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Locomoção e Apreensão 1 Mírian Santos 7° semestre Problema 01 - “TÔ COM DOR NAS COSTAS” Objetivos: 1. Relembrar o eixo fisiológico da coluna vertebral; 2. Compreender a lombalgia e lombociatalgia; Conceito; Epidemiologia; Fatores de risco/desencadeantes; Causas; Fisiopatologia; Quadro clínico (sinais de alarme); Diagnóstico (exames – indicações/interpretação); Diagnóstico diferencial; Tratamento medicamentoso e não medicamentoso. 3. Entender os impactos laboral, social e psicológico da lombalgia/lombocialtagia; Eixo fisiológico da coluna A coluna vertebral é parte subcranial do esqueleto axial. De forma muito simplificada, é uma haste firme e flexível, constituída principalmente pelas vertebras que são unidas através das articulações, conectados pelos ligamentos e suportados dinamicamente pela massa musculotendinosa. E porque dizemos que ela é flexível e ao mesmo tempo dá estabilidade pro corpo? Justamente porque as vertebras são moveis, ou seja, permitem a mobilidade/flexibilidade da CL, enquanto a estabilidade depende dos músculos e ligamentos. EXISTE UM EQUILIBRIO DINAMICO!!! Vale lembrar que ela é constituída de 24 vértebras móveis pré-sacrais (7 cervicais, 12 torácicas e 5 lombares). As cinco vértebras imediatamente abaixo das lombares estão fundidas no adulto para formar o sacro. As quatro vértebras mais inferiores também se fundem para formar o cóccix. As vértebras tornam-se progressivamente maiores na direção inferior até o sacro, e depois do sacro vão se tornando menores. Por outro lado, a coluna vertebral do adulto apresenta quatro curvaturas sagitais: cervical, torácica, lombar e sacral. As curvaturas torácica e sacral, possuem uma curvatura posterior do tipo convexa, porque apresentam a mesma direção da coluna vertebral fetal e são formadas pela diferença de altura entre as partes anteriores e posteriores dos corpos vertebrais. Locomoção e Apreensão 2 Mírian Santos 7° semestre Já as curvaturas cervical e lombar, são côncavas posteriormente, e formam-se após o nascimento formadas pela diferença de espessura entre as partes anteriores e posteriores dos discos intervertebrais. 1. Cervical: constitui o esqueleto axial do pescoço e suporte da cabeça (CONVEXA VENTRALMENTE – LORDOSE). 2. Torácica: suporta a cavidade torácica. (CONCAVA VENTRALMENTE – CIFOSE). 3. Lombar: suporta a cavidade abdominal e permite mobilidade entre a parte torácica do tronco e a pelve (CONVEXA VENTRALMENTE – LORDOSE). 4. Sacral: une a coluna vertebral à cintura pélvica. (CONCAVA VENTRALMENTE – CIFOSE). 5. Coccigea: é uma estrutura rudimentar em humanos, mas possui função no suporte do assoalho pélvico. Fazendo um comparativo, se observarmos um indivíduo lateralmente, percebemos que quanto mais profundas forem as concavidades das lordoses cervical e lombar, maior será a convexidade da cifose dorsal e vice-versa. Há, portanto, uma equivalência eqüitativa entre essas curvas adaptativas. Movimentos da Coluna Vertebral Plano sagital – Flexão – Extensão Plano coronal – Lateralização direita – Lateralização esquerda Plano longitudinal – Rotação ou circundação Biodinâmica da coluna vertebral A coluna vertebral, do ponto de vista mecânico, é definida como uma viga em balanço, suportando cargas estáveis e móveis. Inervação da Coluna Vertebral: Os ramos meníngeos recorrentes (nervos sinuvertebrais ou de Lushka), emitidos pelos nervos espinhais logo que emergem do forame intervertebral, suprem as meninges e seus vasos, mas também dão filamentos para estruturas articulares e ligamentares adjacentes. Os ramos mediais do ramo dorsal dos nervos espinhais inervam o periósteo externo, facetas articulares, músculos e ligamentos vertebrais. Vascularização da Coluna Vertebral: A vascularização da coluna vertebral sofre variações regionais. Todavia, observa-se um padrão comum de suprimento sangüíneo entre a segunda vértebra torácica e a quinta vértebra lombar. Locomoção e Apreensão 3 Mírian Santos 7° semestre De uma artéria segmentar ou sua equivalente regional oriunda da aorta, cada vértebra recebe seu aporte nutricional dos ramos central anterior, central posterior, pré-laminar e