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O-Letramento-na-Contemporaneidade

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O Letramento na 
Contemporaneidade 
 
 02 
 
 
 
1. O Letramento e as TIC’s 4 
As TIC’s e as transformações na Escola 5 
Letramento: epistemologia e conceitos 6 
 
2. Um Novo Letramento 12 
O Letramento Digital 13 
 
3. Ler e Escrever na Cultura Digital 17 
A cibercultura 21 
O hipertexto como subversão da escola linear 22 
 
4. Os Gêneros Digitais e os Desafios 
 de Alfabetizar Letrando 28 
Letramento digital: possibilidades 
para um ensino crítico 30 
Os gêneros digitais no processo de letramento 
das crianças em fase de alfabetização 33 
 
5. Software Para Auxílio à Pré-Alfabetização 36 
Metodologia de Desenvolvimento do Software 37 
Softwares Educacionais 38 
Pré-processamento 39 
Características da RNA proposta 40 
 
6. A Mesa Educacional Alfabeto 44 
Na prática 47 
A Mesa Alfabeto Console De Plástico 48 
Quantidade de Letras Por Saco 48 
Mesa Alfabeto Console De Madeira 48 
 
7. Referências Bibliográficas 51 
 
 
 03 
 
 
 
 
 
 4 
O LETRAMENTO NA CONTEMPORANEIDADE 
1. O Letramento e as TIC’s 
 
 
 
utilização das Tecnologias de 
Informação e Comunicação 
(TIC) como ferramentas de apoio à 
alfabetização e, principalmente, ao 
letramento, já é uma realidade, 
principalmente, no que concerne ao 
uso do computador nas escolas. 
Porém, as tecnologias moder-
nas demoram, sobremaneira, para 
chegar até a escola, demorando mais 
ainda, para serem substituídas. 
Como exemplo, podemos citar o 
quadro negro que, apesar de ter sido 
criado no século XVIII pelo profes-
sor escocês James Pillams e, na 
época, tido como o primeiro salto da 
educação, o mesmo permanece até 
hoje, três séculos depois. 
Partindo, então, deste modelo 
tradicional de ensino, fechado para o 
 
exterior, o fundamento psicopeda-
gógico desse modelo é de que: 
aprender é adquirir conhecimentos 
do exterior para o interior, um 
processo por meio do qual o 
professor deve dominar a matéria e 
passá-la com clareza, pois, o papel 
do aluno é baseado em uma atitude 
passiva. 
Com o advento do computador 
e da Internet, essa postura sofre 
mudanças, pois, o computador, 
considerado o segundo grande salto 
dado pela educação, tira o professor 
da função de protagonista, haja vista 
que, torna-se necessário dar espaço 
também aos alunos e à mídia, 
utilizando o computador, pois, a 
cada minuto, novas descobertas são 
A 
 
 
5 
O LETRAMENTO NA CONTEMPORANEIDADE 
reveladas, não sendo mais o 
professor dono do saber total. 
Portanto, para a sobrevivência 
da educação, será necessário o 
enfrentamento das mudanças no 
âmbito da formação de pessoas 
conscientes, críticas e ativamente 
participantes da esfera social, capa-
zes de priorizar suas necessidades 
utilizando-se do excesso de infor-
mação para o desenvolvimento do 
senso analítico. 
 
As TIC’s e as transforma-ções na 
Escola 
 
 
 
 As tecnologias da informação 
e comunicação (TIC), cada vez mais 
presentes no mundo atual, dão a 
nós, professores, a garantia de 
transformação da escola atual por 
disponibilizar melhores condições 
de ensino. As TIC detêm um caráter 
Transformador, com três invariáveis 
efeitos: 
 Alteram as estruturas de 
interesses, pois modificam o 
que pensamos, formulando 
uma nova forma de avaliação e 
configuração das relações; 
 Mudam o caráter dos 
símbolos, pois ampliam os 
signos e os sistemas de 
armazenamento e acesso à 
informação, impulsionando as 
novas formas de 
conhecimento; e 
 Modificam a natureza da 
comunidade, pois podemos ter 
um conhecimento amplo sem 
sair de casa e sem que nos 
relacionemos fisicamente com 
alguém. 
 
Nesse sentido, devemos estar 
sempre atualizados com as 
mudanças no mundo e na sociedade, 
pois, os nossos alunos vivenciam 
estas mudanças, através dos meios 
de comunicação, principalmente, a 
Internet. 
Isto porque, com o advento 
dessas tecnologias, foi vista, nas 
tecnologias digitais de informação e 
comunicação, uma grande 
oportunidade de melhorias no meio 
educacional. Mas, para isso, vemos 
alguns obstáculos, como a cultura 
tradicional das escolas, e, sobretudo, 
a falta de orçamento e de interesse 
por parte do governo e até de alguns 
de nós mesmos, professores. 
Contudo, é necessário mudarmos 
tais valores, senão o âmbito 
educacional ficará a desejar. Assim, 
as TIC precisam ser vistas como um 
 
 
6 
O LETRAMENTO NA CONTEMPORANEIDADE 
sistema de ajuda para nós, 
professores, para que possam 
melhor realizar nossos trabalhos e, 
até mesmo, com um pouco menos de 
sofrimento. 
Com a implementação das TIC 
nas escolas, os mais privilegiados 
serão os alunos, porquanto não 
precisarão mais se ligar apenas às 
nossas explicações ou se limitarem 
às páginas dos livros, porque terão a 
ajuda de variadas fontes e meios de 
informação e comunicação. Isso vai 
proporcionar uma interatividade 
entre professores e alunos, tornando 
o ambiente escolar mais agradável e 
propício a uma evolução gradativa. 
Para nós professores, também 
existem ganhos, pois, com a 
utilização do computador e da 
Internet, haverá uma diminuição na 
carga de trabalho, haja vista, não ser 
mais necessário elaborar uma 
infinidade de aulas, e escrevê-las no 
quadro negro, tampouco diminuirá 
a necessidade de uma fala quase 
constante, em sala. Com isso, 
poderemos dar mais atenção ao 
aluno e à suas reais necessidades de 
aprendizagem. Isto porque, com a 
possibilidade de utilização de blogs e 
outros tipos de comunicação online, 
podemos disponibilizar os textos e 
diversos conteúdos, para os alunos, 
antes mesmo da aula, dando a eles, 
a possibilidade de acesso a estes, 
bem como, de aprofundamento dos 
temas, através de pesquisas. 
 
Letramento: epistemologia e 
conceitos 
 
 
 
Por ser um termo introduzido, 
recentemente, na Língua Portugue-
sa, encontramos diversas discussões 
epistemológicas e conceituais, 
acerca do termo Letramento. 
O Letramento sugere a ideia 
de que a escrita traz consequências 
sociais, culturais, políticas, econô-
micas e cognitivas, pois é o que as 
pessoas fazem com as habilidades de 
leitura e de escrita, em um contexto 
específico, e como essas habilidades 
se relacionam com as necessidades, 
valores e práticas sociais. 
A palavra letramento apareceu 
primeiramente no livro de Mary 
Kato (1986) No mundo da escrita: 
uma perspectiva psicolinguística. 
Ela é um tanto quanto fora do 
comum para muitos profissionais da 
educação porque surgiu entre os 
linguistas e estudiosos da língua 
portuguesa, passando, então, a ter 
trânsito no setor educacional. 
 
 
7 
O LETRAMENTO NA CONTEMPORANEIDADE 
O termo letramento se originou de 
uma versão feita da palavra da 
língua inglesa literacy, com a 
representação etimológica de 
estado, condição, ou qualidade de 
ser literate, e literate que é definido 
como educado para ler e escrever. 
Ainda segundo Soares (2004), 
em meados dos anos de 1980 se dá, 
simultaneamente, a invenção do 
letramento no Brasil, do illettrisme, 
na França, da literacia, em Portugal, 
para nomear fenômenos distintos 
daquele denominado alfabetização. 
O plural, nesse subtítulo 
conceitos, explica-se pela impreci-
são que, na literatura educacional 
brasileira, ainda marca a definição 
de letramento. Entretanto, não há, 
propriamente, uma diversidade de 
conceitos, mas diversidade de 
ênfases na caracterização do 
fenômeno. 
Podemos definir hoje o 
letramento como um conjunto de 
práticas sociais que usam a escrita, 
enquanto sistema simbólico e 
enquanto tecnologia, em contextos 
específicos, para objetivos especí-
ficos. Em texto posterior, a autora 
declara entender letramento ―como 
as práticas e eventos relacionados 
com uso, função e impacto social da 
escrita. Nessa concepção, letramen-
to são as práticas sociais de leitura e 
escrita e os eventos em que essas 
práticas são postas em ação, bem 
como as consequências delas sobre a 
sociedade.O termo letramento, conceitu-
a-o em confronto com alfabetização, 
conceito que reafirma em obra 
posterior: ―Enquanto a alfabetiza-
ção ocupa-se da aquisição da escrita 
por um indivíduo, ou grupo de 
indivíduos, o letramento focaliza os 
aspectos sócio históricos da 
aquisição de um sistema escrito por 
uma sociedade. Reafirma-se essa 
diferença entre alfabetização e 
letramento insistindo no caráter 
individual daquela e social deste: 
A alfabetização refere-se à 
aquisição da escrita enquanto 
aprendizagem de habilidades para 
leitura, escrita e as chamadas práti-
cas de linguagem. Isso é levado a 
efeito, em geral, por meio do 
processo de escolarização e, portan-
to, da instrução formal. A alfabeti-
zação pertence, assim, ao âmbito do 
individual. 
O letramento, por sua vez, 
focaliza os aspectos sócio históricos 
da aquisição da escrita. Entre outros 
casos, procura estudar e descrever o 
que ocorre nas sociedades quando 
adotam um sistema de escritura de 
maneira restrita ou generalizada; 
procura ainda saber quais práticas 
psicossociais substituem as práticas 
―letradas em sociedades ágrafas. 
Letramento são as consequên-
cias sociais e históricas da 
 
