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www.icls.com.br Cosmologia e Astrologia Medieval – Aula 01 Prof. Luiz Gonzaga de Carvalho Transcrição não revisada pelo professor. http://www.icls.com.br/ Transcrição: Antonio Carlos Bosseli, Danilo Roberto Fernandes Revisão: Danilo Roberto Fernandes Índice Sumário 1. O uso das palavras como indicação concreta de fenômenos observáveis. ..................... 1 2. O uso dialético das palavras. .......................................................................................... 3 3. A depuração dialética da Lua e da experiência imediata dos fenômenos em geral. ....... 4 4. A educação formal obrigatória e o recrutamento profissional nas escolas. .................... 8 5. A depuração dialética do Sol. ...................................................................................... 12 6. Exposição do método de ensino do curso. ................................................................... 14 7. Vocação intelectual e educação formal obrigatória. .................................................... 18 8. Mais considerações sobre a importância do trabalho de depuração dialética. ............. 21 9. O simbolismo das três cores primárias. ........................................................................ 23 10. Teoria geral do simbolismo: o universo como discurso da Mente Divina. .................. 29 11. Alfabeto astrológico. .................................................................................................... 35 12. A relação entre as estações do ano e os signos cardinais, fixos e mutáveis. ................ 37 13. A relação entre os signos cardinais, fixos e mutáveis e as três cores primárias. .......... 38 14. O problema da diferença entre as estações no Hemisfério Norte e no Hemisfério Sul. ..................................................................................................................................... 40 16. A importância dos símbolos e de sua percepção. ......................................................... 44 18. A importância da prática de uma religião tradicional para manter mente sã. ............... 47 Índice ............................................................................................................................... 277 1. Os limites morais e práticos da Astrologia Horária. .................................................. 278 2. A idéia de situação consolidada como requisito prévio à leitura de um mapa horário. ................................................................................................................................... 279 3. O cenário ideal para se responder uma pergunta horária. .......................................... 281 4. O que fazer quando os quesitos de uma pergunta são representados pela mesma casa. ................................................................................................................................... 283 5. O papel que o astrólogo desempenha na identificação dos problemas efetivos do cliente e na correta formulação das perguntas a serem respondidas. ......................... 285 6. Primeira pergunta horária analisada: “o trabalho dará certo?” ................................... 287 7. Segunda pergunta horária analisada: “ficarei com a minha amante de alguma forma?” ................................................................................................................................... 296 8. Ainda sobre os limites morais e práticos de uma pergunta horária. ........................... 299 9. Terceira pergunta horária analisada: “minha licença para armas de fogo será expedida sem complicações?” ................................................................................................... 301 10. Quarta pergunta horária analisada: “a Fulaninha gosta de mim?” ............................. 305 11. Mais considerações sobre a idéia de situação consolidada e a correta formulação das perguntas horárias. ..................................................................................................... 309 12. A diferença entre as técnicas de leitura de mapas natais e de mapas horários. .......... 311 13. A Astrologia pode ser usada como instrumento para guiar a vida espiritual? ........... 312 Índice ............................................................................................................................... 329 1. Apresentação do mapa natal a ser analisado – cálculo de temperamento e mentalidade do Lobão. ................................................................................................................... 331 2. O Ascendente, o Descendente, o Fundo do Céu, o Meio Céu e as casas astrológicas. ................................................................................................................................... 331 3. A maneira correta de se indicar a posição dos planetas no mapa. .............................. 334 4. Primeiro determinante do temperamento: signo Ascendente, regente do signo Ascendente e planetas em aspecto com o signo Ascendente. ..................................... 335 4.1. O signo Ascendente. .................................................................................................. 335 4.2. O planeta regente do signo Ascendente e sua posição oriental ou ocidental.............. 337 4.3. Planetas que formam aspecto com o regente do Ascendente. .................................... 338 5. Segundo determinante do temperamento: fase da Lua, seu dispositor e planetas que formam aspecto com ela. ........................................................................................... 343 5.1. Como determinar a fase em que a Lua está. ............................................................... 343 5.2. O dispositor da Lua - e dos planetas em geral. ........................................................... 343 5.3. Planetas que formam aspecto com a Lua. .................................................................. 345 6. Terceiro determinante do temperamento: a estação do Sol. ....................................... 346 7. Quarto determinante do temperamento: o planeta mais forte do mapa. ..................... 346 8. Outros determinantes do temperamento: estrelas fixas; natureza e condição do regente do Ascendente e do seu dispositor; mentalidade; planetas que se destacam por razões excepcionais. .............................................................................................................. 351 8.1. As estrelas fixas. ........................................................................................................ 352 8.2. Natureza e condição do regente do Ascendente e do seu dispositor. ......................... 352 8.3. Mentalidade e seu cálculo. ......................................................................................... 352 8.4. Planetas que se destacam por razões excepcionais. ................................................... 353 9. Finalizando o cálculo de temperamento. .................................................................... 355 10. Descrição das mentalidades venusina, jupterina-marcial e jupterina-venusina. ......... 357 11. Considerações gerais acerca do temperamento e da mentalidade. ............................. 358 12. Mais considerações sobre os determinantes da mentalidade. ..................................... 364 13. Mais considerações gerais acerca do temperamento e da mentalidade. ..................... 366 14. Considerações sobre Saturno e outros planetas na Casa XII, e sobre a mútua recepção. ................................................................................................................................... 368 15. O que fazer quando um planeta está a menos de 5º de uma casa. .............................. 370 16.Considerações sobre a Casa VIII. .............................................................................. 372 Índice ............................................................................................................................... 376 1. Primeiro exemplo de cálculo de temperamento e mentalidade: São Thomas More. .. 377 2. Segundo exemplo de cálculo de temperamento e mentalidade: Santa Teresa D’Ávila.5 ................................................................................................................................... 389 3. Sobre as diferenças entre mentalidades regidas por planetas benéficos e maléficos. . 398 4. O papel do Sol e da Lua na determinação da mentalidade. ........................................ 401 5. Terceiro exemplo de cálculo de temperamento e mentalidade: Hitler.8 ..................... 401 6. A base fundamental da personalidade humana: o temperamento e a mentalidade. .... 409 7. Temperamento e espírito vital.................................................................................... 412 8. Mentalidade e disposições naturais da alma como o intelecto e a sindérese. ............. 413 9. Considerações finais sobre a Lua e o Sol como determinantes da mentalidade. ........ 418 10. O problema da aplicação simultânea de diferentes técnicas astrológicas. .................. 419 Índice ............................................................................................................................... 424 1. Introdução ao tema da aula: teoria do simbolismo. ................................................. 426 2. Os objetos categóricos. ............................................................................................. 426 3. Os objetos não categóricos. ....................................................................................... 