pós-laminar. FUNÇÕES DA COLUNA VERTEBRAL: Estabilidade Vertebral Depende, principalmente, do papel das articulações zigoapofisárias, dos ligamentos e da ação da musculatura, que, agindo nas estruturas anatômicas próprias, levam à formação de curvas de adaptação no sentido ântero-posterior. A estabilidade vertebral depende, portanto, dos mesmos fatores que fazem contraposição às cargas recebidas. Forças que atuam na Coluna Vertebral: A coluna vertebral sofre a ação de forças de tração e, em antagonismo, forças de compressão. Menos importantes são as forças de cisalhamento. As cargas de cisalhamento repercutem sobre os discos mais na periferia do que em suas porções centrais. Estas forças são geradas nos discos inclinados ou flexionados quando se levanta peso. A descarga das forças ocorre da seguinte maneira: o corpo vertebral recebe as cargas e sobrecargas de compressão e a lâmina, por sua vez, recebe as cargas e sobrecargas equilibrantes de tração, auxiliados pelos músculos e ligamentos paravertebrais. De acordo Nachemson e Morris, existem variações de pressão intradiscal de acordo com a posição do individuo. Na posição sentada, foram observadas as pressões mais altas (10-15 kg/cm2), reduzindo em 30% em ortostatismo e 50% em decúbito lateral. As cargas suportadas pelos discos lombares distais são de até 175 kg na posição sentada e até 120 kg em ortostatismo. As forças de tensão (6-8 kg/cm2) existem na porção posterior do anel fibroso, o que fortalece a teoria mecânica da produção de rupturas anulares posteriores. O Papel do Disco Intervertebral: O disco intervertebral separa os corpos vertebrais, permitindo às vértebras dobrar-se umas sobre as outras. Cabe ao disco o importante papel de dissipação da energia mecânica, Locomoção e Apreensão 4 Mírian Santos 7° semestre através de deformações que estes sofrem ao receber as forças solicitantes. Mobilidade A unidade funcional espinhal (ou segmento móvel como é comumente conhecida) é o menor segmento vertebral e consiste em duas vértebras adjacentes e seus tecidos de conexão e ligamentos. Os movimentos realizados pelas unidades vertebrais nos diferentes eixos são os seguintes: Rotação: o movimento acontece sobre as partículas de uma determinada linha, com velocidade zero em relação a um determinado ponto. Translação: em um determinado momento, todas as partículas de um corpo possuem a mesma direção em relação com um ponto fixo. Arco de movimento: é a diferença entre os dois extremos fisiológicos no movimento de um elemento. Eixo Instantâneo de Rotação (EIR): para todo movimento de um segmento corporal em um plano, existe uma linha que não sofre deslocamento no plano em questão. Na coluna, o plano de rotação é definido pela posição do eixo instantâneo de rotação e pela magnitude desta rotação sobre o mesmo. Acoplamento: refere-se ao movimento no qual a rotação ou translação estão fortemente associadas com a rotação ou translação em outro eixo. Os padrões de acoplamento na mecânica da coluna dependem,entre outros fatores, da forma, das orientações e da posição das facetas articulares. Estes padrões, na realidade, permitem os movimentos característicos de cada segmento da coluna vertebral. Alinhamento Proteção do sistema nervoso A medula está protegida e estabilizada por diferentes estruturas moles: • pia-máter, • ligamento denticulado, • espaços sub-meníngeos com líquido cefalorraquidiano, • dura-máter. Lombalgias e Lombociatalgias Definição: A lombalgia pode ser conceituada como uma dor de característica mecânica, localizada entre a parte mais baixa do dorso (última costela) e a prega glútea, que aparece após força física excessiva em estruturas normais ou após ação de força física normal em estruturas lesadas. Ou seja, é um SINTOMA. Locomoção e Apreensão 5 Mírian Santos 7° semestre Enquanto que a lombociatalgia surge quando esta dor se irradia para as nádegas e um ou ambos os membros inferiores. Quanto à sua duração, podem ser classificadas em: Aguda: até sete dias; Subaguda: de sete dias até três meses; Crônica: quando os sintomas duram mais de três meses. Epidemiologia; Depois da hipertensão arterial, as afecções dolorosas da coluna vertebral são a 2° causa de