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1 Gestão do Risco de Mercado Curva de Juros Educação Continuada ANBIMA Data: 24/01/2019 2 Sumário CURVA DE JUROS ................................................................................................................. 3 3.1. DEFINIÇÃO DE TÍTULOS DE RENDA FIXA ......................................................................... 3 3.2. DURATION .................................................................................................................... 4 3.3. CONVEXIDADE .............................................................................................................. 8 3.4. ESTRUTURA A TERMO DA TAXA DE JUROS ................................................................... 11 3.5. MAPEAMENTO DE POSIÇÕES DE RENDA FIXA .............................................................. 14 3.6. REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 18 3 CURVA DE JUROS 3.1. DEFINIÇÃO DE TÍTULOS DE RENDA FIXA Títulos de renda fixa são títulos representativos de contratações de empréstimos pelas empresas ou governos, os quais prometem pagar, a seus investidores, determinado fluxo futuro de rendimentos. Existem no mercado financeiro inúmeros títulos de renda fixa, que se diferenciam, essencialmente, pela maturidade (prazo de resgate do título) e natureza do emitente (governos ou empresas). 3.1.1. A taxa interna de retorno de um título A taxa interna de retorno de um título, ou yield-to-maturity, é a taxa de juros que, ao descontar os fluxos de caixa, apura um valor presente igual ao preço corrente de mercado do título, matematicamente: nn n i M i C i C i C P 1111 2 21 , Equação (3.1) Onde: P = preço de mercado do título de renda fixa C1, ... ,Cn = fluxos de caixa (cupons de rendimento) prometidos para cada período; na maioria das vezes, C1 = C2 = ... = Cn = C – os cupons são geralmente expressos como uma porcentagem do valor de face M M = valor nominal (valor de face) do título n = número de períodos para o vencimento do título i = yield-to-maturity, expressa na unidade de tempo correspondente aos períodos i = 1,2,...,n Evidentemente, se soubermos a taxa exigida de um título, isto é, a taxa interna de retorno a que os investidores aceitam descontar o papel, podemos, com ajuda da Equação 3.1, determinar o seu valor presente. Por exemplo, admita um título com valor de face de R$ 1.000,00 emitido em 03/07/2017 que paga juros anuais de 5% do valor nominal, ou seja, paga cupons anuais de 5% do valor de face. O prazo do título é de 20 anos (vencimento em 03/07/2037). Se os investidores aceitarem descontar esse título à taxa interna anual de 5%, conforme proposta em sua emissão, seu preço de mercado será: 4 000.1 )05,1( 000.1 05,1 50 )05,1( 50 05,1 50 20202 R$ P . Observe que o preço de emissão se iguala ao valor de face. Nesse caso, dizemos que o título foi negociado ao par, embora isso nem sempre ocorra, podendo o título ser negociado com desconto ou com ágio, dependendo da expectativa do mercado. Se o mercado descontar esse título à taxa de 6% ao ano, o preço de negociação se reduz a R$ 885,30. Admita, agora, uma expectativa de redução da taxa de juros exigida do título para 4,5% ao ano; após quatro anos da data de sua emissão, o preço de mercado desse título será dado pela seguinte formulação: 17,056.1 )045,1( 000.1 045,1 50 )045,1( 50 045,1 50 16162 R$ P O preço dos títulos de renda fixa e os juros de mercado apresentam um comportamento inverso. Quando as taxas de mercado se elevam, os preços de negociação dos títulos são reduzidos; quando ocorre uma queda na taxa de juros, observa-se uma valorização nos preços de mercado dos títulos. 