427 4. Os Céus (experiências não categóricas ou espirituais) e a Terra (experiências categóricas) de que fala a Bíblia. ............................................................................... 429 5. O erro do dualismo cartesiano: considerar como realidade apenas a Terra (res extensa e res cogitans) e negar a realidade dos Céus (espírito). ............................ 432 6. Os objetos não categóricos (ou Céus) como símbolos e medida valorativa dos objetos categóricos (ou coisas terrestres). ............................................................................ 433 7. A diferença entre o símbolo e o signo (ou sinal). ................................................... 438 8. O simbolismo do dia e da noite, do Sol e da Lua. ..................................................... 441 9. Importância e natureza das práticas religiosas. ........................................................ 444 10. O simbolismo de Saturno. ........................................................................................ 445 11. O cristianismo como mística da encarnação. ........................................................... 448 12. O simbolismo de Marte e Vênus. .............................................................................. 450 13. O simbolismo de Mercúrio e Júpiter. ....................................................................... 450 14. O simbolismo de um mapa natal. .............................................................................. 455 15. Esquema do simbolismo dos planetas e dos signos por eles regidos. ........................ 457 15.1. Sol e Lua, regentes de Leão e Câncer respectivamente.5 .................................. 459 15.2. Marte, regente de Áries e Escorpião, e Vênus, regente de Touro e Libra. ....... 459 15.3. Mercúrio, regente de Gêmeos e Virgem, e Júpiter, regente de Sagitário e Peixes. ....................................................................................................................... 460 15.4. Saturno, regente de Capricórnio e Aquário. ....................................................... 462 16. A metade solar e lunar do zodíaco. ............................................................................ 462 17. O modo de presença de Saturno nos diversos signos. ............................................. 463 18. Considerações finais acerca da natureza do simbolismo dos planetas e signos...... 467 1 1. O uso das palavras como indicação concreta de fenômenos observáveis. Gugu: Começaremos hoje explicando, primeiro, o método do curso e como ele funciona. Ensinar astrologia atualmente é uma das tarefas mais complicadas que se pode imaginar (com exceção, talvez, da teologia, que estávamos comentando agora há pouco antes da aula). Isso porque, para entendermos o simbolismo astrológico, temos que entender de qual objeto estamos falando quando dizemos que eles possuem um simbolismo. Referimo-nos ao signo de Leão, ao signo de Peixes, ao signo de Virgem (há vários animais representando esses símbolos); falamos também da influência de Júpiter, da influência da Lua etc. Mas o que é um leão? O que é um peixe? O que é Júpiter? O que é Lua? O fato de sabermos utilizar uma palavra como um indicador concreto de algo não é indicação da compreensão do sentido dela. É claro que, se eu perguntar o que é um peixe, vocês apontaram um peixe e não uma alface. Com Júpiter talvez isso não ocorra, pois, provavelmente, vocês não sabem olhar para o céu e apontar Júpiter. Mas o Sol e a Lua vocês não apontarão errado. Porém, e se nos perguntarem “o que é a Lua”? O que diremos? Alguns diriam que ela é um satélite que orbita o planeta Terra, mas essa explicação (referente a “satélite que orbita a Terra”) possui duas partes: 1) “satélite” é o gênero da coisa apontada; 2) e “orbita a Terra” é a diferença específica desse satélite. Porém, o que é um satélite? É aquilo que orbita alguma coisa. Num primeiro momento isso é razoável. Mas e quando nos referimos a uma “cidade satélite”? Essa cidade gira em torno das outras? Nesse caso, “cidade satélite” significa uma cidade que sofre a influência de um determinado centro. Mas ao dizer que a Lua é um “satélite que orbita a Terra”, queremos significar que a Lua está sobre influência da Terra ou subordinada à Terra? Não. Quando usamos o termo “satélite” da primeira vez, ele tinha um sentido astronômico, isto é, “um corpo que gira em torno de outro”. Quando trouxemos a idéia de 2 “cidade satélite”, já não falávamos mais de “um corpo que gira em torno de outro”, mas nos referíamos a uma dependência econômica e/ou política. Percebam que a palavra “satélite” foi usada em ambos os casos como um indicador concreto de um fenômeno. Todas as palavras foram usadas de maneira perfeitamente adequada. É verdade que a Lua é um satélite da Terra, e também é verdade que Campinas é uma cidade satélite de São Paulo, porém, nesse último caso, a palavra “satélite” foi usada com um sentido diferente. A palavra foi aplicada corretamente, porém ela não é suficiente para que compreendamos o fenômeno ao qual ela se refere. “Satélite” é apenas uma indicação concreta daquilo que estamos procurando. É como dizer: “Quem disse tal coisa foi John Lennon.” A palavra “John Lennon” possui um significado concreto e prático. Dificilmente o confundiríamos com a rainha da Inglaterra ou com Saddam Hussein. Porém, isso não quer dizer que o conhecemos intimamente como pessoa, apenas que sabemos a que objeto se refere o termo “John Lennon”. Quando falamos que “a Lua é o satélite da Terra”, essa é uma indicação concreta e correta de algo. Mas essas palavras não nos ajudaram a compreender o fenômeno, apenas o indicaram concretamente. A primeira coisa que devemos aprender nesse curso é que existem duas maneiras de usarmos as palavras (na verdade ainda existe uma terceira forma, que é irrelevante para as finalidades desse curso). A primeira delas é usarmos as palavras como uma indicação concreta dos fenômenos que testemunhamos.Por exemplo, quando dizemos que “a sala tem uma parede branca”, não estamos falando da filosofia da brancura, sobre o que é o fenômeno da brancura. Quando dizemos “parede branca”, indicamos apenas um fenômeno concreto. As palavras não nos ajudam a compreender o que é isso que chamamos de “branco”, apenas indicam a existência do fenômeno. 3 2. O uso dialético das palavras. A segunda forma de usarmos as palavras é o uso dialético que fazemos delas, isto é, o seu uso como um instrumento de compreensão dos objetos. Por exemplo, quando falamos que “o homem é um animal racional”, isso não nos dá nenhuma indicação concreta de onde está o homem. As palavras “animal” e “racional” servem para indicar não uma percepção bruta, mas o resultado de uma análise interna do objeto. É de se notar que, aqui, não estamos usando a palavra “idéia”, pois ela não é muito adequada, uma vez que todas as palavras se referem a idéias. Em suma, queremos dizer que, ao usarmos as palavras da primeira maneira, nos referimos ao fato imediato da experiência; já nessa segunda forma de lidarmos com elas, nos referimos àquilo que discernimos no fato depois de investigá-lo. Quando dizemos que “a Lua é o satélite natural da Terra”, isso é o suficiente para que, ao olharmos em direção ao céu, identifiquemos qual dos pontinhos é a Lua; mas isso não explica o que ela é, apenas nos 4 dá uma definição concreta. Se fizermos um esforço para dar uma definição aproximada de algo sem dizer o que ele é, fica complicado dizer qual o seu simbolismo. Dizer aquilo que um objeto simboliza é dizer com o que ele se parece. O simbolismo é um tipo de semelhança entre duas coisas. Então, antes de dizer com o que essa coisa se parece, é preciso dizer o que ela é. Feito isso, podemos usar esses dois conhecimentos (isto é, o conhecimento do que a coisa é, e o conhecimento do que essa coisa representa ou indica) para constituir uma técnica de interpretação. Num mapa natal a Lua significa “x”, numa questão horária significa “y” etc. O significado astrológico da Lua é uma parte do seu simbolismo, e o seu simbolismo é derivado do que ela é. 3. A depuração dialética da Lua e da experiência imediata dos fenômenos em geral. Vamos um pouco além. Dissemos que “a Lua é um satélite da Terra”. O que queremos dizer com a palavra “satélite” nesse caso? Referimo-nos a “satélite” como uma realidade astronômica. Mas e o Sol? Ele também não é um satélite da Terra? Ele não gira em volta da Terra todos os dias? Qual a diferença entre a Lua e o Sol? Sabemos que a Lua tem fases, enquanto o Sol não. Portanto, é o satélite algo que tem fases? Não precisamos responder isso, mas devemos perceber uma coisa: não teria sido melhor evitar usar palavra “satélite” quando nos referíamos à Lua, e, em vez disso, dizer que ela é “um corpo luminoso que vemos do céu”? Quando usamos a palavra “satélite”, ela já indica uma teoria científico- astronômica subjacente. Mas isso não é o que sabemos da Lua. Então, o que sabemos de fato sobre a Lua? Sabemos que ela é um corpo celeste o qual é possível de se ver desde a Terra; sabemos que ela possui várias fases; e percebemos ainda que, quando a sombra dela se muda, isso significa que ela ocupa diferentes posições. Mas agora esbarramos em outro problema: como sabemos que a Lua é um “corpo” sem fazer referência a uma teoria astronômica? Alguém poderia dizer: “A sombra 5 da Terra pode ser projetada nela. Ela reflete luz, então tem que ter um corpo físico.” Ao que deveríamos responder: “Como sabemos que é a sombra da Terra que se projeta nela?” Em primeiro lugar, o que devemos fazer é listar a experiência direta que temos da Lua. E que experiência é essa que temos? O que podemos dizer sobre a Lua a partir da nossa experiência sensível imediata dela? Podemos dizer que ela é uma imagem, é um objeto visível, é um objeto da visão. Isso é a primeira coisa. Percebemos a Lua com a visão. Não a percebemos com a audição, nem com o paladar, nem com a inteligência. Os animais também vêem a Lua; os cachorros e os lobos também a vêem, e inclusive possuem sentimentos específicos por ela que não entendemos. Nesse momento alguma pessoa poderia estar pensando: “E as marés?” No entanto, ela deve se acalmar, pois isso vem depois. Alguém teve que perceber que a Lua existia antes de relacioná-la ao fenômeno das marés: “Há Lua, mas o que ela é? Um disco branco no céu, do mesmo tamanho que o Sol. Ela também aparece à noite, se mexe, cresce e diminui.” Portanto, a primeira coisa que devemos fazer é listar as notícias mais imediatas do fenômeno, pois todas as outras dependerão delas. Não pode haver uma teoria astronômica, uma teoria metafísica ou uma teoria filosófica que nos diga que a Lua não é um disco branco no céu o qual aparece à noite. Isso desqualifica a teoria imediatamente. E esse primeiro conjunto de notas sobre a Lua a que nos referimos com toda certeza será: o seu tamanho, sua forma e sua figura; a sua cor, a luz que emite e que enxergamos; como ela varia de tamanho ciclicamente e o tempo de demora entre uma Lua cheia e outra; etc. Sem especulação e sem teoria, a Lua é isso. A Lua é este conjunto de dados e fatos da experiência bruta. 