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Prévia do material em texto

ECONOMIA 
POLÍTICA
Filipe Prado Macedo da Silva
Teorias liberais
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Explicar as origens do pensamento liberal e suas principais vertentes.
  Identificar as correntes liberais relacionadas ao desenvolvimento do 
capitalismo nas economias centrais e nas formações socioespaciais 
periféricas.
  Discutir a influência do liberalismo na formação do pensamento po-
lítico e econômico na contemporaneidade.
Introdução
O pensamento liberal, que nasceu nos séculos XVIII e XIX, afeta, ainda 
hoje, a formação do pensamento político e econômico a partir de novas 
vertentes. 
Neste capítulo, você vai estudar as teorias liberais, compreendendo de 
maneira sintética as origens desse pensamento e as suas principais vertentes 
e vendo como essa corrente de ideias influenciou o desenvolvimento do 
capitalismo nas economias centrais — mais ricas — e nas economias perifé-
ricas — mais pobres. Por fim, você vai observar como o pensamento liberal 
influencia a formação contemporânea do pensamento político e econômico.
As origens do pensamento liberal e suas 
principais vertentes
O pensamento liberal surgiu ao longo dos séculos XVII e XVIII, como uma 
doutrina ideológica que se posicionou contra a ideologia absolutista que reinava 
naquele período. Ou seja, o liberalismo é um substrato ideológico às revoluções 
antiabsolutistas e antimercantilistas que aconteceram — fundamentalmente 
— na Inglaterra e na França (BELL, 1961; SANDRONI, 2005).
Dessa maneira, o pensamento liberal brotou no seio e nos anseios do 
poder da burguesia nascente, que ganhava, naquele momento, importância 
e relevância nos Estados Nações a partir da Revolução Industrial (JAMES, 
1984). Assim sendo, o poder burguês rivalizava com as aristocracias em 
decadência e ia contra o absolutismo dos monarcas. Em poucas palavras, 
o pensamento liberal queria uma “[...] nova lógica social e econômica” 
(SILVA, 2010, p. 19).
Nesse contexto, o liberalismo defendia um conjunto de ideias que eram, 
para a época, revolucionários, a saber: (1) ampla liberdade dos indivíduos; (2) 
a democracia representativa com a separação em três poderes: exExecutivo, 
Legislativo e Judiciário; (3) o direito inalienável à propriedade privada; e 
(4) a livre iniciativa e a concorrência como basilares para a garantia dos 
interesses individuais e para o progresso das sociedades capitalistas (SAN-
DRONI, 2005).
Um dos principais conceitos do liberalismo (na sua visão econômica) é o 
laissez-faire, laissez-passer (“deixar fazer, deixar passar”). A ideia é a de que 
não existe lugar para a ação e a intervenção econômica do Estado Nacional, 
que tem somente a função de garantir a livre concorrência entre as firmas 
e os agentes econômicos e o direito à propriedade privada, quando essa for 
ameaçada por convulsões e revoluções que ponham em risco a garantia desse 
direito. Logo, o Estado passa a ser somente, e nada além disso, um regulador 
e garantidor das riquezas e da mais-valia (isto é, do lucro).
Além disso, é importante destacar que o pensamento liberal se forjou 
no seio das transformações sociais, econômicas e políticas da Revolução 
Industrial (SANDRONI, 2005). Diversos historiadores destacam que o li-
beralismo na sua vertente econômica iniciou-se com François Quesnay, mas 
ganhou contornos teóricos com os trabalhos de Adam Smith, John Stuart 
Mill, David Ricardo, John Say, Thomas Malthus, entre outros clássicos do 
século XVIII e XIX.
Acreditava-se, naquela ocasião, que a economia, tal como a natureza física, 
era regida por leis universais e imutáveis, em que o homo economicus — livre 
do Estado e das pressões de grupos sociais — poderia realizar sua tendência 
natural de alcançar o máximo de lucro com o mínimo de esforço. Nessa 
perspectiva, a ideia de liberdade seria capaz de conduzir as sociedades para 
a sua plena satisfação e eficiência. A ganância (e a sua obtenção individual) 
seriam a força motriz do sistema capitalista. 