doença crônica mais prevalente na população brasileira. Cerca de 27 milhões de pessoas, 18,5% da população acima dos 18 anos, têm o diagnóstico de patologias crônicas da coluna vertebral, representado pela lombalgia crônica, enquanto doenças cardiovasculares representam 4,2% e diabetes, 6,2%. Desse contingente, 46,4% não fazem nenhum tipo de tratamento. Quadro semelhante é visto no resto do mundo – a dor lombar ao longo da vida tem prevalência de 54 a 84%, sendo a maior causa de absenteísmo no trabalho. É uma doença multifatorial que atinge pacientes entre 35-55 anos, com distribuição igualitária entre os sexos, variando conforme a causa. É uma doença de relevância socioeconômica, pois apresenta elevado índice de incapacidade e morbidade, desencadeando prejuízos incalculáveis. Fatores de risco/desencadeantes Estudos recentes demonstram que o indivíduo com níveis educacionais menores apresenta maior incidência de lombalgia, além de maior duração dos episódios, com piores desfechos clínicos. Fatores psicológicos, como ansiedade, depressão, estresse e certos tipos de comportamentos dolorosos, colaboram para a maior frequência de dor lombar, com maiores tendências à cronicidade. Fatores ocupacionais, como trabalhos braçais/manuais, com rotação do tronco e movimentos de flexão, além da utilização de equipamentos vibratórios, aumentam as chances de desenvolver dor lombar, comparando-se aos trabalhadores sedentários. Pessoas obesas com índice de massa corporal (IMC) superior a 30 kg/m2 também apresentam risco aumentado para lombalgia. Tabagismo e falta de atividades físicas também são considerados fatores de risco. Classificação das síndromes dolorosas Dor lombar baixa - A dor lombar baixa, ou lombalgia, é a maior representante das síndromes dolorosas da coluna vertebral, seguida da cervicalgia. Locomoção e Apreensão 6 Mírian Santos 7° semestre A ideia de que a lombalgia aguda inespecífica se trata de um quadro transiente autolimitado tem sido reconsiderada. Dor discogênica – É representada por dor difusa, mal definida e de caráter insidioso. Piora com a flexão do tronco, em atividades usuais como passar roupa ou lavar louça. Piora também quando o indivíduo está sentado, mas alivia em repouso ou com a extensão do tronco. Dor facetaria - A dor lombar pode também emanar das articulações zigoapofisárias ou facetas articulares, que são as únicas verdadeiras articulações sinoviais da coluna. A dor pode ser proveniente do osso subcondral, mas, em geral, é atribuída a uma reação sinovial ocasionada por trauma, que causa distensão ou ruptura capsular com derrame articular. A síndrome de coluna travada pode ocorrer pelo aprisionamento do meniscoide fibroso entre as facetas articulares ou por um pequeno fragmento. Dor radicular - A dor radicular é uma sensação irradiada da coluna para o membro inferior, descrita pelos pacientes como pontadas e agulhadas, de forma aguda ou como uma queimação. A distribuição é de acordo com o dermátomo afetado. Pode estar associada a alterações sensitivas e motoras e, em geral, tem relação com o acometimento compressivo de determinada raiz nervosa por um disco intervertebral protuso ou herniado. Fatores inflamatórios também costumam agravar esse sintoma pela irritação da raiz nervosa, e, em alguns casos, a dor no membro inferior pode ser superior à própria dor lombar. Causas; As lombalgias e lombociatalgias podem ser primárias ou secundárias, com e sem envolvimento neurológico, sendo classificadas em: 1. Mecânico-degenerativas; 2. Não mecânicas localizadas: inflamatórias, infecciosas e metabólicas; 3. Psicossomáticas; 4. Como repercussão de doenças sistêmicas. Causas Mecânico-Degenerativas Essas alterações são responsáveis pela dor em 10% a 15% dos pacientes com lombalgia crônica e lombociatalgia. Na coluna vertebral existe um equilíbrio mecânico entre o segmento anterior da unidade anátomo funcional (corpos vertebrais e disco) e o segmento posterior (articulações interapofisárias ou zigoapofisárias). Quando ocorre a ação de forças mecânicas sobre essas estruturas, pode haver um desequilíbrio levando à dor por estimulação direta de terminações nervosas aí existentes, ou pela liberação de