6 Nem todos os astrólogos acreditavam que a Lua era um corpo e nem todos eles sabiam que ela causava as marés. Isso quer dizer que esses conhecimentos sobre a Lua são irrelevantes do ponto de vista astrológico. Não precisamos dessas informações para derivar da Lua um conhecimento astrológico. Isso é semelhante ao número de informações que podemos adquirir a respeito de uma pessoa. Por exemplo, a esposa de um sujeito possui várias informações a respeito dele que ninguém mais possui. Porém, esse indivíduo usa o testemunho dela quando está procurando um emprego? Ela possui um conhecimento sobre ele maior do que o conhecimento de qualquer patrão, mas o testemunho dela é descartado por ser irrelevante para esse problema. A relação entre as marés e a Lua é uma informação a respeito dessa que pode ser útil para alguma coisa. Mas isso não pode substituir os dados iniciais da experiência sensível que temos dela. Para saber se a Lua influencia as marés, precisamos primeiro conhecer a Lua e sua posição, e depois precisamos conhecer as marés. Antes de inferir qualquer tipo de relação entre os dois fenômenos, temos que ser capazes de indicá-los concretamente e dizer o que eles são. Caso contrário, se não soubéssemos da existência de um 7 fenômeno que denominamos de “maré” ou de “Lua”, como seria possível relacioná-lo com qualquer outra coisa? É possível relacionar o nada com alguma coisa? Obviamente que não. Portanto, não identificamos a Lua por meio das marés, e o primeiro passo que devemos dar é reduzir o objeto ao conjunto de notas pelo qual o identificamos. Seria isso então uma espécie de contemplação? Não, isso é uma análise da percepção que temos do objeto; é algo como uma fenomenologia. Assim, antes de qualquer especulação a respeito de alguma coisa, precisamos saber o que de fato é o objeto sobre o qual estamos conjecturando. Dissemos da Lua o seu brilho; que ela é um disco que cresce e diminui num ciclo de, mais ou menos, vinte e nove dias e meio; que ela, como todas as estrelas, nasce no leste e se põe no oeste todos os dias; etc. Seria possível, apenas com essas informações, dizer que ela é um corpo? Não, não seria. Porém, devemos notar que essas notas não compõem um conjunto apenas quantitativo, pois, por exemplo, a Lua possui uma cor que causa um certo efeito em nós. Continuando, reconhecemos a Lua com a nossa percepção e sabemos que ela não é o Sol. Pode até haver dúvidas quanto a isso, mas em alguns dias o Sol e a Lua estão visíveis no céu ao mesmo tempo e disso concluímos que eles não são a mesma coisa. Portanto, de onde tiramosa idéia de que “a Lua é um corpo que reflete luz”? Tiramos essa conclusão a partir apenas do tamanho dela, da cor dela e do ciclo dela? Como chegamos à conclusão de que ela reflete sombra? Devemos ter calma, esse tipo de teoria é uma coisa que surge num momento muito posterior. O que devemos fazer agora é listar o que realmente apreendemos do objeto. As pessoas chegam nesse curso e têm o costume de fazer uma descrição da Lua baseada naquilo que elas aprenderam na escola, em algum vídeo 8 ou algum site da internet. Se todos os meus alunos realmente fossem astrofísicos, então de fato saberiam alguma coisa a respeito da Lua do ponto de vista dessas teorias astronômicas. Mas eles não sabem realmente isso, e, no entanto, têm quase uma fé religiosa nessas coisas. Isso não quer dizer que os astrofísicos estão mentindo. Mas é um voto de confiança que damos a eles, porque acreditamos que as pessoas não são mentirosas, principalmente em relação à profissão delas. Agora, se queremos entender algo, temos que partir do que sabemos desse algo; e não partir daquilo que cremos saber dele. E o que sabemos? No máximo os dados sensíveis. É isso que deve ser listado: os dados sensíveis. E desses dados teremos que montar um conceito de Lua. Esse conceito de Lua será o conceito astrológico básico. A astrologia foi desenvolvida antes que soubessem se a Lua é um ou não um corpo, antes que soubessem se ela é ou não um ser. Por isso, esses dados teórico-astronômicos são irrelevantes para a ciência astrológica. Já esses dados sensíveis são mais constantes, e justamente por isso são a base da própria astronomia. 4. A educação formal obrigatória e o recrutamento profissional nas escolas. Explicaremos o porquê dessa tendência dos alunos que aqui chegam. Em primeiro lugar, devemos deixar claro que não há que se falar em educação nas escolas; o que há é apenas um processo de recrutamento profissional. Por exemplo, se houver cem pessoas em uma sala de aula e alguém disser que a Lua gira em torno da Terra por causa da força gravitacional, então algum aluno irá se interessar em estudar esse assunto. Desse modo, haverá um número suficiente de astrônomos e físicos na sociedade. Não se fala que a Lua gira em torno da Terra por causa da força gravitacional para ensinar uma coisa à criança, mas sim para dar uma amostra grátis da profissão de astrônomo e de físico. Isso é recrutamento profissional. Aprendemos biologia não para entender os 9 seres orgânicos, mas, para, talvez, despertar nossa vontade de estudar e trabalhar nisso. Resumindo: uma sociedade moderna precisa de um certo número proporcional de profissionais de diversos tipos para que a sociedade não colapse. Por exemplo, um advogado a cada mil e novecentos e cinqüenta pessoas. Não podemos esperar as pessoas ficarem adultas para que pensem no que vão trabalhar, pois aí já é tarde demais para alguém estudar medicina ou física. Por que a primeira coisa que aprendemos é matemática? Simples, porque nossa inteligência matemática caduca aos trinta anos de idade. Todas as grandes obras da matemática foram escritas antes dos trinta anos de idade. Quando o cara tem inteligência matemática? Entre os quinze e trinta anos, depois ela fixa e o cara dá apenas contribuições menores. Em nossa teoria educacional, a universidade, ao menos em tese, é que educa. O primeiro e o segundo grau são apenas recrutamento profissional, é para dar vontade de trabalhar em alguma coisa. Não é brincadeira e não é um interesse oculto, é a teoria educacional moderna. Todos recebem na escola informações básicas de química, física, astronomia e biologia. Só que a finalidade da transmissão de tais informações 10 não foi de nos educar. Não saímos sabendo mais do que um analfabeto que não freqüentou a escola. Se estudamos direito, há três coisas que sabemos melhor do que ele: ler, escrever e fazer contas. O que aprendemos de química, física, biologia, astronomia, política e história, na verdade, não aprendemos nada. Recebemos amostras para ver se alguma coisa nos interessava. Muitas pessoas terminam o colegial com a impressão de que entenderam alguma coisa. Pura impressão, pois elas pensam que estavam na escola para compreender melhor as coisas. Isso é mentira, pura ilusão subjetiva. Na escola as pessoas podem aprender muitas coisas fora da aula. Por exemplo, talvez elas também tenham aprendido a conviver com pessoas, obter informações e se comunicar. Porém, isso é assim apenas porque a escola está no mundo. Se todos estivessem no campo trabalhando, teriam aprendido essa parte do mesmo jeito. O dilema dos bons professores, atualmente, é: por um lado deve-se preencher um currículo dizendo o que o sujeito aprendeu; mas, na verdade, a grande luta é achar dois alunos que se interessaram por esse assunto. Porque esse é o propósito da escola. Quando um aluno tem aulas com um professor bom, eles cursarão, na universidade, a mesma matéria que o professor ensina. Então, isso quer dizer que o professor usou os alunos, e que todas as aulas foram uma perda de tempo. É ou não é? O aluno acredita ter saído com conhecimento, mas isso é uma piada. Ele vai, no máximo, sair dali repetindo os elementos do crédulo científico que ele de fato não conhece. Se o mundo estivesse tão cheio de sábios assim, seria um lugar maravilhoso, pois todo mundo entenderia os seres vivos, os elementos etc. Um dos maiores prejuízos, uma das primeiras reclamações que os pais faziam sobre a escola - quando esta passou a ser obrigatória - era que os filhos começaram a ficar arrogantes e a pensar que sabiam mais do que os pais sobre a vida, a humanidade etc. Antes, ninguém se arrogava o direito de chegar e dizer para um advogado que sabia mais do que ele. 11 Se esse havia estudado