 
8 
O LETRAMENTO NA CONTEMPORANEIDADE 
introdução da escrita em uma 
sociedade, ―as mudanças sociais e 
discursivas que ocorrem em uma 
sociedade quando ela se torna 
letrada. Conclui-se que, para 
conceituar letramento, o impacto 
social da escrita é apenas um dos 
componentes desse fenômeno; 
Acrescenta-se a esse outros 
componentes: também as próprias 
práticas sociais de leitura e escrita e 
os eventos em que elas ocorrem 
compõem o conceito de letramento. 
O núcleo do conceito de letramento 
são as práticas sociais de leitura e de 
escrita, para além da aquisição do 
sistema de escrita, ou seja, para além 
da alfabetização. 
Letramento é, nesta 
concepção, o contrário de analfabe-
tismo (razão pela qual a palavra 
alfabetismo tem sido frequente-
mente usada em lugar de 
letramento, e seria mesmo mais 
vernácula que esta última). 
Se analfabetismo é, como 
habitualmente definido nos dicioná-
rios, o estado de analfabeto (cf. 
Michaelis, Moderno dicionário da 
língua portuguesa), o estado ou 
condição de analfabeto (cf. Novo 
Aurélio Século XXI e Dicionário 
Houaiss da língua portuguesa), ao 
contrário de analfabetismo alfabe-
tismo ou letramento é o estado ou 
condição de quem não é analfabeto. 
Aliás, na própria formação da 
palavra letramento está presente a 
ideia de estado: a palavra traz o 
sufixo -mento, que forma 
substantivos de verbos, 
acrescentando a estes o sentido de 
estado resultante de uma ação, como 
ocorre, por exemplo, em acolhi-
mento, ferimento, sofrimento, 
rompimento, lançamento; assim, de 
um verbo letrar (ainda não 
dicionarizado, mas necessário para 
designar a ação educativa de 
desenvolver o uso de práticas sociais 
de leitura e de escrita, para além do 
apenas ensinar a ler e a escrever, do 
alfabetizar), forma-se a palavra 
letramento: estado resultante da 
ação de letrar. 
No início da década de 80, o 
estudo acerca da psicogênese da 
língua escrita trouxe aos educadores 
a compreensão de que a 
alfabetização, não envolve somente 
a apropriação de um código, mas um 
difícil processo de preparação de 
hipóteses sobre a representação 
linguística. Assim, com a emergên-
cia dos estudos sobre o Letramento 
de Soares (2003), os teóricos 
brasileiros passaram a aproximar os 
conceitos: alfabetização e 
letramento. Isto é visível, segundo a 
autora, em Adultos não alfabetiza-
dos: o avesso do avesso, de Tfouni 
(1988), e no título: Letramento e 
Alfabetização (1995) que também 
menciona os dois conceitos. A 
 
 
9 
O LETRAMENTO NA CONTEMPORANEIDADE 
mesma aproximação aparece na 
coletânea organizada por Roxane 
Rojo, Alfabetização e letramento 
(1998), em que está também 
presente a proposta de uma 
diferenciação entre os dois 
fenômenos, embora não diferente da 
proposta de Leda Tfouni. Ângela 
Kleiman, na coletânea que organiza 
os significados do letramento 
(1995), também discute o conceito 
de letramento. Em Letramento: um 
tema em três gêneros, procura-se 
conceituar, confrontando os dois 
processos, alfabetização e 
letramento. 
A história do letramento no 
Brasil se deu por caminhos 
diferentes dos que explicam a 
invenção do termo em outros países, 
como a França e os Estados Unidos. 
Enquanto nesses outros países a 
discussão do letramento se fez e se 
faz de forma independente em 
relação à discussão da alfabetização, 
no Brasil, a discussão do letramento 
surge sempre arraigada ao conceito 
de alfabetização, o que tem levado, 
apesar da diferenciação na produção 
acadêmica, a uma inadequada fusão 
dos dois processos, com prevalência 
do conceito de letramento. 
É interessante o comentário 
que se faz a esse respeito, dizendo 
que a alfabetização não precede o 
letramento, mas os dois processos 
são simultâneos. 
Nos dicionários da língua 
portuguesa vemos que a palavra 
alfabetizado diz respeito à pessoa 
que somente aprendeu a ler e 
escrever, não se diz que é aquele que 
adquiriu o estado ou condição de 
quem se apropriou da leitura e da 
escrita, que detém corriqueiramente 
de práticas sociais de leitura e 
escrita. 
Revela-se que a alfabetização, 
às vezes, está sendo mal entendida; 
ela se ocupa da aquisição da escrita 
por um indivíduo, ou grupo. 
Enquanto o letramento focaliza os 
aspectos sócio históricos da 
aquisição de um sistema escrito por 
uma sociedade, e, é o estado ou 
condição de quem não apenas sabe 
ler e escrever, mas e exerce 
habitualmente práticas sociais de 
leitura e escrita. 
Explica-se que o fato de uma 
pessoa ser alfabetizada não garante 
que ela seja letrada, viver numa 
sociedade letrada não faz dela uma 
pessoa letrada ou que todos tenham 
oportunidades iguais na cultura 
escrita. 
No quadro desses conceitos de 
letramento, o momento atual 
oferece uma oportunidade extrema-
mente favorável para refiná-lo e 
torná-lo mais claro e preciso. É que 
estamos vivendo, hoje, a introdução, 
na sociedade, de novas e incipientes 
modalidades de práticas sociais de 
 
 
10 
O LETRAMENTO NA CONTEMPORANEIDADE 
leitura e de escrita, propiciadas 
pelas recentes tecnologias de 
comunicação eletrônica – o 
computador, a rede (a web), a 
Internet. 
É, assim, um momento 
privilegiado para, na ocasião mesma 
em que essas novas práticas de 
leitura e de escrita estão sendo 
introduzidas, captar o estado ou 
condição que estão instituindo: um 
momento privilegiado para 
identificar se as A história do 
letramento no Brasil se deu por 
caminhos diferentes dos que 
explicam a invenção do termo em 
outros países, como a França e os 
Estados Unidos. Enquanto nesses 
outros países a discussão do 
letramento se fez e se faz de forma 
independente em relação à 
discussão da alfabetização, no 
Brasil, a discussão do letramento 
surge sempre arraigada ao conceito 
de alfabetização, o que tem levado, 
apesar da diferenciação na produção 
acadêmica, a uma inadequada fusão 
dos dois processos, com prevalência 
do conceito de letramento. Práticas 
de leitura e de escrita digitais, 
conduzem a um estado ou condição 
diferente daquele a que conduzem 
as práticas de leitura e de escrita na 
cultura do papel. 
Considerando que letramento 
designa o estado ou condição em que 
vivem e interagem indivíduos ou 
grupos sociais letrados, pode-se 
supor que as tecnologias de escrita, 
instrumentos das práticas sociais de 
leitura e de escrita, desempenham 
um papel de organização e 
reorganização desse estado ou 
condição. As tecnologias de escrita 
entre as tecnologias intelectuais, 
responsáveis por gerar estilos de 
pensamento diferentes observe-se o 
subtítulo de seu livro A tecnologias 
da inteligência: o futuro do 
pensamento na era da informática;esse autor insiste, porém, que as 
tecnologias intelectuais não 
determinam, mas condicionam 
processos cognitivos e discursivos. 
 
 
 1
1
 
 
 
 
 12 
O LETRAMENTO NA CONTEMPORANEIDADE 
 
2. Um Novo Letramento 
 
 
ntes da invenção da imprensa, 
a produção e reprodução 
manuscritas dos textos condiciona-
vam sua difusão, seu uso e, 
consequentemente, as práticas de 
escrita e de leitura: por um lado, os 
livros manuscritos da Idade Média 
eram objetos de luxo, a que poucos 
tinham acesso, representa-se bem a 
relação do homem medieval com os 
livros manuscritos, em O nome da 
rosa; por outro lado, os monges 
copistas frequentemente alteravam 
o texto, ou por erro ou por 
intervenção consciente, de modo 
que cópias do mesmo texto 
raramente eram idênticas; além dis- 
 
so, ao possuidor ou ao leitor do 
manuscrito era garantida a 
possibilidade de intervir no texto, 
acrescentando títulos, notas, 
observações pessoais, porque 
espaços em branco eram deixados 
para essa finalidade. 
 A tecnologia da impressão 
formatou a escrita, muito mais do 
que o tinham feito o rolo e o códice, 
em algo estável, monumental e 
controlado: estável, porque o texto 
se torna então reproduzível em 
cópias sempre idênticas; monumen-
tal porque o texto impresso, muito 
mais que o manuscrito, sobrevive e 
persiste como um monumento a seu 
A 
 
 13 
O LETRAMENTO NA CONTEMPORANEIDADE 
 
autor e a seu tempo; controlado 
porque numerosas instâncias inter-
vêm em sua produção e a regulam. 
Em primeiro lugar, são as 
tecnologias de impressão e difusão 
da escrita que instauram a proprie-
dade sobre a obra, propriedade que 
se expressa concretamente no 
surgimento da figura do autor, em 
geral difuso e não identificado 
anteriormente, nos livros manus-
critos, e instituem, consequente-
mente, os direitos autorais, a 
criminalização da cópia e do plágio. 
Em segundo lugar, são as 
tecnologias de impressão e difusão 
da escrita que criam muitas e várias 
instâncias de controle do texto – de 
sua escrita e de sua leitura: o texto é 
produto não só do autor, mas 
também do editor, do diagramador, 
do programador visual, do ilustra-
dor, de todos aqueles que intervêm 
na produção, reprodução e difusão 
de textos impressos em diferentes 
portadores (jornais, revistas, 
livros...). Altera-se, assim, funda-
mentalmente, o estado ou condição 
dos que escrevem e dos que leem o 
letramento na cultura do texto 
impresso diferencia-se substancial-
mente do letramento na cultura do 
texto manuscrito. 
Atualmente, a cultura do texto 
eletrônico traz uma nova mudança 
no conceito de letramento. Em 
certos aspectos essenciais, esta nova 
cultura do texto eletrônico traz de 
volta características da cultura do 
texto manuscrito: como o texto 
manuscrito, e ao contrário do texto 
impresso, também o texto eletrônico 
não é estável, não é monumental e é 
pouco controlado. Não é estável 
porque, tal como os copistas e os 
leitores frequentemente interferiam 
no texto, também os leitores de 
hipertextos podem interferir neles, 
acrescentar, alterar, definir seus 
próprios caminhos de leitura; não é 
monumental porque, como conse-
quência de sua não estabilidade, o 
texto eletrônico é fugaz e mutável; é 
pouco controlado porque é grande a 
liberdade de produção de textos na 
tela e é quase totalmente ausente o 
controle da qualidade e conveniên-
cia do que é produzido e difundido. 
 
