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______________________________________________________________________________________________ FOZ DO IGUAÇU 2021 JULIA LAIS SCHMITZ 06010006265 PESQUISA BIBLIOGRÁFICA: Atuação da Psicologia Social na saúde pública a nível primário. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 3 2. METODOLOGIA ........................................................................................................................ 4 3. RESULTADOS ........................................................................................................................... 4 4.CONSIDERAÇÕES FINAIS: ...................................................................................................... 7 5. REFERÊNCIAS: ......................................................................................................................... 7 1. INTRODUÇÃO A psicologia social, tendo como objeto de estudo a interação entre o campo individual e o social, abarca os aspectos comportamentais do homem enquanto ser social. Surgiu a partir das noções de que quando o homem está inserido em um grupo, é influenciado por ele, e passa a ter uma mente coletiva. “As leis gerais da Psicologia dizem que se apreende quando reforçado, mas é a história do grupo ao qual o indivíduo pertence que dirá o que é reforçador ou o que é punitivo” (LANE, 1985). A formação das noções compartilhadas por esses grupos é composta por aspectos históricos, culturais e sociais que fazem parte da vida das pessoas, e vão passando essas informações aos novos integrantes dos grupos. Uma das suas vertentes é a área da saúde pública. Visto que o homem é um ser biopsicossocial, esses aspectos também estão implicados na sua saúde. Quando questionado o conceito de saúde, o senso comum entende como a ausência de enfermidades, no entanto, a Organização Mundial da Saúde (OMS) a define como um estado completo de bem-estar físico, mental e social do ser humano. Conceitos esses, que podem ser diferentes quando questionados em diferentes grupos. “Os conceitos de saúde e de doença são analisados em sua evolução histórica e em seu relacionamento com o contexto cultural, social, político e econômico, evidenciando a evolução das ideias nessa área da experiência humana” (SCLIAR, 2007). Deve-se compreender a saúde além do processo saúde/doença, considerando a presença dos determinantes sociais da saúde (DSS). Buss e Filho (2007), trazem que os DSS se tratam dos fatores sociais, econômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e comportamentais, que influem na ocorrência de enfermidades e os fatores de risco envolvidos. Fica evidente a importância do papel que a Psicologia Social possui no âmbito da saúde pública, visto que a mesma está relacionada aos determinantes sociais da saúde. Ressaltando a importância de práticas de prevenção e promoção da saúde, além do combate a apenas doenças, expandindo a atuação dos profissionais a todos os níveis de atenção. No entanto, a problemática se centra nas dificuldades de atuação do psicólogo, quase que essencialmente fundamentada na prática clínica, dificultando intervenções ao nível da atenção primária. 2. METODOLOGIA O seguinte trabalho foi realizado através de pesquisa bibliográfica, com a seleção de fontes nas bases de dados digitais do Google Acadêmico, Scielo e PePsic, a partir do levantamento de referências teóricas já analisadas, e publicadas por meios eletrônicos. Foram selecionados artigos científicos e livros acerca da constituição da Psicologia Social, o conceito de saúde na sociedade, os determinantes sociais da saúde, a atuação do psicólogo nas Unidades Básicas de Saúde, e as dificuldades enfrentadas com a aplicação da psicologia social a atenção primária a saúde. 3. RESULTADOS Visto que a saúde toma um significado muito mais abrangente, implica a importância da atuação da psicologia social, como mediadora da compreensão dos aspectos sociais que influenciam na saúde dos indivíduos e da sociedade como um todo, e nas suas noções de saúde. De acordo com Scliar (2007), o conceito de saúde toma a forma de um conjunto formado por aspectos sociais, econômicos, políticos e culturais. Portanto, não terá o mesmo significado para todas as pessoas, dependendo de sua classe social, cultura, época, valores individuais, concepções filosóficas, científicas e religiosas. Após esse entendimento, a saúde deve ressignificar-se com aspectos coletivos, considerando as características de cada sociedade. No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS), foi instituído em 1988, a fim de oferecer assistência integral e gratuita a população. Tem o propósito de produzir serviços de saúde para o setor público de maneira descentralizada, universal, integrada e gratuita nos três níveis de atenção (primário, secundário, terciário). A Atenção primária abrange a prevenção e promoção da saúde, por isso carrega uma importância crucial quando se trata da atuação frente a comunidade, pois impacta uma grande quantidade de pessoas, gerando resultados mais abrangentes. “A APS