dez anos e trabalhado na área por mais vinte, ele sabia mais que um adolescente metido a expert. Isso não era arrogância, mas um fato. Agora, o sujeito que passa em uma prova de química não tem razão de ser metido. Quem duvida, pegue algo em que é bom. A matemática, por exemplo. Coloquem uma placa na porta de suas casas com o escrito: “Dou aulas de matemática para o segundo grau”. Comecem a dar aulas para vocês verem. Tive alunos assim e um deles veio com o seguinte problema: “Dado cinco pontos num plano cartesiano, calcule a área do pentágono inscrito.” Ele dizia não entender como o cálculo deveria ser feito. Então, perguntei: “Quais são as coordenadas dos pontos? O que é um plano cartesiano? O que é um pentágono?” Ele respondeu entusiasmado: “Pentágono é um triângulo de cinco lados!” E eu retruquei: “É o seguinte: como é que você chegou ao grau em que está? Como você está estudando o cálculo de áreas a partir de coordenadas de um plano cartesiano se você não sabe essas coisas?” Essa era uma formulação para se ter no primeiro ano de geometria. Ou seja, ele não havia aprendido nada. E mesmo o sujeito que estudou direitinho ainda não sabe nada. No máximo foi despertado um interesse em estudar aquela ciência ou arte. Tudo o que aprendemos na escola não vale nada, não deve ser levado em conta, pois não será útil para nós aqui. Na segunda vez que demos o curso de astrologia, um dos alunos havia participado de um clube amador de astronomia e havia estudado bastante a ciência astronômica. Em certo momento, comentei sobre a variação do dia e da noite. Então ele disse: “Mas o dia mesmo não varia.” Perguntei: “Como assim? De que dia você está falando? O dia varia sim.” Então ele disse que os dias tinham sempre vinte e quatro horas, ao que eu respondi: “O que é vinte e quatro horas? O dia de vinte e quatro horas é uma abstração mental que nós inventamos. Não existe dia de vinte e quatro horas.” Na Noruega, por exemplo, os dias duram menos. Mas ele entendia que a relação entre noite e dia é variável,podendo a duração da 12 noite, por exemplo, ser maior ou menor do que a do dia. Então continuei: “Mas você não é do clube de astronomia? Você não conhece a equação do centro? A equação do tempo?” Ele disse: “Não, o que é isso?” Eu retruquei: “Que diabo de astronomia você estudou? A equação do tempo! Ela é assim: todo dia o Sol passa pelo meridiano, que é uma linha imaginária que vai do norte ao sul. Isso é o meio dia local. Qual a diferença entre o meio-dia local e o meio-dia médio? Se o Sol fosse uma bolinha que girasse em torno da Terra e fizesse um círculo pelo equador regularmente...” Então ele me interrompeu: “O do relógio?” Eu respondi: “Não, o relógio é feito para reproduzir o mais próximo possível o dia médio, que é essa abstração matemática. Mas você não precisa usar um relógio, porque ele não mede exatamente o dia médio.” Tudo isso são dados da astronomia. 5. A depuração dialética do Sol. Naquele momento também perguntaram o que essa variação tinha a ver com ano bissexto. Obviamente que nada. Mas então por que ocorrem anos bissextos? É o seguinte: o Sol gira em torno da Terra e por 13 isso há o ciclo das estações. Falarei do Sol porque o que estou a fim de girar é ele, e se o sujeito ficar escandalizado comigo por isso, direi para não me amolar. Se observarmos o Sol quando ele passa no meridiano todo dia, de um dia para o outro há uma variação na altura dele: no inverno ele está bem baixo e no verão ele está bem alto. Se observarmos quando o Sol passa no meridiano e ele está no ponto mais baixo, ele só voltará a passar no meridiano, nesse ponto mais baixo, daqui a quatro anos. Por quê? Pois a órbita da Terra não se dá em um numero inteiro de dias. E por que temos um calendário? Para sabermos quando plantar. Esse conhecimento é determinado pelas estações, não pelo número de dias. Então, para o calendário bater com as estações, precisamos de um calendário de quatro anos, porque o ciclo da Terra é de aproximadamente trezentos e sessenta e cinco dias e um quarto (365,25). Então, a cada quatrocentos anos esse calendário tem que ser corrigido. E o calendário que é corrigido a cada quatrocentos anos deve ser corrigido de novo a cada três mil e trezentos anos. E esse tem que ser corrigido a cada sessenta e quatro mil anos. Mas, na prática, como há nenhuma civilização que dure sessenta e quatro mil anos, não é necessário um calendário tão preciso. Todos esses dados de astronomia derivam de alguém ter olhado um ponto (no caso, o Sol) e ter dito: “Quando esse ponto aparece, vemos tudo. Isso chamamos de Sol. Ele nasce todos os dias no leste e se põe no oeste.” Então passaram a observá-lo com mais cuidado: como ele se move, quais são as suas características, qual a sua cor, qual a intensidade da luz que emite etc. Depois de todas essas observações, passaram a desenvolver um modelo de como ele se move geometricamente: com círculos, depois elipses, etc. Desenvolveram instrumentos matemáticos para descrever o fenômeno. Isso se deu há mais ou menos três mil anos 14 atrás. Já a primeira teoria explicativa que dizia que essas coisas são corpos que se atraem se deu há apenas trezentos anos atrás. Entre sabermos exatamente onde o Sol está a cada momento e poder levantar uma teoria sobre o que está acontecendo fisicamente demorou dois mil e setecentos anos. Por quê? Porque os dados sensíveis não indicam o que está acontecendo de maneira clara em termos físicos. Os dados sensíveis nem mesmo indicam que o que está acontecendo é de fato um fenômeno físico – isso, para começar, já é uma hipótese. Metade do trabalho é fazer essa limpeza. 6. Exposição do método de ensino do curso. Quando comecei a fazer esse curso, tinha um projeto ideal para ele: um ano de depuração dialética, um ano de simbolismo (ou teoria simbólica) e um ano de técnica astrológica. Acontecia que, depois de seis meses de depuração dialética, restavam três alunos. Se as aulas fossem na minha casa, tudo bem; eu não teria que viajar e não gastaria com ônibus. Mas não dá para viajar para outro estado para dar aula para três alunos. Não é por maldade, é que o sujeito que foi para a escola não está acostumado com o que é o trabalho intelectual - ele não tem idéia do que é isso. Então, em primeiro lugar, devemos resumir o fenômeno àquilo que é observado. Os alunos nunca fizeram um processo de depuração dialética na escola. Isso é normal, pois é trabalho para adulto e não para criança. Para ela esse é um fardo muito pesado que pode traumatizá-la, e não se pode forçá-la a fazer isso. Devemos ter em mente que esse é um trabalho árduo. Em segundo lugar, no que se refere ao estudo do simbolismo, ele não será árduo no mesmo sentido do que a depuração dialética será, mas exigirá autodomínio para o sujeito não viajar. Se os alunos fizerem essas duas coisas, tudo estará resolvido, porque aí será possível aplicar a técnica astrológica corretamente. O trabalho será árduo e exigirá 15 autodomínio. Tentaremos nessa edição do curso uma nova experiência: daremos um pouquinho do esforço conceitual, um pouquinho da teoria do simbolismo e um pouquinho da técnica astrológica para ver se o pessoal persevera. Qual o risco disso? O risco eu já sei. O pessoal grudará no simbolismo e achará que está entendendo; e, por isso, pensarão que não precisam mais fazer o trabalho da depuração dialética. Esse é o risco, mas pelo menos há uma chance maior de mais alunos ficarem por mais tempo para que eu possa, pelo menos, cobrir os custos das viagens. Podemos imaginar que esse risco aumenta quando a pessoa já pratica a astrologia? Sim, porque geralmente o astrólogo não está nem um pouco acostumado com esse trabalho de depuração conceitual. O astrólogo profissional aprendeu uma técnica. É como pegar um mecânico e ensinar para ele engenharia mecânica; ele não quer aprender, ele já sabe consertar carros. Com o astrólogo profissional é a mesma coisa: ele acredita que já sabe - o que é difícil. A Lua para ele é um desenho. Assim como Mercúrio, só muda o cálculo. Ele dirá coisas como “a Lua é a mãe” etc. O 16 astrólogo profissional viaja no simbolismo. Então, corremos muito esse risco de nos apegarmos ao simbolismo. Se eu perceber isso, os alunos voltarão para o trabalho de quebrar pedra. Por que é quebrar pedra? Porque a mente humana não gosta de fazer a depuração dialética. Essa não é uma atividade espontânea da mente humana, é uma habilidade que deve ser treinada. Porque a tendência do sujeito é ficar preso no conceito que ele aprendeu na escola. Essa é, hoje, uma autoridade para as pessoas. Ela é a igreja que existia há quinhentos anos. O sujeito pode dizer: “Eu tinha senso crítico com seis anos de idade, ouvia os professores etc.” Ele não tinha senso crítico, era pura lavagem cerebral. Ou ele acreditava que os professores eram uma autoridade, ou não estava nem aí para eles. Se alguém alguma vez prestou um pouco de atenção naquilo que os professores diziam, não foi por senso crítico, foi porque pensavam: “Vamos confiar, porque esse cara pode saber algo que eu não sei. Ele falou algo e parece mesmo que ele sabe disso.” A escola virou, na infância, uma espécie de autoridade parecida com a autoridade dos pais: “Meu pai falou que só posso brincar na rua até as oito e que eu tenho que ir para a escola; e o professor falou que a Terra gira em torno do Sol.” Está tudo dentro da mesma categoria. Se a criança se interessa por alguma matéria, ela pode vir a ter um interesse de pesquisa. Mas até chegar nesse ponto, toda informação que ela recebe é na base da autoridade. Quando perguntamos: “O que é a Lua?” A mente dos alunos não quer quebrar a casca da autoridade escolar já consolidada. Eles pensam: “Eu já estudei isso. Encheu o