3.2. DURATION 3.2.1. Duration de Macaulay A duration de Macaulay de um título é definida da seguinte forma: P i nM i tC DMac n t nt t 1 11 . Equação (3.2) A duration de Macaulay pode ser interpretada como a média ponderada dos prazos de vencimento do título tendo como pesos o valor atual dos cupons, ou seja, a duration de 5 Macaulay representa o prazo médio de vencimento do título. Para o título do exemplo anterior, com uma yield-to-maturity de 5% ao ano, a duration de Macaulay é: anos 09,13 000.1 05,1 20000.1 05,1 2050 05,1 350 05,1 250 05,1 150 202032 DMac . 3.2.2. Duration modificada Os investidores geralmente se referem à razão entre a duration de Macaulay e (1 + i) como a duration modificada: i DMac DMod 1 Equação (3.3) A duration modificada pode ser interpretada como a taxa de variação percentual no preço do título em relação à yield-to-maturity. Em outras palavras, dada uma pequena variação na taxa de juros, a variação percentual no preço do papel é inversamente proporcional à variação na taxa de juros e a constante de proporcionalidade é, em módulo, igual à duration modificada. Matematicamente, isso é escrito da seguinte forma: i i DMac iDMod P P 1 Equação (3.4) Na equação anterior, ΔP representa a variação no preço do título dado um incremento pequeno Δi na taxa de juros. Portanto, a duration modificada é uma medida da sensibilidade de um título em relação a variações na taxa de juros. O sinal negativo na Equação 3.4 representa o comportamento oposto entre taxa e preço de um título. Para tornar a ideia acima mais clara, considere quatro títulos de renda fixa com as seguintes características: - A taxa de juros exigida dos títulos é de 5% ao ano - O título 1 tem prazo de 20 anos e paga cupons anuais de 5% 6 - O título 2 tem prazo também de 20 anos, mas paga cupons anuais de 1% - O título 3 tem prazo de 40 anos e paga cupons anuais de 5% - O título 4 tem prazo de 20 anos e não paga cupons - O valor nominal de todos os títulos é igual a R$ 1.000,00 A primeira coluna da tabela indica possíveis taxas de juros. A penúltima linha contém o valor presente e a última, a duration dos títulos para uma taxa de juros igual a 5% ao ano. Se a taxa de juros exigida para os títulos alterar para: Mudança percentual no preço do título Título 1 Título 2 Título 3 Título 4 3,00% 29,75% 40,07% 46,23% 46,91% 4,00% 13,59% 18,10% 19,79% 21,09% 4,50% 6,50% 8,62% 9,20% 10,02% 4,90% 1,26% 1,66% 1,74% 1,92% 4,99% 0,12% 0,16% 0,17% 0,19% 5,01% -0,12% -0,16% -0,17% -0,19% 5,10% -1,24% -1,63% -1,69% -1,89% 5,50% -5,98% -7,83% -8,02% -9,06% 6,00% -11,47% -14,96% -15,05% -17,27% 7,00% -21,19% -27,35% -26,66% -31,43% Preço R$ 1.000,00 R$ 501,51 R$ 1.000,00 R$ 376,89 Duration 13,09 17,24 18,02 20 Tabela 1 – Mudança no preço de quatro títulos Um exame da Tabela 1 revela que os títulos com maior duration são mais sensíveis a variações na taxa de juros. Por exemplo: - Quando a taxa de juros diminui para 4% ao ano, o preço do título 1 varia 13,59%, enquanto o preço do título 3 varia 19,79% - A duration do título 4 é igual à sua maturidade, o que já era esperado, pois, como o título não paga cupons, todo o pagamento será feito no vencimento; logo, o prazo médio será igual à maturidade 7 - Para títulos com a mesma maturidade e o mesmo valor nominal, quanto menor o cupom, maior a duration Ainda com respeito