O Letramento Digital 
 
 
 
O computador e a Internet 
vieram causar uma explosão na 
maneira de comunicar-se e de 
adquirir informação. Esse fenômeno 
 
 14 
O LETRAMENTO NA CONTEMPORANEIDADE 
 
é global, em instantes, através destes 
meios, podemos acessar 
informações de qualquer lugar do 
planeta. No mesmo momento que 
ocorre um incidente pode-se ter 
conhecimento dele, independen-
temente de onde o indivíduo esteja. 
Através do computador, as pessoas 
praticam a leitura e a escrita, se 
comunicam e interagem, tornam-se 
sujeitos da informação. 
Por Letramento Digital 
compreende-se a capacidade que 
tem o indivíduo de responder, 
adequadamente, às demandas 
sociais que envolvem a utilização 
dos recursos tecnológicos e da 
escrita, no meio digital. 
O letramento digital é mais 
que o conhecimento técnico. Inclui 
ainda, habilidades para construir 
sentido a partir de textos multi-
modais, isto é, textos que mesclam 
palavras, elementos pictóricos e 
sonoros numa mesma superfície. 
Inclui também a capacidade para 
localizar, filtrar e avaliar critica-
mente informações disponibilizadas 
eletronicamente. É a capacidade de 
manusear naturalmente e com 
agilidade, as regras da comunicação 
em ambiente digital. 
Não existe letramento, mas, 
letramentos, a tela do computador 
se constitui, neste sentido, como um 
novo suporte para a leitura e escrita 
digital. A tela é considerada como 
um novo espaço de escrita e traz 
mudanças significativas nas formas 
de interação entre escritor e leitor, 
entre escritor e texto, entre leitor e 
texto e até mesmo entre o ser 
humano e o conhecimento. 
Essas transformações têm 
desdobramentos sociais, cognitivos 
e discursivos, configurando assim, 
um letramento digital. Uma pessoa 
letrada digitalmente necessita de 
habilidade para construir sentidos a 
partir de textos que compõem 
palavras que se conectam a outros 
textos, por meio de hipertextos e 
links; elementos pictóricos e 
sonoros. Ele precisa também ter 
capacidade para localizar, filtrar e 
avaliar criticamente informação 
disponibilizada eletronicamente, e 
ter familiaridade com as normas que 
regem a comunicação com outras 
pessoas através dos sistemas 
computacionais. 
Como existem vários tipos de 
letramento, o letramento digital 
seria um tipo e não um novo 
letramento imposto à sociedade 
moderna pelas novas tecnologias. 
Os tipos de letramento mudam 
porque são situados na história e 
acompanham a mudança de cada 
contexto tecnológico, social, 
político, econômico ou cultural 
numa sociedade. O letramento, 
também, pode ser transformado 
pelas instituições sociais, que estão 
 
 15 
O LETRAMENTO NA CONTEMPORANEIDADE 
 
em constante relação de luta pelo 
poder e acabam por influenciar, a 
comunidade, a aprender o tipo de 
letramento que lhe é dado como 
oficial e que, portanto, deve ser 
assimilado. 
Assim, o que anda ocorrendo 
atualmente é uma adoção do tipo de 
letramento alfabético para o digital. 
O alfabético está servindo de apoio 
para a aprendizagem do letramento 
digital. Em plena era da informação, 
a gama de conhecimento que é 
gerado a cada momento, a aquisição 
do letramento alfabético, se torna 
um meio de alcançar a cidadania. 
Não se esquecendo que, para que 
haja de fato conhecimento é 
necessário a absorção crítica das 
informações. 
A principal condição para a 
apropriação do letramento digital é 
o domínio do letramento alfabético 
pelo indivíduo‖. Isto quer dizer que, 
um indivíduo só pode utilizar, 
plenamente, as vantagens da era 
digital às suas necessidades, se tiver 
aprendido a escrever, a compre-
ender o lido, se tiver dominado o 
sistema alfabético, ao ponto de ter 
alcançado um grau elevado das 
convenções ortográficas que orien-
tam o funcionamento da modali-
dade escrita de uma língua. Em 
síntese, apenas o letrado alfabético 
tem a qualificação para se apropriar 
totalmente do letramento digital. 
Quando os estudiosos mencio-
nam Letramento, estão se referindo 
ao Letramento Alfabético, que é a 
apropriação dos usos sociais da 
leitura e da escrita. 
A capacidade de usar as 
ferramentas e de interagir, no 
ambiente digital, permite ao 
indivíduo conectar-se ao mundo. 
Por isso, o Letramento Digital, 
sendo a capacidade que tem o 
indivíduo de responder, adequada-
mente, às demandas sociais que 
envolvem a utilização dos recursos 
tecnológicos e da escrita, nomeio 
digital, se torna imprescindível a 
plena conquista da cidadania. O 
acesso às ferramentas digitais é 
importante, porém, com um sentido 
mais amplo e coletivo de melhoria 
social. 
Diante de tantas reflexões 
concluímos que apenas o letrado 
alfabético tem a qualificação para se 
apropriar totalmente do Letramento 
Digital. Em síntese, uma pessoa só 
pode usar plenamente as vantagens 
da era digital se tiver aprendido a 
escrever, a compreender o lido, se 
tiver dominado o sistema alfabético 
ao ponto de ter alcançado um grau 
elevado das convenções ortográ-
ficas.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 17 
O LETRAMENTO NA CONTEMPORANEIDADE 
 
3. Ler e Escrever na Cultura Digital 
 
 
ivemos um desses raros 
momentos em que, a partir de 
uma nova configuração técnica, 
quer dizer, de uma nova relação com o 
cosmos, um novo estilo de humanidade é 
inventado.” (PIERRE LÉVY, 1993, p.17). 
 
Nas culturas que não 
conheciam a escrita, a transmissão 
da história se dava através das 
narrativas orais: o narrador relatava 
as experiências passadas a ouvintes 
que participavam do mesmo contex-
to comunicacional. Era uma espécie 
de história encarnada nas pessoas: 
quando os mais velhos morriam, 
apagavam-se dados irrecuperáveis 
pelo grupo social. O saber e a inteli- 
 
 
gência praticamente se identifica-
vam com a memória, em especial a 
auditiva; o mito funcionava como 
estratégia para garantir a 
preservação de crenças e valores. O 
tempo era concebido como um 
movimento cíclico, num horizonte 
de eterno retorno. 
A escrita inaugurou uma 
segunda etapa na história humana. 
Com ela, mudaram as relações entre 
o indivíduo e a memória social. O 
sujeito pôde projetar sua visão de 
mundo, sua cultura, seus senti-
mentos e vivências, no papel. Ao 
fazer isso, pôde analisar o próprio 
conhecimento das coisas e do 
“V 
 
 18 
O LETRAMENTO NA CONTEMPORANEIDADE 
 
mundo, e fazê-lo chegar até os 
homens de outras culturas e outros 
tempos. O saber que era condi-
cionado pela subjetividade se tornou 
objetivo e possível de se distanciar; a 
experiência pôde ser compartilhada 
sem que autor e leitor necessa-
riamente participassem do mesmo 
contexto. 
A escrita relativiza o papel da 
memória: é como se fosse um 
auxiliar cognitivo situado fora do 
sujeito. Ela torna presente e 
atemporal a palavra dos líderes, suas 
realizações, suas leis. Assim ajuda a 
tecer, linha após linha, as páginas da 
História. 
Em vez do horizonte de eterno 
retorno das narrativas orais, a 
escrita traz o sentido de linearidade. 
A memória de uma cultura já não 
cabe apenas no conto: ela é 
constituída de documentos, vestí-
gios, registros históricos, datas e 
arquivos. Tudo passa a estar inscrito 
numa cronologia. A lógica da justa 
posição, própria da oralidade, 
contrapõe-se a lógica do encade-
amento. À autoridade do autor sem 
a obra material (narrador) contra-
põe-se a autoridade da obra sem 
necessidade da presença do autor: o 
texto fala por si mesmo. O distan-
ciamento possibilitado pela grafia 
permite o registro das experiências e 
das hipóteses, o conhecimento 
especulativo, o documentário de 
comprovações, a compilação de 
teorias e paradigmas. 
A possibilidade de tratamento 
objetivo dos fatos e das experiências 
advinda da escrita traz, por outro 
lado, a desconfiança quanto ao 
efetivo entendimento das mensa-
gens. Esta dualidade se reflete numa 
pressão em direção à universalidade 
e à objetividade. Passamos da 
revelação à decifração, como se o 
mundo fosse um livro a ser lido e 
interpretado. O saber está distan-
ciado, disponível e maleável para a 
leitura, o estudo e a avaliação de 
outros sujeitos. É uma espécie de 
memória impessoal que traz com ela 
uma preocupação certamente não 
muito nova, mas que vai ganhar 
ênfase no imaginário dos especia-
listas: a de conseguir produzir, 
registrar ou estabelecer verdades 
que sejam definitivamente indepen-
dentes dos sujeitos que as produzi-
ram e dos contextos em que foram 
geradas portanto, permanentes, 
absolutas e universais. A ambição 
teórica será a construção de 
enunciados que falem por si 
mesmos, sem a necessidade de 
mediadores ou intérpretes. A escrita 
dá impulso às estruturas normativas 
e desempenha um papel funda-
mental na constituição do discurso 
científico. 
A escola se entende a partir 
das categorias próprias da cultura 
 
 19 
O LETRAMENTO NA CONTEMPORANEIDADE 
 
escrita: sua organização se faz sobre 
o conhecimento objetivo dos fatos, 
seu currículo se estrutura em função 
de saberes que pretendem funcionar 
como verdades permanentes, 
absolutas e universais, independen-
temente do contexto. Também 
assim se dá a relação com os textos, 
que falam por si mesmos: cabe ao 
aluno-leitor descobrir o que o autor 
quis dizer, evitando a recriação, 
entendida como desvio do sentido 
original e puro. Nesse ponto, a 
escola é herdeira da tradição 
positivista e do estruturalismo de 
Saussure, que separa a língua 
(fenômeno social) da fala (expressão 
individual de cada sujeito, circuns-
tancial e contextualizada). Seguindo 
a tendência da busca e da 
valorização da objetividade e da 
neutralidade, contra a diversidade 
de interpretações, a escola estuda a 
língua como fenômeno estático, 
direcionando o ensino para a 
sistematização das normas, para a 
adequação ao sistema, sem abrir 
espaço para a diversidade, para a 
multiplicidade de interpretação dos 
signos, para as intenções dos 
falantes. Daí o predomínio das 
linguagens matemáticas ou exatas, 
que não se prestam à polissemia; 
pois, como aconselhava Francis 
Bacon, é mais seguro imitar a 
sabedoria dos matemáticos, estabe-
lecendo desde o início as definições 
de nossas palavras e termos, para 
que outros possam saber como os 
aceitamos e entendemos, e decidir 
se concordam ou não conosco. 
Nessa escola, ler equivale a 
compreender o que foi expressado, 
como buscando acesso a uma lei 
universal. O texto é retirado de sua 
função social viva, seu contexto, 
suas raízes e sua história. Ele existe 
objetivamente, externo ao leitor e, 
portanto, é a ele estranho. O aluno 
não tem controle sobre ele - ao 
contrário, é o texto que, de certa 
forma, exerce o controle, uma vez 
que o estudante, sem possuí-lo, nada 
vale. O texto surge, assim, como 
fator de alienação escolar. 
O conhecimento escolar da 
cultura letrada se estruturou como 
as páginas de um livro: linear, 
encadeado e segmentado. Num livro 
é difícil, mesmo incômodo, consul-
tar dois trechos de páginas 
diferentes ao mesmo tempo: na 
escola também. É preciso passar 
primeiro pelo pré-requisito, e só 
depois ver o seguinte. 
Apesar de tê-lo objetivado no 
papel, a escola não prescindiu do 
conhecimento memorizado, como se 
não confiasse no novo auxiliar 
cognitivo. Com uma diferença, 
porém: para os narradores, a 
história relatada fazia sentido 
porque era parte de suas vidas; na 
escola, isso quase nunca ocorreu: 
 