Isso se aplicava, também, às relações econômicas internacionais — ou 
seja, ao comércio entre os Estados Nações da época. Logo, os princípios da 
liberdade econômica aplicados ao comércio internacional levaram à “política 
do livre-cambismo”, condenando as antigas práticas mercantilistas, as barreiras 
alfandegárias e os protecionismos nacionais (SANDRONI, 2005).
Teorias liberais2
Atualmente, o liberalismo econômico mantém-se, essencialmente, no plano 
retórico, pois, na prática, existe muito dirigismo econômico na sociedade 
capitalista moderna (SILVA, 2010). A partir dos anos 1980, o novo liberalismo 
(ou neoliberalismo) renovou o conjunto de doutrinas do pensamento liberal 
originário, trazendo à tona em âmbito mundial as práticas liberais inauguradas 
nos séculos XVIII e XIX.
Laissez-faire, laissez-passer (“deixar fazer, deixar passar”) é uma expressão em francês 
que proclama a mais absoluta liberdade de produção e comercialização de bens e 
serviços. O lema ganhou força de modo radical na Inglaterra, que estava na vanguarda 
da produção industrial e da necessidade de novos mercados para seus produtos. A ideia 
do laissez-faire ia radicalmente contra as práticas corporativistas e mercantilistas, que 
impediam a produção em larga escala e resguardavam os domínios coloniais apenas 
às metrópoles. Em poucas palavras, o laissez-faire virou significado de liberalismo 
econômico ou ausência de intervenção do Estado.
Principais vertentes do pensamento liberal
No pensamento liberal, podemos destacar duas vertentes ideológicas: as 
Escolas Clássica e Austríaca. Na primeira, estão os arcabouços ideológicos 
formulados no século XVIII e XIX; na segunda escola, estão os pensamentos 
formulados no século XIX e XX. 
O liberalismo clássico é aquele que também inaugura a economia como 
ciência. Nesse sentido, a Escola Clássica surgiu no século XVIII, com a pu-
blicação do livro A Riqueza das Nações (em 1776), do escocês Adam Smith 
(1996). Mas foi no século XIX que o liberalismo clássico se consolidou como 
linha de pensamento, com o aparecimento de novos pensadores econômicos 
que expandiram as análises teóricas, como Jeremy Bentham, David Ricardo, 
Thomas Malthus, James Mill, Jean-Baptiste Say e John Stuart Mill.
A Escola Clássica se baseou em diversos preceitos filosóficos, em especial, 
aqueles ligados ao liberalismo e ao individualismo. Em termos gerais, os 
pensadores liberais clássicos refutam as tradições mercantilistas e as doutri-
nas fisiocratas. Logo, discordam das visões mercantilistas de que a riqueza 
é estabelecida pelo entesouramento de ouro e de prata e são contra as ideias 
fisiocratas de que somente a agricultura produz valor. É, portanto, dessa crítica 
3Teorias liberais
que a Escola Clássica elabora a teoria do valor-trabalho, revelando que todas as 
atividades em uma economia produzem valor e que a riqueza de uma nação é 
resultado dos valores de troca nos mercados (SANDRONI, 2005).
Dessa maneira, Adam Smith revelou que o crescimento da riqueza de uma 
nação depende basicamente da produtividade do trabalho, que, por sua vez, 
é função do grau de especialização ou da divisão do trabalho, determinado 
pela expansão do mercado e do comércio (SMITH, 1996). Por isso, Adam 
Smith concluiu que era fundamental, em qualquer nação, a remoção de todas 
as barreiras ao comércio interno (ou doméstico) e externo (ou internacional). 