à Tabela 1, podemos avaliar a qualidade da aproximação dada pela Equação 3.4. Por exemplo, quando a taxa de juros diminui para 4,90%, o preço do título 1 varia 1,26%. Usando a aproximação sugerida pela Equação 3.4, temos um resultado que fornece um valor bem próximodo real: %25,1%)1,0( %51 09,13 P P Já quando a taxa de juros muda para 3%, o título 1 varia 29,75%. Se utilizássemos a Equação 3.4 para aproximar esse valor, a qualidade da aproximação não seria tão boa quanto antes: %42,25%)2( %51 09,13 P P 3.2.3. Duration de uma carteira Conforme observado, o cálculo da duration desenvolvido por Macaulay representa o prazo médio do título, levando-se em conta o valor do dinheiro no tempo. Para determinação da duration de uma carteira, admita uma carteira constituída por três títulos bullet (sem pagamento de cupom de juros) com as seguintes características: Título Prazo de resgate Valor de resgate Taxa de juros A 39 dias R$ 180.000 2,20% a.m. B 55 dias R$ 110.000 2,40% a.m. C 115 dias R$ 280.000 3,00% a.m. Tabela 2 – Carteira formada por três títulos Em primeiro lugar, devemos determinar o valor presente (PV) de cada um dos títulos da carteira. Considerando a estrutura de taxa de juros apresentada, temos: 17,979.174 022,1 000.180 30 39 APV 8 66,319.105 024,1 000.110 30 55 BPV 99,004.250 030,1 000.280 30 115 CPV Assim, a duration é dada por: dias 78 99,004.25066,319.10517,979.174 11599,004.2505566,319.1053917,979.174 D De maneira geral, a duration de uma carteira é a média ponderada das durations dos títulos individuais. Por exemplo, considerando uma carteira com n títulos 𝑖 = 1,2, … , 𝑛 de mesma classe de risco, sejam 𝐷1, … , 𝐷𝑛 as durations de cada papel e a razão entre o valor de mercado da posição em cada título sobre o valor de mercado da carteira por 𝜔1, … , 𝜔𝑛, a duration da carteira (𝐷𝐶) é dada por: 𝐷𝐶 = ∑ 𝜔𝑖 𝑛 𝑖=1 × 𝐷𝑖 3.3. CONVEXIDADE Conforme vimos na seção anterior, a duration é uma boa aproximação para a mudança percentual no preço de um título, somente se a variação na taxa de juros é pequena. Na Figura 1, a reta tangente ao gráfico da função preço do título foi traçada no ponto io. A inclinação da reta tangente está relacionada com a duration modificada: quanto maior a inclinação da reta tangente, maior a duration. Para um dado preço inicial, a linha tangente e a duration podem ser usadas como métodos para estimar a mudança no preço do título. Observe, porém, que, quando nos afastamos de io, a qualidade da aproximação piora. 9 Figura 1 – Erro ao se estimar a variação no preço baseado somente na duration A aproximação sugerida pela Equação 3.4 é conhecida como aproximação de primeira ordem. Para melhor aproximar a variação no preço de um título, dada uma variação na yield-to-maturity, temos de utilizar uma aproximação mais apurada, conhecida como aproximação de segunda ordem, quando um novo termo deve ser acrescentado ao lado direito da Equação 3.4. Esse termo fornece a contribuição da convexidade do preço do papel em relação à taxa de juros. Figura 2 – Convexidade Taxa de juros P re ç o i o Erro ao se estimar o preço baseado somente na duration Taxa P re ç o Título 1 Título 2 10 A Figura 2 ilustra o conceito de convexidade. O preço do título como função da taxa de juros foi plotado para dois papéis diferentes. Observe que a curva do título 1 é mais fechada que a curva do título 2. Nesse caso, dizemos que a convexidade do papel 1 é maior que a do papel 2. Se todos os cupons são iguais, isto é, se C1 = C2 = ... = Cn = C, então a