substâncias do núcleo pulposo que desencadeiam dor e processo inflamatório pela degeneração do disco intervertebral. Todas as estruturas do segmento motor podem constituir causas de dor. Porém, há evidências de que o ponto central seria o disco intervertebral (85% dos casos) – discopatias – cuja degeneração aumentaria a carga nas facetas Locomoção e Apreensão 7 Mírian Santos 7° semestre articulares e alteraria a distribuição de cargas no platô vertebral e osso subcondral. O disco degenerado tem sua capacidade de nutrição pela difusão passiva reduzida, levando a um acúmulo de íon hidrogênio que estimula receptores químicos de dor, situados na parte externa do anel fibroso. As discopatias compreendem as fissuras, rupturas, abaulamentos, diminuição da altura do disco e hérnias que podem ser protrusas e extrusas. Essas alterações degenerativas do disco intervertebral acrescentam um esforço adicional nas outras estruturas de suporte da coluna como as articulações das facetas, ligamentos e cápsulas articulares. Conseqüentemente, espessamento da membrana sinovial e cápsula articular, formação de tecido cicatricial, diminuição do espaço articular nas articulações facetárias, formação de osteófitos e esclerose do osso subcondral. Causas Não Mecânicas 1. INFLAMATÓRIAS As principais causas são as espondiloartropatias soronegativas (são doenças reumatológicas que acometem o esqueleto axial e apendicular), como a espondilite anquilosante, síndrome de Reiter, espondilite psoriásica e as espondiloartropatias associadas a doenças intestinais (doença de Crohn, retocolite ulcerativa inespecífica e doença de Whipple). A espondilite anquilosante que é a principal, e é mais comum em homens, geralmente a doença inicia com uma dor surda em região lombar, irradiada para os glúteos, associada a rigidez matinal que melhora em algumas horas com atividade e piora coma inatividade (comparar ao caso problema), sendo pior a noite. A doença progride cefalicamente, causando perda de mobilidade desproporcional ao grau anquilosante e o teste de schober. 2. INFECCIOSAS Espondilodiscite é uma infecção que acomete os discos intervertebrais e pode ser estender ate para as vertebras. É também a principal manifestação da osteomielite hematogênica em pacientes com mais de 50 anos. Sendo que o paciente pode apresentar uma dor na coluna vertebral inespecífica, com quadro subfebril. 3. METABÓLICAS Osteoporose, osteomalácia e hiperparatireoidismo, originando fraturas vertebrais que consequentemente levarão a Locomoção e Apreensão 8 Mírian Santos 7° semestre transtornos biomecânicos nas unidades anátomo- funcionais provocando a lombalgia ou lombociatalgia. Psicossomáticas Causas emocionais que podem levar à lombalgia ou agravar outras causas já existentes. Como Repercussão de Doença Sistêmica Doenças sistêmicas que podem acometer estruturas intra e extra-raquideanas, a fibromialgia e a síndrome miofascial que podem causar contraturas musculares e hipóxia tecidual gerando dor. Fisiopatologia; De acordo com estudos experimentais e clínicos, o disco intervertebral (CIV) é uma das principais fontes de dor na lombalgia. A degeneração discal e a compressão são o inicio de várias alterações na coluna. Devido a SOBRECARGA, ALTERAÇÕES GENETICAS NOS DISCOS e PROCESSO DEGENERATIVO, começam a ocorrer alterações no volume, forma e conteúdo do disco. Gradualmente o NUCLEO PULPOSO vai se tornando menos hidratado, e por volta da terceira década de vida começa a ter diminuição do numero de células e perda de proteoglicanos. As CAMADAS MAIS INTERNAS vão formando um material fibrocartilaginoso indiferenciado. Sendo que com a evolução, os VASOS PERIFÉRICOS E OS CANAIS DA PLACA TERMINAL diminuem, prejudicando a nutrição do disco. Ocorre então um desequilíbrio na hidratação, e com a pressão, a transferência de carga fica desigual causando danos no DISCO INTERVERTEBRAL. Desenvolvem-se fissuras e rachaduras ao longo das camadas, estabelecendo canais de comunicação entre a periferia do anulo fibroso e o núcleo pulposo. O tecido discal pode herniar por esses canais e o local mais comum da ruptura do anulo fibrosos, por onde ocorre a hernia é na sua inserção com o corpo