Nessa linha de raciocínio, a política liberal conduziria “invariavelmente” ao 
desenvolvimento das forças produtivas e ao sucesso do que Smith chamou de 
“mão invisível”. Em outras palavras, as regulamentações estatais mercantilistas 
levavam a economia ao retrocesso. Essas análises teóricas foram também 
defendidas por David Ricardo, que também observou uma contradição entre 
o valor de troca e o preço relativo das mercadorias, que só seria resolvida anos 
mais tarde por Karl Marx em sua análise da transformação do valor de troca 
em preço de produção (RASMUSSEN, 2006). Além do mais, David Ricardoformulou o conceito de vantagem comparativa e demonstrou que o comércio 
internacional é uma situação de “ganho-ganho” para os países envolvidos. 
Essa visão clássica destruiu a equivocada teoria do mercantilismo que defendia 
que o colonialismo deveria beneficiar apenas a metrópole à custa da colônia. 
Enquanto isso, o industrial e economista francês Jean-Baptiste Say contri-
buiu com a Escola Clássica ao elaborar a Lei dos Mercados ou a Lei de Say, 
segundo a qual a produção criaria a sua própria demanda, impossibilitando 
uma crise de superprodução. Na época, a Lei de Say provocou muita polêmica 
com outros pensadores clássicos, como David Ricardo e Thomas Malthus, mas 
esse conceito seria posteriormente empregado pela Escola Neoclássica em sua 
elaboração do conceito de equilíbrio econômico.
Outro importante pensador liberal clássico foi John Stuart Mill, que analisou 
principalmente as teses de Thomas Malthus e David Ricardo. Além do mais, 
John Stuart Mill deu sequência aos estudos de seu pai, o pensador inglês James 
Mill. No que se refere à teoria do valor, John Stuart Mill procurou demonstrar 
como o preço é determinado pela igualdade entre demanda e oferta e como a 
demanda recíproca de produtos afeta os termos do intercâmbio entre os países. 
Ele também lançou a ideia da elasticidade da demanda — expressão introduzida 
mais tarde por Alfred Marshall — para analisar as possibilidades alternativas 
de comércio (SILVA, 2010).
Teorias liberais4
Por fim, cabe destacar que John Stuart Mill foi o único pensador clássico 
a abandonar o rigor doutrinário do liberalismo e do individualismo. Mill 
afirmava que deveria haver menor dependência da natureza e um maior grau 
de intervenção governamental para a resolução de determinados problemas 
econômicos. Por exemplo, ele defendia, para contrabalançar o poder dos 
grandes empresários, o fortalecimento dos sindicatos e o recurso à greve e 
que a renda, por constituir um excedente, deveria ser submetida à tributação 
(SANDRONI, 2005).
Já o pensamento liberal de tradição austríaca, a Escola Austríaca ou a 
Escola de Viena, nasceu na Universidade de Viena, na Áustria. Essa escola 
surgiu com Carl Menger, na segunda metade do século XIX, e continuou com 
Friedrich von Wieser, Eugen von Böhm-Bawerk, Ludwig Edler von Mises, 
Friedrich August von Hayek e John Richard Hicks (SANDRONI, 2005). Foi 
apenas no começo do século XX que a Escola Austríaca ganhou destaque e 
foi por algum tempo considerada por muitos como sendo parte do pensamento 
econômico dominante. Depois, passou a ser classificada por alguns historia-
dores econômicos como uma escola heterodoxa.
O ponto de partida de Carl Menger foi a perspectiva de que a teoria do valor 
era afetada por fundamentos psicológicos ou por escolhas humanas subjetivas. 
Logo, existia uma crítica aos economistas clássicos que pesquisavam a origem 
do valor “nas coisas”, e não “no homem”. É por isso que a Escola Austríaca 
enfatiza o poder do equilíbrio espontâneo do mecanismo de preços e que é 
extremamente difícil a modelação matemática do mercado.