meu saco por tantos anos... Já aprendi essa lição. Portanto, nãovenha perturbar essa zona da minha mente que já está pacificada. Tive que aturar isso tudo e a minha recompensa é que eu sei o que é a Lua, sei o que é química etc.” 17 As pessoas devem notar que tinham uma mentalidade infantil naquela época, e que isso não era assim por um defeito. Isso se dava simplesmente porque todos já fomos crianças. Todos nós já fomos infantis. Depois disso, crescemos e adquirimos algum senso crítico, senso de juízo. Somente depois dos vinte anos (ou mais) adquirimos certa autonomia interior. Mas quando a adquirimos, pensamos que ela se aplica retroativamente a todas as informações que recebemos antes de maneira automática. Porém, não é o que acontece. Devemos sempre ter em mente que os políticos e os professores da escola são gente como nós, e que eles não estão entendendo é nada. Antes de entendermos isso, recebemos muitas de informações as quais não receberam esse filtro e que foram aceitas sem nenhum filtro prévio. Essa é a pedra que teremos de quebrar nesse curso, e a mente não dos alunos não quer fazê-la. Mas, dito isso, alguém pode perguntar: “Fiquei onze anos na escola obedecendo alguém só para escolher uma profissão?” Sim! Porém, pensem pelo lado positivo: a culpa não é nossa. Portanto, devemos aceitar esse fato agora para podermos chorar em casa depois. Não teremos como fingir que estamos quebrando essa pedra e, ao mesmo tempo, conviver com ambas as concepções diferentes. Teremos que sinceramente tomar consciência, através do processo de depuração dialética, daquilo que sabemos de fato. Se alguém deixar guardadas na gaveta, em caso de pensar que está ficando louco, todas essas concepções científicas obtidas na época escola, o professor saberá. Ele saberá porque, supondo que explique uma coisa hoje, daqui a seis meses ele levantará um tema que dependerá do sujeito ter feito esse trabalho nos seis meses anteriores. Aí o indivíduo fará a mesma pergunta que havia feito há seis meses atrás, e o professor saberá que o aluno não está fazendo esse trabalho corretamente. Conhecimento é algo que ganhamos pelo que fazemos. 18 7. Vocação intelectual e educação formal obrigatória. Em minha idade escolar, todos os anos meus pais tinham que ir à escola para dizer o seguinte: “Você não vai reprovar o meu filho por faltas.” Isso porque eu e meus irmãos sempre estourávamos o número de faltas. Nos primeiros oito meses do ano não havia um dia em que pedíamos à nossa mãe para faltar à aula que ela dizia “não”. No fim do ano, nossos pais diziam: “Não, agora é bom começar a freqüentar um pouco mais para termos um argumento pelo menos.” Tínhamos faltado metade do ano. Quanto às notas, se havia alguma matéria que gostássemos, ela saía alta naturalmente. Não éramos forçados a estudar para provas. O professor perguntava: “Você não tem ambição?” E eu respondia: “Não, não tenho.” A escola não é nada mais do que isso. Podem achar que isso desmoraliza todas as discussões sobre educação hoje em dia. De fato, desmoraliza, mas a verdade é essa, não nos iludamos. Quem é bom e honesto, hoje, no meio educacional, diz: “Como podemos fazer os alunos aprenderem a ler, escrever e 19 fazer contas; e, junto com isso, dar uma boa amostra das profissões necessárias?” E atualmente os alunos não aprendem nem a ler e escrever. Ficam tentando fingir que a escola tem um propósito superior e não cumprem nem o propósito real da coisa. Se dermos um parágrafo de um livro para um aluno do ensino médio ler, ele dirá: “Você está achando que eu sou doutor?” Esse sistema é uma questão de sobrevivência para as nações modernas. Por quê? Porque deve haver um certo número de engenheiros, um certo número de químicos, de médicos etc. E qual o efeito dele? O grande malefício dele é que ele é muito prejudicial para a educação superior no sentido estrito da palavra. Para as pessoas que tem a possibilidade de levantar seriamente questões de profunda importância para a humanidade (como, por exemplo, “o que é o homem?”, “o que é o universo?”, “existe vida após a morte? o que é certo e errado?”, “o que é bem e mal?”, “o que é conhecimento e ignorância?” etc.), este processo educacional é extremamente prejudicial. Ele praticamente esteriliza essas vocações. Se o indivíduo tinha essa possibilidade aos oito anos, aos nove ela diminuiu pela metade e aos doze acabou. Às vezes ela volta lá pelos trinta e a pessoa começa a se perguntar sobre essas coisas, porém ela não tem mais aquela energia da juventude para estudar. Também é prejudicial porque é um ambiente de falsidade. Ninguém chega para a criança e diz: “Aquilo está lá para você saber o que quer ser quando crescer.” Um museu das profissões seria mais eficaz do que a escola. Que façam um laboratório de física com um aparelho que dá choque, ou um corredor por onde a criança passa e têm coisas de química, um planetário etc. Isso funcionaria muito melhor. Se dissessem: “Todo mundo aqui tem que fazer o primário: quatro anos para aprender a ler, escrever e fazer contas. Depois disso, é obrigatório fazer visitas mensais ao museu das profissões.” Parece desmoralizante, mas a verdade é que funcionaria melhor. As pessoas pensam: “Escolas 20 que têm laboratórios são melhores porque as crianças aprendem mais.” Não, elas são melhores porque as crianças vêem os equipamentos e pensam: “Quero ser químico.” As crianças olham o microscópio e dizem: “Quero ver células e tecidos, quero entender esse negócio.” O indivíduo que serve para estudar aquilo, descobre que quer estudar aquilo antes de emburrecer, antes daquele processo massacrante emburrecê-lo. Como não dá para dar amostras na infância do que é filosofia, o que é ciência ética - disso não dá para dar amostras, isso não é uma coisa para a juventude -, essas vocações são sufocadas por esse ambiente. Aluno: Logo depois que comecei a fazer esses cursos, não agüentava mais a faculdade. A repulsa foi muito grande. Fazia isso para me sustentar financeiramente, mas joguei tudo para o alto. Hoje sei quem sou quando olho no espelho. Em contrapartida, financeiramente vejo que isso não foi muito bom. Gugu: Isso é assim mesmo. Dar aulas e cursos de filosofia, ética etc. nunca deu lucro, sempre foi prejudicial à vida financeira. Hoje está até mais fácil do que há dez anos atrás, pois conseguimos repercutir em mais pessoas; mas antes era mais limitado. Por isso, nessa parte não vou poder ajudar muito, porque é uma escolha que o sujeito deve fazer. O que deve ser questionado é o seguinte: “Eu quero saber isso aí? Quero. Então dane-se.” Se os pais reclamarem, diga: “Eu dou duas escolhas para vocês: é isso ou heroína. Escolha!” Se alguém quer ser um estudioso, já deve ter algum dinheiro da família, ou então deve ter uma padaria além do trabalho intelectual. Caso contrário a pessoa será pobre. Ser intelectual não dá dinheiro, a não ser que se crie uma ONG para receber dinheiro do governo, a não ser que a pessoa seja um Aristóteles e exista um imperador que precise ser educado. Nesse último caso a pessoa que cobre cobra um valor que dê 21 para sustentá-la por toda vida. Sócrates? Pobretão miserável. E Platão? Platão já tinha o dinheiro da família e só ficou gastando para estudar. Temos o exemplo de Spinoza também: “Aprenda um trabalho simples que não vai exigir muito da sua mente.” Ele era ótico, fazia lentes. Não sonhe poder viver disso. O que ocorre é que o indivíduo passa vinte anos estudando filosofia e espera que todo mundo o respeite por isso e não por ser dono de uma papelaria. Ele espera dar entrevistas ao Jô Soares e vive pensando: “E o respeito que me é devido?” Nenhum respeito lhe é devido! Foi você que aprendeu, você que saiu ganhando, não os outros; não foi um bem para a humanidade, foi um bem para você. 8. Mais considerações sobre a importânciado trabalho de depuração dialética. Então, o trabalho de depuração dialética é pesado, nós não estamos acostumados com ele e parece ser inútil em relação aos resultados. A depuração dialética é parecida com a prática da religião: o sujeito reza e não tem nenhum efeito; mas aí ele morre e vai para o céu. Não existe continuidade entre o esforço e o resultado. O esforço e o resultado estão em ordens diferentes, porque os dois são trabalhos de limpeza. É 22 como limparmos um objeto e descobrirmos que ele é de ouro: o valor do ouro não veio da sua limpeza, porque já havia ouro embaixo; porém, nunca veríamos o ouro se não o tivéssemos limpado. Há algumas décadas atrás, era possível ensinar cosmologia e dar mais ênfase no simbolismo, porque a imaginação das pessoas era mais limpa. Há trinta anos, na aula de astrologia diríamos: “O Sol e a Lua, princípio masculino e feminino etc.” E na mente de ninguém aparecia: “Mas e o casamento gay? Eu achava que o princípio masculino e feminino éramos nós que escolhíamos. O que você quer dizer com princípio masculino e feminino?” Há umas décadas atrás a imaginação era mais limpa, então fazia menos mal enfatizar o simbolismo. O pessoal até entendia alguma coisa, já hoje em dia as pessoas entendem muito pouco. Aluno: Engraçado, estudei astrologia nos anos oitenta e lembro-me de estar completamente perdido naquele “modo de pensar da Vila Madalena”, esse modo já automático de ser. Lembro que mesmo naquele tempo, quando falavam para alguém que o princípio feminino significava “x”, “y” e “z”, se alguma pessoa levantasse uma objeção feminista (como, por exemplo: “É a sociedade que impõe esse papel.”), já começava uma briga, e a outra pessoa explicaria que as coisas tem, de fato, um princípio masculino ou feminino. Gugu: Há ainda outro fator que devemos mencionar: todo mundo assistiu filmes, todo mundo já leu jornais, todo mundo ouve músicas, todo mundo já viu discussões na TV etc. O que as pessoas não sabem é que todo discurso, todo imaginário, toda narrativa subentende vários pensamentos anteriores àquele discurso, àquela narrativa, àquela imagem ética. Se começarmos a explicar o simbolismo das cores, alguém perguntará: “Como você sabe que não está projetando isso na cor?” E devemos responder: “Você reparou que está usando a palavra ‘projetar’ no sentido metafórico? O que quer dizer com ‘projetar’?” Ao 23 que ela nos responderá: “Não, isso aí é subjetivo.” E retrucaremos: “Mas o que você quer dizer com subjetivo? Pare, pare, pare e pare! Não me venha com termos abstratos, porque você não tem essa ciência. Se quando pergunto o que é Lua você não sabe responder, quando eu perguntar o que é ‘subjetivo’ você vai enlouquecer. Porque, quanto à Lua, eu posso virar sua cabeça e mostrá-la; mas ‘subjetivo’, como eu faço? Preciso te bater, porque isso aí não tem correção.” 