 20 
O LETRAMENTO NA CONTEMPORANEIDADE 
 
justamente se memoriza o que não 
faz sentido, o que não tem relação 
com a realidade, o que só serve para 
depois. 
A cultura escrita raramente 
chega sem violência, inclusive 
porque, devido ao prestígio que os 
sistemas alfabetizados adquiriram, 
acaba se designando a cultura oral 
como inferior. A mais nobre 
aquisição da humanidade é a fala, e 
a arte mais sutil é a escrita; a 
primeira distingue eminentemente 
o homem da criatura bruta, e a 
segunda, dos selvagens sem 
civilização. 
Visões similares ainda existem 
hoje, embora menos explícitas, por 
exemplo, em alguns povos da África, 
nos quais vêm sendo estabelecidos 
alfabetos para representar línguas 
orais, trazendo aos aprendizes não 
apenas uma técnica de escrita, mas 
também todos os diferentes 
conteúdos e conceitos que uma 
cultura letrada elabora com a 
própriaforça da escrita, e que neste 
caso é, além do mais, uma cultura 
estrangeira. 
 Em Moçambique, as popula-
ções migrantes do campo, desloca-
das e dispersas da sua cultura de 
origem, são compelidas a se 
alfabetizar no idioma dominante, 
sendo inevitável o abandono da 
língua materna e, por consequência, 
o abandono da forma peculiar que 
cada cultura tem de ver o mundo e 
de conceber a experiência vivida, a 
política linguística moçambicana 
está ainda no pós-independência a 
ser utilizada como instrumento de 
dominação, de fragmentação e de 
assimilação. 
Mas não é preciso ir tão longe: 
no Brasil conhecemos uma realidade 
análoga, quando na educação das 
crianças são impostas as normas da 
língua culta, desprezando os saberes 
que elas trazem do próprio meio 
cultural fenômeno que tem 
repercussões mais graves nos alunos 
provenientes do interior, ou de 
classes sociais injustiçadas. Estas 
crianças ingressam num mundo 
todo feito contra elas, ao qual, 
naturalmente, têm dificuldades para 
se adaptar. 
A escola costuma limitar a 
possibilidade de penetrar na 
experiência do outro; com seus 
currículos rígidos, fundamentados 
sobre uma concepção racionalista e 
linear, a educação escolar muitas 
vezes se constitui como dominação 
da razão sobre outras competências 
e saberes humanos, mais ligados ao 
espírito, à afetividade, ao emocional. 
A relação com textos não se dá tanto 
pela narrativa e pela criação como 
pela interpretação e análise morfo-
lógica, abrindo-se mão da memória 
e da experiência pessoal, em nome 
da centralidade do intelecto, 
 
 21 
O LETRAMENTO NA CONTEMPORANEIDADE 
 
imposta pela busca prioritária de 
uma compreensão teórica do real e 
da linguagem. 
 
 
 
 Uma escola monológica é 
aquela em que um único sentido 
sobressai, impedindo os demais de 
virem à tona. Esse tipo de trabalho 
com a linguagem exclui a dimensão 
criadora; a língua passa a servir, 
numa análise mais ampla, até 
mesmo como um instrumento de 
reprodução do sistema. Em lugar 
disso, na perspectiva da polifonia, 
não existe nem a primeira nem a 
última palavra, e não existem 
fronteiras para um contexto dialó-
gico. Em qualquer momento do 
diálogo existem as massas enormes 
e ilimitadas de sentidos esquecidos 
que serão recordados e reviverão em 
um contexto e num aspecto novo. A 
polifonia é um jogo dramático de 
vozes que torna multidimensional a 
representação e que, sem buscar 
uma síntese de conjunto, cria uma 
tensão dialética que configura a 
arquitetura própria de todo o 
discurso. 
Anular a possibilidade da 
polifonia é anular o diálogo e a 
reconstrução possível de sentidos, 
fechando o acesso ao que só poderia 
ser completado pelo leitor. 
 
A cibercultura 
 
A conexão simultânea dos 
atores da comunicação a uma mês-
ma rede traz uma relação total-
mente nova com os conceitos de 
contexto, espaço e temporalidade. 
Do horizonte do eterno retorno das 
narrativas, e da linearidade das 
culturas letradas, passamos a uma 
percepção do tempo, mais do que 
como linhas, como pontos ou 
segmentos da imensa rede pela qual 
nos movimentamos. Vivemos num 
ritmo de velocidade pura, não há 
horizonte, nem ponto-limite, um fim 
no término da linha. Ao contrário, 
vivemos uma fragmentação do 
tempo, numa série de presentes 
ininterruptos, que não se sobrepõem 
uns aos outros, como páginas de um 
livro, mas existem simultânea-
mente, em tempo real, com 
intensidades múltiplas que variam 
de acordo com o momento. 
Enquanto na era da escrita o mote é 
construir o futuro, hoje vale o que 
ocorre neste preciso momento. 
O megadesign hipertextual 
reconfigura todo o espaço. Trata-se 
 
 22 
O LETRAMENTO NA CONTEMPORANEIDADE 
 
de um ciberespaço, interativo e 
receptivo a todas as vozes conecta-
das que desejem escrever uma parte 
do mega texto produzido pela 
inteligência coletiva. 
O hipertexto, nova forma de 
escrita e de comunicação da 
sociedade informático mediática, é 
também uma espécie de metáfora 
que vale para as outras dimensões 
da realidade. Interessa-me estudá-lo 
nessa perspectiva, e aí está uma de 
suas conexões com o campo 
educacional. A internalização da es-
trutura do hipertexto como media-
ção para a produção de conheci-
mento implica novas formas de ler, 
escrever, pensar e aprender. A 
hipertextualidade não é um mero 
produto da tecnologia, e sim um 
modelo relacionado com as formas 
de produzir e de organizar o 
conhecimento, substituindo siste-
mas conceituais fundados nas ideias 
de margem, hierarquia, linearidade, 
por outros de multilinearidade, nós, 
links e redes. 
O que é um hipertexto? Como 
o próprio nome diz, é algo que está 
numa posição superior à do texto, 
que vai além do texto. Dentro do 
hipertexto existem vários links, que 
permitem tecer o caminho para 
outras janelas, conectando algumas 
expressões com novos textos, fa-
zendo com que estes se distanciem 
da linearidade da página e se 
pareçam mais com uma rede. Na 
Internet, cada site é um hipertexto 
clicando em certas palavras vamos 
para novos trechos, e vamos 
construindo, nós mesmos, uma 
espécie de texto. As partes de um 
hipertexto podem ser agrupadas e 
reagrupadas pelo leitor. 
Cada uma das páginas da rede 
é construída por vários autores: 
designers, projetistas gráficos, pro-
gramadores, autores do conteúdo do 
texto. Cada percurso textual é tecido 
de maneira original e única pelo 
leitor cibernético. Não existe, 
portanto, um único autor: seria mais 
adequado falar de um sujeito 
coletivo, uma reunião e interação de 
consciências que produzem conhe-
cimento e navegam juntas. 
 
O hipertexto como subver-são da 
escola linear 
 
O hipertexto, reunião de vozes 
e olhares, é subversivo em relação ao 
monologismo. Construído na soma 
de muitas mãos, e aberto para todos 
os links e sentidos possíveis, o 
hipertexto contemporâneo é, de 
certo modo, uma versão da polifonia 
que buscava-se; e, portanto, uma 
possibilidade para o diálogo entre as 
diferentes vozes, para a negociação 
dos sentidos, para a construção 
coletiva do pensamento. 
 
 
 23 
O LETRAMENTO NA CONTEMPORANEIDADE 
 
 
 
O hipertexto é subversivo na 
relação entre autor e leitor. O cursor 
do mouse está permanentemente 
presente no texto do monitor, como 
um sinal concreto de que, no 
momento em que desejarmos, 
poderemos invadi-lo, reescrever 
seus caminhos, optar por outras 
vias. Subverte-se, por inerência, a 
noção de autoria O hipertexto é 
subversivo com relação à lineari-
dade. A linearidade, que teve data de 
nascimento – o aparecimento da 
escrita – e papel determinante no 
pensamento ocidental, tem agora, 
nesta nova interface, o momento de 
seu declínio, agora que ler é 
mergulhar nas malhas da rede, é 
perder-se, é libertar-se dos 
caminhos proibidos, que o 
monologismo havia colocado em 
segundo plano. Sem margens, sem 
início, nem fim, sem percurso 
estabelecido por antecipação, cada 
texto termina com a abertura para 
outras mensagens. O fim é o próprio 
link. Se a marca do início determina 
a forma de construção da narrativa, 
poderíamos dizer que, sem um 
princípio único, várias narrativas 
seriam possíveis – todas aquelas 
construídas pelo leitor, como 
protagonista de uma construção em 
que o ouvinte trabalha os fios e tece 
a narração seguinte. 
Um hipertexto é subversivo 
com relação à forma. Ele amplia os 
recursos expressivos do texto escrito 
na possibilidade de articular 
imagens, palavras e sons. E, se não 
podemos dizer que amplie os 
recursos da oralidade, pelo menos 
verificamos que modifica as suas 
condições, na medida em que 
acrescenta à fala e à narração a 
possibilidade de vínculo com a 
palavra escrita e as ilustrações. 
Ocorre ainda a subversão na 
hierarquia interna do texto: imagens 
falam, muitas vezes, mais do que 
palavras. A ilustraçãoconquista o 
espaço da mensagem. Imagem e 
som ganham o status de linguagem 
e, portanto, invadem o espaço do 
significante escrito para tornar-se, 
também elas, novos textos, 
concebidos com diferentes modelos 
e igualmente relevantes para a 
comunicação social. A imagem 
disponibilizada na Internet e 
acessada pelo aluno passa a ser 
 