Além disso, a Escola Austríaca constatou que “[...] a intensidade de um 
desejo decresce com sua satisfação e, por isso, percebeu que o valor de um 
bem é determinado por sua última porção, ou seja, por sua porção menos de-
sejável” (SILVA, 2010, p. 70). Esse é o princípio da utilidade marginal. Embora 
economistas neoclássicos também tenham chegado a conclusões semelhantes, 
foram os representantes da Escola Austríaca os que melhor exploraram os 
princípios da utilidade marginal (RASMUSSEN, 2006; SILVA, 2010).
É importante destacar, ainda, que a Escola Austríaca defendia o laissez-
-faire para a economia. Na prática, isso significava que a economia deveria 
estar o menos possível sujeita aos efeitos das forças coercitivas do Estado; na 
visão austríaca, os acordos contratuais entre os agentes econômicos deveriam 
ser voluntários. Além do mais, a Escola Austríaca abordou, com seus mais 
diferentes representantes, novas explicações para o valor dos bens de produção, 
os juros, a moeda e a distribuição dos bens.
5Teorias liberais
As correntes liberais e o desenvolvimento 
do capitalismo nas economias centrais e nas 
formações socioespaciais periféricas
O pensamento liberal nasceu nas economias centrais, em especial, na Ingla-
terra, que liderava a Revolução Industrial do século XVIII e XIX. A visão 
dos pensadores liberais clássicos era composta, portanto, por um conjunto 
de raciocínios lógicos que atendiam aos interesses políticos, econômicos e 
sociais daquela sociedade (com elevado protagonismo). É importante lembrar 
que, até o fi nal da Segunda Guerra Mundial, o Império Britânico era a grande 
potência política e econômica do período (HOBSBAWN, 1979).
Sendo assim, o liberalismo clássico era permeado pela visão britânica 
do mundo. A liberdade pregada no campo econômico visava atender os 
industriais que nasciam naquele período, e que, logo, necessitavam de mais 
mercados para vender seus produtos industrializados. A lógica era abrir 
novos mercados para os novos produtos que brotavam no esplendoroso 
desenvolvimento da capacidade industrial inglesa. Por isso, os ingleses eram 
contra as anacrônicas barreiras alfandegárias, que ainda permaneciam em 
economias centrais da Europa e em suas colônias, que tinham mercados 
exclusivos com a metrópole.
Posteriormente, o ideal do liberalismo clássico migrou no século XIX para 
os Estados Unidos, servindo de base para os desejos revolucionários e inde-
pendentistas da colônia britânica. Após a independência, os norte-americanos 
passaram a defender, também, o ideal de doutrinas liberais. Já no século XX, 
com o avanço do sistema capitalista em todos os continentes do mundo, o ideal 
liberal foi revisado e adotado por outras escolas do pensamento econômico, 
como a Escola Austríaca (SILVA, 2010).
Além da Escola Austríaca e sua forte defesa por um sistema liberal, o pen-
samento liberal foi revisado e chamado de neoliberalismo. O neoliberalismo 
econômico surgiu como doutrina político-econômica no fim dos anos 1930, 
mas somente ganhou força — no mundo concreto — a partir dos anos 1980, 
com a crise dos Estados do Bem-Estar Social. Mas o que aconteceu nesse 
meio tempo, dos anos 1930 até 1980?
Após a Primeira Guerra Mundial, as economias centrais estavam arrasadas. 
Qual era a solução política e econômica naquele momento? O liberalismo eco-
nômico aliado ao ímpeto político dos últimos impérios que ainda sobreviviam 
levou o mundo ao caos. A razão era simples: o liberalismo não era compatível 
com o protecionismo das nações, já que todos queriam vender seus produtos, 
mas não tinham o mesmo interesse em comprar (RASMUSSEN, 2006).
Teorias liberais6
Com a Primeira Guerra Mundial, as economias centrais europeias foram 
destruídas, e o que restou dos Estados Nacionais na época precisava retomar 
o controle de suas fronteiras para reconstruir a economia. Assim, no período 
histórico entre 1930 e 1980, reinou um novo dirigismo nas economias. As 
economias mantiveram-se capitalistas, mas com um Estado protagonista 
também capitalista, e o ideal do keynesianismo ganhou força na Europa e 
nos Estados Unidos.