9. O simbolismo das três cores primárias. Falemos agora algo sobre simbolismo. Quais são as três cores primárias? Azul, vermelho e amarelo. Todos sabem a diferença entre essas três cores, e por isso não precisamos explicá-las. Mas, por incrível que pareça, sempre algum sujeito levanta esta objeção: “Como você sabe que o vermelho é vermelho e não apenas uma coisa do seu cérebro?” Porém, ninguém levantará essa objeção nesse curso, e portanto não precisarei enfrentá-la pela enésima vez na vida. Vermelho, amarelo e azul: todos sabem o significado concreto dessas palavras. Mas, agora, não faremos a depuração dialética dos conceitos de vermelho, amarelo e azul; falaremos do simbolismo dessas cores. E o que fazemos para falar do simbolismo das cores? Comecemos pelo mais simples: o que o vermelho tem que o azul e o amarelo não têm? Ele é mais forte? Se tivéssemos que escolher uma dessas três cores para significar força, qual delas seria? O azul? Não, pois o azul é calmo. Então, o que vermelho tem? Ele é quente, tem calor, força, intensidade, paixão, desejo, sangue, raiva, nobreza. Outra nota interessante é que, se repararmos bem, as cores da dignidade, da pompa, da realeza etc. são sempre tons de carmins avermelhados, e a força da realeza é representada pelo vermelho. Claro, isso não é exclusivamente representada por essa cor, mas podemos notar um elemento de nobreza nela. Devemos perceber ainda que há algumas coisas concretas que podem ser vermelhas ou não, mas que podem ser lembradas, trazidas à 24 mente quando pensamos no vermelho. Portanto, já temos uma lista suficiente, e todas essas indicações são fáceis de serem vistas no vermelho. Porém, na escala da vermelhidão, do poder do vermelho, do sangue, da raiva, da força, quem está mais perto do vermelho: o amarelo ou o azul? O amarelo, evidentemente. Vamos colocar numa ordem de proximidade o vermelho, o amarelo mais próximo e o azul mais distante. Sabemos então que, na escala das qualidades, o azul está longe do vermelho e que o amarelo está mais perto dele. Mas se perguntarmos o que o amarelo tem, isso não será muito favorável, porque esse se parece com aquele e ainda temos em nossa memória imaginativa o registro do vermelho. Então, temos uma primeira nota sobre simbolismo que devemos aprender: quando estamos estudando o simbolismo de alguma coisa, não podemos passar a analisar o simbolismo de outra coisa parecida, mas temos que passar a analisar o simbolismo de uma coisa contrária. Nesse caso, se passarmos direto para a análise do simbolismo do amarelo, em nosso 25 imaginário, o vermelho e ele se confundirão, e dessa forma o amarelo se tornará um tipo de subvermelho, um quase-vermelho. Tomada essa precaução, dos fatos que listamos sobre o vermelho, o azul é o que dele está mais distante. E o que o azul tem que o vermelho e o amarelo não têm? Calma, serenidade, profundidade, confiança, segurança. Devemos prestar muita atenção nisso. Quando dissemos “calma” nos referindo ao azul, temos que nos lembrar de que essa cor realmente evoca esse sentimento, para que não tenhamos de refazer o trabalho depois. O que mais o azul evoca? O céu, a água, o frio, a limpeza; há muitos produtos de limpeza que são azuis. Podemos dizer ainda que ele evoca pouca luminosidade, ambientes pouco luminosos. Na verdade, dessas três cores, o azul parece ser o menos luminoso. Portanto, ele traz à mente a escuridão, as trevas, ausência de luz, e isso não necessariamente num sentido negativo. Se tivéssemos esses três lápis de cores para representarmos a noite, escolheríamos o azul. Mas, agora, na escala do azul, quem está mais perto dele? Isso não é tão evidente como quando começamos na escala do vermelho. A resposta para isso é: depende. Para alguns aspectos do azul, pode ser o amarelo que está mais próximo dele; para outros, pode ser o vermelho. A relação não é simétrica. Não dá para dizer simplesmente que a escala do azul é o contrário de uma ou outra coisa. Às vezes é, às vezes não. Essa é uma nota importante. Por quê? Pois estamos lidando com um ternário real. Não estamos lidando com o número um, o número dois e, no meio destes, com o um e meio. Por exemplo, se falarmos sobre pai, mãe e filho, isso não é um ternário real. O filho é um termo entre o pai e a mãe. Não podemos dizer que esse terceiro termo é um termo pleno como os outros dois. No caso das cores, estamos tratando de três termos que são realmente independentes. 26 Se fizéssemos uma escala, pegássemos o número um, o número dois e número três, poderíamos nos perguntar qual a qualidade do um. Porém, não teríamos uma resposta para isso, e então buscaríamos a diferença em termos quantitativos, com base em qual número está mais próximo de qual. Que número está mais perto do um? O dois. E que número está mais longe? O três. Assim procedendo, a escala será sempre simétrica. E do número três, quem está mais perto? O número dois e depois onúmero um. Esse é um tipo de relação reversível. Por quê? Pois esse termo está realmente entre dois. Assim, do ponto de vista do vermelho, o amarelo está entre ele e o azul. Do ponto de vista do vermelho, o amarelo compartilha de algumas de suas qualidades, enquanto o azul nada compartilha. Já do ponto de vista do azul, o amarelo está de um lado e o vermelho está de outro; o amarelo possui algumas das qualidades dele, assim como o vermelho também. Eles não estão em posições reversíveis; a diferença é qualitativa. Pois vejamos que o amarelo não é tão tenso quanto o vermelho; e nisso ele é mais semelhante ao azul. Mas o vermelho também tem uma certa interioridade como o azul e que o amarelo não tem. O amarelo parece um branco, parece ser só para fora, uma expansão. O amarelo, em relação ao azul, parece ter algo da sua paz; e o vermelho, em relação ao azul, parece ter algo da sua profundidade. Se partirmos do ponto de vista do vermelho, não haverá a participação simultânea, nele, do amarelo e do azul; pelo contrário, o amarelo participa de suas qualidades e o azul é a ausência delas. Essa não é uma relação realmente reversível como uma relação quantitativa semelhante a do exemplo do parágrafo anterior E o amarelo? O que ele tem que o azul e o vermelho não têm? Brilho, como o Sol e o ouro, riqueza, alegria, alarme. Ele é o mais irradiante, o mais luminoso e o mais brilhante dessas três cores. Então, se pintarmos uma sala inteirinha de azul - ainda que seja um azul bem clarinho, que é quase igual ao branco 27 -, outra sala inteirinha de vermelho e mais outra sala inteirinha de amarelo, qual delas será a sala mais clara? De longe a sala amarela. O amarelo se expande, se irradia. Agora, do ponto de vista do amarelo, como fica a escala? Quem está mais perto dele: o vermelho ou o azul? Depende um pouco do critério que se usa. Devemos notar que apenas do ponto de vista do vermelho que não há discussão quanto à escala. Apenas se escavarmos muito acharemos alguma coisa em que o azul parece mais com o vermelho do que com o amarelo.Talvez isso se dê pelo fato da cor amarela ser uma cor quente como o vermelho, e não uma cor fria como o azul, talvez seja porque o vermelho é quente e o amarelo seja meio morno. Porém, o que importa é o seguinte: essa escala de distanciamento só acontece quando tomamos como ponto de partida a cor vermelha. Se tomamos como ponto de partida o amarelo, isso não fica tão evidente, pois podemos ir tanto para o azul, quanto para o vermelho. Se pensarmos nos calor, iremos para o vermelho; mas se pensarmos em uma coisa mais fraquinha, iremos para o azul. Se pensarmos em alegria, por exemplo, vamos para o azul. Por quê? Porque a serenidade do azul é mais semelhante à alegria do amarelo; ela é mais pacífica, é mais calma. Essas são duas coisas que o amarelo também transmite e que são o pano de fundo da alegria dele. 28 Mas às vezes o amarelo pode ser algo que indica desespero, pode ser algo que está fugindo de si pela sua excessiva fugacidade. Ele também pode ser invasivo, irradiante e perturbador, no sentido de que precisamos sair de uma determinada posição para outra. Nas placas de rua, por exemplo, o amarelo é usado como sinal de cautela. Também lembra a morte, não no sentido do ato de matar, mas de alguma coisa morta. Já o vermelho lembra a morte no sentido de matar algo violentamente. Quando pensamos no amarelo, pensamos em algo muito brilhante, mas ele também pode ser algo opaco, doentio. Os significados dessa cor não são unívocos. Só que todas as qualidades dela implicam certa espécie de deslocamento causada por um elemento perturbador, como, por exemplo, a alegria irradiando. Há um movimento nisso. Aluno: Essas associações que estamos fazendo estão presentes na natureza? De onde estamos tirando isso? Gugu: Em primeiro lugar, no estágio atual em que nos encontramos, não podemos