convexidade de um título é dada por: 2 1 2 )1( )1( 1 11 n n t t i Mnn i Ctt P Conv Equação (3.5) Fazendo uso do conceito de convexidade, a expressão para a aproximação de segunda ordem é dada por: 2)( 2 1 )( iConviDMod P P Equação (3.6) Por exemplo, para o título 1 da Figura 2, a Equação 3.5 fornece: (anos) 33,211 %)51( 1000)120(20 %51 501 1000 1 22 20 1 2 t t tt Conv Portanto, quando a taxa de juros varia para 4,90%, temos: %26,1%)1,0(33,211 2 1 %)1,0( 05,1 09,13 2 P P Se a taxa de juros mudar para 3%, então: %16,29%)0,2(33,211 2 1 %)0,2( 05,1 09,13 2 P P 11 Observe que a qualidade da aproximação é bastante superior à obtida na seção 3.1, quando utilizamos apenas os termos de primeira ordem, isto é, a duration. 3.4. ESTRUTURA A TERMO DA TAXA DE JUROS Conforme vimos, o conceito de yield-to-maturity é de grande utilidade. Ele nos permite analisar o comportamento de um título e comparar seu desempenho com outros papéis. Além disso, as definições de duration e convexidade são consequências imediatas desse conceito. Porém, a yield-to-maturity é uma promessa de rentabilidade, pois, na sua definição, estamos admitindo, implicitamente, que o título será mantido até o vencimento e que os cupons pagos serão reinvestidos à mesma taxa da yield-to-maturity. Mais ainda, quando do lançamento de um novo papel, poderíamos incorrer em erro se utilizássemos a yield-to-maturity para apreçar o título. O mesmo problema acontece quando desejamos marcar a mercado um título presente na nossa carteira. De modo geral, o cupom pago em seis meses não pode ser descontado à mesma taxa que o cupom pago em um ano. Na realidade, a yield-to-maturity é uma medida de rentabilidade que deve ser calculada após conhecermos o preço de mercado do título. Mas, como determinar o preço de mercado de um título? A variável básica para avaliação de um investimento é o custo de capital, ou seja, o custo de oportunidade gerado pelo investimento em questão. Evidentemente, o custo de capital depende de duas variáveis: - Risco de crédito - Prazo do investimento De modo a tornar a análise mais simples, consideraremos que o título em questão é um título público federal, tal como uma LTN. Assim, eliminamos a tarefa de avaliar o prêmio de risco do investimento e podemos nos concentrar somente na variável prazo. Como nossa carteira pode ser constituída por diversos títulos com prazos diferentes, para determinar o seu valor de mercado, devemos obter a taxa de juros para diversos períodos. Um procedimento geral consiste em construir uma curva de taxa de juros que forneça a taxa de juros esperada pelo mercado para determinados prazos. Mais precisamente, podemos dizer que a estrutura a termo de taxa de juros (ETTJ) representa a relação, em determinado instante, entre prazo para vencimento e taxa de retorno de títulos de renda fixa sem cupons oriundos de uma mesma classe de risco. Quando os títulos de renda fixa são os papéis emitidos pelo governo federal, a estrutura a termo é chamada de curva básica de desconto em reais ou curva de taxa de juros em reais. 