vertebral, principalmente com o movimento de flexão e rotação do tronco, causando a dor lombar. Essas alterações discais afetam o ALINHAMENTO DA COLUNA E A RESISTÊNCIA A CARGA, podendo influenciar ligamentos, articulações e musculatura lombar. Quando ocorre contato mecânico entre o material herniado com as estruturas nervosas, inicia-se a dor irradiada com liberação de mediadores inflamatórios exacerbando ainda mais os sintomas. Quadro clínico (sinais de alarme); A maioria dos pacientes com dor lombar apresentará quadros autolimitados com duração curta de até um mês, e muitos afetados sequer procurarão um médico. A clínica varia conforme o tipo de dor lombar e a etiologia. O Primeiro Consenso Brasileiro sobre Lombalgias e Lombociatagias estabeleceu as seguintes diretrizes: ➢ Deve-se avaliar se a dor aparece de manhã ou no decorrer do dia, lembrando que nas hérnias discais e lombalgias de causa inflamatória ela ocorre pela manhã. Locomoção e Apreensão 9 Mírian Santos 7° semestre ➢ No osteoma osteóide, a dor aparece de madrugada. ➢ Nas espondiloartropatias a dor é matinal, projeta-se nas nádegas, melhora ao longo do dia, e às vezes desaparece à tarde. ➢ Na lombalgia mecânico-degenerativa a dor aparece com os movimentos, no fim da tarde após o trabalho e se relaciona com estresse físico e emocional. ➢ A dor raquidiana geralmente tem relação com os movimentos da coluna; a extra- raquidiana não tem (p.ex., cólica renal). ➢ Nas compressões radiculares, a dor obedece quase sempre um trajeto dermatomérico. Algumas vezes, isso pode não ocorrer (superposição de dermátomos e esclerótomos). ➢ Nas hérnias de disco centrais, pode não haver dor irradiada. Diagnóstico (exames – indicações/interpretação); Anamnese e exame físico Dados como a idade do paciente são importantes, pois a dor lombar inespecífica é rara em crianças e idosos. Nesse ponto, tumores e infecções podem ser suspeitas nos extremos etários. A característica e a duração da dor também são elementos importantes; em geral, a dor é localizada, tipo uma queimação, associada ao posicionamento sentado ou em pé e que piora com a movimentação, mas que não desperta o paciente durante o sono. Sintomas neurológicos – parestesia, fraqueza, calafrios, febre e alterações urinárias e fecais – não costumam estar presentes. História prévia de câncer, infecções, osteoporose e fraturas deve ser considerada. A anamnese do indivíduo deve tentar excluir a presença de sinais de alerta chamados de “ bandeiras vermelhas”. Para que seja feito uma investigação direcionada e aprofundada. A presença de UM ou MAIS fatores exige investigação mais detalhada do paciente em busca de doenças relacionadas, que cursam com dor lombar. Crianças pequenas e idade > 50 anos ➢ Sinais e sintomas sistêmicos: febre, calafrios, sudorese noturna, fadiga, perda de peso, inapetência. ➢ Dor noturna ou em repouso ➢ História de malignidade ➢ Infecções bacterianas recentes ou recorrentes ➢ Imunossupressão ➢ Uso de substâncias injetáveis ➢ Osteoporose ➢ Uso prolongado de corticosteroides ➢ Trauma ➢ Falha do tratamento inicial Além dos sinais de alerta amarelos que estão mais relacionados com o prognostico do paciente, associados ao risco de recorrência e cronicidade. ➢ Pensamento catastrófico quanto a lombalgia; ➢ Sintomas sem base anatômica ou fisiologia definida; ➢ Elevado comprometimento funcional basal; ➢ Baixo estado geral da saúde; ➢ Depressão, ansiedade ou pessimismo diante da vida. Locomoção e Apreensão 10 Mírian Santos 7° semestre Exame físico INSPEÇÃO – O paciente caminhando, tipo de marcha e se existe posição antálgica; – Se existem assimetrias (desnível dos ombros, pregas subcostais, cristas ilíacas, pregas glúteas, alteração nas curvaturas da coluna lombar como retificação da lordose, acentuação da cifose torácica ou escoliose); – A presença de lesões de escaras, traumas ou cirurgia anterior. INSPEÇÃO DINAMICA – Flexão: se a dor aparece ou é agravada por este movimento ou se irradia para os membros inferiores, admite-se que existe lesão discal (protrusão ou hérnias discais). Teste de Shober: Espondilite anquilosante se menor que 5cm. Distância mão-chão. – Extensão: a dor aparece nos casos de artrose