saber de onde estamos tirando isso. O que podemos saber é que não foram as mesmas pessoas que disseram todas essas palavras acerca de cada uma dessas cores. Quando alguém disse algo sobre o vermelho, os outros olharam e perceberam que o vermelho tinha algo do que ele tinha dito. Porém, também é claro que eles não perceberam isso tão imediatamente como esse alguém, todavia eles conseguiram entender do que ele estava falando. Então outra pessoa disse outra coisa e seguimos o mesmo caminho percorrido anteriormente. O processo com que isso está vindo em nossa mente pouco importa. O que importa é que a base disso é uma certa concentração da percepção sensorial. Alguns, quando olharam o vermelho, captaram algo de força; outros, só de olharem o vermelho, não conseguiram perceber isso, mas com um esforço de concentração chegaram captar essa qualidade. Agora, se um indivíduo perguntar por que o vermelho tem força, então ele nada verá nada de força no vermelho, pois para isso ele precisa olhar para a cor. 29 Isso indica que, de algum modo, essas coisas estão enraizadas nas próprias cores como fenômenos perceptivos. A tomada de consciência dessas qualidades não deriva apenas da cor. Tanto é assim que uma pessoa toma consciência primeiro da força, outra toma consciência primeiro da tensão, outro ainda toma consciência primeiro da raiva, do amor etc. Aquilo que vem à consciência imediatamente não deriva apenas da cor, deriva de conteúdos prévios da nossa consciência. Porém, quando uma pessoa que primeiramente não enxergou determinada qualidade na cor a olha procurando essa qualidade, ou ela verifica que essa qualidade está realmente lá, ou ela não verifica. Esse é o ponto. Quando disseram que o vermelho lembrava força, todos o olhamos e concordamos que essa qualidade realmente estava nele. E por que alguns não pensaram em força primeiro? Porque uns sentiram intensidade, outros desejo, outros paixão, outros raiva etc. Destacou-se na consciência de cada um de nós, em primeiro lugar, um conteúdo diferente. Mas juntamos cada um desses conteúdos e olhamos a cor vermelha para verificar se ela os possui ou não. E qual o resultado? O vermelho lembra raiva, sangue, intensidade? Sim para todas essas características. Além de podermos ver todas essas qualidades no vermelho, conseguimos ainda enxergar uma certa profundidade nele; profundidade essa que é algo mais próxima de “profundeza” ou “densidade” do que de “profundidade” em si. 10. Teoria geral do simbolismo: o universo como discurso da Mente Divina. Agora explicaremos como funciona a teoria geral do simbolismo. O universo é o discurso de uma Inteligência Suprema. Deus fala o universo. E, como todo discurso, por definição, tal universo tem um significado que é autoevidente para a Mente Divina. Nós também temos uma mente, e mesmo não sendo ela a Mente Divina, somos capazes de captar algo do significado desse discurso. No universo existe cor? 30 Existe. Então a cor é um elemento desse discurso, e, portanto, ela tem um significado para a mente divina. Como a nossa mente não é a mente divina, olhamos aquela e captamos algo do que ela significa. E que algo é esse o qual conseguimos captar? Aquilo que, naquele momento, em nossa mente, é menos diferente da Mente Divina. Como a mente de cada um de nós é diferente, e a abertura à Mente Divina para cada um de nós difere a cada momento, então enxergamos coisas diferentes. Porém, quando começamos a comparar os resultados das mentes normais e sãs, vemos que todas essas características têm algo em comum. Vemos que força e calor se parecem, porque o calor força a algo. Força, calor, densidade, intensidade e paixão também se parecem. Tudo isso são expressões fragmentárias, pequenos fragmentos do significado que o vermelho tem na Mente Divina. Essa é a teoria geral do simbolismo. Ele funciona e existe porque o universo é o discurso de uma mente. E porque tudoo que existe é um discurso de uma mente, outra mente também pode captar algo desse significado. 31 Isso quer dizer que para entendemos o simbolismo do vermelho são necessários dois fatores: 1) prestarmos bastante atenção nele em várias instâncias das nossas vidas; 2) criarmos condições que favoreçam nossas mentes a serem receptivas a um significado que é concebido pela Mente Divina. Então, o que o vermelho efetivamente significa só Deus o sabe, porque o vermelho em si mesmo enquanto ente único e exclusivo só existe diante da mente de Deus. Só ele sabe exaustivamente e exatamente o que é o vermelho. O que podemos fazer? Uma aproximação simbólica: o vermelho é força, calor, paixão, raiva, intensidade, morte, sangue, violência, nobreza, majestade, centralidade, concentração etc. Assim, quando olharmos para o vermelho, perceberemos que todas essas palavras estão na direção do vermelho, e não na direção do amarelo e nem na do azul. E mais: nenhuma dessas palavras esgotam realmente o significado dele, e nenhuma delas é tão exata perante a qual as outras qualidades se diminuem. Todas elas apontam para algo que está no meio. Seria correto então dizer que só Deus pode conhecer o vermelho perfeito? Nós podemos conhecer o vermelho perfeito, porém nunca saberemos plenamente o que é esse vermelho. Só Deus pode conhecer o vermelho perfeitamente. Sabemos o que é perfeitamente vermelho, mas não sabemos perfeitamente o que é vermelho. E isso não é válido somente para as cores. Isso é válido para tudo que existe. É disso que os santos falavam quando eles diziam que “se entendermos a essência de um grão de areia, atingiremos a realização suprema, teremos o conhecimento supremo.” Isso porque um grão de areia é uma palavra de um discurso de uma mente ilimitada. Então, em cada palavra desse discurso está contido todo o conteúdo da Mente Divina. Se uma palavra for compreendida, a Mente Divina também será. 32 É como quando entendemos uma personalidade a partir de um ato característico. Precisamos ver tudo o que uma pessoa faz para conhecer o caráter dela? Não, não precisamos ter a lista exaustiva dos atos que ela praticou. Mas podemos dizer que conhecemos perfeitamente o caráter do outro? Não, porque em todo fenômeno há algo de inesgotável. Assim está dito na Suma Teológica: “A essência da menor mosca é intelectual e inteligivelmente inesgotável.” Isso pois a mosca é uma palavra do Discurso Divino. E o sujeito que pensa ser a mosca uma coleção de elementos químicos que formaram moléculas que são capazes de se reproduzir e que permitem a vida é um idiota. Também não conseguimos explicar o fenômeno do amarelo desse modo. Podem dizer que o amarelo é uma freqüência a qual tem um pigmento que bate nos olhos e gera uma vibração etc. Será mesmo?! Então por que ele é luminoso, brilha, lembra riqueza e alegria? Será porque em nossos cérebros há uma mesa de sinuca tridimensional, e a vibração do amarelo bate e acaba caindo no mesmo lugar da alegria? Obviamente que não. E mesmo que existisse literalmente esse mecanismo da mesa de sinuca, ele não esgotaria e não explicaria o fenômeno. Então, em primeiro lugar, temos essa observação comum a todos os povos: o universo é um discurso de uma mente ilimitada. Isso é fato. Todos os povos em todas as épocas defenderam essa tese. A teoria astrológica é possível por isso. Então Júpiter é uma pedra voando no céu? Não, Júpiter é uma palavra do Discurso Divino. E é por isso que Astrologia funciona? Ninguém sabe por que as coisas funcionam. Ninguém sabe até mesmo por que a anestesia funciona! Se procurarmos o porquê a anestesia ou a cola funcionam, nada encontraremos. Mas então como Astrologia funciona? Por que eu tenho que saber?! Ninguém sabe e acabou. Como o cérebro funciona? Ninguém sabe. Como o coração funciona? Ninguém sabe. Ninguém sabe essas coisas. A história do “como funciona?” tem apenas trezentos anos. Agora, o saber “o que são as coisas?” já existe há milhares de anos e, durante esse período, o 33 esforço para conhecer isso foi realizado por pessoas que tinham capacidades incalculavelmente maiores do que as nossas. A pergunta de “como as coisas funcionam?” surgiu há pouco tempo, e ainda não apareceu ninguém com o talento de Buda para respondê-la, e provavelmente não aparecerá. Voltemos novamente ao princípio da teoria: não é que espontaneamente vem à mente de cada um a mesma lista das qualidades de algo, mas, como não temos uma mente doente, podemos encontrar todas as qualidades que cada um de nós percebeu na coisa que estamos estudando. Somos pessoas normais, não mordemos os outros na rua, não saímos lambendo o chão e não babamos; trabalhamos, é possível para nós manter uma conversa e há pessoas que gostam da gente. Por isso tudo, devemos falar sério: o que o vermelho tem que o amarelo não tem? Todos iremos dizer algo na linha do que já foi dito. Então, quando outra pessoa falar outra coisa, teremos que pensar um pouco e olhar o vermelho mais ativamente, com um pouco mais de atenção; e aí perceberemos que essa coisa realmente se encontra no vermelho. Isso se a outra pessoa não tiver viajado muito; porque aí você pergunta para ela: por que tem “x”? E se ela responder que tem “x” porque tem “y” é porque o que tem é realmente “y” e não “x”. Às vezes a pessoa 34 não se expressa bem; nem todo mundo é dialético. Porém, tudo está na mesma direção, e se tudo está na mesma direção é porque essas coisas estão realmente lá. Não é projeção. Aluno: Para todas essas coisas eu vejo que há um fundo narrativo que não é uma coisa tão estática quanto o conceito da cor em si. Gugu: Não há nenhum fundo narrativo. A pergunta inicial foi: o que o vermelho tem? Força. Isso é apenas uma nota sobre o vermelho, e não uma narração completa. Depois disso, demos outra nota: o vermelho também tem nobreza. Mas quem