Nesse mesmo período, nascia na CEPAL (Comissão Econômica para América 
Latina e Caribe), na ONU, o conceito de centro e periferia, para explicar, em 
parte, algumas das razões que levavam os países latinos (e o mesmo para os 
asiáticos) a não alcançarem o desenvolvimento econômico semelhante aos países 
ricos e desenvolvidos, a saber: os países europeus e os EUA (SILVA, 2014).
Em síntese, entre 1930 e 1980, entrava em declínio o pensamento liberal e 
ganhavam hegemonia as ideias keynesianas, enquanto, paralelamente, nascia 
a ideia de centro-periferia para descrever o progresso desigual do sistema 
econômico capitalista. É importante lembrar que, até o final dos anos 1980, 
o sistema capitalista tinha como contra utopia o sistema socialista da União 
Soviética. Foi justamente nesse período que o sistema capitalistaabandonou a 
lógica do liberalismo como estratégia doutrinaria de organização da atividade 
política e econômica. O dirigismo, nos moldes capitalistas, dava lugar a um 
Estado que guiava, juntamente aos agentes econômicos, a direção da atividade 
econômica nacional.
É com o fim da União Soviética e o esgotamento do Estado do Bem-Estar 
Social que renasce a lógica do liberalismo contemporâneo. Nesse momento, 
em meados dos anos 1980 e 1990, o capitalismo já estava consolidado, cada 
vez mais globalizado e impunha outros desafios ideológicos. Esse liberalismo 
contemporâneo ou neoliberalismo brota em um mundo cada vez mais desigual 
e cada vez mais distante em níveis de riqueza entre os países centrais (desen-
volvidos) e os países periféricos (subdesenvolvidos) (SILVA, 2010). 
Assim, os desafios de se estabelecer uma ideologia política e econômica em 
nível mundial passam a ser cada vez mais complexos e objeto de críticas dos 
mais diversos setores da sociedade. Mas o que tem ocorrido? Os pensadores 
neoliberais ressuscitaram vários princípios ideológicos do liberalismo clássico. 
O problema é que a ideia de liberdade em um mundo econômico e político 
assimétrico gera dependências e injustiças que não se encaixam nas próprias 
doutrinas do liberalismo (HARVEY, 2012).
Por exemplo, a liberdade para o comércio internacional é injusta, ao colocar 
forças produtivas avançadas — das economias centrais — competindo com 
forças produtivas atrasadas — dos países periféricos. É importante lembrar 
7Teorias liberais
que as formações socioespaciais e socioeconômicas das economias periféricas 
ainda são incompletas e incapazes de fazerem frente ao capitalismo avançado 
(KISHTAINY et al., 2013).
Daí, é visível que, apesar das correntes liberais defenderem os mesmos 
princípios, na prática, economias periféricas são “destruídas” pelos produtos 
das economias centrais, que são mais modernos, tecnológicos e com maior 
escala produtiva. Enquanto isso, em alguns setores, mais atrasados e com baixa 
tecnologia, as econômicas periféricas passaram a “destruir” as economias 
centrais. Ou seja, em ambos os casos, a livre-iniciativa e a livre-concorrência 
produzem fortes efeitos colaterais. 
Atualmente, o neoliberalismo é fortemente criticado, porém, implemen-
tado, ainda que parcialmente, por vários governos no mundo. A luta pelo fim 
ou pela implementação de medidas protecionistas é objeto dos mais vários 
processos nas instituições supranacionais (como a Organização Mundial do 
Comércio), em um liberalismo cada vez mais “exótico”. A busca pelos inte-
resses individuais parece gerar cada vez mais várias economias imperfeitas, 
cada vez mais heterogêneas, e a liberdade e o progresso econômico parecem 
não ser para todos (HARVEY, 2012).