é de suma importância, pois suas práticas possibilitam uma ação mais integrada das várias disciplinas e permite maior acesso da população não somente à reabilitação de doenças, mas também a ações sociais que valorizem o ser humano em constante interação com seu meio” (RONZANI; RODRIGUES, 2006). O objetivo é uma prática que não se limite ao combate de doenças e ao modelo biomédico, ressaltando a importância da prevenção e da promoção de saúde, possibilitando a admissão de novas categorias no campo da saúde pública, incluindo a prática psicológica. Ao reconhecer que na constituição da saúde estão implicados também fatores sociais, fica evidente a necessidade de uma atuação frente a esse aspecto, onde a psicologia tem a função de investigar os fatores que influenciam na saúde, a partir dos determinantes sociais da saúde, a fim de desenvolver e aplicar estratégias de atuação com a sociedade em um todo. Buscando uma forma de intervenção precoce na história natural das doenças, potencializando essa intervenção ou evitando sua necessidade, a atenção a nível primário é de muita importância. Pensando nisso, é necessário a aplicação da mesma aos campos psicológicos. A respeito do papel do psicólogo no nível da APS, Spink (2003) sugere que a atuação do psicólogo nas instituições de saúde deve se fundamentar em uma prática ampliada, e abrange duas principais questões: contextualização da intervenção e reconhecimento da alteridade. Nas suas intervenções, o psicólogo deve levar em consideração a interface do cultural e do social no processo da constituição da identidade, centralizando-se em uma perspectiva coletiva, rompendo com os enfoques tradicionais que são voltados ao individual. Cintra e Bernardo (2017), afirmam que a atuação deve ser baseada em propostas de transformação do ambiente, a partir da prevenção e promoção da saúde por meio dos atores sociais envolvidos, valendo-se de práticas que se embasam em conceitos e princípios do SUS, desenvolvendo ações que promovam autonomia, empoderamento e conscientização, visando a transformação social da comunidade. A dificuldade surge a partir da atuação dos psicólogos na atenção primária da saúde, visto que sua prática é voltada a área clínica. De acordo com Spink (2003), estão envolvidas algumas questões em torno dessa dificuldade. O predomínio do modelo psicodinâmico no ensino da psicologia no nível da graduação, com ênfase nas aplicações clínicas na área da saúde mental, e total ausência das temáticas relacionadas a saúde pública, o abandono da atuação em organizações de serviços de saúde, e o enfoque dapsicologia ao individual, desconsiderando o contexto social. As autoras Cintra e Bernardo (2017), trazem que ainda hoje, a visão do fazer do profissional psicólogo é predominantemente clínico, marcado pelo modelo biomédico. Assim, muitos parecem compreender que essa é a principal, senão a única forma de atender ás necessidades da profissão. “Não é possível ignorar a prevalência da identificação dos profissionais com a prática clínica, a qual parece corresponder à imagem profissional que possuem da Psicologia. Muitos estudos já apontaram para o predomínio do modelo clínico, tanto no ensino como nas práticas em Psicologia, no entanto, acreditamos que a questão não está em realizar ou não a prática clínica, mas sim em resumi-la ao atendimento clínico tradicional, descontextualizado e acrítico.” (ANDRADE; SIMON, 2009). Andrade e Simon (2009), ressaltam que a preocupação com a saúde pública e inserção do psicólogo nos debates sobre modo de intervenção que possam ir além da prática clássica clínica individual, são pouco encontradas no campo da Psicologia, modelo que é predominante também nos cursos de graduação, mantendo a separação dos níveis individual e social. É infrequente a presença de temas macrossociais na construção da aprendizagem dos psicólogos, que possibilitem a discussão de questões econômico-sociais dos fenômenos psicológicos. Ronzani e Rodrigues (2006), afirmam que a Psicologia necessita da reformulação de suas ações tradicionais, que, muitas vezes, implicam uma perspectiva prática isolada e desarticulada de lidar com o ser humano. Por conta da formação tradicional na Psicologia, a prática fica voltada a um enfoque terapêutico- curativo, predominando a clínica, reduzindo a compreensão da saúde ao processo saúde-doença. De acordo com Spink (2003), as mudanças que vem ocorrendo nos serviços de saúde, em serviços ambulatoriais e unidades básicas, pervertem a relação clinica tradicional, e força os psicólogos a mudarem para uma postura mais compatível com a psicologia comunitária. É necessário buscar formas de atuação mais compatíveis com o atendimento ao nível primário. Dimenstein (2003), traz a esse tema a necessidade de reformulação dos currículos de graduação. “A necessidade de modificação e revisão da formação profissional no nível da graduação e do aperfeiçoamento, e para a adoção de um modelo de atuação mais coerente com a realidade e necessidades da saúde pública no Brasil, principalmente, da população por ela atendida” (Conselho