experimenta na prática o conceito do negócio e a tecnologia de operação que o envolve e concede a franquia, autorizando o franqueado a fazer uso dela na implantação, administração e operação de um negócio que deverá funcionar de acordo com aquele conceito. 96 Capítulo 4 Franqueado é quem adquire a franquia, seja pessoa física ou jurídica, pagando ao franqueador, quase sempre, uma taxa inicial, além de royalties periódicos e outros valores. O franqueado é o responsável pela instalação, operação e administração da franquia, atuando conforme as normas ditadas pelo franqueador. Ele banca todos os custos de instalação e todas as despesas de operação e administração da franquia. Há dois tipos de franquia conforme o ramo de atividade do franqueado: ela pode ser de indústria ou de varejo. A franquia de varejo pode ser subdividida em franquia de produto, de serviços e franquia híbrida ou mista. Na franquia de indústria, o franqueado implanta e opera uma empresa industrial. É o caso da Cola-Cola: as fábricas engarrafadoras de bebida são de propriedade dos franqueados, que operam a produção e a distribuição, enquanto a Coca-Cola se limita a fornecer os xaropes concentrados e o know-how. Na franquia de varejo, o franqueado instala e opera um negócio em que comercializa essencialmente produtos/serviços. No caso da franquia híbrida, o franqueado comercializa produtos/serviços em conjunto. Um exemplo típico de franquia de varejo de produtos é O Boticário, e um de franquia de varejo de serviços é 5àsec. Para exemplificar franquia híbrida ou mista, podemos citar a escola de idiomas Yázigi, emque o franqueado comercializa livros sobre o método de ensino e a prestação de serviços de ensino de idiomas, equilibrando produtos/serviços de maneira intimamente relacionada. A franquia pode ser um excelente negócio quando os aspectos previstos na Lei de Franquias são observados e respeitados como: • o formato do negócio é comprovadamente viável e tem apoio promocional e manual de operações; • concede o direito de uso do nome ou da marca; • proporciona treinamento em venda e em negócios ao franqueado; • o contrato define claramente os direitos e as obrigações de ambas as partes; • apresenta uma pesquisa de mercado a longo prazo, que vislumbra a sobrevivência do negócio diante de mudanças futuras; • permite um amplo território de exclusividade para gerar renda suficiente; • proporciona suporte e apoio antes, durante e após o início da atividade, incluindo consultoria de gestão. 97 Empreendedorismo E por outro lado a franquia pode ser um mau negócio quando: • o franqueador tem apenas uma loja no mercado e a franquia não foi totalmente testada e experimentada na prática; • as condições do franqueador são demasiadamente rígidas; • a taxa inicial é muito elevada; • os territórios são muito divididos e não há pesquisas sobre as diferentes áreas do país e de seus mercados; • o franqueador subestima a concorrência; • a expectativa de vendas é baseada nos resultados obtidos em outro país; • o franqueador promete muitas vendas, mas sem comprovação. 4.5 Agronegócios O Brasil, por ser um país com grandes dimensões territoriais, apresenta grandes oportunidades de negócios ligados ao campo. Para Pena (2019), o agronegócio – ouagrobusiness do inglês – trata dos negócios relativos ao contexto socioespacial das diversas atividades produtivas ligadas `a produção e subprodução de produtos derivados da agricultura e pecuária, incluindo todos os serviços, técnicas e equipamentos a ela relacionados, direta ou indiretamente Esse setor da economia envolve uma extensa cadeia de atividades que inclui desde a própria produção agrícola (cultivo de culturas como o milho, arroz, café, pecuária etc.), a demanda por adubos e fertilizantes, o desenvolvimento de pesquisa e produção de maquinários agrícolas e pecuaristas, a manufatura de produtos do campo (como óleos, cigarros, café solúvel, entre outros) e o desenvolvimento de tecnologias para serem incrementadas e dinamizar todas essas atividades. Segundo Macilon (2005, p. 25), o agronegócio não se restringe ao campo, ele também tem reflexos no meio urbano, pois promove atividades rurais que impactam o funcionamento das cidades. Isso ocorre pois à medida em que há evolução no setor, há uma modernização, principalmente do maquinário utilizado e, consequentemente, uma dependência dos setores industriais que se encontram estabelecidos nas cidades. Assim, é possível perceber um “ciclo virtuoso” que inter-relaciona os três setores da economia: o primário (com a agropecuária), o secundário (com as indústrias de tecnologias e de transformação das matérias-primas) e o terciário (com o transporte e comercialização dos produtos advindos do campo). 98 Capítulo 4 A participação do agronegócio brasileiro na economia é impressionante! O PIB 2 da cadeia do agronegócio tem uma participação na economia de quase 25% do PIB nacional. E dentro desse cenário salientamos a importância do agronegócio, pois é um dos principais setores que promovem a economia brasileira de forma exponencial, aliando práticas rurais e urbanas. E essa exponencialidade é fomentada pelas tecnologias digitais que permitem o aumento da produtividade. Cada vez mais agricultores e pecuaristas, de grande ou de pequeno porte estão fazendo uso de novas tecnologias digitais para o agronegócio, produzidas, muitas vezes, por startups. Podemos verificar, por meio do surgimento de softwares de inteligência artificial voltados às necessidades do campo e drones para mapear a eficiência da lavoura e do pasto ou novos sistemas de gerenciamento que permitem uma agricultura de precisão. Como curiosidade, você sabe o que é uma agricultura de precisão? Trata-se da utilização da tecnologia de informação baseada no princípio da variabilidade do solo e clima, pelo uso de dados, GPSs, ferramentas e outros controles. Esse tipo de sistema vem conquistando espaço no mercado, ele objetiva reduzir custos, aumentar a produtividade e diminuir os erros e riscos da colheita – inclusive minimizando os efeitos danosos ao meio ambiente. Tudo isso graças à tecnologia que consegue compreender a variabilidade do solo, seus níveis nutricionais e as necessidades que devem ser corrigidas. (apud J.P Molin) As novas tecnologias digitais no campo vão ser determinantes para o aumento da produtividade em pastos e lavouras em todo o mundo. Para isso, a procura por inovações disruptivas é intensa. Um dos grandes fatores que estão levando a transformação do agronegócio e impulsionando a digitalização do campo brasileiro é a pressão dos consumidores. Seguindo uma tendência mundial, eles exigem transparência no processo de produção para saber o quão sustentável e com menor impacto ambiental é aquele produto que chega à sua mesa. 2 É um indicador para medir a atividade econômica do país e representa a soma, em valores monetários, de todos os bens e serviços finais produzidos numa determinada região, durante um determinado período _GoBack
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