A palavra liberalismo vem do latim liber, e significa simplesmente “livre”. Do ponto de 
vista conceitual, o liberalismo é um movimento clássico, historicamente, que assegura 
que o cidadão não seja incomodado ou influenciado por um governo arbitrário. O 
ideário liberal remonta à época da oposição dos barões ingleses ao rei, tendo como 
marco a assinatura da Carta Magna, em 1215. Essa é a origem do liberalismo na sua 
visão política. Dentre os teóricos, a influência mais notória é de John Locke, que pregava 
um Estado e uma lei natural de acordo com os quais se reconhece que ninguém deve 
prejudicar outrem em sua saúde, vida, liberdade e posses. Outro traço significativo dessa 
doutrina política é quando os colonos norte-americanos, ao se insurgirem contra os 
britânicos, afirmavam que os homens eram portadores de certos direitos inalienáveis: a 
vida, a liberdade e a busca da felicidade. No aspecto econômico, o pensamento liberal 
trazia uma resistência ao controle pelo Estado da economia e, também, politicamente, 
à restrição do comércio por meio da tributação dos produtos estrangeiros e de normas 
contra o monopólio e a interferência pelo Estado na distribuição das riquezas nacionais. 
Com o tempo, o liberalismo foi se ajustando aos regimes democráticos e se afirmando 
contra os regimes totalitários, citando regras em outros campos do saber, como o 
cultural, o sexual e o religioso, sem, contudo, perder as características peculiares de 
seus dogmas teóricos (SANDRONI, 2005; SILVA, 2010).
Teorias liberais8
A influência do liberalismo na formação 
do pensamento político e econômico na 
contemporaneidade
Na atualidade, o pensamento liberal adquiriu a nomenclatura de pensamento 
neoliberal. Essa expressão é o refl exo de um “novo liberalismo” ou “neolibe-
ralismo” (HARVEY, 2012) que atinge toda formação do pensamento político 
e econômico dominante na contemporaneidade.
Embora o neoliberalismo seja uma doutrina político-econômica que se 
estruturou no final dos anos 1930, foi somente a partir dos anos 1980 que 
ganhou projeção internacional a partir da Inglaterra e dos Estados Unidos. 
Isso porque, após os dois choques do petróleo, em 1973 e 1979, os mundos 
capitalista e comunista (com a União Soviética) presenciou o esgotamento do 
modelo de intervenção estatal. Naquele momento, nascia um novo mundo do 
ponto de vista social, econômico e político.
Os primeiros autores neoliberais foram o norte-americano Walter Lipp-
mann, os franceses Jacques Léon Rueff, Maurice Allais e Baudin, e os alemães 
Walter Eucken, Wilhelm Röpke e Müller-Armack. Somam-se a esses autores, 
ainda, o norte-americano Milton Friedman e o economista austríaco Friedrich 
August von Hayek (da Escola Austríaca) (SANDRONI, 2005).
O objetivo dos pensadores neoliberais era atacar os postulados de John 
Maynard Keynes, que considerava a intervenção do Estado na economia es-
sencial para o desenvolvimento da sociedade capitalista. O maior motivo eram 
as novas crises cíclicas do capitalismo que atingiam os Estados do Bem-Estar 
Social. Após quatro décadas de prosperidade e de desenvolvimento econômico, 
que impulsionaram o mundo ocidental depois da Segunda Guerra Mundial, 
as ideias keynesianas estavam em xeque (SILVA, 2010, 2014).
O neoliberalismo nada mais é do que o resgate de diversos conceitos e 
ideais do liberalismo clássico. Do mesmo jeito que a escola liberal clássica, 
os neoliberais acreditam que “[...] a vida econômica é regida por uma ordem 
natural formada a partir das livres decisões individuais e cuja mola-mestre é 
o mecanismo de preços” (SANDRONI, 2005, p. 590–591).
No entanto, o neoliberalismo econômico trabalha com a perspectiva de 
uma regulamentação da economia de mercado, não para controlá-lo, mas para 
garantir-lhe sobrevivência. Por quê? Basicamente, porque não acreditam — os 
economistas neoliberais — na “autodisciplina espontânea do sistema capita-
lista”. Nesse caso, para que o mecanismo de preços (ou melhor, o equilíbrio 
de preços) exista ou se torne possível, é necessário assegurar a estabilidade 
financeira e monetária do sistema (HARVEY, 2012).