zigoapofisárias e estenose de canal artrósico. – Flexão lateral direita e esquerda: pesquisar dor e ou limitação da amplitude dos movimentos – Rotação direita e esquerda: dor e/ou limitação da amplitude dos movimentos. PALPAÇÃO – Com a polpa do polegar direito e o resto da mão espalmada realiza-se a compressão da coluna vertebral com o intuito de avaliar a presença de dor a palpação dos processos espinhosos. - A presença ou não de hipertonia muscular e pontos dolorosos; – Deve-se lembrar de palpar as articulações sacrilíacas; TESTES ESPECÍFICOS – Manobra de Valsalva: a exacerbação da dor ou sua irradiação até o pé pode significar que exista compressão radicular. – Manobra de Lasègue ou teste da perna estendida: o exame deve ser feito com o paciente em decúbito supino, amão esquerda do examinador deve imobilizar o ilíaco e a mão direita elevar-lhe o membro inferior segurando-o na altura do tornozelo. O teste é considerado positivo se houver irradiação ou exacerbação da dor no dermátomo de L4-L5 ou L5-S1 em um ângulo de 35° a 70°. Em hérnias extrusas ou volumosas pode ser positiva abaixo de 35°. Dor acima de 70° resulta em teste é negativo, isto é, não existe compressão radicular. – Sinal do arco da corda (manobra de Bragard): deve-se proceder como na manobra de Lasègue: ao iniciar a dor, dobra-se o joelho (flexão); se a dor diminuir ou desaparecer significa que o teste é positivo. – Sinal das pontas de “De Sèze”: ➢ Andar no calcanhar (dorsiflexão do tornozelo), não consegue: compressão da raiz de L4 ou L5. ➢ Andar na ponta dos pés (flexão plantar do tornozelo), não consegue: compressão da raiz de S1. – Pesquisa de reflexos: ➢ Ausência do reflexo patelar indica comprometimento da raiz de L3 e/ou L4. ➢ Ausência do reflexo aquiliano indica comprometimento da raiz de S1. – Pesquisa da força de flexão e extensão dos pododáctilos: Locomoção e Apreensão 11 Mírian Santos 7° semestre ➢ Hálux: ausência ou força diminuída indica deficiência motora por compressão radicular de L5. ➢ O 2.º e 3.º pododáctilos: ausência ou força diminuída indica deficiência motora por compressão radicular de S1. – Sinais não orgânicos de lombalgia psicossomática: ➢ Sensibilidade dolorosa exacerbada em locais de distribuição não anatômica e superficial. ➢ Lombalgia que aparece após compressão crânio caudal ou à rotação da pelve e ombros sem movimentar a coluna. – Sinal de Lasègue exagerado quando pesquisado sentado ou deitado. ➢ Alterações regionais de sensibilidade (hiperestesia em bota) em pacientes não diabéticos e fraqueza generalizada. Exames complementares Na maioria dos pacientes, ainda hoje, é muito difícil diagnosticar as causas da lombalgia, principalmente a lombalgia crônica, freqüentemente em razão da falta de evidências radiológicas de lesão. Somente cerca de 30% dos pacientes sintomáticos apresentam alterações da coluna lombar na mielografia, tomografia computadorizada ou ressonância nuclear magnética. – RADIOLOGIA CONVENCIONAL: ➢ Nas lombalgias mecânicas agudas ou subagudas (até quatro semanas), sem “sinais de alerta”, os estudos de imagens não são necessários. ➢ Nas lombalgias crônicas e agudas com “sinais de alerta” como por exemplo se houver suspeita de processo infeccioso, inflamatório, neoplásico e etc, se faz necessário solicitar a radiografia simples na primeira consulta. ➢ É solicitado a radiografia dinâmica também nas espondilolisteses para avaliar instabilidade. – TOMOGRAFIA AXIAL COMPUTADORIZADA (TC) - São importantes porque define os contornos osseos. INDICADAS EM COMPROMETIMENTOS: ➢ Discais, ➢ Das faces intervertebrais (platôs vertebrais), ➢ Das articulações zigoapofisárias, ➢ Do canal vertebral e forames intervertebrais. Nas lombalgias gudas com evolução insatisfatória sem causa identifica após 4s de tratamento clinico. – RESSONÂNCIA NUCLEAR MAGNÉTICA (RNM): é superior à tomografia axial computadorizada em razão da melhor visualização dos tecidos moles e por ser multiplanar com amplo plano de visão. Usada nos casos sugestivos de: ➢ Infecção, ➢ Câncer ou ➢ Comprometimento neurológico persistente. – MIELOGRAFIA E MIELOTOMOGRAFIA: métodos invasivos com indicação voltada para casos de dúvidas de compressão