12 Construída a estrutura a termo1, é possível determinar o preço de mercado de qualquer título com cupons, uma vez que esse título pode ser imaginado como uma carteira de títulos de fluxo simples (sem cupons) conforme abaixo: n n n n n i M i C i C P )1()1()1( 1 1 Equação (3.7) A partir dos dados da Tabela 3, podemos obter a curva de taxa de juros em reais para o fechamento de D+0, conforme ilustrado na Figura 3. Juro do contrato futuro de DI obtido em D+0 Período Taxa efetiva ano (%) Dias úteis de D+0 até o vencimento do contrato 1º Vencimento 20,79 20 2º Vencimento 21,81 43 3º Vencimento 22,92 62 4º Vencimento 23,50 84 5º Vencimento 24,33 124 6º Vencimento 24,85 184 7º Vencimento 25,26 247 8º Vencimento 25,79 313 Tabela 3 – Tabela de juros futuros 1 A construção da ETTJ não é uma tarefa simples. No entanto, a ANBIMA divulga a curva de taxa de juros em reais, o que facilita muito o nosso trabalho.13 Figura 3 - Curva de mercado para a taxa de juros em reais Utilizando esses dados, podemos interpolar a taxa de juros esperada pelo mercado para 28 dias úteis: 𝑖28 = (1 + 𝑖𝑣𝑐𝑡𝑜1) [ 1 + 𝑖𝑣𝑐𝑡𝑜2 1 + 𝑖𝑣𝑐𝑡𝑜1 ] 𝑡28 − 𝑡𝑣𝑐𝑡𝑜1 𝑡𝑣𝑐𝑡𝑜2 − 𝑡𝑣𝑐𝑡𝑜1 − 1 = 0,02174 𝑜𝑢 2,174% Onde ivcto1 é a taxa efetiva para 20 dias úteis e ivcto2 é a taxa efetiva para 43 dias úteis, isto é: 𝑖𝑣𝑐𝑡𝑜1 = (1 + 20,79%) 20 252 − 1 = 0,0151 𝑜𝑢 1,51% 𝑖𝑣𝑐𝑡𝑜2 = (1 + 21,81%) 43 252 − 1 = 0,0334 𝑜𝑢 3,34% A taxa efetiva de 2,174% para 28 dias úteis corresponde a uma taxa anualizada (taxa efetiva ano) de 21,36%: 𝑖𝑒𝑓𝑒𝑡𝑖𝑣𝑎 𝑎𝑛𝑜 = (1 + 2,174%) 252 28 − 1 = 0,2136 𝑜𝑢 21,36% 20 43 62 84 124 184 247 313 0 5 10 15 20 25 30 0 50 100 150 200 250 300 350 Prazo (dias úteis) T a x a e fe ti v a e m % a .a . 14 A partir da ETTJ, podemos, também, obter a taxa forward (taxa de juros entre a data futura t e t + Δt) esperada pelo mercado para qualquer prazo. Por exemplo, a taxa forward entre o primeiro e o segundo vencimento é: 𝑖 𝑣𝑐𝑡𝑜1 𝑣𝑐𝑡𝑜2 = 1 + 𝑖𝑣𝑐𝑡𝑜2 1 + 𝑖𝑣𝑐𝑡𝑜1 − 1 = 0,0180 𝑜𝑢 1,80% A taxa de 1,80% corresponde a uma taxa efetiva ano de 21,59%: 𝑖𝑒𝑓𝑒𝑡𝑖𝑣𝑎 𝑎𝑛𝑜 = (1 + 1,80%) 252 43−20 − 1 = 0,2159 𝑜𝑢 21,59% A ANBIMA divulga diariamente a curva de mercado em reais. Essa curva é construída de um modo bem mais sofisticado, empregando dados fornecidos por um grande número de instituições financeiras que operam no mercado brasileiro. Se você necessita de algo mais preciso que a curva apresentada na Figura 3, então a página da ANBIMA na internet é uma boa referência. Se ainda não ficar satisfeito, o melhor é construir sua própria curva de acordo com suas necessidades, extraindo o máximo de informação disponível nos instrumentos financeiros mencionados anteriormente ou mesmo em outros. 3.5. MAPEAMENTO DE POSIÇÕES DE RENDA FIXA Dentro do estudo de risco de taxa de juros, é conveniente determinar como o conjunto de ativos e passivos de uma empresa, instituição financeira ou até mesmo de uma pessoa física encontra-se distribuído pelos prazos de vencimento. Dito de outra forma, queremos mapear as aplicações e as fontes de recursos em termos do tempo previsto para sua liquidação. Assim, poderemos observar se existe descasamento em algum período futuro. Com o intuito de tornar a explicação mais clara, introduziremos esse conceito por um exemplo. Suponha que o ativo e o passivo financeiro2 do banco XYZ sejam os apresentados nas Tabelas 4 e 5, respectivamente. A data-base para a determinação do descasamento de taxa de juros é o dia 31/12/2017. 2 O termo financeiro elimina dos nossos cálculos os ativos e passivos não afetos à atividade fim de um banco, ou seja, não consideraremos nesse tipo de análise, por exemplo, o ativo permanente. 