9Teorias liberais
É por isso que os neoliberais se preocupam com o controle governamen-
tal da moeda, do câmbio e dos gastos públicos. Sem isso, os movimentos 
econômicos podem tornar-se “viciados”. Quanto maior forem os “vícios” na 
economia, mais imperfeitos são os mercados e as suas estruturas. Por isso, 
o “disciplinamento da ordem econômica” precisa ser feito pelo Estado para 
combater os excessos da livre concorrência e pela criação dos chamados 
mercados livres concorrenciais (SANDRONI, 2005).
No campo político, o primeiro governo a utilizar os princípios neoliberais 
foi o de Margaret Thatcher, na Inglaterra (em 1980), servindo de modelo para 
muitos governos neoliberais do período pós-anos 1980. Na época, Thatcher 
conseguiu convencer o Parlamento Britânico, aprovando leis baseadas nas 
opiniões neoliberais do que ficou conhecido por Consenso de Washington, 
termo cunhado em 1989 e que virou símbolo do neoliberalismo (SANDRONI, 
2005). 
Foi proposto, então, um conjunto de dez reformas neoliberais que foram 
implementadas em centenas de países que se ajustavam aos novos tempos:
  disciplina fiscal por parte do Estado; reordenamento das prioridades das despesas públicas, com simplificação 
e redução dos gastos; 
  simplificação e reforma tributária, com taxas marginais moderadas; 
  taxas de juros liberalizantes; 
  taxa de câmbio competitiva; 
  liberalização do comércio (em especial, internacional); 
  liberalização do investimento direto estrangeiro; 
  privatização; 
  desregulamentação de todos os mercados — capitais, trabalho, moeda, 
câmbio, etc.; e 
  manutenção e fortalecimento ao direito à propriedade privada (HAR-
VEY, 2012).
São esses princípios que estão, desde os anos 1990, com muita resistência 
e crítica, influenciando direta e indiretamente o pensamento político e eco-
nômico na contemporaneidade.
Teorias liberais10
No Brasil, o Instituto Liberal difunde os pensamentos dos liberais por meio de textos, 
traduções de clássicos estrangeiros e cursos. Acesse o link a seguir e confira.
https://qrgo.page.link/VBMq
BELL, J. F. História do pensamento econômico. Rio de Janeiro: Zahar, 1961.
HARVEY, D. O neoliberalismo: história e implicações. São Paulo: Edições Loyola, 2012.
HOBSBAWM. E. Da Revolução Industrial Inglesa ao Imperialismo. Rio de Janeiro: Forense-
-Universitária, 1979.
JAMES, E. O pensamento econômico no século XX. Rio de Janeiro: Agir, 1984.
KISHTAINY, N. et al. O livro da economia. São Paulo: Globo, 2013.
RASMUSSEN, U. W. Economia para não-economistas: a desmistificação das teorias 
econômicas. São Paulo: Saraiva, 2006.
SANDRONI, P. Dicionário de economia do século XXI. Rio de Janeiro: Record, 2005.
SILVA, F. P. M. O fator trabalho na teoria econômica. Lauro de Freitas: Editorial FPMS, 2010.
SILVA, F. P. M. Textos para Discussão nº. 02/2014 — Reflexões Introdutórias sobre o Desen-
volvimento. Editorial FPMS, 2014.
SMITH, A. A riqueza das nações. São Paulo: Nova Cultural, 1996.
Leituras recomendadas
BOBBIO, N. Dicionário de política. Brasília: Editora da UnB, 1998.
NETTO, J. P.; BRAZ, M. Economia política: uma introdução crítica. São Paulo: Cortez, 2006.
POLANYI, K. A grande transformação. Rio de Janeiro: Campus, 1980.
11Teorias liberais

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