radicular após Locomoção e Apreensão 12 Mírian Santos 7° semestre TC e RNM ou associadas a radiografias dinâmicas em casos de estenose de canal vertebral e foraminal. – DISCOGRAFIA: método invasivo e de indicação restrita nos casos de hérnia de disco com reprodução da dor referida. – CINTILOGRAFIA: nos casos suspeitos de tumor, infecção e doença óssea difusa. – ELETRONEUROMIOGRAFIA: indicada no diagnóstico diferencial entre envolvimento radicular e outras doenças do sistema nervoso periférico. – DENSITOMETRIA ÓSSEA: nos casos de osteoporose primária ou de osteoporose secundária, devendo ter em mente que somente a presença de perda de massa óssea não justifica a lombalgia ou lombociatalgia. Exames Laboratoriais Deverão ser solicitadas as provas de atividade inflamatória e outros exames específicos de acordo com a hipótese diagnóstica e da presença de “sinais de alerta” apresentados pelo paciente. Tratamento Deve ser individualizado, dependendo da etiologia e do tempo de evolução. Começa com as medidas mais simples. Conservador 1.° REPOUSO Posição: decúbito supino, joelhos fletidos e pés apoiados sobre o leito e/ou com flexão das pernas num ângulo de 90° com as coxas e destas com a bacia. Objetivo: retificar a coluna lombar (posição de Zassirchon). Duração: em média 3 a 4 dias, máximo 5 a 6 dias, não deve ser prolongado, pois a inatividade tem ação deletéria sobre o parelho locomotor. O retorno às atividades habituais deve ser feito o mais rápido possível. 2.° MEDICAMENTOS Analgésicos Não Opióides: Paracetamol (acetaminofen) 500mg de 4 a 6 vezes ao dia, nas dores leve a moderada. Cautela em pacientes com hepatopatias e associado a antiinflamatório não hormonal. Dipirona 500mg até 4 vezes ao dia. Analgésicos Opióides Usados em lombalgia aguda e lombociatalgia por hérnias discais resistentes a outros analgésicos, fraturas e metástases. Fosfato de codeína 30mg 3 a 4 vezes ao dia Cloridrato de tramadol 100 a 400mg por dia Oxicodona 5 a 10mg, 3 a 4 vezes ao dia. Sulfato de morfina: indicação restrita a casos graves Antiinflamatórios Não Hormonais (AINH) São utilizados freqüentemente, pois apresentam efeitos analgésicos, antiinflamatórios e antipiréticos associados. Inibidores da atividade das cicloxigenases (COX 1/COX 2) e das prostaglandinas: todas as classes podem ser utilizadas nas doses usuais recomendadas. Locomoção e Apreensão 13 Mírian Santos 7° semestre Inibidores da cicloxigenases II (COX 2): pacientes de risco para complicações gastrointestinais e idosos. Valdecoxibe: 10mg/dia Rofecoxibe: 50 mg/dia Celecoxibe: 100 a 200mg de 12/12 horas. Glicocorticóides: Inibem a fosfolipase A2 Indicados nos casos de lombociatalgia aguda. Relaxantes Musculares: Podem ser associados aos AINHs mostrando melhor resultado do que quando usados isoladamente. Ciclobenzaprina: 5 a 10 mg/dia, relaxante muscular de ação central estruturalmente relacionados com os antidepressivos tricíclicos. Carisoprodol: 350 mg/dia, medicação de uso em curto prazo. Antidepressivos e anticonvulsivantes: Indicados nas lombalgias crônicas com componente psicossomático e nas fibromialgias. Anticonvulsivantes, como gabapentina e pregabalina, atuam modulando a neurotransmissão aumentada pelo processo patológico diretamente no sistema nervoso central, nos terminais nervosos aferentes. 3.° INFILTRAÇÃO Apenas as infiltrações epidurais com glicocorticóides, anestésicos e opióides podem ser utilizadas nos casos de lombociatalgia aguda após falha com o tratamento medicamentoso e medidas físicas. Temos as infiltrações de ponto-gatilhos e de raiz nervosa. As infiltrações de ponto-gatilhos - São injeções realizadas diretamente na musculatura paravertebral com a finalidade de inibir o componente muscular da dor. Podem conter anestésicos, esteroides ou toxina botulínica. A toxina diminui a dor ao reduzir o espasmo muscular pelobloqueio da liberação de acetilcolina nos pontos-gatilhos, causando paralisia muscular temporária. As infiltrações de raiz nervosa são indicadas nas dores radiculares neuropáticas e podem ser realizadas pelas vias caudal, transforaminal e interlaminar. São guiadas pela injeção de contraste radiopaco por fluoroscopia para que seja possível administrar a medicação próximo ao local onde a dor é gerada. A combinação de corticoides com anestésicos costuma ser empregada. A injeção epidural de corticoides visa a diminuir ao máximo o processo inflamatório ocorrido próximo à raiz nervosa, minimizando os efeitos sistêmicos do corticosteroide. 