não captou nobreza no vermelho num primeiro momento, deverá então fazer uma narrativa entre a ligação do vermelho com a nobreza. Por quê? Porque as mentes têm disposições diferentes. O que devemos fazer não é para perceber o vermelho em si mesmo, e sim o que ele significa intencionalmente na Mente Divina. Temos um aparato cognitivo imediatamente proporcional à captação sensível (por exemplo, o aparato ótico) e à captação conceitual (por exemplo, o que é uma cor em princípio). E essas duas coisas criam uma disposição passiva, permitem que vislumbremos o conteúdo intencional da Mente Divina, mas não nos dão esse conteúdo imediatamente. É por isso que a primeira coisa que vem na mente de cada pessoa é diferente, pois ninguém tem esse poder. Se tivéssemos, seríamos Deus. Por isso, para entender o que outra pessoa enxergou, temos que fazer uma narrativa, pois é o que ela viu. Num certo sentido, teremos que usar a palavra humana como um suporte para entender o significado da Palavra Divina. É evidente que a idéia de que o vermelho, o amarelo, o azul ou todo e qualquer objeto e fenômeno seja parte de um discurso de uma mente ilimitada, seja agora para nós somente uma hipótese. Mas a existência da força da gravidade, de leis biológicas e coisas desse tipo também são só hipóteses. Agora, o universo ser o discurso de uma mente ilimitada já foi 35 arquidemonstrado; isso é indiscutível. Se alguém disser que não sabe se é assim, essa pessoa não entende as coisas, não sabe o que são elas. E é evidente que a mente humana não capta imediatamente em qualquer objeto todo o seu simbolismo, todo o seu significado na Mente Divina, pois uma mente humana não é uma mente divina. Todos os sistemas simbólicos têm, no seu pano de fundo, a idéia de que as coisas estão todas ligadas, como as palavras de um discurso também estão ligadas. O universo é um cosmos, é uma ordem, porque um discurso é uma ordem, é um cosmos. Quer dizer, umdiscurso não é só uma seqüência arbitrária de palavras ou de significados. Não, ele é um conjunto de significados os quais uns vão clareando os outros, os outros vão complementando aqueles outros, e assim sucessivamente. 11. Alfabeto astrológico. Vamos fazer agora um alfabeto astrológico. Teremos de decorar isso da mesma maneira como decoramos as letras do alfabeto. 36 O símbolo de Marte também pode ser um círculo com uma cruz apontando para cima.1 Quanto aos planetas Urano, Netuno e Plutão, esqueçam-nos. Eles são coisa para doentes mentais. São planetas que ninguém vê. Como procurar o simbolismo de algo que ninguém vê, ninguém ouve e ninguém cheira? 1 Nota do revisor: os símbolos utilizados nessa transcrição foram encontrados no Google e estão de acordo com os símbolos que vieram junto do download dessa aula. 37 Agora temos os meses das estações no Hemisfério Norte e os signos respectivos: - signos da primavera: Áries, Touro e Gêmeos; - signos do verão: Câncer, Leão e Virgem; - signos do outono: Libra, Escorpião e Sagitário; - signos do inverno: Capricórnio, Aquário e Peixes. 12. A relação entre as estações do ano e os signos cardinais, fixos e mutáveis. Do mesmo modo que as cores e os intervalos musicais têm um simbolismo, cada estação do ano também possui um simbolismo. Todos já devem ter notado que existem diferenças entre as quatro estações. Porém, notar as diferenças astrológicas entre as estações já é algo mais complicado, mesmo porque elas não são tão evidentes aqui no Brasil, além do fato de serem invertidas em relação ao Hemisfério Norte. Mas se prestarmos atenção, cada uma das estações veremos que cada estação tem três meses e três signos: Áries, Touro e Gêmeos estão ligados ao 38 simbolismo da primavera; Câncer, Leão e Virgem estão ligados ao simbolismo do verão; Libra, Escorpião e Sagitário estão ligados ao simbolismo do outono; e Capricórnio, Aquário e Peixes estão ligados ao simbolismo do inverno. Em primeiro lugar, devemos notar uma coisa óbvia: cada estação do ano dura três meses. Áries (primavera), Câncer (verão), Libra (outono) e Capricórnio (inverno) correspondem ao primeiro mês de cada uma das estações. Se as observarmos bem, veremos que no primeiro mês delas é o momento em que notamos uma qualidade distinta, diferente à da estação anterior. Nos dias em que o Sol entrou em Câncer, por exemplo, começamos a sentir tudo mais quente, porque é o primeiro mês do verão. Já no primeiro mês da primavera, as coisas começam a renascer, a vegetação volta a se expandir etc. No segundo mês de cada uma das quatro estações, percebemos a intensificação das qualidades do mês anterior. As qualidades e características distintas que surgiram no primeiro mês se tornam marcantes no segundo. Por fim, o terceiro mês é marcado, geralmente, pela dissolução dessas qualidades e antecipação, às vezes, das qualidades da estação seguinte. Então, os signos que começam as estações são chamados de signos cardinais (depois veremos a parte astronômica do porque eles serem chamados de cardinais); os do segundo mês são signos fixos, pois as qualidades das estações se fixaram, estão mais firmes; e os últimos são os mutáveis, justamente porque a estação começa a mudar para outra. 13. A relação entre os signos cardinais, fixos e mutáveis e as três cores primárias. Porém, os termos “cardinais”, “fixos” e “mutáveis” não significam nada para quem não é astrólogo. Se quisermos entender os signos, também podemos dizer que os cardinais são signos amarelos (pois aqui há a irradiação de uma qualidade, há o surgimento dela), os fixos são signos vermelhos (aqui há a intensificação da qualidade surgida anteriormente) 39 e os mutáveis são signos azuis (pois a qualidade diminui, repousa e termina). Se quiséssemos, poderíamos dizer que Áries é um signo cardinal de fogo. Mas se desejamos realmente entendê-lo, é mais fácil dizer que ele é o signo amarelo de primavera. Se captarmos qual é a qualidade da primavera, perceberemos que Áries representa aquilo que faz nascer essa qualidade, já Touro representa o momento em que ela se intensifica e Gêmeos representa o momento do seu fim. Quando conseguirmos captar qual é a característica do verão, veremos que Câncer é o signo que representa o surgir dessa característica, Leão representa a sua intensificação e Virgem o seu fim. Do 40 mesmo modo isso se dá com os signos do outono e do inverno. Toda a Astrologia funciona nessa base. E é por isso que, na sucessão das cores, a primeira é o amarelo, a segunda é o vermelho e a terceira é o azul. 14. O problema da diferença entre as estações no Hemisfério Norte e no Hemisfério Sul. Ainda quanto às estações, nos deparamos com um problema: a questão das diferenças entre Hemisfério Sul e Hemisfério Norte. Como resolvemos isso? Por enquanto, devemos esquecer o Hemisfério Sul. Por quê? O que devemos fazer na prática? Primeiro temos de entender claramente as características distintivas das estações no Hemisfério Norte. Temos de entender, por exemplo, como é o ar e a vegetação de Áries. Quando já conseguimos identificar todas essas coisas, então passamos a observar a natureza no Hemisfério Sul, quando o Sol estiver em Áries, para tentarmos enxergar essas diferenças. A questão entre Hemisfério Norte e Hemisfério Sul é muito complicada e sutil. E por que não invertemos a ordem? Porque as estações em um hemisfério não são exatamente a inversa da outra. O primeiro mês de outono no Hemisfério Sul não é igual ao primeiro mês de outono do Hemisfério Norte, pois as qualidades são diferentes. Primeiro devemos conceituar a coisa muito bem, só depois pensamos na questão problemática. É claro que podemos explicar aqui que isso se dá porque o Pólo Norte representa o pólo essencial da manifestação, e o Pólo Sul representa o pólo substancial. Então, no Hemisfério Norte, os signos se apresentam como qualidades formalmente distintas, e, no Hemisfério Sul, como tons de uma matéria diferente. Essa é a teoria. Mas quem não sabe Astrologia não entenderá nada! Lembro que estava esse ano, quando o Sol entrou em Áries, em Joinville, em um sítio, com um grupo de amigos. No dia que o Sol entrou em Áries, falei: “Está vendo esse ar assim? O que está te dando vontade de fazer? Está vendo? O Sol acabou de entrar em Áries. Preste 41 bem atenção em como há poucas horas atrás você só tinha vontade de ficar recolhido em casa, e agora começou a surgir uma energia que te move.” Dava para perceber nitidamente. Mas eles são alunos que já sabem das distinções entre os signos. Num caso assim é possível mostrar isso. Naturalmente que podemos estar presentes na entrada do Sol em cada signo, então isso é algo que os iniciantes em Astrologia terão de fazer durante muito tempo. Idealmente, quem está começando a aprender Astrologia tem de ver a mudança de cada mês no Hemisfério Norte, porque nele a qualidade se apresenta de maneira distinta e não como um tom. 15. A diferença entre forma e matéria.2 Podemos entender melhor isso com uma analogia. Já repararam que existem coisas valiosas e coisas sem valor? Ou nunca repararam? Se não repararam, passem já todo o dinheiro que têm aí! Porque se não existe valor, não há diferença entre o que tem valor e o que não tem. As coisas valiosas o são por duas causas. 1) Em primeiro lugar, quando elas são feitas de materiais valiosos. Por exemplo, um fusca feito de ouro é valioso e vale mais do que um fusca comum. 2) Agora pensemos numa Ferrari comum que não é de ouro. Ela vale mais, menos ou tem o mesmo valor do que um fusca comum? Vale mais. Mas isso não se dá exatamente, nem principalmente, pelo material de que ela é feita. O valor da Ferrari se dá pela boa execução de um projeto excepcional. O material de que a Ferrari é feita
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