15 Ativo Vencimento Valor atual Prazo LFT 01/06/2018 12.000 153 LFT 03/03/2018 7.000 63 LTN 01/08/2018 950 214 LTN 01/12/2018 22.000 336 DI de 1 dia 02/01/2018 20.000 2 Empréstimos 01/04/2020 40.000 822 Empréstimos 01/06/2019 15.000 518 Caixa 31/12/2017 1.000 0 Reservas 31/12/2017 2.000 0 Swap (ponta pré) 02/03/2018 15.000 62 Swap (ponta DI) 08/02/2018 8.000 39 Swap (ponta DI) 02/01/2019 10.000 368 Futuro posição comprada 01/02/2018 15.000 32 Tabela 4 – Ativos do banco XYZ (em R$ mil) Passivo Vencimento Valor atual Prazo Depósitos à vista 31/12/2017 17.000 0 CDB 30/01/2018 10.000 30 CDB 01/03/2018 15.000 60 CDB 30/04/2018 30.000 121 CDB 30/07/2018 5.000 212 CDB 02/01/2019 1.000 368 Obrig. repasse BNDES 01/04/2020 40.000 822 Swap (ponta DI) 02/03/2018 12.000 62 Swap (ponta DI) 08/09/2018 7.000 252 Swap (ponta pré) 02/01/2019 9.000 368 Futuro posição vendida 01/07/2018 12.000 183 Tabela 5 – Passivo do banco XYZ (em R$ mil) Os dados das Tabelas 4 e 5 estão longe de uma situação real. O número de ativos e passivos de uma instituição financeira é muito maior do que o apresentado acima. Porém, para não confundir o leitor, fizemos uma simplificação da situação financeira do nosso banco. 16 Existem diversas formas de mapeamento das posições financeiras de um banco. Apresentaremos aqui apenas uma delas. Primeiramente, dividimos o tempo futuro em períodos, da seguinte maneira: PERÍODO 1 de 0 a 30 dias PERÍODO 2 de 31 a 60 dias PERÍODO 3 de 61 a 90 dias PERÍODO 4 de 91 a 180 dias PERÍODO 5 de 181 a 360 dias PERÍODO 6 de 361 a 720 dias PERÍODO 7 acima de 720 dias Não existe critério técnico para a divisão feita acima. É comum tomar os múltiplos de 30 dias, simplesmente por ser esse o número de dias em um mês comercial. Você pode adotar qualquer critério para fazer tal divisão, mas tenha bom senso! O próximo passo, e último, consiste em determinar em que período se encontra o prazo de vencimento para cada um dos ativos e passivos. A Tabela 6 ilustra o mapeamento com base nessa abordagem para o banco XYZ. Observe que a última coluna da tabela apresenta o descasamento em cada um dos períodos. Por exemplo, o passivo da instituição vencível até 30 dias da data-base será maior que o ativo em R$ 4.000.000. Prazo (dias) Ativo Passivo Descasamento 0-30 23.000 27.000 -4.000 31-60 23.000 15.000 8.000 61-90 22.000 12.000 10.000 91-180 12.000 30.000 -18.000 181-360 32.950 24.000 8.950 361-720 15.000 10.000 5.000 Acima de 720 40.000 40.000 0 Total 167.950 158.000 9.950 Tabela 6 – Descasamento de taxa de juros do banco XYZ (em R$ mil) O mapa de descasamento construído acima é apenas um passo inicial. Na prática, é comum separar os produtos de renda fixa em dois grandes grupos: pós-fixado e prefixado. Essa abordagem permite uma melhor visualização do descasamento da instituição. 17 Caso algum produto seja um instrumento financeiro bastante utilizado pelo banco, pode ser necessário criar um outro grupo para esse produto. Por exemplo, um banco comercial que possui uma grande captação em poupança pode achar útil incluir um grupo TR (Taxa Referencial). Da mesma forma, as operações em moeda estrangeira devem constituir um grupo específico dos ativos e passivos atrelados à variação cambial. Como exercício, o leitor pode construir o mapa de descasamento para o banco XYZ, levando em conta a segregação de produtos pré e pós. A Tabela 7 apresenta um mapa de descasamento mais próximo da realidade. Observe que foram incluídos diversos indexadores. A maior dificuldade na elaboração de um mapa de descasamento é a modelagem de todos os ativos e passivos da instituição. Problemas como produtos atrelados a mais de um indexador ou com prazo de vencimento indefinido e títulos com baixa liquidez que dificultam a marcação a mercado são exemplos de obstáculos que surgem na confecção do mapa. A captação em poupança é um exemplo de