4.° REABILITAÇÃO Deve ser baseada em seis pilares: 1. Controle da dor e do processo inflamatório através dos meios físicos. Deve-se lembrar de que não existem evidências científicas de sua eficácia no tratamento da dor lombar. São utilizados apenas como coadjuvantes. 2. Restauração da amplitude dos movimentos articulares e alongamento dos tecidos moles. Exercícios de extensão podem reduzir a compressão radicular, assim como exercícios de flexão reduzem a tensão nas facetas articulares e o espasmo da musculatura dorso lombar. Locomoção e Apreensão 14 Mírian Santos 7° semestre O uso de ultra-som pode melhorar a extensibilidade do colágeno. 3. Melhora da força e resistência musculares. Exercícios de treinamento para melhorar e fortalecer a estrutura musculoligamentar, buscando minimizar o risco de lesão das estruturas envolvidas na dor (disco intervertebral, articulações interfacetárias e estruturas ligamentares). Iniciar com exercícios isométricos e a seguir exercícios isotônicos. 4. Coordenação motora. Exercícios dinâmicos com atividade coordenada de grupos musculares que proporcionam o controle da postura e da função muscular com estabilidade da coluna. 5. Melhora do condicionamento físico. Através de programas de caminhada, atividades aquáticas, bicicleta ou esteira pode-se aumentar os níveis de endorfina, promovendo sensação de bem-estar e diminuição da percepção dolorosa. 6. Manutenção de programas de exercícios. Prática de exercícios em casa que devem ser programados de acordo com a tolerabilidade e habilidade do paciente. Exercícios (Base Fisiológica) O exercício aumenta o nível de ß endorfina no sangue periférico e diminui o pH no interior do disco intervertebral por aumentar a concentração de O2 diminuindo assim, o estímulo doloroso. Tratamento Cirúrgico Deve ser baseado no diagnóstico clínico e nos exames por imagens. Na lombalgia mecânica é indicado apenas nos casos resistentes ao tratamento conservador com evolução atípica, podendo ser feitas infiltrações nas discopatias, dos pontos dolorosos e perifacetárias além de denervação facetária e artrodese do segmento vertebral. Nas hérnias discais é indicado nos casos de déficit neurológico grave agudo com ou sem dor, nas lombociatalgias de difícil controle álgico após três meses de tratamento conservador e na síndrome da cauda eqüina. Na síndrome do canal estreito é realizado em caráter individual nos casos incapacitantes e progressivos. Na lombalgia de origem tumoral através de técnica por abordagem direta. Impacto da lombalgia na vida das pessoas Artigo de revisão – impacto social e econômico na qualidade de vida dos indivíduos com lombalgia: revisão sistemática. A lombalgia é considerada um sério problema de saúde pública, pois afeta uma grande parte da população economicamente ativa, incapacitando- as temporária ou definitivamente para as suas atividades profissionais e diárias. No Brasil, as patologias da coluna vertebral constituem um importante fator responsável pelo afastamento do trabalho. Os dados mais recentes do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) demonstram que no ano de 2012 foram registrados 503.890 acidentes de trabalho, dentre os quais, mais de 16.118 foram relacionados com a região da coluna vertebral, sendo que aproximadamente 50% desses acidentes foram cadastrados no INSS como dor nesse segmento corporal. Locomoção e Apreensão 15 Mírian Santos 7° semestre A lombalgia na gestação surge por esse sintoma ocorrer em pelo menos 50% das gestantes, em nível de população mundial. Referências: 1. Coluna vertebral de Jamil Natour. — ²ed. — São Paulo, 2004; 2. Fisiologia e Biomecânica – As funções da coluna vertebral e os Princípios de AOSpine, 3. Netter Ortopedia – Walter B. Greene. 4. Tratado de Ortopedia – SBOT; 5. SOS ortopedia; 6. Ortopedia e traumatologia de Hebert.
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