 24 
O LETRAMENTO NA CONTEMPORANEIDADE 
 
também mediadora para o 
conhecimento do mundo. 
O hipertexto é subversivo até 
com relação à postura física do 
leitor. Do livro de rolo, que não 
permitia ler, comparar e fazer 
anotações ao mesmo tempo, já que o 
leitor devia segurá-lo com ambas as 
mãos para poder correr o texto, ao 
livro encadernado, que permite virar 
as páginas, mas sempre em 
sequência, uma após outra (e nunca 
uma e outra), passamos a um texto 
totalmente maleável. Poderá não 
ter, e isso é certo, os encantos do 
papel ou do pergaminho; mas nos 
permite a visibilidade das janelas, a 
abertura das múltiplas caixas de 
texto, os recursos de cortar e colar 
fragmentos, a infinidade de dobras 
caleidoscópicas. 
Essa maleabilidade traz a 
reflexão sobre o digital trata-se de 
outro tipo de materialidade. Muda a 
relação com o objeto: o texto não é 
mais algo palpável, mas feito de 
bites, e ocupam um espaço difícil de 
definir ou imaginar. Essas infor-
mações digitais são provisórias e 
plásticas. Obedecem a um ritmo 
específico de pertinência imediata e 
de obsolescência acelerada. A infor-
matização instaura, um novo regime 
de circulação e de metamorfose das 
representações e dos conheci-
mentos. 
O que muda na alfabetização, 
no letramento, nos processos 
educacionais de internalização das 
formas comunicacionais nesta cul-
tura digital? Parece-me que as 
rupturas são tão radicais que 
exigirão um repensar de alguns dos 
elementos básicos da escola. Citarei 
apenas alguns deles. 
Em primeiro lugar, deveremos 
rever nossos referenciais teóricos. 
Piaget, Vygotsky, Ferreiro ilumina-
ram a reconstrução dos métodos e 
processos de alfabetização na escola 
visando garantir ao aluno um papel 
mais ativo. Graças a eles e outros 
tantos, pudemos saber um pouco 
mais sobre como o aluno pensa e 
como constrói o conhecimento. 
Hoje, mudando as formas de 
construção do saber, teremos que 
voltar a pensar esses pressupostos. 
Podemos ainda considerar os 
mesmos estágios mentais do cons-
trutivismo com crianças que têm 
acesso ao computador antes de se 
alfabetizarem? Se Vygotsky nos fez 
perceber o caráter dialético de 
construção da mente, na interação 
com o meio através da linguagem, de 
que forma sua obra deve ser relida 
hoje, quando os signos se multi-
plicam e um novo mundo, virtual, 
reproduz as tensões e os conflitos 
linguísticos do mundo real? Partin-
do do princípio de que cada método 
 
 25 
O LETRAMENTO NA CONTEMPORANEIDADE 
 
pedagógico revela uma concepção 
do ser humano e uma compreensão 
sobre o modo como se aprende, 
parece-me que são necessárias no-
vas pesquisas para verificar quem é 
o sujeito da educação hoje. Para 
começar, já sabemos que é alguém 
que interage com uma máquina, um 
dispositivo mediador a partir do 
qual (re)conhece o mundo. 
Além disso, deveremos rever 
nossos currículos. A linearidade da-
rá lugar ao hipertextual, ao móvel e 
flexível. A escola estruturalista dos 
saberes prontos, definidos, acaba-
dos e descontextualizados será 
dessestabilizada pelo descentra-
mento, pela contínua produção e 
negociação de sentidos e de novos 
discursos, pelas construções abertas 
e as paisagens inusitadas. Os 
conteúdos deixarão de percorrer 
como páginas de um livro, para se 
tornarem janelas de um hipertexto, 
em múltiplas dimensões que se 
interconectam e interpenetram. As 
janelas abertas deixarão entrar luzes 
imprevistas. 
Um terceiro ponto: as relações 
de poder que surgem na escola a 
partir dos instrumentos tecnológi-
cos são totalmente novas. Pela 
primeira vez na história, a tecnolo-
gia da dominação é mais conhecida 
pelo dominado. Em outros termos: 
até hoje o professor trazia o saber, a 
norma culta, a escrita correta‖, para 
os não letrados, reproduzindo no 
contexto escolar (por mais que 
houvesse cuidado e respeito pelo 
aluno) as situações de imposição 
linguística vividas pelas culturas 
orais. Hoje, ocorre um paradoxo: 
aquele a ser educado é o que melhor 
domina os instrumentos simbólicos 
do poder, o aparato de maior 
prestígio: as tecnologias. O que 
ocorrerá na sala de aula? Parece-me 
que as parcerias e a aprendizagem 
em conjunto serão inevitáveis. 
O quarto ponto é a 
necessidade de reinventarmos a 
nossa profissão. Usando a língua-
gem dos PCN, vejo o papel do 
professor decisivo nos três eixos 
de conteúdos curriculares: nos 
conteúdos conceituais, como arqui-
teto cognitivo, responsável por 
traçar as estratégias e definir os 
métodos mais adequados para que o 
aluno chegue a uma construção ativa 
do conhecimento; nos conteúdos 
procedimentais, como dinamiza-
dor de grupos, ao ajudar os 
estudantes a descobrirem as formas 
pelas quais se chega ao saber, os 
processos mais eficazes e o diálogo 
possível entre as disciplinas, 
gerenciando uma sala de aula na 
qual os estudantes, com suas diver-
sas competências, dialogam com 
respeito entre si e estabelecem 
parcerias produtivas; e nos conteú-
dos atitudinais, como educador, 
 
 26 
O LETRAMENTO NA CONTEMPORANEIDADE 
 
comprometendo-se com o desafio de 
estimular a consciência crítica para 
que todos os recursos desse novo 
mundo sejam utilizados a serviço da 
construção uma humanidade tam-
bém nova, com base nos critérios de 
justiça social e respeito à dignidade 
humana. 
Devemos pensar o que signi-
fica construir uma pedagogia inter-
cultural. O prefixo inter indica 
ênfase nas trocas, nas conexões, no 
diálogo. Distingue-se o intercultural 
do multicultural que, para ele, é um 
termo estático, que pode, na 
realidade cotidiana, traduzir-se pela 
simples justaposição de culturas 
múltiplas no interior duma socie-
dade, sem comunicação entre elas, 
cada uma permanecendo fechada o 
mais que lhe for possível. O 
intercultural, ao contrário, é movi-
mento e reciprocidade. Construir 
uma pedagogia intercultural será 
tornar possível, no currículo, a 
abertura ao outro, reconhecendo 
que a experiência do outro é 
fundamental para a constituição da 
subjetividade e para a produção de 
saber coletivo. A pedagogia intercul-
tural é, em termos bakhtinianos, a 
resposta polifônica ao monolo-
gismo. 
Acredito na possibilidade de 
que o hipertexto contemporâneo 
construído na soma de muitas mãos, 
e aberto para todos os links e 
sentidos possíveis seja uma versão 
dessa polifonia que Bakhtin procu-
rava; e na escola, uma possibilidade 
para construir uma sala de aula 
aberta à pluralidade de vozes, à 
construção coletiva, à partilha das 
interpretações, à democracia da 
palavra. Para isso, será necessário 
entender a palavra, a escrita e o texto 
como unidades discursivas que só 
encontram sua completude no 
processo dialógico, e reconstruir o 
processo educativo como um 
acontecimento de interação de 
consciências. A escola da cibercul-
tura pode tornar-se o espaço de 
todas as vozes, todas as falas e todos 
os textos. O desafio mais instigante é 
o do professor, que pode finalmente 
reinventar-se como alguém que vem 
dialogar e criar as condições 
necessárias para que todas as vozes 
sejam ouvidas e cresçam juntas. 
Após a análise de Ramal, 
demonstraremos, a seguir, através 
de dois trabalhos publicados, o que 
vem sendo produzido, de concreto, 
na alfabetização e no letramento, 
através da utilização das Tecno-
logias de Informação e Comunicação 
(TIC). 
Em seguida, faremos uma 
exposição do que vem a ser a mesa 
alfabeto, tecnologia desenvolvida e 
utilizada para a alfabetização,através das TIC. 
27 
 
 
 
 28 
O LETRAMENTO NA CONTEMPORANEIDADE 
 
4. Os Gêneros Digitais e os Desafios de Alfabetizar 
Letrando 
 
 
ão faz muito tempo em que 
imperava em nossas escolas o 
entendimento de que alfabetizar era 
o mesmo que investir no ensino da 
codificação e decodificação de letras, 
palavras, frases-textos do tipo vovó 
viu a uva. Essa noção de alfabeti-
zação começou a se dissolver a partir 
da década de 1980, quando alguns 
estudos sinalizaram para a constru-
ção do processo de alfabetização 
como algo bem mais complexo do 
que a mera (de)codificação da 
escrita, pois a aprendizagem dessa 
 
 
modalidade da língua obedece a 
fases distintas. 
 A concepção acerca da 
alfabetização como atividade de 
(de)codificar a escrita fazia felizes 
(as aspas não estão aí como 
ornamento) os cidadãos alfabetiza-
dos ao mesmo tempo em que 
relegava ao isolamento aqueles a 
quem lhes coube o rótulo de 
analfabetos. Como bem denuncia 
Ribeiro (2003), analfabeto passou a 
ser um estigma para as pessoas, 
especialmente as adultas, que so- 
N 
 