produto corrigido por dois indexadores: TR e taxa pré, sem prazo de vencimento definido. Prazo Fator de risco Total Pré Pós Dólar Renda variável Commodities Ativos e passivos sem remuneração Até 7 dias 10.000 -400 -3.000 -100 50 6.550 8 a 30 dias -700 -5.000 20 -80 -420 -6.180 31 a 60 dias -995 2.010 -60 30 985 61 a 90 dias -300 2.364 1.327 3.391 91 a 180 dias -1.900 140 -8.800 -10.560 181 a 270 dias -4.000 500 90 -3.410 271 a 365 dias -3.078 13.450 -1.010 -200 9.162 01 a 05 anos -1.784 10.000 8.216 Acima de 05 anos -12.000 18.000 -13.500 -7.500 TOTAL 6.105 -3.036 -850 -40 -180 -7.813 -5.814 Tabela 7 - Mapa de descasamento (em R$ mil) No cálculo do valor em risco (VaR) de uma carteira formada por títulos de renda fixa, é necessário mapear cada título da carteira em vértices escolhidos como prazos básicos, que podem ser, por exemplo, um dia, um mês, doismeses, três meses, seis meses, um ano, dois anos e cinco anos. O mapeamento consiste em redistribuir os cupons e o principal do título nos vértices imediatamente superior e inferior ao vencimento desses cupons. A maneira mais simples de realizar o mapeamento é a linear, onde a redistribuição é feita tomando, 18 como pesos, as diferenças entre o prazo e o vértice inferior, e entre o vértice superior e o prazo, respectivamente, conforme ilustra a Figura 4. Fluxo de Caixa Fluxo de Caixa Mapeado 33,3 100 1m 100 100 7 m 4 m 3 m 6 m 1m 1 2 m 100 66,7 16,7 83,3 1m 3 m 6 m 1 2 m 83,3 50 66,7 100 Figura 4 – Mapeamento do fluxo de caixa Assim, um título público com vencimento previsto para 45 dias teria 50% do seu saldo no vértice de um mês e os outros 50% no vértice de dois meses. A metodologia proposta pelo manual técnico do RiskMetrics consiste em realizar a redistribuição de modo que o risco de mercado seja preservado. No entanto, essa abordagem, além de mais complicada, fornece resultados menos precisos. 3.6. REFERÊNCIAS ARCOVERDE, Guilherme L. Alocação de Capital para Cobertura do Risco de Mercado de Taxas de Juros de Natureza Prefixada. Tese de Mestrado - EPGE/FGV, 1999. FABOZZI, Frank J. Bond Markets, Analysis and Strategies. 3a ed., New Jersey: Prentice- Hall, 1996. FABOZZI, Frank J. Fixed Income Mathematics., 3a ed., McGraw-Hill, 1996. FORTUNA, Eduardo. Mercados Financeiros – Produtos e Serviços. 15a ed., Rio de Janeiro: Editora Qualitymark, 2002. 19 SECURATO, José R. e outros. Cálculo Financeiro das Tesourarias - Bancos e Empresas. 1a ed., São Paulo: Editora Saint Paul, 1999. SOUZA FILHO, Gonzaga. Manual do Agente Autônomo de Investimento. Rio de Janeiro: G10 Consultoria & Treinamento, 2016. 20 EXPEDIENTE Texto José Valentim Machado Vicente Andréa Sá de Oliveira Revisão Gonzaga de Souza Filho Eduardo Alonso Marza dos Santos Apoio Técnico Patrícia Guedes Gerência de Certificação e Educação Continuada Daniel Pfannemuller Superintendência de Educação e Informações Técnicas Ana Claudia Leoni Superintendência Geral José Carlos Doherty Copyright © 2018 Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial sem autorização da ANBIMA. ANBIMA - Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais Praia de Botafogo, 501 - Bloco II, conjunto 704 CEP: 22250-911 - Botafogo, Rio de Janeiro - RJ Tel.: (21) 3814-3800 / Fax: (21) 3814-3960 Av. das Nações Unidas, 8.501 - 21º andar CEP: 05425-070 - São Paulo - SP Tel.: (11) 3471-4200 / Fax: (11) 3471-4240 http://www.anbima.com.br/pt_br/educar/educar.htm http://www.anbima.com.br/pt_br/educar/educar.htm
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