Federal de Psicologia, 1988; Dimenstein, 1998). Segundo Cintra e Bernardo (2017) é preciso libertar-se das amarras que prendem a atuação do psicólogo a uma única ação, para que ela possa se transformar nas atividades necessárias para aquele momento, não se limitando a uma prática curativa e individualizante. O serviço psicológico deve ser oferecido a partir das necessidades de saúde da população, o que este prevê oferecer a partir de diretrizes estabelecidas e o que o profissional naquele contexto pode oferecer. “Assim, dando relevância à promoção e manutenção da saúde e à prevenção da doença, a finalidade principal da Psicologia da Saúde é compreender como é possível, através de intervenções psicológicas, contribuir para a melhoria do bem-estar dos indivíduos e das comunidades” (TRINDADE; TEIXEIRA, 2002). Alves e Oliveira (2018), acerca do papel que o psicólogo social pode exercer nesse contexto ampliado, trazem que medidas de abrangência populacional são necessárias, como mudanças de comportamento com programas educativos, comunicação social e o estabelecimento de laços de coesão social. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Entende-se que a saúde deve sair do estigma do processo saúde-doença, pois carrega também diversos aspectos sociais, onde os determinantes sociais da saúde devem ser levados em consideração, principalmente por seu caráter predominante de atuar frente a promoção da saúde e prevenção de doenças, (a nível primário da saúde) através do conhecimento dos fatores de risco, traçando estratégias de atuação. Essa concepção busca abandonar o enfoque na doença, passando a levar em consideração a saúde e o bem-estar, relacionados ao desenvolvimento social e aos fatores de proteção da população atendida. Ao compreender as características dinâmicas e multideterminadas da saúde, pode-se atuar a níveis primários da saúde, com resultados mais abrangentes a toda comunidade. O SUS, como o responsável por garantir saúde pública aos três níveis de atenção, deve contar com serviços psicológicos com profissionais capacitados. Sendo a saúde determinada por aspectos biológicos, psicológicos e sociais, a Psicologia Social possui um papel fundamental na compreensão dos fatores que estão involucrados na constituição da saúde na comunidade por ela atendida. Onde pode promover ações de promoção e prevenção à saúde, diagnóstico, tratamento, reabilitação, redução de danos e manutenção da saúde, objetivando uma atenção integral à população atendida, considerando todo aspecto social da comunidade. Pela formação tradicional voltada para a clínica dos psicólogos, ficam muitas lacunas frente a atuação a nível social, resultando em deficiências na sua prática. Portanto, quando se trata da Atenção Primária da Saúde, a prática psicológica deve adaptar-se às condições de perfil profissional exigido pelo Sistema Único de Saúde (SUS), sendo necessária a reformulação da formação profissional, com um maior enfoque na Psicologia Social a nível da saúde pública, ampliando seu objeto de intervenção e o olhar a realidade na qual se insere, constituindo, dessa forma, uma prática clínica ampliada. 5. REFERÊNCIAS: ALVES, Sabrina Alaíde Amorim; OLIVEIRA, Maryldes Lucena Bezerra de. Aspectos socioculturais da saúde e da doença e suas repercussões pragmáticas. J. Hum. Growth Dev., São Paulo, v. 28, n. 2, p. 183- 188, 2018. ANDRADE, Juliane Fernandes Simões de Mattos Andrade; SIMON Cristiane Paulin. Psicologia na atenção primária á saúde: reflexões e implicações práticas. Paidéia, Ribeirão Preto, v. 19, n. 43, p. 167- 175, 2009. BUSS, Paulo Marchiori; FILHO; Alberto Pellegrini. A saúde e seus determinantes sociais. Physis: Rev. Saúde Coletiva v. 17 n. 1, 2007. CINTRA, Marcela Spinardi; BERNRDO, Marcia Hespanhol. Atuação do Psicólogo na Atenção Básica do SUS e a Psicologia Social. Ciência e Profissão, Campinas, v. 37 n. 4, p. 883-896, 2017. DIMENSTEIN, Magda Diniz Bezerra. O psicólogo nas Unidades Básicas de Saúde: desafios para a formação e atuação profissionais. Estudos de Psicologia, Teresina, v. 3, n. 1, p. 53-81, 1998. DIMENSTEIN, Magda Diniz Bezerra. A prática dos psicólogos no Sistema Único de Saúde/SUS Fórum Nacional de Psicologia e Saúde Pública, Brasília, v. 1, p. 8-16, 2006. LANE, S. T. M. O que é Psicologia Social?. Coleção Primeiros Passos. Nova Cultural: Brasilience, 1985. RONZANI, Telmo Mota; RODRIGUES Marisa Cosenza. O psicólogo na atenção primária à saúde: contribuições, desafios e redirecionamentos. Psicol. cienc. prof., v. 26, n. 1, 2006. SPINK, M. J. P. Psicologia social e saúde: Práticas, saberes e sentidos: A formação do psicólogo para atuação em instituições de saúde. Petrópolis, RJ, Vozes (p. 132-140), 2003. SCLIAR, Moacir. História do Conceito de Saúde. Physis: Rev. Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 17, n. 1, p. 29-41, 2007. TRINDADE, Isabel; TEIXEIRA, José Carvalho. Psicologia em serviços de saúde: Intervenção em centros de saúde e hospitais. Análise Psicológica, Lisboa, v. 20, n. 1, p. 171-174, 2002.
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