 29 
O LETRAMENTO NA CONTEMPORANEIDADE 
 
friam por não saber sequer assinar o 
próprio nome e, por isso, foram 
consideradas burras, incapazes, des-
qualificadas. Deste modo, para além 
de não saber ler e escrever letras, 
palavras e pequenas frases, a palavra 
analfabeto, na verdade, escondia ou 
esconde outras acepções que 
legitimavam a exclusão social dessas 
pessoas. 
Foram os anos de 1990 que 
trouxeram o reconhecimento de que 
mesmo um cidadão que não sabe ler 
e escrever o código tem uma 
representação clara acerca da 
função social da escrita, pois é capaz 
de realizar atividades complexas 
orientado por tal representação. A 
implicação desse reconhecimento 
gerou a necessidade de forjar outra 
noção que extrapolasse aquele 
entendimento de alfabetização. 
Assim, letramento passou a ser o 
termo pelo qual poderíamos explicar 
a revolução sócio histórica que a 
escrita provocou nas sociedades 
letradas. Mas isso não significa que 
alfabetização e letramento inaugu-
raram mais uma das famigeradas 
dicotomias emergidas da ciência, já 
que tais termos passaram a ser fios 
que, entrelaçados, tecem a trama de 
uma participação social mais crítica, 
mais igualitária e mais justa entre as 
pessoas. 
 É neste sentido que alfabe-
tizar e letrar são duas ações distin-
tas, mas inseparáveis, (pois) o ideal 
seria alfabetizar letrando, ou seja: 
ensinar a ler e escrever no contexto 
das práticas sociais da leitura e da 
escrita, de modo que o indivíduo se 
tornasse, ao mesmo tempo, alfabe-
tizado e letrado. Isso inclui, por 
exemplo, os usos de escrita que 
caracterizam a entrada do com-
putador conectado à Internet na 
vida das pessoas. 
Diante desse fato, conhecer o 
código alfabético e ser protagonista 
nas decisões dos grupos sociais de 
que participa não basta ao sujeito do 
século XXI, pois a sua cidadania 
passa também pela necessidade de 
saber manipular um computador, de 
preferência conectado à Internet, a 
fim de ocupar um lugar que a sua 
contemporaneidade lhe reserva ou 
impõe. 
Ou seja, é preciso que o 
homem e a mulher desse século 
sejam sujeitos letrados também 
digitalmente. Neste artigo, defendo 
que um dos caminhos para isso é 
que a escola, desde cedo, crie 
situações didáticas através das quais 
seja possível trazer para o espaço 
educativo situações concretas de 
escrita digital com as quais o 
educando sinta desejo e necessidade 
de interagir, pois percebe que são 
ferramentas sociais portadoras de 
sentidos, de propósitos comunica-
tivos, e que se traduzem em fontes 
 
 30 
O LETRAMENTO NA CONTEMPORANEIDADE 
 
de informações variadas e de 
saberes a serem explorados. 
Se a escola precisa estar aberta 
paras as novas configurações do uso 
da linguagem que agora adentra o 
universo digital, então o trabalho 
pedagógico deve estar organizado de 
modo que as crianças sejam alfabe-
tizadas ao mesmo tempo em que se 
tornem letradas, inclusive, digital-
mente. Com base nessas considera-
ções, a questão que me orienta no 
presente artigo é a seguinte: de que 
maneira os gêneros digitais podem 
ser relevantes para o desafio de 
alfabetizar crianças, letrando-as 
digitalmente? 
À hegemonia intelectual de 
grupos sociais dominantes, discuto 
sobre o letramento digital, destacan-
do a escola como um lugar propício 
em que se pode forjar um novo 
intelectual letrado digitalmente que 
poderá se inserir criticamente em 
uma sociedade que exige práticas 
múltiplas de letramento inclusive 
digitais. Na sequência, relato uma 
experiência com crianças que par-
ticiparam de uma atividade de pes-
quisa que envolveu gêneros di-
gitais em seu processo de alfa-
betização e letramento. A partir 
dessa experiência, faço considera-
ções sobre a importância de a escola 
desenvolver situações que opor-
tunize a todos um letramento digital 
cada vez mais crítico. 
Letramento digital: possi-bilidades 
para um ensino crítico 
 
 
 
Sobrepujando os limites das 
teorias reprodutivistas, percebe que 
a sociedade proprietária tende à he-
gemonia e, guiado por tal convicção, 
denuncia que nela surgem grupos 
sociais hegemônicos os quais criam 
para si uma ou mais camadas de 
intelectuais que lhes dão homo-
geneidade e consciência da própria 
função, não apenas no econômico, 
mas também no social e no político. 
Para não ver abalados os seus 
interesses, a hegemonia que caracte-
riza os grupos mais favorecidos é 
habilidosa no sentido de provocar a 
adesão das classes subalternas, 
criando estratégias de naturaliza-
ção/interiorização daquilo que 
importa aos primeiros. Por isso, 
defende-se que, pela revolução 
cultural, o proletariado pode se 
tornar classe dirigente e dominante 
na medida em que consegue obter o 
consenso das amplas massas. 
 
 31 
O LETRAMENTO NA CONTEMPORANEIDADE 
 
Quando as classes subalternas 
passam pela elevação cultural, 
percebem que podem e devem 
investir na urdidura de seus pró-
prios intelectuais, pois compre-
endem que o trabalho intelectual 
não é meramente abstrações cunha-
das na solidão, mas se configura em 
luta cultural para transformar a 
mentalidade popular e divulgar as 
inovações filosóficas que se revelam 
historicamente verdadeiras. 
Muitos estudiosos da educa-
ção se mostraram atraídos pela visão 
gramsciana de sociedade. Entre eles 
figuram Paulo Freire que foi taxativo 
ao assumir: para mim, o caminho é 
fascinante. É nessa perspectiva que 
me coloco. No fundo tudo tem a ver 
com o papel do chamado intelectual, 
que Gramsci estuda tão bem e tão 
amplamente. Na verdade, para 
Freire o verdadeiro intelectual, a-
quele nascido da revolução cultural 
de que fala Gramsci, seria alguém 
que interfere, logo, não se omite. 
E o que essa discussão tem a 
ver com um artigo que deseja 
discutir sobre o letramento digital? 
Tal como Freire, considero-a, no 
mínimo, relevante na medida em 
que o acesso ao letramento digital, 
salva guardando alguns casos, tem 
sido, notadamente, oportunizado 
muito mais aos grupos sociais 
privilegiados do que aos grupos 
menores, provocando o que pode ser 
entendido como exclusão digital. Ou 
seja, no dizer de Gramsci, os grupos 
sociais mais favorecidos estão 
forjando os seus intelectuais para, 
por meio deles, naturalizarem a 
exclusão digital. Em contrapartida, 
não seria desproporcional a afirma-
ção de que o investimento na criação 
e propagação dos softwares livres é 
uma reação dos grupos menores que 
trabalham em prol de um novo 
senso comum o qual se levanta 
contra aquele pregado por empresas 
como a Microsoft que engenho-
samente naturalizam nas pessoas a 
crença em uma acessibilidade livre e 
ilimitada quando na verdade seus 
produtos são licenciados somente 
para aqueles que podem comprar.O núcleo sadio do senso 
comum poderia ser chamado de 
bom senso, merecendo ser desenvol-
vido e transformado em algo uni-
tário e coerente. No meu entender, a 
escola, mesmo sendo um aparelho 
ideológico do estado, pode ser 
relevante nessa transformação, se a 
ela forem dadas as condições para 
tanto. Na busca pelo novo intelec-
tual, que quebrará a hegemonia dos 
grupos fechados a escola surge como 
uma esperança de ser ela mesma o 
espaço tempo de tecer a construção 
do bom senso. Para isso, a escola 
deve se revestir de uma pedagogia 
renovada, entendendo que não 
basta apenas ao indivíduo saber ler 
 
 32 
O LETRAMENTO NA CONTEMPORANEIDADE 
 
pequenos textos para garantir o 
exercício da cidadania, é preciso que 
ele vá além, pois a sociedade letrada 
a que pertence elabora e exige usos 
sofisticados de conhecimentos rela-
tivos à escrita e à leitura. Deste 
modo, conhecer o código relativo às 
modalidades escrita e oral da língua 
caracteriza a alfabetização, mas 
aplicar com desenvoltura tal conhe-
cimento às mais variadas situações 
sociais caracteriza o letramento e é 
por esta segunda parte que os gru-
pos letrados se organizam, inclusive 
em práticas letradas digitais. Neste 
sentido, como alerta, tais práticas só 
passarão a ser realidade em nossas 
nas escolas, se a política de educação 
do governo atual estimular e 
financiar a construção de tele 
centros públicos, equiparar as esco-
las com laboratórios de computação, 
capacitar em massa seus professo-
res, transformando-os em letrados 
digitais, é bem provável que os 
gêneros digitais como e-mail, chat, 
fórum eletrônico, lista de discussão 
weblog, hiperficções colaborativas 
serão cada vez mais trabalhados, 
aprendidos e utilizados na escola e, 
principalmente, fora dela. 
No entanto, ao falar de acesso 
ao computador conectado à Inter-
net, é comum que os meios de 
comunicação em massa disseminem 
a ideia de que a acessibilidade já é 
algo garantido. No entanto, há 
dados que nos assustam. Recen-
temente, uma pesquisa divulgou que 
55% dos brasileiros ainda estão por 
saber o que significa usar um 
computador e que 68% da nação 
jamais acessaram a Internet. Com 
base nesses dados, é possível dizer 
que, se, no caso do Brasil, já há um 
fosso entre os que sabem e os que 
não sabem usar a escrita conven-
cional ou o conhecimento sobre ela 
para resolver situações sociais 
cotidianas, com a inserção do 
computador conectado ou não à 
Internet em nossa sociedade, abre-
se uma cratera entre os que sabem e 
os que não sabem utilizar as práticas 
de escrita digital com proficiência 
para resolver situações corriqueiras, 
como escrever e-mails, fazer 
transferências bancárias, recadas-
trar o CPF ou mesmo namorar no 
chat aberto e manter um profile no 
Orkut. 
Entretanto, a mesma 
sociedade que elabora essas exigên-
cias, trata logo de criar entraves para 
que os sujeitos não participem plena 
e igualitariamente das atividades 
que lhes permitam ascender no 
exercício global de sua cidadania. É 
com base na esteira dessas consi-
derações que relatarei resultados de 
uma pesquisa ação ambientada em 
uma escola particular de Fortaleza 
sobre a descoberta do letramento 
digital por crianças em fase de 
 
 33 
O LETRAMENTO NA CONTEMPORANEIDADE 
 
alfabetização. Nela, mostra que não 
só é possível alfabetizar crianças, 
como também, ajudá-las a serem 
letradas digitais. Indo um pouco 
mais além, a pesquisa mostra que, 
com intervenção pedagógica ade-
quada, é possível colaborar com as 
crianças, ajudando-as a construírem 
posições críticas diante do chamado 
letramento digital. Como será 
retomado em minhas conclusões, 
infelizmente, as escolas públicas 
brasileiras ainda carecem de prá-
ticas didáticas como a que relatarei 
mais adiante. 
 
Os gêneros digitais no processo de 
letramento das crianças em fase de 
alfabetização 
 
 
 
 
O desafio estava posto. Como 
alfabetizar crianças letrando-as digi-
talmente? Não seria estapafúrdia 
demais essa ideia? Mas como elevar 
a autoestima de crianças cujos pais 
não acreditavam mais nelas? se, 
através disso, as crianças, auxiliadas 
pela professora, Diante desse 
quadro problemático, passamos a 
trabalhar com a suposição de que 
inserir o computador e a Internet 
nas práticas didáticas voltadas as 
atividades de alfabetização daquelas 
crianças talvez pudesse significar a 
busca pela elevação cultural temos 
conseguido comprovar é que 
quando os adultos estimulam o uso 
do computador sobretudo chegas-
sem a compreensão crítica de si. 
É importante ressaltar que a 
compreensão crítica de si, não pode 
estar relacionada com as imagens de 
seres incapazes e fracassados que as 
experiências de reprovação e o 
constrangimento diante dos pais 
causaram àquelas crianças. A 
compreensão crítica de si é obtida 
através de uma luta de hegemonias 
políticas, de direções contrastantes, 
primeiro no campo da ética, depois 
no campo da política, atingindo uma 
elaboração superior da própria 
concepção do real. A ideia foi 
exatamente apostar que aquelas 
crianças podiam voltar a acreditar 
em si e reelaborar a concepção de 
suas realidades quando descobris-
sem que os usos do computador 
poderiam pô-las em contato com 
outras pessoas. Assim, tendo por 
base Vygotsky, entendemos que o 
ensino tem de ser organizado de 
forma que a leitura e a escrita se 
tornem necessárias às crianças, uma 
 
 34 
O LETRAMENTO NA CONTEMPORANEIDADE 
 
necessidade intrínseca deve ser 
despertada nelas e a escrita deve ser 
incorporada a uma tarefa necessária 
e relevante para a vida. Só então 
poderemos estar certos de que ela se 
desenvolverá não como hábito de 
mão e dedos, mas como uma forma 
nova e complexa de linguagem. 
Por isso, uma das primeiras 
atividades realizadas foi investir no 
conhecimento e na exploração dos 
periféricos que são acoplados ao 
computador. Um dos periféricos 
mais importantes nesse processo foi 
o teclado porque as crianças, ao 
manipulá-lo, perceberam que nele 
estão as letras do alfabeto, além de 
outros signos. A materialização no 
teclado (ajudou-as) a representar o 
conjunto finito de letras com as 
quais se trabalha e, além disso, 
(ajudou-as) a estabelecer relações 
tipográficas. De fato, enquanto no 
teclado as letras estão representadas 
em caixa alta, na tela aparecem em 
minúscula e isto (colaborou) na 
construção de um sistema de 
correspondências entre maiúsculas 
e minúsculas. 
O domínio do mouse pelas 
crianças foi outro desafio vencido, 
pois as crianças menores aprendem 
rapidamente. O uso do mouse 
passou a ser importante para 
aperfeiçoar a coordenação motora 
das crianças, exercício bem mais 
rico do que aqueles em que elas são 
obrigadas cobrir linhas pontilhadas 
que simulam um caminho em curvas 
temos conseguido comprovar é que 
quando os adultos estimulam o uso 
do computador sobretudo se, 
através disso, as crianças, auxiliadas 
pela professora, chegassem a 
compreensão crítica de si.
35 
 
 
 
 36 
O LETRAMENTO NA CONTEMPORANEIDADE 
 
5. Software Para Auxílio à Pré-Alfabetização 
 
 
om as inúmeras mudanças 
pelas quais a educação vem 
passando, observam-se algumas 
necessidades no ambiente escolar 
entre as quais, a introdução da 
informática nas escolas. Nesse 
comtexto, a área tecnológica tem 
muito a contribuir, principalmente, 
no que diz respeito à ampliação e 
melhoria dos materiais pedagógicos. 
Recentes pesquisas demons-
tram que os computadores por si só 
não resolvem os problemas da edu- 
 
cação, mas se bem utilizados podem 
se tornar um recurso importante no 
ambiente educacional. O uso da 
informática na educação deve 
promover a criação de ambientes 
educacionais de tal forma que o 
computador seja utilizado como 
uma ferramenta que permita a 
interação entre aluno, professor e o 
conteúdo a serensinado. Vale 
ressaltar que essa interação com as 
novas tecnologias deve ser contex-
C 
 
 37 
O LETRAMENTO NA CONTEMPORANEIDADE 
 
tualizada e com objetivos bem 
definidos. 
Atualmente, a área de 
inteligência artificial (IA) vem 
contribuindo muito com técnicas 
empregadas no desenvolvimento de 
soluções voltadas ao ambiente 
educacional. 
A IA, é uma área da 
computação que está se expandindo 
rapidamente, dada a sua aplicabi-
lidade nas mais diversas áreas do 
conhecimento, entre elas a educa-
ção. Os sistemas ditos inteligentes 
devem ter, basicamente, três carac-
terísticas principais: a capacidade de 
armazenar conhecimento, aplicar o 
conhecimento adquirido para a 
solução de um problema e adquirir 
novos conhecimentos através da 
experiência. São várias as técnicas 
empregadas para criação de siste-
mas inteligentes e as Redes Neurais 
Artificiais (RNA‘s), as quais são 
exploradas nesse trabalho, é uma 
delas os caracteres são comparados 
apenas pela sua similaridade. Já no 
ICR, existe uma variação de amos-
tras muito grande, pois dificilmente 
existem dois indivíduos com as 
letras idênticas. São muitas as 
técnicas empregadas na tarefa de 
reconhecimento de caracteres ma-
nuscritos. Nesse trabalho, como já 
mencionado, utilizamos uma Rede 
Neural Artificial do tipo MLP 
treinada com o algoritmo backpro-
pagation. Assim, a neural compõe o 
núcleo do software proposto. 
 
Metodologia de Desenvolvimento 
do Software 
 
 
 
Utilizamos para implemen-
tação do software proposto neste 
trabalho, a linguagem C++ para o 
desenvolvimento do algoritmo 
backpropagation e a linguagem 
Visual Basic (VB) para imple-
mentação da interface gráfica 
responsável pela comunicação com 
o usuário. 
O sistema está dividido em 
três módulos básicos: um respon-
sável pela interface, outro pelo 
treinamento e o terceiro pela tarefa 
de reconhecimento de caracteres. As 
Figuras 1 e 2 mostram, respectiva-
mente, um esquema em blocos dos 
módulos do software e sua interface 
em pleno funcionamento. 
O objetivo desse trabalho é 
apresentar o desenvolvimento de 
um software voltado para o ensino 
 
 38 
O LETRAMENTO NA CONTEMPORANEIDADE 
 
infantil que possa auxiliar a criança 
no período de pré- alfabetização. 
A ideia básica é: o software 
apresenta na tela palavras 
incompletas com ilustrações para 
facilitar o raciocínio; solicita que a 
criança preencha lacunas com letras 
que devem ser escritas com o auxílio 
de uma caneta óptica; faça o 
reconhecimento dessas letras e 
forneça um feedback. Com isso, 
pretende-se estimular a criança usar 
o computador não apenas como 
ferramenta de entretenimento, mas 
também como complemento no seu 
aprendizado. 
 
Softwares Educacionais 
 
 
 
Nos últimos anos, a tecnologia 
vem alterando a estrutura da 
educação, e entre estas alterações 
estão os softwares educacionais que 
têm crescido muito visando uma 
melhor utilização dos recursos 
eletrônicos disponíveis como com-
plemento na educação. Neste senti-
do, o computador pode ser uma 
importante ferramenta para o 
estimulo do desenvolvimento da 
criatividade e do raciocínio lógico. 
Sendo assim, o computador não 
deve ser o meio principal para o 
ensino, mas servir como um dos 
recursos de auxílio para o 
aprendizado. 
Vale ressaltar que um software 
educacional deve ir além de simples 
programas de instrução direta que 
ensina as crianças a contar e a 
decorar os nomes das capitais dos 
estados. Considera-se software 
educacional, programas que pos-
suem estratégias pedagógicas e que 
podem ser usados para algum 
objetivo educacional, qualquer que 
seja a natureza ou finalidade para a 
qual tenha sido desenvolvido. Isso 
quer dizer que até mesmo pro-
gramas comerciais existentes tais 
como processadores de textos, 
gerenciadores de banco de dados, 
planilhas eletrônicas e geradores 
gráficos podem ser usados para 
viabilizar objetivos educacionais. 
Por outro lado, deve-se considerar 
um fator muito importante em 
softwares educacionais: a interface, 
que diferentemente dos softwares 
comerciais tradicionais, deve rece-
ber uma maior atenção durante a 
fase de desenvolvimento, principal-
mente, do ponto de vista de 
usabilidade. Para isso, devem ser 
feitas entrevistas, avaliações e 
 
 39 
O LETRAMENTO NA CONTEMPORANEIDADE 
 
análises detalhadas das necessida-
des dos usuários os quais podem 
indicar os pontos para o sucesso da 
aplicação como um todo. 
 
 
 
Dado que o software para ser 
utilizado requer treinamento, cole-
tamos 780 amostras de caracteres 
de trinta crianças distintas. O com-
junto de treinamento foi composto 
por 650 letras e o conjunto de testes 
constituído pelas 130 restantes. 
Tanto no treinamento quanto na 
seção de testes, utilizamos quanti-
dades iguais de cada letra do 
alfabeto. 
A interface do software, 
ilustrada na Figura, possui recursos 
visuais de fácil compreensão com 
imagens e cores que representam o 
objetivo a ser alcançado e conta 
ainda com um recurso multimídia, 
emitindo um som correspondente à 
letra que está sendo solicitada para a 
criança escrever. Para tornar o 
software bastante simples, na 
interface estão localizados apenas 
alguns objetos tais como: área para 
a entrada da letra e três botões de 
ação: o primeiro para executar a 
rotina de reconhecimento, o 
segundo para limpar a área de 
escrita e um terceiro para sair da 
aplicação. Há ainda uma área onde 
é apresentada a figura corres-
pondente à questão que deve ser 
resolvida e por fim, uma imagem e 
um som sinalizando se a criança 
acertou ou não a tarefa proposta. 
 
Pré-processamento 
 
Para que as imagens dos 
caracteres pudessem compor o 
conjunto de treinamento da RNA, 
foi necessária uma fase de pré-
processamento, composto de duas 
etapas: captura e escalonamento da 
imagem. 
A área reservada para a 
entrada dos caracteres manuscritos 
tem um tamanho predefinido de 
200 x 200 pixels. Após a aquisição 
do caractere, é feito o escalona-
mento e a imagem (binária) resul-
tante passa ter o tamanho de 20 x 20 
pixels, os quais compõem a entrada 
da RNA. Esse procedimento é 
demonstrado na Figura 3 abaixo. 
Vale ressaltar que este processo deve 
ser repetido durante o uso do 
software, cada vez que a criança 
escreve uma letra e solicita que o 
mesmo avalie. 
 
 4
0 
O LETRAMENTO NA CONTEMPORANEIDADE 
 
 
 
Figura 3.1 - Imagem do caractere em 
seu formato original (200 x 200 
pixels). 
 
 
 
Figura 3.2 – Imagem do caractere 
sem as partes inutilizadas da área de 
captura (122 x 122 pixels). 
 
 
 
Figura 3.3 – Imagem do caractere no 
tamanho final (20 x 20 pixels). 
 
Características da RNA proposta 
 
A RNA proposta (Figura 4) 
possui duas camadas ocultas. Sua 
estrutura é composta por 400 neu-
rônios de entrada (de acordo com a 
quantidade de pixels da imagem 
pré-processada do caractere), 26 
neurônios na primeira camada 
oculta, 78 neurônios na segunda 
camada oculta e 26 neurônios na 
camada de saída (cada um para 
representar uma letra do alfabeto). 
 
 
 
Figura 4. Representação da RNA 
proposta. 
 
Resultados Experimentais 
 
Para averiguar o desempe-
nho do software proposto, reali-
zamos o treinamento da rede neu-
ral (núcleo da aplicação) com o 
conjunto de 650 imagens (25 
imagens de cada letra) e depois 
testamos o software com as 130 
imagens restantes (5 imagens de 
cada letra). 
Os resultados desta sessão de 
testes são sintetizados na Tabela 1 
abaixo. Vale lembrar que os 
caracteres usados na fase de testes 
do software não faziam parte do 
conjunto de treinamento e foram 
escritos por crianças de 5 a 7 anos, 
exclusivamente para essa finalidade. 
 
 
 
 
 
 
 41 
O LETRAMENTO NA CONTEMPORANEIDADE 
 
 
 
Analisando os dados da Tabela 
1 percebe-se que houve dificuldades 
no reconhecimento de algunscarac-
teres como b, h, p, r, u, v, w e y. Na 
Figura 5 apresentamos alguns carac-
teres utilizados na fase de testes da 
rede, os quais nos fornecem esses 
indícios. 
 
 
 
Figura 5 – Caracteres utilizados na 
fase de testes. 
Observamos que uma das 
principais dificuldades da rede 
neural foi a extração das caracte-
rísticas intrínsecas dos caracteres, 
uma vez que algumas letras distintas 
possuem partes muito semelhantes, 
o que confunde a rede. Podemos 
citar como exemplo as letras h e b, 
que possuem traços similares, como 
pode ser visto nas Figuras 5.1 e 5.2. 
Esse mesmo problema pode ser 
percebido nas Figuras 5.7 e 5.8, onde 
praticamente o que diferencia as 
letras e e i é uma maior abertura na 
parte superior da letra e. No entanto, 
existem letras, tais como o e c, que 
tem características bastante particu-
 
 42 
O LETRAMENTO NA CONTEMPORANEIDADE 
 
lares, como podemos observar nas 
Figuras 5.5 e 5.6. 
Os resultados nos mostraram 
que a parametrização da rede é de 
extrema importância, visto que não 
há uma referência que forneça os 
parâmetros necessários para a 
resolução de um determinado pro-
blema. Assim, todos os parâmetros 
que definem a estrutura de uma rede 
neural devem ser obtidos por meio 
de exaustivos testes. 
Como podemos observar na 
Tabela 1, obtivemos bons resultados. 
Isso pelo fato de termos obtido 
algum êxito na parametrização da 
rede e também pela forma como foi 
realizado o pré-processamento das 
imagens de entrada. 
Outro ponto que podemos 
destacar é a interface do software, a 
qual procuramos deixar o mais 
simples possível visando o nosso 
público-alvo. Isso foi conseguido 
devido a algumas pesquisas realiza-
das em trabalhos relacionados a 
softwares educacionais. 
Em relação às ferramentas 
utilizadas no desenvolvimento do 
software, acreditamos que foi uma 
boa escolha, pois se mostraram 
adequadas para cada propósito, 
dada às características especificas 
dessas linguagens. Neste trabalho, 
desenvolvemos um software de 
auxílio à pré-alfabetização infantil 
baseado no reconhecimento de 
caracteres manuscritos por uma 
RNA supervisionada. 
Após os testes realizados, os 
quais descrevemos na seção ante-
rior, acreditamos que esse software 
pode auxiliar na pré-alfabetização 
infantil, pois mostramos que, 
embora seja uma aplicação com uso 
de recursos de inteligência artificial, 
a simplicidade e usabilidade da 
interface podem tornar uso do 
computador muito atrativo. 
Tendo em vista o percentual 
de erro obtido, 6,15% na média, 
acreditamos que o software de-
monstrou um bom desempenho. 
Podemos afirmar também que a 
configuração do módulo neural foi 
um fator de extrema importância 
para o software, dadas algumas 
dificuldades que descrevemos na 
tarefa de reconhecimento dos 
caracteres. Fica o desafio de a partir 
deste modelo, criar um software 
mais completo que reconheça pala-
vras ou até mesmo frases, para que a 
qualidade do auxílio no aprendizado 
da criança seja ainda melhor. Além 
disso, uma interface inteligente 
adaptável ao aluno, proporcionando 
uma melhor usabilidade, também 
seria uma proposta interessante.
43 
 
 
4
4 
 
 
O LETRAMENTO NA CONTEMPORANEIDADE 
 
6. A Mesa Educacional Alfabeto
 
 
 
mesa Educacional Alfabeto Edu-
cação Especial é uma tecnologia 
educacional que combina software 
educacional e elementos de hard-
ware (computador e leitor) e blocos 
concretos para apoiar o processo de 
alfabetização de crianças, com e sem 
deficiência e, de roteiros para 
aplicação em atividades. A tecno-
logia tem adaptações para atender 
alunos com deficiência sensorial, 
como portadores de cegueira, baixa 
visão e surdez. O módulo eletrônico 
é um leitor de blocos rotulados com 
símbolos e com engates para a 
comunicação, para construção da 
linguagem, em nível de alfabetização 
na Educação Infantil. 
A Mesa é um conjunto 
atividades lúdicas, todas com apoio 
de som, imagens e vídeos com 
comunicação em LIBRAS e com 
comunicação através de blocos com 
inscrição em braile. As atividades 
contemplam a apropriação do 
sistema alfabético de escrita ou de 
sua correspondente oralidade, não 
desenvolvendo produção de textos. 
Permite acréscimo de palavras e 
textos, ajustando-se em parte ao 
desenvolvimento da aprendizagem 
dos alunos quando o objetivo refere 
A 
45 
 
 
O LETRAMENTO NA CONTEMPORANEIDADE 
 
ao processo estrito da alfabetização. 
Permite até 6 crianças interagindo 
com possibilidades de colaboração 
na resolução das atividades, sempre 
que houver a mediação do professor, 
e possui alternativas para recursos 
adaptáveis (Lupa, Braille, LIBRAS, 
Datilologia, Recursos de Áudio e 
Sintetizador de Voz), o que a destaca 
de outras tecnologias disponíveis no 
mercado, na medida em que 
contribui para promover a inclusão 
de PNEE. 
A Mesa é um aparato inova-
dor, podendo apoiar a alfabetização 
em português de alunos com 
deficiência visual e auditiva e/ou 
parcialmente surdos, pois existem 
os recursos de comunicação em 
braile, de áudio e de sintetizadores 
de voz. Entretanto, não chega a 
desenvolver a aprendizagem de 
LIBRAS e a linguagem de suporte às 
atividades não se coaduna com a 
linguagem de jovens e/ou adultos 
em alfabetização. Assim, a 
tecnologia fica restringida a 
crianças. A proposta é bem 
detalhada quanto à descrição 
métodológica do uso da ferramenta 
e os materiais de apoio ao professor 
são orientados com descrição de 
procedimentos e algumas poucas 
sugestões de problematização para 
os professores. 
Criada por uma equipe 
multidisciplinar, e utilizada por 
escolas de todo o Brasil, a Mesa 
Educacional Alfabeto oferece um 
ambiente diferenciado de apren-
dizagem, onde os alunos aprendem 
a reconhecer letras, construir 
palavras, ler, escrever, interpretar 
textos e muito mais. As Mesas são 
compostas por módulos eletrônicos 
e softwares educacionais que em 
conjunto, atendem múltiplos 
objetivos e suprem as necessidades 
pedagógicas de alunos de diferentes 
idades, níveis de conhecimento e de 
desenvolvimento. 
A integração entre o material 
concreto e o software proporciona a 
aprendizagem de conteúdos 
curriculares de diversas áreas do 
conhecimento; o desenvolvimento 
de habilidades fundamentais, como 
criatividade, raciocínio lógico, 
organização espacial, coordenação 
motora, expressão oral e escrita, 
resolução de problemas, entre 
outras. Cada mesa foi desenvolvida 
para permitir o trabalho 
colaborativo de até seis crianças, 
proporcionando um ambiente de 
interação e socialização. 
Foi dentro desse conceito que 
foi criada a Mesa Educacional 
Alfabeto. Com ela, os alunos se 
familiarizaram com a linguagem 
escrita, encaixando blocos coloridos 
em um grande painel eletrônico. À 
medida que são encaixadas, as letras 
são reconhecidas por um software 
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O LETRAMENTO NA CONTEMPORANEIDADE 
 
especial e aparecem na tela do 
computador. Dessa forma, as 
crianças participam de atividades 
interativas, aprendendo a reconhe-
cer o alfabeto, construir palavras, 
encontrar significados descobrir 
acentos e interpretar textos. As 
mesas podem ser utilizadas por 
grupos de até seis estudantes, que 
participam da aula de maneira 
colaborativa. Elas são indicadas 
para alunos da educação infantil à 
4a série do Ensino fundamental, 
para a Educação especial e para a 
alfabetização de jovens e adultos. 
A Mesa Educacional Alfabeto 
possui mais de 1.800 vocábulos e 
1.100 imagens. As atividades 
incluem fábulas, provérbios, 
cantigas de roda e trava- línguas, 
entre outras. 
O professor pode expandir o 
universo de conteúdos da Mesa 
Educacional Alfabeto, inserindo 
textos, palavras, imagens sons e 
vídeos, de acordo com o nível de 
aprendizado da turma. 
Disponível em português do 
Brasil e português de Portugal, o 
software pode ser

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